Wauke – Onda (1987)

Olá amiguinhos cultos e ocultos, boa noite! Nosso encontro hoje é com a música de Tom Jobim, através da interpretação de Wauke, um artista de rara sensibilidade. Cantor, compositor, produtor, escritor e também astrólogo. Wauke, na verdade é Carlos Walker, músico carioca que ganhou destaque com a música “Alfazema”, que fez parte da trilha sonora de uma novela da Rede Globo, em 1975 e consequentemente nesse mesmo ano lança seu primeiro disco, o cultuado “A Frauta de Pã” pela RCA. Este disco, inclusive, nós já postamos aqui no Toque Musical. Agora nosso artista volta assinando como Wauke e neste álbum, de 1987, lançado pelo selo 3M, ele nos presenteia com uma seleção, certamente escolhida a dedo, de dez canções de Antonio Carlos Jobim. Quando digo presenteia não é atoa. Temos aqui um repertório finíssimo de um dos maiores compositores brasileiros, um intérprete apaixonado, dono de uma voz super agradável, quase feminina, mas que em nada soa como falsete. Somado a tudo isso temos um time de músicos também de primeiríssima, oque garante ao artista a segurança na releitura de obras tão conhecidas. E Wauke o faz com competência, sem parecer o que fatalmente acontece nesses casos, mais uma versão. Bom, não deixa de ser uma versão, mas cheia de personalidade. Vale a pena conferir essa “Onda”.

wave

vivo sonhando

o nosso amor

falando de amor

espelho das águas

pois é

águas de março

chora coração

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Papete (1987)

Olá, amigos cultos e ocultos! Aí vai mais um álbum do grande José de Ribamar Viana, o Papete, nascido na cidade de Bacabau, Maranhão, em 8 de novembro de 1947. Estudou no Colégio Marista Maranhense e iniciou sua carreira artística aos 13 anos de idade, atuando como cantor na Rádio Gurupi de São Luís, lá se apresentando até 1967. Ainda nesse ano, compôs sua primeira música, “O bonde”, nunca registrada em disco. Em 1969, teve sua primeira música gravada, “Eu morro se perder você”, na voz de Wanderley Cardoso. Nessa época, já atuava como percussionista e violonista. Em 1970, começou a se apresentar na casa noturna O Jogral, de São Paulo, onde trabalhou por sete anos. Foi eleito um dos três melhores percussionistas do mundo quando participou do Festival de Jazz de Montreux, Suíça, em 1982, 1984 e 1987. Trabalhou com os maiores artistas da MPB, como Toquinho (com quem fez por treze anos mais de mil apresentações por mais de vinte países), Paulinho da Viola, Miúcha, Rosinha de Valença, Paulinho da Viola, Miúcha, Diana Pequeno, Chico Buarque, Almir Sater, Rita Lee, Martinho da Vila, Renato Teixeira e a dupla Sá e Guarabyra. Papete desenvolveu projetos voltados para o registro e divulgação da música do Maranhão, entre eles o “Ouro de mina”, tendo sido o único artista maranhense a ter um show exclusivo com repertório voltado para a cultura de seu Estado. Compôs com Josias Sobrinho as canções e o libreto da ópera popular “Catirina”, marco da cultura maranhense nos anos 1990. Um dos últimos projetos que coordenou deu origem à obra “Os senhores cantadores, amos e poetas do bumba-meu-boi do Maranhão”, lançada em novembro de 2015. Papete faleceu em São Paulo, a 26 de maio de 2016, aos 68 anos de idade, mas seu trabalho está preservado em uma discografia de mais de quinze álbuns. “Papete”, lançado pela extinta 3M em 1987, é seu quinto trabalho-solo, e conserva a qualidade artística costumeira de seus discos. É mais um ótimo álbum, merecedor, portanto, de mais esta postagem do Toque Musical. 

mascavo
a criança e o mar
cancha reta
zanzibar
vira (no meu quintal)
papagaio dos cajueiros
ramadã
dança (danza)




*Texto de Samuel Machado Filho

Martinha (1986)

