Luiz Eça & Cordas (1965)

Hoje, o TM põe em foco mais um nome importantíssimo de nossa música popular, atuando como pianista, compositor, músico e arranjador. Estamos falando de Luiz Mainzi da Cunha Eça, ou simplesmente Luiz Eça, como ficou para a posteridade. Ou ainda Luizinho, como era chamado carinhosamente pelos amigos. Embora nascido no Rio de Janeiro, em 3 de abril de 1936, Luiz Eça era descendente do escritor português Eça de Queiroz, e foi tão importante para a música, tanto popular quanto erudita, quanto seu ilustre antepassado para a literatura. Seu primeiro contato com a música deu-se aos quatro anos de idade, quando ganhou de presente um pianinho de brinquedo.  A sua primeira professora foi a pianista russa Zina Stern, amiga de seus pais, que lhe ensinou durante quatro anos as técnicas de piano das escolas francesas e russas. Aos catorze anos, após um período de muita brincadeira e pouca música, voltou aos estudos sistemáticos, e apresentou seu primeiro recital, no Conservatório Brasileiro de Música, e também fez seu primeiro baile, no Clube Caiçaras, na Lagoa. Nessa época, início dos anos 1950, ocasião em que estudava no Colégio Mallet Soares, em Copacabana, passa a ter aulas de piano com aquela que ele próprio considerava sua grande mestra, Madame Petrus Verdier. Em 1951-52 atuou na lendária Rádio Nacional, junto com Garoto, o mago das cordas, com quem inclusive participou de algumas rodas de choro no sítio que ele possuía em Areal, RJ. Aos 17 anos, em 1953, passa a atuar como pianista na boate do Hotel Vogue, autêntico reduto da “high society” carioca, onde tinha grande trânsito com os estrangeiros que lá se hospedavam, por falar fluentemente inglês, francês e espanhol (com essa idade, Luiz só podia tocar na noite com permissão judicial).  Um ano mais tarde, ingressa no conjunto do acordeonista Sivuca, que seria seu amigo para o resto da vida e, depois, forma o Trio Penumbra, com Candinho ao violão e Jambeiro ao contrabaixo, que fazia apresentações na Rádio Mayrink Veiga.  Em 1955, como pianista do Trio Plaza, integrado ainda por Ed Lincoln no contrabaixo e Paulo Ney na guitarra, Luiz Eça faz sua estreia fonográfica, quando a etiqueta Rádio lança o LP “Uma noite no Plaza”. Depois desse álbum, Luiz Eça ganhou uma bolsa de estudos do então presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira, para estudar em Viena, capital da Áustria, onde teve aulas, entre outros grandes professores, com o pianista e compositor Friederich Guida. De volta ao Brasil, em 1962, Luizinho forma um dos mais importantes conjuntos da bossa nova: o Tamba Trio, ao lado do contrabaixista Bebeto e do baterista Hélcio Milito, sendo os três também vocalistas. O Tamba Trio foi, inclusive, o primeiro a fazer “pocket-shows” no Bottle’s Bar, que ficava no lendário Beco das Garrafas, catedral da bossa nova no Rio de Janeiro, e ainda fez excursões pela América do Norte e pela Europa.  Luiz Eça acompanhou e fez arranjos para muitos dos mais importantes nomes da MPB a seu tempo, como Maysa, Nara Leão, Carlos Lyra, Sylvia Telles, Edu Lobo, Mílton Nascimento, Flora Purim, Joyce Moreno, João Bosco, Luiz Gonzaga  e Nana Caymmi, entre tantos outros. Foi ainda professor de jovens músicos e atuou como pianista na casa noturna Chiko’s Bar, onde também gravou um disco ao vivo com um de seus maiores amigos, o pianista de jazz norte-americano Bill Evans, em 1979. Luiz Eça faleceu em 25 de maio de 1992, em seu Rio de Janeiro natal, aos  56 anos, de infarto fulminante, deixando, como se vê, um extenso currículo de serviços prestados à música brasileira. Dele, o TM oferece, orgulhosamente, a seus amigos cultos, ocultos e associados, o álbum que é talvez sua maior obra-prima. Trata-se de “Luiz Eça & cordas”, lançado em  1965 pela Philips. Produzido pelo próprio Luizinho, que, claro, está também ao piano, este disco contém primorosos arranjos (dele próprio, naturalmente)  para composições suas e de outros grandes nomes da bossa nova, como Edu Lobo, Baden Powell, Robereto Menescal e Durval Ferreira. Obras como “A morte de um deus de sal”, “Chegança”, “Primavera” e “Tristeza de nós dois” ganham roupagem de gala, com grande orquestra de cordas e participação do contrabaixista Bebeto, seu companheiro de Tamba Trio, do violonista Neco e do baterista Ohanna.  A contracapa do disco reproduz, inclusive, um entusiasmado telegrama de parabéns do então diretor artístico da Philips, Armando Pittigliani. Tudo isso faz de “Luiz Eça & cordas” um trabalho de qualidade inquestionável, merecedor, por todos os títulos, de mais esta postagem do nosso TM.É só conferir…

morte de um deus de sal

imagem

canção da terra

tristeza de nós dois

velho pescador

canção do encontro

chegança

primavera

consolação

saudade

quase um deus

amando

*Texto de Samuel Machado Filho

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