Dick Farney – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 102 (2014)

Prosseguindo sua longa e auspiciosa trajetória de sucesso, o Grand Record Brazil, “braço de cera” do Toque Musical, chega à sua centésima-segunda edição reverenciando mais um grande nome de nossa música popular, criador de páginas inesquecíveis de nosso cancioneiro e autêntico precursor da bossa nova. Estamos falando de Dick Farney.  Farnésio Dutra e Silva (seu nome de batismo) nasceu no Rio de Janeiro em 14 de novembro de 1921. Oriundo de família rica, teve apenas um irmão, Cyleno, que viria a ser famoso galã do cinema tupiniquim com o nome de Cyll Farney e chegou a tocar bateria nos primeiros conjuntos do jovem Dick. Seus pais cultivavam a música clássica: o pai era pianista, e a mãe cantava. Dick faria o curso de teoria musical na Escola Nacional de Música, e estudaria canto com Diva Pasternack. Essa formação clássica não o impediria de se passar para o piano jazzístico, já que sempre foi um apaixonado pela música norte-americana, com influências especialmente do piano de Nat King Cole e da voz de Bing Crosby. Em 1934, com 12 anos, o pré-adolescente Dick se apresentou na Rádio Guanabara, executando o “Prelúdio n.o 7” de Chopin. Em 1936, no programa “Picolino”, de Barbosa Júnior, tocou a “Dança ritual do fogo”, de Manuel  de  Falla, e a “Canção da Índia”,  de Korsacov. Um ano depois, estreia como cantor, na  Rádio Cruzeiro do Sul, interpretando “Deep purple”, de  David Rose. Em 1938, foi até a Rádio Mayrink Veiga, levando um disco seu particular, ouvido por César Ladeira, então diretor artístico da emissora (ele pensou que estava ouvindo Bing Crosby, tal a semelhança vocal). A coisa, claro, resultou em contrato, de quatrocentos mil-réis por mês, e um programa exclusivo, “Dick Farney, a voz e o piano” . Dois anos mais tarde, transferiu-se para a poderosa e lendária PRE-8, Rádio Nacional. Entre 1941 e 1944, Dick também se integrou à orquestra de Carlos Machado, no Cassino da Urca, como pianista e cantor. Ainda em 44, gravou seu primeiro disco, pela Continental, com músicas norte-americanas, ao qual seguiram-se mais quatro em inglês. Seu primeiro disco com música brasileira, o sexto, só viria agosto de 1946, com o clássico “Copacabana” (nesta seleção), pontapé inicial para inúmeros outros hits, entre os quais estão “Ponto final”,”A saudade mata a gente”, “Marina”, “Somos dois”, “Um cantinho e você”, “Alguém como tu”, “A fonte e o teu nome’, “Grande verdade”, “Este seu olhar”, “Perdido de amor”, “Tereza da praia” (dueto com Lúcio Alves), “Você” (dueto com Norma Bengell) e os presentes nesta edição do GRB, muitos dos quais regravados por ele mesmo inúmeras vezes. Em fins de 1946, após um encontro com o maestro Bill Hitchcock e o pianista Eddie Duchin no Copacabana Palace Hotel, Dick Farney embarca para os EUA, onde permanece por dois meses, visando conhecer o ambiente musical  de lá e travar amizade com vários artistas, seus ídolos. Quase em seguida, meados de 1947, volta à terra do Tio Sam, preso a um contrato de 56 semanas com os cigarros Philip Morris, então patrocinador de programas da NBC (National Broadcasting Company), entre eles o do prestigiado comediante Milton Berle, no qual atua como intérprete fixo. Nessa ocasião, Dick Farney grava alguns discos na Majestic, vindo a ser o criador de um clássico norte-americano, o  fox “Tenderly”, de Jack Lawrence e Walter Gross. Ao desembarcar no Rio de Janeiro, já um astro, Dick assina vultoso contrato com a PRG-3, Rádio Tupi (“o cacique do ar”), recebendo a soma de trinta mil cruzeiros por mês! Em 1948, admiradores do jazz norte-americano fundaram o Sinatra-Farney Fã Clube, histórico reduto pré-bossanovista, tendo entre seus frequentadores ilustres o compositor e pianista João Donato, e a cantora Nara Leão. Dick atuou também no cinema, participando dos filmes  “Somos dois” (Cinédia, 1950), no qual contracenava e cantava, mas que não lhe deixaria boas lembranças, “Carnaval Atlântida” (1952) e “Perdidos de amor” (Cinelândia Filmes, 1953). O currículo internacional de Dick Farney inclui também a Argentina, onde esteve duas vezes, em 1949 e 1951, atuando na Rádio El Mundo e na Boate Embassy de Buenos Aires, sendo conhecido pelos portenhos como “el Bing Crosby brasileño”. Em 1956/58 retorna a Nova York, EUA, a fim de se apresentar no Hotel Waldorf Astoria. Durante seis meses, ainda se apresentou  em Cuba, República Dominicana e Porto Rico. Nos anos seguintes, continua somando mais e mais admiradores, com uma discografia de mais de vinte LPs, e apresentações principalmente na noite, chegando até a ser dono de casas noturnas, a Farney’s e a Farney’s Inn, ambas em São Paulo, cidade para a qual se muda em 1959. Nessa época, apresenta o programa “Dick Farney show”, na TV Record, e mais tarde constrói uma bela casa nas cercanias da Represa Billings, projetada por ele mesmo e sua terceira mulher.  É também um dos pioneiros da TV Globo do Rio de Janeiro, inaugurada em 1965, apresentando, ao lado da atriz Betty Faria, o programa ‘Dick e Betty”. Por volta de 1979, Dick Farney deixa de atuar na noite, por achar que o público não era mais o mesmo, porém continuando a gravar e a se apresentar em ocasiões especiais, como em 1981, no Ópera Cabaré, em São Paulo,numa noite recebendo seu amigo Lúcio Alves, com quem gravara, em 1954, o clássico “Tereza da praia”, de Tom Jobim e Billy Blanco. Por essa época, já se dedicava à pintura, uma antiga paixão que finalmente podia desenvolver, e com talento. Dick Farney morreu no dia 4 de agosto de 1987, em São Paulo, aos 65 anos, de edema pulmonar. Deixou, porém, um invejável legado musical. Dele, o GRB foi buscar 14 gravações de seus primeiros anos de carreira, todas feitas na Continental, sua primeira gravadora.  Abrindo a seleção desta semana, temos o fox “What’s new?”, de Bob Haggart e Johnny Burke, de seu segundo disco, número 15186-A, lançado em agosto de 1944, matriz 819, grande hit na voz de Farney entre nós. Do primeiro disco, n.o 15180, lançado em junho do mesmo ano, foi escalado outro fox, também lado A, “The music stopped”, de Harold Adamson e Jimmy McHugh, matriz 839. A faixa 3, já com música brasileira, é o samba-canção “Ela foi embora”, do organista Djalma Ferreira em parceria com Oscar Belandi, lançado pela então “marca dos sininhos” em setembro de 1946, matriz 1543. Na faixa 4, o clássico que abriu definitivamente as portas do sucesso para Dick Farney: “Copacabana”, de João de Barro (Braguinha) e Alberto Ribeiro, gravado em 2 de junho de 46 e lançado em agosto do mesmo ano com o número 15663-A, matriz 1509. O samba tinha sido feito sob encomenda para um filme norte-americano de mesmo nome,mas acabou não entrando no mesmo. Claro que os puristas consideraram a interpretação de Dick Farney por demais americanizada, calcada em Bing Crosby, mas a interpretação e o acompanhamento, feito por orquestra de cordas, com regência de Eduardo Patané, passaram a se constituir modelo de sofisticação para nossa música popular. “Foi e não voltou”, de Oscar Belandi e Chuca-Chuca, é outro samba-canção típico dessa época, que Dick Farney gravou acompanhando-se ao piano em 19 de abril de 1947, com lançamento em junho seguinte sob número 15783-B, matriz 1655. O que ocorre também na faixa seguinte, “Esquece”, de autoria do cantor Gilberto Milfont, sendo que desta vez Dick está acompanhado de Betinho (Alberto Borges de Barros, autor e intérprete de “Enrolando o rock” e do fox “Neurastênico”, entre outras) e Juvenal. Também samba-canção, gravado em 29 de maio de 1948 e lançado entre julho e setembro do mesmo ano, disco 15927-A, matriz 1869. “Meu Rio de Janeiro”, uma das muitas homenagens musicais já prestadas  à “cidade maravilhosa” e então capital do Brasil, é um samba de Oscar Belandi e Nélson Trigueiro, em registro feito na mesma sessão de “Esquece” e editado pela Continental  no mesmíssimo suplemento, sob número 15917-A, matriz 1867. A 24 de maio desse mesmo ano de 1948, Dick grava o samba-canção “Ser ou não ser”, de José Maria de Abreu (também regente da orquestra que o acompanha) e Alberto Ribeiro, outra expressiva página de seu repertório, que a Continental lançará também entre julho e setembro desse ano, com o número 15916-A,matriz 1858. Cinco dias depois, na mesmíssima sessão de “Meu Rio de Janeiro” e “Esquece”, Dick imortaliza o samba “Olhos tentadores”, de Oscar Belandi e  Chico Silva, matriz 1868, mas que a Continental só traz para as lojas em março-abril de 1949, com o número 16008-B. Entre julho e setembro desse mesmo ano de 49, é lançado pela “marca dos sininhos” outro clássico do samba-canção (então predominante nessa época pré-bossa nova, como percebem), “Sempre teu”, da festejada dupla José Maria de Abreu-Jair Amorim, com o número 16083-B, matriz 2099. Para os festejos natalinos desse 1949, entre outubro e dezembro, Dick Farney lança uma canção muito apropriadamente chamada “Feliz Natal” (mais conhecida como “Noite azul”, primeiro verso da letra),um dos inúmeros hits da dupla Klécius Caldas-Armando Cavalcanti, com o número 16123-A,matriz 2173, que a Continental relançará em 1955 sob número 17230-B. Do multi-instrumentista Garoto (Aníbal Augusto Sardinha), verdadeiro mágico das cordas, é o samba-canção seguinte, parceria com José Vasconcelos (seria o humorista?), “Nick Bar” (também  nome de peça teatral e de um bar de São Paulo, então instalado na  Rua Major Diogo, ao lado do TBC, Teatro Brasileiro de Comédia, onde os artistas que lá se apresentavam sempre apareciam para tomar um drinque após as funções). O próprio Garoto está no acompanhamento deste registro de Farney, ao lado de Vero (Radamés Gnattali), Vidal e Trinca, com lançamento pela Continental entre outubro e dezembro de 1951, disco 16479-B, matriz 2718. “Ranchinho de palha”, samba romântico, igualmente tendendo para o samba-canção, é de outro violonista e compositor de renome, Luiz Bonfá, e Dick Farney o imortalizou na Continental em 27 de março de 1951, com lançamento em maio-junho seguintes, sob n.o 16412-A, matriz 2596. Para finalizar, uma gravação feita por Dick em Buenos Aires, capital da Argentina, nos estúdios da TK, gravadora que então representava a Continental naquele país (e que a empresa brazuca, por tabela, representava aqui). É outro samba-canção de Luiz Bonfá, “Sem esse céu”, lançado no Brasil entre setembro e dezembro de 1952 com o número 16659-A, matriz IB-260/52, tendo no acompanhamento o organista Jorge Kenny. Enfim, um pouco do vasto e expressivo legado de Dick Farney, com justiça um dos imortais de nossa música popular.
Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Dick Farney – No Waldorf (1960)