Olá amigos cultos e ocultos! Trago aqui mais um disco de cantoras oriundas do período da Jovem Guarda. Desta vez vamos com a Martinha, que mais uma vez marca presença por aqui. Já postamos dela outros discos e agora estou trazendo este de sua fase nos anos 80. Disco lançado pelo selo 3M, uma produção de Moacyr Machado, com direção artística de Mickael. O lp traz um repertório de 10 canções, entre essas algumas de autoria da própria cantora, como podemos ver já estampada na contracapa. Um disco bem produzido, envolvend até uma pequena orquestra. Vale a pena conhecer ou relembrar. Confiram no GTM.

que homem é esse
muito estranho
pouco a pouco
já sei
confissões
fala mais alto coração
por mais ninguém
sal e pimenta
pouco demais
louca


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Bendengó – La Nave Va (1986)

Olá, amigos cultos e ocultos! Hoje apresentamos para vocês o quinto e último álbum do grupo Bendegó, lançado em 1986 pela extinta 3M. O Bendegó, que fazia uma mistura de rock com ritmos regionais,  foi criado na Bahia pelo cantor, compositor e violonista Winston Geraldo Guimarães Barreto, o Gereba, e gravou seu primeiro LP em 1973. Além de Gereba, faziam parte do grupo o baixista Kapenga, o tecladista Vermelho, o baterista Hely Rodrigues e, curiosamente, João Santana, o Patinhas, mais tarde marqueteiro do PT e condenado pela Operação Lava Jato a oito anos e quatro meses de prisão, acusado de lavagem de dinheiro. Ele foi o principal letrista do Bendegó e teve músicas gravadas por Pepeu Gomes (“Voz do coração”) e Diana Pequeno (“Sinal de amor e de perigo”), além de ter sido parceiro de Moraes Moreira em “Forró do ABC”. Neste disco, João é parceiro de Kapenga em duas faixas: “A fonte é viver você” e “A hora H do agora”. Gereba, que também colaborou nos arranjos, assina outras dez faixas, algumas com letra de Capinam. Em suma, um disco agradável de ouvir, e que merece ser conferido.

santa menina sensual do metrô
cores do rio
arrasou, minha coisinha
a fonte é viver você
xô xô patacho
la nave va
cuba nagô
brilho do amor
dia de mar azul
a hora h do agora
big valley
pimentinha no forró



*Texto de Samuel Machado Filho

 

Eduardo Conde – Certas Canções (1987)

Ator, cantor e modelo, Eduardo Conde nasceu em Recife, capital de Pernambuco, a 9 de abril de 1946. Iniciou sua carreira de cantor aos 19 anos, e gravou seu primeiro LP em 1967, com o título de “Minha chegada”.  No decorrer dos anos 1960, também fez participações em shows e festivais de MPB. Sua figura esguia, de longos cabelos lisos, enigmáticos olhos e rosto marcante o levou também às passarelas, mas ele preferiu investir na carreira de ator, destacando-se, nos anos 1970, como protagonista do musical “Jesus Cristo superstar”, versão pop da história bíblica. Foi também por muitos anos, o apresentador da premiação do Festival de Cinema de Brasília. No cinema, participou de produções nacionais – como “O incrível monstro trapalhão” e “Os saltimbancos trapalhões” – e internacionais – como “A floresta de esmeraldas” e “Feitiço do Rio”, de Stanley Donen, atuando ao lado de Michael Caine e Demi Moore. Na televisão, atuou nas novelas “Sinal de alerta” (1978), “Plumas e paetês” (1980), “A idade da loba” (1995), “Razão de viver” (1996), “O beijo do vampiro” (2002) e na minissérie “O quinto dos infernos” (2002).  Faleceu em Petrópolis, estado do Rio de Janeiro, em 16 de janeiro de 2003, aos 56 anos, de câncer pulmonar decorrente do tabagismo. Paralelamente ao trabalho de ator, Eduardo Conde também se apresentava em shows e gravou LPs como este “Certas canções”, registrado ao vivo em 1987, que o TM oferece hoje a seus amigos cultos e ocultos. O repertório é da melhor qualidade, incluindo Adelino Moreira (“A volta do boêmio”), Ary Barroso (“Folha morta”), Sueli Costa (“Dentro de mim mora um anjo”) e peças do repertório internacional. É mais um disco que vale a pena conferir.

certas canções
dentro de mim mora um anjo
folha morta
mulher de trinta
retrato cantado
valsa do maracanã
lili marleen
as time goes by
vida de bailarina
paião
a volta do boêmio
demais



