Celly Campello – Brotinho Encantador (1961)

O Toque Musical traz hoje para seus amigos cultos, ocultos e associados um disco da primeira grande estrela feminina do rock brasileiro: Célia Benelli Campello, ou como ficou para a posteridade, Celly Campello (São Paulo, 18/6/1942-Campinas, SP, 4/3/2003). Paulistana criada em Taubaté, cidade da região paulista do Vale do Paraíba, ela fez sua primeira aparição pública aos 5 anos de idade, em um espetáculo mirim de balé, dançando “Tico-tico no fubá”. Aos seis anos, cantou pela primeira vez, ao microfone da Rádio Cacique. Paralelamente, estudava  balé, piano e violão, e tornou-se uma das estrelinhas do “Clube do Guri”, apresentado aos domingos na Rádio Difusora de Taubaté. Aos 12 anos, ganhou seu próprio programa, na Cacique. Aos 16 anos incompletos, em 1958, ela estreou em gravações, na Odeon, interpretando “Handsome boy”, tendo, no outro lado do 78 (também lançado em compacto simples de 45 rpm, aliás o primeiro single brasileiro da gravadora), “Forgive me”, com o irmão, Tony. O estouro definitivo, porém, veio em março de 1959, quando saiu o clássico “Estúpido Cupido (Stupid Cupid)”, versão de Fred Jorge para um hit de Neil Sedaka, que logo tornou-se coqueluche nacional. Daí vieram outros sucessos até hoje lembrados, tais como “Lacinhos cor de rosa”, “Muito jovem”, “Banho de lua”, “Túnel do amor”, “Eu não tenho namorado”, “Frankie”, “Jingle bell rock”, “Trem do amor”, etc. Em 1962, para tristeza de seu público, Celly resolve abandonar precocemente a carreira para se casar, ainda no apogeu e com vinte anos de idade. Ainda gravaria outros discos em ocasiões esporádicas, mas sem repetir o êxito inicial. Só conseguiu voltar à evidência em 1976, quando a novela “Estúpido Cupido”, escrita por Mário Prata para a TV Globo, e ambientada em 1961, reviveu antigos sucessos dela e de outros contemporâneos, como Carlos Gonzaga, Ronnie Cord, Wilson Miranda, Sérgio Murilo, Demétrius e o irmão Tony. A própria Celly declarou à imprensa, certa vez, que chegou a ganhar mais dinheiro nos seis meses de exibição da novela do que no auge da carreira! “Brotinho encantador”, o álbum hoje oferecido a vocês pelo TM, foi o quinto LP-solo de Celly Campello e o último que ela fez antes de abandonar precocemente a carreira para se casar, lançado pela Odeon em outubro de 1961. É um trabalho que segue a linha dos anteriores, recheado de versões de sucessos do rock internacional, com direito até a algumas faixas em inglês (“Runaway”, “Little devil”, “Angel , angel”). A primeira faixa, “Presidente dos brotos”, é uma versão bem humorada do especialista Fred Jorge, curiosamente lançada quando o Brasil vivia em regime parlamentarista de governo, decretado após grave crise política causada pela renúncia do presidente Jânio Quadros,e a tentativa de impedir a posse do vice, João Goulart, que acabou assumindo a chefia da nação com poderes limitados. Fred assina quatro outras versões constantes aqui: “Índio sabido” (que, curiosamente, era bastante apreciada pelo cantor Cyro Monteiro!), “Ordens demais”, “Tchau, baby, tchau” e “O jolly joker”.  A misteriosa Marilena assina a lírica “A lenda da conchinha”. Letras brazucas de Juvenal Fernandes (“Juntinhos/Together”), Romeu Nunes (“Flamengo rock”)  e do misterioso Tassilo Marischka (“Hey, boys, how do you do?”) completam o presente LP, muito bem escorado por arranjos e regências de Waldemiro Lemke e Mário Gennari Filho, e pelo invejável padrão técnico de gravação da Odeon nessa época. “Brotinho encantador”, portanto, traz uma Celly Campello ainda em plena forma, tendo por isso, inestimável valor histórico. É ouvir e recordar…

presidente dos brotinhos

índio sabido

juntinhos

ordens demais

tchau tchau tchau

runaway

flamengo rock

o jolly joker

angel angel

hey boys how do you do

a lenda da conchinha

little devil

.

*Texto de Samuel Machado Filho

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