Fausto Fawcett – Imperio dos Sentidos (1989)

Jornalista, autor teatral, escritor de ficção-científica, compositor. Assim é Fausto Borel Cardoso, nascido no Rio de Janeiro em 10 de maio de 1957, e que escolheu o nome artístico de Fausto Fawcett, segundo consta, em homenagem à atriz norte-americana Farrah Fawcett, famosa na década de 1970 com o seriado de TV “As Panteras” e falecida em 2009. Este performático artista apareceu na noite carioca em meados da década de 1980, com esquetes misturando teatro, música e poesia, então muito em voga na Zona Sul do Rio de Janeiro. Suas músicas e livros frequentemente têm como cenário uma versão “cyberpunk” da “princesinha do mar”, Copacabana, onde foi criado. Ingressou no curso de comunicação da PUC-Rio em 1976, mas só se formou em 1983, uma vez que interrompeu seus estudos por dois anos. Foi na universidade que conheceu seu mais constante parceiro, Carlos Laufer, e começou a fazer suas performances, em 1981, na área do pilotis da PUC. De acordo com ele próprio, sua obra é profundamente marcada por quatro obsessões: Copacabana, louras, Rolling Stones e o Fluminense Futebol Clube. Outras influências foram o poeta pré-romântico inglês William Blake, o simbolista brasileiro Cruz e Souza, os Sex Pistols, a Jovem Guarda e até mesmo os Flintstones(!), tudo isso resultando em uma colagem de informações multifacetadas, misturando erudito e popular. Em 1987, devidamente acompanhado por seu grupo Robôs Efêmeros, fez sucesso em todo o Brasil com “Kátia Flávia, Godiva do Irajá”, inspirada numa personagem real, uma prostituta da boate Kiss Me. A música foi incluída na trilha sonora da novela “O outro”, da TV Globo, reaproveitada por Roman Polanski no filme “Lua de fel”, e regravada por Fernanda Abreu. Entre seus livros, todos baseados em suas performances, destacam-se “Santa Clara Poltergeist” (1990), não por acaso também título de uma das músicas do disco que comentamos a seguir,  “Básico instinto” (1992), “Favelost” (2012) e “Cachorrada doentia” (2015). Fausto Fawcett tem três álbuns-solo gravados, além de participações em trilhas sonoras de filmes e álbuns de outros artistas, como a já citada Fernanda Abreu e Toni Platão, ex-vocalista da banda de rock Hojerizah. É justamente o segundo álbum-solo de Fausto, “O império dos sentidos” , lançado pela WEA/Warner em abril de 1989, que o TM prazerosamente disponibiliza hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados, com produção assinada pelo “paralamas do sucesso” Herbert Vianna, que ainda atua na guitarra e nos teclados . São apenas sete faixas, que, segundo o jornalista Luiz Antônio Giron, estão “povoadas de recitativos obcecados pela técnica, simulacros simulados, figuras que se movem  por um universo sem gravidade, em suspensão”.  Entre elas, a já citada “Santa Clara Poltergeist”, a faixa-título, “O império dos sentidos” (por certo inspirada no filme japonês de Nagisa Oshima, clássico do cinema erótico), “Cicciolina, o cio eterno” (homenagem à atriz húngara naturalizada italiana, então diva do cinema pornô), “Shopping de vodus”, “Andróide nissei”,  e “Judith Rachel” (uma falsa santa armamentista). A última faixa, “Sílvia Pfeiffer”, homenageia  a atriz e manequim gaúcha, que, segundo o próprio Fausto, “encarna epicamente um certo sentimento de mundo, e tem uma beleza desumana que me faz produzir”. Não por acaso, é ela quem está na capa e na contracapa deste segundo álbum de Fausto Fawcett, o que a catapultou definitivamente para o estrelato, um ano mais tarde, ao estrelar a minissérie “Boca do lixo” e, em seguida, a novela “Meu bem, meu mal”, ambas na TV Globo. E ela continua em franca atividade, tanto na TV quanto no cinema. Enfim, este “Império dos sentidos”  é um trabalho primoroso, com imagens que nos fazem pensar em mundos não-humanos, e universos paralelos. Para ouvir e pensar!

império dos sentidos

facada leite moça

androide nissei

mapas alemães

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cicciolina

judith raquel

silvia pfeiffer

*Texto de Samuel Machado Filho