Carmen Miranda – A Pequena Notável (1969)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Este ano de 2018 não foi fácil e ao que tudo indica, 2019 vai ser ainda pior. Infelizmente, boa parte do povo brasileiro está cego. Está sendo manipulado e vão, com certeza, fazer merda. Não vou entrar no mérito da coisa, mas acho que vivemos a era da imbecilidade. As redes sociais deram vozes aos idiotas. E até na política eles acham que entendem de alguma coisa. Até faz sentido, afinal essa gente elege seus pares e pelo andar da carruagem, vamos ser governado por idiotas. Estou dizendo isso porque toda essa situação é brochante, em todos os sentidos. Se eu já não estava achando tempo e gosto para dar sequencia nas postagens do Toque Musical, agora então é que perdi mesmo o tesão. Por essas e por outras é que estou com novos planos para o TM em 2019. Vamos mais uma vez mudar a nossa tática. O Toque Musical vai mudar (bad music for bad people).
Para fechar o ano, deixo aqui este lp de Carmen Miranda, lançado pelo Museu da Imagem e do Som, no final dos anos 60. Uma seleção definitiva, com doze gravações clássicas da cantora. Por certo, todas as essa músicas já foram apresentadas aqui através de outros discos postados, inclusive na série Grand Record Brazil, exclusiva do blog Toque Musical. Mas Carmen Miranda sempre vale repetir. Sempre é bom de ouvir. Confiram no GTM.

cachorro vira-lata
camisa listrada
eu dei…
quem é
deixa falar
na baixa do sapateiro
me dá, me dá
como ‘vais’ você
e o mundo não se acabou
na bahia
disseram que voltei americanizada
no tabuleiro da baiana

 

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A Música De João Da Baiana – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 90 (2014)

Esta semana, o Grand Record Brazil, “braço de cera” do Toque Musical, apresenta a segunda e última parte da retrospectiva dedicada a João da Baiana (1887-1974). Semana passada, vocês tiveram oportunidade de conferir músicas de João da Baiana na interpretação dele próprio. Nesta segunda parte, apresentamos dez faixas, como sempre de grande importância histórica, artística e cultural, com música desse notável sambista carioca, interpretadas por outros cantores de seu tempo. Abrindo nossa seleção desta semana, temos Patrício Teixeira, que, a exemplo de João da Baiana, nasceu (1893) e faleceu (1972) no Rio de Janeiro. Um dos pioneiros do rádio e da gravação sonora no Brasil, Patrício foi cantor, compositor, violonista e até professor de violão e canto. Algumas de suas alunas foram  Aurora Miranda, Linda Batista, as irmãs Danusa e Nara Leão, e a atriz Maria Lúcia Dahl. Neste volume do GRB, Patrício comparece com três sambas de João da Baiana em gravações Odeon, a saber:  “Dona Clara (Não te quero mais)”, parceria de João com Ernesto dos Santos, o Donga  (também co-autor  do pioneiro “Pelo telefone”), lançado em dezembro de 1927,bem nos primórdios da gravação elétrica, sob n.o 10084-B, matriz 1385; “Cabide de molambo”, de João sem parceiro, gravado em 23 de janeiro de 1932 (disco 10883-A, matriz 4402) e “Ai, Zezé”, o lado B desse disco, matriz 4403, tendo como parceiro de João da Baiana o próprio Patrício. Considerada pelo diplomata Pascoal Carlos Magno uma  das maiores cantores negras do mundo, a soprano carioca Zaíra de Oliveira (1891-1952) interpreta, da santíssima trindade Pixinguinha-Donga (marido da cantora)-João da Baiana, a batucada “Já andei”, gravação Victor de 24 de novembro de 1931, lançada em janeiro de 32 para o carnaval, disco 33509-A, matriz 65300, com acompanhamento do Grupo da Guarda Velha, formado justamente por Pixinguinha (Rio de Janeiro, 1897-idem, 1973). Também participa da gravação o cantor baiano Francisco Sena (c-1900-1935) primeiro integrante da Dupla Preto e Branco, ao lado de Herivelto Martins, e substituído, após sua morte prematura, por Nilo Chagas. No lado B, matriz 65299, ele e Zaíra interpretam o ponto de macumba “Qué queré”, do mesmo trio de autores. Em seguida, volta Patrício Teixeira, interpretando o interessante samba “Quem faz a Deus paga ao diabo”, de João da Baiana sem parceiro, do carnaval de 1933, lançado pela Columbia em janeiro desse ano sob n.o  22173-B, matriz 381383, e também com acompanhamento orquestral de “São” Pixinguinha. Patrício ainda canta, em dueto com a eterna “pequena notável”, Cármen Miranda,outro samba de João da Baiana e mais ninguém, o delicioso e divertido “Perdi minha mascote”, gravação Victor de 29 de junho de 1933, lançada em dezembro seguinte com o número 33733-B, matriz 65791, com acompanhamento do grupo do violonista Rogério Guimarães, o Canhoto (Campinas, SP, 1900-Niterói, RJ, 1980), também destacado dirigente da marca do cachorrinho Nipper, tendo sido seu primeiro diretor artístico. Cognominado “a maior patente do rádio”, Almirante (Henrique Foréis Domingues, Rio de Janeiro, 1908-idem, 1980), interpreta “Deixa amanhecer”, gravação Odeon de  30 de agosto de 1935, lançada em novembro seguinte com o número 11282-B, matriz 5132. Neste samba, João da Baiana conta com a parceria de outro importante sambista, Alcebíades Barcelos, o Bide (Niterói, RJ-1902-Rio de Janeiro, 1975), que fez com Armando Marçal inúmeros outros clássicos do samba. Carlos Galhardo (1913-1985), o eterno e sempre lembrado “cantor que dispensa adjetivos”, aqui interpreta uma marchinha da parceria João da Baiana-Wilson Batista, “Mariposa” (referência ás mulheres que, como o animal de mesmo nome, só saíam à noite, sendo o sinônimo bem fácil de adivinhar).  Destinada ao carnaval de 1941, foi gravada na Victor em 8 de outubro de 40, sendo lançada ainda em dezembro com o número 34682-B, matriz 52018. Para finalizar, apresentamos os Trigêmeos Vocalistas, grupo paulistano formado  pelos irmãos Carezzato (ou Carrazatto), Armando, Raul e Humberto, os dois últimos gêmeos. Raul é parceiro de João da Baiana no ponto de macumba (no selo, “afro-brasileiro”) “Ogum Nilé”, gravação Odeon de 31 de maio de 1950, lançada em agosto do mesmo ano sob n.o 13033-A, matriz 8633. Ressalte-se que não há nenhuma semelhança com o “Ogum Nilé” que o próprio João da Baiana gravou em 1957 e que apresentamos na edição anterior, apenas o título é semelhante. Enfim, mais uma edição do GRB que irá enriquecer os acervos dos amigos cultos, ocultos e associados do TM com preciosa e histórica parcela de nossa boa música popular do passado. Até a próxima e divirtam-se!
* Texto de Samuel Machado Filho

A Música De Ismael Silva Na Voz De… – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 85 (2014)

Olá, amigos cultos, ocultos e associados do TM!  Esta semana, o Grand Record Brazil apresenta a segunda parte da retrospectiva que está dedicando à obra musical de Ismael Silva (1905-1978), um grande expoente do samba e da música popular brasileira. Na semana passada, apresentamos composições de Ismael na voz de Francisco Alves (1898-1952), o eterno Rei da Voz. A seleção desta semana tem 14 faixas com intérpretes diversos, e nela Francisco Alves também está presente em duetos. Para começar, e muito bem, apresentamos duetos de Chico Alves com Mário Reis. Eles formaram uma dupla que gravou um total de 12 discos com 24 músicas, todos pela Odeon, legado esse imprescindível para quem estuda a história do samba e da MPB.  Desse legado, ouviremos seis peças simplesmente antológicas, autênticas joias do samba, com acompanhamento da Orquestra Copacabana, dirigida pelo palestino Simon Bountman:  na faixa 1,  “Não há”, da santíssima trindade Ismael Silva-Francisco Alves-Nílton Bastos, gravado em 5 de dezembro de 1930 e lançado em janeiro de 31 para o carnaval, disco 10747-A, matriz 4079. O lado B, na faixa seguinte, matriz 4080, é um autêntico clássico assinado pela mesma trinca de autores: o inesquecível “Se você jurar”, que atravessou os anos e até hoje é muito lembrado, e com justiça. Teve regravação inclusive pelo próprio Ismael Silva, em 1955. “O que será de mim?”, logo em seguida, e dos mesmos autores, é gravação de 28 de fevereiro de 1931, lançada em abril do mesmo ano pela “marca do templo” sob n.o 10780-B, matriz 4162, outra demonstração de bossa da dupla Chico Alves-Mário Reis (que, durante a gravação, chama o Rei da Voz para cantar com ele, no que, claro, é prontamente atendido).  “Ri pra não chorar” é da parceria Ismael Silva-Francisco Alves, que na edição homenageiam Nílton Bastos, que falecera. Gravação da notável dupla Chico Viola-Mário Reis, de 20 de agosto de 1931, lançada pela Odeon em dezembro do mesmo ano sob n.o 10850-B, matriz 4292. De Chico e Ismael é também “Liberdade”, gravação de 20 de novembro de 1931 lançada em janeiro de 32, evidentemente para o carnaval, disco 10871-B, matriz 4363, citando inclusive o “Hino da Proclamação da República, de Leopoldo Miguez-Medeiros e Albuquerque. O samba saiu na segunda tiragem desse disco, que trouxe no lado A, também cantada em dueto por Chico e Mário, a “Marchinha do amor”, de Lamartine Babo (na primeira, saiu um outro samba, “Oh! Dora”, de Orlando Vieira, com Chico Viola sozinho).  Terminando esse verdadeiro show de interpretação sambística da dupla Francisco Alves-Mário Reis, temos “A razão dá-se a quem tem”, já com Noel Rosa como parceiro de Ismael Silva e Chico Viola, gravação feita na “marca do templo” em 2 de julho de 1932 e lançada em dezembro seguinte com o n.o 10939-A, matriz 4472. A faixa 7 é um outro dueto de Francisco Alves, agora com Sílvio Caldas: “Tristezas não pagam dívidas”, gravado na Odeon em 23 de junho de 1932, e lançado com o n.o 10922-A, matriz 4463. Temos aqui duas curiosidades: no selo original, aparece como autor um certo Manoel Silva (havia na época um compositor com esse nome, cujo nome completo era Manoel dos Santos Silva). Mas, segundo depoimento de Sílvio Caldas ao pesquisador Abel Cardoso Júnior, o samba é mesmo de Ismael Silva. Sílvio não teve crédito no selo como intérprete por ser na época contratado da Victor, mas achou a omissão natural, “apenas uma colaboração”.  O samba também foi apresentado por Chico Alves no segundo espetáculo da série “Broadway Cocktail”, um espetáculo palco-tela apresentado no Cine Broadway. Aracy Cortes, grande estrela dos tempos áureos do teatro de revista, aqui comparece com o samba “Quero sossego”, da parceria Ismael Silva-Nílton Bastos (na edição Francisco Alves também aparece como co-autor), Lançado pela Brunswick por volta de março de 1931, sob n.o 10158-A, matriz 602, foi um dos derradeiros discos lançados no Brasil por essa gravadora, de origem norte-americana, que logo cerraria as portas da filial brazuca, levando para a sede, nos EUA, todas as matrizes de cera que gravou entre nós em pouco mais de um ano de atividades. Da parceria de Ismael Silva com Noel Rosa e Francisco Alves é a marchinha “Assim sim”, gravada na Victor por Cármen Miranda em 31 de maio de 1932 e lançada em dezembro desse ano sob n.o 33581-A, matriz 65502, claro que para o carnaval de 33. No acompanhamento, Harry Kosarin e seus Almirantes (o maestro, então vindo anos antes dos EUA, é considerado o introdutor do jazz no Brasil). Em 1930, a “pequena notável” vira e ouvira Noel com o Bando de Tangarás, no Cinema Eldorado, e, dois anos mais tarde, teria ocasião de trabalhar com o Poeta da Vila, Francisco Alves e Almirante no “Broadway Cocktail”. Cármen não teve oportunidade de solicitar um número especial para gravar. Porém, não ia passar muito tempo para isso acontecer, nascendo daí  este “Assim, sim”. Dando um ligeiro salto no tempo, apresentamos outra marchinha, “Ninguém faz fé”, de Ismael e Paulo Medeiros, com Linda Batista, então no auge da carreira, para o carnaval de 1953, em gravação RCA Victor de 19 de setembro de 52, lançada ainda em dezembro sob n.o 80-1039-A, matriz SB-093478. Aurora Miranda, irmã de Cármen, apresenta mais outras duas marchinhas, ambas de Ismael Silva sem parceiro: “Não vejo jeito”, gravação Victor de 3 de outubro de 1939, lançada em novembro do mesmo ano, por certo para o carnaval de 40, sob n.o 34519-B, matriz 33170, e “Não apoiado”, gravação Odeon  de 7 de janeiro de 1936 lançada bem em cima do carnaval desse ano, em fevereiro, disco 11327-B, matriz 5240. Ainda no campo da marchinha carnavalesca, e também só de Ismael, temos “Macaco me lamba”, da folia de 1951, lançada pela Sinter ainda em dezembro de 50 sob n.o  00-00.026-A, matriz S-50. A última faixa desta seleção, o samba “Fama sem proveito”, parceria de Ismael Silva com Heitor Catumbi, é um mistério. Quem o canta é a carioca Odaléa Sodré (1924-?), acompanhada por Netinho, Antônio Souza e regional, e que teve curtíssima carreira no disco. São conhecidos dois discos comerciaisda cantora, gravados na Columbia em 1936-37, e esta é uma gravação RCA Victor sem data, registrada no acervo do Instituto Moreira Salles com o número 196, o que leva a crer que se trate de disco particular, não comercializado (será que foi para as lojas?). Enfim, uma incógnita. Mas, de qualquer forma, aí vai mais uma contribuição do GRB para a preservação de nossa memória musical. Até a próxima!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Especial De Natal Parte 1 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 82 (2013)

Vem chegando mais um final de ano, e mais um Natal! Tempo de reunir a família, preparar o presépio, a árvore e a ceia, trocar presentes (com direito até ao chamado “amigo oculto”)… sem, é claro, esquecer que é o aniversário de Jesus. Tempo também de cantar músicas alusivas à chamada festa máxima da cristandade. Evidentemente, o Grand Record Brazil  entra nesta semana em clima natalino, apresentando a primeira de duas partes de uma seleção de músicas gravadas na era do 78 rpm para comemorar a data. Ela foi extraída de uma compilação realizada em 2006, por nosso colega e amigo Thiago Mello, para o seu blog Bossa Brasileira (http://bossa-brasileira.blogspot.com). Serão ao todo vinte gravações (algumas já aparecidas em nosso volume 4, agora voltando com melhor qualidade sonora), e aqui apresentamos as primeiras dez.  Abrindo esta seleção, temos a introdução, apenas instrumental,  a cargo do grande Radamés Gnattali, de “Cantigas de Natal”, um pot-pourri  de canções do gênero interpretadas pelos Trios Melodia e Madrigal em disco Continental 20106, de 1951, do qual apresentaremos as duas partes em nosso próximo volume.  Em seguida, Neyde Fraga (São Paulo, 1924-Rio de Janeiro, 1987) apresenta, de seu terceiro disco, o Elite Special (selo então coligado da Odeon) N-1020-A, editado em 1950, a marchinha “Quando chega o Natal”, de autoria de Sereno (Inácio de Oliveira, São Paulo, 1909-idem, 1978), matriz FB-539, muito bem acompanhada pelos Demônios da Garoa (que, como ela, também eram do cast da Rádio Record de São Paulo, então “a maior”) e pela orquestra e coro do maestro Edmundo Peruzzi (Santos, SP, 1918-idem, 1975). Curiosamente, em outra tiragem desse disco, o número da matriz foi alterado para MIB-1097. Aurora Miranda (Rio de Janeiro, 1915-idem, 2005), irmã de Cármen, comparece com duas faixas que gravou na Odeon:  “Natal divino”, marchinha de Mílton Amaral, do disco 11288-A, gravado em 4 de dezembro de 1935 e lançado logo em seguida, matriz 5173, e o samba “Sinos de Natal”, de Djalma Esteves e Vicente Paiva, do disco 11174-B, gravado em 18 de outubro de 1934 para lançamento, é claro, em dezembro, matriz 4935. Leny Eversong (Hilda Campos Soares da Silva, Santos, SP, 1920-São Paulo, 1984), notável intérprete de hits nacionais e internacionais, nos brinda com a marchinha “Prece de Natal”, de José Saccomani, Lino Tedesco e Walter Mello, lançada em dezembro de 1953 pela Copacabana sob n.o 5172-B, matriz M-559. “Noite de Natal”, interpretada por Dalva de Oliveira com a orquestra de Roberto Inglez, é o famoso “Noite feliz  (Stille nacht, heilige nacht)”, com letra diferente da que costumamos cantar, assinada por Mário Rossi, em gravação feita em 1952, nos estúdios da EMI, em Londres, durante a longa e vitoriosa excursão da cantora pela Europa, e lançada no Brasil pela Odeon com o n.o X-3372-A (série azul internacional), matriz CE-14164. A música nasceu por um capricho de ratos que, em 1818, entraram no órgão de uma igreja da cidade austríaca de Arnsdorf e roeram seus foles. Preocupado com a possibilidade de um Natal sem música nesse ano, o padre Joseph Mohr foi logo procurar um instrumento para substituir o antigo.  Nessas peregrinações, imaginou como teria sido o nascimento de Jesus, em Belém. Fez anotações, levou-as até o músico Franz Gruber para musicar… e pronto! Assim nasceu “Noite feliz”.  Já que falamos em Aurora Miranda, sua irmã Cármen (1909-1955), ainda hoje uma referência em termos de Brasil no exterior, aqui interpreta a marchinha “Dia de Natal”, de Hervê Cordovil, gravação Odeon de 16 de outubro de 1935, lançada  em dezembro seguinte sob n.o  11289-A, matriz 5170. Ângela Maria e João Dias interpretam, em dueto, a singela toada ‘Papai Noel esqueceu”, da parceria Herivelto Martins-David Nasser, lançada pela Copacabana para o Natal de 1955, sob n.o 20022-B (série “de exportação”), matriz M-1412. Um ano depois, em dezembro de 1956, nessa mesma série (20033-A, matriz M-1706), a Copacabana lançou o registro de Elizeth Cardoso para a canção “Cantiga de Natal”, de autoria da compositora e pianista Lina Pesce (Magdalena Pesce Vitale, São Paulo, 1913-idem, 1995), gravada originalmente por Mário Martins, em 1954, no mesmo selo.  Encerrando esta primeira parte, uma marchinha da dupla Alvarenga e Ranchinho, “Presente de Natal”, interpretada por Zelinha do Amaral com doce voz de menina e delicioso sotaque de caipirinha. Foi sua única gravação, feita na Victor em 12 de novembro de 1936 e lançada em dezembro seguinte sob n.o 34116-B, matriz 80250. Semana que vem, apresentaremos a segunda parte desta seleção natalina do GRB. Até lá!
*Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

A Música De Wilson Batista – Parte 3 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 79 (2013)

E aqui estamos mais uma vez na área, com a terceira e última parte da retrospectiva que o Grand Record Brazil dedica à obra musical de Wilson Batista (1913-1968). Desta feita, apresentamos mais treze preciosíssimas gravações, imprescindíveis para colecionadores e apreciadores da melhor música brasileira. Abrindo a seleção desta semana, temos o grande Gilberto Alves (Rio de Janeiro, 1915-Jacareí, SP, 1992). Ele aqui interpreta duas composições de Wilson Batista, ambas gravadas na Odeon. A primeira é  a marchinha “Gaúcho bom”, parceria com Roberto Martins, destinada ao carnaval de 1942. Gravação de 6 de novembro de 1941, lançada ainda em dezembro com o n.o 12082-A, matriz 6834. A outra é o samba “Um pedaço de mim”, que Wilson fez com o “amigo velho” Cristóvão de Alencar, gravado por Gilberto em 31 de maio de 1941 e lançado pela “marca do templo” em julho do mesmo ano, disco 12014-A, matriz 6678. Aurora Miranda (Rio de Janeiro, 1915-idem, 2005), irmã de Cármen, aqui interpreta uma marchinha de meio-de-ano, “Ladrão de corações”, parceria de Wilson Batista com Walfrido Silva. É outra gravação da Odeon, datada de 10 de agosto de 1933 e lançada em setembro do mesmo ano sob n.o 11049-A, matriz 4707. Conhecido como “o cantor que dispensa adjetivos”, Carlos Galhardo (1913-1985) aqui interpreta duas composições de Wilson Batista, por ele gravadas na Victor. Primeiramente, a marchinha “Mariposa” (termo que então designava as mulheres que só saíam de casa à noite, atraídas pela luz artificial, vocês até já devem ter adivinhado o sinônimo), parceria de Wilson com João da Baiana (João Machado Guedes, Rio de Janeiro, 1887-idem, 1974), do carnaval de 1941. A gravação se deu em 8 de outubro de 1940, com lançamento ainda em dezembro sob n.o 34682-B, matriz 52018. Em seguida Galhardo interpreta o bom samba “Deus no céu e ela na terra”, parceria de Wilson Batista com Marino Pinto, gravação de 14 de junho de 1940, lançada pela marca do cachorrinho Nipper em agosto do mesmo ano, disco 34643-B, matriz 33443, com destaque, no acompanhamento, para a clarineta de Luiz Americano. Zilá Fonseca (Iolanda Ribeiro Angarano, São Paulo, 1929-Rio de Janeiro, 1992) aqui comparece com o samba “Carta verde”, do trio Wilson Batista-Walfrido Silva-Armando Lima, gravado por ela na Columbia em 17 de julho de 1940 e lançado em agosto seguinte com o n.o 55237-B, matriz 304. Edmundo Silva (Rio de Janeiro, c. 1910-idem, 1952), irmão mais velho  de Orlando Silva, teve curta trajetória artística (ao contrário do irmão famoso), e gravou apenas onze discos com vinte e uma músicas, entre 1939 e 1944. Em uma reavaliação, porém, é possível reconhecer-lhe méritos.  Ele aqui comparece com o disco Victor 34560, lançado em janeiro de 1940 visando, obviamente o carnaval. Primeiramente o lado B, o samba “A respeito de amor”, da parceria Wilson Batista-Arnô Canegal, gravação de 17 de novembro de 1939, matriz 33277. Exatamente um dia depois, 18 de novembro de 40, Edmundo gravou o lado A, “Formosa argentina”, marchinha da parceria Wilson Batista-Germano Augusto, matriz 33280. Cármen Miranda (1909-1955), a eterna e sempre lembrada “pequena notável”, abrilhanta nossa retrospectiva  da obra musical de Wilson Batista com o samba “Não durmo em paz”, outra parceria de Wilson com Germano Augusto, por ela gravado na Odeon em 15 de abril de 1936 com lançamento em julho do mesmo ano, disco 11370-B, matriz 5311. Lolita França, cantora sobre a qual pouquíssima coisa se sabe,  gravou apenas oito discos com catorze músicas, entre 1939 e 1942. Aqui, ela comparece com duas gravações Victor para o carnaval de 1940, ambas marchinhas. A primeira é “Casinha pequenina”, da parceria Wilson Batista-Murilo Caldas (irmão de Sílvio), obviamente inspirada na famosa canção de mesmo nome. A gravação é de 11 de novembro de 1939, lançada um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 34550-A, matriz 33265. Depois tem “Vale mais”, outra parceria de Wilson Batista com Marino Pinto, gravada em 18 de outubro de 1939 e lançada ainda em dezembro sob n.o 34531-A, matriz 33192. A notável  Dircinha Batista encerra a terceira  e última parte deste retrospecto do GRB sobre Wilson Batista com os dois sambas que gravou no disco Odeon 11834, em 5 de outubro de 1939, mas que só seria lançado em maio de 40.  O do lado A é outra parceria de Wilson com Germano Augusto (uma dupla da pesada na roda da malandragem), “Inimigo do batente”, matriz 6214. O lado B, matriz 6213, é um dueto com Nuno Roland, “Senhor do Bonfim te enganou”, e aqui Wilson conta com a colaboração de Claudionor Cruz e Pedro Caetano, dupla que deixou sua marca na MPB com inúmeros clássicos. Um encerramento com chave de ouro para o retrospecto do nosso GRB sobre Wilson Batista, com toda a certeza. Até a próxima, e obrigado pela atenção!
*Texto de Samuel Machado Filho

A Música De Cartola – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 68 (2013)

Em sua sexagésima-oitava edição, o Grand Record Brazil nos brinda com as primeiras composições gravadas de um grande nome do samba e da MPB. Estamos falando de Cartola. Angenor de Oliveira – que só por ocasião de seu casamento com Zica (Euzébia Silva do Nascimento) descobriria que seu pré-nome era Angenor e não Agenor, como vinha assinando – nasceu em 11 de outubro de 1908, na Rua Ferreira Viana n.o 9, no bairro do Catete, Rio de Janeiro. Era o primeiro dos oito filhos do primeiro casamento de Sebastião, com Aída. Aos oito anos, foi morar na Rua das Laranjeiras e teve despertado seu interesse pela música no contato com ranchos e clubes de operários e, ora, pois, pois, portugueses. Quando ele tinha 11 anos, a situação da família piorou, fazendo com que se mudasse para o morro da Mangueira, então ainda com características rurais e pouquíssimo habitado. Aí conhece Carlos Cachaça (1902-1999), marcando o início de uma estreita e duradoura amizade, inclusive na música, sendo parceiros de grandes sambas. O primeiro emprego de Cartola, primeiro de muitos trabalhos humildes, foi numa modesta tipografia. Na profissão de pedreiro, ele passou a usar um chapéu-coco a fim de proteger o cabelo do reboco, daí nascendo o pseudônimo com que ficou para a posteridade. Com apenas 18 anos, amasia-se com Deolinda (que era casada, tinha uma filha e era sete anos mais velha que ele!). Integrado na roda dos batuqueiros, integra a formação, anos depois, do Bloco dos Arengueiros, cujo maior prazer entre seus componentes era promover arruaças, fazendo jus ao nome. Um dia, porém, seus componentes concluem ser chegada a hora de acalmar os nervos, sem perder a finalidade musical. Assim nasceu, em 1928, a lendária Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, cujas cores, verde e rosa, foram adotadas por sugestão do próprio Cartola (eram as mesmas cores do Rancho dos Arrepiados, por ele frequentado no tempo em que morara na cidade).  Entre 1929 e 1933 teve suas primeiras oito composições gravadas, cinco por Francisco Alves , o maior cantor da época, uma por Cármen Miranda, uma por Sílvio Caldas e uma pelo iniciante Arnaldo Amaral. Essa primeira fase de músicas gravadas seria interrompida, pois os rendimentos eram parcos, e Cartola dedicou-se apenas a compor para sua querida Mangueira, da qual se tornou figura lendária, lançando esporadicamente em disco um ou outro samba, inclusive gravando para o maestro Leopold Stokowski, em 1940, o samba “Quem me vê sorrir” (ou “Quem me vê sorrindo”), parceria com Carlos Cachaça, registro que na época só saiu nos EUA.  Nos anos  40, teve inúmeras dificuldades, tanto financeiras quanto pessoais, abalado pelo falecimento de sua Deolinda e gravemente doente. Nessa ocasião, Cartola se afasta da Mangueira e chega até a ser dado como morto. Em meados da década de 1950, o jornalista e escritor Sérgio Porto o redescobre na penúria, como lavador de carros numa garagem de Ipanema. Sérgio anuncia a boa nova de que Cartola ainda vivia, e lhe arranja um emprego menos árduo. Aos poucos, o mestre mangueirense começa sua reintegração ao meio musical. É quando se casa com sua querida Dona Zica, bela cabrochinha de olhos brilhantes, e também exímia e celebrada cozinheira. Ambos instalam, num antigo casarão da Rua da Carioca, o lendário restaurante Zicartola, que funcionou de 1963 a 1965, tornando-se ponto de encontro de sambistas de morro com nomes ditos elitizados , dando também oportunidade para o surgimentos de novos valores, Cartola comandando o samba e Dona Zica o “rango”. Entre suas composições mais conhecidas destacam-se “O sol nascerá”, “As rosas não falam”, “Acontece”, “O mundo é um moinho”, “Sim” e “Alvorada”. Entre 1974 e 1978, Cartola grava quatro LPs, dois pela Marcus Pereira e outros dois pela RCA, bastante elogiados pela crítica e bem acolhidos pelo público. Cercado do respeito e reconhecimento gerais, faleceu em 30 de novembro de 1980, aos 72 anos, sendo seu corpo velado na sede da Mangueira com todas as homenagens, e sepultado no cemitério do Caju.

Para esta edição do Grand Record Brazil, foram selecionadas nove faixas, gravadas em 78 rpm.  Abrindo esta seleção, temos a primeira composição gravada de Cartola, “Que infeliz sorte!”, lançada pela Odeon em dezembro de 1929, na voz de Francisco Alves, disco 10519-A, matriz 3095. Mário Reis chegou a adquirir os direitos de gravação deste samba por 300 mil-réis, mas preferiu repassá-lo ao Rei da Voz. Em seguida, Cármen Miranda, já então “o maior nome feminino da fonografia nacional”, interpreta “Tenho um novo amor” gravação Victor de 11 de maio de 1932, lançada em julho seguinte sob n.o 33575-B, matriz 65486, com acompanhamento do mestre Pixinguinha, à frente do Grupo da Guarda Velha.  É uma parceria de Cartola com Noel Rosa, não creditado no selo e na edição. Vem também a ser o caso das faixas seguintes, interpretadas por Francisco Alves e por ele gravadas na Odeon: “Não faz, amor”, gravação de 7 de julho de 1932, disco 10927-A, matriz 4481, e “Qual foi o mal que eu te fiz?”, imortalizado pelo Rei da Voz em 30 de dezembro de 32 mas só lançado em maio de 1933 sob n.o 10995-B, matriz 4574. Noel e Cartola, sem dinheiro, procuraram Chico Alves no Largo do Maracanã e lhe pediram algum. Chico concordou, desde que cada um fizesse um samba naquele momento. Foi aí que compuseram “Qual foi o mal que eu te fiz?”, com toda a segunda parte de Noel, que nessa ocasião fez sozinho “Estamos esperando”, gravado por Chico em dupla com Mário Reis. No dia 3 de janeiro de 1933, Francisco Alves retorna aos estúdios da Odeon para gravar outro samba de Cartola, agora sem parceiro: “Divina dama”, que será lançado logo em seguida com o número 10977-B, matriz 4575, constituindo-se no maior sucesso da primeira fase de composições gravadas do poeta mangueirense.  A faixa seguinte, “Na floresta”, foi gravação de Sílvio Caldas, parceiro de Cartola neste samba, em  13 de julho de 1932, matriz 65546, mas a Victor só o lançou em outubro de 33 com o n.o 33712-A. Isso em virtude de atritos entre Sílvio e Francisco Alves. Bucy Moreira compôs um samba chamado ‘Foi um sonho”, do qual Chico Alves gostava da letra, mas não da melodia. Então o Rei da Voz encaixou a de “Na floresta”, deixando a letra de lado. Os versos seriam musicados e gravados por Sílvio Caldas, e Francisco Alves, evidentemente, surtou e quis impedir o lançamento do disco. Mas Sílvio Caldas convenceu o Rei da Voz de que ele tinha comprado apenas a melodia: “Você deixou a letra de lado e o Cartola precisa ganhar dinheiro!” E Chico deixou os atritos também de lado…  A faixa seguinte é “Não posso viver sem ela”, parceria de Cartola com Alcebíades “Bide” Barcelos, gravada na Odeon por Ataulfo Alves, à frente de sua Academia de Samba, em 27 de novembro de 1941, com lançamento bem em cima do carnaval de 42, fevereiro, sob n.o 12106-B, matriz 6870. Entretanto, o hit maior desse disco foi o clássico “Ai, que saudades da Amélia”, de Ataulfo e Mário Lago, que ofuscou esta aqui. O samba-canção “Grande Deus” foi composto por Cartola em 1946, quando contraiu meningite e demorou mais de um ano para se recuperar. Porém, só em agosto de 1958 é que a música foi lançada em disco, na voz do grande Jamelão, pela Continental, sob n.o 17573-A, matriz C-4099. E, para encerrar mais este pequeno-grande programa do GRB, o samba “Festa da Penha”, parceria de Cartola com Asobert (pseudônimo e anagrama de Adalberto Alves de Souza). Foi gravado em 1958 por Ary Cordovil para o extinto selo Vila, em disco de número 10003-A, matriz V-7801-A. A festa em questão acontecia todo ano no mês de outubro, com romaria de fiéis  percorrendo o longo caminho até a igreja (com escadaria e tudo), que até hoje fica bem em cima do morro da Penha, numa demonstração de fé e oportunidade para apresentação de novas músicas, sempre com um olho profano em direção ao carnaval. Esta é a homenagem do GRB ao mestre Cartola, nome que tem seu lugar garantido entre os imortais de nossa música popular.

* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Várias Cantoras – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 40 (2012)

As vozes femininas sempre têm lugar reservado no Grand Record Brazil. E nesta quadragésima edição não poderia ser diferente, posto que temos mais uma compilação dedicada às cantoras, com 14 faixas.

Relembramos, mais uma vez, para começar, Aracy Cortes (Zilda de Carvalho Espíndola), nascida (31/3/1904) e falecida (8/1/1985) no Rio de Janeiro, filha de um “chorão”, Carlos Espíndola, e que morou até os 12 anos no bairro do Catumbi, onde teve um ilustre vizinho: nada mais menos que Pixinguinha. Foi Luiz Peixoto quem a descobriu, quando ela se apresentava no Circo Democrata interpretando e dançando maxixes, e seu nome artístico lhe foi dado por Mário Magalhães, crítico teatral do jornal “A Noite”. Sua estreia em teatro deu-se em 1921, na revista “Nós, pelas costas”. Em disco, suas primeiras gravações saíram em 1925, ainda no processo mecânico. Entre os anos 1950/60 afastou-se do meio artístico, voltando em 1965 no histórico show “Rosa de ouro”, produzido por Hermínio Bello de Carvalho e Kleber Santos, onde também atuavam Paulinho da Viola e Elton Medeiros, entre outros. Aracy aqui comparece com três ótimas faixas: “Você não era assim”, samba de Ary Barroso e Aricles França, lançado pela Odeon em junho de 1930 (10619-A, matriz 3592), mais os clássicos “Jura”, samba de Sinhô que ela mesma lançou na revista “Microlândia” (Parlophon 12868-A, lançado em novembro de 1928, matriz 2071) e “Iaiá”, que ficou mais conhecido como “Ai, Ioiô”, e é considerado o primeiro samba-canção brasileiro (Parlophon 12926-A, lançado em março de 1929, matriz 2366). Com música de Henrique Vogeler, teve antes duas letras: por Cândido Costa (“Linda flor”) e Freire Júnior (“Meiga flor”), mas a que pegou mesmo foi esta, assinada pelo descobridor de Aracy, Luiz Peixoto, e Marques Porto, e que ela também cantou na revista “Miss Brasil”. Nas três faixas, a cantora é acompanhada pela orquestra do palestino Simon Bountman, que tinha diversos nomes: Pan American, Copacabana, Simão Nacional Orquestra,  Orquestra Parlophon, todas na verdade a mesmíssima orquestra. Quando gravava na Columbia, aparecia nos selos como “Simão e sua Orquestra Columbia”.

Elisa de Carvalho Coelho (Uruguaiana, RS, 1909-Volta Redonda, RJ, 2001) era filha de um tenente do Exército e da jornalista e escritora Acy Carvalho, que redigia a seção feminina de “O Jornal”, matutino carioca. Passou a infância e a adolescência em Florianópolis, considerando-se por isso catarinense. Ao voltar para o Rio, cantava acompanhando-se ao piano em reuniões familiares nas quais compareciam jornalistas e poetas, amigos de seu pai. Numa dessas reuniões, em 1929, foi convidada pelo diretor da Rádio Clube do Brasil, um coronel amigo de seu pai, para apresentar-se lá, e agradou logo de saída. Excursionou pela Bahia e pelo restante do Nordeste em 1930, ao lado do compositor Hekel Tavares, passando a interpretar composições suas. Em 1935-36 esteve por duas vezes na Argentina e no Uruguai, e atuou no rádio até o final dos anos 1940. Era mãe do jornalista e apresentador de TV Goulart de Andrade, aquele do bordão “Vem comigo”, e sua discografia, gravada entre 1930 e 1934, compreende 15 discos com 30 músicas. Desse repertório, o GRB apresenta duas gravações Victor: o samba-canção “Tenho saudade”, de Ary Barroso (disco 33480-A, gravado em 14 de julho de 1931 e lançado em novembro do mesmo ano, matriz 65195), e a toada “Ciúme de caboca” (no mais puro caipirês), de  Josué de Barros, descobridor de Cármen Miranda, e Domingos Mangarinos, gravação de 11 de junho de 1930, porém só lançada em agosto de 31 (disco 33444-A, matriz 50308).

Por falar na luso-brasileira Cármen Miranda (Maria do Carmo Miranda da Cunha, Marco de Canavezes, Portugal, 1909-Los Angeles, EUA, 1955, ela aqui comparece com outra composição de Ary Barroso, o samba “Nosso amô veio dum sonho”, gravação Victor de 10 de março de 1932 lançada a toque de caixa (disco 33537-A, matriz 65404). Na verdade, já tinha sido gravada como canção por Gastão Formenti, em 1930, como canção e o nome de “Teus óio”, tendo sido a primeira composição do mestre de Ubá, feita quando ele tinha seus quinze anos, com o título “De longe”. O estribilho e a melodia são iguais, mas a segunda parte é diferente.

Olga Praguer Coelho (Manaus, AM, 1909-Rio de Janeiro, 2008), pertencente à gloriosa dinastia das cantoras-folcloristas, e com vitoriosa carreira internacional, comparece aqui com três faixas gravadas na Victor: o ponto de macumba “Estrela do céu”, por ela própria adaptado (disco 34325-B, gravado em 30 de julho de 36 mas só lançado em junho de 38, matriz 80182), a modinha “Mulata”, também chamada de “Mucama” ou “Mestiça”, versos de Gonçalves Crespo e autor da melodia desconhecido (lado A desse mesmo disco, gravado em 22 de abril de 1936, matriz 80137) e a modinha “Róseas flores”, adaptação da própria Olga (disco 34042-A, gravado em 29 de novembro de 1935 e só lançado em abril de 36, matriz 80024).

Laís Marival, paulista de Taquaritinga (1911-?),  deixou uma discografia escassa: apenas 7 discos com 14 músicas, todos pela Columbia, futura Continental, entre 1936 e 1938. Dela, aqui está uma música de seu segundo disco, o de número 8210-B, matriz 3314, de 1936: é o samba “Cada um dá o que tem”, de autoria de Raul Torres, grande expoente da chamada música caipira ou sertaneja de raiz, mas que também era de samba.

Autêntica “garota de Ipanema” por sua origem (foi eleita miss desse bairro em 1929), a carioquíssima Laura Suárez (1909-c.1990), também atriz de teatro (no qual atuou por mais de meio século) e cinema, só gravou na Brunswick, selo americano que durou menos de dois anos no Brasil:13 discos com 26 músicas: em 1930/31, inclusive com músicas de autoria própria. E é dela mesma o samba que apresentamos aqui, “Você… você”, lançado em setembro de 1930 com o número 10103-A, matriz 500.

Outra cantora-folclorista de carreira internacional, a também carioca Elsie Houston, aqui se apresenta com o samba “Morena cor de canela”, motivo popular adaptado por Ary Kerner (autor também de “Na Serra da Mantiqueira” e “Trepa no coqueiro”, entre outras), em gravação lançada pela Columbia em junho de 1930 sob número 5217-A, matriz 380649. Um mês depois saiu pela Victor o registro de Helena Pinto de Carvalho, sendo o original do cantor Sílvio Salema, um ano antes. A morte prematura de Elsie Houston, aos 40 anos, ainda é um mistério: ela foi encontrada morta em seu apartamento em Nova York, EUA, no dia 20 de fevereiro de 1943, e ainda hoje existem dúvidas se foi suicídio ou assassinato.

A respeito da cantora Neide Martins, quase nada se sabe. Sua escassa discografia compreende seis discos com doze músicas, entre 1937 e 1939, nos selos Victor (dois), Odeon (três) e Columbia (o último). Aqui, um frevo-canção de seu disco de estreia, o Victor 34142-A, gravado em 10 de dezembro de 1936 e lançado em janeiro de 37, matriz 80293: “Que fim você levou?”, do mestre Nélson Ferreira.

Encerrando esta edição, apresentamos a carioca Zezé Fonseca (Maria José González). Nascida em 5 de agosto de 1915, começou sua carreira na “Hora da arte”, do Tijuca Tênis Clube. Em 1932, levada por Paulo Bevilacqua, foi contratada pela Rádio Philips, PRAX, onde apresentava o programa “Fox tarde demais”, depois atuando como produtora de programas femininos na Rádio Cruzeiro do Sul. Integrou a companhia teatral de Procópio Ferreira, atuando com sucesso na peça “Deus lhe pague”, de Joracy Camargo. Abandonou o rádio em 1935, nele reingressando em 1939, através da lendária Rádio Nacional, onde trabalhou por seis anos. Em 1945 foi para a Rádio El Mundo, de Buenos Aires (Argentina), transferindo-se um ano depois, ao voltar ao Rio, para a Globo, passando pela Mayrink Veiga e depois retornando à Nacional, sendo uma das pioneiras da radionovela no Brasil, e uma das melhores atrizes do gênero.. Ficou famosa, a partir de 1942, por manter um tórrido romance com Orlando Silva, cujos altos e baixos causaram sério desequilíbrio emocional no “cantor das multidões”, que se viciou em morfina e afastou-se do meio artístico por alguns anos. Deixou, como cantora, entre 1933 e 1940, sete discos com catorze musicas, os cinco primeiros pela Columbia e os dois últimos pela Victor. Aqui, de seu quarto disco, o Columbia 22224-B, matriz 381502, apresentamos a marchinha “Casar não é pra mim”, de Alberto Ribeiro, lançada para o carnaval de 1933. Zezé Fonseca morreu de forma trágica, em 16 de agosto de 1962, aos 47 anos, durante um incêndio em seu apartamento no Rio.

Enfim, mais uma edição do GRB que por certo ocupará lugar de destaque no acervo de nossos amigos cultos, ocultos e associados!

Texto de SAMUEL MACHADO FILHO.

Lamartine Babo – A Música Popular No Rio de Janeiro (1988)

Bom dia carnavalescos cultos e ocultos! Parece mentira, mas até o momento eu ainda não vi e nem saí no carnaval. Não vi pela televisão e nem nas ruas. Aliás, Belo Horizonte em termos de carnaval é um caso sério. Existe até a tradição, mas a turma por aqui não é muito animada. Neste ano, parece, estavam querendo ressuscitar os velhos blocos carnavelescos, mas eu não tenho visto muitas manifestações pela cidade. Acho que o problema por aqui é a chuva. Todo ano chove nessa época, daí o belorizontino prefere viajar e pular o carnaval na chuva de outra cidade. Aqueles que dizem que odeiam carnaval também fogem da cidade, procurando um retiro de paz no feriadão. Bobagem, melhor ficar por aqui mesmo. Eu adoro o carnaval, mas para ir para o agito prefiro sair com antecedência e voltar depois sem pressa. Se tem uma coisa que eu não tolero e pegar uma estrada cheia ou ficar mofando em salas de embarque de aeroporto. Como um bom mineiro, gosto de fazer as coisas sem afobação. Na pior das hipóteses, fico em casa. Faço o meu carnaval por aqui mesmo. Discos e músicas são o que não me faltam. Faço a festa e ainda de sobra mando ver aqui no Toque Musical.
Passar o Carnaval sem Lamartine Babo é o mesmo que assistir na Avenida dos Andradas ao desfile carnavelesco de Belô, uma tremenda frustração. Por isso, para salvar o dia e também a festa, vamos com um álbum do Lalá. Temos aqui este lp lançado pela Moto Discos, que a exemplo de outros selos como o Collectors, Revivendo e Filigranas Musicais, ajudou em muito no resgate e restauração de velhos fonogramas, dos primeiros discos e artistas da música popular brasileira. O álbum “Lamartine Babo – A música popular no Rio de Janeiro”, como diz o próprio texto da contracapa, procura prestar uma homenagem a um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos, reunindo algumas de suas famosas criações. As músicas selecionadas aqui são da década de 30, em gravações feitas pelo artista ou outros intérpretes como, Carmen Miranda, Francisco Alves, Aracy de Almeida, Castro Barbosa, Mario Reis, Almirante, Diabos do Céu e outros… Em todas as músicas temos, de alguma forma, a presença de Lalá, mesmo quando na música ele não é o astro principal. Ele intervém para dar a essa um definitivo ‘toque’ lamartinesco. Confiram…

linda morena
grau dez
a e i o u
babo… zeira
rapsódia lamartinesca
senhorita carnaval
teu cabelo não nega
moleque indigesto
aí heim?
boa bola
infelizmente
vaca oxigenê
chegou a hora da fogueira

Carmen E Aurora Miranda – Filigranas Musicais Vol. VII (1988)

Olá! Em nossa semana dedicada à mulher, uma artista que não poderia faltar é Carmem Miranda. Melhor ainda se vier também a irmã, Aurora. Devo antes de tudo esclarecer que não se trata de um disco com gravações das duas cantando juntas. O que temos na verdade é um ‘meio a meio’. De um lado vem Carmem Miranda com gravações pela RCA Victor entre os anos de 1930 a 35. O outro lado é de Aurora Miranda em gravações que vão de 1938 a 40. São, sem dúvida, registros raros relançados em vinil pela Filigranas Musicais, uma editora especializada em resgatar o som das primeiras bolachas da música brasileira, através de acervos de colecionadores (pois se fossem depender dos arquivos de gravadora a mpb não teria a mesma história)

um pouquinho de você – carmem miranda
será você – carmem miranda
bom dia meu amor – carmem miranda
sorrisos – carmem miranda
de quem eu gosto – carmem miranda
que bom que estava – carmem miranda
coração sonhador – aurora miranda
paulo, paulo – aurora miranda
petisco do baile – aurora miranda
não vejo jeito – aurora miranda
pau que nasce torto – aurora miranda
barbeiro se sevilha – aurora miranda

Carmen Miranda E O Bando Da Lua – Ao Vivo (1975)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Como disse uma amiga, meus textos são quase locuções radiofônicas. Eu faria apenas uma correção: ‘locuções blogofônicas’. Sem dúvida, tem tudo a ver… O monólogo e chamadas que se repetem, o assunto e a presença diária. Tudo leva e dá esse sentido. Como tantos outro blogs, vou acabar transformando o Toque Musical numa ‘webrádio’.

Hoje o nosso foco é mais uma vez a Carmen Miranda e o Bando da Lua. O disco que temos aqui é uma peça rara criada por Aloysio de Oliveira e sua série Evento, para a Odeon. Lançados a partir de 1974, os discos pelo selo Evento/Odeon, foram uma tentativa de Aloysio de retomada na produção fonográfica semelhante à Elenco, criada por ele na década anterior. O selo Evento buscava produzir discos do mais alto nível, com artistas e compositores, que segundo Aloysio, constituíam um ‘Evento’ em termos fonográficos e musicais. Foram lançados discos com a cantora Maysa, Billy Blanco, Ary Barroso & Dorival Caymmi, Sylvia Telles, Sérgio Ricardo e outros. Esses álbuns traziam relançamentos e também coisas inéditas, entre eles este de Carmen Miranda e o Bando da Lua. Um registro ao vivo até então nunca publicado, trazendo de um lado Carmen em um dos diversos shows que ela fazia nos Estados Unidos. Do outro lado vem o Bando da Lua, também registrado ao vivo num programa de rádio, feito mais ou menos na mesma época da gravação do show de Carmen, em 1950. Este disco é para ser entendido como um evento, documento e uma curiosidade. No disco não temos nem a separação por faixas. A qualidade do som, mesmo retrabalhada, demonstra que se trata de uma gravação que serviu apenas e naquela época como um registro, hoje histórico! Confiram o toque…
Lado Carmen Miranda
south american way
when i love, i love
cuanto le custa
i make my money with bananas
cooking with glass
ai, ai, ai, i like you very much
Lado Bando da Lua
aquarela do brasil
na baixa do sapateiro
tico tico no fubá
quizas, quizas, quizas
the old piano roll blues
chiquita bacana
aquarela do brasil

Carmen Miranda – A Pequena Notável (1974)

Olá amigos cultos e ocultos! É… realmente a pressa é inimiga da perfeição, as vezes é irmã da falha. Ontem, meio que na correria para chegar cedo a feira, acabei confundindo os links. Quem esperava a Sylvia Telles, acabou ficando com a Astrud Gilberto, hehehe… Foi mal, desculpem, mas como viram, mais tarde tudo se resolveu 🙂

Já que falamos de nossas cantoras ‘americanas’, achei que seria bom termos neste domingo de sol a pioneira e inigualável Carmen Miranda. Este disquinho foi um dos que comprei na Feira de Vinil do Maletta. Vocês terão também a oportunidade de ouvir essa preciosidade que me saiu por apenas por 2 reais! Parece mentira, mas ele estava lá me esperando, assim como outros que em breve postarei. Como dizem, ‘o que é do homem o bicho não come!’
Segue então “A pequena notável”, álbum lançado em 1974 pelo selo MCA, reunindo treze faixas selecionadas das gravações feitas por Carmen, ao lado do Bando da Lua, nos Estados Unidos. Esses fonogramas correspondem ao período que vai de 1939 a 42, todos cantados em português. Muitas das músicas contém sucessos criados por outros artistas, mas que ganharam mais destaque na interpretação de Carmen. Outras são regravações feitas por ela ainda no Brasil ou números inéditos (na época) do repertório da artista. Segue na contracapa um texto com maiores informações sobre Carmen Miranda e essas gravações. Taí um bom disco para se ouvir no domingo.
o que é que a baiana tem?
o passo do canguru
caí, caí…
mamãe eu quero
touradas de madri
có có có có ró có
diz que tem
não te dou a chupeta
rebola a bola
bambo de bambú
arca de noé
chica, chica boom, chick
chattanooga choo choo

Ary Barroso – Nova História Da Música Popular Brasileira (1977) 6

Olá meus caríssimos! Continuo a lembrar, principalmente aos desavisados e desatentos visitantes, que estou recolhendo os contatos de interessados em manter o acesso ao blog, caso venhamos mesmo a nos transferir para um espaço privado. Já temos listado mais de 600 solicitações. Ainda bem que o espaço e virtual 😉
Temos aqui outro campeão de audiência da coleção Nova História da Música Popular Brasileira. Seguindo a ordem alfabética, a semana é de Ary Barroso. Um dos mais férteis compositores brasileiros e mundialmente conhecido, principalmente por sua Aquarela do Brasil. Nasceu em Ubá, Minas Gerais, onde viveu até por volta dos 18 anos. Mudou-se para o Rio de Janeiro e daí começa sua grande caminhada. Foi advogado, jornalista, radialista, vereador, dirigente esportivo, amante do futebol e principalmente compositor de canções que refletem o verdadeiro espírito brasileiro. Sua música sempre foi evocando os valores e costumes de seu país. Ary sempre lutou pela autenticidade da nossa arte maior, a música popular.
Eu sou um cara privilegiado, pois tenho comigo há mais de 20 anos, um óculos que pertenceu ao Ary Barroso. Quando eu conto esta história todo mundo duvida e nem mesmo mostrando ele na minha cara as pessoas se convencem. Na verdade, nem eu acredito, pois a única coisa que tenho é a palavra do antiquário que jurou de pé junto que o óculos era do Ary. Nunca dei muita bola para isso, embora já tivesse visto fotos antigas dele com o tal óculos. A foto da capa deste disco é uma delas e é possível comparar. De puro sarro, resolvi incluir no pacote as fotos do meu óculos do Ary Barroso para vocês também compararem. Infelizmente este não tem como compartilhar, mas está à disposição para aqueles que queiram comprovação.

na batucada da vida – elis regina
no tabuleiro da baiana – carmen miranda e luiz barbosa
como vaes você? – carmen miranda
na baixa do sapateiro – anjos do inferno
aquarela do brasil – silvio caldas
os quindins de iáiá – cyro monteiro
morena boca de ouro – joão gilberto
risque – linda batista

Carmen Miranda – A Nossa Carmem Miranda (1965)

Volto agora para o segundo tempo da noite. Desta vez com a própria estrela, a nossa Carmen Miranda. Neste lp lançado em 1965, temos uma coletânea de gravações originais de 1935 à 1941. Praticamente, temos aqui condensados os seus melhores momentos no Brasil. Este é mais um discão que eu recomendo…
adeus batucada
recenseamento
escrevi um bilhetinho
cabaret no morro
minha terra tem palmeiras
o samba e o tango
voltei pro morro
uva de caminhão
casaquinho de tricot
quando eu penso na bahia (com Silvio Caldas)
polichinelo
imperador do samba

Carmen Miranda – O Que É Que A Baiana Tem? (1972)

Este disco faz parte daquela coleção “Odeon 100 Anos”, onde diversos títulos da gravadora foram relançados em cd. Infelizmente desses 100 álbuns, pouco mais de 10% ainda podem ser encontrados. Foi mais ou menos o caso deste disco da Carmen Miranda. Um amigo procurou por todos os cantos e não o encontrou. Foi só depois de pesquisar em blogs e programas de trocas de arquivos que ele achou. Agora ele nos envia o arquivo como uma colaboração, um toque musical. Eu ouvi o disco e aprovei. Uma seleção com muita coisa boa. E atendendo as solicitações, estarei incluido a partir de agora a lista das músicas de cada disco postado aqui. Facilita, né? 🙂

01 – Querido Adão – (Oswaldo Santiago – Benedicto Lacerda)
02 – O Que É Que A Baiana Tem? – (Dorival Caymmi)
03 – Balancê – (Alberto Ribeiro – João de Barro)
04 – Quem Canta Seus Males Espanta – (Walfrido Silva – Alcebiades Barcellos)
05 – Gente Bamba – (Synval Silva)
06 – Pra Fazer Você Chorar – (Aldo Cabral – Benedicto Lacerda)
07 – Roda Pião – (Dorival Caymmi)
08 – Duvi-D-O-Dó – (Benedicto Lacerda – João Barcellos)
09 – O Dengo Que A Nega Tem – (Dorival Caymmi)
10 – Ninguém Tem Um Amor Igual Ao Meu – (Joubert de Carvalho)
11 – Pelo Amor Daquela Ingrata – (André Filho)
12 – Deixa Esse Povo Falar – (Arlindo Marques Jr. – Roberto Roberti)