Elebra 6 – Memória – Solistas Brasileiros (1989)

O TM tem a grata satisfação de oferecer hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados o sexto volume da série “Memórias”, produzida sob encomenda da extinta Elebra pelo pesquisador João Carlos Botezelli, o Pelão, que, como vocês já viram anteriormente, tem a seu credito inúmeros trabalhos importantes da discografia tupiniquim, como o primeiro LP de Cartola e os dois primeiros de Adoniran Barbosa. Este sexto LP da série, editado em 1989 para distribuição gratuita aos clientes da extinta empresa de informática, com incentivo de lei governamental, tem o nome de “Solistas brasileiros”. Como escreveu na contracapa o próprio Pelão, “é mais uma homenagem da Elebra à sensibilidade, ao talento e à competência do músico brasileiro”. Vem, também, a ser uma justíssima homenagem ao pianista e maestro Radamés Gnattali (Porto Alegre, RS, 27/1/1906-Rio de Janeiro, 13/2/1988), com faixas executadas por ele mesmo e seus discípulos. Gravado em estúdios do Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo, Recife e Porto Alegre, já se utilizando da tecnologia digital (o que garante a qualidade técnica), é mais um trabalho impecável de Pelão, reunindo clássicos inesquecíveis e até hoje relembrados. Abrindo o disco, o próprio Radamés sola ao piano o choro “Carinhoso”, do mestre Pixinguinha. Rafael Rabello, violonista prematuramente desaparecido, vem com o samba-canção “Molambo”, de Meira e Augusto Mesquita. Joel do Bandolim sola o antológico bolero “Dois pra lá, dois pra cá”, um dos primeiros hits da dupla João Bosco-Aldir Blanc. Chiquinho do Acordeom executa outro samba-canção célebre, “Balada triste”, de Dalton Vogeler e Esdras Silva. Em seguida uma curiosa interpretação para “Nossos momentos”, da parceria Haroldo Barbosa-Luiz Reis, a cargo do contrabaixista Toinho Alves, que também faz um interessante “vocalize”. “Pois é”, samba de Ataulfo Alves, é executado ao cavaquinho  por um verdadeiro “cobra” do instrumento, Henrique Cazes. A viola caipira de Roberto Corrêa traz a nossos ouvidos a clássica toada “Tristeza do jeca”, de Angelino de Oliveira. O pianista Laércio de Freitas nos traz “Ceú e mar”, obra-prima de Johnny Alf. Zé Gomes, craque da rabeca, executa “Maria”, samba-canção de Ary Barroso e Luiz Peixoto. Rildo Hora sola, com sua gaita, “A noite do meu bem”, de Dolores Duran. O violonista Israel sola depois “Agora é cinza”, samba da parceria Bide-Marçal. Por fim, a não menos antológica “Canção de amor”, de Chocolate e Elano de Paula, nos floreados da flauta de Plauto Cruz. Tudo isso em um trabalho primoroso, antológico, verdadeiro tributo a Radamés Gnattali  e seus discípulos. Simplesmente irresistível!

carinhoso – radamés gmattali

molambo – rafael rabelo

dois prá lá, dois prá cá – joel do bandolim

balada triste – chiquinho do acordeon

nossos momentos – antonio alves

pois é – henrique cazes

tristeza do jeca – roberto correa

céu e mar – laércio freitas

maria – zé gomes

a noite do meu bem – rildo hora

agora é cinza – bide e marçal

canção de amor – plauto cruz

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Roberto Corrêa – Viola Andarilha (1989)

