It’s Rock 1 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 44 (2012)

Esta semana, em sua quadragésima-quarta edição, o Grand Record Brazil apresenta a primeira de duas partes de uma seleção de rock (ou coisa parecida) produzida e digitalizada pelo blog Sintonia Musikal, na pessoa de seu administrador Chico, um autêntico especialista em resgatar o passado de nossa música dita “jovem”, e seguidor de carteirinha do TM. Aquele abraço, Chico!

Permitam-me os amigos cultos, ocultos e associados começar minha resenha desta primeira parte pela faixa 5. Ela foi justamente o começo, o pontapé inicial do rock tupiniquim. Estou falando da gravação feita pela carioca Nora Ney (Iracema de Souza Ferreira, 1922-2003) de “Rock around the clock”, de Jimmy de Knight e Max C. Freedman. A música era sucesso com Bill Haley e seus Cometas, e fazia parte do filme “Sementes da violência (The blackboard jungle)”, da MGM. Em 24 de outubro de 1955, Nora compareceu ao estúdio da Continental, no Edifício Cineac-Trianon (Avenida Rio Branco, esquina com Rua Bittencourt da Silva, em frente ao lendário Café Nice) para gravar sua personalíssima versão deste rock pioneiro, lançada em novembro-dezembro do mesmo ano com o n.o 17217-A, matriz C-3730. Foi assim que o rock and roll começou a balançar a juventude brasileira!

No restante do programa que o Chico nos oferece, outras doze peças raras, curiosas e interessantes do início do rock brasileiro, a chamada “pré-Jovem Guarda”. Nem mesmo a pianista Carolina Cardoso de Menezes (Rio de Janeiro, 1916-idem, 1999) resistiu aos encantos do chamado “ritmo alucinante”, compondo e executando o seu “Brasil rock”, em gravação Odeon de 14 de março de 1957 (14191-B, matriz 11601), lançada em maio daquele ano. Em seguida vem a faixa mais antiga desta seleção do amigo Chico: uma versão em português de “Jambalaya (On the bayou)”, clássico country de Hank Williams, assinada pelo comediante Edair Badaró, então atuando nas Emissoras Unidas (Rádio e TV Record de São Paulo). Na  interpretação, Neyde Fraga (São Paulo, 1924-Rio de Janeiro, 1987), então também atuando na Record. Gravado pela Odeon em 4 de setembro de 1953 e lançado em novembro do mesmo ano (13527-A, matriz 9873), este é considerado o maior sucesso da cantora. Em seguida, a versão de Aloysio de Oliveira para “In the mood”, clássico da big band de Glenn Miller, de Joe Garland e Andy Razaf, interpretada pelo Bando da Lua, formado e dirigido por Aloysio, com o nome de “Edmundo”. Gravação de 8 de junho de 1954, feita nos EUA pela Decca (hoje Universal Music), mas só lançada no Brasil vinte anos mais tarde, no LP “Bando da Lua nos EUA”, produzido por João Luiz Ferrete para a Chantecler, então representante da Decca/MCA. Depois, o curioso “rock-baião-samba” “Eu sou a tal”, de Murilo Vieira, Edel Ney e O.Vargas, interpretado por Mara Silva (Isabel Gomes da Silva, Campos, RJ, n.1930), em gravação lançada pela RGE em dezembro de 1957 (10076-A, matriz RGO-335). A faixa 6 traz aquele que é considerado o primeiro rock cem por cento brasileiro, letra e música: “Rock and roll em Copacabana”, assinado por esse verdadeiro cronista que foi Miguel Gustavo, e gravado na RCA Victor por Cauby Peixoto em 30 de janeiro de 1957, com lançamento em maio seguinte (80-1774-A, matriz 13-H2PB-0043). Temos depois a versão feita pelo radialista Paulo Rogério para o conhecido mambo-rock “Tequila”, de Chuck Rio, originalmente instrumental. A gravação coube à carioca Araci Costa (1932-1976) e saiu pela Continental em setembro-outubro de 1958, com o número 17595-A, matriz C-4123. “Tequila” era um dos números mais apreciados da orquestra do “bandleader” e vibrafonista Sylvio Mazzucca (São Paulo, 1929-idem, 2003), que curiosamente vem aqui com o chá-chá-chá “Cerveza”, de Boots Brown, em gravação lançada pela Columbia no mesmo ano de 1958 (CB-11079-A, matriz CBO-1767). O cantor Mário Augusto, criador de hits como “O amor de Terezinha” e “Calcutá”, aqui comparece com a versão de Fred Jorge para “Claudette”, de Roy Orbison, extraída de seu segundo disco, o Odeon 14372-B, gravado em 26 de agosto de 1958 e lançado em setembro do mesmo ano, matriz 12848. “A minha, a sua, a nossa favorita” (como César de Alencar a anunciava em seu programa na Rádio Nacional) Emilinha Borba vem aqui com a versão do misterioso A.Bourget para o chá-chá-rock “Patrícia”, de Pérez Prado, lançada pela Columbia também em 1958 (CB-11070-B, matriz CBO-1766). Marita Luizi, um daqueles nomes atualmente relegados ao mais completo esquecimento, apesar de terem tido sua época, aqui comparece com o calipso “Sonho maluco”, de Elzo Augusto e Miranda, lançado pela Copacabana em dezembro de 1959 com o n.o 6086-B, matriz M-2590, o segundo de seus três discos nesse formato. Marita também deixou um LP intitulado “Os grandes momentos” (Alvorada/Chantecler, 1978), ao que parece coletânea, e participou do álbum “Cinco estrelas apresentam Inara” (Copacabana, 1958), reunindo músicas de Inara Simões de Irajá (suas faixas nesse disco são”E ele não vem” e “Boca da noite”). Outro nome da pré-história de nosso rock and roll, Regina Célia, comparece aqui com a divertida “Aula de inglês em rock”, de Canarinho e Kid Sax, gravada na Polydor em 9 de dezembro de 1959 e lançada em janeiro de 60 no 78 rpm n.o 342-B, matriz POL-3774. Encerrando esta primeira seleção do amigo Chico, Cizinha Moura, que deixou apenas dois discos 78 com quatro músicas, aqui interpretando, do segundo e último deles, o Chantecler 78-0134-B, lançado em junho de 1959, o fox “Brotinho Lili”, de Alberto Roy e Domingos Paulo, matriz C8P-268. Enfim, um interessante panorama dos primórdios do rock and roll no Brasil, que continuaremos na próxima semana, sempre agradecendo ao Chico do Sintonia Musikal pela gentileza de permitir o aproveitamento desta seleção no GRB. Até lá!

SAMUEL MACHADO FILHO.

Caco Velho – Soirée A La Macumba (1956)

Boa tarde, amigos cultos e ocultos! Há algum tempo atrás, quando eu postei aqui uma coletânea especial do Caco Velho, logo em seguida, alguém (que não me lembro) enviou para o blog uma série de músicas gravadas pelo artista na França. Vim a saber que se tratava de um disco raro, lançado na França em 1956. Procurei mais informações sobre o disco e fui acabar parando num blog muito interessante, chamado Yoyo Salva Musical, do jeito que eu gosto, cheio de discos antigos e dos mais variados gêneros. Foi dessa fonte que saiu o meu arquivo, mas eu ainda não tinha a capa. Deixei lá uma mensagem, pedindo ao dono do blog as capinhas, caso tivesse. O tempo passou e como não veio resposta, eu acabei até me esquecendo. Há poucos dias atrás, para a minha surpresa, o autor do blog me fez a gentileza de enviar a capa, com direito também aos selos. Matou a pau! Agora completo, eu trago o disco para o Toque Musical. Tenho certeza que muitos aqui ainda não tiveram a oportunidade de ouvir essa jóia rara.
“Soirée a la Macumba” foi um disco gravado em 1956 por Caco Velho e os músicos que o acompanhavam na casa de shows francesa, chamada “La Macumba”. O sambista fez por lá uma longa temporada. Ele se apresentava também ao lado da cantora Marita Luizi, artista brasileira que era bem conhecida naquela época. Participou de um filme, “Quai des Illusion”, interpretando um baião “Chico Sanfona”, de J. Nubel e a toada “Ai Sinhá”, de sua autoria. Isso lhe rendeu outro convite, desta vez para gravar pela gravadora local, Ducretet Thompson um disco com as músicas “Falsa Baiana”, “Nega Mentirosa”, “Prenda Minha” e “Uma só vez”. Como sucesso do disco compacto, logo de imediato veio então a gravação de “Soirée A La Macumba”, um lp gravado ao vivo nesta boate, pela mesma gravadora e com o selo Telefunken. O álbum foi lançado no mesmo ano em que Caco Velho retorna ao Brasil. Nele encontramos doze faixas entre composições autorais e outras bem conhecidas do público brasileiro. Ele vem acompanhado, não por uma orquestra, mas sim por um conjunto e a cantora Marita Luizi. Não há como não gostar. O disquinho é mesmo muito legal.
Aproveito para agradecer ao Salvador, autor do blog YSM, pela gentileza de nos proporcionar o contato com um disco que dificilmente teria chegado até nós. Valeu demais! 🙂

chico sanfona
aí sinhá
pourquoi
sereno
vida dura
saudade de itapoã
voalá
prenda minha
mademoiselle denise
risque
balaio grande
uma só vez