Paraguassú – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 140 Parte 1 (2015)

Finalmente está chegando aos amigos cultos, ocultos e associados do TM uma novíssima edição do Grand Record Brazil, a de número 140. Apresentamos nesta quinzena a primeira de duas partes de um retrospecto dedicado a Paraguassu, certamente um dos pioneiros do disco  e do rádio no Brasil.

Batizado com o nome de Roque Ricciardi, o cantor nasceu em São Paulo, a 25 de maio de 1894. Seus pais, italianos, tiveram seis filhos, sendo nosso focalizado o terceiro deles, e primeiro a nascer no Brasil. O falecimento de seu pai, dono de armazém e ferraria, abalou a tranquila vida familiar, e o menino Roque foi logo encaminhado ao trabalho, como tipógrafo, por pouco tempo, e como seleiro, por muitos anos, chegando a mestre no ofício. Desde criança ele estava empolgado com a música e, ainda imberbe, depois do trabalho, já se apresentava em cafés-cantantes, serestas e rodas boêmias, de violão em punho. Mesmo falando perfeitamente o italiano e conhecendo as canções da terra de seus pais, ele só cantava modinhas brasileiras. Em 1908, o grande Eduardo das Neves, em temporada paulistana, tem a oportunidade de ouvi-lo no Café Donato e o convida para o espetáculo que daria. Foi uma emoção inesquecível para o menino de catorze anos. Contava Paraguassu que fez suas primeiras gravações em 1912, em São Paulo, sob o selo Phoenix, mas esses discos não têm sido localizados por nenhum colecionador.  Comprovadamente, gravou na pioneira Casa Edison (selo Odeon), em 1926/27, um total de sete discos com catorze músicas, ainda na fase mecânica. Já havia ingressado, em 1924, sem ganhar um só tostão, na pioneira Rádio Educadora Paulista, que funcionava nas torres do Palácio das Indústrias de São Paulo, e onde se cantava “num telefone”. Seus companheiros de então eram Alberto Marino e Américo “Canhoto” Jacomino, sendo que este último Paraguassu conheceu numa seresta, em plena rua. Em 1927, no início da fase elétrica de registros fonográficos, registra na Odeon dois discos com duas músicas. Em 1929, a convite, ingressa no elenco da nóvel Columbia, sob a direção artística do maestro Gaó  (Odmar Amaral Gurgel), então com apenas 20 anos de idade. Paraguassu, embora na casa dos 34 anos, já representava a “velha guarda”.  Até esse momento, tinha aparecido nos selos dos discos com seu nome verdadeiro, Roque Ricciardi. Cansado de ser chamado de “italianinho do Brás”, escolheu um pseudônimo bem brasileiro, Paraguassu, fazendo questão dos dois “ss”. Recordando episódios da história do Brasil, lembrou-se dos índios Caramuru e Paraguassu e escolheu este último, que aliás era índia, e não índio. E passaria a ser “o cantor das noites enluaradas”. Foi na Columbia que Paraguassu desfrutou de sua fase áurea, entre 1929 e 1937, gravando 77 discos com 146 músicas. Em seguida, suas gravações iriam se espaçar cada vez mais: na Victor (1938), Odeon (idem), novamente na Columbia (1939 e 1942), Continental  (1945 a 1949), Todamérica (1953) e Chantecler (1960), perfazendo um total de 101 discos 78 rpm com 192 músicas. Ainda gravaria LPs rememorativos, em 1958 e 1969. Também foi bom compositor, mas não se inibiria em apresentar, como suas, algumas canções tradicionais, inclusive gravadas por outros antes dele. Um expediente sobretudo prático de reservar para si direitos musicais que, na maioria dos casos, não seriam destinados a ninguém. Paraguassu faleceu em sua Pauliceia natal, no dia 5 de janeiro de 1976, aos 81 anos de idade.
De seu extenso e bastante expressivo legado fonográfico, o GRB foi buscar, nesta primeira parte, dezessete preciosas gravações, apresentadas em ordem cronológica. Abrindo esta seleção, temos  a modinha “Lua de fulgores”, com acompanhamento ao violão de Américo Jacomino, o Canhoto, gravação Odeon de 1926, disco 122938. Dada como “arranjo” do intérprete, é na verdade a famosa “Lua branca”, de Chiquinha Gonzaga, surgida em 1912 na burleta teatral

Pacífico Mascarenhas – Sambacana VI (1988)

Boa noite, meus prezados amigos cultos e ocultos! Tenho hoje para vocês este lp do compositor mineiro Pacífico Mascarenhas, considerado o pioneiro da Bossa Nova em Minas Gerais. Já apresentei aqui outros discos dele. Este, inclusive, eu achava que já tinha postado. A capa é bem legal com fotos da turma da Savassi, nos anos 50. Savassi era o nome de uma padaria, depois também deu nome a praça onde um dia ela existiu. Pacífíco fazia parte desse grupo.
Neste álbum, de capa dupla, lançado com selo Bemol em 1988, Pacífico Mascarenhas nos apresenta um repertório autoral, com regravações e novas composições. Seu Sambacana VI conta com um time de músicos de primeiríssima: Helvius Vilela, Juarez Moreira, Ezequiel Lima, Rubinho e Lincoln Cheib. Na contracapa, como podemos ver, além das letras, temos também o método para acompanhamento de piano patenteado pelo artista.

amo você
poderia escrever um livro
serenata
demolição
praça da savassi
leva-me pra lua
rio de janeiro
outras noites assim
férias
eu gosto mais do rio
da sua própria voz
se eu tivesse coragem
dançando com você
nosso amor não deu certo
.

