Vários – Transa Musical Sandsom (1975)

Olá, amigos cultos, ocultos e associados! O TM hoje oferece um álbum-coletânea  raro, e ainda por cima duplo! É o tipo de coisa que, creio eu, pouquíssima gente tem, uma vez que foi produzido em 1975 pela CBS, hoje Sony Music, especialmente para a empresa Sands Exportação, que vendia seus produtos apenas e tão-somente por mala direta (correio), promovendo-os através de catálogos e anúncios em revistas. Quer dizer, um título que não chegou às lojas de discos. Com o nome de “Transa musical Sandsom”, este raro e precioso álbum duplo é um autêntico desfile de sucessos ditos “jovens” da época, interpretados por alguns dos principais artistas que a CBS então mantinha sob contrato, vários deles remanescentes da Jovem Guarda e que, mesmo com o fim do movimento, continuaram marcando presença nas chamadas “paradas de sucesso” e nas rádios AM de cunho popular. Por certo muita gente que viveu na metade dos anos 1970 vai se lembrar de grande parte das músicas que um certo Edson Paulo Cleto selecionou para integrar este LP duplo. Para cada intérprete, foram reservadas duas faixas, sendo uma em cada LP, salvo uma ou outra exceção. Também merece destaque a parte gráfica, realmente impecável, com fotos dos artistas participantes do disco recheando a capa dupla. Roberto Carlos, o “rei” que nunca perde a majestade, aqui comparece com faixas de seu álbum de 1973, ambas compostas por ele em parceria com seu eterno “amigo de fé” Erasmo: “Proposta” (sucesso eterno, realmente um clássico!), escolhida para abrir este LP duplo,  e “Palavras”. Jerry Adriani, outro remanescente das “jovens tardes de domingo”, vem com “Uma vida inteira” e “Não feche os olhos”, ambas também de 1973. Leno, já separado de Lilian, com quem formara uma dupla de sucesso durante a Jovem Guarda, canta apenas uma faixa, porém bastante expressiva: “A festa dos seus quinze anos”, de autoria de Ed Wilson, faixa-título e de abertura  de seu segundo LP-solo, editado em 1969, lembrada até hoje por muitos. Nalva Aguiar, que mais tarde abrigou-se entre os intérpretes sertanejos, aqui comparece com a versão “Quero que volte (Magic woman touch)”, gravação de 1973. O organista Lafayette, cuja sonoridade marcou época na Jovem Guarda, aqui executa, em registros de 1974, “No more troubles”, então sucesso do cantor marroquino Sharif Dean, e “Tema para um samba”, esta só gravada pelo Lafayette mesmo. Baiano de Salvador, e ainda hoje em atividade, José Roberto bate ponto neste LP duplo com as faixas “Lágrimas nos olhos” (grande sucesso em 1973, composto por nada mais nada menos que Raul Seixas) e “Desculpas” (1974). Cantor e compositor bastante expressivo, o mineiro (de Belo Horizonte) Márcio Greyck interpreta aqui duas músicas românticas de sucesso, até hoje lembradas: “Impossível acreditar que perdi você” (sua e do irmão Cobel, de 1970, inclusive regravada por outros artistas) e a versão “O mais importante é o verdadeiro amor (Tanta vogila di lei)”, de 1972. Outras duas faixas foram reservadas para Diana, cantora de expressivo êxito junto às camadas mais populares: a versão “Por que brigamos? (I am… I said)”, hit também de 1972, regravada até por duplas sertanejas, cujo refrão (“Ó meu amado, por que brigamos?”) é cantarolado até hoje por muitos, e “Amor só se paga com amor”, de 1973. Conhecido como “o reizinho da Jovem Guarda”, por ter sido apadrinhado por Roberto Carlos, Oscar Teixeira, ou, como ficou para a posteridade, Ed Carlos, aqui comparece com “Meu aniversário”, de 1974, e a versão “A menina que passa (Conmigo en algun lugar)”, de 1973. Renato e seus Blue Caps, grupo de rock considerado a cara da Jovem Guarda, aqui interpretam “Eu quero dançar contigo (Dancing on a saturday night)” e a romântica e sensível “Eu não aceito o teu adeus”, sucessos em 1974. Cláudio Roberto, outro intérprete de sucesso junto às camadas populares nos anos 70, aqui interpreta duas composições de Cláudio Fontana: “Como é que eu posso ser feliz sem você?” (1971) e “Separados” (1975), esta originalmente lançada por Nélson Ned na Copacabana, em 1973, e que encerra o álbum duplo. O recifense Luiz Carlos Magno entrou com “Ave Maria pro nosso amor” (com direito até a declamação da Ave Maria!), de 1972, e “Sonho de menina”, de 1974. A curiosidade fica por conta do grupo Os Selvagens, interpretando “Eu e você”, versão de Rossini Pinto para “Me and you”, lançada no original por Dave MacLean, um daqueles brasileiros que cantavam e até compunham em inglês. Ídolo eterno e inesquecível, o recifense Reginaldo Rossi vem aqui com uma verdadeira pérola de seu repertório, ainda hoje muito lembrada: “Mon amour, meu bem, ma femme”, composta por Cleide de Lima, e lançada em 1972 com enorme sucesso. Enfim, um raro LP duplo que certamente proporcionará momentos de agradável reminiscência para quem viveu nessa primeira metade dos anos 1970, e desfrutável também para os que só chegaram depois dessa época. Deliciem-se…

