Eramos Seis – Trilha Sonora Da Novela (1977)

Em 1943, dois anos após estrear em livro com “O romance de Tereza Bernard”, a escritora Maria José Dupré (Botucatu, SP, 1/5/1898-Guarujá, SP, 15/5/1984) publicou o que seria sua obra-prima: “Éramos seis”, que, um ano mais tarde, receberia o Prêmio Raul Pompéia da Academia Brasileira de Letras. Esse foi seu maior sucesso literário, ao lado da série de livros infantis com o cachorrinho Samba. “Éramos seis” conta a história de dona Lola, uma mulher batalhadora e bondosa que faz tudo pela felicidade de sua família. Esposa de um vendedor, Júlio, teve com ele quatro filhos: Carlos, Alfredo, Julinho e Isabel. A obra cobre cerca de duas décadas, iniciando-se em fins dos anos 1920, no final da República Velha, e terminando nos anos 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, já no fim do Estado Novo. Um período de grandes transformações sociais e comportamentais da sociedade paulista que serve de pano de fundo ao romance, influenciando diretamente as ações dos personagens. A vida de dona Lola é narrada desde a infância das crianças, ao tempo em que a família morava na Avenida Angélica, em São Paulo, passando pela chegada dos filhos à fase adulta e da matriarca à velhice. À medida que os anos passam, sua vida muda com as mortes de Júlio e Carlos, o sumiço de Alfredo pelo mundo (é até convocado para lutar na Segunda Guerra Mundial), a união de Isabel com um homem desquitado, Felício, e a ascensão de Julinho, que se casa com uma moça de família da alta sociedade carioca. Ao fim da vida, dona Lola acaba sozinha num asilo, daí o título do livro: eram seis e, naquele momento, só restava ela. Um drama mais ou menos comum a todas as famílias. “Éramos seis” foi adaptado quatro vezes para a televisão, a primeira em 1958, pela Record, levada ao ar ao vivo (ainda não existia o videoteipe), estrelada por Gessy Fonseca; a segunda em 1967, pela extinta Tupi, estrelada por Cleide Yaconis; a terceira dez anos mais tarde, pela mesma Tupi, com Nicete Bruno na pele de dona Lola; e a quarta, em 1994, pelo SBT, estrelada por Irene Ravache. E é justamente o álbum com as músicas da terceira versão de “Éramos seis” que o TM oferece hoje a seus amigos cultos e ocultos, dando prosseguimento ao ciclo que dedicamos às trilhas sonoras de novelas. A estreia foi no dia 8 de junho de 1977, e o último capítulo, de um total de 165, foi exibido ao apagar das luzes daquele ano, ou seja, em 31 de dezembro. Dirigida por Atilio Riccó e Plínio Paulo Fernandes, e adaptada por Sílvio de Abreu (hoje diretor de teledramaturgia da Globo) e pelo também crítico de cinema Rubens Ewald Filho (que também assinam o remake exibido no SBT, em 1994), a novela foi ao ar num momento em que a Tupi já estava em grave crise financeira, mas ainda respirava (e, claro, foi produzida em cores). Além de Nicete Bruno como a matriarca, estavam no elenco: Gianfrancesco Guarnieri (Júlio), Carlos Augusto Strazzer (Carlos), Carlos Alberto Ricelli (Alfredo), Ewerton de Castro (Julinho), Maria Isabel de Lizandra (Maria Isabel), Geórgia Gomide (Clotilde), Jussara Freire (Olga), Chica Lopes (Durvalina, papel que ela também fez no remake do SBT), Beth Goulart (Lili), Geny Prado (a companheira de Mazzaropi no cinema, aqui no papel de tia Candoca), Ruthinéia de Moraes (Zulmira), Maria Luiza Castelli (Pepa), e outros mais. A Tupi reprisaria “Éramos seis” pouco antes de falir, em 1980. O álbum com a trilha da novela, que oferecemos hoje, teve seu lançamento por conta da GTA, gravadora que, como vocês já sabem, foi criada pela Tupi na esteira do sucesso da global Som Livre. Com produção executiva de Moacyr M. Machado, sob a direção artística do sempre notável Cayon Gadia, o disco é uma compilação muitíssimo bem feita, repleta de sucessos passados, feita a partir de masters cedidos por outras gravadoras. O disco abre com o tema de abertura de “Éramos seis”, “Toda uma vida”, na voz de Ederly Borba, uma cantora que infelizmente não teve muita sorte. Depois, temos Beth Carvalho, com “Domingo antigo”, o mestre do cavaquinho, Waldir Azevedo, com sua belíssima “Meu prelúdio”, Rosinha de Valença com “Madrinha lua”, os Titulares do Ritmo com “Modinha”, de Sérgio Bittencourt, Wilson Simonal com “Queremos Deus”, o inesquecível dueto de Dorival Caymmi e sua filha Nana (então estreando em disco) em “Acalanto”, Chico Buarque com sua imortal “A banda”, Jacob do Bandolim executando a valsa “Capricho do destino”, Nara Leão revivendo a marcha-rancho “Malmequer”, os Violinos Mágicos (uma das orquestras de estúdio da Musidisc) com a imortal valsa “Branca”, de Zequinha de Abreu, Elizeth Cardoso e Sílvio Caldas interpretando juntos o clássico “Serra da Boa Esperança”, de Lamartine Babo, e, por fim, Fernando Lona, interpretando sua “Caiado”. Um repertório de primeiríssima qualidade que caiu como uma luva para embalar a trama de “Éramos seis”, e torna este disco absolutamente imperdível, e irresistível! Ouçam e confirmem.

toda uma vida – ederly borba

domingo antigo – beth carvalho

meu prelúdio – waldir azevedo

madrinha lua – rosinha de valença

modinha – titulares do ritmo

queremos deus – wilson simonal

acalanto – nada caymmi

a banda – chico buarque

capricho do destino – jacob do bandolim

mal me quer – nara leão

branca – violinos mágicos

serra da boa esperança – elizeth cardoso e silvio caldas

caiado – fernando lona

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*Texto de Samuel Machado Filho

Nossa Filha Gabriela – Trilha Sonora Original (1972)

O Toque Musical prossegue seu ciclo dedicado às trilhas sonoras de telenovelas oferecendo mais uma raridade. O folhetim hoje posto em foco é “Nossa filha Gabriela”, da extinta TV Tupi, escrito por Ivany Ribeiro, dirigido por Carlos Zara (que também interpretou o personagem Tito) e levado ao ar, ainda em preto e branco, de primeiro de setembro de 1971 a 4 de março de 1972, totalizando 168 capítulos. E com um ótimo elenco, praticamente o mesmo da novela anterior de Ivany, “O meu pé de laranja lima” (adaptada de romance de José Mauro de Vasconcelos):  Eva Wilma (então grande estrela da Tupi, no papel-título), Gianfrancesco Guarnieri (Giuliano), Ivan Mesquita (Candinho), Abrahão Farc (Romeu), Cláudio Corrêa e Castro (Napoleão), Lélia Abramo (Donana), Dênis Carvalho (Rodrigo), Geny Prado (ela mesma, a companheira de Mazzaropi no cinema, como Rosária), Bete Mendes (Rosana), etc. Na trama, Gabriela é a estrela de um teatro mambembe que chega a uma pacata cidade e muda o comportamento de seus habitantes. Três simpáticos velhinhos, Candinho, Romeu e Napoleão, disputam entre si a atenção de Gabriela. O que ela desconhece é que, no passado, os velhinhos haviam se casado com trigêmeas, uma delas era sua mãe e um deles, seu pai. Aí então, os três passam a disputar a paternidade de Gabriela, um mistério que permaneceria até o fim da trama. O resultado foi uma história simples e divertida, que, curiosamente, iria se chamar “A fazenda”! Sim, esse foi o primeiro título pensado para a novela, quando nem se imaginava que haveria um reality show com esse nome, tempos depois…  Outra curiosidade é que Ivany Ribeiro escreveria, em 1986, um remake de “Nossa filha Gabriela”, produzido pela Globo, desta vez com o título de “Hipertensão”, e no qual o velhinho Napoleão foi interpretado pelo mesmo ator da versão original, Cláudio Corrêa e Castro. A trilha sonora de “Nossa filha Gabriela”, que o TM oferece hoje a seus amigos cultos e ocultos, foi composta e interpretada pela dupla Toquinho e Vinícius de Moraes, então fazendo enorme sucesso, e editada sob a chancela da Philips/Phonogram (selo Polydor). Quer dizer, garantia de música de qualidade e de felizes reminiscências para quem viveu essa época, e, por certo, agradável surpresa para a geração atual. Devidamente produzida por Cayon Gadia, e gravada em São Paulo nos Estúdios Reunidos, a trilha teve os arranjos e regências a cargo de outro “cobra”, José Briamonte. Abrindo o disco, a conhecidíssima “Sei lá, a vida tem sempre razão”, tema principal da novela, interpretada por coro feminino. Entre as quatro faixas que o Poetinha Vinícius interpreta solo, dois destaques imperdíveis: “A casa” e “O pato”, poemas infantis que Toquinho musicou, e que seriam mais tarde reaproveitados nos dois volumes da “Arca de Noé”, marcando gerações de crianças ao longo do tempo. Vinícius ainda canta “O céu é o meu chão” e a “Valsa para uma menininha”, além de interpretar “A casa” também em diálogo com Toquinho. Este se apresenta  solo em “Modinha número 1” e “Amor em solidão”, e junto com uma certa Laís, canta “Ele e ela”. “O ceú é o meu chão” e “Modinha número 1” mereceram ainda versões instrumentais, também constantes deste disco. Completando o programa, outro tema exclusivamente instrumental, “Rosa desfolhada”. Tudo com o alto padrão técnico e artístico que sempre caracterizou as produções da Philips/Phonogram, fazendo da trilha sonora de “Nossa filha Gabriela” um produto simplesmente imperdível. É correr para o GTM, baixar e ouvir…

sei lá… a vida tem sempre razão
amor em solidão
ele e ela
modinha #1
o céu é o meu chão
lá casa (diálogo)
la casa
valsa para uma menininha
a rosa desfolhada
o pato
modinha #1

*Texto de Samuel Machado Filho

Brasil Selo Exportação (1978)

No decorrer dos anos 1970, com o sucesso obtido pela Som Livre, gravadora vinculada à Rede Globo de Televisão, as emissoras concorrentes decidiram criar seus próprios selos fonográficos. Dessa maneira, surgiram a Bandeirantes Discos, a Seta (vinculada à Record)e a GTA (Gravações Tupi Associadas). Esta última, vinculada à Rede Tupi, grande rival da Globo na época, surgiu em 1976, e seu primeiro lançamento foi a coletânea “Sucessos pop Difusora”, recheada de hits internacionais, e produzida pela rádio AM paulistana de mesmo nome, que também pertencia ao grupo Diários Associados e tinha uma programação para a juventude, embrião do que as FMs teriam bem mais tarde. O disco (que tinha na capa o desenho de uma macaca vestida de Mona Lisa) foi um sucesso, sendo logo seguido de um segundo volume. A GTA fazia praticamente o mesmo que a Som Livre, ou seja, trilhas sonoras das novelas da Tupi e compilações nacionais e internacionais de gêneros diversos, a partir de fonogramas cedidos pelas co-irmãs. Mas, com a falência da emissora, em 1980, acabou também sumindo do mercado fonográfico, o mesmo acontecendo com a Seta e a Bandeirantes Discos, que também não foram muito longe. A Som Livre, vocês sabem, continua na ativa. É justamente uma coletânea da GTA que o Toque Musical está oferecendo hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados. Trata-se de “Brasil selo exportação”. Com seleção de repertório a cargo de Ana Maria Mazzocchi, cujo nome está ligado ao extinto Sebo de Elite, uma loja de discos raros que comandou por mais de quinze anos em São Paulo, o álbum reúne vários nomes da MPB de então, a maior parte bastante conhecidos. A exceção fica por conta de Neuber, um cantor-compositor que a própria GTA tentou emplacar sem êxito, aqui com a faixa “Análise”, que encerra o LP. No mais, verdadeiras “feras” da MPB batem ponto neste disco: Maria Bethânia, logo de saída, vem com “Terezinha”,  cujo autor, Chico Buarque, aparece logo em seguida com a não menos antológica “Basta um dia”, também composição sua. Temos ainda a inesquecível Elis Regina com “Sentimental eu fico”, de Renato Teixeira, Lula Carvalho com “Portão antigo”, releitura de uma composição de Antônio Maria originalmente lançada por Renata Fronzi em 1953, Ney Matogrosso interpretando “A gaivota”, de Gilberto Gil, a não menos inesquecível cantora e violonista Rosinha de Valença com sua “Os grilos são astros”, Fafá de Belém com a sensível “Dentro de mim mora um anjo”, de Suely Costa e Cacaso, João Nogueira com sua “Albatrozes”, Nana Caymmi revivendo “Perdoa, meu amor”, de Georges Moran e J. G. de Araújo Jorge, hit de Orlando Silva em 1947, Gal Costa com a versão “Louca me chamam” (Crazy he calls me)”, feita pelo poeta concretista Augusto de Campos a partir de original dos norte-americanos Carl Sigman e Bob Russell, e Alaíde Costa com um trabalho da parceria Ivan Lins-Vítor Martins, “Corpos”. Tudo isso em uma compilação de inestimável valor artístico e histórico, trazendo de volta um pouco da melhor MPB da década de 1970. É ouvir e comprovar.