 

Paraguassú – Mágoas De Um Trovador (1958)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Hoje chegamos na postagem de número 3.000. Podia até ser mais, não fossem tantas pausas que de um tempo para cá eu tenho dado. As vezes até eu me espanto com esse número, uma prova de que já nos tornamos tradição.
E falando em tradição, em coisas das antigas, eu trago hoje Roque Ricciardi, mais conhecido como Paraguassú, um pioneiro do rádio e da fonografia nacional. Violonista, cantor e compositor paulista, autor de toadas clássicas da música popular brasileira. Não vou entrar em muitos detalhes, pois em breve teremos aqui uma nova edição do Grand Record Brazil, trazendo o Paraguassú em uma resenha completa feita pelo nosso amigo e colaborador, Samuel Machado Filho.
Quero apenas apresentar este disco, um verdadeiro clássico, muitas vezes desprezado pela grande mídia. Temos aqui “Mágoas de um trovador”, primeiro lp de 12 polegadas lançado pelo artista, trazendo uma seleção de suas antigas composições em uma nova releitura, com arranjos do maestro Erlon Chaves. Um disco muito bonito, que merece o nosso toque musical. Confiram

lamentos
meu violão
madrugada na roça
lua triste
porteira velha
madalena
nunca mais
esse boemio sou eu
mágoas
velho monjolo
luar da minha terra
rosário de lágrimas
.

Agepê – Tipo Exportação (1978)

Ele se chamava Antônio Gílson Porfírio. E foi da pronúncia fonética das iniciais de seu nome que se originou o pseudônimo com o qual ele ficaria para a posteridade: Agepê. Nascido no Rio de Janeiro, a 10 de agosto de 1942, filho de uma alagoana de origem índia e de pai músico, passou a infância quase na miséria, no Morro do Juramento, Zona Norte carioca. Órfão de pai ainda menino, foi à luta para ajudar a mãe faxineira. Aos 18 anos, enquanto prestava serviço militar na Aeronáutica, arregimentou uma gangue e fugia sistematicamente do quartel para namorar. Acabou sendo inevitavelmente expulso da corporação…  Como integrante da ala de compositores da Escola de Samba Portela, Agepê era uma espécie de ídolo de plantão, e estava sempre presente nos ensaios e desfiles da “azul e branco”. Antes de conquistar a almejada fama, trabalhou como transportador de bagagens, sendo conhecido, nesse tempo, como Ripinha, office-boy da Embaixada da Alemanha no Rio de Janeiro e técnico-projetista da extinta Telerj (Telecomunicações do Rio de Janeiro), ofício que abandonou para seguir a carreira artístico-musical. Em 1975, Agepê consegue seu primeiro êxito logo no primeiro compacto simples, pela Continental, com “Moro onde não mora ninguém”, que fez junto com Canário, seu mais constante parceiro, e que daria título a seu primeiro LP. Esse foi o pontapé inicial para uma trajetória repleta de sucessos, tais como “Todo prosa”, “Sete domingos”, “Moça criança”, “Menina de cabelos longos”, “A dança do meu lugar”, “Ela não gosta de mim”, “Deixa eu te amar” (talvez o maior de todos), “Me leva”, “Lá vem o trem” etc., conquistando um público cada vez mais fiel.  Seu eclético repertório, além de sambas, tinha também ritmos nordestinos, em especial o baião. Apresentando-se em impecáveis ternos de cetim branco e sapatos de cromo da mesma cor, Agepê era o símbolo do som romântico, que às vezes até beirava a sensualidade. Humilde, creditava seu sucesso ao fato de já ter vivido “de A a Z”, e, por isso, saber a linguagem do povo. Também obteve êxito com sua regravação de “Cama e mesa”, de Roberto & Erasmo Carlos, em 1992. Agepê faleceu no dia 30 de agosto de 1995, aos 53 anos, em seu Rio de Janeiro natal, vitimado por cirrose alcoólica, deixando uma discografia de quinze álbuns de carreira (o último deles, “Feliz da vida”, foi lançado um ano antes de sua morte, em 1994), e alguns compactos.  Dela, o Toque Musical oferece hoje, a seus amigos cultos, ocultos e associados, o terceiro LP, “Tipo exportação”, lançado em 1978 pela Continental. Aqui, ele conta com músicos de primeiro time, a começar pelo arranjador e regente, Waltel Branco, o acordeonista Sivuca, o gaitista Maurício Einhorn, o violonista Horondino Silva, o Dino Sete Cordas, o baterista Picolé, os percussionistas Chico Batera, Mestre Marçal  e Pedro Sorongo, o tecladista Lincoln Olivetti, etc. No coro, a curiosidade vai para a presença de Roberto Quartin, proprietário, nos anos 1960, da gravadora Forma, que produzia MPB de alta qualidade e era fã incondicional de Frank Sinatra, chegando a ter um completíssimo acervo a respeito do cantor norte-americano, inclusive com registros sonoros inéditos em disco. O próprio Agepê e seu inseparável parceiro Canário assinam cinco músicas deste trabalho, entre elas “Operário Pedrão” (o título talvez seja referência ao concurso Operário Padrão, durante anos promovido pelo Sesi em parceria com o jornal carioca “O Globo”), “A musa dos heróis” e “Dia de graça”. Marcam também presença neste primoroso trabalho composições de Ary do Cavaco (“Prece a Padim Ciço”), das duplas Romildo Bastos-Toninho Nascimento (“Morena da cor da Bahia”) e Wilson Moreira-Ney Lopes (“Samba Ioiô”).  Enfim, um trabalho musical da mais alta qualidade técnica e artística, que o TM tem a grata satisfação de oferecer. Dá pra pedir mais?

mundo bom
eu e a violinha
samba yoyô
bandeira de vilma
prece a padim ciço
operário padrão
a musa dos heróis
dia de graça
um samba no baú
morena da cor da bahia
* Texto de Samuel Machado Filho

 

Juca Chaves – Ninguém Segura Este Nariz (1974)