Olá amigos cultos e ocultos! Chegamos ao final de mais uma semana, sexta feira, dia instituído aqui no Toque Musical para darmos espaço às produções e artistas independentes. Quando eu comecei com essa onda teve gente que torceu o nariz, achou que era bobagem, que eu deveria promover discos antigos e não artistas novos com disco na praça. Em tese eu concordo, meu interesse é maior por coisas raras e fora de catálogo. Mas vi que abrindo este espaço poderíamos dialogar também com o novo, dar a chance do artista independente mostrar o seu trabalho. O artista que lança trabalhos independentes não está pensando em vender discos, mas sim em divulgar sua obra ou sua arte. Blogs como o Toque Musical são sempre uma boa vitrine. Aqueles que sabem disso não perdem tempo. Eu, da minha parte, não corro atrás de ninguém, apenas ofereço o espaço e procuro divulgar com eficiência e atenção aqueles que me chegam da mesma forma. Estou sempre recebendo produções musicais independentes. Porém, alguns fogem da proposta do blog ou vem como uma simples ‘amostra grátis’. Daí, eu prefiro muito mais dar atenção aos independentes fora de catálogo e às gravações amadoras. Se o trabalho é bom, ele com certeza terá seu espaço aqui.
Para o dia de hoje eu fui buscar um disco independente lançado a mais de vinte anos atrás. Temos, “Viola Andarilha”, o segundo álbum solo do violeiro e professor de música da UFB, Roberto Corrêa. Já tivemos aqui dois outros trabalhos desse artista e quem os conhecem sabe bem que o cara é genial. Trocou a Física pela viola, mas não perdeu o perfil acadêmico. Roberto é graduado em Física e Música, pela Universidade Federal de Brasília. Leciona música nesta universidade, o que dá a ele e ao seu trabalho um caráter mais sério de professor e pesquisador. É com certeza uma das maiores autoridades da viola, pois além de pesquisador e acadêmico é também um virtuoso do instrumento. Já gravou mais de uma dezena de discos e tem publicado diversos livros sobre a técnica e a história desse instrumento. Em “Viola Andarilha” encontramos o artista mais próximo da música caipira e do universo sertanejo. A viola neste disco, assim como o repertório, apresenta um aspecto mais popular e direto. Além de composições próprias e parcerias, ele grava músicas de Gerson Coutinho da Silva, o Goiá, saudoso poeta e compositor mineiro, lá de Coromandel. Há também “Estrada do sertão” de João Pernambuco com letra de Hermínio Bello de Carvalho. Este último, por sinal, é quem assina o texto, meio que jocoso (ou seria ‘jecoso’?), de apresentação na contracapa. Taí, um disco bacana, que agrada tanto os cultos como os ocultos. Não deixem de conferir 😉

estrada do sertão
chora, violinha, chora
louvação ao marchador
flora da primavera
herança de acertador
ingrisia na folia
garça maguarí
chapadão
pé de cedro
caminheiro da saudade
saudade da minha terra
cascavel quatro ventas

Carlos Drummond de Andrade – Interpretado Por Lima Duarte E Roberto Corrêa (1987)

Olá amigos cultos e ocultos! Hoje é um domingo especial, é o Dia dos Pais! Deixo aqui, logo de início, as minhas saudações à todos e ao meu que já se foi. Parabéns senhores pais! Eu também, logo cedo, fui surpreendido ainda na cama pelo meu amado filhão. Ganhei até um presente. Ganhei um livro que há muito vinha namorando, “1001 Discos Para Se Ouvir Antes De Morrer”. Quem gosta de música pop/rock, discos e coisas assim, não podem deixar de tê-lo. Não se trata obviamente do essencial ou do que realmente vale a pena em termos de discos, bem porque ele só contempla, em sua maioria, álbuns americanos e ingleses. Mas nos dá uma boa visão de alguns dos discos que mais se destacaram a partir dos anos 50, indo até os dias atuais. Como um bom virginiano (ou seria mal?) não deixo de fazer minhas ‘crítiticas’. Começando pelo formato do livro, algo próximo do 18×24 cm para um número de páginas que chegam quase a mil. Depois da primeira folheada ele começa a ficar desformado, descola e perde aquele ‘status’ de ‘finebook’, uma pena. Tem que abrir pouco e folhear com cuidado. Ideal seria o formato utilizado no 300 do Gavin. Quanto ao conteúdo, vejo ao ir passando suas páginas o que disse logo de início, só há vez para discos de língua inglesa, em sua maioria. Citação a algum brasileiro ficou só no Tom Jobim, João e Astrud Gilberto e um único disco dos Mutantes. Não que eu queira puxar a sardinha, mas em se tratando de música, deixar o Brasil fora dessas, chega a ser um sacrilégio. Por outro lado eu procuro entender a proposta do livro e a cabeça dos gringos. Sei que no fundo a música que reina no mundo nos últimos 50 anos é o pop e o rock. Esta passou a ser a linguagem musical universal. Toda a música jovem lá fora (para não falar aqui dentro) está baseada no pop/rock. Daí, pensar na inclusão de artistas nacionais seria pedir muito. Tudo bem, tá valendo…. Dos 1001 discos ali apresentados, posso dizer que bem mais da metade eu já ouvi ou tenho em minha coleção. Outros eu nem conhecia e outros ainda eu nem faço questão de ouvir, acho que morreria ao fazê-lo. Seja como for, apesar dos pesares, este livro não deixa de ser uma ótima pedida. Ironicamente, é nessas horas que eu penso: puta merda, nossa música é um tesouro! É prata, é pura, é ouro! Não podemos deixá-la de lado, esquecida e suplantada por ritmos alienados. Viva a música brasileira!

