Carnaval 76 – Convocação Geral Vol. 2 (1975)

Na sequencia carnavalesca temos então o segundo volume do projeto Carnaval 76 – Convocação Geral. Aqui também encontramos muita coisa boa, com destaque para Sérgio Sampaio, com a música “Cantor de rádio”, que viria no ano seguinte a fazer parte do seu lp “Sinceramente”. Tem Maria Alcina com “Paixão malagueta”, sucesso de vários carnavais, Alceu Valença no frevo “Pitomba pitombeira”. Moraes Moreira também vem de frevo na música “Satisfação”. Na contracapa podemos ver ainda a presença de veteranos com Jorge Veiga e Angela Maria. Tom e Dito também dão o recado na marchinha “Me larga, me solta, me deixa”. E ainda, Os Tincoãs e o maluco Osvaldo Nunes. É bom também lembrar do grande Waltel Branco, responsável pelos arranjos. Em resumo, um disco muito bom, com artistas de diferentes gravadoras. Puro espírito de carnaval.

paixão malagueta – maria alcina
a choradeira – oswaldo nunes
fazendo tudo – trama
quebra quebra guabiraba – os tincoãs
pitomba pitombeira – alceu valença
a roupa do gonça – jorge veiga
prenda minha no carnaval – angela maria
me larga me solta me deixa – tom e dito
satisfação – moraes moreira
cantor de rádio – sérgio sampaio
carnaval bloco do amor – renata lu

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Carnaval 76 – Convocação Geral Vol. 1 (1975)

Boa tarde, amigos foliões, cultos e ocultos! Embora espaçadas as nossas postagens, eu não poderia deixar ficar em branco nossa festa maior, o Carnaval. Para não dizerem que eu não falei de flores, segue aqui alguns buquês. Vamos fazer aqui uma convocação geral e em duas chamadas 🙂
Trago hoje o volume 1 do Carnaval 76, Convocação Geral. Este lp já se tornou um clássico, pois traz em seu conteúdo uma série de marchinhas carnavalescas nas vozes de um variado leque de artistas. Ao contrário de tantas outras coletâneas dessa espécie, esta tem algo de original, pois apresenta gravações únicas, feitas exclusivamente para este projeto da gravadora Som Livre, que começou no ano anterior, quando então lançaram o Carnaval 75 – Convocação Geral, em álbum duplo (disco este já postado aqui). Muitos desses fonogramas são encontrados apenas nesses discos, o que os torna raros. Para o ano de 76 a gravadora decidiu desmembrar o álbum duplo em dois volumes. No primeiro, que postamos hoje temos 12 músicas, sendo quase todas sucessos memoráveis. Vale muito a pena ouvir esses discos, pois eles só costuma aparecer uma vez por ano 😉

a filha da chiquita bacana – caetano veloso
mangueira minha alegria – elza soares
prá lá de bagdá – fevers
carimbó no carnaval – jorge goulard
verde e branco – sonia santos
a tartaruga – blackout
kojak – nelson gonçalves
é nessa onda – conjunto nosso samba
quem for mulher que me siga – quarteto em cy
mexa-se – djalma dias
feliz de quem pode sambar – luiz ayrão
saudade poluída – cesar costa filho
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Breno Sauer Quarteto – 4 Na Bossa (1966)

Hoje o TM põe em foco um dos mais criativos instrumentistas da época de ouro da bossa nova, que, apesar de ter feito grande sucesso no Brasil, hoje está totalmente esquecido : Breno Sauer.  Ele nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 1930 (ou 1935, não há certeza). Tanto seu pai como seus três irmãos também eram músicos. Ele começou tocando acordeom em um grupo regional, acompanhando calouros no rádio, também composto de violão, flauta, cavaquinho e pandeiro. Influenciado pelo quinteto de Art Van Damme, montou um grupo com a mesma formação, ou seja, guitarra elétrica, baixo, vibrafone, acordeom e bateria. Mais tarde, o próprio Breno passou a ser o vibrafonista. Com essa formação, grava seu primeiro LP  em 1959, “Viva o samba”. Um ano depois, lança “Viva a música”, com repertório essencialmente de bailes, tocando até mesmo o tema erudito “Pour Elise”, de Beethoven.  Em 1961, Breno Sauer transfere-se para Curitiba e forma um grupo para se apresentar em boates. De lá, vai para o eixo Rio-são Paulo, onde então estavam as melhores oportunidades de trabalho e desenvolvimento profissional. Grava mais quatro álbuns no Brasil até 1966, e, no ano seguinte, parte para uma turnê no México, já com seu grupo convertido em quarteto. Breno morou lá por um bom tempo, inclusive gravando, em terras mexicanas, um excelente LP com Leny Andrade. Em 1974, transfere-se para Chicago, nos Estados Unidos, e forma um grupo com músicos de diferentes nacionalidades residentes na América (brasileiro, japonês, cubano e norte-americano).  A base era: trompete, sax, piano, baixo, bateria, percussão e voz (no caso, a da esposa de Breno Sauer, Neusa). A princípio, o grupo se chamava Made in Brazil, mas como já havia um conjunto de rock com esse nome, este foi mudado para Som Brasil. Em 1983, o conjunto gravou o álbum “Tudo joia”, muito bem recebido pela crítica. Não se sabe se o grupo ainda está na ativa. Pois hoje o TM oferece a seus amigos cultos, ocultos e associados o quinto LP gravado por Breno Sauer no Brasil, quando seu grupo era um quarteto. Trata-se de “Quatro na bossa”, lançado em 1965 pela Musidisc de Nilo Sérgio, em que Breno está ao vibrafone, acompanhado pelo pianista Adão, o baixista Ernê e o baterista Portinho. Nele, um repertório que mescla standards da bossa nova (“Você”, “Sonho de Maria”, Sambossa”, “Estamos aí”, “O amor em paz”) e do blues (“My many shely”, “Blues for mother”) com direito até mesmo ao clássico “Terra seca”, do mestre Ary Barroso, em produção bem cuidada. Portanto, o TM oferece a vocês uma rara oportunidade de se conferir o talento e a musicalidade de Breno Sauer e, quem sabe, tirar seu nome do injusto esquecimento a que foi relegado.  É ouvir e conferir…

você

essa é nossa

blues for mother

estamos aí

olhou pra mim

sonho de maria

sambossa

amanhã

my many shely

baiãozinho

amor em paz

terra seca

 

*Texto de Samuel Machado Filho

Luiz Eça & Cordas (1965)

Hoje, o TM põe em foco mais um nome importantíssimo de nossa música popular, atuando como pianista, compositor, músico e arranjador. Estamos falando de Luiz Mainzi da Cunha Eça, ou simplesmente Luiz Eça, como ficou para a posteridade. Ou ainda Luizinho, como era chamado carinhosamente pelos amigos. Embora nascido no Rio de Janeiro, em 3 de abril de 1936, Luiz Eça era descendente do escritor português Eça de Queiroz, e foi tão importante para a música, tanto popular quanto erudita, quanto seu ilustre antepassado para a literatura. Seu primeiro contato com a música deu-se aos quatro anos de idade, quando ganhou de presente um pianinho de brinquedo.  A sua primeira professora foi a pianista russa Zina Stern, amiga de seus pais, que lhe ensinou durante quatro anos as técnicas de piano das escolas francesas e russas. Aos catorze anos, após um período de muita brincadeira e pouca música, voltou aos estudos sistemáticos, e apresentou seu primeiro recital, no Conservatório Brasileiro de Música, e também fez seu primeiro baile, no Clube Caiçaras, na Lagoa. Nessa época, início dos anos 1950, ocasião em que estudava no Colégio Mallet Soares, em Copacabana, passa a ter aulas de piano com aquela que ele próprio considerava sua grande mestra, Madame Petrus Verdier. Em 1951-52 atuou na lendária Rádio Nacional, junto com Garoto, o mago das cordas, com quem inclusive participou de algumas rodas de choro no sítio que ele possuía em Areal, RJ. Aos 17 anos, em 1953, passa a atuar como pianista na boate do Hotel Vogue, autêntico reduto da “high society” carioca, onde tinha grande trânsito com os estrangeiros que lá se hospedavam, por falar fluentemente inglês, francês e espanhol (com essa idade, Luiz só podia tocar na noite com permissão judicial).  Um ano mais tarde, ingressa no conjunto do acordeonista Sivuca, que seria seu amigo para o resto da vida e, depois, forma o Trio Penumbra, com Candinho ao violão e Jambeiro ao contrabaixo, que fazia apresentações na Rádio Mayrink Veiga.  Em 1955, como pianista do Trio Plaza, integrado ainda por Ed Lincoln no contrabaixo e Paulo Ney na guitarra, Luiz Eça faz sua estreia fonográfica, quando a etiqueta Rádio lança o LP “Uma noite no Plaza”. Depois desse álbum, Luiz Eça ganhou uma bolsa de estudos do então presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira, para estudar em Viena, capital da Áustria, onde teve aulas, entre outros grandes professores, com o pianista e compositor Friederich Guida. De volta ao Brasil, em 1962, Luizinho forma um dos mais importantes conjuntos da bossa nova: o Tamba Trio, ao lado do contrabaixista Bebeto e do baterista Hélcio Milito, sendo os três também vocalistas. O Tamba Trio foi, inclusive, o primeiro a fazer “pocket-shows” no Bottle’s Bar, que ficava no lendário Beco das Garrafas, catedral da bossa nova no Rio de Janeiro, e ainda fez excursões pela América do Norte e pela Europa.  Luiz Eça acompanhou e fez arranjos para muitos dos mais importantes nomes da MPB a seu tempo, como Maysa, Nara Leão, Carlos Lyra, Sylvia Telles, Edu Lobo, Mílton Nascimento, Flora Purim, Joyce Moreno, João Bosco, Luiz Gonzaga  e Nana Caymmi, entre tantos outros. Foi ainda professor de jovens músicos e atuou como pianista na casa noturna Chiko’s Bar, onde também gravou um disco ao vivo com um de seus maiores amigos, o pianista de jazz norte-americano Bill Evans, em 1979. Luiz Eça faleceu em 25 de maio de 1992, em seu Rio de Janeiro natal, aos  56 anos, de infarto fulminante, deixando, como se vê, um extenso currículo de serviços prestados à música brasileira. Dele, o TM oferece, orgulhosamente, a seus amigos cultos, ocultos e associados, o álbum que é talvez sua maior obra-prima. Trata-se de “Luiz Eça & cordas”, lançado em  1965 pela Philips. Produzido pelo próprio Luizinho, que, claro, está também ao piano, este disco contém primorosos arranjos (dele próprio, naturalmente)  para composições suas e de outros grandes nomes da bossa nova, como Edu Lobo, Baden Powell, Robereto Menescal e Durval Ferreira. Obras como “A morte de um deus de sal”, “Chegança”, “Primavera” e “Tristeza de nós dois” ganham roupagem de gala, com grande orquestra de cordas e participação do contrabaixista Bebeto, seu companheiro de Tamba Trio, do violonista Neco e do baterista Ohanna.  A contracapa do disco reproduz, inclusive, um entusiasmado telegrama de parabéns do então diretor artístico da Philips, Armando Pittigliani. Tudo isso faz de “Luiz Eça & cordas” um trabalho de qualidade inquestionável, merecedor, por todos os títulos, de mais esta postagem do nosso TM.É só conferir…

morte de um deus de sal

imagem

canção da terra

tristeza de nós dois

velho pescador

canção do encontro

chegança

primavera

consolação

saudade

quase um deus

amando

*Texto de Samuel Machado Filho

Momento Quatro – Momento 4uatro (1968)

