Continental 30 Anos De Sucessos (1973)

Olá, amiguíssimos cultos e ocultos! Olha, vou ser sincero com vocês… estamos em total decadência. Sim, o Toque Musical nunca esteve tão em baixa. E isso se deve a uma série de fatores, a começar por essa plataforma que embora seja perfeita, já não atende aos requisitos que hoje pedem mais interação e imediatismo. As redes sociais, mais especificamente o Facebook e o Youtube passaram a ser a bola da vez. Tudo pode ser encontrado nesses dois ambientes de uma maneira muito mais rápida e interativa e de uma certa forma o interesse do público está mudando, se generalizando. Ampliando os horizontes, mas numa profundidade cada vez mais rasa. Daí, ninguém tem mais saco para acompanhar postagens. O que dizer então quando para se ter acesso ao que se publica aqui precisa antes se associar a um grupo? Sem dúvida, isso é desestimulante e só mesmo que está muito interessado é que encara o jogo. E o jogo hoje se faz muito mais rápido. Demorou, dançou… Por isso, se quisermos nos manter ativos por mais 10 anos, o jeito é acompanhar os novos tempos e implementar novas alternativas. Daí, penso em migrar definitivamente o Toque Musical para o Youtube. Há tempos venho pensando nisso, talvez agora seja a nossa hora. Fiquem ligados, logo o nosso canal vai estar na rede com tudo aquilo que já postamos por aqui. Será um trabalho longo, afinal, repor mais de 3 mil postagens não é moleza. Mas vamos tentar 🙂
Marcando esse momento, eu hoje trago para vocês um álbum triplo comemorativo, da gravadora Continental, lançado lá pelos idos de 1973, ano de uma das melhores safras da indústria fonográfica brasileira. 73 foi o ano em que essa gravadora completou seus 30 anos de atividade e lançou este álbum cujo os discos são de 10 polegadas. São três lps percorrendo todas as fases da gravadora, trazendo os mais diferentes artistas em ordem cronológica. Começa em Vicente Celestino, indo até aos Novos Baianos. São trinta músicas que expressam bem os 30 anos desta histórica gravadora.
Confiram já no GTM 😉

Disco 1
noite cheia de estrelas – vicente celestino
positivismo – noel rosa
implorar – moreira da silva
ondas curtas – orlando silva
brasil – francisco alves e dalva de oliveira
cai, cai – joel e gaúcho
brasil pandeiro – anjos do inferno
é doce morrer no mar – dorival caymmi
mágoas de um trovador – silvio caldas
copacabana – dick farney
Disco 2
felicidade – quarteto quitandinha
flamengo – jacob do bandolim
na paz do senhor – lúcio alves
delicado – waldir azevedo
feitiço da vila – araci de almeida
jura – mario reis
risque – aurora miranda
menino grande – nora ney
linda flor – elizete cardoso
dúvida – luiz bonfá e antonio carlos jobim
Disco 3
tristeza do jeca – tonico e tinoco
fechei a porta – jamelão
dor de cotovelo – elis regina
mas que nada – jorge ben e conjunto de zá maria
o baile da saudade – francisco petronio
nhem nhem nhem – martinho da vila
dela – ciro monteiro
adeus batucada – célia
você mudou demais – claudia barroso
o samba da minha terra – novos baianos
.

Cantores – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 124 (2014)

E chegamos à edição de número 124 do Grand Record Brazil. Para esta semana, o amigo Augusto preparou uma seleção variada, interessante e como sempre de grande valor histórico e artístico. Aqui estão catorze gravações, por certo bastante representativas de nosso glorioso passado musical, interpretadas por sete cantores, com duas faixas para cada um.
Para começar, apresentamos Carlos Alberto Ferreira Braga, o João de Barro, também conhecido por Braguinha (Rio de Janeiro,  29/3/1907-idem, 24/12/2006), compositor de inúmeros e expressivos sucessos no carnaval e no meio-de-ano. Nesta edição de GRB, apresentamos duas gravações que ele fez como intérprete, à frente do Bando de Tangarás, na Parlophon, ambas do disco 13173, lançado em junho de 1930. Começamos com o lado B, matriz  3539, uma toada de autoria dele próprio, “A mulher e a carroça”. Depois temos o lado A, matriz 3538, por certo o que mais apareceu. Trata-se do samba “Minha cabrocha”, de autoria de Lamartine Babo, então definindo seu estilo.  Este, aliás, foi o primeiro grande sucesso autoral de Lalá, e, embora samba de meio-de-ano, também alcançaria êxito no carnaval de 1931. “Minha cabrocha” é conhecido até hoje e tem várias regravações. Nélson Gonçalves (Santana do Livramento, RS, 21/6/1919-Rio de Janeiro, 18/4/1998), o sempre querido e lembrado “metralha do gogó de ouro”, cujos álbuns têm sido presença cativa no Toque Musical, está presente nesta edição do GRB com outras duas faixas, que gravou na Victor em princípio de carreira. A primeira é o clássico fox-canção “Dos meus braços tu não sairás”, de autoria de Roberto Roberti. Nélson o imortalizou na marca do cachorrinho Nipper em 27 de abril de 1944,com lançamento em junho do mesmo ano, disco 80-0186-A, matriz S-052950. Depois temos “A valsa de Maria”, de Custódio Mesquita e David Nasser, gravada em 28 de janeiro de 1943 e lançada em abril do mesmo ano, disco 80-0066-A, matriz S-052706. Em ambas as faixas, o acompanhamento é da orquestra do próprio Custódio Mesquita. Temos,  em seguida, as músicas do único 78 rpm de Jonas Corrêa Tinoco (Niterói, RJ, 14/9/1918-Rio de Janeiro, 1/12/1986), o Victor 33639, gravado em 13 de julho de 1932 e lançado somente em abril de 33, quando ele tinha 15 anos incompletos. O lado A, matriz 65543, sem dúvida foi o que se tornou mais conhecido:  a “Canção do jornaleiro”, de autoria de Heitor dos Prazeres, que popularizou Jonas de imediato e motivou a realização de uma campanha de amparo aos pequenos jornaleiros. Êxito permanente, teve regravações por Franquito, Enéas Fontana e até mesmo por Wanderley Cardoso, um dos futuros astros da Jovem Guarda.  No lado B, matriz 65544, Jonas gravou outra pungentíssima canção, “Não tenho mais felicidade”, composta pelo mesmo autor de “Cidade maravilhosa” e “Alô, alô”, André Filho. Entretanto, Jonas Tinoco abandonou de repente sua carreira, que começara bastante promissora, por motivos até hoje desconhecidos. Sylvio Vieira (Jacareí, SP, 28/5/1899-Petrópolis,RJ, 7/2/1970) tinha origem nobre: era Baronete da Pedra Negra. Estudou canto lírico e sua estreia profissional se deu em 23 de abril de 1920, no Teatro São José de São Paulo, interpretando o papel de Valentim na ópera “Fausto”, de Gounod. Atuou em companhias populares e em revistas, nos principais teatros da então capital da República, o Rio de Janeiro (João Caetano, Glória. Cassino, Recreio). Em 23 de novembro de 1935, fez parte da primeira apresentação completa, em português, da ópera “O guarani”, de Carlos Gomes, no Teatro Municipal carioca, sendo figura constante nas temporadas líricas oficiais dessa casa de espetáculos até o início dos anos 1960. Sylvio Vieira comparece nesta edição do GRB com as músicas do disco Victor 33558, gravado em 29 de abril de 1932 e lançado em junho do mesmo ano. O lado A, matriz 65477, apresenta o maior sucesso do cantor na área da música popular: a canção “Frô do ipê”, de autoria do pistonista Bomfiglio de Oliveira, em parceria com Nélson de Abreu. No lado B, matriz 65478, ele nos apresenta outra canção, esta de André Filho, “Como é lindo o teu olhar”. Carlos Galhardo,  o eterno “cantor que dispensa adjetivos”, é aqui apresentado em dois momentos distintos de sua vitoriosa carreira. De início, ele interpreta aqui “Felicidade… é quase nada”, de Joubert de Carvalho e Gilberto de Andrade, em ritmo de samba-canção (no original era rumba). Seu criador, nos palcos e no disco, foi Roberto Vilmar, em  1933.A regravação de Galhardo foi feita na RCA Victor em 24 de maio de 1950, com lançamento em agosto do mesmo ano, disco 80-0674-B, matriz S-092682. Pulamos em seguida para o início da carreira de Galhardo, apresentando a faixa de abertura de seu primeiro disco, o Victor 33625, gravado em 5 de janeiro de 1933 e lançado em março do mesmo ano, matriz 65658: é o frevo-canção (então chamado de “marcha pernambucana”) “Você não gosta de mim”, de autoria dos irmãos Raul e João Victor Valença. Carlos Galhardo,por sinal, seria o cantor do Sul mais fiel ao frevo, lançando músicas do gênero em vários carnavais, sempre com sucesso certo no Recife e, por tabela, em todo o Nordeste. Autêntico precursor da bossa nova, Mário Reis (Rio de Janeiro, 31/12/1907-idem, 5/10/1981) aqui interpreta dois sambas do mestre de Ubá, Ary Barroso, por sinal seu colega de Faculdade de Direito. Primeiro, “Deixa esta mulher sofrer”, gravação Columbia de 13 de outubro de 1939, lançada em  dezembro do mesmo ano, disco 55189-A, matriz 218. A faixa seguinte vem a ser a primeira composição gravada de Ary, “Vou à Penha”, aludindo a uma festa que acontece no Rio de Janeiro entre os meses de outubro e novembro, no caminho de subida para a Igreja da Penha, ao lado do Parque Shangai, com barraquinhas, venda de artigos religiosos, alimentação típica, etc. O samba saiu no quarto disco de Mário Reis, o Odeon 10298-A, em dezembro de 1928, matriz 2078, e teria uma continuação trinta anos mais tarde, composta pelo próprio Ary, “Eu fui de novo à Penha”, gravada por Lucienne Franco. Por fim, apresentamos Roberto Vidal, cantor que teve sua época, mas foi esquecido com o passar do tempo.  Aqui temos as faixas do disco RCA Victor 80-2159, gravado em 28 de outubro de 1959 e lançado em janeiro de 60. O lado A, matriz 13-K2PB-0805, é um clássico bastante conhecido: “Negue”, samba-canção de Adelino Moreira em parceria com  Enzo de Almeida Passos, criador, no rádio, do “Telefone pedindo bis” e da “Grande parada Brasil”. Teria seu sucesso confirmado e aumentado pelas regravações que recebeu posteriormente:  Carlos Augusto, Linda Rodrigues, Nélson Gonçalves, Cauby Peixoto… e, em 1978,  “Negue” voltaria às paradas de sucesso, na voz de Maria Bethânia.  Este registro original de Roberto Vidal para “Negue”chegaria, em 1961, a seu primeiro LP, sem título (RCA Camden CALB-5038). Entretanto, o lado B do 78, matriz 13-K2PB-0806, estranhamente, não teria a mesma sorte. Trata-se do samba “Triste coração”, de autoria da cantora Linda Rodrigues em parceria com Aldacir Louro. Portanto, é mais uma raridade que o GRB nos apresenta, encerrando a seleção desta semana, apresentando sete cantores e catorze interpretações que têm em comum seu inestimável valor artístico e histórico. Bom divertimento e até a próxima!
*Texto de Samuel Machado Filho

Sambas – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 123 (2014)

E prossegue a gloriosa trajetória do Grand Record Brazil. Já estamos na edição de número 123, e nela estamos apresentando uma seleção especialmente dedicada ao samba. São 15 gravações, com sambas de autores consagrados do gênero, interpretados pelos melhores cantores de sua época.  Abrindo esta edição, temos “Capital do samba”, de José Ramos (1913-2001), fluminense de Campos, que ajudou a fundar a ala de compositores da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, na interpretação do sempre notável Gilberto Alves. Gravação Odeon de 9 de setembro de 1942, lançada em outubro do mesmo ano, disco 12214-A, matriz 7053. Dos cariocas João da Baiana (João Machado Guedes, 1887-1974) e Babaú da Mangueira (Waldomiro José da Rocha, 1914-1993) é “Sorris de mim”, a faixa seguinte, interpretada por Odete Amaral, “a voz tropical do Brasil”. Ela o gravou na Victor em 9 de julho de 1940,com lançamento em setembro do mesmo ano, disco 34657-B, matriz 33463. De Paquito (Francisco da Silva Fárrea Júnior, 1915-1975) e do lendário Paulo da Portela  (Paulo Benjamin de Oliveira, 1901-1949), foi escalado “Arma perigosa”, na interpretação de Linda Rodrigues (Sophia Gervasoni, 1919-1995). É o lado A de seu terceiro 78, o Continental 15423, lançado em setembro de 1945, matriz 1136. Na quarta faixa, um clássico indiscutível do mestre Ary Barroso: é “Morena boca de ouro”,  na interpretação de Sílvio Caldas, que o imortalizou na Victor em 4 de julho de 1941, com lançamento em setembro do mesmo ano, disco 34793-A, matriz S-052259. Foi várias vezes regravado,inclusive por João Gilberto, que o incluiu em seu primeiro LP, “Chega de saudade”, em 1959. O dito popular “Quem espera sempre alcança” dá título à nossa quinta faixa, mais uma composição do lendário Paulo da Portela. Quem canta este samba é Mário Reis, em gravação lançada pela Odeon em setembro de 1931, disco 10837-B, matriz 4272, com acompanhamento da Orquestra Copacabana, do palestino Simon Bountman. “Quem mandou, Iaiá?” é de Benedito Lacerda (também no acompanhamento com sua flauta mágica e inconfundível) e Oswaldo “Baiaco” Vasques, e foi lançado pela Columbia  para o carnaval de 1934, em janeiro desse ano, na voz de Arnaldo Amaral, disco 22262-A, matriz 1005. Também de Baiaco, em parceria com João dos Santos, é nossa sétima faixa, “Conversa puxa conversa”, gravação Victor de Almirante (“a maior patente do rádio”) em 24 de abril de 1934, lançada em julho do mesmo ano com o n.o 33800-A, matriz 79615, com acompanhamento da orquestra Diabos do Céu, formada e dirigida por Pixinguinha.  Babaú da Mangueira volta em nossa faixa 8, “Ela me abandonou”, samba do carnaval de 1949, em parceria com Taú Silva. Novamente aqui comparece Gilberto Alves, em gravação RCA Victor de 23 de dezembro de 48, lançada um mês antes da folia,em janeiro,disco 80-0591-B, matriz S-078852. Autor de clássicos do samba, Ismael Silva (1905-1978) mostra seu lado de intérprete em “Me deixa sossegado”, que assina junto com Francisco Alves e Nílton Bastos, e foi lançado pela Odeon em dezembro de 1931, disco 10858-B,matriz 4281. De família circense, sobrinho do lendário palhaço Piolim,  o comediante paulista Anchizes Pinto, o Ankito (1924-2009), considerado um dos cinco maiores nomes da era das chanchadas em nosso cinema, bate ponto aqui com “É fogo na jaca”, samba de Raul Marques, Estanislau Silva e Mateus Conde. Destinado ao carnaval de 1954, foi lançado pela Columbia (depois CBS e hoje Sony Music) em janeiro desse ano, sob n.o  CB-10017-B, matriz CBO-152. Paulo da Portela volta na faixa 11, assinando com Heitor dos Prazeres “Cantar pra não chorar”, do carnaval de 1938. Quem canta é Carlos Galhardo, “o cantor que dispensa adjetivos”, em gravação Victor de 15 de dezembro de 37, lançada um mês antes da folia, em janeiro, disco 34278-B, matriz 80634. Na faixa 12, volta José Ramos, agora assinando com o irmão, Marcelino Ramos, “Jequitibá”. Gravação de Zé e Zilda (“a dupla da harmonia”), em 1949, na Star, disco 151-B, por certo visando o carnaval de 50. A eterna “personalíssima”, Isaura Garcia, vem com o samba “Mulher de malandro”, de Hervê Cordovil.  Gravado na Victor em 23 de outubro de 1945, seria lançado apenas em  setembro de 46, sob n.o 80-0431-B, matriz S-078380. Ernani Alvarenga, o Alvarenga da Portela, assina “Fica de lá”, samba do carnaval de 1939, em gravação Odeon de Francisco Alves, datada de 16 de dezembro de 38 e lançada bem em cima da folia,em fevereiro, disco 11700-A,matriz 5995. Por fim, temos o samba “Não quero mais”, samba de autoria de Zé da Zilda (também conhecido por Zé com Fome e José Gonçalves) e Carlos Cachaça (Carlos Moreira de Castro, que apareceu no selo com o sobrenome errado, “da Silva”),  gravado na Victor por Aracy de Almeida  em 9 de setembro de 1936 e lançado em dezembro do mesmo ano, disco 34125-A, matriz 80214, certamente com vistas ao carnaval de 37. Note-se, a respeito deste samba, que Cartola tinha feito duas segundas partes, mas Zé da Zilda fez uma outra segunda parte por conta própria e, assim, eliminou Cartola da co-autoria. Enfim, é uma excelente seleção de sambas que o GRB  nos oferece, para apreciação de todos aqueles que apreciam o melhor de nossa música popular.

* Texto de Samuel Machado Filho

A Música De buci Moreira – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 96 (2014)

Estamos de volta com o Grand Record Brazil, em sua edição de número 96. Desta feita, apresentamos a primeira de duas partes de uma retrospectiva dedicada à obra musical de um dos maiores compositores do samba carioca: Buci Moreira. Buci veio ao mundo no dia primeiro de agosto de 1909. Seu pai, Guilherme Eduardo Moreira, era violonista e ele, desde pequeno, mostrou vocação para ritmista. Buci também era neto da lendária Tia Ciata, em cuja residência, nas proximidades da não menos lendária Praça Onze, reuniam-se pioneiros do samba. Em 1917, sem deixar sua casa em São Cristóvão, passou a viver também com outra família no mesmo bairro, fazendo companhia a um menino da casa, e começando seus estudos. Em 1922, foi morar com a avó, até a morte desta, em 1924, e de 1925 a 1927, estudou na Escola Bom Jesus, na Ilha de Paquetá. Com a morte de sue pai, em 1928, Buci foi viver com os tios na Praça Onze, ingressando no Colégio Benjamin Constant. No ano seguinte, desfilou pela única vez naquela que é considerada a primeira escola de samba, a Deixa Falar. Foi justamente na Praça Onze que, em 1930, foi descoberto por Francisco Alves, primeiro a gravar uma composição de Buci, o samba “Palhaço”, parceria com Nélson Januário. Nessa ocasião, começou a atuar como ritmista em gravações na Odeon, formando dupla com Waldemar Silva e, depois, com Arnô Canegal. Entre 1936 e 1940, foi diretor de harmonia da Escola de Samba Vê Se Pode, do Morro de São Carlos, da qual foi um dos fundadores e onde, claro, também desfilou. Trabalhou no cinema, com o cineasta Moacyr Fenelon, e em 1943 participou, ao lado de outros sambistas, do famoso filme inacabado de Orson Welles, “It’s all true”. Entre seus sucessos como compositor destacam-se “Anda, vem cá” (neste volume), “Quem pode, pode”, “Por que é que você chora?”, “Em uma linda tarde” e, o mais conhecido, o samba “Não põe a mão”, parceria com Arnô Canegal e Mutt, gravado pelos Titulares do Ritmo e um dos campeões do carnaval de 1951. Buci Moreira faleceu em seu Rio de Janeiro natal, no dia 28 de março de 1982. Neste primeiro volume, apresentamos dez composições de Buci Moreira, interpretadas por cantores de prestígio em seu tempo. Abrindo-o, temos Linda Batista, interpretando o samba “Casa de cômodos”, parceria de Buci com Carlos de Souza, por ela gravado na Victor em 18 de maio de 1944 e lançado em  agosto seguinte sob n.o 80-0196-A, matriz S-052964. Ela ainda interpreta aqui “Mau costume’ (faixa 3), samba dos mesmos autores mais Chiquinho Sales, gravado também no selo do cachorrinho Nipper em 15 de junho de 1942, com lançamento em agosto do mesmo ano sob n.o 34954-A, matriz S-052554. Por fim, Linda canta, na faixa 5, o samba “Salve a batucada”, do mesmo trio de autores de ‘Mau costume”, também gravação Victor, esta de 11 de maio de 1942, lançada em julho seguinte com o número 34939-B, matriz S-052514. Na faixa 2, a bossa inconfundível da dupla Francisco Alves e Mário Reis, no samba “Anda, vem cá”, gravado na Odeon em 3 de agosto de 1931, disco 10824-B, matriz 4264. O curioso é que Buci Moreira aparece como autor no selo original, mas na edição impressa, da editora Mangione, o samba é creditado a Francisco Alves, Ismael Silva e Nílton Bastos. Na faixa 4, temos o samba “Você foi a culpada”, parceria de Buci Moreira com o ex-pugilista Kid Pepe, na interpretação dos Quatro Diabos,grupo vocal integrado por estudantes de direito. Saiu pela Odeon em agosto de 1935, sob número 11252-B, aliás o único disco do quarteto. Filha do compositor e instrumentista Heitor Leite Sodré, que adotou o pseudônimo de Heitor Catumbi, a carioca Odaléa Sodré (1924-?) interpreta aqui outro samba da parceria Buci Moreira-Kid Pepe, “Romance da morena”, lançado pela Columbia em 1936 no primeiro de seus três únicos discos, número 8165-B, matriz 1112. Aurora Miranda, irmã de Cármen, vem com a marchinha natalina “Blem blau”, em que Buci tem como parceiros Portello Juno e Vicente Paiva (que a acompanha aqui com sua orquestra), gravação Odeon de 3 de novembro de 1936, lançada em dezembro seguinte sob n.o 11414-A, matriz 5434. O Quarteto de Bronze, que tem sido um mistério quanto a seus integrantes, comparece com o samba “Terra do ferro”, parceria de Buci Moreira com Carlos de Souza e Ely de Almeida, lançado pela Victor em maio de 1942 sob n.o 34925-A. Falando em Cármen Miranda, ela aqui nos apresenta “Dance rumba”, que Buci fez em parceria com um especialista nesse ritmo caribenho, Djalma Esteves. Gravação Odeon de 25 de março de 1937, lançada em julho do mesmo ano, disco 11489-A, matriz 5557. Para encerrar esta primeira parte, temos outra Cármen, a Barbosa, de curta carreira e morte prematura, interpretando o samba “Maior prazer”, parceria de Buci Moreira com Miguel Baúso, em gravação Columbia de 13 de maio de 1939, lançada em junho seguinte sob n.o 55069-B, matriz 153. Semana que vem, amigos cultos, ocultos e associados, mais um pouco da obra musical de Buci Moreira. Até lá!
*Texto de Samuel Machado Filho

Carnaval B – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 92 (2014)

O carnaval continua aqui no Grand Record Brazil. Apresentamos nesta semana mais 14 músicas destinadas à folia de Momo, gravadas na era das 78 rotações por minuto. Várias delas clássicos inesquecíveis. E começamos com o pé direito, apresentando um clássico inesquecível: “Pastorinhas”, de João “Braguinha” de Barro e Noel Rosa. Esta composição havia sido lançada originalmente para o carnaval de 1935, na voz de João Petra de Barros, com o nome de “Linda pequena”, sem no entanto repercutir. Após o falecimento prematuro de Noel, em 1937, Braguinha resolveu relançar esta bela marcha-rancho para a folia do ano seguinte, fazendo uma ou outra alteração na letra e rebatizando-a “Pastorinhas”. Sílvio Caldas a imortalizou na Odeon em 13 de dezembro de 1937, com lançamento em janeiro de 38 sob n.o 11567-A, matriz 5733. E “Pastorinhas”, além de ser um sucesso inesquecível, venceria o concurso oficial de carnaval da prefeitura do Rio de Janeiro. A vencedora na categoria marcha tinha sido “Touradas em Madri”, também de Braguinha com Alberto Ribeiro, mas acabou sendo desclassificada sob a alegação de que se tratava de um passo-doble espanhol. Evidentemente, Braguinha não ficou sem o primeiro lugar entre as marchas, pois “Pastorinhas” subiu do segundo para o primeiro lugar! A faixa seguinte é mais uma clássica marchinha, esta do carnaval de 1932: “Teu cabelo não nega”, adaptação feita por Lamartine Babo para o frevo-canção “Mulata”, dos irmãos Raul e João Valença. Castro Barbosa levou a música a disco, tornado-a um sucesso permanente da folia de Momo, e a regravaria outras vezes. A versão desta edição, também gravada na RCA Victor, é de 17 de outubro de 1952, lançada em dezembro do mesmo ano sob n.o 80-1072-A, matriz SB-093524, e mantém sua famosa introdução instrumental. E tome marchinha clássica! Agora é “Mamãe, eu quero”, de Jararaca e Vicente Paiva, do carnaval de 1937, um sucesso que é lembrado até hoje e ultrapassou as fronteiras do Brasil (tocou até em desenho animado de Tom e Jerry!). O próprio Jararaca imortalizou a marchinha na Odeon em 17 de dezembro de 1936, com lançamento um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 11449-A, matriz 5499. Destaque, na gravação, para o hilariante diálogo inicial, em que o papel da mãe é feito por Almirante. Prosseguindo nosso desfile de clássicos carnavalescos, Orlando Silva, o eterno “cantor das multidões”,  nos brinda com a impecável marcha-rancho “Malmequer”, de Newton Teixeira e Cristóvão de Alencar, o “amigo velho”, hit inesquecível do carnaval de 1940. Gravação Victor de 4 de novembro de 1939, lançada um mês antes do tríduo momesco, em janeiro, sob n.o 34544-A, matriz 33248. O eterno e sempre bem-humorado Lamartine Babo volta à cena neste retrospecto carnavalesco, agora com a marchinha “Linda morena”, absoluta no carnaval de 1933, que ele próprio interpreta ao lado de Mário Reis. Gravação Victor de 26 de dezembro de 1932, lançada bem em cima da folia, em fevereiro, sob n.o 33614-A, matriz 65631. Destaca-se no coro, deste registro, uma voz feminina que parece ser a de Cármen Miranda. E falando em Cármen Miranda, ela aqui comparece com duas faixas. A primeira, da parceria Braguinha-Alberto Ribeiro, muitos conhecem na  interpretação de Gal Costa: é a famosa marchinha “Balancê”, de João “Braguinha” de Barro e Alberto Ribeiro, do carnaval de 1937. Cármen a gravou na Odeon em 19 de novembro de 1936, com lançamento um mês antes do carnaval, em janeiro, sob n.o  11430-A, matriz 5457. Apesar de ter obtido alguma aceitação, “Balancê” ficou esquecida com o passar do tempo, até que Gal Costa,  mais de 40 anos depois, a tirasse do esquecimento no LP “Gal tropical” e a transformasse em hit permanente de todos os carnavais a partir de 1980. A outra marchinha com Cármen Miranda nesta edição é a maliciosa “Eu dei…” (“O que foi que você deu, meu bem?”), do carnaval de 1938. Gravação Odeon de 21 de setembro de 1937, lançada ainda em dezembro com o número 11540-B, matriz 5670. No fim, descobre-se que a personagem havia dado um beijo, e quem canta os versos finais (“guarde para mim unzinho, que mais tarde pagarei com um jurinho”) é o próprio Ary Barroso! Aurora Miranda, irmã de Cármen, aqui comparece com outras duas marchinhas, ambas do carnaval de 1940, e em gravações Victor. A primeira é “Que horas são estas?”, de Antônio Almeida e Oswaldo Santiago, do carnaval de 1940. Foi gravada em 18 de outubro de 1939, e lançada ainda em dezembro sob n.o  34530-A, matriz 33191. Dias antes, a 3 de outubro de 39, Aurora já havia gravado “Não vejo jeito”, de Ismael Silva, lançada em novembro seguinte com o n.o 34519-B, matriz 33170. A carioca Dora Lopes (1922-1983), grande compositora e intérprete de sambas, comparece aqui com a divertida marchinha “Fila do gargarejo”, dela própria em parceria com José Batista e Nilo Viana. É do carnaval de 1958, lançada em fins do ano anterior pela Mocambo, gravadora do Recife que pertencia aos irmãos Rozenblit, sob n.o 15196-A, matriz R-910. As Irmãs Pagãs (Elvira e Rosina, esta falecida recentemente, anos depois de Elvira) apresentam-nos “Água mole em pedra dura”, marchinha do carnaval de 1940, de autoria de Sátiro de Melo e Manoel Moreira. Foi gravada na Columbia em 24 de outubro de 1939, e lançada ainda em dezembro com o número 55181-A, matriz 224. Dois inesquecíveis intérpretes se reúnem na faixa seguinte: Francisco Alves, o Rei da Voz, e Dalva de Oliveira, o Rouxinol do Brasil, interpretam a belíssima marcha-rancho “Andorinha”, de Herivelto Martins (então marido de Dalva) e Haroldo Barbosa, um dos sucessos do carnaval de 1946, conhecido como o “carnaval da vitória” por ter acontecido após o término da Segunda Guerra Mundial, com a vitória dos países aliados sobre os do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). A dupla a imortalizou na Odeon em 5 de dezembro de 1945, e o lançamento se deu um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 12660-A, matriz 7954. Para finalizar, trazemos a cantora Lolita França, sobre a qual pouquíssima coisa se sabe. Aqui ela revive a “marcha-canção” (como foi editada originalmente)“Taí” (cujo título original era “Pra você gostar de mim”), de Joubert de Carvalho,  com a qual Cármen Miranda despontou para o estrelato em 1930. A regravação de Lolita é de 7 de julho de 1939, lançada pela Victor em setembro do mesmo ano, disco  34486-B, matriz 33116. Lolita França gravou, entre 1939 e 1942, onze discos com vinte e duas músicas, e suas gravações obtiveram algum sucesso na Argentina. Enfim, esta é a segunda e última parte do retrospecto carnavalesco do Grand Record Brazil, por certo expressiva contribuição para a preservação da memória musical do Brasil. Divirtam-se!

* Texto de Samuel Machado Filho

A Música de Ismael Silva Na Voz De… – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 86 (2014)

Chegamos à edição de número 86 do Grand Record Brazil, apresentando a terceira parte de nossa retrospectiva da obra do compositor Ismael Silva (1905-1978). São mais dezessete composições deste notável mestre do samba, cantadas por intérpretes diversos, inclusive ele mesmo. Para começar, temos um dos mais expressivos intérpretes da obra de Ismael, Mário Reis.  Ele interpreta aqui, como solista, as quatro primeiras faixas deste volume do GRB,  todas elas sambas e em gravações Odeon, a saber: “Novo amor”, de Ismael sem parceiro, gravação de 27 de fevereiro de 1929, lançada em abril do mesmo ano com o n.o 10357-A, matriz 2400; “Sofrer é da vida”, parceria de Ismael com Francisco Alves e Nílton Bastos, gravado em 28 de novembro de 1931 com vistas ao carnaval, mas só lançado em julho de 32 (deveria, pela lógica, ter saído em janeiro) com o n.o 10872-A, matriz 4375; “Ao romper da aurora”, parceria de Ismael e Francisco Alves com outro mestre, Lamartine Babo,  também do carnaval de 1932, disco 10881-A, matriz 4398; e “Uma jura que fiz”, da parceria de Ismael Silva com Noel Rosa e Francisco Alves, que Mário gravou em 12 de julho de 1932, disco 10928-A, matriz 4482. Na faixa seguinte, volta a dupla Francisco Alves-Mário Reis, de quem apresentamos alguns registros  na edição anterior, agora interpretando uma obra-prima do samba, “Arrependido”, da santíssima trindade Ismael Silva-Chico Viola-Nílton Bastos, gravação Odeon de 28 de fevereiro de 1931, lançada em abril do mesmo ano sob n.o 10780-A, matriz 4163 (em nosso volume anterior apareceu o outro lado, “O que será de mim?”).  Sílvio Caldas, o eterno “caboclinho querido”, aqui comparece com duas faixas assinadas exclusivamente por Ismael Silva, que gravou na Odeon em  14 de dezembro de 1934 com lançamento em fevereiro de 35 (claro que para o carnaval) sob n.o 11194, o samba ‘Agradeças a mim” (lado B, matriz 4974) e a marchinha “Cara feia é fome” (lado A, matriz 4972). Jonjoca (João de Freitas Ferreira) vem em seguida com outro samba só de Ismael, ‘Não te dou perdão”, lançado pela Odeon em fevereiro de 1930 para o carnaval, disco 10579-A, matriz 3366. J. B. de Carvalho,  que se converteu à umbanda e gravou por toda a carreira a música de sua religião (teve até terreiro e programa de rádio do gênero), aqui comparece com outro samba de Ismael Silva sem parceiro, “Com a vida que pediste a Deus”, gravação Odeon de 26 de outubro de 1939, lançada em janeiro de 40 para o carnaval, “of course”, sob n.o 11803-B, matriz 6237. “Fã”, outro samba de Ismael sem parceria, foi gravado na mesmíssima Odeon por Gilberto Alves em  14 de julho de 1942, com lançamento em setembro do mesmo ano sob n.o 12189-B, matriz 7015. Compositor e humorista de rádio, Silvino Neto, pai do comediante Paulo Silvino, aqui interpreta uma marchinha de Ismael Silva sem parceiro, “Boa boca”, gravada na Victor em 18 de fevereiro de 1941 e lançada bem em cima do carnaval de 42, em fevereiro, disco  34873-B, matriz S-052447. Nélson Gonçalves, o eterno “metralha do gogó de ouro”, vem com o samba “Não tenho queixa”, parceria de Ismael Silva com David Raw, gravação também da Victor, datada de  15 de dezembro de 1942 com lançamento bem cima do carnaval de 43, em fevereiro, disco  80-0050-A, matriz S-052678. Orlando Silva, o sempre lembrado “cantor das multidões”, comparece com um samba que Ismael fez com Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr.,  “Se eu tiver que escolher”, gravação Odeon de 12 de dezembro de 1945, editada bem em cima do carnaval de 46, em fevereiro, sob n.o 12672-B, matriz 7958. A faixa seguinte é “Antonico”, samba com o qual Ismael Silva retornou às paradas de sucesso, depois de anos no ostracismo. Foi imortalizado na Odeon por Alcides Gerardi em 19 de janeiro de 1950, com lançamento em  abril do mesmo ano sob n.o 12993-B, matriz 8625. É um samba pungente que foge à linha tradicional do autor, pelo andamento um pouco mais lento (o personagem Nestor, de que fala a letra, é o próprio Ismael Silva, na época enfrentando problemas financeiros). Clássico inúmeras vezes regravado. Cyro “Formigão” Monteiro, “o cantor das mil e uma fãs”, comparece aqui com a marchinha “Eu sou um”, também de Ismael sem parceiro, do carnaval de 1940. Gravação Victor de 11 de outubro de 39, lançada ainda em dezembro sob n.o 34529-A, matriz 33184. O Ismael Silva intérprete dá as caras nesta seleção com seu samba “Me diga o teu nome”, lançado pela Odeon em dezembro de 31 (lógico, para o carnaval de 32) sob n.o 10858-A, matriz 4280. No selo original, Francisco Alves e Nílton Bastos aparecem como co-autores, mas, em regravações posteriores, só Ismael  aparece como autor deste samba. Conhecido como “a voz de dezoito quilates”, João Petra de Barros aqui interpreta outro samba só de Ismael, “Não é tanto assim”, gravação Odeon de 18 de dezembro de 1933, lançada em janeiro de 34 para o carnaval, disco 11089-B, matriz 4771, finalizando a terceira parte de nossa retrospectiva.   Enfim, mais uma contribuição do GRB à preservação de nossa memória musical. Até a semana que vem!

* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

.

A Música De Wilson Batista (Parte 1) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 77 (2013)

Em sua edição de número 77, o Grand Record Brazil inicia uma retrospectiva dedicada a um dos maiores compositores que o Brasil já teve, cujo centenário de nascimento é comemorado neste 2013 que ora finda: Wilson Batista. Batizado como Wilson Batista de Oliveira, nosso focalizado nasceu na cidade de Campos, litoral fluminense, no dia 3 de julho de 1913. Filho de um humilde pintor de paredes, funcionário da guarda municipal da cidade, João Batista de Oliveira, e de Isaurinha Alves de Oliveira, ainda menino participou, tocando triângulo, da Lira de Apolo, banda organizada por seu tio, o maestro Ovídio Batista. Era mulato, tinha 1,65m de altura, cabelos ondulados e rosto fino. Ainda em seu berço natal, participou do Bloco Corbeille de Flores, para o qual fez várias composições. Ainda frequentou o Instituto de Artes e Ofícios de Campos, visando se habilitar no ofício de marceneiro, mas sem oportunidade de adquirir muita instrução.  Assinava seu nome com grande esforço, e a coisa ficava ainda mais difícil na hora de escrever um bilhete. No entanto, era capaz de escrever poemas com grande facilidade. Em 1929, mudou-se sozinho para o Rio de Janeiro, disposto a ganhar a vida como compositor, e indo morar por algum tempo com seu tio, que era funcionário da limpeza pública. Logo que chegou ao Rio, chegou a trabalhar como acendedor de lampiões da Light, mas por pouco tempo, pois tinha dificuldade de se adaptar a empregos. Nessa ocasião, passou a frequentar os cabarés da Lapa e o bar Esquina do Pecado, na Praça Tiradentes, pontos de encontro de marginais e compositores, tornando-se amigo dos irmãos Meira, malandros famosos da época, o que lhe rendeu várias prisões. A seguir, começa a trabalhar como eletricista e auxiliar de contra-regra no Teatro Recreio.  Fez seu primeiro samba aos 16 anos, “Na estrada da vida” (nesta seleção), que Aracy Cortes lançou no Recreio e Luiz Barbosa gravou em 1933. O samba “Lenço no pescoço”, lançado por Sílvio Caldas no mesmo ano, deu origem a uma famosa polêmica musical com Noel Rosa, que respondeu com “Rapaz folgado”, contestando  a identificação do sambista com o malandro, e por aí foi.  Apesar dessa longa “briga”, ambos depois se tornaram amigos…  Sua primeira música gravada foi o samba “Por favor, vai embora”, em 1932 (nesta seleção).  No mesmo ano, Wilson Batista passou a atuar como crooner e pandeirista da orquestra de Romeu Malagueta. Sempre vendendo sambas e fazendo parcerias ditas “comerciais”, Wilson conheceu, no lendário Café Nice (Avenida Rio Branco esquina com Rua Bittencourt da Silva), o cantor e compositor Erasmo Silva, com quem forma a Dupla Verde-Amarela (depois Verde e Amarelo). Ambos realizam apresentações no Brasil e em Buenos Aires, a capital da Argentina. A dupla seria desfeita em 1939, justamente com a ida de Erasmo Silva para a Argentina. Reencontraram-se em 1948, e quatro anos mais tarde acontece a dissolução definitiva da dupla. Nas composições de Wilson Batista, com ou sem parceiros,  predominam temas populares, como carnaval, futebol, jogo do bicho, e entre elas destacamos: “Acertei no milhar”, “Nêga Luzia”, “O bonde São Januário”, “Emília”, “Dolores Sierra”, “Louco (Ela é o seu mundo)”, “Samba rubro-negro”, “A mulher que eu gosto”, as marchinhas “Balzaquiana”, “Sereia de Copacabana” e “Pedreiro Waldemar”, “Boca de siri”, “Ganha-se pouco mas é divertido”, “Cabo Laurindo”, “História da Lapa”, “Rosalina”, “Esta noite eu tive um sonho”, “Mundo de zinco”, etc. Embora fanático torcedor do Flamengo, compôs para o carnaval de 1946 a marchinha “No boteco do José”, sobre a conquista do Campeonato Carioca de Futebol pelo Vasco da Gama, hit na voz de Linda Batista. Boêmio durante quase toda a vida, trabalhou nos últimos anos de existência como fiscal da UBC (União Brasileira de Compositores), entidade que ajudou a criar. Foi casado e pai de dois filhos, mas a vida boêmia carioca o fazia ficar longe de casa até três dias (!), para desespero da esposa. Apesar dos inúmeros hits como compositor, Wilson Batista morreu pobre, no dia 7 de julho de 1968, quatro dias depois completar 55 anos, de problemas cardíacos. E seu corpo foi sepultado na tumba da UBC, no cemitério  do Catumbi. Nesta primeira parte da retrospectiva que o GRB oferece por ocasião do centenário de nascimento de Wilson Batista, foram escolhidos onze de seus trabalhos, interpretados por grandes nomes da MPB de seu tempo. Nossa seleção começa com o samba ‘Vinte e cinco anos”, parceria de Wilson com o “amigo velho”, Cristóvão de Alencar, gravado por outro grande compositor, Newton Teixeira (aquele da “Deusa da minha rua”, por exemplo), em 12 de agosto de 1940, sendo lançado pela Odeon em dezembro do mesmo ano, sob n.o 11925-A, matriz 6450, evidentemente visando o carnaval de 41. Newton, por sinal, acabara de com-pletar 25 anos quando gravou a música, daí o título. Em seguida, Murilo Caldas, irmão de Sílvio, interpreta o samba “Refletindo bem”, parceria de Wilson Batista com J. Cascata, em gravação Victor de 21 de agosto de 1939, lançada em novembro do mesmo ano com o n.o 34511-B, matriz 33143. A faixa seguinte é justamente a estreia de Wilson Batista em disco, em parceria com Benedito Lacerda e Osvaldo Silva: o samba “Por favor, vá embora”, que Patrício Teixeira, então já veterano, imortalizou na mesma Victor em 14 de novembro de 1932, com lançamento em dezembro seguinte para o carnaval de 33, por certo, disco 33600-A, matriz 65594. O samba “O bonde São Januário”, de Wilson com outro mestre, Ataulfo Alves, sucesso no carnaval de 1941 na voz de Cyro Monteiro, vem aqui em uma curiosa gravação instrumental do pianista Heriberto Muraro, em ritmo de fox, feita também na Victor em 27 de maio do mesmo ano de 1941, com lançamento em julho seguinte, disco 34762-A, matriz 52163. Em seguida vem o primeiro samba feito por Wilson Batista, sem parceiro, “Na estrada da vida”, rotulado no selo como samba-canção, mas nem parece. A gravação coube a Luiz Barbosa (1910-1938), na Victor, em 28 de abril de 1933, com lançamento em dezembro seguinte, disco 33732-A, matriz 65722. A marchinha ‘Grito das selvas”, parceria de Wilson Batista com Augusto Garcez, é outra gravação Victor, de 14 de novembro de 1940, lançada em dezembro seguinte com o n.o 34694-B, matriz 52047, visando, é claro, o carnaval de 41. Quem canta é Silvino Neto, compositor (“Valsa dos namorados”, ‘Cinco letras que choram” etc.)e também humorista de prestígio no rádio, apresentando o programa ‘Pimpinela Escarlate”, onde fazia imitações de políticos famosos da época e contava piadas. Era pai do também humorista Paulo Silvino, figurinha carimbada dos humorísticos da TV Globo nos anos 1970/80. Outra obra-prima do samba é “Estás no meu caderno”, mais uma parceria de Wilson Batista com Benedito Lacerda e Osvaldo Silva, magistral criação de Mário Reis na Victor em 11 de maio de 1934, lançada em agosto do mesmo ano, disco 33810-A, matriz 79640. “Emília”, outro samba clássico, em que Wilson tem outro ilustre parceiro, Haroldo Lobo. É uma exaltação à então denominada mulher ideal, prendada e submissa, surgida um pouco antes da não menos clássica Amélia de Ataulfo Alves e Mário Lago. Foi imortalizado na Columbia por Vassourinha (Mauro Ramos de Oliveira) em 23 de junho de 1941, sendo lançado em outubro do mesmo ano com o n.o 55302-A, matriz 441. Talento promissor, revelado pela Rádio Record de São Paulo, Vassourinha, entretanto, morreria prematuramente, aos 19 anos, vítima de osteomielite, deixando apenas seis discos 78 com doze músicas (“Emília” é do segundo deles), que mereceriam mais tarde reedições em LP e CD. Depois vem um trio “brabo”: Francisco Alves, Murilo Caldas e Castro Barbosa, interpretando o samba “Desacato”, feito também a três mãos (Wilson Batista, Murilo Caldas e Paulo Vieira). Foi gravado na Odeon em 18 de julho de 1933 e lançado em agosto do mesmo ano com o n.o 11042-B, matriz 4699, atingindo sucesso “desacatador”, conforme diz com bom humor a partitura impressa. Em seguida, o samba-exaltação “Cidade de São Sebastião”, parceria de Wilson Batista com Nássara, gravado na mesma Odeon por Francisco Alves em 10 de julho de 1941, e lançado em agosto do mesmo ano, disco 12028-A, matriz 6710. Foi feito para a segunda edição da peça musical “Joujoux e Balangandãs”, levada a cena, a exemplo da primeira, de 1939, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Por iniciativa da então primeira dama do Brasil, Darcy Vargas, “socialites” da época apresentavam seus dotes artísticos no palco e mostrar generosidade na bilheteria, em prol de suas obras assistenciais. No palco, “Cidade de São Sebastião” foi  interpretado em dueto por Jenny Hime e Roberto Rocha, e a gravação de Chico Alves foi mais tarde relançada com o n.o 12950-B. Para finalizar, a divertida marchinha “As pupilas do senhor Bocage”, parceria de Wilson Batista com Arnaldo Paes, lançado para o carnaval de 1939 pela Columbia, em fevereiro desse ano, na interpretação do também comediante Barbosa Júnior (que marcou época no rádio brasileiro com o programa infantil “Picolino”), com o n.o 55016-B. O título cita o romance ‘As pupilas do senhor reitor”, do escritor lusitano Júlio Diniz (que no Brasil virou até telenovela) e demonstra claramente a errônea associação do poeta Bocage (1765-1805), também português, a piadas eróticas, maliciosas e picantes, isso pelo fato de ele ter escrito poemas eróticos e satíricos. E esta seleção é apenas o começo: vem mais Wilson Batista por aí. Aguardem!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Lamartine Babo – A Música Popular No Rio de Janeiro (1988)

Bom dia carnavalescos cultos e ocultos! Parece mentira, mas até o momento eu ainda não vi e nem saí no carnaval. Não vi pela televisão e nem nas ruas. Aliás, Belo Horizonte em termos de carnaval é um caso sério. Existe até a tradição, mas a turma por aqui não é muito animada. Neste ano, parece, estavam querendo ressuscitar os velhos blocos carnavelescos, mas eu não tenho visto muitas manifestações pela cidade. Acho que o problema por aqui é a chuva. Todo ano chove nessa época, daí o belorizontino prefere viajar e pular o carnaval na chuva de outra cidade. Aqueles que dizem que odeiam carnaval também fogem da cidade, procurando um retiro de paz no feriadão. Bobagem, melhor ficar por aqui mesmo. Eu adoro o carnaval, mas para ir para o agito prefiro sair com antecedência e voltar depois sem pressa. Se tem uma coisa que eu não tolero e pegar uma estrada cheia ou ficar mofando em salas de embarque de aeroporto. Como um bom mineiro, gosto de fazer as coisas sem afobação. Na pior das hipóteses, fico em casa. Faço o meu carnaval por aqui mesmo. Discos e músicas são o que não me faltam. Faço a festa e ainda de sobra mando ver aqui no Toque Musical.
Passar o Carnaval sem Lamartine Babo é o mesmo que assistir na Avenida dos Andradas ao desfile carnavelesco de Belô, uma tremenda frustração. Por isso, para salvar o dia e também a festa, vamos com um álbum do Lalá. Temos aqui este lp lançado pela Moto Discos, que a exemplo de outros selos como o Collectors, Revivendo e Filigranas Musicais, ajudou em muito no resgate e restauração de velhos fonogramas, dos primeiros discos e artistas da música popular brasileira. O álbum “Lamartine Babo – A música popular no Rio de Janeiro”, como diz o próprio texto da contracapa, procura prestar uma homenagem a um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos, reunindo algumas de suas famosas criações. As músicas selecionadas aqui são da década de 30, em gravações feitas pelo artista ou outros intérpretes como, Carmen Miranda, Francisco Alves, Aracy de Almeida, Castro Barbosa, Mario Reis, Almirante, Diabos do Céu e outros… Em todas as músicas temos, de alguma forma, a presença de Lalá, mesmo quando na música ele não é o astro principal. Ele intervém para dar a essa um definitivo ‘toque’ lamartinesco. Confiram…

linda morena
grau dez
a e i o u
babo… zeira
rapsódia lamartinesca
senhorita carnaval
teu cabelo não nega
moleque indigesto
aí heim?
boa bola
infelizmente
vaca oxigenê
chegou a hora da fogueira

Velhos Sambas, Velhos Bambas (1985)

Olá amigos cultos e ocultos! Vocês não podem imaginar, recuperei o meu carro! Após haver passado quase 70 horas, recebi um telefonema da Polícia Militar avisando que o haviam encontrado. Corri imediatamente para o local. O carro foi abandonado em um bairro afastado de classe média alta, longe de favelas ou oficinas de desmanche, o que nos levou a acreditar que o ladrão o pegou apenas para dar umas voltas. Só sei que nessas voltas, me levou tudo que havia dentro do carro. Levaram o meu Ray Ban original, uma blusa daquelas que a gente adora, meu IPod com a coleção completa da série História da Música Popular Brasileira e uma pasta com alguns cheques e documentos. Fora isso, levaram também os quatro pneus, o estepe e ferramentas. Bacana…, me deixaram o carro todo depenado. Mesmo assim, fiquei mais feliz ao reencontrá-lo do que quando eu o comprei. Passei o dia de ontem e hoje recuperando um pouco os estragos. Pelo menos agora não fico a pé. Vou aproveitar meus dias de férias e dar uma boa recuperada nesse carro, que cada vez me convenço mais ter nascido para ser meu 🙂 Quero mais uma vez agradecer a todos o apoio e o carinho. Tenho certeza que meu carro apareceu graças à soma de todos esses pensamentos positivos. Muito obrigado! Os outros problemas permanecem e até se agravam, mas há momentos em que quando não se é possível remediar, remediado está. Portanto, apenas rezo e observo. Viver é sofrer. A felicidade é um estado imaginário.
Como eu fiquei ontem sem postar o disco do dia e este deveria ser um álbum/artista independente, farei hoje uma postagem especial. Temos aqui um álbum triplo independente, lançado pela FENAB – Federação Nacional de Associações Atléticas Banco do Brasil. A FENAB vinha desde 1979 produzindo discos como este, os quais eram oferecidos aos seus parceiros e associados. O grande barato desses discos é a edição de material inédito e raro, coisa que não se encontra facilmente por aí. No caso de “Velhos sambas, velhos bambas”, encontramos em seus três lps dois momentos distintos. Fonogramas raros e inéditos datados a partir de 1919 e regravações feitas em 1985, reunindo um destacado grupo de artistas e músicos. Como intérpretes temos Violeta Cavalcante, Roberto Paiva, Ademilde Fonseca, Roberto Silva, Zezé Gonzaga e Gilberto Milfont. Para acompanhar essa turma temos o Conjunto Época de Ouro, o Quarteto de Cordas da UFRJ, Altamiro Carrilho, Déo Rian, Orlando Silveira, Zé Bodega, Wilson das Neves e mais uma dezena de outros músicos talentosos, que poderão ser conferidos no encarte que vem anexo. É sem dúvida, um álbum especial e imperdível. Não deixem de conferir…

confessa meu bem – eduardo das neves
tatú subiu no pau – bahiano
quando a mulher não quer – francisco alves
o destino deus é quem dá – mário reis
nego bamba – otília amorim
meiga flor – francisco alves
quem espera sempre alcança – mário reis
patrão prenda seu gado – grupo da velha guarda
sonhei que era feliz – carmen miranda e zaira de oliveira
apanhando papel -francisco alves
meu consolo – mário reis
mentirosa – orlando silva
não dou liberdade a mulher – joão petra de barros
cansei – roberto silva
novo amor – filberto milfont
não diga minha residência – gilberto milfont
me deixa viver – roberto silva
agora é cinza – ademilde fonseca
comigo não – violeta cavalcante
quem há de dizer – roberto paiva
saia do caminho – zezé gonzaga
camisa amarela – ary barroso
mulher de malandro – vileta cavalcante
favela – roberto paiva
adeus batuca -ademilde fonseca
vai cavar a nota – roberto silva
meu barração – zezé gonzaga
segredo – zezé gonzaga
cansei de pedir – violeta cavalcante
disse me disse – gilberto milfont
camisa listrada – ademilde fonseca
já passava das onze – roberto silva
resiguinação – zezé gonzaga
falsa baiana – roberto silva
se você sair chorando – roberto paiva
as mariposas – adoniran barbosa
depoimento de klécius caldas
cinema mudo – ademilde fonseca
notícia – gilberto milfont
não quero mais amar ninguém – roberto paiva
castigo – gilberto milfont
ó seu oscar – roberto paiva
emília – roberto silva
rosalina – gilberto milfont

Nosso Sinhô Do Samba (1988)

Amanheceu… voltei a realidade. Por pouco mais de seis horas estive longe dos problemas e do mal estar. Agora estou aqui tentando planejar o meu dia. Sem carro, muda-se toda a minha rotina. O dia hoje vai ser duro. Vou correr atrás do prejuízo, refazer as contas e prestar contas. Agradeço aos amigos cultos e ocultos a solidariedade. Foi reconfortante ler agora, logo cedo, essas mensagens de apoio. Obrigado! Até ontem, antes do meu carro ser roubado, eu havia selecionado uma meia dúzia de discos interessantes de samba, só coisa boa e rara. Mas com o ocorrido, não tive nem cabeça para levá-los para casa. Daí, nossa semana que seria dedicada ao samba vai ficando adiada. Porém, quando se trata de música popular brasileira, a gente vai estar sempre tropeçando em algum samba e assim, dificilmente, fugiremos por completo do batuque.
Aqui vai uma seleção da boa, das origens do samba. Temos “Nosso Sinhô do Samba”, um disco lançado pela Funart, dentro do Projeto Almirante, em 1988. Este lp reúne 14 fonogramas selecionados com músicas de José Barbosa da Silva, mais conhecido com Sinhô, um dos mais importantes compositores da música popular brasileira de uma época, ao lado de Pixinguinha, Donga e Caninha. As músicas reunidas neste álbum são gravações bem antigas e raras da década de 20, realizadas por dois dos seus maiores intérpretes, Francisco Alves e Mário Reis. Confiram…

ora, vejam só – francisco alves
amar a uma só mulher – francisco alves
o bobalhão – francisco alves
eu ouço falar – francisco alves
a favela vai abaixo – francisco alves
não quero saber mais dela – francisco alves e rosa negra
sonho de gaúcho – francisco alves
cansei – mário reis
carga de burro – mário reis
gosto que me enrosco – mário reis
já é demais – mário reis
a medida do senhor do bonfim -mário reis
sabiá – mário reis

Mario Reis E Carlos Galhardo – Relíquias Brasileiras (1986)

Olá, amigos cultos e ocultos! Chegamos a mais uma sexta independente, trazendo o lado alternativo do universo musical e fonográfico. Temos para hoje o lp “Relíquias Brasileiras, Volume 7”, um álbum realizado de forma independente por uma produtora mineira, com o apoio de colecionadores de antigas bolachas de 78 rpm. Conforme a informação do texto na contracapa, este é mais um volume da coleção motivada pelo tradicional programa “Relíquias Brasileiras” da Rádio América (AM 750 khz) de Belo Horizonte. O que me pareceu estranho foi que nunca vi e nem achei nenhum outro volume da série. Não sei explicar a razão do tal volume 7 🙁
Independente de qualquer coisa, o que temos aqui são gravações raras de Mário Reis e Carlos Galhardo. São quatorze faixas onde temos de um lado Mário Reis acompanhado pela Orquestra Diabos do Céu, em gravações originais que vão de 1933 a 35. Do outro, temos Carlos Galhardo, também acompanhado pela Orquestra Diabos do Céu e Orquestra Victor Brasileira entre os anos de 1937 a 39. Completa a relação com a música “Ré misteriosa”, de 1947, onde Galhardo vem acompanhado pela Orquestra do Maestro Zacarias. Taí, uma seleção muito boa e rara que ninguém pode perder 🙂

Mário Reis
agora é cinza
ride palhaço
uma andorinha não faz verão
o sol nasceu para todos
linda mimi
eva querida
rasguei a minha fantasia
Carlos Garlhardo
hó senhora viuva
olá seu nicolau
ré misteriosa
bahiana me dá seu amor
olhei pra você
chega já é demais
linda morena

Mario Reis – Ao Meu Rio (1965)

É… a gripe me pegou mesmo. Eu ontem, por honra da firma, fiz rapidamente a postagem, tomei um banho e fui para a cama. Nem me dei conta de que faltou publicá-la. Somente hoje cedo foi que percebi o atraso. Seja como for, tardou mas não faltou 😉
Eu continuo na mesma, um pouco desanimado e com dor de garganta. Mas vamos logo cedo dando o toque musical do domingo. Nada como uma boa música para ajudar na cura de nossos males. Hoje nós iremos de Mario Reis, um dos mais singulares cantores do rádio. Um interprete revolucionário da canção brasileira, considerado um dos precursores da Bossa Nova.
“Ao meu Rio” foi seu segundo LP, também dirigido e à convite de Aloysio de Oliveira por ocasião do IV Centenário do Rio de Janeiro, só que desta vez pelo selo Elenco. No álbum, entre outras, ele regravou alguns de seus maiores sucessos. O disco é coisa fina, com arranjos e regência do maestro Gaya. Quem ainda não o ouviu, faça-me o favor…

cadê mimi
jura
o destino é deus quem dá
flor tropical
quando o samba acabou
agora é cinza
sofrer é da vida
pelo telefone
linda morena
dorinha meu amor
gavião calçudo
formosa

Mario Reis – Canta Suas Criações Em Hi-Fi (1960)

Na sexta-feira passada eu postei um disco do Francisco Alves e daí me lembrei do Mário Reis. Como eu até hoje ainda não havia postado nada dele e também para não perder o clima, resolvi trazê-lo agora neste maravilhoso lp.
À convite de Aloysio de Oliveira, Mário retorna ao disco, desta vez na era dos lps de alta fidelidade. Neste disco, produzido por Aloysio, ele regrava antigos sucessos, mesclados com outras (então) novas composições do jovem Tom Jobim. Os arranjos são do maestro Gaya, que procurou se manter fiel às orquestrações das gravações originais. Um excelente álbum para se ouvir no domingo. Valeu?

palavra doce
vamos deixar de intimidades
o que vale a nota sem o carinho da mulher
yayá boneca
mulato bamba
rasguei a minha fantasia
isso eu não faço não
deus nos livre do castigo das mulheres
linda mimi
a tua vida é um segredo
vae-te embora
o grande amor