Círculo Sertanejo (1981)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Se tem uma coisa gostosa nessa vida é presentear e ser presenteado. Não há nada melhor que a gente ganhar algo que a gente tanto queria. E mais ainda, presentear alguém com algo que ela muito quer. Foi mais ou menos algo assim que aconteceu comigo. Eu estava a digitalizar alguns discos que ganhei e entre eles havia este, um box com três lps, reunindo uma série de fonogramas, clássicos da música sertaneja, dos arquivos da gravadora Chantecler, que foi o selo que mais investiu no gênero caipira. Eu estava no momento tocando o disco na minha ‘vitrola’, talvez um pouco alto, quando de repente a campainha de casa tocou. Era o vizinho, um senho já idoso e eu logo pensei, “puxa, devo estar incomodando o velho com o barulho”. Mas qual nada. Para a minha surpresa e estranheza ele estava chorando. Ele veio até a minha porta pedir para ouvir direito o que estava tocando. Ele também gosta de discos de vinil e tem um bocado. O velho ficou alucinado quando viu essa caixa. Ele a segurava como se não fosse soltar mais, via e revia por dentro e por fora. Lia a lista de músicas, segurava como se fosse um bichinho de estimação. Sabia todas as músicas e começou a me contar suas histórias. Eu já havia acabado o trabalho de digitalização, mas ele ficou ali, querendo ouvir mais… Como meu tempo era meio curto e mais ainda, vendo a satisfação daquele homem, não tive dúvida, virei para ele disse: “olha aqui, Seu João, leva este disco com o senhor, é um presente meu para você”. O velho ficou numa satisfação que não dá para descrever. Eu também, naquela hora tive uma satisfação por oferecer a alguém um presente. Confesso que alguns dias depois eu quase me arrependi. Não por ter lhe dado os discos, mas porque agora eu sou obrigado a ouvir isso diariamente. Não se trata de ser ruim, afinal o que temos nesse box com três lp são 39 clássicos da autêntica música sertaneja, trazendo o melhor do ‘cast’ e arquivos da gravadora, com duplas famosas tipo, Mariano e Caçula, Tonico e Tinoco, Liu e Léo, Tião Carreiro e Pardinho, Cascatinha e Inhana, Pedro Bento e Zé da Estrada, Torres e Florêncio, Mandy e Sorocabinha e também, Duo Guarujá, Irmãs Castro, Nhá Barbina, Miranda, Paraguassú, Zé Messias, Teixeirinha e mais um montão de artistas. Este box foi uma produção feita exclusivamente para os assinantes do Círculo do Livro. Uma seleção com os mais consagrados artistas da música caipira, autêntica sertaneja. Taí, uma oportunidade que os amigos não devem perder. Façam como o Seu João, vai na fonte… 😉

luar do sertão – tonico e tinoco
moda da mula preta – torres e florencio
menino da porteira – tião carreiro e pardinho
barbaridade – pedro bento e zé da estrada
chuá chuá – tonico e tinoco
cabecinha no ombro – duo guarujá
saudades de matão – tonico e tinoco
cana verde – tonico e tinoco
índia – cascatinha e inhana
pingo dágua – tonico e tinoco
chalana – irmãs castro
moda da pinga – nhá barbina
festa na roça – miranda
toada de multirão – zé messias e seus parceiros
bonde camarão – mariano e caçula
casinha pequenina – paraguassú
rei do gado – tonico e tinoco
rei do café – liu e leo
canoeiro – tonico e tinoco
coração de luto – teixeirinha
maringá – tonico e tinoco
meu primeiro amor – cascatinha e inhana
tristeza do jeca – tonico e tinoco
mágoas de boiadeiro – pedro bento e zé da estrada
no braço dessa viola – torres e florêncio
sodade do tempo véio – mandy e sorocabinha
estrada da vida – milionário e josé rico
roubei uma casada – lourenço e lourival
beijinho doce – irmãs castro
rio de lágrimas – tião carreiro e pardinho
disco voador – jaço e jacozinho
saudades do japão – irmãos kurimori
malandrinho – tião carreiro
saudade da minha terra – milionário e josé rico
orgulhoso – irmãs castro
seresta – alvarenga e ranchinho
caçando e pescando – cacique e pagé
boi soberano – zé carreiro e carreirinho
luar do sertão – renato andrade

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Paraguassú – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 141 (2015) Parte 2

Estamos de volta com o Grand Record Brazil, em sua edição de número 141, apresentando a segunda parte do retrospecto que dedicamos a Paraguassu, “o cantor das noites enluaradas”.  São mais dezessete gravações de inestimável valor histórico e artístico que oferecemos aos amigos cultos, ocultos e associados do TM. Abrindo esta seleção, o tango-canção “Tenho pena dos meus olhos”, de Angelino de Oliveira, gravação Columbia de 1931, lançada provavelmente no mês de maio, disco 22016-A, matriz 380982. Em seguida, a bela canção “Todo poeta nasceu para sofrer”, de Mílton Amaral, lançada pela Columbia em fevereiro de 1932, disco 22093-A, matriz 381122. “O violero do luá” (assim mesmo, em caipirês), é outra primorosa canção, do próprio Paraguassu com versos de Assumpção Fleury, e a Columbia a editou em janeiro de 1933, sob número 22183-A, matriz 381408. Ainda de 33 é “Esse boêmio sou eu”, outra canção, esta de Paraguassu sem parceiro, que abre o Columbia 22209, matriz 381409. “Portera  véia” (também com título em caipirês) é mais uma canção do próprio Paraguassu sem parceiro, em gravação Columbia de 1934, disco 22255-A, matriz 3003. Em seguida temos o clássico “Luar do sertão”, com versos de Catulo da Paixão Cearense e melodia também a ele creditada, mas que teria sido feita pelo violonista João Pernambuco a partir do tema folclórico nordestino “É do Maitá”. Lançada por Mário Pinheiro em 1914, como “toada sertaneja”, a canção tem várias gravações, e Paraguassu aqui a revive em registro Columbia de 1936, disco 8196-A, matriz 3261. “Zabumbo do bombo” é uma toada de Roberto de Andrade, que ele mesmo canta junto com Paraguassu em outra gravação Columbia de 1936, disco 8208-B, matriz 3315. Em seguida, outra modinha clássica, “Talento e formosura”, com versos de Catulo da Paixão Cearense e melodia de Edmundo Otávio Ferreira, também lançada originalmente por Mário Pinheiro, em 1904. A gravação de Paraguassu abre o disco Columbia 8280, de 1937, matriz 3430. A seguir, um outro clássico: a toada “Tristeza do jeca”, obra máxima de Angelino de Oliveira, verdadeiro hino do caipira paulista. Surgiu em disco pela primeira vez em 1925, na execução da Orquestra Brasil-América, e, um ano depois, Patrício Teixeira a gravou cantada, com sucesso. Merecedora de inúmeras gravações, é interpretada aqui por Paraguassu em registro Columbia de 1937, disco 8287-A, matriz 3431. No verso, matriz 3433, uma regravação da canção “A choça do monte”, outra obra totalmente creditada a Catulo da Paixão Cearense. Foi lançada por Eduardo das Neves em 1913, e Paraguassu já havia feito gravação anterior, pela Odeon, em 1927. Apresentamos em seguida as duas músicas do disco gravado por Paraguassu em dueto com Nhá Zefa (Maria di Léo), considerada a caipira mais preferida de Cornélio Pires, embora fosse paulistana do Brás, onde também nasceu Paraguassu, e, como ele, filha de imigrantes italianos. São duas batucadas que a Columbia editou sob número 8328, por certo visando o carnaval de 1938: “Baiana dengosa”, motivo popular adaptado pelo próprio Paraguassu, matriz 3581, e “Olá, seu Barnabé”, dele mesmo sem parceria, matriz 3582. Da curta passagem de Paraguassu pela Victor é a rancheira “Natal dos caboclos”, dele próprio em parceria com o já mencionado Capitão Furtado (Ariowaldo Pires), com participação vocal do Quarteto Tupã, formado pelo compositor Georges Moran, russo radicado no Brasil, e integrado pelas então jovenzinhas  Salomé Cotelli, Consuelo, Hedymar Martins (irmã de Herivelto Martins) e  Lourdes, que mais tarde fariam parte de outros grupos mais famosos. Gravação de 26 de setembro de 1938, lançada pela marca do cachorrinho Nipper em dezembro do mesmo ano, disco 34397-B, matriz 80904. É nesse período que, como já informamos, as gravações de Paraguassu ficam cada vez mais espaçadas. Tanto que as duas faixas seguintes são de 1945, na Continental, ambas com acompanhamento do conjunto do violonista Antônio Rago, e gravadas em 12 de julho desse ano. “Perdão, Emília”, outra famosa modinha brasileira, tem versos de José Henriques da Silva (1855-1930), poeta e jornalista português radicado desde menino na cidade de São João da Barra (RJ). Ele os escreveu em 1874, com apenas 19 anos, com o título de “Vingança no cemitério”, sendo musicada depois pelo sanjoanense Juca Pedaço (“Perdão, Emília foi título dado por batismo popular).  O registro de Paraguassu, o único feito na fase elétrica de gravação, foi lançado pela Continental em agosto de 1945, sob número 15411-A, matriz 10444. “Estela” é outra modinha clássica, com versos de Adelmar Tavares e melodia de Abdon Lyra. Feito na mesma sessão de “Perdão, Emília”, a 12 de julho de 1945, o registro de Paraguassu  foi lançado pela Continental em setembro do mesmo ano sob número 15419-A, matriz 10445. A moda campeira “Gaúcho guapo”, do próprio Paraguassu, foi por ele gravada na mesma Continental em 16 de abril de 1948, matriz 10849, mas o disco só saiu em março-abril de 49, sob número 16064-A. Por fim, apresentamos “Janela fechada”, valsa-canção do próprio Paraguassu, lado B de seu derradeiro disco 78, o Chantecler 78-0303-B, lançado em agosto de 1960, matriz C8P-606. Enfim, é a homenagem do GRB ao notável  e legendário Paraguassu, que através de seu canto resgatou inúmeras páginas musicais genuinamente nossas e lançou outras tantas, e deve ser sempre enaltecido pela contribuição preciosa que deixou para a MPB.

* Texto de Samuel Machado Filho

Paraguassú – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 140 Parte 1 (2015)

Finalmente está chegando aos amigos cultos, ocultos e associados do TM uma novíssima edição do Grand Record Brazil, a de número 140. Apresentamos nesta quinzena a primeira de duas partes de um retrospecto dedicado a Paraguassu, certamente um dos pioneiros do disco  e do rádio no Brasil.

Batizado com o nome de Roque Ricciardi, o cantor nasceu em São Paulo, a 25 de maio de 1894. Seus pais, italianos, tiveram seis filhos, sendo nosso focalizado o terceiro deles, e primeiro a nascer no Brasil. O falecimento de seu pai, dono de armazém e ferraria, abalou a tranquila vida familiar, e o menino Roque foi logo encaminhado ao trabalho, como tipógrafo, por pouco tempo, e como seleiro, por muitos anos, chegando a mestre no ofício. Desde criança ele estava empolgado com a música e, ainda imberbe, depois do trabalho, já se apresentava em cafés-cantantes, serestas e rodas boêmias, de violão em punho. Mesmo falando perfeitamente o italiano e conhecendo as canções da terra de seus pais, ele só cantava modinhas brasileiras. Em 1908, o grande Eduardo das Neves, em temporada paulistana, tem a oportunidade de ouvi-lo no Café Donato e o convida para o espetáculo que daria. Foi uma emoção inesquecível para o menino de catorze anos. Contava Paraguassu que fez suas primeiras gravações em 1912, em São Paulo, sob o selo Phoenix, mas esses discos não têm sido localizados por nenhum colecionador.  Comprovadamente, gravou na pioneira Casa Edison (selo Odeon), em 1926/27, um total de sete discos com catorze músicas, ainda na fase mecânica. Já havia ingressado, em 1924, sem ganhar um só tostão, na pioneira Rádio Educadora Paulista, que funcionava nas torres do Palácio das Indústrias de São Paulo, e onde se cantava “num telefone”. Seus companheiros de então eram Alberto Marino e Américo “Canhoto” Jacomino, sendo que este último Paraguassu conheceu numa seresta, em plena rua. Em 1927, no início da fase elétrica de registros fonográficos, registra na Odeon dois discos com duas músicas. Em 1929, a convite, ingressa no elenco da nóvel Columbia, sob a direção artística do maestro Gaó  (Odmar Amaral Gurgel), então com apenas 20 anos de idade. Paraguassu, embora na casa dos 34 anos, já representava a “velha guarda”.  Até esse momento, tinha aparecido nos selos dos discos com seu nome verdadeiro, Roque Ricciardi. Cansado de ser chamado de “italianinho do Brás”, escolheu um pseudônimo bem brasileiro, Paraguassu, fazendo questão dos dois “ss”. Recordando episódios da história do Brasil, lembrou-se dos índios Caramuru e Paraguassu e escolheu este último, que aliás era índia, e não índio. E passaria a ser “o cantor das noites enluaradas”. Foi na Columbia que Paraguassu desfrutou de sua fase áurea, entre 1929 e 1937, gravando 77 discos com 146 músicas. Em seguida, suas gravações iriam se espaçar cada vez mais: na Victor (1938), Odeon (idem), novamente na Columbia (1939 e 1942), Continental  (1945 a 1949), Todamérica (1953) e Chantecler (1960), perfazendo um total de 101 discos 78 rpm com 192 músicas. Ainda gravaria LPs rememorativos, em 1958 e 1969. Também foi bom compositor, mas não se inibiria em apresentar, como suas, algumas canções tradicionais, inclusive gravadas por outros antes dele. Um expediente sobretudo prático de reservar para si direitos musicais que, na maioria dos casos, não seriam destinados a ninguém. Paraguassu faleceu em sua Pauliceia natal, no dia 5 de janeiro de 1976, aos 81 anos de idade.
De seu extenso e bastante expressivo legado fonográfico, o GRB foi buscar, nesta primeira parte, dezessete preciosas gravações, apresentadas em ordem cronológica. Abrindo esta seleção, temos  a modinha “Lua de fulgores”, com acompanhamento ao violão de Américo Jacomino, o Canhoto, gravação Odeon de 1926, disco 122938. Dada como “arranjo” do intérprete, é na verdade a famosa “Lua branca”, de Chiquinha Gonzaga, surgida em 1912 na burleta teatral

Paraguassú – Mágoas De Um Trovador (1958)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Hoje chegamos na postagem de número 3.000. Podia até ser mais, não fossem tantas pausas que de um tempo para cá eu tenho dado. As vezes até eu me espanto com esse número, uma prova de que já nos tornamos tradição.
E falando em tradição, em coisas das antigas, eu trago hoje Roque Ricciardi, mais conhecido como Paraguassú, um pioneiro do rádio e da fonografia nacional. Violonista, cantor e compositor paulista, autor de toadas clássicas da música popular brasileira. Não vou entrar em muitos detalhes, pois em breve teremos aqui uma nova edição do Grand Record Brazil, trazendo o Paraguassú em uma resenha completa feita pelo nosso amigo e colaborador, Samuel Machado Filho.
Quero apenas apresentar este disco, um verdadeiro clássico, muitas vezes desprezado pela grande mídia. Temos aqui “Mágoas de um trovador”, primeiro lp de 12 polegadas lançado pelo artista, trazendo uma seleção de suas antigas composições em uma nova releitura, com arranjos do maestro Erlon Chaves. Um disco muito bonito, que merece o nosso toque musical. Confiram

lamentos
meu violão
madrugada na roça
lua triste
porteira velha
madalena
nunca mais
esse boemio sou eu
mágoas
velho monjolo
luar da minha terra
rosário de lágrimas
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Vários – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 28 (2012)

Fratura no joelho é um troço bem complicado… O nosso Augusto TM que o diga! Mas depois de mais um período de ausência forçada (até eu senti saudades), eis aqui a vigésima-oitava edição do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil, apresentando mais dez preciosos fonogramas da era das 78 rotações por minuto para enriquecer os acervos de nossos amigos cultos e associados. E começamos com um sucesso de Patrício Teixeira (1893-1972), carioca da Rua São Leopoldo, na lendária Praça Onze, que começou a gravar ainda pelo processo mecânico e continuou de maneira bem sucedida na fase elétrica, até quando saiu seu último disco, em 1944. (depois disso, ainda gravaria a canção “Azulão”, de Hekel Tavares e Luiz Peixoto, para um LP da Sinter).  Foi até professor de violão, e entre suas alunas mais ilustres estão Nara Leão e as irmãs Linda e Dircinha Batista. E Patrício aqui comparece com um clássico: o samba “Gavião calçudo”, do mestre Pixinguinha, com letra de Cícero “Baiano” de Almeida, cujo sucesso desaguaria no carnaval de 1930. Saiu em duas gravações de Patrício: a primeira no selo Parlophon, em março de 1929, e esta segunda, com o selo Odeon, lançada em agosto do mesmo ano com o n.o 10436-A, matriz 2685, na qual o intérprete canta a letra completa, acompanhado de piano e violão (no registro original era com orquestra, e nele só foram apresentados o estribilho e uma das estrofes). “Azulão” também está aqui, mas no registro original do “cantor das noites enluaradas”, Paraguassu (Roque Ricciardi, 1894-1976), lançado pela Columbia em fevereiro de 1930, disco 5141-A, matriz 380474.

Em seguida, um monólogo divertidíssimo interpretado pelo ator Pinto Filho. Trata-se de “Guerra ao mosquito”, de Luiz Peixoto e Marques Porto, lançado pela Parlophon em agosto de 1929 com o n.o 12989-A, matriz 2670. Mais atual impossível, uma vez que o Brasil tem sido, nos últimos tempos, atingido por endemias tropicais como a dengue, especialmente no verão. Não faltam farpas a políticos de prestígio na época, como o então candidato a presidente da República Júlio Prestes.

A próxima faixa vem a ser o primeiro grande sucesso nacional de Ary Barroso como compositor: a marchinha “Dá nela”, interpretada por Francisco Alves com a Orquestra Pan American de Simon Bountman, e um dos hits do carnaval de 1930. Gravação de 9 de janeiro daquele ano, lançada pouco depois sob n.o 10558-A, matriz 3258. No dia 18, a música venceu um concurso promovido no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, e com o dinheiro ganho (cinco contos de réis!), Ary Barroso teve condições de se casar (com Yvonne Belfort Arantes) e ainda recebeu seu diploma de advogado. De letra extremamente machista (característica da época), “Dá nela” também deu nome a uma revista do Teatro Recreio, nela interpretada (de calça comprida!) por Zaíra Cavalcanti.

Um dos clássicos de Ary Barroso em parceria com Luiz Peixoto, o samba-canção “Na batucada da vida” (subintitulado “A canção da enjeitada”) tornou-se inovador na época do lançamento, pelo realismo com que tratava uma temática de cunho social. Originalmente saiu em 1934, na voz de Cármen Miranda, e aqui é apresentada no registro de Dircinha Batista, feito na Odeon em 14 de abril de 1950 e lançado em agosto seguinte, disco 13031-B, matriz 8685, com acompanhamento de piano do próprio mestre de Ubá. Como bem sabem os fãs de Elis Regina, em 1974 ela também fez um registro memorável desta composição.

O inesquecível Kid Morenguera, o grande Moreira da Silva (1902-2000), insubstituível rei do samba de breque, aqui comparece com o raríssimo disco Star 225, datado de 1951, com acompanhamento do conjunto do violonista Claudionor Cruz, destacando-se o saxofone de Portinho (Antônio Porto Filho), também maestro e arranjador de prestígio. De um lado, o samba-choro “Entrevista”, do próprio Moreira, e no verso, nesse mesmo ritmo, a homenagem do GRB aos motoristas na semana do dia deles e de seu santo padroeiro, São Cristóvão: “Sou motorista”!

Humberto Marsicano fez parte da geração de artistas paulistas surgidos no final dos anos 1920. De sua escassa discografia como cantor (apenas 16 fonogramas distribuídos em nove 78 rpm), apresentamos o disco Columbia 5051, lançado em julho de 1929, com acompanhamento da orquestra de Álvaro Ghiraldini. Abrindo-o, matriz 380143, o samba-choro “Mulher sem coração”, composto por um nome que iniciava então sua carreira, José Maria de Abreu (1911-1966), paulista de Jacareí, responsável por sucessos inesquecíveis, tais como “E tome polca”, “Alguém como tu”, “Dançando com você” e muitos outros. No verso, matriz 380144, o delicioso “sambinha-embolada” Tico-tico vuô”, de Juca Paulista e Juvenal de Abreu.

Para encerrar, uma marchinha do carnaval de 1957, lançada pela Continental em janeiro desse mesmo ano, com o n.o 17375-B, matriz C-3912. É “Seu Romeu”, de João Rosa, Arnaldo Moraes e do paulistano Ruy Rey (1915-1995), sendo este último o intérprete. Ruy, que se chamava Domingos Zeminian, foi também exímio “bandleader”, e especializou-se em ritmos hispano-americanos, precursores da atual salsa. Enfim, um belo apanhado com o qual o GRB mata as saudades de todos que estavam aguardando esta retomada. Divirtam-se e recordem!

*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

Paraguassu – Canções De Amor (1970)

Olá! Ontem tivemos um dia cheio. Teve Baden Powell e antes que o dia findasse eu ainda postei um Orlando Silva, homenageando o artista na data de seu nascimento. Eu havia me esquecido… Como dizem, a pressa é a inimiga da perfeição e tanto ontem como hoje eu estou correndo contra o tempo. Perfeccionistas de plantão, queiram me perdoar! Fim de semana trabalhando, como diz a minha empregada, ninguém merece!

Para o nosso domingo ficar com um gostinho das antigas serestas, tenho aqui um artista pouco lembrado nos dias de hoje. Trago para vocês o cantor e compositor conhecido como o “Cantor das noites enluaradas”, o Paraguassu. Filho de imigrantes italianos, seu nome verdadeiro era Roque Ricciardi. Não sei ao certo se ele nasceu na Itália ou na capital paulista, mas no início de carreira era ironicamente chamado de “o italianinho do Brás”, embora só cantasse música brasileira. Por isso, resolveu mudar o nome artístico para Paraguassu, uma palavra essencialmente brasileira. Podemos encontrar seu nome escrito com cê cedilha, mas o certo (né não, Pasquale?) é com dois esses 🙂 Paraguassu foi um dos cantores/compositores mais populares do início do século passado. Compôs e gravou centenas de músicas, muitas bastante conhecidas e lembradas até os anos 60. Daí para frente seu nome caiu no esquecimento, como de certa forma vem acontecendo com a música de seresta. Tem gente que pensa que a música popular brasileira se resume ao samba e bossa nova. Gêneros como a valsa, a seresta, a toada e tantos outros precisam ser relembrados (isso para não falar dos regionais e folclóricos). Taí um desafio, gostaria de ver uma releitura moderna desses tipos de música. Acho que as novas gerações (na qual eu também me incluo, porque não) estão mais interessadas em gêneros que mexem mais com o corpo do que com espírito (o espírito da coisa).
“Canções de Amor” foi um álbum gravado no final dos anos 60 para o selo Premier da Fermata, onde o artista registrou alguns de seus maiores sucessos, acompanhado pelo Regional de Carlinhos Mafasoli. Confiram aí este toque, pois como este é difícil de achar.
canção de amor
luar do sertão
talento e formusura
ontem ao luar
u poeta du sertão
os teus olhos
reconciliação
mentirosa
perdão emília
amar em segredo