Boa noite, prezados amigos cultos e ocultos! Hoje a resenha ‘fonomusical’ é minha. Trago, enfim, para as nossas ‘fileiras’ um lp que há tempos eu venho querendo postar. Vamos no embalo do Momento Quatro, um quarteto vocal que surgiu nos anos 60, junto aos festivais. Ganhou forma a partir do III Festival da TV Record, em 1967, acompanhando Edu Lobo e Marília Medalha na apresentação da festejada e memorável ‘Ponteio’. O Momento Quatro era formado por Zé Rodrix, Ricardo Villas, Maurício Maestro e David Tygel, figuras que após a efêmera existência do ‘M4’, seguiriam se destacando em outro importantes projetos. Zé Rodrix iria para o Som Imaginário, formaria um trio com Sá e Guarabyra, depois seguia em carreira solo. Ricardo Villas (antes Ricardo Sá) chegou a ser preso por conta da ditadura, se exilou na França e formou dupla com a cantora Teca Calazans. Maurício Maestro e David Tygel também se destacaram formando com Claudio Nucci e Zé Renato o conjunto vocal Boca Livre.
O Momento Quatro gravou apenas este lp, que hoje é um disco raro, afinal (e que eu saiba) nunca chegou a ser relançado. Tendo total liberdade de criação, o álbum ‘Momento 4uatro’ foi produzido ao gosto do quarteto, que nos apresenta um repertório fino, tanto autoral quanto de outros grandes nomes como Gilberto Gil, Milton Nascimento, Marcos Valle, Edú Lobo e mais… basta ver nos créditos da contracapa. Orquestrações de Rogério Duprat e arranjos vocais de Maurício Maestro. Um trabalho muito bacana que merece o nosso toque musical. Confiram lá no GTM 😉

passa ontem
três pontas
festa
dos caminhos longoestranhos até chegar junto dela
no brilho da faca
classe dominante
ele falava nisso todo dia
de luzia, ana e maria
irmão de fé
veleiro
proton elétron e neutron
litoral

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Moacir Santos – The Maestro (1974)

