Jamelão – O Sucesso (1968)

Hoje o TM tem o prazer de oferecer aos seus amigos cultos, ocultos e associados uma coletânea de Jamelão (José Bispo Clementino dos Santos), sem dúvida um dos maiores e mais expressivos cantores que a música popular brasileira já teve. Ela foi lançada em 1968 pela Continental, sob o selo Musicolor, um dos braços ditos “econômicos” da gravadora).
Nosso focalizado veio ao mundo no dia 12 de maio de 1913, no bairro carioca de São Cristóvão, mais precisamente na Rua Fonseca Teles. Ali morou até os nove anos de idade, quando se mudou para o Engenho Novo com sua mãe, Dona Benvinda, que saía numa escola de samba de nome pitoresco:  Deixa Malhar! Aos dez anos, o menino José Bispo ganhou um cavaquinho, mas se identificou mesmo com o tamborim, sendo apelidado de Moleque Saruê. Na lendária Vila Isabel, onde passou a morar, ele fundou com alguns vizinhos o Clube Cajuti, onde cantava. Começou a trabalhar numa  fábrica de artefatos de borracha,onde conheceu o cantor Onéssimo Gomes,  que muito o ajudou em sua carreira. Cantou pela primeira vez em público na gafieira Fogão, lá mesmo na Vila, interpretando “Mentira carioca”, sucesso de Cyro Monteiro.  Por volta de 1940, apresentando-se na gafieira Jardim do Méier, o gerente Euclides pegou o microfone e anunciou: “Vamos ouvir o Jamelão!”, daí surgindo o apelido que o consagraria para a posteridade. Nesse tempo, eleprocurava cantar no estilo dos sambas de Cyro Monteiro e algumas das valsas de Orlando Silva, Sílvio Caldas e Gilberto Alves.  Em 1945, quando trabalhava na Fábrica de Tecidos Confiança participou de um programa de calouros na Rádio Ipanema, sem sucesso.  Novamente nessa emissora, levado por seu amigo Onéssimo Gomes, apresentou-se por algum tempo em um programa dominical produzido por Kid Pepe.  Mais tarde, participou do “Calouros em desfile”, de Ary Barroso, onde foi o primeiro calouro a interpretar o clássico “Ai, que saudades da Amélia” (Ataulfo Alves-Mário Lago)., sendo depois incluído no programa “Escada de Jacó”, do professor Zé Bacurau. A carreira profissional de Jamelão iniciou-se no Dancing El Dorado, substituindo o amigo Onéssimo Gomes, que adoecera. Quando Onéssimo sarou, este conseguiu para Jamelão um lugar de cantor em outro dancing, o Avenida.  Continuou trabalhando durante o dia na fábrica de tecidos, mas só cantou durante oito noites no Avenida, tendo sido convidado em seguida pelo baterista Duduca para ser crooner do Conjunto Brasil Danças, do saxofonista e clarinetista Luiz Americano. Em 1947, venceu um concurso promovido pela Rádio Clube do Brasil,recebndo como prêmio um contrato de um ano com a emissora.  Com o término do mesmo, passou-se para a Rádio Tupi, também se apresentando com frequência nos dancings Brasil e Farolito. Em disco, Jamelão iniciou-se em  1949, na Odeon,  participando de um disco do lendário acordeonista Antenógenes Silva, no qual interpretava as músicas “A jiboia comeu” e “Pensando nela”. Seu primeiro grande sucesso viria em 1951: “Onde vai, Sinhazinha?”, samba-canção do maestro Ivan Paulo, o Carioca. Um ano depois,transfere-se para a Sinter ,onde lança, entre outras, “Mora no assunto”, de Padeirinho e Joaquim Santos, e, em 1954, para a Continental,onde deixou a maior parte de seus sucessos, muitos permanentes em seu repertório: “Leviana”, “Deixa de moda”, “Folha morta”, ‘Ela disse-me assim”, “Exemplo” (neste LP), “Torre de Babel” (idem), “Eu agora sou feliz”, “Fechei a porta”, “Quem samba fica”, “O samba é bom assim”, “Exaltação à Mangueira”, “Matriz ou filial”etc. Em 1952, como crooner da Orquestra Tabajara de Severino Araújo, participou de uma festa promovida por Assis Chateaubriand, proprietário dos Diários e Emissoras Associados, no castelo do estilista de moda Jacques Fath, em Corbeville, França.  Entre 1952 e 2006, foi puxador de samba-enredo da Mangueira,  sua escola de coração, tendo sido agraciado várias vezes com o prêmio Estandarte de Ouro, do jornal “O Globo”, em sua categoria. Durante seis anos, foi diretor de harmonia do programa de TV “Rio dá samba”,  apresentado pelo compositor João Roberto  Kelly na Tupi e, depois, na Bandeirantes. Lupicínio Rodrigues considerava Jamelão seu melhor intérprete, e ele até gravou dois álbuns com suas composições.  Seu último trabalho em disco foi o CD “Cada vez melhor”,lançado em 2002 pela Obi Music.  Diabético e hipertenso, Jamelão sofreu dois AVCs e teve problemas pulmonares, vindo a falecer no dia 14 de junho de 2008, em seu Rio natal, aos 95 anos,por falência múltipla de órgãos, e seu corpo foi sepultado no Cemitério São Francisco Xavier,no bairro do Caju. Mas seu trabalho musical ficaria para sempre na memória de muitos. Nesta compilação, foram reunidas doze faixas gravadas por Jamelão na primeira metade da década de 1960. Do disco “Jamelão canta para enamorados”, de1962, foram pinçadas: a regravação de “Foi assim” (Lupicínio Rodrigues,lançada dez anos antes por Linda Batista), “Fim de jornada”, “Meu Natal” (outra composição de Lupi, cujo verso inicial, “Eu fui um dos nenéns mais bem ninados deste mundo”, é considerado um achado) e “O amor é você”. Do álbum “O samba é bom assim – A boate e o morro na voz de Jamelão” (1960), são “Solidão” (conhecidíssimo samba-canção de Guaxinim e Floriano Mattos), e outro clássico de Lupicínio Rodrigues, “Exemplo”, que o poeta gaúcho fez por ocasião de seus dez anos de casamento com Dona Cerenita. Do disco “Jamelão e os sambas mais” (1961) são “Mais do que amor” e “Você é gelo”.  Do álbum “Sambas para todo gosto” (1963) é ”Torre de Babel”, mais um clássico samba-canção de Lupicínio Rodrigues, fruto de uma das inúmeras complicações amorosas em que, invariavelmente, o compositor se metia.  Desse mesmo disco é “Retrato do morro”, uma das primeiras composições gravadas de Nonato Buzar, aliás falecido em fevereiro deste 2014. Por fim, do LP “Aqui mora o ritmo” (de 1964 e não de 62, como listado por aí), são “Um minuto de silêncio” e “Flores, estrelas e mulheres”. Enfim, uma amostra bastante expressiva do trabalho de Jamelão, que foi grande em tudo que fez em matéria de samba, tanto alegre quanto romântico. Para ouvir sem falta!
solidão
fim de jornada
foi assim
torre de babel
meu natal
o amor é você
exemplo
mais do que o amor
você é gelo
um minuto de silencio
retrato do morro
flores, estrelas e mulheres
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Texto  de SAMUEL MACHADOFILHO.

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