O Toque Musical oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados mais um álbum de Juca Chaves, seguramente um dos maiores humoristas do Brasil. Jurandyr Chaves (seu nome na pia batismal) nasceu no Rio de Janeiro em 22 de outubro de 1938, mas foi criado em São Paulo. Músico de formação erudita, começou a compor ainda na infância. Iniciou sua carreira em fins dos anos 1950, cantando modinhas e trovas em estilo suave.  Fez o primeiro recital no Teatro Leopoldo Fróes, em 1957, e queria ser também jornalista, criando a revista “Augusta Chic”, onde publicava suas crônicas e poemas, e trabalhando nos Diários Associados e na “Última Hora”, mas preferiu se dedicar apenas à música e ao humorismo. Seu primeiro disco, em 78 rpm, saiu em outubro de 1959 pela Chantecler, apresentando dois sambas de sua autoria: “Nós, os gatos” e “Chapéu de palha com peninha preta”. No ano seguinte, gravou seu primeiro LP, “As duas faces de Juca Chaves”, lançado pela RGE. De um lado, sátiras musicais, e do outro, modinhas. Ferrenho crítico do poder dominante, da grande imprensa e do próprio mercado fonográfico (chegou a ter sua própria gravadora, a Sdruws Records), “Juquinha” chegou a se exilar em Portugal, nos anos 1960, mas, ao incomodar o governo salazarista com suas sátiras, então ganhando espaço no rádio e na televisão lusitanas, transferiu-se para a Itália. Voltando ao Brasil, apresentou programas de televisão e fez sucesso em espetáculos teatrais, quase sempre se apresentando descalço. Teve inclusive um circo nas proximidades da Lagoa Rodrigo de Freitas, onde apresentou o show “O menestrel maldito”.  Entre suas músicas mais conhecidas estão: “Por quem sonha Ana Maria”, “Presidente bossa nova” (referência ao então presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira), “Brasil já vai à guerra” (ironizando a compra, pelo governo, do porta-aviões “Minas Gerais”), “Nasal sensual” (alusão ao tamanho de seu nariz), “Verinha”, “Caixinha, obrigado”, “Pequena marcha para um grande amor”, “Paris tropical”, “Take me back to Piauí” e “I love you, bicho”.  Tem mais de vinte títulos em sua discografia, entre 78 rpm, compactos, LPs e CDs. É também conhecido por ser fanático torcedor do São Paulo Futebol Clube.

Pois hoje o TM apresenta um dos álbuns mais expressivos do “Juquinha”. É “Ninguém segura este nariz”, lançado em 1974 pela Philips/Phonogram com o selo MGM (gravadora norte-americana que a múlti holandesa então representava, subsidiária do estúdio cinematográfico de mesmo nome). É uma síntese do espetáculo “Vai tomar caju”, que ficou em cartaz durante três anos e meio,  e, evidentemente, foi gravado ao vivo. Com capa e contracapa do desenhista Juarez Machado, o álbum mostra o humor fino e inteligente que sempre caracterizou o “menestrel do Brasil”, entremeado por músicas de sua própria autoria. Há inclusive regravações de “Paris tropical” e “Take me back to Piauí”, e o destaque vai também para “A cúmplice”, grande sucesso na época, igualmente lançada em compacto simples e que foi até regravada anos depois por Fábio Júnior.  Portanto, é com muita alegria que o TM oferece hoje mais este álbum de Juca Chaves, que por certo irá proporcionar momentos de muita alegria e diversão.  Solta a franga, “Juquinha”!
* Texto de Samuel Machado Filho

Antonio Carlos Jobim – Featuring Gal Costa – Live In L.A. 1987 (2015)

Bom dia, caríssimos amigos cultos e ocultos! Depois do show com Nora Ney, Jorge Goulart e companhia limitada, entrei no clima do ‘ao vivo’ e resolvi postar aqui hoje um outro show. Desta vez eu escolhi o Tom Jobim ao lado da Gal Costa em uma apresentação internacional. Um show na América, em Los Angeles, em 1987. Este show virou disco/cd e também dvd, sendo lançado inicialmente no mercado internacional. Recebi uma cópia, esta cópia, que tem aqui seu diferencial, a inclusão de mais músicas e uma edição especial feita pelo amigo culto Denys PR. Ele havia me enviado esse arquivo há mais de um ano. Eu preferi deixá-lo guardado por mais um tempo e confesso, havia até me esquecido. Segue agora assim, sem uma contracapa na apresentação, pois não quero levantar bandeiras (ou no trocadilho, dar bandeira). Sei que ainda há muita gente querendo ganhar encima desse trabalho. Para finalizar esta apresentação, eu reproduzo aqui as palavras do nosso colaborador:

Hoje eu coloco a disposição de vocês o áudio completo em mp3, 41.000 Hz, 320 Kbps retirado do Laserdisc da Polygram Videos – USA. Esse áudio tem 58:03 , sendo que no Cd-áudio comercial foi suprimido 11 minutos do concerto. sumiu duas faixas, as faixas Anos Dourados e Gabriela (Gabriela Suite). Talvez na época do lançamento do Cd não coubesse o tempo total ou por problemas de direitos autorais. Coloquei também a abertura e encerramento do programa que se chama The Jazz Visions Theme. (faixa 1 e faixa 16), idêntico ao laserdisc “Rio Revisited 1987 – Tom Jobim & Gal Costa live in concert at Wiltern Theatre, California”. Aqui vai a lista das músicas:
01 – The Jazz Visions theme – Opening
02 – One note samba
03 – Desafinado
04 – Água de beber
05 – Dindi (com Gal Costa)
06 – Wave (with Gal Costa)
07 – Anos dourados (with Gal Costa)
08 – Gabriela Suite (with Gal Costa)
09 – Chega de saudade
10 – Two kites
11 – Samba do Soho
12 – Sabiá
13 – Samba do avião
14 – Águas de março
15 – Corcovado (with Gal Costa)
16 – The Jazz visions theme – End

