Catulo Da Paixão Cearence – Nhô Bento – Coleção Prasa & Poesia (1989)

Olá, meus amigos cultos e ocultos! Nada como as letras, a poesia e as boas composições musicais para fazerem desse espaço um lugar mais para cultos do que ocultos. Por outro lado, entendo que todos por aqui são cultos, independente de estarem ocultos. Seja erudito ou popular, uns falam, uns cantam, outros apenas gostam de ler ou escutar. Não importa, faz parte da natureza de cada um, seja ela inconsequente, inteligente, prepotente, inconsciente ou simplesmente inteligente. Xiii… Começou a rimar… Isso já está virando até poesia, hehehe… Desculpem, mas às vezes influencia, principalmente depois de ouvir Catulo da Paixão Cearence e Nhô Bento. Eis aqui uma oportunidade rara de ouvirmos dois poetas, os quais são mais lembrados pelos nomes do que propriamente pelo que produziram. Catulo talvez seja um artista mais divulgado, sua poesia abrange um universo de coisas que não fica apenas num regionalismo recortado. É brejeiro, é matuto, é nordestino e principalmente brasileiro. Catulo era também um compositor musical e teve excelentes parceiros como Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros, Ernesto Nazareth e Francisco Braga. Talvez, por isso mesmo, pela música, sua imagem se mantenha ativa. Músicas como “Luar do Sertão” e “Flor Amorosa” se tornaram eternas e consequentemente eternizaram o seu autor. Nhô Bento, José Bento de Oliveira, é outra figura que não fica muito atrás. Um poeta popular, um tanto o quanto esquecido. Nasceu no litoral paulista no início do século XX. Mudou-se para a capital ainda jovem, tornando-se poeta de linguagem cabocla. Sua poesia reflete a figura do caipira. É ainda mais brejeiro, caboclo e matuto. Pelo que eu sei, ele escreveu apenas um livro, “Rosário de Capiá” em 1946, reunindo 58 de suas poesias (o prefácio era de Monteiro Lobato). Para nossa felicidade, temos neste lp o próprio Nhô Bento recitando alguns dos poemas desse livro. Ouvir o próprio autor declamando “Pra mim qualquer coisinha dá” é o máximo. Adoro esse poema caboclo. Já no caso de Catulo, temos no disco a presença do ator Lima Duarte, que como poucos, soube incorporar o espírito sertanejo de sua poesia. O fundo musical é também muito interessante e variado, com interpretações exclusivas de músicos como Oswaldo Sbarro, Muraro, Pedrinho Mattar, Geraldo Ribeiro, Paulinho Nogueira e outros mais.

Taí, mais um disco bacana da série “Prosa & Poesia” lançado no início da década de 60 pela RGE. Foram apenas quatro discos, mas que valeram sua reedição, ainda em vinil, no final dos anos 80 (os outros dois volumes também podem ser encontrados, em postagens anteriores, aqui no Toque Musical)
Catulo da Paixão Cearense:
o violão
a dor e a alegria
alucinação
saudade
o portão
chico beleza
o marrueiro
Nhô Bento:
santa cruz
ribeirãozinho
doce de cidra
pra mim qualquer coisinha dá
coração é uma criança