Atahualpa Yupanqui (1967)

Dando prosseguimento ao seu ciclo latino-americano, o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados um álbum daquele que é considerado um dos mais importantes divulgadores de música folclórica da nossa vizinha Argentina. Estamos falando de Atahualpa Yupanqui.  Compositor, cantor, violonista e escritor, ele veio ao mundo com o nome de Héctor Roberto Chavero, na cidade de Pergamino, província de Buenos Aires, no dia 31 de janeiro de 1908, filho de pai quéchua e mãe basca. Ainda criança, mudou-se como a família para Agustín Roca, em cuja ferrovia seu pai trabalhava. Aos seis anos, começou a ter aulas de violino e, pouco tempo depois, de violão, com o concertista Bautista Almirón, viajando diariamente os 15 quilômetros que o separavam da casa do mestre. Em 1917, sua família mudou-se para Tucumán e, aos treze anos, ele teve suas primeiras obras literárias publicadas no jornal da escola. É quando começa a utilizar o nome Atahualpa, em homenagem ao último soberano inca. Alguns anos depois, em homenagem a Tupac Yupanqui, penúltimo governante inca, agregou “Yupanqui” a seu pseudônimo. Aos 19 anos, compôs a canção “Caminito del índio”, que se tornou um hino da identidade indígena na Argentina. Este seria, em 1936, o lado A de seu primeiro disco, em 78 rpm, pela Odeon, tendo no verso “Mangruyando”. Fez inúmeras viagens, percorrendo províncias argentinas, a Bolívia, os Vales Calchaquies e até mesmo o Sul do Brasil, muitas vezes montado em lombos de mulas, a fim de melhor conhecer antigas culturas sul-americanas. Em 1939, publicou seu primeiro livro de poemas, “Piedra sola”. Depois vieram mais onze, dois dos quais publicados postumamente. Em 1945, filiou-se ao Partido Comunista da Argentina, junto com um grupo de intelectuais, o que, inevitavelmente, provocou represálias:  foi proibido de se apresentar em rádios, teatros, bibliotecas e escolas, além de ter sido preso várias vezes. Seu romance “Cerro bayo”, de 1947, serviu de base para o roteiro do filme “Horizontes de piedra”, com música e atuação do próprio Atahualpa Yupanqui, lançado em 1956 e premiado no Festival de Karlovy Vary, cidade da antiga Tchecoslováquia e agora da Republica Checa (Yupanqui apareceria em mais seis filmes,  entre 1959 e 1981). Em 1949, viajou pela Europa, apresentando-se na Hungria, Tchecoslováquia, Romênia, Bulgária e França, Foi em Paris que conheceu Edith Piaf e Paul Eluard, apresentou-se no Teatro Aleneo e gravou o álbum “Minero soy” (cuja faixa-título está também no presente álbum), premiado em concurso internacional de folclore da Academia Charles Gross  como melhor disco estrangeiro. Voltando à Argentina, em 1953, tornou público seu desligamento do Partido Comunista, na verdade acontecido dois anos antes. Entre suas músicas mais conhecidas (deixou um total de 325 composições), estão: “El arriero”, “Trabajo, quiero trabajo”, “Los ejes de mi carreta”, “Los Hermanos” (que Elis Regina tornou conhecida no Brasil, em registro memorável),”Milonga del solitario”,  “Zamba del grillo”, “Luna tucumana” e “Nada mas”. Trabalhos estes interpretados por gente do porte de Mercedes Sosa, Alfredo Zitarrosa, Víctor Jara, Dércio Marques, Ángel Parra e Marie Laforet, e que continuam a fazer parte do repertório de vários artistas na Argentina e em outras partes do mundo. Em 1963-64, Atahualpa Yupanqui apresentou-se no Japão, Colômbia, Marrocos, Egito,  Israel e Itália. Em 1967-68 fez temporada artística na Espanha e na França, voltando a residir em Paris. Em 1986, foi condecorado como Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras na França, e, um ano depois, homenageado pela Universidade de Tucumán. Em janeiro de 1990, já com a saúde abalada por problemas cardíacos, apresentou-se pela última vez em sua Argentina natal, participando do festival de Cosquín, e  depois retornou a Paris a fim de cumprir contrato artístico. Foi casado duas vezes, a primeira com sua prima, Maria Alícia Martinez, entre 1931 e 1937, com quem teve os filhos Alma Alicia, Atahualpa Roberto e Lila Amancay,  e a segunda com a pianista e compositora franco-canadense Paula “Nenette” Pepin, entre 1942 e 1990 (ano em que ela faleceu), com quem  teve seu último filho, Roberto Chavero. Atahualpa Yupanqui faleceu em 23 de maio de 1992, em Nîmes, na França, aos 85 anos, e, por desejo expresso em testamento, foi sepultado em Cerro Colorado, na província argentina de Córdoba.  Aqui, oferecemos a nossos amigos cultos, ocultos e associados um álbum que a Odeon argentina lançou em 1967, dentro de uma série chamada “Galeria”, e, como quase toda a discografia de Yupanqui, nunca editado em território brasileiro. São catorze faixas imperdíveis, algumas cantadas, outras instrumentais, nas quais desfilam ritmos tipicamente argentinos, como a zamba, a canción, a chacarera, a baguala e a canción norteña. Enfim, é uma preciosa amostra do legado de Atahualpa Yupanqui, de quem brevemente estaremos postando mais um álbum. Aguardem!

canción del cañaveral

quiero ser luz

minero soy

la alabanza

zambita del alto verde

el vendedor de yuyos

payo sola

indiecito dormido

la finaldita

mi caballo perdido

zamba de vargas

viejo tambor vidalero

el coyita

no quiero que te vayas

 

 

*Texto de Samuel Machado Filho