Wanderley Cardoso – Juventude E Ternura (1966)

O TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados mais um álbum de Wanderley Cardoso, um dos cantores mais expressivos  da Jovem Guarda e que, no Nordeste, chegou a ser até mais popular do que o próprio Roberto Carlos, líder do movimento e apresentador do programa de mesmo nome na antiga TV Record de São Paulo, que ficou no ar entre 1965 e 1968. Trata-se de “Juventude e ternura”, seu terceiro LP de estúdio, lançado pela Copacabana em  agosto de 1966, apenas quatro meses após o segundo, “Perdidamente apaixonado”, que o TM já ofereceu a vocês. É bom lembrar que, nessa ocasião, Wanderley era também contratado da extinta TV Excelsior, e participava do programa “Adoráveis trapalhões”, ao lado de Renato Aragão, Ted Boy Marino e Ivon Cúri. Nesse tempo, Wandeco era o genro que toda sogra, por mais megera que fosse, queria ter… “Juventude e ternura” foi também o título de um programa que Wanderley apresentava na Excelsior, ao lado de Rosemary, mas que durou pouco tempo. Em compensação, o disco foi aquele sucesso, é claro. Dois dos maiores hits de Wandeco nessa época estão nele: “Meu amor brigou comigo”, de  Eliza Moreira, e “Você zangada é feia”, da parceria Roberto & Erasmo Carlos. Sérgio Reis, o “grandão”, antes mesmo de estourar com “Coração de papel”, assina a faixa “Por que chorar, coração?”. “Sozinho na multidão” tem a parceria de Nélson Ned, outro que anos mais tarde obteria sucesso como intérprete. “Showman” de talento incontestável, Moacyr Franco assina, com Mílton Rodrigues, “Do sublime que tu és”. O lado compositor de Wanderley Cardoso manifesta-se na faixa de encerramento do disco, “Meu regresso”, uma parceria com Genival Melo, que durante anos foi conceituado empresário do setor artístico. Genival também assina aqui as versões “Não te amo mais” e “Morrer ou viver”, ambas as músicas de origem francesa, o que também é o caso de “Assim é a vida”, abrasileirada por Carlos Vidal. Trabalhos de Carlos Cézar (“Vivo te esperando”), Hamilton di Giorgio (“Por favor, vai embora”, parceria com o irmão Eduardo Alberto), e da dupla Heitor Mangeon-Roberto Muniz (“Desengano”) completam este terceiro e bem-sucedido álbum de Wanderley Cardoso, sem dúvida um prato cheio para quem viveu aqueles tempos. Mesmo quem ouviu falar da Jovem Guarda e só chegou depois dela poderá apreciar mais este trabalho de Wanderley Cardoso, precioso documento  desse que é considerado o primeiro movimento de massas da história da MPB. É uma brasa, mora!

não te amo mais
meu amor brigou comigo
porque chorar coração
morrer ou viver
desengano
por favor vai embora
você zangada é feia
sozinho na multidào
vivo te esperando
do sublime que tu és
assim é a vida
meu regresso

*Texto de Samuel Machado Filho

 

Wanderley Cardoso (1972)

Hoje, o Toque Musical tem a satisfação de oferecer a seus amigos cultos, ocultos e associados mais um álbum gravado por Wanderley Cardoso.  Desta vez, é o LP que ele gravou em 1972, sem título, pela Copacabana, marca onde se consagrou e fez a maior parte de seus trabalhos em disco, muitos deles bem-sucedidos, como este. Mesmo com o término da Jovem Guarda, em 1968, Wanderley Cardoso conseguiu se manter num patamar de grande popularidade, sendo cadeira cativa em praticamente todos os programas de auditório da televisão nos anos 1970/80 (Sílvio Santos, Bolinha, Chacrinha, Raul Gil, “Almoço com as estrelas”, “Clube dos Artistas”…), além de ser maciçamente executado em programas das rádios populares de AM (o FM ainda engatinhava no Brasil).  E ele estava em plena forma quando gravou o álbum que o TM apresenta hoje.  Com produção e seleção musical de Reynaldo Rayol (irmão de Agnaldo Rayol), e a supervisão de outro “cobra”, Léo Peracchi,  este trabalho foi gravado em São Paulo, nos Estúdios Reunidos, que ficavam no Edifício Casper Líbero, na Avenida Paulista.  Abrindo o disco, uma composição de José Augusto, “Quem nega a luz na sombra vai morrer”, mais tarde regravada pelo próprio autor, que  ainda é responsável por outras duas faixas, “A sombra do passado” e “Quero ver um rosto amigo”. Outro compositor de prestígio, Nenéo, assina  “E vou dizer adeus mais uma vez” e “Chove solidão dentro de mim”. O lado compositor de “Wandeco” é mostrado em “Vai embora” e “Minha musa”,  parcerias dele com Beto.  O produtor, Reynaldo Rayol, assina em parceria com Rossini Pinto, fértil compositor e versionista da Jovem Guarda,  “Meu erro”.  Rossini ainda é responsável pelos dois maiores sucessos desse álbum de Wanderley Cardoso, “Vem ficar comigo” (parceria com Antônio Carlos) e a versão “Fale baixinho (Speak softly love)”, tema principal do filme norte-americano “O poderoso chefão (The godfather)”, de Francis Ford Coppola, estrelado por Marlon Brando e grande êxito de bilheteria na época. Roberto Corrêa (dos Golden Boys) e Jon Lemos contribuíram com a música “Haja o que houver”, e, completando este trabalho, temos “Enquanto houver saudade”, concebida por Bebeto e Solange Corrêa.  E a curiosidade fica por conta da presença do maestro Zezinho, que durante anos pertenceu ao estafe de Sílvio Santos, como arranjador em quatro das doze faixas do disco, as oito restantes ficando por conta de Clélio de Britto Ribeiro. Tudo isso fazendo deste álbum de Wanderley Cardoso um dos melhores por ele gravados, fazendo nos voltar a um tempo em que certamente podíamos cantar mais e melhor. Quem viveu essa época terá por certo momentos de feliz reminiscência, e quem só chegou depois poderá conhecer e também desfrutar de momentos agradáveis. Divirtam-se!