Boa noite, prezados amigos cultos e ocultos! Segue aqui mais um grande disco, mais um álbum do Dick Farney. Por certo, entre os garimpeiros, esta é uma pedra já bem tocada. Muitos blogs e outras fontes já o divulgaram em outras épocas. Para que a chama não se apague, vou dar a minha colaboração por seis meses. Depois, não adianta pedir reposição. Como sempre digo, a fila anda…
Segue assim, “Dick Farney no Waldorf”, um álbum que reúne uma série de músicas apresentadas por ele em sua temporada no famoso hotel Waldorf Astoria, de New York City. São dez músicas, um repertório, claro, de clássicos do jazz. Mas cabe também a belíssima “Não Tem Solução”, música de Dorival Caymmi e Carlos Guinle. E ainda “Waldorf Blues”, do próprio Dick Farney. Sem dúvida, um excelente disco!
Quem gosta de Dick Farney, fique atento. Segunda é dia dele no “Grand Record Brazil”, com a sempre completa resenha do nosso amigo Samuel Machado Filho. Fiquem ligados!

these foolish things
jeepers creepers
over the rainbow
all of me
you took advantage of me
you stepped out of a dream
moonlight becames you
lullaby of birdland
waldorf blues
não tem solução
.

Ed Lincoln – Orgão E Piano Elétrico (1967)

Olá amiguíssimos, cultos e ocultos! Hoje vamos de Ed Lincoln, em um álbum bem ‘na onda’, com se dizia naquele tempo, naqueles anos 60. “Ed Lincoln – Orgão e Piano Elétrico” é um de seus discos que eu mais gosto. Isso, muito pelo fato de que neste álbum, quem lhe deu o formato foi o José Roberto Bertrami, grande músico, que além de cuidar dos arranjos, dizem, também tocou muito neste trabalho. Eis aí um disco bacana, pop e muito bem feito. Podemos dizer que se trata de um dos precursores do estilo ‘samba-rock’. Não sei porque ninguém ainda não pensou em relançá-lo em uma nova edição. Bem que merecia, em cd e vinil. Eu compraria um, só para fazer companhia para o original. Destaque para todas, mas “Saci Pererê” faz a cabeça 😉 Muito bom, confiram

o bêbado
saci pererê
as gaivotas
se você quiser
hey amiga
eu quero levar você pra casa
neblina
meu barato
eu vou embora
sai, encosto
quero ir
assim não dá
.

Tito Madi – A Saudade Mata A Gente (1958)

Boa noite, amigos cultos e ocultos. Já há algum tempo eu estava para postar este disco do Tito Madi, o primeiro lp de 12 polegadas gravado por ele. Foram muitos os pedidos e em resposta as promessas. Só não o fiz antes porque o disco precisava de um bom tratamento, tanto no áudio quanto em seu visual. Ainda  não cheguei ao ideal, mas creio que já dei uma boa melhorada a ponto de apresentá-los aqui para vocês. Como disse, este foi o primeiro lp gravado por Tito Madi. Alguns dizem que foi gravado em 57, outros em 58. Na dúvida, só perguntando ao próprio artista. O certo é que, nos meus ‘garimpos’ (quando eu ainda tinha tempo como vocês), eu nunca vi este lp postado em outros blogs. Imagino que seja esta a primeira vez em que ele entra na roda, integralmente. As apresentações quanto ao repertório e ao próprio disco eu deixo a cargo dele próprio. Estou tão cansado que acho que vou dormir um pouco, antes mesmo de publicar esta postagem. Segura a onda aí… Tô logo acordando, ok? 😉
uma loira
esquece
somos dois
barqueiro do são francisco
sempre teu
nova ilusão
copacabana
não tem solução
marina
um cantinho e você
ponto final
a saudade mata a gente
.

Conjunto 3D – Tema 3D (1964)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Virando a direção de nosso barco, vamos agora percorrer outros mares. Se nada me atrapalhar, pretendo nesta semana postar alguns discos que sempre ficaram para trás, talvez esperando a badalação passar. Como vocês já devem saber, eu não gosto de ficar postando o que já tem em outras fontes, outros blogs… Mas também não vou me negar ao direito de postar aquilo que realmente fez do Toque Musical o blog que é, música de qualidade, raridades e curiosidades!
Finalmente, temos aqui o disco “Tema 3D”, álbum raríssimo, nunca relançado em cd ou mesmo na versão vinil. Um disco que faz a alegria de qualquer colecionador de vinil e levanta a moral de um blogueiro como eu. Este álbum eu já o encontrei nas feiras sendo vendido a 400 pratas! Muito por conta da sua falta de reedição. É, sem dúvida, um excelente trabalho e que merece sempre o destaque. O conjunto 3D surgiu em 1964, do encontro de três grandes músicos: Antônio Adolfo, Rubens Bassini e o argentino Cacho. Eles iniciaram tocando na boate “Little Club”, onde faziam uma bossa-jazz no agrado. Foram logo contratados pela RCA Victor onde lançaram este delicioso lp. Curiosamente, alguns chamam o 3D de conjunto, outros de trio, mas isso é lá a mesma coisa, convenhamos… Eram realmente um trio, mas ao gravarem  este disco podemos dizer que viraram um conjunto, pois nas gravações aparecem ainda Arísio, no violão e Claudinho, no piston. E ainda teve a participação maior do baterista Dom Um Romão, que toca em cinco das faixas.
O 3D depois de estrear com este disco viria a lançar, creio eu, mais uns três ou quatro lps, um em 65, com ilustres convidados, outro com a Beth Carvalho e Eduardo Conde, em 67 e no ano seguinte um ao vivo com a cantora Eliana Pittman, em 68, mas já nessa altura com outra foramção, tendo apenas o Antonio Adolfo, que também já estava pensando em outros vôos… Confiram logo, porque aqui não tem mais reposição, ok?

consolação
clouds
céu e mar
o amor na paz
samba do som
garota de ipanema
tema 3d
samba de uma nota só
manhã sem você
fly me to the moon
a morte de um deus de sal
berimbau
.

Trio De Ouro – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 101 (2014)

Ultrapassando a barreira das 100 edições , o Grand Record Brazil chega justamente à centésima-primeira.  E, para abrilhantá-la em grande estilo, eis aqui um dos grupos vocais mais queridos e populares de nossa música popular: o Trio de Ouro.  A história do trio começa em 1932, ocasião em que Herivelto Martins e Francisco Sena faziam parte do Conjunto Tupi, de J. B. de Carvalho, e ao mesmo tempo formaram a Dupla do Preto e do Branco. Com a morte prematura de Sena, em 1935, Herivelto reorganiza a dupla, agora com Nilo Chagas.  No ano seguinte, Herivelto conhece Dalva de Oliveira, e esta, a seu convite, passa cantar junto com o duo. Inicialmente conhecidos como Dalva de Oliveira e Dupla Preto e Branco, foram depois rebatizados como Trio de Ouro. O grupo estreou em gravações na Victor, em 1937, interpretando “Ceci e Peri” e “Itaquari”. Nessa ocasião, Herivelto e Dalva se casam, e dão a seu primeiro filho o nome de Pery (o excelente cantor Pery Ribeiro), tirado justamente da marchinha “Ceci e Peri” (se fosse menina, claro, seria Ceci, conforme combinado com os ouvintes de rádio).  O Trio de Ouro, em sua primeira fase, deixou um acervo de mais de 50 gravações, a maioria na Odeon, com passagem também pela Columbia, futura Continental, repertório esse de grande valor artístico, sem as exigências comerciais que se registrariam tempos depois. Entretanto, o grupo se desfez em 1949, com a ruidosa separação de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins. Um ano mais tarde, o Trio de Ouro retoma suas atividades, ainda com Nilo Chagas (já com as relações bastante estremecidas com Herivelto) e, agora, com Noemi Cavalcanti, descoberta por Príncipe Pretinho, que a ouvira no programa de César de Alencar, na Rádio Nacional, levada pelo também compositor  Raul Sampaio, capixaba de Cachoeiro de Itapemirim.  Ele desempenhou papel decisivo para que o trio não acabasse de vez com a retirada de Dalva, e tem mais de 250 músicas gravadas como autor,  entre elas clássicos como “Eu chorarei amanhã”, “Nono mandamento” e “Meu pequeno Cachoeiro” (que seu conterrâneo Roberto Carlos converteu em hit nacional, em 1970). O primeiro disco dessa segunda formação, lançado em agosto de 1950, trouxe o samba “A Bahia te espera” e o samba-canção “Caminho certo”.  Essa fase, porém, dura pouco, pois, no começo de 1952, Nilo Chagas e Noemi Cavalcanti abandonam Herivelto Martins em definitivo, deixando um saldo artístico de 15 discos gravados, todos pela RCA Victor. Uma noite, Herivelto Martins e Raul Sampaio foram à casa de Nélson Gonçalves, a fim de entregar uma nova composição de Herivelto para o “metralha do gogó de ouro” gravar. É quando a então mulher de Nélson, Lourdinha  Bittencourt, se oferece para cantar no Trio de Ouro.  Assim começa a terceira fase do grupo vocal, com Lourdinha, Herivelto e Raul. O primeiro disco do novo trio sai pela RCA Victor em agosto de 1952, trazendo uma regravação do clássico “Ave-Maria  no Morro”, e o bolero “Se a saudade falasse” (este último aqui incluído). Aqui, já se registra, de forma mais acentuada, a necessidade de sucesso imediato, e até versões como “Índia”, “Luzes da ribalta” (ambas nesta seleção) e “Vaya com Diós” são gravadas pelo trio, atendendo a interesses comerciais, mas o grupo nunca deixou de cultivar nossas origens. Nessa  fase, o Trio de Ouro gravou 32 discos em 78 rpm, quase todos pela RCA Victor, e a  formação duraria bem mais tempo: até 1979,com o falecimento de Lourdinha  Bittencourt. Contudo, para matar as saudades de seus fãs, Herivelto e Raul continuaram a recompor o Trio de Ouro em ocasiões especiais, com a colaboração da excelente cantora Shirley Dom. A morte de Herivelto  Martins, em 1992, encerraria definitivamente a longa trajetória do Trio de Ouro. Trajetória esta que agora o GRB revive,  apresentando 13 gravações de suas três fases (principalmente da primeira, com Herivelto, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas), sempre se mantendo em alto nível artístico. A seleção abre com uma gravação da terceira fase, a conhecidíssima guarânia paraguaia “Índia”,de José Asunción Flores e Manuel Ortiz Guerrero, em versão de José Fortuna. Como todos sabem, este foi um dos carros-chefes da dupla Cascatinha e Inhana, que lançou a versão com êxito arrebatador em 1952. Aqui, a gravação do terceiro Trio de Ouro, na RCA Victor, datada de 13 de março de 1953, e lançada em maio seguinte com o número 80-1120-A, matriz BE3VB-0045. Pulamos depois para a primeira fase, com o batuque “Lamento negro”, de Constantino “Secundino” Silva e Humberto Porto (este falecido prematuramente, em 1943, aos 35 anos), lançado pela Columbia em maio de 1941, sob número  55270-B, matriz 385. Lourdinha Bittencourt e Raul Sampaio voltam a cantar com Herivelto na faixa seguinte, “Luzes da ribalta” (“Limelight”), de Charles Chaplin, do filme de mesmo nome, o último em que ele interpretou Carlitos, só lançado nos EUA em 1972, uma vez que o comediante estava na lista negra do macartismo. A versão de Antônio Almeida e João de Barro, o Braguinha, teve inúmeros registros, e o do Trio de Ouro, na RCA Victor, em ritmo de bolero,  é de 14 de agosto de 1953, lançada em outubro seguinte com o número 80-1216-A, matriz BE3VB-0239. Já do final da primeira fase do trio é a marchinha “Minueto”, sucesso do carnaval de 1948. De autoria de Herivelto Martins e Benedito Lacerda, é gravação Odeon de 27 de novembro de 47, lançada um mês antes dos festejos momescos, em janeiro, disco 12830-A,matriz 8299. Dessa fase também é o samba “Calado venci”, que, segundo o próprio Herivelto Martins, foi a única parceria dele com Ataulfo Alves. É do carnaval de 1947, gravado na Odeon em 6 de dezembro de46, lançada bem em cima da folia, em fevereiro, sob número 12758-B, matriz 8145. Waldemar de Abreu, o Dunga, e Mário Rossi assinam o samba “Fantasia”, que o Trio de Ouro grava na “marca do templo” em 2 de outubro de 1945 e é lançado em novembro do mesmo ano com o número 12644-A,matriz 7915. Lauro “Gradim” dos Santos e Príncipe Pretinho vêm em seguida com outro samba, “Sorri”, para o carnaval de 1941, que o trio grava na Columbia em 11 de novembro de 1940, com lançamento ainda em dezembro, disco 55252-B, matriz 343. “Adeus, Estácio”,outro samba, é de Benedito Lacerda e Gastão Viana,para o carnaval de 1939, numa gravação Odeon do primeiro Trio de Ouro, feita em 8 de dezembro de 38 e lançada bem em cima da folia momesca, em fevereiro, disco 11696-B, matriz 5989. Da terceira fase do grupo é a regravação, em ritmo de baião, do samba-canção “Um caboclo apaixonado”, da parceria Herivelto Martins-Benedito Lacerda, originalmente lançado em 1936 por Sílvio Caldas. Herivelto, Raul Sampaio e Lourdinha Bittencourt o reviveram na RCA Victor em 13 de março de 1953, com lançamento em maio do mesmo ano, disco 80-1120-B, matriz BE3VB-0046. Voltando à primeira fase, temos o interessante samba-crônica “Bom dia, Avenida”, dando boas vindas à Avenida Rio Branco, antiga Central, como novo palco dos desfiles das escolas de samba cariocas, em substituição à Praça Onze de Junho, demolida para dar lugar a outra avenida, a Presidente Vargas (nem se sonhava com o atual Sambódromo da Rua Marquês de Sapucaí!). De autoria de Herivelto Martins e do ator Grande Otelo (Sebastião Bernardes de Souza Prata), que também fizeram pouco antes o clássico “Praça Onze” (glosando tal demolição), foi gravado pelo trio na Odeon em 23 de novembro de 1943, sendo lançado um mês antes do carnaval de 44, janeiro, disco 12406-B, matriz  7425. Voltando à terceira fase, temos outro samba de Herivelto, agora em parceria com David Nasser: “Maria Loura”, gravação RCA Victor de 14 de agosto de 1953, lançada em outubro seguinte com o número 80-1216-B, matriz BE3VB-0240. Da segunda fase do trio (Herivelto, Nilo Chagas e Noemi Cavalcanti) é a penúltima faixa, o samba-canção “Vingança”, de Lupicínio Rodrigues, gravado na mesmíssima RCA Victor em 10 de abril de 1951, e lançado em junho do mesmo ano, disco 80-0776-B, matriz S-092932. Este registro original, porém, passou em branco, pois, como todos sabem, “Vingança” só fez sucesso meses mais tarde, na interpretação de Linda Batista, que o tornou um clássico, sendo talvez o maior de todos os hits de Lupicínio como autor (com os direitos autorais da música, ele até comprou um carro que apelidou de “Vingança”!).  Foi inspirado numa mulher com quem Lupi viveu seis anos, e a quem ele abandonou ao descobrir que ela o traía (quando ela tentou uma reconciliação, Lupi compôs “Nunca”, hit de Dircinha Batista, irmã de Linda, um ano mais tarde). Encerrando esta seleção do GRB, temos justamente o lado A do primeiro disco da terceira fase do Trio de Ouro, o RCA Victor 80-0957, do qual falamos lá atrás:  o bolero “Se a saudade falasse”, de Herivelto sem parceiro, gravação de 11 de junho de 1952, lançada em agosto do mesmo ano, matriz SB-093321. Uma seleção que traz aos amigos cultos, ocultos e associados do GRB e do TM um pouco da trajetória do Trio de Ouro, que, durante todos esses anos, sempre fez por merecer seu nome. Ouçam e confirmem!

 

* Texto de Samuel Machado Filho

Tânia Braz – Mistura Pura (1992)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Chegamos aqui a mais uma postagem dedicada aos artistas do meu bairro, quero dizer, da minha cidade de Belo Horizonte 🙂 Trago agora para vocês a cantora e compositora Tânia Braz, uma artista que se estivesse vivendo no Rio ou em São Paulo, certamente estaria por aí fazendo o maior sucesso. De formação acadêmica, iniciou sua jornada artística no renomado coral da UFMG, o Ars Nova. Formada em Arquitetura, acabou se ‘bandeando’ para a música onde também se graduou em composição e orquestração na Escola de Música da UFMG. Estudou canto lírico, teatro e dança, sendo assim uma artista bem completa. Sempre esteve envolvida em projetos culturais da cidade, principalmente na década de 90, quando então teve a oportunidade de gravar este que foi o seu primeiro disco. Tânia Braz é mesmo uma artista e tanto, mostrando sua arte em diversos e diferentes espetáculos. Passou pela música espanhola e latino americana com seu grupo “Agny”, com o qual realizou diversas apresentações em Belo Horizonte. Trabalhou também com o grupo Uakti e foi vocalista e compositora no grupo de rock progressivo “Arion” com quem gravou um cd , voltado principalmente para o mercado internacional. O disco foi distribuído pela gravadora Rock Symphony/Musea e Tânia consagrada como uma das melhores cantoras de progressivo no mundo em 2001.
“Mistura Pura”, seu primeiro disco solo, é um lp muito interessante, onde Tânia nos apresenta suas boas composições e também interpreta com estilo outras, como “Gracias a la vida”, de Violeta Parra; “La vien rose”, de Edith Piaf; “Don’t cry for me Argentina”, da obra “Evita”, de Andrew Lloyd Weber.
Tânia passeia bem por todos os gêneros que se envolve. Ao longo desse tempo ela gravou, pelo menos, mais uns dois cds. Eu não os conheço, mas acredito que sejam tão bons quanto este. 😉

don’t cry for me argentina
cada coisa
juanita
congado do pai
la vien rose
pescador
crisis is over
segue no vazio
a lição
gracias a la vida
.

Geninho Lima – Vida Belvedere Blues (1990)

Amigos cultos e ocultos, boa noite! Continuando a mostra dos artistas e conjuntos mineiros, segue aqui mais um. Desta vez eu apresento a vocês, Geninho Lima, um guitarrista e violonista que foi destaque nos anos 80 na música feita em Minas Gerais. Pelo pouco que eu sei, ele gravou uns três disco solo e esteve presente em gravações de outros artistas. Há tempos ele anda sumido, não sei se ainda continua produzindo. O que se encontra de informação é somente através de suas músicas, publicadas no Youtube. Quem sabe, uma hora dessas alguém, ou ele próprio, apareça por aqui esclarecendo um pouco mais as coisas?
“Vida Belvedere Blues”, creio eu , foi o seu terceiro disco, produção independente de 1990. Um álbum de capa dupla, bem produzido e um repertório autoral acima da média. O disco foi gravado no Estúdio JG, do baterista João Guimarães, que também marca presença no disco ao lado de outras feras como Mário Castelo e Gilberto Diniz (Agência Tass), Reginaldo Silva (Kamikaze), Marcos Gauguin (Sgt. Pepper’s Band), Carlos Ivan e Fernando Chico. Um bom disco, podem conferir

vida
estou longe demais
africa
o novo amor se acabou
belvedere blues
não faz sentido
eu vi
vícios maléficos
a brisa
.

Edição Extra – Tudo Trocado (1987)

Olá amiguíssimos cultos e ocultos! Na sequência das postagens dos grupos de Beagá, eu escolhi para hoje um disco que não me desse trabalho. Rápido de digitalizar, pois se trata de um EP, um disco com apenas quatro faixas, porém para contrariar as minhas expectativas, trata-se de uma banda totalmente desconhecida, inclusive em pesquisas no Google. Eu como não tenho tempo a perder, nem vou correr atrás de informação. Esta, por certo, uma hora aparece. Sempre tem alguém que conhece, que sabe alguma coisa… quando não, até mesmo os próprios artistas. Por onde será que anda essa moçada hoje em dia?
A música do Edição Extra reflete bem a atmosfera dos anos 80, porém eu imagino que eles não decolaram por conta da sua música, que ao meu ver (e ouvir) fica numa indecisão entre pop, rock… meio que rebuscado, sei lá… acho que faltou uma pega, um refrão… Talvez ao vivo a música do Edição Extra funcionasse melhor. Independente de qualquer coisa, penso que a banda merece uma segunda chance, por isso é que ela está aqui. Faz parte da história da música jovem feita em Minas. Querem conhecer?

papo furado
tudo trocado
o que é que é isso
já faz tempo
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Fernando Rodrigues – Tocar E Ser Livre (1984)

Olá meus prezados, cultos e ocultos! Eis que acho uma hora aqui para a nossa postagem. Esta, em especial, eu estava segurando, tentando conseguir informações sobre o artista. “Tocar e ser livre” foi o único disco do compositor mineiro Fernando Rodrigues. Na verdade um álbum póstumo, lançado, acredito eu, em 1984. Do pouco que sei, Fernando Rodrigues era um músico promissor. Tocou e gravou com diferentes artistas nacionais. Neste lp podemos ouvi-lo tocando ao lado de Afonsinho, Alexandre Lopes, Calos Bala, Claudio Venturini, João Guimarães, Lincoln Cheib, Luiz Avelar, Marcus Viana, Nico Assumpção, Telo Borges… Putz, é gente que não acaba mais… Tá tudo aí, na capa!
Esta postagem, por hora, fica assim. Por certo, algum dos amigos cultos virá complementar as informações, trazendo um pouco de luz e lembranças deste jovem artista que nos deixou prematuramente.

tocar e ser livre
a vida não é brinquedo
meu mundo
borboleta
quero seu amor
tantos desejos
nada mais
hora de escolher
sexto sentido
guitarra
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Eugênio Brito – Trilha Mineira (1991)

Olá amigos cultos e ocultos! Eu pensei que iria ficar mais folgado a partir deste mês, tendo assim mais tempo para me dedicar às postagens, mas realmente está difícil. Morreu o Jair Rodrigues, teve o Dia das Mães… e eu acabei não prestando as minhas homenagens. Podia até fazê-las agora, porém ainda estou na dívida com a ‘minerada’. Vou continuar nesta semana apresentando a música que vem de Minas.
Para hoje eu trago esta produção independente do compositor Eugênio Brito, lançada em 1991 pela editora Letra & Música e gravado na Bemol. Este álbum é resultado da premiação de Eugênio Brito no 1º Festival de Música da Cidade de Vespasiano, realizado em 1990. Neste festival, produzido também pela Letra & Música, Eugênio faturou o primeiro lugar com a canção “Trilha Mineira” e teve também outra música, “Giramundo”, classificada entre as oito finalistas. O lp saiu no ano seguinte, sendo produzido pelo próprio artista e contando com a participação de outros grandes nomes da música mineira, como Maurício Tizumba, Fernando Rodrigues e outros. André Dequech e Renato Mota, que também tocam nas faixas, são os responsáveis pelos arranjos. Por aí já dá para sentir as qualidades deste trabalho. Confiram!

sangria
doce rio acima
trilha mineira
brincadeira
os miseráveis
daniel
terra/nação
viramundo
neneco
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Maysa – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 100 (2014)

Com muito orgulho, chegamos à centésima edição do Grand Record Brazil. Uma trajetória brilhante e bastante expressiva. Isto só foi possível graças ao prestígio e à acolhida de nossos amigos cultos, ocultos e associados, a quem eu e o Augusto agradecemos de todo o coração. E nesta edição de número 100, reverenciamos a memória de uma das melhores cantoras e compositoras que a música popular brasileira já teve: Maysa.
Batizada como Maysa Figueira Monjardim, nossa focalizada veio ao mundo no dia 6 de junho de 1936, segundo algumas fontes no Rio de Janeiro, no bairro de Botafogo e, segundo outras, em São Paulo, oriunda de família rica e tradicional do Espírito Santo, filha de Inah e Alcebíades Monjardim, este último Fiscal de Rendas. Esta indefinição quanto ao local de nascimento da futura estrela talvez se deva ao fato de seus pais terem fugido de seu estado natal para o Rio de Janeiro, após se casarem, pois a família de sua mãe se opunha ao matrimônio, dada a boemia de Alcebíades. Residiram também em Bauru, interior paulista, voltando depois para a capital bandeirante, onde, mesmo fixando-se na mesma, trocaram de endereço várias vezes. Maysa estudou nos tradicionais colégios paulistanos Assunção, Sacre-Couer de Marie e no Ginásio Ofélia Fonseca (onde foi reprovada por suas notas e comportamento). Sempre foi rebelde e chegava a comparecer às aulas sem uniforme e com trajes ousados, sendo por isso proibida de frequentar os bancos escolares. Bilhetes eram enviados aos pais de Maysa e, como estes viviam na boemia, era difícil encontrá-los, e ela chegava a ficar três dias sem ir à escola, aguardando a assinatura deles.  Tentou se matricular, depois, no Mackenzie, mas foi recusada em virtude de seu currículo, e por isso Maysa parou os estudos na segunda série ginasial. As férias  ela passava em Vitória, onde ia rever seus tios e primos. Seu envolvimento com a música começou bem cedo: aos 12 anos, compôs sua primeira música, o samba-canção “Adeus” (primeira de uma série de 26), e desde a adolescência já gostava de cantar em festas familiares, além de tocar piano. Aos 17 anos, em 1955, Maysa casou-se com o empresário André Matarazzo, 17 anos mais velho que ela, e amigo de seus pais, da união resultando seu único filho, Jayme Monjardim Matarazzo, criado pela avó e posteriormente num colégio interno na Espanha, que iria se converter em  talentoso diretor  de cinema e televisão, realizando novelas e minisséries na extinta TV Manchete e depois na Globo (onde dirigiu inclusive a famosa minissérie sobre a vida de sua mãe, “Maysa – Quando fala o coração”, de 2009, com excelente desempenho de Larissa Maciel no papel-título). Ela não teve mais filhos por complicações no parto. Ainda grávida, Maysa conheceu o produtor Roberto Corte Real, que ficou encantado com sua voz. Combinaram então que, assim que Jayme nascesse, ela gravaria seu primeiro disco. Corte Real tentou, sem êxito, a contratação de Maysa pela Columbia, hoje Sony Music, e o jeito foi lançá-la em disco por uma nova gravadora: a RGE (Rádio Gravações Especializadas), de propriedade de José Brasil Ítalo Scatena, até então apenas um estúdio de jingles publicitários. E é pela RGE que a cantora-compositora  lança, em novembro de 1956, seu primeiro LP, o histórico dez polegadas “Convite para ouvir Maysa”, com oito músicas de sua autoria, e cuja renda foi revertida para o Hospital do Câncer de São Paulo.  Depois, claro, viria muito mais, tendo também gravado em outros selos, inclusive um álbum na mesma Columbia que a recusara, em 1961. Foi inclusive contratada das Emissoras Unidas (Rádio e TV Record). André, porém, se opunha à carreira musical de Maysa, e ao temperamento boêmio que ela herdou de seu pai, daí resultando sua ruidosa separação (em 1958, aos 22 anos, ela chegou a tentar suicídio cortando os pulsos, uma das inúmeras tentativas de liquidar a própria vida, aliás). Namorou depois o jornalista e compositor Ronaldo Bôscoli (tendo-se mudado, em 1960, para o Rio de Janeiro, a convite dele), o empresário Miguel Azanza (seu segundo marido), o maestro Júlio Medaglia e o ator Carlos Alberto, entre outros. Fez inúmeras temporadas em casas noturnas de São Paulo (como o Juão Sebastião Bar, o restaurante Urso Branco  e as boates Cave, Oásis e Igrejinha) e  Rio de Janeiro (como Au Bon Gourmet e Canecão). O alcoolismo e o uso de moderadores de apetite deixavam seu temperamento instável, o que causou notórios escândalos  em hotéis e aviões de diversos países em que se apresentou. Manteve contato com inúmeros nomes da bossa nova, com os quais pôde expandir experiências musicais. Excursionou pela América Latina, passando várias vezes por Buenos Aires (Argentina), Montevidéu (Uruguai) e Lima (Peru), e cumpriu temporadas no Olympia de Paris (França),  Lisboa (Portugal), onde ficou bastante tempo em cartaz no Cassino Estoril, Tóquio (Japão) e  Luanda (Angola), além de ter residido na Espanha. No exterior, Maysa era conhecida como “a condessa descalça”, por sempre tirar os sapatos quando cantava. Participou também de algumas edições do FIC (Festival Internacional da Canção), que aconteceu no Maracanãzinho do Rio de Janeiro entre 1966 e 1972, e ninguém ousava lhe dar uma só vaia, o que a tornou uma das cantoras mais queridas do certame.  Sua discografia abrange 17 LPs no Brasil (e um nos EUA, nunca editado entre nós), sem contar as coletâneas, 21 discos 78 rpm com 41 músicas, e alguns compactos. Maysa faleceu em 22 de janeiro de 1977, em trágico acidente automobilístico na Ponte Rio-Niterói, quando dirigia sua Brasília azul em alta velocidade (estava a caminho de sua casa em Maricá, litoral fluminense). Supõe-se que o efeito de anfetaminas somado à ingestão de álcool tenha causado o desastre, perdendo, assim, a música popular brasileira, uma de suas personalidades mais singulares. Para esta edição em que o GRB reverencia a memória de Maysa, foram selecionadas dez gravações preciosas e importantes histórica e artisticamente. As oito primeiras saíram em LP e também em 78 rpm  (não esquecendo que era uma época de transição de formatos), todas sambas-canções e editadas por sua primeira gravadora, a RGE.  Abrindo esta seleção, o clássico samba-canção “Meu mundo caiu”, uma de suas composições mais conhecidas, lançado em março de 1958 com o número 10083-A, matriz RGO-484, que ela também interpretou no filme “O batedor de carteiras”, da Nova América, distribuído pela Pelmex e estrelado por Zé Trindade (pouco antes de sua morte, em 1976, foi revivido na novela global “Estúpido  Cupido”, de Mário Prata). O lado B, matriz RGO-486, é a faixa 8, “Buquê de Isabel”, também samba-canção e praticamente o primeiro grande sucesso do compositor Sérgio Ricardo (mais tarde famoso como “o homem do violão quebrado” daquele festival da Record, o de 1967). Ambas as músicas saíram, apenas alguns dias depois,também no LP “Convite para ouvir Maysa  número 2” (o terceiro álbum de carreira, apesar do título, e o primeiro da intérprete em doze polegadas).  A faixa 2 é outro clássico indiscutível de e com Maysa, o famoso “Ouça”, lançado em maio de 1957 sob número 10047-A, matriz RGO-220, inesquecível hit por ela também interpretado no filme ‘O camelô da Rua Larga”, da Cinedistri, também estrelado por Zé Trindade, sendo o lado B a faixa 6, “Segredo”, ambas constantes do também do segundo LP da vcantora-compositora, ainda em 10 polegadas e intitulado apenas ‘Maysa”. Na faixa 3, aparece “Suas mãos”, clássico de Pernambuco (Ayres da Costa Pessoa) e Antônio Maria, editado em setembro de 1958 com o número 10117-A,matriz RGO-767.  O lado B está na faixa 5, “Mundo vazio”, de Amaury Medeiros e Antônio Bruno, matriz RGO-774, ambas também incluídas no terceiro volume de “Convite para ouvir Maysa”, sendo “Mundo vazio” a faixa de abertura do vinil.  A faixa  4, originalmente abrindo o segundo LP de Maysa, de 1957, é o clássico “Se todos fossem iguais a você”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, lançado na peça teatral “Orfeu da Conceição” e originalmente gravado por Roberto Paiva. O registro de Maysa foi relançado na cera pela RGE em dezembro  de 57 com o número 10074-A, matriz RGO-295. Para o lado B, foi escalado “Tarde triste”, da própria Maysa, matriz RGO-123, que originalmente foi editada em vinil no primeiro “Convite para ouvir Maysa”, de 10 polegadas, em novembro de1956. Completando esta seleção, duas raríssimas faixas extraídas de um compacto duplo gravado por Maysa na marca francesa Barclay, número 70526,  durante uma temporada em Paris, em 1963: o clássico bossanovista “Chega de saudade” de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, e “Cent-mille chansons”, de Eddy Mamay e Michel Magné, do filme “O repouso do guerreiro”, de Roger Vadim. Enfim, uma seleção que apresenta alguns dos melhores momentos de Maysa, abrilhantando esta centésima edição do nosso GRB (e pretendemos, claro, ir muito além). Ouçam e recordem conosco estes agradáveis momentos!
*Texto de Samuel Machado Filho

Agência Tass – Vida Clip (1989)

Olá amigos cultos e ocultos! Conforme eu havia dito, nesta semana, irei postando um pouco da produção feita aqui na cidade. Até à década de oitenta a produção musical em Belo Horizonte era muito própria e característica, o que talvez dificultasse sua penetração no mercado fonográfico nacional. Poucos eram aqueles que se destacavam e isso não é por falta de competência, pois qualidade musical e talento, aqui nunca faltou. Faltou talvez uma produção mais afinada com o cenário comercial da época e um vôo mais dedicado por conta dos artistas. O problema é que mineiro quer ser antes de artista, músico e nem sempre está disposto a entrar no ‘esquemão’, ou abrir mão do seu pão de queijo e suas montanhas. Um bom exemplo é o Agência Tass, formado na década de 80 por um grupo de jovens talentosos, músicos que também tocavam com os ‘peixes grandes’ como Milton Nascimento e a turma do Clube da Esquina. O Agência Tass trazia em sua formação os músicos Alexandre Lopes e Eduardo Guimarães na guitarra, Gilberto Diniz (Giló) no baixo e Mário Castelo na bateria. Curiosamente, neste que foi o único disco da banda, o nome de Eduardo Guimarães, ou Eduardo Toledo, como passou a se chamar em carreira solo, só aparece neste disco como participante. Nos destaques e na foto da capa só aparecem os outros três músicos. Creio que quando este disco foi gravado, em 1986, Eduardo ainda não era efetivo da banda, embora conste em outras fontes que ele foi um dos fundadores do grupo e algumas das músicas deste lp são de sua autoria. “Vida Clip” foi outro disco gravado no estúdio do baterista João Guimarães (do Kamikaze) e lançado pelo selo RGE. O álbum, mesmo com a chancela de uma grande gravadora, não decolou para além da montanhas de Minas. As músicas eram boas, mas faltava um pouco mais de fermento e aquele velho refrão que sempre faz a coisa grudar no ouvido. Nem “Proibido Proibir”, de Caetano Veloso conseguiu segurar. Pessoalmente e como bom mineiro, só tenho elogios para essa turma. Gostava mais das apresentações ao vivo. Bons tempos, apesar dos pesares

hipócrita
vida clip
mentira
v.i.p.
proibido proibir
tudo que eu queria
chinatown
bandida
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Serpente (1985)

Olá amigos cultos e ocultos, boa noite! Para esta semana eu resolvi reunir aqui algumas coisas do ‘bairro’. Ou melhor dizendo, alguns discos dos diferentes ‘clubes de esquina’ que temos nessa Belô. As vezes é bom tirar a poeira, ressuscitar os mortos e os esquecidos, assim como dar luz a prata da casa. Tem muita coisa interessante que merece ser lembrada. Vou começando por essa que foi, com certeza a mais ‘descolada’ banda de rock da cidade: Serpente. Um grupo que tinha tudo para decolar, não fosse as montanhas de Minas que os impediam de serem vistos e ouvidos como as diversas bandas que surgiam no país naqueles anos 80. No meu entendimento, faltou a eles um bom produtor, ou mais ainda, uma gravadora. A banda surgiu em 82, formada por Kêta (vocal) e Dida (baixo). O Serpente fazia sucesso por onde passava. Tinham aquela essência do bom rock’n’roll. Para ser mais exato, os caras se incorporavam na melhor banda da Terra, os Rolling Stones, ao lado dos Beatles, claro 😉 Traziam aquela atitude da dupla Jagger e Richards, sem serem caricatos. Tocaram muito nas noitadas de Beagá, nas Calouradas da Puc e Ufmg. Outro grande barato do Serpente era que os caras se empenhavam em criar músicas próprias. Seu grande ‘hit’ foi “Poe na roda”, um rock com todos os ingredientes ‘stoneanos’ e uma letra na medida, mensagem simples e direta, como convém ao estilo. Outra música que também merece destaque é “Dia louco”. Esta talvez, seja aquela com maior apelo comercial, uma música que bem produzida e com outros arranjos, estaria agora figurando entre os sucessos da música pop nacional dos anos 80. Em 1985 eles gravaram este EP no estúdio do João Guimarães, baterista de outra saudosa banda, o Kamikaze. O disco foi uma produção independente, o que quer dizer que o número de cópias também não grande. Hoje o lp se tornou uma raridade, peça procuradíssima por colecionadores, inclusive estrangeiros. Este vinil é uma peça importante da história do rock em Belo Horizonte. Ah, eu já ia me esquecendo… O grupo Serpente foi o embrião da banda mais que cover, mais que over dos Stones, a carismática ‘It’s Only Rolling Stones’. Sem bairrismo, a melhor banda de Rolling Stones do Brasil 😉
Para aqueles mais ‘antenados’ no ‘rock tupiniquim’, interessados em saber um pouco mais da história do grupo Serpente e do It’s Only Rolling Stones, eu sugiro assistirem documentário “Vinte Anos na Estrada do Rock”, de Flávia Barbalho. Demorei com este disco, mas agora já estou pondo na roda, valeu? 😉

dia louco
se você dançar
coisa do tipo
poe na roda
.

 

Jackson Do Pandeiro – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 99 (2014)

Estamos de volta com o Grand Record Brazil, em sua edição de número 99, apresentando a segunda e última parte da retrospectiva que dedicamos ao “rei do ritmo”, Jackson do Pandeiro. Aqui encontraremos mais 14 gravações históricas deste que foi sem dúvida um dos mais expressivos intérpretes da música regional nordestina. Abrindo a seleção desta semana, temos “O desordeiro”, samba de autoria de Maruim (Ricardo Lima Tavares), lançado pela Philips em junho de 1962 com o número P61135H-B, sendo também faixa de abertura do LP “A alegria da casa!”. Em seguida, as músicas do 78 de estreia de Jackson na Philips, número P61021H, lançado em julho de 1960, ambas composições suas: o baião “Os cabelos de Maria”, que fez com Rosil Cavalcanti (lado B), e o rojão (tipo mais acelerado de baião) “O povo falou”, parceria com Elias Soares (lado A), ambas também incluídas no compacto duplo de 45 rpm “O sucesso do momento”. Da safra de Jackson do Pandeiro na Columbia são as faixas seguintes, ambas lançadas por volta de maio de 1959 sob número CB-11146: no lado A, o chamego ‘Forró na gafieira”, de Rosil Cavalcanti, matriz CBO-2025, e no verso, matriz CBO-2027, o baião “Cantiga do sapo”, do próprio Jackson em parceria com o misterioso Buco do Pandeiro. Ambas as músicas também integraram o primeiro LP do “rei do ritmo” na Columbia, sem título (LPCB-37056), e que abre justamente com “Forró na gafieira”. Depois temos um autêntico clássico: o batuque “O canto da ema”, de João do Valle, Ayres Viana e Alventino Cavalcanti, lançado pela Copacabana em 1956 com o número 5661-B, matriz M-1678, regravado inclusive por Gilberto Gil. E, na faixa seguinte, você tem o lado A, “Coco social”, de Rosil Cavalcanti (crônica interessante a respeito da aceitação dos ritmos nordestinos na chamada alta sociedade, citando até mesmo Jacinto de Thormes, colunista social muito lido na época), matriz M-1677, ambas também incluídas no LP de 10 polegadas “Os donos do ritmo” (isto é, Jackson do Pandeiro e Almira Castilho), que abre com “O canto da ema”. O rojão “Ele disse”, de Edgar Ferreira, é uma homenagem ao ex-presidente Getúlio Vargas, e foi lançado pela Copacabana em 1956, dois anos após o trágico suicídio do chefe da Nação, sob número 5579-A, matriz M-1503. A música cita inclusive uma frase da carta-testamento de Getúlio: “O povo de quem fui escravo jamais será escravo de ninguém”. Do Copacabana 5553, também de 1956, são as faixas seguintes, o coco “Falso toureiro”, do próprio Jackson com Heleno Clemente (lado B, matriz M-1415), e o baião “Rosa”, de Ruy de Moraes e Silva (lado A, matriz M-1416). Ambas as faixas, mais “Ele disse”, saíram também no LP de 10 polegadas “Forró do Jackson”, sendo “Falso toureiro” a faixa de abertura do mesmo. Nesse vinil também está nossa próxima faixa, “Coco do Norte”, composição de Rosil Cavalcanti lançada em agosto-setembro de 1955 no 78 número 5444-B, matriz M-1168. Depois temos as faixas do primeiríssimo disco de Jackson, o Copacabana 5155, lançado em outubro-novembro de 1953, ambas clássicos inesquecíveis: o rojão “Forró em Limoeiro”, de Edgar Ferreira, matriz M-578, e o divertido coco “Sebastiana”, de Rosil Cavalcanti, matriz M-579. E, encerrando com chave de ouro, e aproveitando o atual clima de Copa do Mundo, o rojão “Um a um”, de Edgar Ferreira, lançado em 1954 com o número 5234-A, matriz M-750, curiosamente às vésperas de uma outra Copa, que aconteceu na Suécia, e na qual o Brasil foi eliminado pelo então supertime da Hungria (apesar disso, os húngaros acabaram perdendo o título para a antiga Alemanha Ocidental). Enfim, uma impecável seleção com momentos inesquecíveis do legado de Jackson do Pandeiro, para colecionadores e apreciadores da melhor música nordestina e brasileira. Até a próxima, pessoal!
* Texto de Samuel Machado Filho

Ritmos E Melodias Na Música Popular – Música Da Juventude (1966)

Boa noite, prezados amigos cultos e ocultos! Segue aqui neste domingo mais um disco da caixa “Ritmos e Melodias na Musica Popular”, da Abril Cultural. Desta vez temos o lp “Música da Juventude”, um volume dedicado à ‘música pop’. Aqui encontramos uma salada com sabores diferentes, entre interpretes originais e obscuros, certamente brazucas, como é o caso dOs Balanceiros, ou a Orquestra Pop de Sucessos.
quero que vá tudo pro inferno – os balanceiros
se piangi se rido – mina
trinidad – bob smart
io cheno vivo senza te – orquestra pop de sucessos
i only want to be with you – dusty springfield
que cést triste venize – orquestra pop de sucessos
il mondo – orquestra pop de sucessos
the game of love – wayne fontana and the mindbenders
ma vie – orquestra pop de sucessos
canto de ossanha – os balanceiros
abbracciami forte – cocki mazetti
escandalo em família – os balanceiros
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Sui Generis (1979)