Bom, agora vamos ao principal… voltemos a postagem do dia. Hoje, especialmente comemorando o Dias dos Pais, resolvi contrariamente postar um disco de poesia. Acho que pode ser um bom presente para o papai. Vamos com a poesia de Carlos Drummond de Andrade neste álbum promocional, interpretado pelo ator Lima Duarte e fundo musical do mestre da viola caipira, Roberto Corrêa. Este disco foi feito especialmente como brinde de aniversário da empresa Makro no seu aniversário de 15 anos e oferecido aos seus clientes e fornecedores. Portanto, não é um álbum comercial e muito menos conhecido do grande público. Um brinde que agora eu repasso à vocês, papais e filhos. E tenham um bom domingo!
poema das sete faces
no meio do caminho
sentimento do mundo
confidência do itabirano
cidadezinha qualquer
josé
em face dos últimos acontecimentos
certas palavras
o enterrado vivo
consolo na praia
também já fui brasileiro
a vida passada a limpo
encontro
para sempre
obrigado
amar
quadrilha
canção para ninar mulher
quero me casar
estes crepúsculos
toada do amor
amor, sinal estranho
o quarto em desordem
quero
amor e seu tempo
coitosob o chuveiro amar
ainda que mal

Roberto Corrêa – Uróboro – Viola Caipira (1994)

Existem alguns trabalhos musicais onde o artista, além de ser artista tem que ser tudo. De produtor à empresário, de engenheiro de som à promotor e por aí vai… É este o caso de Roberto Corrêa, violeiro de mão cheia, acadêmico e músico independente. Embora como professor da UFB, suas pesquisas são geralmente voltadas para um trabalho pessoal. “A minha sensação é de que existe dentro de mim um vão muito grande que não foi preenchido com a tradição por causa de uma tragédia. Mas este vão existe e eu vou atrás de preenchê-lo. Na verdade, eu pesquiso para mim mesmo, o imaginário deste povo passa a ser meu”, afirma ele.
Neste disco, ele dá uma verdadeira aula de viola caipira, No encarte que acompanha e complementa o cd tem também um belo texto trilígue (em português, ingles e espanhol) sobre a
viola caipira e suas origens. Este texto eu não incluí porque se trata de um trabalho que pode ser encontrado e comprado diretamente com seu autor. Normalmente, não publico títulos recentes, em catálogo e de artistas que lutam para mostrar seus trabalhos e precisam vendê-los. Por essa razão, estou apenas apresentando o disco e dando um toque para quem gostou. Roberto Corrêa é um artista mais conhecido fora do Brasil e pouco divulgado aqui dentro. Sugiro que vocês visitem o seu site para conhecê-lo melhor e adquirir seus outros e maravilhosos trabalhos. Vale a pena…

1- baião do pé rachado
2- folia desmilinguida
3- lacuticho
4- cançãodo repente
5- lagoa morta
6- caninana do papo amarelo
7- urutu cruzeiro
8- jararaca chateadeira
9- cascaveu quatro ventas
10- peleja da siriema com a cobra
11- cocho do valo
12- lambança qu’imbalança
13- perobeira maria
14- anti-viola
15- desinfeliz
16- pinguela da fonte
17- araponga isprivitada
18- parecença
19- antiquera
20- mazurca pantaneira
21- arrevoada no caraça