quem nega luz na sombra vai morrer

vem ficar comigo

haja o que houver

a sombra do passado

meu erro

fale baixinho

chove solidão dentro de mim

enquanto houver saudade

minha musa

quero ver um rosto amigo

vai embora

e vou dizer adeus mais uma vez

* Texto de Samuel Machado Filho

 

Wanderley Cardoso – Perdidamente Apaixonado (1967)

“Posso me considerar um homem feliz, pois consegui realizar a missão a que um dia me propus, e tive a felicidade de estar no momento certo,em que um grupo de jovens, com os mesmos ideais e muito valor, fazia modificar através da música o comportamento de toda uma geração, a nossa Jovem Guarda”. Este depoimento do cantor Wanderley Cardoso, a respeito do movimento musical detonado a partir do programa comandado por Roberto Carlos na TV Record, que durou de 1965 a 1968, define bem o que foi a Jovem Guarda. É justamente o grande Wandeco,  um dos maiores expoentes desse que é considerado o primeiro movimento musical de massa na história da MPB, que o Toque Musical traz de volta, através deste “Perdidamente apaixonado”. Ao contrário do que indica o selo, esse disco na verdade lançado em abril de 1966 (não 67), pela Copacabana, com o número CLP-11462, sendo,por sinal,o segundo álbum-solo do cantor.
Wanderley Conti Cardoso (seu nome completo) veio ao mundo no bairro paulistano do Belenzinho, a 10 de março de 1945. Começou a carreira bem cedo,aos cinco anos de idade, ocasião em que sua mãe, Dona Elvira, levou-o para se apresentar em programas de rádio de São Paulo.  Sua primeira oportunidade em disco surge em 1959, quando,  a convite do acordeonista Mário Zan, grava a “Canção do jornaleiro”, de Heitor dos Prazeres, para o álbum “Brincando de escola”. Mais tarde, começou a mudar de voz e parou de cantar por algum tempo.  Foi bancário e estudante de Contabilidade, formando-se em 1962, trabalhando também no Lanifício Pirituba e ingressando no time de futebol infanto-juvenil do Palmeiras.  Um ano mais tarde, retoma a carreira de cantor, apresentando-se nos programas de TV “Alô, brotos” e “JR show”. Em 1964, grava seu primeiro disco-solo, na Copacabana, um compacto simples em que interpreta “Rosana” e “Deu a louca no mundo”.  Ainda em 64, vem seu primeiro hit maiúsculo, “Preste atenção (Fais attention)”, versão de Paulo Queiroz. Um ano mais tarde, vem o primeiro LP, “O jovem romântico”. Com seu bom mocismo e seus olhos verdes, Wanderley Cardoso era o genro que toda sogra queria ter. Na região Nordeste, ele chegou a ser até mais popular do que o próprio Roberto Carlos, e foi o primeiro cantor brasileiro a aparecer na capa da revista “O Cruzeiro”.  Entre seus maiores sucessos, podemos citar: “O bom rapaz” (sua marca registrada), “Doce de coco”, “Abraça-me forte”, “Minha namorada”, “Socorro, nosso amor está morrendo”, “Meu amor brigou comigo”, “Vou gritar e acordar a cidade”, “Não posso controlar meu pensamento”, “Luzes da avenida”, “Minhas lágrimas”, “Se ela voltar”, “A volta do piquenique”, “Eles precisam saber”, “Fale baixinho” e muitos,muitos mais.  Na televisão, atuou no humorístico “Adoráveis trapalhões”, ao lado de Renato Aragão, Ivon Cúri e do lutador de telecatch Ted Boy Marino, na extinta TV Excelsior, e, um pouco mais tarde, seria uma das figurinhas carimbadas do quadro “Os galãs cantam e dançam aos domingos”, do “Programa Sílvio Santos”,mantendo o romantismo em seus discos e shows. Apresentou também programa de rádio e foi ator de cinema, aparecendo em vários filmes.  Gravou mais de novecentas músicas e vendeu cerca de dezesseis milhões de cópias de seus 84 discos, em toda a carreira. Em 2002,após uma fracassada volta ao disco, tentou suicídio, mas, superada essa fase, um ano depois,virou cantor gospel, dando um novo sentido à sua vida e carreira. Wanderley Cardoso continua em franca atividade, e em seus shows apresenta canções gospel ao lado de seus antigos hits. Aqui, neste que foi seu segundo LP-solo, é apresentado em plena efervescência da Jovem Guarda, com destaque para os hits “Minha serenata” e “Promessa”, este da dupla Roberto & Erasmo Carlos, que Wandeco também interpretou no filme “Na onda do iê-iê-iê”. O curioso é que a versão de “Vaya com Diós” apresentada neste disco (“Deus te acompanhe,amor”) é assinada por Muibo César Cury, parceiro de Teddy Vieira no clássico “João-de-barro”, e o Barroso da dupla com Barreto.  Um grande momento da carreira de Wanderley Cardoso, indispensável para os saudosistas da Jovem Guarda e para os mais novos conhecerem. Bom divertimento!
minha confissão
minha serenata
deus te acompanhe amor
se eu te perder
sou teu
sigamos semmedo
a paz que eu perdi em ti
te esperarei
perdidamente apaixondo
promessa
o mais puro amor
amor e ternura
e você não vem
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO.