A Música De Nelson Cavaquino – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 69 (2013)

Depois de Cartola, na semana passada, o Grand Record Brazil, em sua sexagésima-nona edição, homenageia mais um nome que faz parte da história da Mangueira, e, por tabela, do samba e da MPB: Nélson Cavaquinho.
Nélson Antônio da Silva, seu nome verdadeiro, nasceu no dia 29 de outubro de 1911, na Rua Mariz e Barros, no bairro carioca da Tijuca. Seu pai, o Sr. Brás Antônio da Silva,  era músico da Banda da Polícia Militar, tocava tuba, e seu tio Elvino era exímio violinista, e também organizava rodas de samba em sua casa. A mãe de Nélson,  a sra. Maria Paula da Silva, foi lavadeira do Convento de Santa Tereza. Por volta de 1919, a família, fugindo do aluguel, muda-se para a Lapa, ocasião em que Nélson  frequenta a escola primária Evaristo da Veiga, abandonando o curso para trabalhar como eletricista. Nesse bairro boêmio carioca, fez amizade com os “valentes” de então, Brancura, Edgar e Camisa Preta.  Na adolescência, transferiu-se para  o subúrbio de Ricardo de Albuquerque, para finalmente se estabelecer em uma vila operária na Gávea.  Ali, frequenta os bailes dos clubes Gravatá, Carioca Musical e Chuveiro de Ouro, conhecendo músicos decisivos em sua formação, alguns deles  empregados de uma fábrica de tecidos local, tais como Edgar Flauta da Gávea, Heitor dos Prazeres, Mazinho do Bandolim e o violonista Juquinha, de quem receberia lições de cavaquinho, .daí nascendo o pseudônimo com que ficaria para a posteridade: Nélson Cavaquinho. Já na maturidade, optaria pelo violão, desenvolvendo um estilo inimitável de tocá-lo, usando apenas dois dedos da mão direita.
Em 1931, com apenas 20 anos de idade, Nélson conhece  Alice Ferreira Neves, com quem se casa meses depois, da união resultando quatro filhos. Em seguida, graças a seu pai, consegue um emprego na Polícia Militar, fazendo rondas noturnas a cavalo. E é durante essas rondas, montado no seu querido “Vovô”, que conhece  e passa a frequentar o morro da Mangueira, travando contato com sambistas como Cartola e Carlos Cachaça. Isso lhe rendeu várias detenções, pois passava dias sem ir ao quartel, em decorrência da boemia. O ambiente da prisão era tranquilo, e ele ficava lá compondo… Em 1938, antes de ser expulso da polícia, consegue dar baixa  e, separado da mulher e afastado dos filhos, ingressa definitivamente na boemia e na música, mudando-se para o morro da Mangueira em 1952. Teve diversos outros relacionamentos até finalmente, no início dos anos 1960,  encontrar Durvalina, 30 anos mais nova que ele, com quem viveria pelo resto de sua existência.  Entre suas mais de 400 composições, várias  em parceria com Guilherme de Brito, destacam-se: “Rugas”, “Degraus da vida”,  “Luz negra”, “A flor e o espinho”, “Pranto de poeta”, “Quando eu me chamar saudade”, “Juízo final”, “Cuidado com a outra” e “Eu e as flores”.  Eram canções feitas com extrema simplicidade, e letras quase sempre remetendo a questões como o violão, botequins, mulheres e, principalmente, a morte. Que, inevitavelmente, aconteceria na madrugada de 18 de fevereiro de 1986, aos 74 anos, de enfisema pulmonar.  Como intérprete, estreou em disco no ano de 1966, gravando algumas faixas em um álbum que a cantora Thelma  Costa dedicou à sua obra. Depois, em 1970, viria seu primeiro LP-solo, “Depoimento do poeta”, pela Castelinho (que não passou desse disco!). O segundo viria dois anos mais tarde, pela RCA, primeiro volume da Série Documento, e o terceiro pela Odeon, em 1973.  Também participou, em 1977, do álbum da RCA ”Quatro grandes do samba”, ao lado de seu mais constante parceiro, Guilherme de Brito, mais Candeia e Elton Medeiros.
Nesta edição do GRB, apresentamos dez gravações originais em 78 rpm, com sambas de Nélson Cavaquinho interpretados por vários cantores e feitos com parceiros diversos. Abrindo a seleção, “Palavras malditas”, feita com seu mais constante parceiro, Guilherme de Brito, gravação de Ary Cordovil na Todamérica em 6 de setembro de 1957, disco TA-5724-B, matriz TA-100091, que seria regravada em 2011 por Beth Carvalho.  Ary também canta “Cheiro de vela”, de Nélson com  José Ribeiro (faixa 3), lançada no extinto selo Vila em 1958 (ou 61, não há certeza), disco 10003-B, matriz V-7801-B. Ruth Amaral, também compositora, interpreta outras duas faixas nesta seleção, ambas em gravações Columbia: “Cinzas”, de Nélson e Guilherme mais Renato Gaetani, lançada em novembro de 1955 sob n.o CB-10210-A, matriz CBO-584, e “Garça”, só de Nélson e Guilherme, lançada pouco antes, em maio desse ano, com o n.o CB-10192-A, matriz CBO-192 (faixa 5). A faixa  4 traz também a regravação de Nerino Silva para “Cinzas’, lançada pela Chantecler em janeiro de 1963, disco 78-0677-B, matriz C8P-1354. “Negaste um cigarro”, parceria de Nélson Cavaquinho com José Batista, foi gravada em fins de 1962 por Orlando Gil em outro selo extinto, o Albatroz, disco A-121-B. A “Divina” Elizeth Cardoso aqui comparece com um samba do carnaval de 1954, de Nélson, Roldão Lima e Gilberto Teixeira, gravação Todamérica de 12 de novembro de 53, lançada ainda em dezembro sob n.o TA-5380-B, matriz TA-591.  Francisco Ferraz Neto, o Risadinha, apresenta  “Minha fama”, de Nélson Cavaquinho com Magno de Oliveira, gravação Odeon de 4 de setembro de 1952, só lançada em junho de 53, disco 13455-B, matriz 9413. O grande Jorge Veiga interpreta “O fruto da maldade”, de Nélson com César Brasil, lançado pela Continental entre julho e setembro de 1951 com o n.o 16434-B, matriz 2632. Por fim, Vítor Bacelar interpreta outro samba de Nélson Cavaquinho em parceria com César Brasil: “Não brigo mais”, gravado na Todamérica em 23 de agosto de 1954 e lançado em setembro seguinte sob n.o TA-5471-B, matriz TA-723. Esta é a homenagem do GRB a mais este poeta da Mangueira e do samba carioca que foi Nélson Cavaquinho!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Carnaval De 1956 (1956)

Bom dia, ou melhor, boa tarde, amigos foliões cultos e ocultos! Não estive na farra do carnaval, mas acordei mesmo tarde. Estava aqui pensado que fosse ainda umas nove horas da manhã, em virtude do silêncio em que está a cidade. É BH, sabe como é… Ontem eu saí na rua para ver o movimento e por incrível que pareça, me deparei com um grupo de quase 200 pessoas na rua, ouvindo e curtindo sabe o que? Funk, mas das antigas, a lá James Brown. Uma coisa super curiosa, quase surreal, considerando estarmos em pleno carnaval. Mas Belô tem dessas coisas, quando a gente menos espera, ao virar uma rua, encontra uma surpresa. Por mais que minha cabeça estivesse no samba, não pude resistir ao balanço daquela moçada. Discotecagem na rua, uma pilha de caixas acústicas e o povo mandando vê… Encontrei até alguns amigos e cheguei a ser reconhecido e fotografado. Tô ficando famoso! Hehehe…

Mas deixando o ‘groove’ de lado, vamos ao que realmente interessa, ao disco do dia e ao nosso Carnaval. Tenho aqui para vocês mais um disquinho clássico, do caraná de 1956. Não há quem não goste de velhas marchinhas, principalmente em sua época de ouro. “Carnaval de 1956”, trás alguns sucessos do ano lançados pelo selo Columbia. É aquele disquinho tradicional, que a cada novo ano era lançado pelas grandes gravadoras. Neste encontraremos…
nem toda flor tem perfume – cauby peixoto
gato preto – lana bittencourt
gente bem – carlos henrique
cinza – ruth amaral
eu chorei – lana bittencourt
cabo frio – cauby peixoto
quebranto de solteirona – ruth amaral
tô caindo – walter damasceno