Olá amigos cultos e ocultos! Depois do passeio de Taxi eu me lembrei de outro disco que tenho aqui. Um álbum que, pela capa, me fez pensar que se tratava de uma banda de rock. Com essa pinta toda, eu sinceramente, fui na onda… Mas para um olhar mais atento, um ouvido ainda surdo, basta ler a lista das músicas. O repertório é quase todo de músicas internacionais e ao contrário do que eu esperava, só tem música de discoteca. Aqueles temas dançantes tipo Bee Gees, a la John Travolta e por aí a fora… Embora não seja exatamente um tipo de música que eu aprecio, não posso negar as qualidades dessa produção e de seus músicos que, seja lá como for, rezaram a missa direitinho.
Fui procurar informaçoes sobre essa banda, o que de uma certa forma não foi fácil de achar. Descobri apenas que os caras vieram de Natal, no Rio Grande do Norte. Ao que parece, o Sui Generis já existia desde o início dos anos 70, fazendo bailes na Capital. Em 1978 eles chegaram a São Paulo e certamente, loucos para gravar. Sendo um grupo de bons músicos, buscando um lugar ao sol, não pensaram duas vezes antes de encarar esse projeto. Infelizmente, nessa época, nem sempre era o artista quem escolhia o repertório. As vezes, toda a produção ficava por conta da gravadora. Este álbum, me parce, foi algo assim. O Sui Generis, ao que parece, gravou apenas este disco. A banda se desfez nos anos 80 com a saída do tecladista Romário Peixoto que voltou para Natal. Parece que ele depois disso tentou voltar com o Sui Generis em sua terra, com outra formação, mas os tempos eram outros… E tudo acabou se transformando em forró

sou feliz (tragedy)
estamos a fim (stumblin’in)
as meninas (hang on sloopy / li’l red ridin hood / i should have know better)
vem dançar (i’m dancer)
o maor nasceu (born to be alive)
a praça
o mundo irá sorrir (i wanna shake your hand)
se você voltar (love you inside out)
docemente eu me apaixonei (piano piano… mínnamorai di te)
se eu fiz (swiss kiss)
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Taxi – Dois Em Um (2014)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Mexendo em meus arquivos musicais ontem, topei com dois discos que me foram enviados, nem lembro por quem. Trata-se do grupo carioca Taxi, uma banda de funk e soul que agitava os bailes do Rio nos anos 70. O fato é que ao ouvir, na curiosidade, acabei também indo atrás de alguma informação, pois eu pouco me lembrava deste grupo, a não ser pelo ‘sucesso regional’ da música “Pode chorar”, que chegou a ecoar também entre os ‘blacks’ aqui da minha Beagá.
O Taxi foi uma banda de ‘black music’ formada por ex-integrantes dOs Diagonais, de Cassiano. Os motoristas desse Taxi eram Amaro, Camarão e Max. Camarão é irmão de Cassiano que também andou dando suas ‘palinhas’ nesse taxi. Pelo que eu sei, o grupo gravou apenas dois discos, o “Pode chorar” em 79 e outro, “Um dia no tempo” em 80. Embora apresentando uma música de boa qualidade, o Taxi não conseguiu ir muito longe. Isso talvez tenha a ver com o fato de que ao longo desse curto espaço de tempo muita merda aconteceu. Dois dos integrantes originais (Max e Amaro) morreram, dando assim uma desestabilizada no trabalho, levando o Taxi a parar definitivamente.
Os dois discos do Taxi, pode se dizer, são hoje puras raridades. Não se encontra um exemplar nem no Mercado Livre. As capas então, muito menos. Por essas e por outras é que eu achei de ressuscitá-los aqui, reunindo os dois discos numa embalagem só. Com fragmentos, criei uma nova capa, montando assim um ‘webdisco’ exclusivo para listar em nossa coleção, o qual eu dei o nome de “Dois em Um”. Espero que esteja no agrado daqueles que escutam música com outros olhos 😉
quero dançar
pode chorar
eu não quero esquentar
nosso mundo de sonhos
ame os seus
eu preciso de você
tema do taxi
foi você
tempo de viver
melô da garrafa
um dia no tempo
amor nào vai faltar
só saudade restou
vacilão
o homem
lindo é teu amar
canção de amor
razão de ser
a volta
bobeira
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Eduardo Assad – Chanson Pour Anne (1983)

Olá amigos cultos e ocultos! Passado o mês de abril quase fechado, sem muitas postagens, volto agora, retomando as publicações. Embora com um arsenal dos mais variados em termos de discos, com os mais diferentes títulos e gêneros, fico ainda assim sem saber por onde começar. Por outro lado, há também uma constante preocupação diante as novas medidas surgidas com o Marco Zero da Internet. Ainda não sei bem ao certo como anda isso, mas creio que em breve, na melhor das hipóteses, teremos que nos adaptar as novas condições para não fechar de vez.
Hoje, Dia do Trabalho, eu deveria postar aqui algo condizente, mas sinceramente, ando numa preguiça de dar gosto a baiano. Vou lançar mão daquilo que está bem próximo, os ‘discos de gaveta’. Vamos com este lp do pianista compositor e arranjador paulista, Eduardo Assad. Um álbum com um repertório misto, entre temas da música clássica e popular, alguns inclusive autoriais, do próprio Assad. Ele vem acompanhado por orquestra e coro, sob sua regência. Eduardo Assad, para os que não sabem, foi um músico muito atuante nos anos 60 e 70. Nos anos 80 se dedicou as adaptações de temas românticos e instrumentais. De formação erudita, mas acabou mesmo se enveredando pelo lado da música popular, onde veio a trabalhar com diversos artistas, principalmente da Jovem Guarda. Acompanhou por um bom tempo o Ronnie Von com a banda dos Menestréis, posteriormente chamada de B-612. Morreu novo, em 1990, aos 40 anos. Era diretor artístico da Rádio América, de São Paulo. Em 1989 ele recebeu o Prêmio Sharp como melhor arranjador na categoria de música popular. Gravou poucos discos, mas esteve envolvido em muitos projetos, o que lhe garante aquela estrela no céu dos artistas da Música Brasileira.

chanson pour anne
raio de som
natali
detalhes
como vai você
it’s impossible
o guarani
poesia
presente de amigo
the long and winding road
yesterday
crepúsculo encantado
heart’s sound
rapsódia húngara
.

Heitor Villa-Lobos – Os Choros De Câmara (1977)

Olá amiguíssimos cultos e ocultos! Como já deu para perceber, nos últimos dias nós não tivemos postagens. O tempo anda curto para mim. Deixa esse abril passar, logo estarei mais presente. Disco é o que não falta 😉
Para manter acesa a chama, vai aqui um disquinho que deveria ter sido postado na Semana Santa, por ser um tipo de música mais apropriado para o momento, calma e tranquila. Mas eu realmente não achei um tempinho, por isso vai hoje e agora, nesses cinco minutinhos que me restam de folga.
Segue aqui um álbum do excelente selo Kuarup. Um disco realmente de primeira, trazendo “Os Choros de Câmara”, de Villa-Lobos em sua primeira gravação completa. Este álbum foi gravado em 1977, segundo consta na contracapa. Foi produzido originalmente para ser um brinde  do Banco do Brasil no exterior, depois, mais tarde viria a ser lançado  pela Kuarup.
Segundo nos contam os pesquisadores da música no Brasil, o Choro era um gênero de música instrumental  urbano já bem popular, no fim do século XIX. Heitor Villa-Lobos em seus estudos musicais, ainda na infância, já mantinha contato com este tipo de música, contrariando, de uma certa forma, o rigor e formalidade da música chamada “erudita”, ou ainda, aquela na qual a sua classe social estava inserida. Villa-Lobos teve assim a oportunidade de vivenciar a música popular e dela absorver elementos fundamentais que o transformaria num dos nomes mais importante da música brasileira. Complementando um pouco mais, segue aqui um trecho de um artigo sobre Estilos Populares na Música de Câmara Brasileira, publicado no site Portal do Fagote, assinado por Janet Grice: A palavra choro significa, literalmente, chorar, e os intérpretes de choro são chamados “Chorões”. No entanto, a palavra se aplica às peças mais lentas e sentimentais, os choros-canções, mas muitas peças assim denominadas são rápidas e muito sincopadas, mais semelhantes a um samba do que a uma serenata. Em algumas fontes, pode-se encontrar que a origem da palavra “choro” derivaria de uma forma de música e dança africana chamada xolo, termo que, posteriormente, teria passado a ser escrito choro. Um conjunto tradicional de choro pode incluir instrumentos solistas de sopro, como a flauta, clarineta ou saxofone, acompanhados de violão ou outro instrumento de corda como o bandolim e o cavaquinho e o pandeiro.  O termo “choro” também se refere ao repertório musical executado por esses conjuntos: danças e serenatas de origem européia que foram tocadas em festividades populares. Num choro, a linha do baixo é improvisada como um contraponto à melodia, que sofre variações a cada repetição. A improvisação típica toma a forma de variações melódicas e da criação de contrapontos entre os instrumentos do conjunto, ao contrário do jazz, onde existe a modificação da estrutura harmônica. A forma de um choro típico é uma estrutura simples de rondó consistindo em três seções de 16 compassos em tonalidades distintas, mas relacionadas. A estrutura harmônica é similar à da modinha, uma antiga canção portuguesa popular no Brasil desde a época colonial. Fagotistas familiarizados com as 16 Valsas para Fagote Solo de Francisco Mignone conhecem as melodias sentimentais e obsedantes que ele escreveu baseado em elementos da valsa, da modinha e do choro. Como Mignone, tanto Villa-Lobos como Lorenzo Fernandez captaram a essência do choro sem aderir à forma tradicional. No século XX, o choro se transformou num estilo de música e dança bem-comportado e popular, relacionado intimamente com as danças tipicamente urbanas, como o maxixe e o samba. Forma primitiva do samba, o maxixe era incrivelmente popular como uma dança e uma forma de canção no final do século XIX. Tendo recebido esse nome pela maneira de dançar a polca arrastando os pés e remexendo os quadris, tratava-se de uma dança vigorosa em compasso 2/4 que incorporava elementos africanos, hispano-americanos e europeus.