*Texto de Samuel Machado Filho 

Nora Ney – Meu Cantar É Tempestade De Saudade (1987)

Olá, amigos cultos e ocultos! Mais uma vez marcando presença em nosso Toque Musical, eu trago para vocês a cantora Nora Ney em seu último lp, gravado em 1987. Produzido por Milton Miranda e Moacyr Machado, com arranjos e regências de Eduardo Assad, o álbum nos traz um repertório variado e para mim, inconstante. Pessoalmente, não me agrada muito a seleção, embora tenhamos aqui um Noel Rosa, em “Último desejo”, um pot pourri de Lupicínio Rodrigues e outras cositas mas… Porém, acho que o que me incomoda é mesmo é a superficialidade musical dos anos 80. Ô décadazinha sem vergonha para a música! Sons sintetizados, sem originalidade… Uma coisa assim meio que pasteurizada e sem sabor. Me refiro, não especificamente a este disco, mas no geral. O uso excessivo de recursos eletrônicos, timbres e toques padronizados deram à música dos anos 80 um aspecto artificial e sem sabor. Há neste disco um pouco dessa contaminação. Mas, em se tratando de Nora Ney, a gente não pode deixar de conferir

por incrível que pareça
deixe a chave
calçadas
vôo sem destino
quero que volte
pot pourri lupicínio rodrigues:
esses moços / nunca / vingança
tempestade de saudade
tanta cidade
meu cantar
sem medo de amar
só saudade
último desejo
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Waleska – Um Novo Jeito De Amar (1988)

Hoje o Toque Musical tem a satisfação de trazer a seus amigos cultos, ocultos e associados, através de um álbum de 1988, uma autêntica rainha contemporânea da chamada”música de fossa”. Estamos falando de Waleska.
Batizada com o nome de Maria da Paz Gomes, a cantora nasceu em Afonso Cláudio, cidade do interior do Espírito Santo, no dia 29 de setembro de 1941, filha de uma numerosa família de  oito irmãos. Passou sua infância em várias cidades do interior capixaba, pois seu pai, Fiscal do Estado, era de tempos em tempos transferido para outra cidade. Sua influência musical veio justamente do pai, exímio bandolinista, que costumava tocar para a família após o jantar. Aos oito anos, quando morava em São José do Calçado, a pequena Maria da Paz era sempre convidada para cantar nas festinhas da sua escola, e o fazia também na igreja, na festa da coroação de Nossa Senhora, no mês de maio. Aos dez anos deidade, ela teve a infelicidade de perder a mãe,e a família se mudou para Vila Velha, onde continuou seus estudos. Participava sempre de programas de calouros em parques de diversões, e seu primeiro “troféu” foi… uma lata de goiabada! Também aparecia com frequência no programa “Clube do Guri”, apresentado na Rádio Espírito Santo (onde uma irmã mais velha,  Walkiria Brasil, igualmente cantava) por Bertino Borges. Profissionalmente, sua carreira se inicia em Belo Horizonte, no limiar da década de 1960, atuando na Rádio Inconfidência (“o gigante do ar”) e na TV Itacolomi, ao lado de futuros astros da MPB , como Clara Nunes e Mílton Nascimento. Transferindo-se imediatamente para o Rio de Janeiro, foi “crooner” da Boate Arpège, do tecladista Waldyr Calmon, que ficava em Copacabana, e cantou no Beco das Garrafas. Com o pseudônimo de Maria Waleska, estreou em disco no efêmero selo Vogue, em 1962, gravando um compacto simples com as músicas “És tu” e “Noite fria”. Dois anos mais tarde, lança pela CBS um compacto duplo, também como Maria Waleska. Em 1966, fundou, no bairro do Leme, a casa noturna PUB (Pontifícia Universidade dos Boêmios), recebendo de Vinícius de Moraes, que muito a admirava, o apelido de “rainha da fossa”, por seu jeito intimista de interpretar os sambas-canções de Dolores Duran, Lupicínio Rodrigues, Antônio Maria e outros. Foi também amiga do jornalista Sérgio Bittencourt, filho de Jacob do Bandolim e outro fã incondicional seu, e da cantora Maysa, sua principal influência estilística. Waleska foi também proprietária das boates Fossa (frequentada por artistas , intelectuais e políticos como Carlos Lacerda e o ex-presidente  JK), e Fossanova.  Cantando  músicas “barra pesada” em estilo “cool” (a denominação “fossa” está inclusive nos títulos de vários de seus álbuns), Waleska nunca foi grande sucesso de execução no rádio, mas, ainda assim, sempre teve público cativo e fiel no circuito das boates e casas noturnas.  Tem mais de vinte discos gravados (com músicas de Ary Barroso, Tom Jobim e Cartola, entre outros “cobras”) , e é considerada uma das mais fiéis interpretes românticas da MPB. Seu respeitável currículo inclui turnês pelo exterior, apresentando-se  em Portugal,  nos EUA, na Itália e no Uruguai.  Entre seus shows de maior sucesso está “Mito, mulher, Maysa”, ao lado do ator Gracindo Júnior, sob a direção de Bibi Ferreira.Também é autora do livro “Foi a noite”, contando histórias da boemia carioca nos anos 1960/70. Este “Novo jeito de amar”, lançado em 1988 pela 3M (gravadora de existência efêmera, subsidiária da indústria de abrasivos homônima), mantém a linha de trabalho da notável Waleska. Produzido pelo experiente Mílton Miranda, com arranjos e regências de Hélvius Vilela  (que também atua aos teclados), tem músicas da dupla Evaldo Gouveia-Jair Amorim (“Ora eu,ora você”), Luiz Vieira (“Guarânia da lua nova”), Luiz Antônio (“Pergunte a você”), entre outros. Há ainda regravações da valsa “Fascinação” e de um antigo hit de Maysa, “Bronzes e cristais”, de Alcyr Pires Vermelho e Nazareno de Brito.  Ainda em plena atividade, Waleska continua a receber os aplausos merecidos, como expressiva intérprete romântica de nossa música popular.
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ora eu, ora você
jeito de amar
o homem que eu amo
meiga presença
canção da manhã feliz
fascinação
anseio
desejo maior
pergunte a você
conversa com a saudade
guarânia da lua nova
bronzes e cristais
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* Texto de Samuel Machado Filho

