A Música De Getúlio Marinho (parte 2) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 145 (2016)

O Grand Record Brazil oferece hoje, mui prazeirosamente, aos amigos cultos, ocultos e associados do TM, a segunda parte da retrospectiva dedicada a Getúlio “Amor” Marinho, compositor carioca intimamente ligado ao carnaval e ás escolas de samba, oferecendo mais dez preciosas gravações de obras suas. Para começar, a marcha-rancho “Gegê”, parceria de “Amor” com Eduardo Souto (compositor de belas páginas desse gênero), do carnaval de 1932. A gravação ficou por conta de Jayme Vogeler, na Odeon, acompanhado pela Orquestra Copacabana de Simon Bountman, em 24 de novembro de 31, disco 10876-A, matriz 4369. É a crônica musical de um episódio segundo o qual o então presidente Getúlio Vargas, assim que tomou posse, em 1930, começou a receber inúmeros pedidos de empregos públicos, e, para protelar e desacelerar essa avalanche (era um período de crise financeira, como agora), passou a exigir requerimento estampilhado, com foto e selos.  Só que “Gegê”, aqui, não é o apelido de Getúlio, e sim um nome qualquer,  ou seja, apenas uma coincidência. A música, por sinal, até venceu um concurso promovido pelo “Correio da Manhã”, através de votos impressos no próprio jornal, apontando a melhor música da folia momesca de 1932, deixando em segundo lugar o clássico “Teu cabelo não nega”, dos irmãos Valença e Lamartine Babo. Logo depois, o partido-alto “Tentação do samba”, que “Amor” fez com seu mais constante parceiro, João Bastos Filho. Foi gravado por Patrício Teixeira na Victor em 2 de fevereiro de 1933, com lançamento em março do mesmo ano, disco 33633-A, matriz 65660. Luiz Barbosa, sambista prematuramente desaparecido, mas cujo estilo deixou inúmeros seguidores , aqui comparece com a batucada “Bumba no caneco”, parceria de Getúlio  “Amor” Marinho com Orlando Vieira. Destinada ao carnaval de 1933, foi gravada na Odeon em 24 de janeiro desse ano, com lançamento a toque de caixa sob número de disco 10974-A, matriz 4594. Patrício Teixeira retorna em seguida para interpretar “Quando me vejo num samba”, de “Amor” sem parceiro, gravação Victor de 17 de maio de 1933, somente lançada em setembro de 34 (!), disco 33818-B, matriz 65735. Castro Barbosa vem depois com “De que será?”, marchinha do carnaval de 1935, da parceria “Amor”-João Bastos Filho. Acompanhado pelos Diabos do Céu, de Pixinguinha, Barbosa gravou a música na Victor em 4 de dezembro de 34, com lançamento bem em cima da folia, em fevereiro, disco 33899-A, matriz 79795. Aurora Miranda, irmã de Cármen, comparece aqui com o samba “Molha o pano”, de “Amor” e Vasconcelos, do carnava de 1936. Gravação Odeon de 16 de dezembro de 35, lançada um mês antes da folia, em janeiro, disco 11320-A, matriz 5213. Ainda de “Amor” e João Bastos Filho é a valsa “Teu olhar”, executada por Luiz Americano à clarineta com a maestria habitual, em gravação Odeon de 3 de outubro de 1936, lançada em abril de 37, disco 11459-B, matriz 5390. Ídolo popular inesquecível, Orlando Silva aqui apresenta o samba “Vai cumprir o teu fado”, da parceria Getúlio “Amor” Marinho-João Bastos Filho, sucesso do carnaval de 1940. Gravação Victor de 26 de setembro de 39, lançada ainda em novembro, disco 34517-B, matriz 33165. Dessa parceria é também a marchinha “Oh! Mariana”, da mesma folia momesca, interpretada pelo irmão de Sílvio Caldas, Murilo. Gravação Victor de 22 de novembro de 1939, lançada em janeiro de 40, disco 34561-B, matriz 33286. Por fim, o grande Nélson Gonçalves, interpretando, também de “Amor” e João Bastos Filho, a valsa “Nadir”, gravação Victor de 30 de maio de 1944, lançada em agosto do memso ano, disco 80-0198-A, matriz S-052968. Um belo fecho para esta seleção que o GRB dedica a Getúlio “Amor” Marinho, com toda a certeza. Até a próxima!

Texto de SAMUEL MACHADO FILHO.