 

Jorge Goulart, Nora Ney, Antônio Guimarães E Waldir Silva – Feitiço Da Vila Vol. 1 (1971)

Boa noite, prezados amigos cultos e ocultos! Trago hoje para vocês um disco dos mais interessantes, um álbum verdadeiramente raro e, por que não dizer, histórico. Um registro musical ao vivo de uma apresentação na noite de belorizontina dos cantores Jorge Goulart e Nora Ney e também, de quebra, dois grandes instrumentistas mineiros, o pianista Antonio Guimarães e o cavaquinista Waldir Silva num encontro mais que memorável. Sim, trata-se de um disco que poucos tiveram o prazer de conhecer porque sua tiragem foi bem limitada e nunca chegou a se relançado ou relembrado em alguma outra edição. Suponho até que a própria Bemol nem tenha mais as fitas master dessas gravações que aconteceram na numa noite de 1971, na boate Feitiço da Vila, em Belo Horizonte. Um belíssimo show que ficou registrado em disco, mantendo-se todo o clima do ambiente, sem pausas e sem faixas, tudo muito linear. O show se abre com Nora Ney interpretando Dolores Duran, Silvio Cesar e Noel Rosa. Depois é a vez do maestro e pianista Antonio Guimarães que arrasa em temas de Ary Barroso. Do outro do disco o samba toma conta, novamente com Nora Ney e o parceiro Jorge Goulart que desfilam Paulino da Viola, Nelson Cavaquinho, Zé Keti, Sinval Silva, Noel e Ary Barroso. Ah… Olha eu esquecendo do grande Waldir Silva. Ele também  está presente no acompanhamento e interpretando duas músicas de Sinhô, “Gosto que me enrosco” e “Jura”.
Sem dúvida, o grande destaque deste lp é mesmo o casal Nora e Jorge. Nesta época eles estavam morando em Belo Horizonte. Este disco foi produzido pelo próprio Jorge Goulart e pelas informações que colhi em uma tiragem muito pequena. A ideia inicial era a de gravar outros discos na mesma linha, registro de shows, tanto assim que este era o volume 1. Mas ao que parece, a coisa ficou só na vontade. Uma pena, pois pouco se tem desses registros da noite de Beagá.
Para esta postagem eu preparei o arquivo de maneira a facilitar a vida de vocês. Como se trata de um show (embora editado), as músicas apresentadas não trazem uma separação por faixas, o disco corre direto nos dois lados. Daí eu resolvi editar, mas sem tirar um segundo de gravação. Está tudo completo. Eu coloquei apenas um ‘fade in’e um ‘fade out’ quando necessário, dividindo o disco em 16 faixas. Mas para não dizerem que eu aleijei ainda mais a edição do show, deixo também um arquivo completo, inteiro, unindo apenas o lado A com o lado B.
Quando falei da raridade (e também curiosidade) deste disco não pensei num preciosismo que o fizesse valer tanto, segundo o preço ‘ofertado’ por um maluco no Mercado Livre. O cara tem a coragem de cobrar 1390,00! Muito sem noção

feitiço da vila – nora ney
solidão – nora ney
pra você – nora ney
último desejo – nora ney
baixa do sapateiro – antônio guimarães
três lágrimas – antônio guimarães
rancho fundo – antônio guimarães
taboleiro da baiana – antônio guimarães
é luxo só – antônio guimarães
aquarela do brasil – antônio guimarães
foi um rio que passou em minha vida – jorge goulart
não sou feliz – jorge goulart
último baile da monarquia – jorge goulart
gosto que me enrosco – waldir silva
jura – waldir silva
adeus batucada – nora ney
barracão – jorge goulart
cadência do samba – nora ney
vai saudade – jorge goulart
vai mesmo – nora ney
o orvalho vem caindo – jorge goulart
o orvalho vem caindo – nora ney
a fonte secou – nora ney
aquarela mineira – jorge goulart
feitiço da vila – jorge goulart e nora ney
.

Orlando Silva – Músicas Famosas De Ary Barroso E Custódio Mesquita (1958)

Boa noite, caríssimos amigos cultos e ocultos! Como um fã incondicional do Orlando Silva, eu sempre que posso, procuro postar aqui algum de seus discos. Hoje eu trago este lp, lançado pelo selo Audiola, da Musidisc, em 1958. Trata-se de uma coletânea que reúne músicas de dois discos de 10 polegadas de Orlando Silva, um com músicas de Ary Barroso e outro com músicas de Custódio Mesquita, lançados originalmente em 1953. Infelizmente ficaram de fora duas faixas do segundo disco, com músicas de Custódio Mesquita. Mas, numa próxima oportunidade, eu postarei aqui o disquinho original e completo. Fiquem sempre ligados

tu
terra sêca
risque
faceira
caco velho
inquietação
por causa desta cabocla
trapo de gente
velho realejo
valsa do meu subúrbio
os rios correm pro mar
mulher
feitiçaria
o pião
.

Baiano E Os Novos Caetanos – Sudamerica (1985)

Boa noite, companheiros amigos cultos e ocultos! Quando eu antes vivia reclamando do pouco tempo que tinha para o blog, não imaginava que um dia não teria tempo algum. Tô bem nessa situação. Mesmo assim, não largo o osso, continuo aos trancos e barrancos tocando o Toque Musical. O amigo Samuel tem dado uma força preparando algumas resenhas, mas mesmo assim ainda falta tempo para eu preparar os arquivos e vir aqui fazer a publicação. Por isso, as vezes as postagens saem antes dos links. Mas como eu já informei em outras postagens, para facilitar a vida de vocês, estou deixando sempre um link na última letra do texto, antes da relação das músicas. Basta passar o cursor…
Seguindo… tenho para hoje mais um disco da dupla Arnaud Rodrigues e Chico Anísio encarnados na impagável dupla (ou conjunto?), Baiano e Os Novos Caetanos, uma espécie de caricatura de Caetano Veloso somada a outra com Os Novos Baianos. Uma brincadeira que deu certo, sendo que o primeiro disco, já muito bem apresentado aqui pelo Samuca, continua sendo um grande sucesso e sempre revisitado pelas novas gerações. “Sudamérica” foi o quarto e último disco da dupla, lançado em 1985, pela selo Ariola. Um trabalho também muito divertido e autêntico, porém já sem o mesmo sabor. Os tempos eram outros

na boca do povo
forrózé mané
cego é quem não quer ver
pica pau
festa do algodão
sudamerica
dance people
o brasileiro
catira caipira
tanto fez e tanto faz
.

Baden Powell – Rio Das Valsas (1988)

Indiscutivelmente, Baden Powell de Aquino (Varre-Sai, RJ, 6/8/1937-Rio de Janeiro, 26/9/2000) foi um dos maiores violonistas de todos os tempos, e um dos maiores músicos brasileiros de seu tempo. Também notável compositor, teve músicas em parceria com nomes do quilate de Billy Blanco (“Samba triste”), Paulo César Pinheiro (“Lapinha”, “Violão vadio”) e principalmente Vinícius de Moraes, com quem assina hits inesquecíveis, tais como “Samba em prelúdio”, “Berimbau”, “Deixa”, “Consolação” e “Canto de Ossanha”. Baden possui uma impressionante discografia com cerca de setenta títulos, incluindo LPs, CDs e compactos. Parte de seus discos foi gravada no exterior, em países como França, Alemanha e Japão. O Toque Musical, inclusive, já ofereceu a seus amigos cultos, ocultos e associados, alguns desses títulos. Agora, tem a honra e a satisfação de apresentar mais um álbum de Baden. Trata-se de “Rio das valsas”,  uma produção independente patrocinada pelo Banerj (Banco do Estado do Rio de Janeiro, mais tarde privatizado) e gravada em 1988. Aliás, este foi o primeiro trabalho que Baden Powell  gravou no Brasil depois de longa temporada na Europa. Mais precisamente no Estúdio Transamérica, de São Paulo, então um dos melhores do Brasil.

O presente trabalho de mestre Baden, com produção do grande Franco Paulino,  apresenta um selecionado e bem cuidado repertório de valsas, mostrando, segundo a contracapa, que a beleza do Rio de Janeiro não está apenas  no carnaval, nas praias ou nas paisagens naturais, mas também nas valsas criadas por compositores nascidos na “cidade maravilhosa”.  São dez faixas, nas quais Baden demonstra toda sua técnica e virtuosismo. E apresentando clássicos imperdíveis de Pixinguinha (“Rosa”), do próprio Baden (“Valsa sem nome”, “Velho amigo”, “Canção do amor ausente”, as três em parceria com Vinícius de Moraes), da dupla Sílvio Caldas-Orestes Barbosa (“Chão de estrelas”, daquelas que não tem quem não conhece), do flautista Patápio Silva (“Primeiro amor”, aliás seu maior sucesso autoral), Freire Júnior (“Revendo o passado”). Vinícius ainda assina as outras duas faixas restantes: “O que tinha de ser”, de sua parceria com outro mestre, Tom Jobim, e, sozinho “Valsa de Eurídice”, que o próprio Baden Powell gravou inúmeras vezes, inclusive no exterior.  A contracapa também apresenta pequenas biografias dos compositores cujas obras foram aqui incluídas, inclusive o próprio Baden, é claro. Enfim, um álbum cuidadíssimo, tanto em repertório quanto em qualidade técnica e apresentação gráfica. Com tantas qualidades, que mais se pode pedir? Agora é ouvir e desfrutar
rosa
serenata do adeus
valsa sem nome
primeiro amor
velho amigo
o que tinha de ser
chão de estrelas
canção do amor ausente
revendo o passado
valsa de eurídice
Texto de Samuel Machado Filho

Ruy Maurity – Safra 1974 (1973)

Boa noite, caríssimos amigos cultos e ocultos! Aqui vamos nós com mais uma boa postagem para alegrar gregos e troianos. Hoje eu trago para vocês um dos melhores discos de Ruy Maurity, artista que dispensa maiores apresentações. Autor de grandes sucessos, muitas de suas músicas foram temas de novelas da Rede Globo, Num tempo em que a Globo primava pela qualidade musical de suas trilhas. Ruy Maurity era um dos artistas principais do ‘cast’ da Som Livre, braço fonográfico da emissora de tevê. Sem dúvida, o sucesso de Ruy Maurity muito se deve ao fato dele ser artista exclusivo da Som Livre/Globo e ter tido seus discos e sua música sempre muito bem divulgados. Mas há de se dizer também que em tudo ele é merecedor, sua obra não deixa dúvidas. Neste terceiro disco de sua carreira, o segundo pela Som Livre, vamos encontrá-lo em um de seus melhores momentos. Várias de suas músicas foram sucessos e chegaram a fazer parte de trilhas de novelas como “Fogo sob a terra” e  “Ëscalada”. Pessoalmente, este é o álbum do Ruy que eu mais gosto.

com licença moço
parábola do pássaro perdido
pele de couro
canteiro dos sonhos
saci fez trança
trecho alegre de uma canção alegre de chuva
a senha do lavrador
coração 1944
passarinhada
velha história
cajerê
hoje eu fiz você
.

Moreira Da Silva – O Astro (1978)

O Toque Musical tem o prazer de apresentar a seus amigos cultos, ocultos e associados mais um álbum com o inigualável Moreira da Silva (Rio de Janeiro, 1/4/1902-idem, 6/6/2000), verdadeira unanimidade na história de nossa música popular, autêntico mito, e referência obrigatória quando se fala em samba de breque.  Trata-se da coletânea “O astro”, lançada no final de 1978 pela EMI-Odeon com o selo Jangada, braço dito “econômico” da empresa. Esta seleção traz muita coisa boa, músicas que sempre estiveram no repertório do grande Morenguera, e que nós, ouvintes, também apreciamos muito. São gravações de 1958 a 1965, extraídas de LPs que gravou para a Odeon nesse período. A faixa de abertura é o clássico “Amigo urso” (“Saudação polar”…), de Henrique Gonçalez,  lançada por Moreira na Victor em 1941 e que ele revive num registro de 1958, extraído do álbum “O último malandro”.  Desse disco também as regravações de “Acertei no milhar” (originalmente de 1940), “Esta noite eu tive um sonho” (1941) e “Na subida do morro” (1952). Este último é um clássico do samba-de-breque, oficialmente assinado pelo próprio Moreira em parceria com Ribeiro Cunha, fabricante dos chapéus do cantor, mas na verdade é de autoria de Geraldo Pereira. Do álbum seguinte, “A volta do malandro” (1959), são “Gago apaixonado” (ótima releitura do clássico de Noel Rosa), e as então inéditas “Filmando na América” e “Fui ao Japão”. Encontramos também aqui as duas deliciosas e divertidas “aventuras” do personagem Kid Morenguera, escritas (e apresentadas em falsete no início dos registros) por Miguel Gustavo: “O rei do gatilho” (1962, do álbum “O ’tal’… malandro”) e “O último dos moicanos” (do LP de mesmo nome, 1963). Gustavo também assina e apresenta a não menos divertida “Morenguera contra 007”, “superprodução” dirigida por Chacrinha (!), em que nosso herói recebe a missão de salvar de um sequestro o “rei do futebol”, Pelé, no qual James Bond tem a cumplicidade da atriz italiana Claudia Cardinale.  Gravação de 1965, editada apenas em compacto simples na época. Por fim, do álbum “Conversa de botequim”, também de 1965, são a faixa-título, deliciosa recriação do clássico de Noel Rosa e Vadico, e “Risoleta”, sucesso de Luiz Barbosa em 1937, também brilhantemente revivido por Moreira aqui. Enfim, é uma compilação imperdível, que revive toda a bossa e a  versatilidade do imortal Moreira da Silva!

amigo urso
gago apaixonado
conversa de botequim
o último dos moicanos
filmando na america
risoleta
na subida do morro
o rei do gatilho
acertei no milhar
morenguera contra 007
esta noite eu tive um sonho
fui ao japão
.
Texto de Samuel Machado Filho

 

Marcos Sabino – Reluz (1982)

Olá, amigos cultos, ocultos e associados! Hoje trazemos a vocês o primeiríssimo álbum do cantor e compositor Marcos Sabino. Com o nome completo de Marcos Sabino Braga Ferreira, nosso focalizado veio ao mundo no dia 27 de janeiro de 1950, na cidade de Niterói, litoral fluminense. Tocando e compondo desde criança, integrou, ainda adolescente, um conjunto de rock chamado Os Inocentes. Depois, fez parte dos grupos Antares e O Circo. Em 1978, venceu o Festival de Miracema, interpretando a composição “Esperança”, de Salu (coincidentemente a faixa que encerra o presente álbum). Compôs em parceria com nomes de prestígio da MPB, tais como Dalto, Erasmo, Paulo Sérgio Valle e Sérgio Caetano. Algumas de suas composições fizeram sucesso nas vozes de cantores como Leonardo, Fábio Júnior, Jerry Adriani, Simony, a dupla Pepê e Neném  e ainda as bandas The Fevers, Asa de Águia, Harmonia do Samba e Fat Family. O primeiro e maior hit nacional de Marcos Sabino, ainda hoje na memória de muita gente, foi a balada romântica “Reluz”, dele mesmo sem parceria, em 1982. Lançada em compacto simples, daria título, mais tarde,  a este seu primeiro LP, com direção de produção a cargo de João Augusto, mais tarde proprietário da gravadora Deck Disc e da Polysom, única fábrica de discos de vinil em operação no Brasil, que fica na cidade fluminense de Belford Roxo.  Curiosamente, este disco saiu com apenas oito faixas, quatro de cada lado, como acontecia com os antigos LPs de dez polegadas. É que, na época de seu lançamento, o mercado fonográfico enfrentava, como agora,  uma crise, e, para baratear o custo de produção dos LPs, a Polygram (hoje Universal Music) resolveu lançar alguns títulos dentro do sistema New Disc, caso deste aqui. Evidentemente, a coisa não durou muito tempo. Ainda assim, é um trabalho primoroso e de qualidade, verdadeiro documento de uma estreia promissora.  Marcos Sabino ainda lançaria mais oito álbuns até 2005, e continua em franca atividade, mesmo não aparecendo muito na mídia. Atua, inclusive, como produtor de discos e compositor de jingles publicitários, além de realizar shows por todo o país. Já foi também presidente da FAN (Fundação de Artes de Niterói). Enfim, um artista de respeitável currículo, que o TM apresenta aqui em seu primeiro álbum.

 reluz
remanso
aquela paz
nicty city
correnteza
saindo pelo ladrão
rastro de estrela
esperança
.* Texto de Samuel Machado Filho

Mario Avellar – Nasceu (1980)

Diz aí você, amigo culto e oculto! A saudação é no singular, porém o entendimento é no plural, ok? Pulando daqui pra lá, de lá pra cá, hoje vamos com um disco que eu particularmente gosto muito, Mário Avellar, em seu álbum de estréia, ‘Nasceu’, produção independente lançada em 1980. Mário Avellar é um cantor, compositor e produtor. Pelo jeitão de sua música e até mesmo nas letras, eu chego a acreditar que ele vem aqui das Minas Gerais. Há na rede muito pouca informação sobre ele. Penso até que este tenha sido o seu único disco. Mário foi parceiro em diversas músicas da dupla Luli & Lucinha (Lucina) e também participou de seus discos. Agora é a vez delas darem também uma ajuda ao amigo, participando em várias faixas. O disco surpreende pela qualidade e simplicidade. Agrada de maneira bem pessoal. Participam também outros grandes músicos que dão ao trabalho a dignidade que ele merece. Vale a pena ouvir e conhecer

basta abrir a boca e cantar
cachoeira água
rio doce
alma viajante
ondas e risos
lua de mel
tema de lua de mel
casa pequenina
energia louca
bem te vi
chico bento
rita e miguel
frágil
.

Almir Ribeiro – Onde Estou? (1958)

Boa noite, meus prezados amigos cultos e ocultos. Para a minha felicidade e a de vocês também, tenho contado com a colaboração do já conhecido de todos, Samuel Machado Filho, o Samuca, figura que tem ajudado a abrilhantar o Toque Musical com seus preciosos textos, sempre bem detalhados e esclarecedores. Ele estará aqui revezando as postagens comigo nas próximas semanas.
Hoje eu trago Almir Ribeiro, um jovem cantor que teve uma carreira curta. Faleceu vítima de afogamento em Punta Del Este, no Uruguai. Ele era uma revelação e considerado uma grande promessa na música popular. Gravou  algumas coisas em 78 rpm e um 10 polegadas, já publicado aqui no TM. Agora eu volto com este lp de 12 polegas, uma coletânea, um disco póstumo, lançado no mesmo ano de sua morte, 1958, pela Copacabana. Neste lp vamos encontrar um repertório com temas onde podemos destacar duas músicas de Tom Jobim, uma em parceria com Vinicius de Moraes, “Se todos fossem iguais a você” e “Foi a noite”, em parceria com Newton Mendonça. Há por certo outras tantas pérolas, mas deixo que os amigos mesmo as descubram. Divirtam-se

onde estou?
canção do mar
pezinho pra frente
because
laura
pra bem longe de ti
tarde demais para esquecer
foi a noite
contra-senso
amar outra vez
se todos fossem iguais a você
no meio da noite
.

Paulinho Pedra Azul – Jardim Da Fantasia (1982)

Cantor, poeta, artista plástico, compositor… Enfim, um talento múltiplo. Estamos falando de Paulo Hugo Morais Sobrinho, aliás Paulinho Pedra Azul.  Ele veio ao mundo no dia 4 de agosto de 1954, na cidade mineira de Pedra Azul, situada no Vale do Jequitinhonha, daí  seu nome artístico. Sua carreira artística iniciou-se por volta dos treze anos de idade, inicialmente com as artes plásticas. Enveredando pela música, participou do conjunto The Giants, em que trabalhou com Rogério Braga, Mauro Mendes, Marivaldo Chaves, Salvador, Edmar Moreira e André, com um repertório de sucessos da chamada “música jovem” de então (Beatles, Roberto & Erasmo Carlos, Os Incríveis, The Fevers, etc.). A partir do final dos anos 1960, participou de festivais de música e de poesia, realizando shows em cidades do interior de Minas Gerais. Nos anos 70, mudou-se para São Paulo, onde trabalhou com o cantor, ator e humorista Saulo Laranjeira, seu conterrâneo.  Ao voltar para Minas, fixou residência em Belo Horizonte,  onde mora até hoje. Paulinho Pedra Azul, embora não seja um constante frequentador da mídia de massa, é conhecido por um segmento específico de público, no qual predominam os universitários. Sua discografia abrange vinte e um álbuns gravados, a maioria de produção independente. É também autor de duzentas telas a óleo e acrílico, e de quinze livros, dentre os quais destaca-se “Delírio habanero  –  Pequeno diário em Cuba”, escrito durante visita que fez à ilha de Fidel Castro, em 2002.  Segundo pesquisa feita pela AMAR (Associação de Músicos, Arranjadores e Regentes), Paulinho Pedra Azul é o segundo cantor  mais conhecido de Minas Gerais, perdendo apenas para Mílton Nascimento. Em 1992, recebeu o título de Cidadão Honorário de Belo Horizonte, apenas um dos inúmeros prêmios e honrarias que conquistou ao longo de toda a carreira. Sendo assim, o Toque Musical tem a satisfação de apresentar a seus amigos cultos, ocultos e associados o primeiríssimo álbum de Paulinho Pedra Azul, lançado em 1982 pela RCA, hoje Sony Music, quando ele residia em São Paulo. Trata-se de “Jardim da fantasia”, cuja canção-título, também conhecida como “Bem-te-vi”, logo fez sucesso. Teria sido feita para uma noiva já falecida de Paulinho, o que, porém,  ele nega.  O cantor-compositor tem um estilo que varia do romântico (canções e serestas) à MPB, fortemente influenciado pelo Clube da Esquina de Mílton Nascimento & companhia, tendo composto até mesmo alguns chorinhos. Neste seu trabalho de estreia, há composições próprias, como a faixa-título, “Ave cantadeira” (que aparece também como vinheta ao final do disco), “Vagando” , “Cortinas de ferro” e “Voarás”, contando nesta última com a participação especial da cantora baiana Diana Pequeno, então em evidência.  O programa traz também músicas de outros autores, como Fagner (“Pobre bichinho”) e a dupla Flávio Venturini-Murilo Antunes (“Nascente”).  Sua região natal é lembrada também na faixa “Jequitinhonha”, escrita por  Levy e Paulinho Assunção. Enfim, um promissor início de carreira, mostrando as razões pelas quais Paulinho Pedra Azul  tornou-se um dos melhores cantores-compositores da MPB,  e querido por todos que apreciam música de qualidade, mesmo sem muita promoção da mídia.