terezinha – maria bethania

basta um dia – chico buarque

sentimental eu fico – elis regina

portão antigo – lula carvalho

a gaivota – ney matogrosso

os grilos são astros – rosinha de valença

dentro de mim mora um anjo – fafá de belém

albatrozes – joão nogueira

perdoa meu amor – nana caymmi

louca me chamam – gal costa

corpos – alaide costa

análise – neuber

*Texto de Samuel Machado Filho

Salário Mínimo – Trilha Original Da Novela (1978)

Bom dia amigos cultos e ocultos! Começamos a segunda feira com o Salário Mínimo, mas garanto que até o fim de semana seremos os donos da empresa! Isso aqui, no Toque Musical, é claro!

Hoje é dia de trilha e aqui vou eu com outra de novela. Essa é outra que eu também não me lembrava, mas as músicas, com certeza, são inesquecíveis, na maioria. “Salário Mínimo” foi uma novela da Rede Tupi, em seu último fôlego. Escrita por Chico de Assis e dirigida por Antônio Abujamra. Foi ao ar no final de 1978. Nessa altura a Globo já tinha tomado o poder e formatado as telenovelas de uma tal maneira que não tinha muito para as outras emissoras. Só sobrou mesmo o salário mínimo. Este, por sinal, até hoje, continua uma novela…
Mas, peraí, do que é mesmo que eu estou falando? Que confusão, melhor eu me ater às músicas do disco. Como disse, o salário é mínimo, mas a trilha é boa. Além de alguns medalhões e sucessos populares inquestionáveis, temos também raros e curiosos momentos que a gente só vê e ouve em coletâneas ou trilhas como esta. Um bom exemplo é a faixa “Baião Collection”, uma espécie de ‘pot pourri’ do baião interpretado pelo cantor Fernando Mendes (aquele da ‘menina da cadeira de rodas), com participação de Luiz Gonzaga. O interessante nessa gravação é o arranjo moderninho, com guitarra e uma levada que parede assustar ao velho Lua. Num certo momento da música ele até brinca dizendo: “olha onde foi o meu baião… isso é discoteca… eu conheço isso aí…” E era mesmo, era o tempo da ‘dance music’ e se não dava para distorcer totalmente o baião, pelo menos no nome, “Baião Collection”(o ‘collection’ era um termo comum naquela época das discotecas). Outro encontro feliz é a faixa “Calçadas”, interpretada pelo Wilson Miranda, com participação do Paulo César Pinheiro. Tem também um Tom Zé em “Amor de estrada”, Marcelo cantando “Um sonho” de Gil, Marília Medalha em “Iceberg”, de Sueli Costa e Aldir Blanc, o impagável Sidney Magal e seu sucesso “Tenho”… É, tem muita música interessante, não deixem de conferir. 😉
então vale a pena – simone
sampa – caetano veloso
inconveniencia – lula carvalho
iceberg – marilia medalha
vida norturna – zizi possi
calçadas – wilson miranda e paulo cesar pinheiro
tico tico no fubá- waldir azevedo
tenho – sidney magal
baião collection – fernando mendes e luiz gonzaga
pode chegar – peninha
um sonho – marcelo
de vez em quanto – elizabeth
amor de estrada – tom zé
ai que filosofia – neuber

Cinderela 77 – Trilha Original Da Novela (1977)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! A ‘segundona’ começou puxada, por isso, deixa eu aproveitar a folga para um café e mandar brasa aqui, na postagem de hoje.
Vamos com a trilha de uma novela, que eu nem me lembrava, “Cinderela 77”, uma história baseada no clássico conto de Charles Perrault, que trazia como seus protagonistas os cantores, Vanusa e Ronnie Von. A novela foi uma produção da extinta TV Tupi e segundo contam, chegou a fazer um certo sucesso. A trilha é quase toda de músicas originais, feitas mesmo para a novela, com excessão das cantadas por Ronnie Von e Vanusa, que são músicas de seus discos individuais. Pessoalmente, nada me chama mais atenção no lp que sua própria capa. Mas não deixa de ser uma boa curiosidade fonomusical para fazer jus ao nosso lema: ouvir com outros olhos 😉

palavras mágicas – vera lúcia e côro
dia de folga – ronnie von
sonho encantado – quarteto maior
quero você – vanusa
tempo de acordar – ronnie von
cinderela e o anjo (dois amores) – vera lúcia e marcos
apocalipse – neuber
o rei das abóboras – quarteto maior
quem é você – joão luiz
o mago pornois – vanusa
eu era humano e não sabia – ronnie von
dia feliz (canção da cinderela) – vera lúcia