O Som Brasileiro Do Bamerindus (1981)

Em 1929, ano de grave crise financeira mundial, o empresário e político Avelino Antônio Vieira  resolveu fundar uma empresa bancária na cidade paranense de Tomazina, em sociedade com amigos: o Banco Popular e Agrícola do Norte do Paraná, incorporado, em 1944, ao Banco Comercial do Paraná, do qual Avelino tronou-se diretor comercial. Em 1951, Avelino Vieira comprou o Banco Meridional da Produção, que tinha apenas quatro agências, mudando seu nome para Banco Mercantil e Industrial do Paraná, que ficaria conhecido pela sigla Bamerindus. Tanto que, em abril de 1971, a empresa passou a ser Banco Bamerindus do Brasil S.A., e tornou-se uma das maiores  instituições do setor na América do Sul durante os anos 1970/80. Quem não se lembra do jingle “O tempo passa, o tempo voa, e a Poupança Bamerindus continua numa boa”?  Ou então da série de minidocumentários “Gente que faz”, patrocinada pelo banco e veiculada em horário nobre da televisão, que teve 230 episódios, e foi até premiada? Entretanto, nos anos 90, o Bamerindus entrou em dificuldades financeiras  e acabou liquidado pelo Banco Central, sendo parte de seu espólio incorporada pelo HSBC, de capital britânico (mais tarde, o HSBC é quem deixaria o Brasil, sendo suas agências incorporadas pelo Bradesco, processo esse ainda não concluído quando da elaboração desta resenha). Agora, o TM oferece a seus amigos cultos, ocultos  e associados um raríssimo álbum oferecido como brinde aos clientes do extinto banco da família Andrade Vieira. É “O som brasileiro do Bamerindus”, produzido como parte da campanha “Integração”, criada pela agência de publicidade Umuarama, e lançada em 1981 nas emissoras de rádio de todo o Brasil, aproveitando regionalismos e outras características próprias de determinadas cidades e estados. O objetivo era mostrar a proximidade do Bamerindus com a cultura local, e o presente álbum se enquadra nele perfeitamente. Nessa época, o principal garoto-propaganda do banco (e também seu cliente) era o eterno Rei do Baião, Luiz Gonzaga, que participa com duas faixas, a de abertura (“O homem da terra”, que foi até jingle do Bamerindus) e a de encerramento (“Erosão”), tendo na sanfona, em ambas, o não menos eterno Dominguinhos. São, ao todo, dez faixas, com arranjos de Luiz Arruda Paes, Nélson Ayres, Heraldo do Monte e Luiz Roberto, e ainda contando com as participações especiais do acordeonista Oswaldinho e do regional de Evandro. A capa dupla é muitíssimo bem ilustrada, e tem um ótimo texto de apresentação do pesquisador e jornalista  Zuza Homem de Mello, que nessa época também apresentava o programa “Com música nas veias”, na Rádio Jovem Pan AM de São Paulo. Este foi também um dos primeiros lançamentos (se não o primeiro) da gravadora Som da Gente, criada pelo casal de músicos Walter Santos e Tereza Souza (autores, por sinal, de todas as faixas deste álbum que o TM hoje oferece), e até hoje referência obrigatória quando se fala em produção musical independente.  Enfim, um trabalho primoroso, de qualidade, sob medida para quem aprecia o que há de melhor em nossa música popular.

homem da terra

para sempre

natal

homem de palavra

vinte e cinco anos

um grande abraço

amanhã, com certeza

viver a vida

essas coisas simples

erosão

*Texto de Samuel Machado Filho

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