Elvira Rios – Noche De Ronda (1957)

Confesso que tive uma certa dúvida, ao receber este disco para resenhar, se poderia ou não fazê-lo (antes de saber que teríamos uma semana temática, dedicada a música latinoamericana). A maioria esmagadora dos álbuns postados pelo nosso TM é de produção exclusivamente brasileira, e este aqui foi gravado no México. Mas, como diz o ditado, “toda regra tem sua exceção”. Portanto, aqui vai hoje, para nossos amigos cultos, ocultos e associados, um álbum de Elvira Rios, primeira cantora mexicana a obter sucesso internacional na era de ouro dos boleros românticos, lançado em 1957 pela RCA Victor. Foi lá mesmo na cidade do México, a capital do país, que  María Elvira Gallegos Rios veio ao mundo, no dia 16 de novembro de 1913. Desde muito cedo, ela manifestou o vivo desejo de ser  cantora. Assim, bem jovem, e sem receio algum, apresentou-se para um teste perante o poderoso Emílio Azcarraga, diretor da Rádio XEW (um dos embriões do poderoso conglomerado Televisa).  Devidamente aprovada e contratada, ali apresentou-se durante um ano e meio em três programas diários de 15 minutos cada. Em 1937, apareceu pela primeira vez no cinema, cantando no filme mexicano “Esos hombres!”. Manuel Riachi, então assistente de Arthur Hornlow Jr., dos estúdios Paramount, de Hollywood, gostou da voz de Elvira e a indicou a ele, o que possibilitou a Elvira sua primeira aparição como atriz, no filme “Feitiço do trópico (Tropic holiday)”, de 1938, estrelado por Ray Milland e Dorothy Lamour. Em seguida, Elvira apresentou-se na casa noturna La Martinique, de Nova York, conquistando o público com sua voz grave, quente, sincera e dramática, e sua figura misteriosa e desesperadamente romântica, ressaltada por seu tipo de índia. No início de 1939, apresentou-se no luxuoso Miami-Biltimiros, e, ao voltar para Nova York, fez suas primeiras gravações, para a Decca, que marcaram época e ainda hoje são bastante apreciadas, com arranjos de José Morand e Nuno Morales. Em Hollywood, participou ainda dos filmes “No tempo das diligências (Stagecoach)”,  “Cupid rides the range” e “A verdadeira glória (The real glory”), os três de 1939. Ao voltar para o seu México, em gozo de merecidas férias, Elvira teve a satisfação de ser precedida pelos ecos de seus sucessos alcançados nos EUA, um mercado artístico sempre difícil, em especial para os latinos. E sua carreira de grande estrela da canção latino-americana prosseguiu por vários países. Na Argentina, filmou “Vem! Meu coração te chama” (1942) e “Tango vuelve a Paris” (1948). Em seu México de origem, atuou ainda no filme “Murallas de pasión” (1942). É claro que Elvira também ficou bastante conhecida aqui no Brasil, onde foi atração no Cassino da Urca e, na década de 1950, chegou a gravar um LP de dez polegadas na Musidisc, uma das pioneiras do vinil em território tupiniquim. Elvira Rios faleceu em seu México natal no dia 13 de janeiro de 1987, aos 73 anos de idade. Entretanto, sempre terá o carinho daqueles que não entendem a vida sem o romantismo, mesmo que para sofrer as consequências do amor feito de desencontros. Sendo assim, é digna merecedora  da postagem de hoje do TM, com este “Noche de ronda”. A faixa-título e de abertura  tem sido creditada a Maria Tereza Lara, irmã de Agustin Lara, mas na verdade é dele próprio, que a registrou em nome da “hermana”. Ao longo das catorze faixas, acompanhada pela orquestra de Chucho Zarzosa, Elvira nos traz um repertório com belas páginas da música popular latino-americana, compostas por nomes do quilate de Maria Grever (“Ya no me quieres”), Gonzalo Curiel (“Me aguerdo de ti”, “Calla tristeza”, “Noche de luna”), Mário Clavel (“Mi carta”, “Desencuentro”)  e Consuelo Velasquez (“Franqueza”).  E, de Agustin Lara, ela ainda interpreta “Santa” e “Janitzio”. Em suma, este disco é um prato cheio para os fãs da melhor música romântica latino-americana, oferecida pela inesquecível Elvira Rios em brilhantes interpretações. Para ouvir e sonhar…

noche de ronda
una mujer
santa
franqueza
ya no me quieres
canciones de guly cardenas
me acuerdo de ti
mi carta
janitzio
calla tristeza
desencuentro
noches de luna

*Texto de Samuel Machado Filho

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