Ao que tudo indica, este disco (CD) pode ainda ser encontrado com facilidade em diversas lojas físicas ou virtuais.
 
choros n. 1
choros n. 2
choros n. 3 (picapau)
choros n. 4
choros n. 5 (alma brasileira)
choros n. 2 (primeira gravação da versão para piano)
choros n. 7 (settimino)
dois choros (bis)
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Orquestra Som Bateau – Ataca De Nostalgia (1975)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Sobrou um tempinho, olha eu aqui de novo. E hoje trazendo mais um disco da Orquestra Som Bateau. Desta vez ela vem trazendo um bocado de sucessos dos anos 50 e 60 em forma de ‘medley’, ou como eu sempre falo aqui, o `pot-pourri’. Ao contrário dos outros álbuns, neste a Orquestra Som Bateau traz também um côro, ou seja, não se limita apenas ao instrumental. Os arranjos são do Azimuth José Roberto Bertram, que também dá seu toque nas interpretações. Um disco realmente interessante, vale uma conferida 😉

nel blu di pinto di blu
tea for two
the shadow of your smile
over the rainbow
al di lá
guantanamera
matilda
come sinfonia
ho carol
banana boat song
a string of pearls
dameti un martello
moonlight serenade
tenderly
singin’ in the rain
night and day
besame mucho
beguin the beguine
hey there
i left my heart in san francisco
cuando sali de cuba
stupid cupid
diana
siboney
raindrops keep falling on my head
el dia en que me quieras
everyboby’s talkin’
blue gardênia
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Nelson Gonçalves – Sambas E Boleros (1961)

Olá amigos cultos e ocultos! Olha eu metendo a mão nos ‘discos de gaveta’ novamente para tentar salvar o dia. Aqui vai para vocês um Nelson Gonçalves, mais batido que uma ‘carreirinha’, mas sempre muito bem vindo (hehehe…). Este álbum, assim como quase toda a discografia de Nelson, já foi bem divulgado em blogs e outras fontes. Também já foi relançado em vinil nos anos 80 e depois em cd. Quer dizer, o que estou fazendo aqui é apenas chover no molhado. Mas quando a chuva é boa a gente deixa cair, não é mesmo? Segue então, “Sambas e Boleros”, álbum originalmente lançado em 1961 e traz doze composições, sendo a maioria do próprio Nelson Gonçalves em parceria com Adelino Moreira.

levanta-me meu amor
plebeu
o amanhã do nosso amor
meu bairro
o mundo em meus braços
fica comigo esta noite
usted llegó
definitivamente
yo te quiero
és mentira
la ley del mas fuerte
tu nombre
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Compositores Brasileiros Contemporâneos – 13. Festival de Inverno da UFMG (1986)

Olá amigos cultos e ocultos! Abril é o mês em que eu mais estou ocupado, quase não tenho tempo para nada. É só trabalho! Preciso achar um momento para a música, para os discos e para o blog. O importante para mim é fazer tudo por prazer e não por obrigação (aliás, que obrigação?)
Segue na postagem de hoje este lp, lançado em 1986 pela Universidade Federal de Minas Gerais para o 13. Festival de Inverno, realizado em São João Del Rey. Época boa, quando ainda a UFMG acreditava em seu festival. Inclusive, o termo “Festival de Inverno” foi criado por eles, mas ao longo do tempo acabaram perdendo até o nome como algo exclusivo. Creio até que alguém já registrou ‘Festival de Inverno’, ou se tornou algo comum. Ainda nos anos 80 o Festival de Inverno da UFMG era o máximo, um evento que todos queriam participar. A produção artística durante o mês de julho, nas áreas de artes plásticas, música e letras eram intensas, a ponto de merecerem publicações. Este disco é um bom exemplo. Gravado ao vivo, possivelmente no Teatro Municipal de São João Del Rey, ele nos apresenta obras de seis compositores brasileiros, da chamada ‘Música Contemporânea’: Michel Philippot, Gilberto Mendes, J. A. de Almeida Prado, Armando Albuquerque, Arthur Nestrovski e Vânia Dantas Leitas. Como na edição anterior do Festival, onde também fora produzido um lp, acredito que este também tenha sido com os alunos que participaram das oficinas. Infelizmente, não encontrei outros dados sobre este disco, mas tenho certeza que logo aparece alguém aqui com a informação necessária. Também, se for do interesse de vocês, poderei em uma próxima ocasião postar o lp do 12. Festival. Deixo aqui também um link, “Música Contemporânea em Minas Gerais“, tese da historiadora Vânia Carvalho Lovaglio, na qual ela pontua também essas passagens dos Festivais de Inverno da UFMG.
piece n. 2 (para violino solo) – michel philippot
retrato – gilberto mendes
epsódio animal – j. a. de almeida prado
sonatinha – armando albuquerque
litania – arthur nestrovski
aju ramô – vania dantas leite
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Jackson Do Pandeiro – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 98 (2014)

Em sua nonagésima-oitava edição, e prosseguindo em sua brilhante e expressiva trajetória, o Grand Record Brazil tem a honra de apresentar a primeira de duas partes de uma retrospectiva dedicada a um dos nomes mais expressivos da música regional nordestina. Estamos falando de Jackson do Pandeiro.  Nosso focalizado recebeu na pia batismal o nome de José Gomes Filho, e foi o primeiro grande artista paraibano surgido em plena era do rádio. Veio ao mundo na cidade de Alagoa Grande, no dia 31 de agosto de 1919, filho de José Gomes e de Flora Maria da Conceição, uma cantora de cocos que usava o pseudônimo de Flora Mourão, e lhe deu de presente  o primeiro instrumento musical: um pandeiro, é claro. Seu nome artístico veio de um apelido dado por ele mesmo: Jack, inspirado em um mocinho de filmes de faroeste americanos, Jack Perry. Cantava no interior da sua Paraíba natal desde a adolescência, e fez algumas duplas antes de se consagrar como artista-solo, a primeira com Zé Lacerda, em Campina Grande, ainda como Jack do Pandeiro. Em 1947, às vésperas de começar a ganhar popularidade nas rádios locais, e de ser rebatizado artisticamente como Jackson do Pandeiro (por sugestão de um diretor de programa de rádio, pois ficaria mais sonoro e causaria mais efeito quando fosse anunciado), formou a dupla Café com Leite, com Rosil Cavalcanti, em João Pessoa. Esse duo teve apenas um ano de existência, mas a amizade e a parceria refletiriam no início da carreira-solo de Jackson.  Em 1953, foi contratado pela Rádio Jornal do Commercio, do Recife,  (que tinha o slogan “Pernambuco falando para o mundo”), pertencente à família Pessoa de Queiroz. Foi lá que conheceu Almira Castilho de Albuquerque, com quem se casou em 1956, e viveu até 1967. A segunda esposa de Jackson foi a baiana Neuza Flores dos Anjos, de quem ele também se separou pouco antes de morrer.  Ainda em 1953, já ganhando notoriedade nacional e despertando o interessa das gravadoras, Jackson conhece Luiz Gonzaga, que imediatamente propõe encaminhá-lo à direção da RCA Victor. Porém, Jackson acaba preferindo a Copacabana, por ter escritório no Nordeste. Antes do Natal de 1953, sai seu primeiro disco, um 78 com “Forró em Limoeiro” (Edgar Ferreira) e “Sebastiana” (Rosil Cavalcanti), com êxito imediato. E seguiram-se inúmeros outros sucessos, tais como “O canto da ema”, “O crime não compensa”,  “Lapinha de Jerusalém”, “Chicletes com banana”, “Um a um”, “Cantiga do sapo”, além dos que foram reunidos neste primeiro volume e comentaremos a seguir. Após serem agredidos fisicamente durante uma passagem pelo Recife, Jackson e Almira  decidem residir no Rio de Janeiro, onde são contratados pela então poderosa Rádio Nacional, “a estação das multidões”. Mesclando com sabedoria temas carnavalescos, juninos e até natalinos, os discos de Jackson animavam qualquer ocasião, e deixavam os críticos abismados  com sua facilidade em cantar gêneros variados. O longo tempo em que Jackson tocou em cabarés aprimorou sua capacidade jazzística, sendo também famosa  sua maneira de dividir a música. Diz-se até que o próprio João Gilberto aprendeu a dividir com Jackson, que é considerado por muitos o maior ritmista da música popular brasileira, tanto que era conhecido como “o rei do ritmo”. Além de vários 78 rpm, sua discografia inclui mais de 30 LPs, o último deles, “Isso é que é forró”, lançado em 1981. Foram 29 anos de carreira, tendo passado também pelas gravadoras Columbia (e sua sucessora, a CBS), Philips, Continental e Cantagalo, tendo também participado de inúmeros projetos coletivos. Diabético desde os anos 1960, Jackson do Pandeiro faleceu em 10 de julho de 1982, na Casa de Saúde Santa Lúcia, em Brasília, DF, em decorrência de complicações de embolia pulmonar e cerebral. Ele tinha participado de um show na Capital Federal uma semana antes, e no dia seguinte passou mal no aeroporto antes de embarcar para o Rio de Janeiro. Seu corpo foi sepultado no Cemitério do Caju, no Rio, e hoje seus restos mortais encontram-se em sua cidade natal, Alagoa Grande, em um memorial que a população do município preparou em sua homenagem. Alceu Valença costuma dizer que Luiz Gonzaga é o Pelé da música, e Jackson do Pandeiro, o Garrincha. É o que comprovaremos na seleção deste primeiro volume que o GRB lhe dedica, com 16 gravações, evidentemente preciosas e de valor histórico, a maior parte delas editadas em 78 rpm pela Copacabana, e reunidas depois em LPs de 10 e 12 polegadas. Abrindo este volume, o coco “A mulher do Aníbal”, de Genival Macedo e Nestor de Paula, lançado por volta de abril de 1954 com o n.o 5234-B, matriz M-749. A faixa seguinte é o xote “Cremilda”, de Edgar Ferreira, bem divertido e malicioso, lançado em maio de 1955 sob n.o 5412-A, matriz M-1014. O outro lado, matriz M-885-2, está na faixa 8: é o samba “Falsa patroa” de Geraldo Jacques e Isaías Ferreira. A faixa 3 é da fase de Jackson na Philips, o “Frevo do bi”, de Brás Marques e Diógenes Bezerra, alusivo à conquista do bicampeonato mundial de futebol (Copa do Mundo) pela Seleção Brasileira no Chile, lançado em junho de 1962, disco P61135H-A (inquebrável e de vinil!), e que nessa ocasião também foi gravado na Continental por um certo Papi Galan. Na quarta faixa, voltando à Copacabana, temos o rojão (tipo de baião mais acelerado) “Cabo Tenório”, de Rosil Cavalcanti, por certo inspirado em um polêmico político dessa época, o alagoano Tenório Cavalcanti (1906-1987), aliás interpretado pelo recém-falecido José Wilker no filme ‘O homem da capa preta”, em 1986. O disco recebeu o número 5741-B, e foi lançado por volta de março de 1957, matriz M-1866. Em seguida você tem justamente o lado A, o “Xote de Copacabana”, do próprio Jackson do Pandeiro (que assina com seu nome verdadeiro, José Gomes), matriz M-1865. A sexta faixa é outro  xote,“Moxotó”, também de José Gomes (ou seja,o próprio Jackson), agora em parceria com Rosil Cavalcanti, datado de 1956, disco 5579-B, matriz M-1504. Em seguida, o clássico “Dezessete na corrente”, rojão de Edgar Ferreira e Manoel Firmino Alves, de 1954, disco 5287-A, matriz M-884-2. O lado B está na décima faixa: é o batuque “O galo cantou”, de Edgar Morais, matriz M-883-2. Na faixa 9, o baião “No quebradinho”, de Marçal Araújo e José dos Prazeres, lançado em agosto-setembro de 1955, disco 5444-A, matriz M-1015. Na décima-primeira faixa, o contagiante “Micróbio do frevo”, de Genival Macedo, para o carnaval de 1955, e que saiu ainda em novembro de 54 com o número 5331-A, matriz M-980. E o lado B, matriz M-981, e faixa 15 desta seleção, é “Vou gargalhar”, samba de Edgar Ferreira que foi um dos campeões da folia de 1955. Na décima-segunda faixa, o divertido “Forró em Caruaru”, rojão que tem a respeitável assinatura do pernambucano Zé Dantas (1921-1962), também parceiro de Luiz Gonzaga em inúmeros hits. Foi lançado em março-abril de 1955 sob n.o 5397-A, matriz M-1104, tendo no verso justamente a faixa seguinte, o batuque “Pai Orixá”, de Edgar Ferreira, matriz M-882-3). Para encerrar, as duas faixas são do disco Copacabana 5277, lançado em 1954: “Eta baião!”, de Marçal Araújo (lado B, matriz M-823-2, faixa 14) e o coco “Boi brabo”, de Rosil Cavalcanti (lado A, matriz M-822-2). É a faixa que termina com chave de ouro a primeira parte da retrospectiva que o GRB dedica a Jackson do Pandeiro, fazendo justiça a este notório, expressivo e até hoje lembrado nome da música regional nordestina, prometendo a segunda parte para a próxima semana. Até lá e fiquem com Deus!
* Texto de Samuel Machado Filho

Egberto Gismonti – Sonho 70 (1970)

Olá amigos cultos e ocultos! Na puxada de discos da minha gaveta, outro lp que veio a mão foi o “Sonho 70”, segundo álbum lançado por Egberto Gismonti, em 1970. Este é mais um daqueles discos que ficou na gaveta pelo fato de ter sido bastante divulgado, diversos outros blogs já o haviam postado. Daí não vi muito sentido postá-lo também. Porém, devido a minha total falta de tempo para o blog,tenho que acabar investindo  nos “discos de gaveta”. Este, talvez, tenha sido o último disco de Egberto antes de entrar de vez numa viagem experimental, voltando-se quase exclusivamente para as composições instrumentais e pesquisas com os mais diferentes instrumentos. “Sonho 70” foi lançado em 1970. Uma produção de Roberto Menescal, que deu ao artista toda a liberdade de criação. Egberto também é o responsável pelos arranjos e a orquestração. No álbum, ele também conta com a participação especial de Dulce Nunes, que na época já era sua esposa. A música de estaque é a que dá nome ao disco, “Sonho”, compoisção que concorreu ao III Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo em 69. Este disco teve uma reedição em 1976, saíndo pelo selo Fontana. O original saiu pelo Polydor.

janela de ouro
parque lage
ciclone
indi
sonho
o mercador de serpentes
lendas
pêndulo
lírica n. 1
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Trio Irakitan – Canta O Sucesso (1969)

Boa noite amigos cultos e ocultos! Lá vou eu de novo recorrer aos meus “discos de gaveta”, pois o resto da noite eu vou passar numa festa. Mas para não deixar o fluxo de postagem tão espaçado, vou marcando presença aqui. Numa escolha sortida, o que veio para hoje é este disco do Trio Irakitan. Pode parecer estranho, mas eu nunca ouvi este disco direito, só mesmo no momento de sua digitalização. Sinceramente, não é dos meus melhores, em termos de repertório. Um misto romântico bem ‘italianado’, pode-se dizer que boa parte do disco são de versões da canção italiana. Confiram daí, que eu de cá vou tomar um banho. A ‘night’ me espera!

ama-me esta noite
quando o amor inspira poesia
quando o amor chegar
stella
melhor que você
noite vazia
custe o que custar
num sorriso teu
quem diria
noite chuvosa
balada ao mar
tiritando
..

Márcio Montarroyos – Carioca (1983)

Olá amigos cultos e ocultos! Na brecha do meu tempo, aqui vai o disco do dia (ou da noite, se preferirem). Vamos com o saudoso trumpetista Márcio Montarroyos, em disco lançado em 1983. Um álbum nota dez para quem gosta de música moderna instrumental. Fazendo juz à sua ilustre e talentosa figura, Márcio vem acompanhado pela nata do momento, músicos renomados, time de primeiríssima! Djalma Corrêa, Leo Gandelman, Jamil Jones, Victor Biglione, Ivan Conti, Ricardo Silveira, Arthur Maia, Lincoln Olivetti, Celso Fonceca… putz, a turma é grande, tem mais uns tantos… mas por aí já dá para sentir o clima. O disco foi gravado no Rio de Janeiro e finalizado em Nova York.

introduction – quilombo dos palmares
aruanda
ocean dance
skydive
samba solstice
christina
carioca
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Albertinho Fortuna – Meus Velhos Tangos (1955)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Como sempre a minha mesma cantilena, a falta de tempo. É verdade, ando muito sem tempo para me dedicar ao blog. Daí as postagens ficam espaçadas e até a qualidade dos textos vai caindo. Lacônico, conforme o momento e as circunstâncias…
Bom, vai aqui outro disco muito pedido por alguns e que finalmente eu resolvi botar pra fora. Temos aqui o cantor Albertinho Fortuna, figura já bem divulgada por aqui (o que não lhe falta é fã), mais uma vez desfilando os velhos tangos, em seu primeiro lp de 10 polegadas, lançado em 1955 pela Continental. Este álbum reúne quatro bolachas de 78 rotações, gravadas pelo cantor anteriormente. Temos assim oito músicas, oito tangos clássicos interpretados na voz de Albertinho, tendo o acompanhamento do paulista Eduardo Patané e sua típica. As versões desses famosos tangos foram feitas por Giuseppe Ghiaroni. Confiram!

caminito
yira… yira…
mano a mano
milonguita
tomo y obligo
volver
el penado 14
pañuelito
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A Música De Buci Moreira (parte 2) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 97 (2014)

E aí vai para todos os nossos amigos cultos, ocultos e associados, mais uma edição do Grand Record Brasil, a de número 97, apresentando a segunda e última parte da retrospectiva dedicada ao compositor Buci Moreira (1909-1982), oferecendo mais dez gravações históricas com suas músicas. Abrimos esta segunda parte com Carlos Galhardo, interpretando o samba “Loucura”, parceria de Buci com Oswaldo Lira e A. F. Conceição, gravado na RCA Victor em 17 de outubro de 1955 e lançado em janeiro de 56, destinando-se evidentemente ao carnaval, sob n.o 80-1539-B, matriz BE5VB-0896. “O cantor que dispensa adjetivos” também está na faixa 8, “Adoro o samba”, em que Buci Moreira tem como parceiro (aliás, um de seus mais constantes) Arnô Canegal, gravação Victor de 26 de agosto de 1941, lançada em novembro do mesmo ano sob n.o  34830-B, matriz S-052344. Prosseguindo, na faixa 2, temos o grande flautista Benedito Lacerda, à frente de seu grupo Gente do Morro, e também cantando, no samba “Preto d’alma branca”, só de Buci Moreira, que mostra a banalidade do preconceito racial. Foi lançado pela Brunswick (marca americana de curta duração no Brasil) em janeiro de 1931, por certo também visando o carnaval, com o n.o 10128-A, matriz 528. Em seguida  vem o misterioso H. G. Americano, intérprete de curta carreira fonográfica (apenas seis discos com dez gravações, em 1929/30), com o samba “Mulher soberba”, em que Buci tem como parceiro Oswaldo Santiago, lançado pela Odeon em agosto de 1930 com o n.o 10657-B. Depois, Francisco Alves nos traz outro samba, “Em uma linda tarde”, parceria de Buci Moreira com Nasinho (apelido de Norival Reis), gravação Victor de 16 de abril de 1935, lançada em julho seguinte com o n.o 33946-A, matriz 79877, com acompanhamento da orquestra Diabos do Céu, do mestre Pixinguinha. O gaúcho Alcides Gerardi vem com “Protesto”, samba em que Buci tem como parceiro Felisberto Martins, então diretor artístico da Odeon, onde o cantor o gravou em 9 de junho de 1952, com lançamento em setembro do mesmo ano, disco 13318-B, matriz 9332. Henricão (Henrique Felipe da Costa, 1908-1984), também compositor de renome, aqui comparece com o samba “Pra que tanto ciúme?”, de Buci Moreira em parceria com Lacy Martins (irmão de Herivelto), gravado na mesma Odeon em 10 de dezembro de 1937 e lançado em janeiro de 38, com vistas ao carnaval, disco 11565-A, matriz 5731. Pioneiro da música country no Brasil, Bob Nélson (Nélson Roberto Perez, Campinas, SP, 1918-Rio de Janeiro, 2009), devidamente acompanhado de seus “rancheiros” (entre eles nada mais nada menos que Luiz Gonzaga à sanfona), apresenta a marchinha “Companheiro de caçada”, em que o parceiro de Buci Moreira é o ator Macedo Neto, que atuou no rádio e na televisão e foi inclusive marido de Dolores Duran. Foi gravada na RCA Victor em 26 de outubro de 1949, e lançada em janeiro de 50 (para o carnaval, claro) sob n.o 80-0634-A, matriz S-078961. O eterno “metralha do gogó de ouro”, Nélson Gonçalves (1919-1998) nos traz o samba “Perfeitamente”, do trio Buci Moreira-Arnô Canegal-Carlos de Souza, gravação Victor de 7 de abril de 1943, lançada em junho seguinte sob n.o 80-0086-B, matriz S-052749. Tem versos algo confusos, mas merece ser ouvido.  E, para encerrar com chave de ouro, volta Francisco Alves, agora junto com o Trio de Ouro em sua primeira formação (Dalva de Oliveira, Herivelto Martins e Nilo Chagas), com o samba “Não é assim que se procede”, do quarteto Bucy Moreira-Arnô Canegal-Raul Marques-Henrique de Almeida, do carnaval de 1945, gravação Odeon de 13 de dezembro de 44 lançada bem em cima da folia, em fevereiro, disco 12550-B, matriz 7735. O próprio Herivelto comanda o acompanhamento, a cargo de sua escola de samba, e no final da gravação comete um erro crasso dizendo “Não é assim que se PORCEDE”! Isso, porém, é apenas é um detalhe. E assim apresentamos a segunda e última parte da retrospectiva do GRB dedicada a Buci Moreira. Até a próxima e muito obrigado pela atenção e carinho!
*Texto de Samuel Machado Filho

Coral Ars Nova – Missa Em Aboio (1966)

Boa noite, meus prezados amigos cultos e ocultos. Para fecharmos a semana, aqui vai um lp excelente para se ouvir num fim de noite, principalmente deste domingo. Temos aqui um dos mais importantes corais brasileiros, o Ars Nova, formado na Escola de Música de UFMG no final dos anos 50. O nome Ars Nova veio em 64, foi sugerido pelo maestro e compositor Carlos Alberto Pinto Fonseca, regente do coral até 2003. É o grupo coral brasileiro mais premiado e conhecido internacionalmente.
“Missa em aboio” foi o primeiro disco lançado por eles. O álbum saiu pelo selo Festa em 1966. No repertório o Ars Nova nos apresenta uma obra sacra, do compositor nordestino Pedro Marinho e que dá nome a disco, “Missa em Abôio”. Dividido em faixas – Kyrie, Glória, Credo, Sanctus, Benedictus e Agnus Dei – esta obra ocupa todo o lado A. O lado B apresenta composições do maestro Carlos Alberto Pinto Fonseca.

missa em aboio
muié rendêra
café de sá chiquinha
ponto de oxum-iemanjá
galo garnizé
é a ti flor do céu
jubiabá
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