Carlos Lyra – 25 Anos De Bossa Nova (1987)

Olás! Hoje iremos de Bossa Nova. Trago aqui para vocês mais um ‘álbum de gaveta’. Este foi para a reserva, esperando chegar uma nova oportunidade. Como, pelo visto, ninguém mais o postou, aqui vou eu fazendo o serviço. Bem porque, este foi o primeiro que me veio à mão, nessa pressa de quem não tem muito tempo.
Segue aqui este álbum acústico e ao vivo, gravado pelo Carlos Lyra em um show no Jazzmania, em 1987. Antecedendo às comemorações de 25 anos de Bossa Nova, o moço foi esperto, foi logo lançando show e disco dois anos antes.
Pessoalmente, adoro o trabalho do Carlos Lyra, porém este disco me soa fraco, apesar de haver nele quase todos os seus clássicos. O intimismo do show, que com certeza foi melhor que o disco, parece ter mais emoção no momento. Além do quê, celebrar 25 anos de Bossa Nova merecia mais que uma voz e um simples banquinho e o violão. Que me perdoem os outros artistas, mas banquinho e violão eu só aceito o João Gilberto, este sim, não precisa de acompanhamento. Contudo, todavia ou mesmo assim, não posso negar o talento do Carlinhos que é, sem dúvida, um dos grandes pilares da Bossa Nova.
O roteiro do show, que acaba sendo também o do disco, se divide numa tentativa cronológica, onde o artista repassa, as vezes quase num ‘pot pourri’, suas composições e parcerias famosas.
Apesar das minhas críticas, não deixa de ser um disco interessante. É Bossa Nova…

minha namorada
quando chegares
maria ninguém
lobo bobo
saudade fez um samba
canção que morre no ar
se é tarde me perdoa
feio não é bonito
você e eu 
coisa mais linda
samba do carioca
sabe você
pau de arara (comedor de gilete)
maria moita
primavera
influência do jazz
o négocio é amar
marcha da quarta feira de cinzas

PS.: VAI LÁ EM CASA OUVIR ESTE DISCO, EU FAÇO UMA CÓPIA PARA VOCÊ 😉