“Tu que não és um só, és tantos, como o meu Brasil de todos os santos, inclusive meu São Sebastião”. Assim o Poetinha Vinícius de Moraes, em seu “Samba da bênção”, com melodia de Baden Powell, homenageou um dos principais arranjadores, multi-instrumentistas e compositores brasileiros, aquele que renovou a linguagem da harmonia no país. É Moacir Santos, que o TM põe hoje em foco.  Foi na cidade de Flores, no sertão pernambucano, que Moacir Santos veio ao mundo, no dia 26 de julho de 1926. Começou a tocar clarinete aos onze anos, e iniciou sua carreira tocando em bandas de música. Foi para o Recife ainda adolescente e, em seguida, excursionou com um circo pelo interior de Pernambuco. Nos anos 1940, trabalhou na Bahia, Ceará e Paraíba, e aprendeu a tocar saxofone. Em 1948, junta-se à Orquestra Tabajara de Severino Araújo e muda-se para o Rio de Janeiro, sendo logo contratado pela lendária Rádio Nacional. Conhecido por seu virtuosismo, ainda dominava o piano, o trompete, o banjo, o violão e a bateria. Por dois anos, Moacir residiu em São Paulo, onde foi regente da orquestra da antiga TV Record, voltando em seguida para o Rio. Foi lá que, em 1965, gravou seu primeiro LP, “Coisas de Moacir Santos”, pela marca Forma, que pertencia a Roberto Quartin. Suas composições mais conhecidas são “Nanã (Coisa número 5)”, de parceria com Mário Telles, irmão da cantora Sylvia Telles, “Se você disser que sim” (que fez com o Poetinha Vinícius), “Menino travesso’ e “Triste de quem”.  Foi assistente do compositor alemão Hans Joachin Kollreuter e professor de importantes nomes da MPB, tais como Baden Powell, Paulo Moura, João Donato, Nara Leão, Roberto Menescal e Sérgio Mendes. Em 1967, Moacir Santos transfere-se para Los Angeles, EUA, pois fora convidado para a estreia mundial do filme “Amor no Pacífico”, de cuja trilha sonora foi responsável (também compôs para filmes do cinema novo brasileiro, como “Ganga Zumba”, “Os fuzis”, “O beijo” e “Seara vermelha”). Nos EUA, Moacir lançou quatro álbuns autorais (inclusive o que o TM nos traz hoje) e continuou compondo para o cinema, além de ministrar aulas de música e vir esporadicamente ao Brasil, onde recebeu inúmeras homenagens, como o Prêmio Shell de Música, com o qual foi agraciado em 2006. Em 2005, foi lançado pela Biscoito Fino o álbum “Choros & alegria”, com várias composições do início da carreira de Moacir, nunca antes gravadas.  Moacir Santos faleceria um ano mais tarde (6 de agosto de 2006), em Pasadena, Califórnia, onde residia. “The maestro”, o álbum de Moacir Santos que o TM orgulhosamente oferece a seus amigos ocultos, ocultos e associados, é o primeiro que ele fez nos EUA. Lançado em 1972 pela Blue Note, verdadeira referência em matéria de jazz, só chegou ao Brasil dois anos mais tarde, através da extinta Copacabana Discos, que representava o selo, então coligado da United Artists, e hoje com seus produtos mundialmente distribuídos pela Warner. Gravado em Los Angeles, nos estúdios da A&M Records, e remixado em Nova York, é um trabalho excepcional, com oito faixas, todas de autoria do próprio Moacir Santos, sozinho ou com parceiros. Logo no início, ele revive sua “Coisa número 5”, o afro-samba “Nanã”, como já frisado, um de seus mais conhecidos trabalhos autorais. Ele mesmo participa como vocalista em cinco faixas, sendo que em duas ele divide os vocais com Sheila Wilkinson, e assina quase todos os arranjos, a exceção de “Nanã”, que ficou a cargo de Reggie Andrews, também produtor deste trabalho. Por sinal, impecável do início ao fim, com o padrão técnico e de qualidade que até hoje caracteriza as produções fonográficas da Blue Note. Ouvindo-o, constata-se que, realmente, Moacir Santos não era um só: eram muitos, em uma só pessoa!

nanã (coisa n.5)

bluishmen

sou eu (luanne)

lamento astral (astral whine)

mãe iracema

kermis

april child (maracatu, nação do amor)

the mirror’s mirror

*Texto de Samuel Machado Filho

Claudia – Reza, Tambor E Raca (1977)

