Lyra De Xopotó – Lembranças Do Carnaval Carioca (1958)

Nesta semana de carnaval, o Toque Musical tem o prazer de oferecer aos seus amigos cultos e ocultos um álbum bem no espírito desta que é sem dúvida a maior festa popular do Brasil. Convidamos você a fazer uma viagem maravilhosa pelos velhos e bons carnavais do passado, através deste álbum da Sinter, gravado pela Lyra de Xopotó. Essa banda surgiu a partir um programa de mesmo nome, criado e apresentado aos sábados pelo radialista (e também médico) Paulo Roberto na lendária Rádio Nacional do Rio de Janeiro a partir de 1954. A finalidade da atração era ser um incentivo às bandas de música do interior do Brasil, uma tradição que, lamentavelmente, deixou de existir. Com arranjos do sempre eficiente Lírio Panicalli, o programa era apresentado através de um diálogo entre Paulo Roberto e o Mestre Filó, que na verdade era um personagem interpretado pelo grande Jararaca (da dupla com o saxofonista Severino Rangel, o Ratinho). O sucesso do programa também se repetiu, claro, em disco, e a estréia fonográfica da Lyra deu-se em 1954, na Sinter, com o 78 rpm de número 349, que apresentava duas composições do mestre Lírio: “Dobrado Francisco Sena Sobrinho” e “Sonhador”. Desde então, a Lyra garantiu boa vendagem para seus discos, inclusive para o álbum que o TM lhes oferece, que, conforme consta do site do Instituto Memória Musical Brasileira, data de 1958 (certamente foi lançado visando o carnaval de 59). Em seis belos popurris, desfilam aquelas velhas e boas músicas carnavalescas . Quem não lembra de “Alá-lá-ô” (“Mas que calor, ô õ ô ô ô”), “Cidade maravilhosa” (exaltação a um Rio de Janeiro que não existe mais), “Chiquita Bacana” (lá da Martinica), ‘”Eu brinco” (“com pandeiro ou sem pandeiro, com dinheiro ou sem dinheiro”, não importa, o negócio e brincar), “Ó abre alas” (primeiro sucesso de carnaval brasileiro, composto por Chiquinha Gonzaga em 1899),”A jardineira” (que ainda é muito mais bonita que a camélia que morreu)? Com direito até a “Evocação” (originalmente um frevo, sendo o maior sucesso do grande Nélson Ferreira como autor, iniciando uma série de outros seis frevos com o mesmo título). Aliás, todo o lado A é dedicado a marchinhas. No verso, a animação continua, agora com sambas antológicos: “Arrasta a sandália” (primeiro grande sucesso de Moreira da Silva, em 1932), “É com esse que eu vou” (hit dos Quatro Ases e um Coringa regravado mais tarde por Elis Regina), “Se você jurar”, “Meu consolo é você”, “Foi ela” (que na época do lançamento foi apontada como plágio do tango argentino “Muñequita”, o que jamais foi comprovado), “Não me diga adeus’ (“pense nos sofrimentos meus”), “Até amanhã” (“se Deus quiser”), “Maria boa”, “É bom parar” (na verdade uma parceria de Rubens Soares com Noel Rosa, que aceitou ficar de fora dos créditos na edição e em disco) e a inevitável despedida com ‘”Está chegando a hora”, adaptado por Henricão e Rubens Campos da valsa mexicana “Cielito lindo”. E por falar, em despedida, a Lyra de Xopotó fez a sua em 1960, com o fim do programa da Nacional, mas voltaria à cena no final dos anos 1960, gravando álbuns pela Copacabana. E agora, ó abre alas que a Lyra de Xopotó quer passar!


Marchas:
alá lá ô
jardineira
chiquita bacana
sacarrolha
piriquitinho verde
eu brinco
abre alas
evocação
pierrot apaixonado
cidade maravilhosa
Sambas:
arrasta a sandália
é com esse que eu vou
se você jurar
meu consolo é você
foi ela
não me diga adeus
até amanhã
maria boa
é bom parar
está chegando a hora

* TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

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