Vários Sertanejos – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 12 (2012)

Ê trem bão! A décima-segunda edição do Gran Record Brasil chega em clima bem caipira e sertanejo! Em dezesseis fonogramas raros e históricos, teremos uma amostra de como era o gênero sertanejo de antanho. Aqui comparecem duplas bastante conhecidas e lembradas, além de outras que o implacável passar do tempo foi esquecendo. É nesse último caso que se enquadram as Irmãs Cavalcanti, Noemi e Odemi. Elas deixaram uma discografia escassa: apenas seis discos 78 com doze músicas, todos pela Columbia. Eis aqui o primeiro deles, lançado no comecinho de 1954, janeiro, com o número CB-10029. De um lado, matriz CBO-170, o baião “Lumiô lumiô”, delas próprias, e no verso, matriz CBO-171, a guarânia “Ponta Porã”, de Jamir da Silva Araújo e Pereirinha. Em seguida iremos nos encontrar com uma dupla muito querida e lembrada: Nenete (Waldemar de Franchesi, 1919-1989), natural de Pirassununga, e Dorinho (Isidoro Cunha, Bernardino de Campos, SP, 1933-Campinas, SP, 2011), apelido que ele carregava desde a infância. Gravaram seu primeiro disco em 1955, na RCA Victor, com a toada “O milagre das rosas” e o cururu “Toca sino”. Em 78 rpm, na mesma marca, foram mais de trinta discos, além de 13 Lps de carreira, nos selos RCA Victor, RCA Camden, Caboclo/Continental e Beverly, onde gravaram o último, em 1976. Depois disso, Nenete afastou-se do meio musical por motivo de saúde, e faleceu em uma tentativa de assalto! Nenete e Dorinho aqui comparecem com um disco gravado em 19 de junho de 1962, o RCA Victor 80-2485. No lado A, matriz N2CAB-1748, uma regravação do tango “Ouvindo-te”, lançado em 1935 por seu autor, Vicente Celestino. No verso, matriz N2CAB-1749, a moda campeira “Goiano valente”, de Nenete com Piraci (de famosa dupla com Diogo Mulero, o Palmeira). Ambas as composições também fizeram parte do LP “Pescadores de sucesso”, do mesmo ano. Por falar em Palmeira (Agudos, SP, 1918-São Paulo, 1967), eis que ele ressurge aqui em sua memorável dupla com Luizinho (Luiz Raimundo, São Paulo, 1916-idem, 1983) com dois discos RCA Victor, gravados em 12 de fevereiro de 1951 e lançados em maio do mesmo ano. O de número 80-0763 apresenta duas composições da própria dupla: a moda campeira “Chão de Minas”, matriz S-092841, e a valsa “São Judas Tadeu”, matriz S-092842. Já o disco 80-0764 apresenta a moda campeira “Santa Fé do Paraná”, de Palmeira e Ado Benatti, matriz S-092843, e o motivo folclórico mineiro “Peixe vivo”, adaptado por Palmeira e Mário Zan, por sinal a música predileta do ex-presidente Juscelino Kubitschek, que era mineiro de Diamantina. Em seguida, uma dupla que ainda hoje está em atividade e muito querida: Pedro Bento (José Antunes Leme, n.1934), nascido em Porto Feliz, e Zé da Estrada (Waldomiro de Oliveira, n.1929), que é de Botucatu. Acrescentando elementos da música regional mexicana, sem no entanto abandonar as raízes sertanejas, eles ficaram conhecidos como “os amantes da rancheira”, o que fica claro no disco aqui presente, de 1964, o Caboclo/Continental CS-652. De um lado, matriz 55-035-A, o huapango “Tens que beber”, de Zé da Estrada e Caçula, da dupla com Marinheiro, e no verso, matriz 55-035-B, a rancheira “Bebendo e chorando”, de Milano e Serafim, ainda hoje uma das mais aplaudidas criações da dupla. De longa carreira na música brasileira, Raul Torres (Botucatu, SP, 1906-São Paulo, 1970) aqui comparece em dupla com seu inseparável parceiro Florêncio (José Batista Pinto, 1909-1972), natural de Barretos, a atual capital brasileira do rodeio. No disco Todamérica TA-5617, de 1956, foram regravados dois hits de Raul como compositor e intérprete: no lado A, matriz TA-1318, em ritmo de baião, a pungente moda de viola “Boi amarelinho”, originalmente gravada pelo próprio Raul Torres em dupla com Ascendino Lisboa, em 1933. No lado B,matriz TA-1319, o valseado “Meu cavalo zaino”, originalmente gravado por Raul em dupla com Serrinha, em 1939. Em seguida, dois discos RCA Victor: o primeiro de número 80-0516, gravado em dezembro de 1946 mas só lançado em maio de 47. No lado A, matriz S-078685, a moda de viola “Égua branca”, em que Raul tem como parceiros Nhô Pai (autor de “Beijinho doce”) e Godoy, e no verso, matriz S-078686, o curiosíssimo “samba baiano” “Nêga, sai do sereno”, de Raul Torres sem parceiro. Em seguida o disco 80-0285, gravado em 13 de junho de 1944 e só lançado em maio de 45,. No lado A, matriz S-052992, um superclássico, “Moda da mula preta”, inúmeras vezes regravado, inclusive por Luiz Gonzaga (na voz dele por sinal a música fez ainda mais sucesso!). No verso, matriz S-052993, o corrido “No recanto onde eu moro”, de Raul Torres e Júlio Lopes. Encerrando esta edição sertaneja do GRB, a dupla Sucupira e Rosa Amélia, de discografia escassa: apenas cinco discos 78 rpm com nove músicas, gravados entre 1960 e 1963. Aqui está o último deles, do selo Orion, da Odeon, número R-138, do início de 63. No lado 1, matriz 51292, a canção rancheira “Passado feliz”, de Sotero Silveira e Ulisses Nascimento, e no verso, matriz 51291 , o bolero “Esqueça, meu amor”, de Álvaro Alvim e Joel Honorato. Existe também um LP de 1983, “Garça branca”. Enfim, uma boa oportunidade para as novas gerações conhecerem o estilo sertanejo de outros tempos, bem diferente do atual, que, com raríssimas exceções, é mais para público urbano. Ouçam, recordem e divirtam-se com esta edição bem sertaneja do GRB!


*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

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