O Toque Musical põe hoje em foco uma das mais expressivas cantoras brasileiras. Estamos falando de Maria das Graças Rallo, que adotou inicialmente o nome artístico de Cláudia, e, por questões numerológicas, passou a se assinar Claudya. Ela veio ao mundo no dia 10 de maio de 1948, na cidade do Rio de Janeiro. Entretanto, foi criada em Juiz de Fora, Minas Gerais, onde também começou a cantar, aos oito anos de idade, participando de um programa de calouros da Rádio Sociedade.  Aos treze anos, atuou como “crooner” do conjunto Meia-Noite, que atuava em bailes e festas de Juiz de Fora e cidades vizinhas. Sua carreira profissional  se inicia nos anos 1960, em São Paulo, quando participa do programa “O fino da bossa”, da antiga TV Record. Entretanto, sua apresentadora, Elis Regina, a baniu definitivamente da atração, pois Claudia foi considerada, logo de saída, uma intérprete tão boa quanto Elis, que evidentemente temia sofrer concorrência. Claudia gravou seu primeiro disco em 1965, na RGE, um compacto simples com as músicas “Deixa o morro cantar”, de Tito Madi, e “Sorri”, de Zé Kéti e Elton Medeiros. Logo no primeiro ano de carreira, foi agraciada com o Troféu Roquette Pinto de cantora-revelação e, em 1967, lançou seu primeiro LP, também pela RGE.  Mais tarde, viajou para o Japão, onde se apresentou ao lado do saxofonista Sadao Watanabe, ficando seis meses naquele  país, e lançando um LP em japonês que vendeu mais de 200 mil cópias! De volta ao Brasil, em 1969, venceu o I Festival Fluminense da Canção, defendendo a música “Razão de paz para não cantar” , de Eduardo Lages e Alézio de Barros, que também concorreu no quarto FIC (Festival Internacional da Canção), obtendo a quarta colocação e dando à nossa Claudia o prêmio de melhor intérprete.  Ela também foi marcante presença em diversos festivais de música no exterior (Japão, Espanha, Grécia, México, Venezuela…), tornando-se a cantora mais premiada fora do Brasil. E, aqui mesmo, recebeu ainda os troféus Imprensa e Globo de Ouro. Claudia tem, em sua discografia, mais de 20 álbuns, entre LPs e CDs, e alguns compactos, e entre seus principais sucessos, destacamos: “Jesus Cristo” (cuja gravação chegou a vender tanto ou mais que a do próprio Roberto Carlos!), “Com mais de trinta”, “Só que deram zero pro Bedeu”, “Deixa eu dizer” (sampleada por Marcelo D2 na música “Desabafo”), “Mudei de ideia”, “Memória livre de Leila” (homenagem póstuma à atriz Leila Diniz, morta em acidente aéreo, composta por Taiguara) e “Gosto de ser como sou”.  O grande momento da carreira de nossa Claudia viria em 1982, ao ser convidada para fazer o papel principal na versão brasileira do musical “Evita”, de autoria dos britânicos Andrew Lloyd Weber e Tim Rice. Grande sucesso de público e crítica, “Evita” permaneceu seis meses em cartaz em São Paulo, e quase dois anos no Rio de Janeiro, e Claudia ainda foi considerada a que melhor interpretou o mito político argentino entre todas as adaptações internacionais do espetáculo. Claudia (ou Claudya) é ainda, desde os 23 anos de idade, exímia tecladista, e sua filha, Graziela Medori, também segue carreira de cantora. Da extensa e bastante expressiva discografia da então Claudia, o TM oferece hoje, a seus amigos, ocultos e associados, o sexto álbum de estúdio da intérprete. É “Reza, tambor e raça”, editado no início de 1977 pela RCA Victor, depois BMG, Sony/BMG e atualmente Sony Music.  Com direção de estúdio do experiente Osmar Navarro, e arranjos e regências a cargo dos competentíssimos José Paulo Soares, Pepe Ávila e Bauru, é um trabalho muitíssimo bem cuidado, técnica e artisticamente. Nele, Claudia dá um banho de interpretação e técnica vocal, seja em regravações de hits da ocasião (“Soy latino-americano”, “O cavaleiro e os moinhos”, “Apenas um rapaz latino-americano”, “Glorioso Santo Antônio”), quanto em trabalhos até então inéditos , como a própria faixa-título, “Reza, tambor e raça”, “Poeta do medo”, “Pororoca” e ‘Ana cor de cana”. E a curiosidade deste trabalho fica por conta da releitura do tema da série de TV norte-americana “Peter Gunn”, sucesso de audiência nos anos 1950/60, composto por Henry Mancini, que ganhou letra em português com o título de “Vai, baby” e acordes brasileiríssimos de samba! Enfim, um excelente trabalho da agora Claudya, cuja voz permanece atualíssima e vibrante. E ela continua aí, na ativa, para alegria de tantos quanto apreciem o que nossa música popular tem de melhor e mais expressivo!

