A Música De Ismael Silva Na Voz De… – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 85 (2014)

Olá, amigos cultos, ocultos e associados do TM!  Esta semana, o Grand Record Brazil apresenta a segunda parte da retrospectiva que está dedicando à obra musical de Ismael Silva (1905-1978), um grande expoente do samba e da música popular brasileira. Na semana passada, apresentamos composições de Ismael na voz de Francisco Alves (1898-1952), o eterno Rei da Voz. A seleção desta semana tem 14 faixas com intérpretes diversos, e nela Francisco Alves também está presente em duetos. Para começar, e muito bem, apresentamos duetos de Chico Alves com Mário Reis. Eles formaram uma dupla que gravou um total de 12 discos com 24 músicas, todos pela Odeon, legado esse imprescindível para quem estuda a história do samba e da MPB.  Desse legado, ouviremos seis peças simplesmente antológicas, autênticas joias do samba, com acompanhamento da Orquestra Copacabana, dirigida pelo palestino Simon Bountman:  na faixa 1,  “Não há”, da santíssima trindade Ismael Silva-Francisco Alves-Nílton Bastos, gravado em 5 de dezembro de 1930 e lançado em janeiro de 31 para o carnaval, disco 10747-A, matriz 4079. O lado B, na faixa seguinte, matriz 4080, é um autêntico clássico assinado pela mesma trinca de autores: o inesquecível “Se você jurar”, que atravessou os anos e até hoje é muito lembrado, e com justiça. Teve regravação inclusive pelo próprio Ismael Silva, em 1955. “O que será de mim?”, logo em seguida, e dos mesmos autores, é gravação de 28 de fevereiro de 1931, lançada em abril do mesmo ano pela “marca do templo” sob n.o 10780-B, matriz 4162, outra demonstração de bossa da dupla Chico Alves-Mário Reis (que, durante a gravação, chama o Rei da Voz para cantar com ele, no que, claro, é prontamente atendido).  “Ri pra não chorar” é da parceria Ismael Silva-Francisco Alves, que na edição homenageiam Nílton Bastos, que falecera. Gravação da notável dupla Chico Viola-Mário Reis, de 20 de agosto de 1931, lançada pela Odeon em dezembro do mesmo ano sob n.o 10850-B, matriz 4292. De Chico e Ismael é também “Liberdade”, gravação de 20 de novembro de 1931 lançada em janeiro de 32, evidentemente para o carnaval, disco 10871-B, matriz 4363, citando inclusive o “Hino da Proclamação da República, de Leopoldo Miguez-Medeiros e Albuquerque. O samba saiu na segunda tiragem desse disco, que trouxe no lado A, também cantada em dueto por Chico e Mário, a “Marchinha do amor”, de Lamartine Babo (na primeira, saiu um outro samba, “Oh! Dora”, de Orlando Vieira, com Chico Viola sozinho).  Terminando esse verdadeiro show de interpretação sambística da dupla Francisco Alves-Mário Reis, temos “A razão dá-se a quem tem”, já com Noel Rosa como parceiro de Ismael Silva e Chico Viola, gravação feita na “marca do templo” em 2 de julho de 1932 e lançada em dezembro seguinte com o n.o 10939-A, matriz 4472. A faixa 7 é um outro dueto de Francisco Alves, agora com Sílvio Caldas: “Tristezas não pagam dívidas”, gravado na Odeon em 23 de junho de 1932, e lançado com o n.o 10922-A, matriz 4463. Temos aqui duas curiosidades: no selo original, aparece como autor um certo Manoel Silva (havia na época um compositor com esse nome, cujo nome completo era Manoel dos Santos Silva). Mas, segundo depoimento de Sílvio Caldas ao pesquisador Abel Cardoso Júnior, o samba é mesmo de Ismael Silva. Sílvio não teve crédito no selo como intérprete por ser na época contratado da Victor, mas achou a omissão natural, “apenas uma colaboração”.  O samba também foi apresentado por Chico Alves no segundo espetáculo da série “Broadway Cocktail”, um espetáculo palco-tela apresentado no Cine Broadway. Aracy Cortes, grande estrela dos tempos áureos do teatro de revista, aqui comparece com o samba “Quero sossego”, da parceria Ismael Silva-Nílton Bastos (na edição Francisco Alves também aparece como co-autor), Lançado pela Brunswick por volta de março de 1931, sob n.o 10158-A, matriz 602, foi um dos derradeiros discos lançados no Brasil por essa gravadora, de origem norte-americana, que logo cerraria as portas da filial brazuca, levando para a sede, nos EUA, todas as matrizes de cera que gravou entre nós em pouco mais de um ano de atividades. Da parceria de Ismael Silva com Noel Rosa e Francisco Alves é a marchinha “Assim sim”, gravada na Victor por Cármen Miranda em 31 de maio de 1932 e lançada em dezembro desse ano sob n.o 33581-A, matriz 65502, claro que para o carnaval de 33. No acompanhamento, Harry Kosarin e seus Almirantes (o maestro, então vindo anos antes dos EUA, é considerado o introdutor do jazz no Brasil). Em 1930, a “pequena notável” vira e ouvira Noel com o Bando de Tangarás, no Cinema Eldorado, e, dois anos mais tarde, teria ocasião de trabalhar com o Poeta da Vila, Francisco Alves e Almirante no “Broadway Cocktail”. Cármen não teve oportunidade de solicitar um número especial para gravar. Porém, não ia passar muito tempo para isso acontecer, nascendo daí  este “Assim, sim”. Dando um ligeiro salto no tempo, apresentamos outra marchinha, “Ninguém faz fé”, de Ismael e Paulo Medeiros, com Linda Batista, então no auge da carreira, para o carnaval de 1953, em gravação RCA Victor de 19 de setembro de 52, lançada ainda em dezembro sob n.o 80-1039-A, matriz SB-093478. Aurora Miranda, irmã de Cármen, apresenta mais outras duas marchinhas, ambas de Ismael Silva sem parceiro: “Não vejo jeito”, gravação Victor de 3 de outubro de 1939, lançada em novembro do mesmo ano, por certo para o carnaval de 40, sob n.o 34519-B, matriz 33170, e “Não apoiado”, gravação Odeon  de 7 de janeiro de 1936 lançada bem em cima do carnaval desse ano, em fevereiro, disco 11327-B, matriz 5240. Ainda no campo da marchinha carnavalesca, e também só de Ismael, temos “Macaco me lamba”, da folia de 1951, lançada pela Sinter ainda em dezembro de 50 sob n.o  00-00.026-A, matriz S-50. A última faixa desta seleção, o samba “Fama sem proveito”, parceria de Ismael Silva com Heitor Catumbi, é um mistério. Quem o canta é a carioca Odaléa Sodré (1924-?), acompanhada por Netinho, Antônio Souza e regional, e que teve curtíssima carreira no disco. São conhecidos dois discos comerciaisda cantora, gravados na Columbia em 1936-37, e esta é uma gravação RCA Victor sem data, registrada no acervo do Instituto Moreira Salles com o número 196, o que leva a crer que se trate de disco particular, não comercializado (será que foi para as lojas?). Enfim, uma incógnita. Mas, de qualquer forma, aí vai mais uma contribuição do GRB para a preservação de nossa memória musical. Até a próxima!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO