Os Cariocas – Compacto (1965)

Dentre os conjuntos vocais que deram aquele “banho de loja” em nossa música popular (Bando da Lua, Anjos do Inferno, Quatro Ases e um Coringa, Vocalistas Tropicais etc.), Os Cariocas ocupam um lugar de destaque. Formado em 1942 por irmãos paraenses que moravam na Tijuca, Severino de Araújo Silva Filho (que seria pai da atriz Lúcia Veríssimo) e Ismael de Araújo Silva Neto, o grupo era inicialmente um quinteto, completado pelos vizinhos Salvador, Tarquínio e Ary Mesquita, este último depois substituído pelo gaitista Waldir Viviani. Começaram a carreira em 1945, participando do programa de calouros “Papelcarbono”, apresentado no rádio por Renato Murce, e obtendo o terceiro lugar. Em uma segunda tentativa, finalmente conseguem a primeira posição, e, em 1946, são contratados pela lendária PRE-8, Rádio Nacional, a meca artística da época.  Já com Badeco e Quartera no lugar de Tarquínio e Salvador, Os Cariocas gravam seu primeiro disco em 1948, na Continental, apresentando o samba “Adeus, América” e, no verso, o samba-canção “Nova ilusão”, logo causando sensação por suas harmonias ousadas e pelo sincopado rítmico, precursor da bossa nova. Em 1956, falece Ismael Neto e Severino Filho assume a liderança dos Cariocas, contando, por seis anos, com a irmã da dupla básica, Hortênsia. Obviamente, participaram da bossa nova, tanto que, em 1962, fizeram parte do show “Encontro”, na boate carioca Au Bon Gourmet, ao lado de João Gilberto, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, o bateritaMílton Banana e o contrabaixista Otávio Bailly, apresentando as músicas mais simbólicas do movimento, tipo “Corcovado”, “Samba do avião”, “Chega de saudade” etc.  O currículo dos Cariocas ainda inclui apresentações nos EUA, Argentina, Porto Rico e México. E ainda atuaram diversas vezes no programa “O fino da bossa”, apresentado na TV Record de São Paulo pelos inesquecíveis Elis Regina e Jair Rodrigues. Em 1966, o grupo se separou, por divergências com o maestro Severino Filho, e cada integrante foi para seu lado. Vinte e um anos mais tarde, 1987, o pianista Alberto Chinelli convidou Severino Filho para ouvir o arranjo feito para o clássico “Da cor do pecado”, de Bororó. Severino, entusiasmado, fez o arranjo vocal e chamou os integrantes do conjunto para voltarem aos discos e shows. Em primeiro de março de 2016, morre Severino Filho, o que parece ter encerrado a longa e gloriosa trajetória dos Cariocas. Da longa e expressiva discografia do conjunto, o TM oferece hoje a seus amigos cultos e ocultos um raríssimo compacto simples lançado pela Philips em 1965, época em que Os Cariocas eram um quarteto. Ambas as faixas foram extraídas do LP “Os Cariocas de quatrocentas bossas”, desse mesmo ano. No lado A, um indiscutível clássico romântico dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle, “Preciso aprender a ser só”, verdadeira joia que foi, merecidamente, um dos maiores sucessos musicais de 65, e tem inúmeras outras gravações, como as de Elis Regina, Sylvia Telles e do próprio Marcos Valle. E o lado B apresenta uma curiosidade: a toada “Carro de boi”, de Maurício Tapajós com letra de Antônio Carlos de Brito, aliás, Cacaso, futuro amigo/parceiro de “medalhões” da MPB, como Suely Costa, Djavan, Joyce Moreno, Olívia Byington,João Donato, Edu Lobo e outros mais. “Carro de boi” seria inclusive regravada, em 1976, por Mílton Nascimento, para seu álbum “Geraes”. Enfim, outro precioso e raro disquinho com fonogramas preciosos, dignos de figurarem nos acervos de tantos quantos apreciem a música popular brasileira no que ela tem de melhor e mais expressivo. É só baixar e conferir.

preciso aprender a ser só
carro de boi

*Texto de Samuel Machado Filho

Armando Macedo – Compacto (1968)

Mais um precioso compacto é oferecido hoje pelo TM a seus amigos cultos e ocultos. E de inestimável valor histórico, pois documenta o início de carreira de um de nossos mais talentosos e expressivos músicos: Armando Macedo, mais tarde conhecido como Armandinho. Instrumentista, cantor e compositor, Armando da Costa Macedo nasceu em Salvador, capital da Bahia, em 22 de maio de 1953. É filho de Osmar Macedo, da dupla Dodô e Osmar, idealizadores do célebre trio elétrico de mesmo nome. Em 1962, Armandinho formou o grupo de frevo Trio Elétrico Mirim, em 1962, e em 1967 o conjunto de rock Hell’sAngels.  Mais tarde apresentou-se no programa ‘A grande chance”, da TV Tupi carioca, apresentado pelo polêmico Flávio Cavalcanti. Ficou em primeiro lugar na fase eliminatória e, no ano seguinte, gravou seu disco de estreia, o compacto que apresentamos hoje. Em 1974, juntou-se a seu pai e outros músicos para formar o Trio Elétrico Armandinho, Dodô & Osmar, lançando inúmeros discos carnavalescos ao longo dos anos 80. Paralelamente, no final dos anos 70, Armandinho formou o grupo A Cor do Som, inicialmente a banda de apoio de Moraes Moreira, que também se apresentava no Trio Elétrico Armandinho, Dodô & Osmar. Formada ainda por Dadi (baixo e vocal), Mú Carvalho (teclados e vocal) e Gustavo Schroeter (bateria), A Cor do Som lançou seu primeiro álbum em 1977, notabilizando-se pela alta qualidade instrumental, misturando jazz, rock e MPB. Em meados de 1979, o percussionista e vocalista Ary Dias, que também tocava no Trio Elétrico, passa a integrar o grupo, que um ano antes se apresentara no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, resultando em um disco ao vivo. Alcançam novo patamar de sucesso ao introduzirem músicas cantadas a partir do terceiro LP, “Frutificar”, do qual brotaram hits do porte de “Beleza pura” (Caetano Veloso), “Abri a porta” (Gilberto Gil e Dominguinhos) e “Zanzibar” (Armandinho e Fausto Nilo). Em meados de 1981, após gravar mais dois álbuns com A Cor do Som (“Transe total” e “Mudança de estação”), Armandinho deixa o grupo para dedicar-se à carreira-solo e seu projeto com o Trio Elétrico Dodô & Osmar. Ao longo dos anos seguintes, daria continuidade a seu trabalho instrumental, voltado para o choro e outros gêneros, gravando e se apresentando ao lado de músicos do porte de Raphael Rabello, Paulo Moura, o conjunto Época de Ouro, Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Caetano Veloso e Yamandú Costa. Em 2005, se reúne novamente com A Cor do Som, gravando um disco acústico e realizando shows esporádicos. Este pequeno, grande e precioso disco, pontapé inicial da vitoriosa carreira de Armandinho, foi gravado ao vivo no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1968, e lançado pela extinta Codil com o selo Compacto. Nele, o então Armando Macedo executa ao bandolim peças eruditas e populares, acompanhado pelo violonista Horondino Silva, o Dino Sete Cordas. No lado A, um pot-pourri que junta as “Czardas” de Vitorio Monte a temas de Zequinha de Abreu (“Branca”), Honorino Lopes (“Língua de preto”), Manoel Marques (“Tema de amor em forma de prelúdio”) e Sérgio Bittencourt (“Modinha”). E, no lado B, temos a “Marcha turca”, de Mozart. Tudo isso com virtuosismo e maestria, fazendo deste single de estreia de Armando Macedo, o futuro Armandinho, um trabalho digno da postagem do meu, do seu, do nosso Toque Musical!

branca

czardas

lingua de preto

tema de amor

preludio

modinha

marcha turca


*Texto de Samuel Machado Filho

Carlos Gonzaga – Adão E Eva (Compacto) (1960)

E prossegue o festival de compactos raros do TM. Hoje apresentamos, para deleite de nossos amigos cultos e ocultos, um compacto duplo de 45 rpm (a mesma rotação dos que então saíam nos EUA e em outros países), lançado em 1960 pela RCA Victor, com um dos pioneiros do rock em terras brasileiras: José Gonzaga Ferreira, aliás Carlos Gonzaga. Foi na cidade mineira de Paraisópolis que Carlos Gonzaga veio ao mundo, no dia 10 de fevereiro de 1924. Iniciou sua carreira em meados dos anos 1940, demonstrando, desde então, extrema versatilidade, na interpretação dos mais variados gêneros musicais, como samba, guarânia, bolero, samba-canção, fox, tango e, evidentemente, o rock, no qual se consagrou interpretando versões de hits internacionais do gênero. Seu primeiro disco foi lançado pela RCA Victor em setembro de 1955, um 78 rpm apresentando a guarânia paraguaia “Anahi”, em versão de José Fortuna, e o tango “Perdão de Nossa Senhora”, de Palmeira e Teddy Vieira. Talvez os maiores êxitos de Carlos Gonzaga tenham sido as versões de “Diana”, de Paul Anka, assinada por Fred Jorge (“Não te esqueças, meu amor/ que quem mais te amou fui eu”…), e “BatMasterson”, de Bart Corwin e HavensWray, assinada por Édison Borges (“No velho Oeste ele nasceu”…), esta última o tema principal de um seriado de TV norte-americano do gênero western, no qual o personagem-título, interpretado pelo ator Gene Barry, portava uma perigosa bengala-espingarda, e que alcançou enorme sucesso no início dos anos 1960, inclusive no Brasil. Outros êxitos de Carlos Gonzaga foram: “Rapaz solitário (Lonely boy)”, “Você é meu destino (You are mydestiny)”, “Diabinho (Heylittledevil)”, “Oh! Carol”, “O diário (The diary)”, “Twist outra vez (Let’s twist again)”, “Regresso” (samba-canção de Adelino Moreira), “Ponderosa” (feito para aproveitar o sucesso de outro seriado de TV do gênero western, “Bonanza”), “Juramento de playboy” e outros mais. Fez shows por todo o Brasil e também nos principais países da América Latina, obtendo reconhecimento internacional. Desde 1986, reside na cidade de Santo André, no ABC paulista, e inclusive recebeu, em 2006, o título de Cidadão Andreense. “Adão e Eva” é o nome do compacto duplo de Carlos Gonzaga que o TM nos oferece hoje. A faixa-título e de abertura, claro, é versão de um sucesso de Paul Anka (“Adam andEve”), assinada por Fred Jorge, igualmente lançada em 78 rpm e no LP “És tudo para mim”, do qual também foram pinçadas as duas faixas seguintes do disquinho, “A vida, só com amor”, da misteriosa Marilena, e “Foi o luar (Far, faraway)”, outra versão de Fred Jorge, esta para um hit do cantor-compositor country Don Gibson. Já a faixa de encerramento, “Calipso de amor”, foi lançada originalmente no LP “The bestseller”, e é de autoria do compositor e radialista Serafim Costa Almeida. Enfim, mais uma raridade que o TM entrega a vocês, deste autêntico pioneiro do rock brazuca que é Carlos Gonzaga!

adão e eva
a vida só com amor
foi o luar
calypso do amor

*Texto de Samuel Machado Filho

Clara Nunes – Compacto (1968)

Nascida em 12 de agosto de 1942, em Cedro, distrito de Paraopeba (hoje Caetanópolis), na região central do estado de Minas Gerais, Clara Francisca Gonçalves, aliás Clara Nunes, prestou notável contribuição para nossa música popular, e é considerada, com justiça, uma das maiores e melhores intérpretes do Brasil. Era filha de um violeiro, Mané Serrador, que exercia importante papel em sua comunidade, sobretudo na Folia de Reis. Talento precoce, a futura Guerreira, aos 10 anos de idade, venceu seu primeiro concurso de canto, em sua cidade natal, e aos 14, começou a trabalhar como tecelã, ofício que continuou a exercer ao mudar-se para Belo Horizonte, em 1958. Cantando nas quermesses do bairro Renascença, onde morava, Clara chamou a atenção do violonista Jadir Ambrósio, que lhe abriu espaços principalmente em programas de rádio. Em 1960, venceu a fase mineira do concurso A Voz de Ouro ABC, e obteve o terceiro lugar na versão nacional. Mais tarde, é contratada pela Rádio Inconfidência e, em 1961, recebe o Troféu Ary Barroso de melhor cantora do rádio mineiro. Atuou também em clubes e boates da capital mineira, chegando a trabalhar junto com nada mais nada menos que Mílton Nascimento, então contrabaixista. Nessa época, fez sua primeira apresentação na televisão, em um programa que a lendária Hebe Camargo apresentava em BH. E, em 1963, ganhou programa exclusivo, “Clara Nunes apresenta”, na extinta TV Itacolomi, onde se apresentavam “medalhões” da MPB de então, como Altemar Dutra e Ângela Maria. Em 1965, muda-se para o Rio de Janeiro, logo atuando no rádio na televisão, casas noturnas e escolas de samba. Nesse ano, é contratada pela Odeon, sua única gravadora em toda a carreira, e, umano depois, lança o primeiro LP, “A voz adorável de Clara Nunes”, com repertório essencialmente romântico (boleros e sambas-canções), mas sem repercussão. Seu primeiro sucesso comercial viria em 1968, com “Você passa, eu acho graça”, de Ataulfo Alves e Carlos Imperial. A partir daí, aderiu de vez ao samba (interpretando também MPB e forró), sendo inclusive uma das cantoras que mais gravou músicas de compositores da Portela, sua escola de coração. Foi também a primeira cantora brasileira a vender mais de cem mil cópias, quebrando o tabu de que vozes femininas não vendiam discos. Conhecedora das músicas, danças e tradições afro-brasileiras, converteu-se à umbanda e levou a cultura africana para suas canções e vestimentas. Seu currículo também inclui apresentações no exterior, onde representou dignamente a cultura do Brasil, ela que também foi pesquisadora de nosso folclore e nossos ritmos. Em 1973, participou do show “Poeta, moça e violão”, junto com a dupla Toquinho e Vinícius de Moraes, então em evidência, no Teatro Castro Alves de Salvador, Bahia . Também fez, ao lado do ator Paulo Gracindo, em 1974, no extinto Canecão do Rio, o show “Brasileiro, profissão:  esperança”, no qual cantava músicas de Dolores Duran, entremeadas por crônicas de Antônio Maria, interpretadas por Gracindo, e que gerou um álbum de mesmo nome. Entre seus maiores sucessos, destacam-se: “Ê baiana”, “Conto de areia”, “Tristeza pé no chão”, “Menino Deus”, “O mar serenou”, “Deusa dos orixás”, “Banho de manjericão”, “Meu sapato já furou”, “Morena de Angola”, “Peixe com coco”, “Basta um dia”, “Na linha do mar”, “Portela na avenida”, “Nação”, “Tributo aos orixás”, “Guerreira”, “Feira de mangaio”, “As forças da natureza”, “Coração leviano” e “Ijexá”.  Uma gloriosa carreira que se encerrou prematuramente no dia 2 de abril de 1983, quando Clara Nunes faleceu, aos 40 anos, na Clínica São Vicente do Rio de Janeiro. Ela havia se submetido a uma cirurgia de varizes, aparentemente simples, mas acabou tendo uma reação alérgica a um componente do anestésico (o chamado “choque anafilático”), e sofreu uma parada cardíaca, permanecendo 28 dias em coma. Em sua homenagem, a Rua Arruda Câmara, onde fica a quadra da Portela, passou a chamar-se Rua Clara Nunes. A discografia da eterna Guerreira, que vendeu, em toda a sua trajetória artística, pelo menos4,4 milhões de cópias, segundo dados disponíveis, engloba 16 álbuns de estúdio e mais de 90 compactos, sem contar as coletâneas, tudo isso pela Odeon (depois EMI, hoje Universal Music). Dela, o TM foi buscar, para deleite de seus amigos cultos e ocultos, este raríssimo compacto duplo de 1968. Nele, vamos encontrar uma Clara Nunes ainda em início de carreira, interpretando versões de hits internacionais da época, todas assinadas por Geraldo Figueiredo. Destaque para “O amor é azul (L’amour est bleu)”, originalmente sucesso da cantora grega VickyLeandros, e merecedora até mesmo de uma famosa versão orquestrada do maestro francês Paul Mauriat, lembrada até hoje. Completam este precioso disquinho, “Mamãe (Mama)”, “Sozinha” (adaptada da “Suíte número 3”, de Johann Sebastian Bach) e “Adeus à noite (Adieu a lanuit)”. Nenhuma dessas faixas apareceu nos LPs da inesquecível Clara Nunes, o que redobra o valor histórico desta postagem do TM, precioso documento do início de carreira de uma das mais expressivas cantoras que o Brasil já teve. É só conferir.

mamãe
sozinha
o amor é azul
adeus a noite

*Texto de Samuel Machado Filho

Leno – A Festa Dos Seus 15 Anos (1969)

E prossegue o festival de compactos raros do TM, para alegria de seus amigos cultos e ocultos. Hoje, apresentamos um compacto duplo de Gileno Osório Wanderley de Azevedo, aliás, Leno. Ele veio ao mundo no dia 25 de abril de 1949, na capital do Rio Grande do Norte, Natal, e foi um dos maiores astros da Jovem Guarda, como a voz masculina da dupla que formou com a carioca Sílvia Lília BarrieKnapp, a Lilian. Após participar de alguns conjuntos de rock dessa época, Leno foi descoberto por produtores da CBS, atual Sony Music, e formou a dupla com Lilian. Em março de 1966, auge da Jovem Guarda, é lançado o compacto simples de estreia de Leno e Lilian, e as duas músicas logo fazem enorme sucesso. No lado A, veio a balada romântica “Devolva-me”, da própria Lilian em parceria com Renato Barros, fundador e líder do grupo Renato e seus Blue Caps, que mereceu anos mais tarde uma expressiva regravação de Adriana Calcanhoto. E, no verso, “Pobre menina”, versão também da própria Lilian para “Hangonsloopy”, então hit do grupo norte-americano The McCoys. Meses depois, vem o primeiro LP, incluindo essas duas músicas e outro grande sucesso, também lembrado até hoje, “Eu não sabia que você existia”, além de versões de hits internacionais da época. Após o segundo LP, “Não acredito” (1967), ainda no período da Jovem Guarda, desentendimentos entre Leno e Lilian acarretaram a separação e o consequente fim da dupla, e cada um partiu para carreiras-solos. Em 1972, Leno e Lilian voltaram a cantar juntos, mas sem o brilho de outrora. Tanto Leno quanto Lilian continuam na ativa em suas próprias carreiras, ainda mantendo relações amistosas, e, nos anos 90, participaram juntos de homenagens à Jovem Guarda, juntamente com outros artistas que dela participaram, como Jerry Adriani e Wanderléa. Em sua carreira-solo, Leno possui nove álbuns, oito em estúdio e um ao vivo. Além, é claro, de inúmeros compactos (dessa época, inclusive, é o sucesso “A pobreza”, também conhecido por “Paixão proibida”). Seu mais recente trabalho é “Canções com Raulzito” (aliás, Raul Seixas), lançado em 2010. Hoje, o TM oferece “A festa dos seus quinze anos”, compacto duplo com músicas do segundo LP-solo de Leno, editado pela CBS em novembro de 1969. Por sinal, era comum, nessa época, o lançamento de compactos simples e duplos extraídos dos LPs, possibilitando aos compradores de poucas posses terem as melhores faixas, ou as que mais agradavam. A faixa-título e de abertura, composta por Ed Wilson, é uma ótima balada romântica que obteve boa aceitação na época, sendo até hoje executada em programas de rádio de cunho saudosista. E, nesse disquinho, temos ainda “Quando você me deixou”, de Pedro Paulo e Getúlio Cortes (cujos efeitos no final são propositais), “Não precisa devolver”, do já citado Renato Barros, e “Não se esqueça desse bobo”, do próprio Leno. É mais uma raridade que o TM oferece com a grata satisfação de sempre, de um artista que continua em plena atividade. É só baixar e ouvir.

a festa dos seus 15 anos

quando você me deixou

não precisa devolver

não se esqueça desse bobo

 


*Texto de Samuel Machado Filho

João Da Praia (1974)

Hoje, o TM oferece a seus amigos cultos e ocultos um raro compacto duplo da Copacabana (selo Beverly), editado em 1974, apresentando quatro gravações feitas pelo cantor e compositor João da Praia, e anteriormente lançadas em dois compactos simples. Nascido no Rio de Janeiro, em 1950, João da Praia recebeu, na pia batismal, o nome de Antônio Jorge Zacarias. Analfabeto, ele vendia sorvete na lendária Praia de Copacabana, quando foi descoberto pelo produtor Jacques Ayres. Daí por diante, empunhando um violão de uma corda só que achou no lixo, João da Praia conseguiu sucesso logo no primeiro compacto simples, apresentando no lado A uma canção rural com estrofes hilárias, que aproveita como refrão um dito popular: “Aonde a vaca vai, o boi vai atrás”. Um dos maiores sucessos populares de 1974 (servindo até como jingle publicitário de uma marca de inseticida!), “O boi vai atrás” consagrou João da Praia nacionalmente, tornando-o atração em vários programas de televisão da época, e o single vendeu trezentas mil cópias (o lado B, “Meu cajueiro”, é a faixa que encerra o presente compacto duplo).  Meses depois, veio o segundo single, com “Formiga cabeçuda” e “Preta linda”, faixas também aqui constantes.  Em 1975, ele ainda lançaria a música “Poluição”, lado B de outro compacto simples da Beverly/Copacabana, dividido com a dupla Conde e Drácula, que no lado A interpretava “Tá faltando ôme”. Entretanto, João da Praia não conseguiu repetir o sucesso de “O boi vai atrás”. Consta que Sílvio Santos o contratou para se apresentar em seu programa dominical (à época transmitido pela TV Globo) e ele não foi, mesmo com tudo pago. Sílvio anunciou “Vem aí João da Praia” cinco vezes , mas nada dele aparecer! Depois disso, ele caiu no ostracismo, tendo de trabalhar como motorista e balconista para sobreviver. Seu último disco foi um outro compacto duplo, editado em 1981 pela obscura Nacional Discos, apresentando as músicas “Com minha vaca lavei a égua”, “Mundo enrolado”, “Custo de vida até o ano 2001” e “Rock coceira”, evidentemente sem repercussão. As informações sobre o falecimento de João da Praia são desencontradas. Segundo a revista “Veja”, ele teria morrido em primeiro de julho de 1988, aos 38 anos, de ataque cardíaco, em Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Entretanto, amigos de João da Praia entraram em contato com o portal “Memória da MPB”, informando que o falecimento dele aconteceu em 1989, em São Paulo, no Hospital Zona Sul, bairro de Santo Amaro, e seus restos mortais estão sepultados no Cemitério São Luís. Portanto, este compacto duplo é um documento histórico que o TM hoje nos oferece, e mais uma joia rara para os que garimpam raridades discográficas. Aproveitem…

formiga cabeçuda
preta linda
o boi vai atras
meu cajueiro
*Texto de Samuel Machado Filho

Jorge Mautner – Compacto (1966)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Por favor, não percam a esperança como o Toque Musical. Temos ido devagar-quase-parando, mas continuamos ativos. Não somos mais diários, mas estamos sempre presente. E por falar em presente, aqui vai um, este compacto lançado pela RCA Victor em 1966 do velho maldito, Jorge Mautner. Creio que este foi o primeiro disco ele (ou estarei enganado?). Meu tempo é curto, daí não dá tempo de pesquisar. Mas achei um texto de uma entrevista do artista falando sobre o disquinho. Nada melhor, né?
“Em 1965, eu gravei um compacto pela RCA-Victor, com a produção de Moracy Do Val, e acompanhado pelo grupo de folk-rock The Vikings (eram dois irmão que cantavam músicas deles e dos Everly Brothers). Este disco, juntamente com o livro Vigarista Jorge, motivaram a incursão do meu nome na lei de segurança nacional. Dois meses depois de lançado o compacto, cronistas de jornais, inclusive pelo falecido Sergio Bittencourt, filho do Jacob do Bandolim, e que era, junto com Nelson Motta, juri do Flávio Cavalcanti, denunciaram tanto ele como o meu livro como perigosa subversão trotzkista. Apesar disso, por ocasião da minha volta do exílio em 1971, fui encontrar Sergio Bittencourt, eu o perdoei, ele também, e nos abraçamos. A faixa “Radioatividade”, que fala sobre a Terceira Guerra Mundial e da bomba atômica, causava muita estranheza pela sua temática, até por pessoas geniais e bem-pensantes, como Nara Leão, que disse a respeito: “o que tem o Brasil a ver com a bomba atômica?”

radioatividade
não, não, não
.

Cláudio Pérsio – Outros Cantos De Minas (198?)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Continuamos em nossa mostra de compactos. Sempre procurando trazer algo que faz jus a máxima de se ouvir música com outros olhos. Buscamos, mais que nunca, apresentar aquilo que está longe do acesso comum. Geralmente, é depois que postamos aqui a coisa se espalha.
Hoje temos esse compacto duplo do compositor mineiro Cláudio Pérsio. Trata-se, por certo, de uma produção independente, possivelmente dos anos 80. Conforme podemos ler na capa, há um pequeno texto colado, apresentando o autor. Cláudio Pérsio é um médico, psiquiatra, músico e poeta. Procurando pela internet consegui apenas confirmar o que foi dito. Achei também um video com ele cantado uma outra música, o que me leva a crer que chegou a gravar mais alguma coisa. Neste compacto duplo iremos encontrar quatro boas músicas, composições de qualidade que reforçam e justificam sua presença aqui no Toque Musical. Gravações feitas aqui mesmo em BH, com arranjos de dois grandes mestres da música mineira, Célio Balona e José Guimarães. Muito bom, acima da média, com certeza!

eterna capital
marasmo
lamento mineiro
singularmente plural
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Carlos Hamilton – Canta Para Os Namorados (196?)

Bom dia, caríssimos amigos cultos e ocultos! Mais uma vez, fazendo jus a nossa tradição, temos aqui uma raridade de alto nível, coisa que vocês só encontram em primeira mão no Toque Musical. Trago hoje para vocês esse raríssimo compacto, produção independente, talvez uma das primeiras lançadas por aqui. Aliás, este disquinho, é pioneiro não apenas como produção independente. É também uma das primeiras manifestações isoladas da Bossa Nova, o primeiro compacto triplo (com três faixas em cada lado) e o primeiro compacto de rotação 33.
Temos aqui o primeiro registro da ‘Turma da Savassi’, a turma dos compositores mineiros Pacífico Mascarenhas e Roberto Guimarães, nomes dos mais importantes da música mineira e porque não dizer, da Bossa mineira. Olhando assim, pela capa, para muitos esse disquinho pode ter passado batido, até porque quem se destaca é o intérprete, o cantor da turma, Carlos Hamilton. Quem vê o disquinho sem lhe dar muita atenção há de entender este, apenas como mais um velho compacto independente (e que ninguém conhece e se interessa). Mas, nesse sentido, o valor está na obra, nas composições, em especial de Pacífico Mascarenhas, onde temos uma autêntica bossa nova, a faixa de abertura, “Pouca duração”. Acredito que poucos conhecem bem essa música, a qual também aparece em outros discos do compositor. Este samba, que é pura bossa surgi neste compacto, que foi lançado no início dos anos 60. Infelizmente, eu não consegui localizar a data, a qual seria muito importante para termos uma dimensão da coisa. Ao que contam, Pacífico conseguiu convencer o produtor fonográfico Harry Zuckerman a transformar o compacto de 45 rpm em 33. Assim a Companhia Industrial de Discos (CID) criou o primeiro compacto, uma produção independente para este 7 polegadas e dava-se aí início aos disquinhos, agora rodando em 33 rpm. Não deixem de conferir essa raridade. Logo mais alguém coloca no Youtube (e eu aqui nem sou lembrado).

pouca duração
quantos anos
olhos feiticeiros
blusa vermelha
para haver amor
sem dizer mais nada
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Conjunto Bossa Nova – Bossa É Bossa (1959)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Muitos são os discos que ainda queremos postar aqui no Toque Musical e hoje temos aqui um desses, um compactozinho que é pura raridade, cobiçado por muitos colecionadores, em especial aos amantes da Bossa Nova. Acredito eu que este seja o primeiro compacto de Bossa Nova lançado no mundo. Temos assim, o Conjunto Bossa Nova, num compacto duplo, com quatro músicas. Por certo, trata-se de um disquinho já bem manjado por todos os seguidores de blog. A primeira vez que apareceu foi no saudoso Loronix e aqui agora completo, com capa, contracapa e selos, para a turma mais exigente 🙂
O Conjunto Bossa Nova era formado por Roberto Menescal, Bill Horn, Luiz Carlos Vinhas. Bebeto Castilho, Helcio Milito e Luiz Paulo Nogueira. Lançado em 1959 pelo selo Odeon, este compacto traz um registro ao vivo do grupo, onde foram selecionadas quatro composições:

meditação
não faz assim
minha saudade
céu e mar

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