reza, tambor e raça

soy latino americano

glorioso santo antonio

poeta do medo

pororoca

lua negra

apenas um rapaz latino americano

o cavaleiro dos moinhos

vai baby (peter gunn)

segunda feira

homem e mulher

ana cor de cana

*Texto de Samuel Machado Filho

Mario Albanese – Jequibáu na Broadway (1967)

Boa tarde, meus prezados amigos cultos e ocultos! Aqui estou eu, cada dia mais sumido, porém, ainda não completamente perdido. Graças ao amigo e colaborador Samuca, vamos aos trancos e barrancos mantendo acesa a chama do Toque Musical. Hoje quem traz a postagem sou eu mesmo, mas o Samuel continua no baralho e até mais atuante em suas resenhas (para a nossa felicidade).
Tenho hoje para vocês uma boa raridade, Mário Albanese e seu álbum ‘Jequibau na Broadway’, disco lançado em 1967 pelo selo Chantecler. Foi o seu segundo lp pela gravadora e que muitos consideram como sendo uma continuação de ‘Jequibáu’, uma obra prima, a qual Mário Albanese dividiu os créditos com o maestro Ciro Pereira. No presente lp temos um repertório de composições próprias de Mário e Ciro no ritmo do Jequibáu, somado a outros temas famosos e internacionais muito bem arranjados. Um trabalho de padrão internacional. Não deixem de conferir…
Numa próxima oportunidade postaremos também aqui o ‘Jequibáu’, uma joia brasileira premiada, que até hoje não recebeu por parte de nós brasileiros a sua merecida atenção. Aguardem, pois a resenha vai ser do Samuca, quer dizer, super completa 😉

zambo
un homme et une femme
o caminho das estrelas
days of wine and roses
longe de você
maré alta
fim de semana em guarujá
the shadow of your smile
certa vez
não posso esquecer

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Dick Farney – As Duas Maneiras De Dick Farney (1972)

Um dos precursores da bossa nova, e, por tabela, integrado à mesma, Dick Farney (Farnésio Dutra e Silva, Rio de Janeiro, 14/11/1921-São Paulo, 4/8/1987) tem vários de seus álbuns postados aqui no TM, e já foi devidamente focalizado no Grand Record Brazil. É lembrado e cultuado até hoje, e com justiça, por todos que apreciam o importantíssimo legado que deixou como cantor e pianista, aplaudido tanto no Brasil quanto no exterior. Hoje, o TM apresenta a seus amigos cultos, ocultos e associados, mais um disco do notável Dick. Com o título “As duas maneiras de Dick Farney”, o álbum é uma coletânea organizada por Maurício Quadrio, e lançada em 1972 pela Philips/Phonogram, futura Universal Music, com o selo Fontana.  É dividido em duas partes distintas: na primeira, “Dick na Broadway”, são apresentadas as gravações que ele fez nos EUA com a orquestra do maestro Paul Baron, em 1954, perfazendo um total de oito faixas, que chegaram ao Brasil em discos de 78 rpm pela antiga Sinter. Os clássicos “Copacabana”, de Braguinha e Alberto Ribeiro, e “Marina”, de Dorival Caymmi, ganham aqui versões bilíngues, com letras em inglês de Jack Lawrence. No restante do programa, seis standards do repertório popular norte-americano, entre eles “How soon”, “For once in your life” e “Tenderly”(que ele próprio registrou pela primeira vez em 1946, lá mesmo nos EUA). A segunda parte deste álbum é denominada “Dick em Ipanema”, e engloba seis faixas que ele registrou em território brasileiro, todas pela Elenco, gravadora criada por Aloysio de Oliveira, cujos trabalhos fonográficos (lançou 60 LPs em quatro anos de atividades) eram extremamente bem produzidos, alguns deles tornando-se até clássicos. Três faixas são do álbum que Dick Farney gravou em 1964, sem título, entre elas um sucesso absoluto na época: “Você” (“Manhã de todo meu”), da vitoriosa parceria Roberto Menescal-Ronaldo Bôscoli, inesquecível dueto de Farney com Norma Bengell, atriz, cineasta e cantora e hoje, com justiça, um dos clássicos da bossa nova. Desse disco de 64 também são as faixas “Inútil paisagem”, e “One for my baby” . As três faixas restantes são de um outro LP, de 1966, denominado “Dick Farney: piano – Orquestra: Gaya”, e são apenas instrumentais, na qual Farney demonstra todo seu virtuosismo de pianista, acompanhado pela orquestra do já veterano maestro Lindolfo Gaya: “Fotografia”, “Valsa de uma cidade” e “And roses.. and roses”, que na verdade é “Das rosas”, de Dorival Caymmi, que ganhou esse título ao receber letra em inglês de Ray Gilbert, gravada por Andy Williams. Enfim, está é mais uma oportunidade que o TM oferece de apreciar um pouco do extraordinário trabalho do inesquecível Dick Farney. Para baixar e ouvir com todo o carinho…
*Texto de Samuel Machado Filho

Luiz Carlos Vinhas – O Som Psicodelico De LCV (1968)

Após apresentar o álbum “Os reis do ritmo”, com o conjunto Bossa 3, formado e dirigido pelo pianista Luiz Carlos Vinhas (1940-2001), o TM tem a grata satisfação de oferecer a seus amigos cultos, ocultos e associados mais um trabalho com a marca deste notável músico, e considerado até mesmo sua obra-prima: trata-se de “O som psicodélico de Luiz Carlos Vinhas”, seu segundo disco individual (o primeiro foi “Novas estruturas”, em 1964), elaboradíssima produção de Hélcio Milito, então baterista do Tamba Trio, para a CBS, futura Sony Music, e preciosíssimo legado do “ano que não terminou”, 1968. Tendo em seu currículo participações em discos de grandes nomes da MPB, tipo Elis Regina, Quarteto em Cy, Jorge Ben Jor e Maria Bethânia, Luiz Carlos Vinhas iniciou-se na música ainda cedo, quando seu pai lhe deu um violão de presente, e em 1957 já estava nas composições da bossa nova carioca. Ele se supera neste trabalho, riquíssimo em elementos e experimentos, mesclando psicodelia e toques de música brasileira, com cantos folclóricos, caboclos e umbandistas. Abrindo o disco, a instrumental “Amazonas”, de João Donato, que impressiona o ouvinte logo de saída. Vinhas sempre foi experimental, e conhecia bem a cultura brasileira, o que se reflete em trabalhos autorais como “Tanganica”, “Zizê baiô”  e “Ye-melê” (títulos que remetem à cultura afro), esta última um lindo canto para Iemanjá, na mesma época também gravada por Elis Regina e mais tarde êxito mundial com Sérgio Mendes. Outro destaque é “Um jour Christine”, de Bruno Ferreira, uma canção melancólica porém com linda melodia vocal e percussão bem simples ao fundo. A partir da sexta faixa, Vinhas nos oferece fantásticas regravações de sucessos nacionais e internacionais, como “Arrasta a sandália”, “Chatanooga choo-choo”, “Tributo a Martin Luther King”, “Rosa morena”, “Morena boca de outro” e “Can’t take my eyes of you”. Tudo terminando, e muitíssimo bem, com “O diálogo”, uma parceria de Vinhas com Chico “Fim-de-Noite” Feitosa, que também fizeram juntos “Ye-melê” e “Zizê baiô”. Em suma, um trabalho primoroso, de alta qualidade técnica e artística, que o TM orgulhosamente nos oferece. Confiram…

amazonas

tanganica

yê-melê

zizé-melê

un jour christine

song to my father

chatanooga choo-choo

pourquoi

birthday morning

o diálogo

*Texto de Samuel Machado Filho