Jacob Do Bandolim 7 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol 54 (2013)

E chegamos à edição número 54 do Grand Record Brazil. Uma trajetória muito boa, mas certamente iremos muito além, graças a vocês, nossos amigos cultos, ocultos e associados que tanto nos prestigiam. Aqui, encerramos a nossa retrospectiva dedicada ao mestre Jacob do Bandolim, apresentando mais preciosos fragmentos extraídos de suas apresentações radiofônicas.
Nas primeiras faixas, apresentamos excertos de uma apresentação feita por Jacob na Rádio Bandeirantes de São Paulo, então conhecida como “a mais popular emissora paulista”, no ano de 1962, quando a emissora funcionava em um prédio da Rua Paula Souza, zona cerealista da capital bandeirante, com apresentação de um importantíssimo nome da radiofonia paulistana, Moraes Sarmento. Abrindo o programa, a clássica valsa “Revendo o passado”, de Freire Júnior, cuja primeira gravação, apenas instrumental, surgiu em 1926, a cargo da Banda da Casa Edison. Em 1933, surgiu o primeiro registro cantado, na voz de Augusto Calheiros (“a patativa do Norte”). Tem várias outras gravações, e é lembrada até hoje. Depois vem o choro “Ingênuo”, que, segundo o próprio Pixinguinha, era, de todas as músicas que compôs, a que mais admirava. Sua primeira gravação surgiu em 1947, num daqueles famosos duetos entre o sax do mestre Pizindim e a flauta de Benedito Lacerda (que entrou como co-autor por conta de um acordo comercial que havia entre ambos). Peça inclusive regravada pelo próprio Jacob, em 1967, no álbum “Vibrações”. Logo depois, Moraes Sarmento lê trechos da resposta de Jacob a uma carta de 19 (!) páginas, enviada a Jacob em 1968 (na qual ele é até chamado de driblador de enfartes), lamentando o descaso das rádios, televisões e gravadoras a seu trabalho e a de outros de sua geração que ainda estavam vivos. Revela, inclusive, que a RCA havia preparado os LPs-coletâneas “Era de ouro” e “Assanhado” na época em que sofreu um enfarte (março de 1967), e pretendia lançá-los tão logo o mago do bandolim falecesse, o que só aconteceria dois anos mais tarde (os álbuns, claro, saíram ainda em vida do mestre). E, claro, agradece a todos os que então o prestigiavam, e que ainda o estimulavam a permanecer na ativa. Lembrava que numa entrevista dada ao jornal “O Tempo”, de São Paulo, em 1953-54, o choro acabaria em 10 anos. Ele parecia ter acertado, pois, de fato, o choro teve momentos de decadência, mas ainda hoje permanece vivíssimo, e felizmente o mago do bandolim errou esta profecia.
Voltaremos em seguida a 1946, mais precisamente aos tempos em que o grande Almirante apresentava o programa “Pessoal da velha guarda”, na Rádio Tupi do Rio de Janeiro (“o cacique do ar”). Aqui, Jacob interpreta dois choros de sua autoria, muitíssimo bem apoiado pelo regional de Benedito Lacerda mais o sax de Pixinguinha: “Remelexo” e “Treme-treme”, por ele lançados, respectivamente, em 1948 e 1947, na Continental. Jacob, claro, também passou pela lendária Rádio Nacional, e, acompanhado pela orquestra da emissora, apresenta, de Hervê Cordovil (mineiro de Viçosa e autor de clássicos como “Cabeça inchada”, “Sabiá na gaiola” e “Rua Augusta”), a “Valsa simples”, ao que parece jamais levada a disco comercial.
Logo depois, apresentamos participações do bandolim do mestre Jacob em gravações marcantes e expressivas, todas da RCA Victor. A primeira é a que Dorival Caymmi fez para seu clássico samba-canção “Marina”, em 11 de julho de 1947, com lançamento em agosto seguinte sob n.o 80-0536-A, matriz S-078762. “Marina” foi uma coqueluche na época, e recebeu três gravações anteriores nesse mesmo ano: Francisco Alves (Odeon), Dick Farney (Continental, tida como a de maior êxito) e Nélson Gonçalves (também na RCA Victor). O clássico choro “Doce de coco”, lançado pelo próprio Jacob em 1951, aqui aparece cantado por Isaura Garcia, “a personalíssima”, com letra do mestre caipira João Pacífico, gravada na marca do cachorrinho Nipper em 10 de setembro de 1954, com lançamento em dezembro seguinte, disco 80-1389-A, matriz BE4VB-0571. Porém, a letra mais conhecida feita para “Doce de coco” é a de Hermínio Bello de Carvalho, por certo posterior a esta aqui. No outro lado, matriz BE4VB-0572, Isaurinha canta o samba “Sou paulista”, de Jayme Florence (o violonista Meira dos regionais) e Augusto Mesquita, também responsáveis pelo clássico “Molambo”. Depois vem a regravação feita por Luiz Gonzaga para seu primeiro grande sucesso como solista de sanfona: o “xamego” Vira e mexe”, feita em 5 de janeiro de 1950 e lançada em março seguinte. O disco (34748-B) e a matriz (52155) receberam os mesmíssimos números do original, que é datado de 1941. A matriz de cera teve tantas cópias prensadas que ficou totalmente inutilizada, o que obrigou Gonzagão a fazer este novo registro, agora com o reforço do bandolim do grande Jacob. A diferença é que, no original, o lado A tinha a valsa “Saudades de São João del Rei”, e aqui, a faixa que acompanha “Vira e mexe” é o baião “Qui nem jiló”, do próprio Gonzagão e Humberto Teixeira.
Para finalizar, apresentamos trechos do programa “Jacob e seus discos de ouro”, da Rádio Nacional, o último que fez em vida, gravado exatamente um dia antes de seu falecimento, 12 de agosto de 1969, e que seria apresentado no dia 15, o que evidentemente não aconteceu. A apresentação é feita pela Voz da América, emissora sediada na capital dos EUA, Washington, dentro do programa “Galeria musical da América”. É com essa apresentação que encerramos esta retrospectiva do GRB dedicada a Jacob do Bandolim, um mestre das cordas como poucos, e cuja saudade ainda dói na gente!
TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

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