4 Ases & 1 Coringa (parte 1) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 120 (2014)

Prosseguindo sua brilhante trajetória, o Grand Record Brazil, em sua edição de número 120, apresenta a primeira de duas partes de uma retrospectiva dedicada a um dos maiores conjuntos vocais e instrumentais que o Brasil já teve: os Quatro Ases e um Coringa. A história do grupo começa em 1939, quando os irmãos cearenses Evenor, Permínio e José Pontes de Medeiros, que estudavam no Rio de Janeiro, decidiram formar um quarteto vocal e instrumental juntamente com seu amigo Andre Batista Vieira, o Melé. Dois anos mais tarde, após formar-se em Química, eles viajaram para Fortaleza, apresentando-se na Ceará Rádio Clube com o nome de Bando Cearense (Evenor e José aos violões, Permínio na gaita e André ao pandeiro, além, é claro, dos vocais). Foi então que se juntou a eles o violonista e vocalista Esdras Falcão Guimarães, o Pijuca. Por sugestão do poeta e jornalista Demócrito Rocha, eles passaram a se chamar Quatro Ases e um Melé. De volta ao Rio, apresentaram-se por três meses na Rádio Mayrink Veiga, mas não houve contrato. Foram então encaminhados à Rádio Tupi por João Dunmar, diretor da Ceará Rádio Clube, que estava no Rio por acaso, e substituiu o termo “melé” por “coringa”, termo mais conhecido no sul, que, no baralho, significa a mesma coisa. O sucesso foi imediato. No primeiro disco, lançado pela Odeon em setembro de 1941, sem menção no selo, acompanharam Dircinha Batista nos sambas “Ele disse que dá” e “Costela de cera”. Estreia pra valer acontece em novembro do mesmo ano, quando a “marca do templo” lança “Os dois errados”, e, do outro lado do disco, “Dora, meu amor”.  O grupo teve inúmeros sucessos,tais como: “No Ceará é assim”, “Onde estão os tamborins?”, “Baião”, “Terra seca”, “É com esse que eu vou”, “Siridó”, “Cabelos brancos”, “Eu vi um leão”, “Trem de ferro”, “Eu vou até de manhã”, “Chega, chega, chegadinho”, “Marcha do caracol”, “O periquito da madame”,  “Apanhador de papel”.  Em 1945, fizeram uma longa temporada no Prata, principalmente na Argentina, seguida do Chile. No cinema, atuaram nos filmes  “Fogo na canjica”, “Essa é fina”, “Aviso aos navegantes” e “Tudo azul”. Em 1952, o Coringa André desligou-se do conjunto, e outros três o sucederam: Jorginho do Pandeiro, Nilo Falcão e,por último, Miltinho. Nessa ocasião,a carreira do conjunto começa a declinar,até sua dissolução, nos anos 1960. Em cerca de vinte anos de carreira, os Quatro Ases e um Coringa gravaram mais de100 discos em 78 rpm, nos selos Odeon, RCA Victor, Mocambo, Todamérica e Marajoara, além do LP “É com esse que eu vou”, também pela Odeon, com regravações, e alguns compactos. Só lançariam um segundo e último LP em 1975, “Novamente… Quatro Ases e um Coringa”, selo Alvorada/Chantecler, e depois sairiam de cena definitivamente.
Nesta primeira parte, o GRB oferece catorze preciosas gravações dos Quatro Ases e um Coringa, verdadeiras joias da música popular brasileira, a maior parte em gravações Odeon. Abrindo o programa,”Terra seca”, samba que Ary Barroso considerava sua obra-prima, inspirado na triste fase da escravidão dos negros no Brasil. O grupo cearense o imortalizou na “marca do templo”  em 20 de setembro de 1943,com lançamento em novembro do mesmo ano, disco 12375-A, matriz 7387. Da dupla Bide-Marçal, autora de sambas clássicos da MPB, é “Pra que chorar?”, também samba, este do carnaval de 1943, gravação de 27 de outubro de 42, lançada ainda em dezembro, disco 12235-A, matriz 7121. Outro clássico é o balanceio “Eu vou até de manhã”, do cearense (como eles) Lauro Maia, gravado em 8 de fevereiro de 1945 e lançado em abril do mesmo ano sob número 12568-A, matriz 7760. Temos depois a deliciosa marchinha “Pica-pau”, outra composição do mestre Ary Barroso, do carnaval de 1942, gravação de 14 de novembro de 41, lançada um mês antes da folia, em janeiro, com o número 12096-A, matriz 6849. “Barão das cabrochas” é outro samba da grande dupla Bide-Marçal aqui incluído, sucesso do carnaval de 1946. Os Quatro Ases e um Coringa o imortalizaram  em 22 de novembro de 45, e o lançamento se deu um mês antes do carnaval, em janeiro, disco 12655-A, matriz 7939. Depois tem… “Feijoada”! É uma marchinha de Rubens Soares, gravada  em 2 de fevereiro de 1943 e lançada em março seguinte com o número 12277-A, matriz 7196. Torcedor fervoroso do América Futebol Clube, Lamartine Babo compôs os hinos não só desse como também de todos os grandes clubes do futebol carioca. Caso do famoso “Sempre Flamengo” (“Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer”), marcha-hino que os Quatro Ases e um Coringa imortalizaram na “marca do templo” em 2 de dezembro de 1944, com lançamento em janeiro de 45, disco 12541-B, matriz 7719. Do carnaval de 1947 é a marchinha “O periquito da madame”, de Nestor de Holanda, Carvalhinho e Afonso Teixeira, um sucesso que o grupo cearense gravou na Odeon em 9 de julho de 46 (vejam só a antecedência!) com lançamento ainda em novembro, disco 12735-B, matriz 8070. Do carnaval de 1943 é a marchinha “Deixai para mim as cabrochinhas”, de Alcyr Pires Vermelho e Pedro Caetano, gravada na “marca do templo” em 21de novembro de 42,lançada um mês antes da folia, me janeiro, disco 12246-A, matriz 7150. “A ribeira do Caxia” é uma “ligeira” de Lauro Maia, gravação de 29 de junho de 1945, lançada em agosto seguinte sob número 12612-A,matriz 7868. Lançado em 1945 por Manezinho Araújo, o “calango mineiro” “Dezessete e setecentos”, motivo folclórico adaptado por Luiz Gonzaga e Miguel Lima, foi regravado pelos Quatro Ases e um Coringa em 18 de abril de 1947, com lançamento em julho seguinte com o número 12784-B, matriz 8213 (conta errada, mas sucesso certeiro). As duas últimas faixas são da safra do grupo cearense na RCA Victor. “Xaxado”, de Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil, é gravação de 14 de maio de 1952, lançada em julho do mesmo ano, disco 80-0938-B, matriz SB-093346, merecendo logo em seguida registro do próprio Gonzagão. O xaxado é definido como “primo do baião” e foi divulgado pelo Nordeste do Brasil por Lampião e seu bando de cangaceiros. O nome da dança é derivado da onomatopeia xa-xa-xa, que os dançarinos fazem ao arrastar as alpercatas no chão. Por fim,o samba “Boneca de pano”, de Assis Valente, considerado seu último grande sucesso como compositor. Os Quatro Ases e um Coringa o imortalizaram na marca do cachorrinho Nipper em 10 de julho de 1950, com lançamento em setembro do mesmo ano sob número 80-0693-B, matriz S-092712. E na próxima semana traremos mais gravações desse notável conjunto cearense. Aguardem!
*Texto de  SAMUEL MACHADO FILHO.

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