ave cantadeira
pobre bichinho
valsa do desencanto
voarás
nascente
cortinas de ferro
jequitinhonha
canta
jardim da fantasia
vagando
ave cantadeira
* Texto de Samuel Machado Filho

Klaus Wunderlinch And His New Pop Organ Sound – Sudamericana 3 (1976)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Ainda em tempos de curiosidade (sempre é tempo de curiosidade) estou trazendo para o Toque Musical uma produção ‘made in Germany’. Um disco que encontrei num sebo e que me foi dado de graça pelo dono da loja. Entrou de brinde por conta de outros discos que comprei dele. Eu me interessei pelo lp em virtude de meia dúzia de músicas que são de autores brasileiros. Na verdade (e como sempre) são clássicos do samba e bossa nova. Acho que disco vale pela curiosidade. Temos aqui o maestro e organista Klaus Wunderlich, músico alemão que era muito popular na Europa, nos anos 60 e 70. Gravou vários discos, passando pela música clássica, pop, jazz e orquestra. Creio que alguns de seus discos chegaram a ser lançados no Brasil, mas ele certamente é pouco conhecido por aqui. Neste lp, o terceiro de uma série, dedicada ao que ele considera ‘sudamericana’, a ‘latin music’, vamos encontrar 14 faixas de sucessos mundiais, entre esses, temos seis músicas brasileiras em interpretações que valem ser conferidas.

amor amor amor
eso es el amor
summer samba
rumba tambah
let’s go the latin hustle
cu cu ru cu cu paloma
canto de ossanha
besame mucho
mas que nada
la parranda
baia
one note samba
ole guapa
brazil
.

Baiano E Os Novos Caetanos (1974)

 Indiscutivelmente, Chico Anysio (Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, Maranguape, CE, 12/4/1931-Rio de Janeiro,  23/3/2012) foi um verdadeiro mestre do humor, um desses talentos múltiplos que não têm substituto.  Na televisão, no rádio, na imprensa, no teatro, no cinema, na literatura e, claro, também na música, Chico mostrou toda a sua criatividade e versatilidade, tornando-se um dos maiores e mais respeitados humoristas do Brasil. E muitos de seus personagens permanecem até hoje na memória popular, como o Professor Raimundo, o locutor de rádio Roberval Taylor (inspirado em Hélio Ribeiro), Pantaleão, Lingote, Véio Zuza, Tavares, Bozó, Painho, Azambuja, a velhinha Salomé, o galã temperamental Alberto Roberto, o político corrupto Justo Veríssimo e tantos outros.  Na época em que fazia o programa “Chico City”, um dos muitos humorísticos que protagonizou na Rede Globo de Televisão em mais de quarenta anos, o genial artista cearense juntou-se a Arnaud Rodrigues, o “Paulinho Boca de Profeta” (Serra Talhada, PE, 6/12/1942-Lajeado, TO, 16/2/2010), e criou um “grupo” que satirizava o tropicalismo e o universo hippie: Baiano e os Novos Caetanos (nome que, evidentemente, parodiava Caetano Veloso e os Novos Baianos).  Suas canções traziam letras divertidas e engajadas, com belos arranjos e uma cobertura instrumental de primeira linha, incluindo, violões, sanfonas, cavaquinhos, etc. O sucesso de Baiano e os Novos Caetanos, evidentemente, chegaria ao disco. Em seu auge, gravariam pela CID, empresa carioca que existe até hoje, dois LPs. E é exatamente o primeiro deles,  lançado em 1974, que o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados, o que, por certo, irá reavivar as lembranças de tantos quantos se divertiram com esse “grupo”.  Com produção de Orlandivo (um dos reis do “sambalanço” nos anos 1960) e do próprio Arnaud Rodrigues, sob a direção artística de outro “cobra”, Durval Ferreira, é um álbum primoroso, bem feito, e hoje um indiscutível clássico da chamada “música de humor”.  A faixa de abertura, o samba-rock “Vô batê pa tu” (em que Chico Anysio também interpreta o personagem Lingote, aquele do bordão “Faloooooooou!”), ganhou de imediato as rádios e o público, e tratava, de maneira disfarçada, das delações acontecidas na ditadura militar. O “milagre econômico” brasileiro também não escapou , e é denunciado na faixa “Urubu tá com raiva do boi”, assinada por Geraldo Nunes e Venâncio.  Entre as dez faixas do disco, destacam-se também  “Véio Zuza” (em que Chico interpreta o dito cujo), “Nêga”, “Ciranda” e a belíssima canção “Folia de Rei”, trabalho primoroso e emocionante, que também alcançou merecido sucesso.  Enfim, este disco é antológico, raro, histórico, e o TM o aqui apresenta com muita alegria e satisfação, matando, por certo, a saudade de muitos fãs desses dois notáveis artistas que foram Chico Anysio e Arnaud Rodrigues (que morreu de forma trágica, durante um naufrágio, dois anos antes de Chico).  Eles ainda gravariam um segundo LP como Baiano e os Novos Caetanos, em 1975, e voltariam a se encontrar nos álbuns “A volta”, de 1982, e “Sudamérica”, de 1985. Ainda são creditados à dupla os LPs “Azambuja & Cia.” e “Chico Anysio ao vivo” (um show de comédia “stand up” do humorista cearense, com textos de Arnaud). Com este primeiro disco de Baiano e os Novos Caetanos, a diversão está garantida!

vô batê pá tú
nêga
cidadão da mata
urubu tá com raiva do boi
aldeia
ciranda
folia de rei
véio zuza
selva de feras
tributo ao regional
dendalei
.
* Texto de Samuel Machado Filho