A Música De Getúlio Marinho (parte 1) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 144 (2016)

Iniciando com o pé direito o ano de 2016, o Grand Record Brazil apresenta a primeira de duas partes de uma retrospectiva dedicada a um dos mais expressivos compositores de nossa música popular, também instrumentista e dançarino: Getúlio “Amor” Marinho. Nosso focalizado nasceu em Salvador, Bahia, no dia 15 de novembro de 1889, o mesmo da Proclamação da República, recebendo na pia batismal o nome de Getúlio Marinho da Silva. Filho de Paulina Tereza de Jesus e Antônio Marinho da Silva, o “Marinho que Toca”, mudou-se para o Rio de Janeiro aos seis anos de idade, junto com a família, é claro. Com a mesma idade, ingressou no Rancho Dois de Ouro.  Foi criado frequentando as casas de tias baianas como Gracinda, Bebiana, Calu Boneca e a lendária Ciata. Participou dos primeiros ranchos carnavalescos cariocas criados por baianos, então residentes no bairro da Saúde. Getúlio saía como porta-machado no Dois de Ouros, e ainda desfilava no Concha de Ouro. Frequentou as rodas de samba organizadas por baianos que se reuniam no Café Paraíso, então situado à Rua Larga de São Joaquim, atual Avenida Marechal Floriano. Mestre-sala de inúmeros ranchos carnavalescos (Flor do Abacate, Quem Fala de Nós Tem Paixão, Reinado de Silva), aprendeu a coreografia com o pioneiro Hilário Jovino Ferreira, tornando-se grande especialista nessa arte. Estava sempre vestido de forma impecável, com roupas de fidalgo, sapatos de fivela e salto alto, de luvas e cabeleira empoada, como se fosse alguém vindo das cortes francesas. Sua coreografia era sóbria, sem acrobacias nem presepadas, e  exatamente por sua finesse, recebia os aplausos do público presente aos desfiles. Em 1916, iniciou sua carreira artística, atuando como dançarino na revista “Dança de velho”, encenada no Teatro São José. Sua primeira composição gravada foi o samba “Não quero amor”, em 1930, pelo Conjunto Africano. Frequentou terreiros de macumba e conheceu  pais de santo afamados, como João Alabá, Assumano e Abedé, recolhendo pontos do gênero e levando-os ao disco, juntamente com Elói Antero Dias, o Mano Elói. Outros pontos de macumba por ele compostos foram gravados por Moreira da Silva. De 1940 a 1946, Getúlio foi o “cidadão-samba” do carnaval carioca. Entre suas composições de maior sucesso, destacam-se o samba “Apanhando papel” e a marchinha junina “Pula a fogueira”. Era também considerado grande tocador de omelê, antigo nome da cuíca. Em 1963, já quase esquecido, adoeceu seriamente, e foi internado no Hospital dos Servidores da então Guanabara, vindo a falecer a 31 de janeiro do ano seguinte, 1964. Nesta primeira parte da retrospectiva que o GRB dedica a Getúlio “Amor” Marinho, apresentamos oito de seus pontos de macumba, um jongo e  um samba, perfazendo um total de dez fonogramas históricos e importantes. Começamos com o “Ponto de Inhansan” (ou Iansã), que ele  gravou com seu Conjunto Africano na Odeon em 9 de março de 1937, com lançamento em junho do mesmo ano, disco 11481-A, matriz 5533. Logo em seguida temos o lado B, “Ponto de Ogum”, matriz 5534, regravação de música que já lançara em 1930, em dueto com Mano Elói. Foi lançada justamente nesse ano, mais precisamente em outubro de 30, nossa faixa seguinte, o “Canto de Exú”, de domínio público, igualmente pelo Conjunto Africano, disco Odeon 10690-A, matriz 3879.  Depois temos o lado B desse disco, “Canto de Ogum”, outro motivo popular, matriz 3880. Apresentamos em seguida as músicas do único disco de João Quilombô, o Parlophon 13400, lançado por volta de abril de 1932, justamente dois pontos de macumba de “Amor”: “Pisa no toco”, matriz 131362, e “Quilombô”, matriz 131363. “Vou te dar”, samba do carnaval de 1933, é uma parceria de “Amor” com Alcebíades “Bide” Barcellos, e foi lançado pela Odeon em janeiro desse ano, na voz de Luiz Barbosa, disco 10971-B, matriz 4586.  O jongo “Ê timbetá”, de “Amor” sem parceiro, foi gravado na Victor por J. B. de Carvalho, acompanhado de seu Conjunto Tupi, em 27 de maio de 1936, com lançamento em julho do mesmo ano, disco 34075-B, matriz 80168. Encerrando esta primeira parte, dois pontos de macumba que “Amor” compôs com João da Baiana, interpretados pelo parceiro com seu conjunto, em gravações Victor de 21 de março de 1938, lançadas em maio seguinte no disco 34313. No lado A, matriz 80707, “Sereia”, e no B, matriz 80708, “Folha por folha”.  Na próxima edição do GRB, mais um pouco da obra musical de Getúlio “Amor” Marinho. Até lá!

* Texto de Samuel Machado Filho