João Da Baiana – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 89 (2014)

Em sua edição de número 89, o Grand Record Brazil reverencia a memória de um dos pioneiros da música popular brasileira: João Machado Guedes, ou, como ficou para a posteridade, João da Baiana. Filho dos ex-escravos Félix José Guedes e Perciliana Maria Constança, que tinham uma quitanda de artigos afro-brasileiros, nosso focalizado nasceu no Rio de Janeiro, em  17 de maio de 1887, e era o mais novo e único carioca de uma família de doze irmãos. Sua mãe era conhecida como Baiana, daí seu pseudônimo. Um de seus irmãos, Mané, era palhaço no Circo Spinelli e tocava violão e cavaquinho, e uma de suas irmãs era violinista. João da Baiana cresceu na Rua Senador Pompeu, no bairro da Cidade Nova, sendo amigo de infância de Donga e Heitor dos Prazeres. Quando criança, frequentava as rodas de samba e macumba que aconteciam clandestinamente nos terreiros cariocas. Participou de blocos carnavalescos e é considerado o introdutor do pandeiro no samba, sendo também especialista no chamado prato-e-faca.  Ainda menino, trabalhou no circo como chefe da claque dos garotos que respondiam ao grito “Hoje tem marmelada? Tem, sim, senhor”.  Por essa época, passou a se dedicar à pintura, sua grande paixão.  Aos nove anos, ingressou como aprendiz no Arsenal da Marinha e deu baixa três anos mais tarde, indo então para o Segundo Batalhão de Artilharia, como ajudante de cocheiro, sob o comando do marechal Hermes da Fonseca, futuro presidente da República. Em 1910, passou a trabalhar no Cais do Porto, sendo promovido a fiscal da Marinha dez anos mais tarde. Por isso, recusou-se a viajar com os Oito Batutas, liderados por Pixinguinha,  a Paris, pois não queria perder o posto. A partir de 1923, passou a compor e a se apresentar em programas radiofônicos. Algumas de suas composições nessa época foram “Pelo amor da mulata”. “Mulher cruel”, “Pedindo vingança” e “O futuro é uma caveira”. Outros de seus sambas conhecidos são “Cabide de molambo” e “Batuque na cozinha”. Como ritmista, João da Baiana integrou  inúmeros grupos, entre eles o Conjunto dos Moles, o Grupo do Louro, o Grupo da Guarda Velha e a orquestra Diabos do Céu, os dois últimos formados e dirigidos por Pixinguinha. Participou, em 1940, da famosa série de gravações organizada por Heitor Villa-Lobos a bordo do navio ‘Uruguai”, onde viajavam o maestro Leopold Stokowski  e sua orquestra (“Native brazilian music”).  Aposentado da Marinha em 1949, João da Baiana apresentou-se, na década seguinte, nos espetáculos do grupo Velha Guarda, organizados por Almirante. Casou-se e teve dois filhos, que morreram ainda na infância. Em 1968, participou do histórico LP “Gente da antiga”, ao lado de Pixinguinha e Clementina de Jesus, produzido por Hermínio Bello de Carvalho. Em 1972, foi recolhido à Casa dos Artistas, em Jacarepaguá, onde faleceria no dia 12 de janeiro de 1974, aos 86 anos. Hoje, alguns dos pertences de João da Baiana integram o acervo do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, inclusive o prato-e-faca  que o consagraram, parte da coleção do cantor, compositor e radialista Almirante. Do legado de João da Baiana como intérprete, o GRB foi buscar dez gravações  históricas, todas pontos de macumba ou corimas dele mesmo, com ou sem parceria, e fundamentais para quem estuda e pesquisa a cultura afro-brasileira, por ele cantados ao lado de seu conjunto ou terreiro.  Abrindo esta seleção, “Sereia”, parceria de João da Baiana com Getúlio “Amor” Marinho, gravação Victor de 21 de março de 1938, lançada em maio do mesmo ano sob n.o  34313-A, matriz 80707. A faixa seguinte é o lado B, matriz 80708, “Folha por folha”, e é da mesma parceria. Depois encontraremos as músicas do disco Odeon 13330, gravado em 2 de julho de 1952 e lançado em setembro do mesmo ano, ambas de João da Baiana sem parceiro: “Lamento de Inhaçã”, lado A, matriz 9368, e “Lamento de Xangô”, lado B, matriz 9367. As faixas seguintes, também só de João,  saíram pela Sinter, disco 496, em maio de 1956. No lado A, matriz S-1079, “Vovó Joana do Aguiné”, e no verso, matriz S-1080, “Vai i-aô”. Temos depois mais dois corimas do próprio João da Baiana sem parceiro, do Odeon  13999, gravado em 5 de dezembro de 1955 e lançado em março de 56: no lado A, matriz 10877, “Qué-qué-ré-qué-qué”, e no verso, matriz 10878, “Saudação a Iemanjá”. Finalmente, do Sinter  548, lançado em maio de 1957, outros dois corimas de João sem parceiro: no lado A, “Ogum nilê”, matriz S-1191, e no verso, matriz S-1192, “Homenagem a Oxalá”.  Enfim, uma amostra interessante do legado do compositor para a cultura afro-brasileira. E vem mais João da Baiana por aí, aguardem
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO
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