proposta – roberto carlos
uma vida inteira – jerry adriani
festa dos seus quinze anos – leno
quero que volte – nalva aguiar
no more troubles – lafayette
lágrimas nos olhos – josé roberto
impossível acreditar que perdi você – marcio greyck
porque brigamos – diana
meu aniversário – ed carlos
eu quero dançar contigo – renato e seus blue caps
como é que eu posso ser feliz sem você – claudio roberto
ave maria pro nosso amor – luiz carlos magno
palavras – roberto carlos
desculpas – josé roberto
amor só se paga com amor – diana
tema para um samba – lafayette
eu e você – os selvagens
sonho de menina – luiz carlos magno
eu não aceito o teu adeus – renato e seus blue caps
não feche os olhos – jerry aderiani
o mais importante é o verdadeiro amor – marcio greyck
a menina que passa – ed carlos
mon amour meu bem ma femme – reginaldo rossi
separados – caludio roberto

*Texto de Samuel Machado Filho

Diana – Uma Nova Vida (1975)

Hoje, o Toque Musical põe em foco uma das cantoras mais populares da década de 1970, representante  da chamada música brega, termo que já foi extremamente pejorativo e negativo, sinônimo de cafona, mas que hoje tem um outro significado, designando música popular de fácil assimilação. Estamos falando de Ana Maria Siqueira Iório, mais conhecida como Diana. Ela é carioca de Botafogo, tendo crescido no do Leblon, e veio ao mundo no dia 2 de junho de 1954, filha de Regina Siqueira e Osvaldo Iório. Sua batalha por um lugar ao sol nos meios artístico-musicais iniciou-se em 1968, quando gravou seu primeiro disco, na Philips, um compacto simples com as músicas “Não me deixe mais” e “Confia em mim”. Um ano mais tarde, grava o segundo single, na Caravelle, interpretando “Menti pra você” e “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Nessa época, ela conheceu um outro cantor que também estava em início de carreira, Odair José, e ambos passaram a viver juntos. Em 1970, Diana é contratada pela CBS, com o objetivo de substituir Wanderléa, que tinha ido para a Philips, e seu compacto de estreia nessa gravadora (selo Epic) trouxe as músicas “Não chore, baby” e “Eu gosto dele”. Passou então a ser produzida por Raul Seixas, futuro ícone do rock brazuca, então conhecido como Raulzito. E ele compôs, em parceria com Mauro Motta, o primeiro grande sucesso de Diana, lançado em 1971: “Ainda queima a esperança” (”Meus parabéns agora/ e feliz aniversário, amor/ Estás feliz agora/ depois que tudo acabou”…). Foi o pontapé inicial para inúmeros outros sucessos, bastante executados pelas rádios AM de cunho popular (o FM ainda engatinhava no Brasil): “Por que brigamos?” (versão de um hit de Neil Diamond, “I am… I said”, regravada até mesmo por duplas sertanejas), “Canção dos namorados”, “Hoje sonhei com você”, “Estou completamente apaixonada”, “Esta noite minha vida vai mudar”, “No fundo de minha alma”, “A música da minha vida”, “Uma vez mais”, “Foi tudo culpa do amor” etc. Diana e Odair José casaram-se oficialmente em 1973, mas já nessa época os dois já viviam às turras, o que desencadeou a conturbada separação do casal, em 1975. Um ano depois, nasceu a filha de ambos, Clarice, e, entre idas e vindas, a união de Odair e Diana só terminou definitivamente em 1981. Conhecida como “a cantora apaixonada do Brasil” e “a voz que emociona”, Diana tem, em sua discografia, nove álbuns, entre LPs e CDs, e inúmeros compactos. A partir dos anos 80, afastou-se progressivamente do disco e da mídia, mas nunca deixou de fazer apresentações por todo o Brasil, continuando a receber os aplausos e o carinho do público. “Uma nova vida”, que o TM hoje nos oferece, é o quarto álbum de estúdio da nossa Diana, lançado pela Polydor/Phonogram em 1975. O  disco traz músicas que diferem substancialmente  dos trabalhos anteriores da cantora, que ainda expressavam fortes reminiscências do iê-iê-iê e da Jovem Guarda. Com a produção dos competentíssimos Jairo Pires e Tony Bizarro (que por sinal assina uma das faixas, “Se você tentasse”, aliás a primeira música soul gravada por Diana), este álbum tem arranjos muito bem elaborados, levando a assinatura de José Roberto Bertrami  (líder da banda Azymuth, que também participou dos acompanhamentos em algumas faixas) e Luiz Cláudio Ramos, que oscilam da MPB à “soul music”. Das doze faixas, sete são de autoria da própria Diana, entre elas a divertidíssima “Lero-lero” (“Vou arranjar um alguém/ que ponha você no chinelo”), por certo a música desse trabalho que mais repercutiu. Outro destaque fica por conta da faixa de abertura, “Ainda sou mais eu”, versão do clássico do reggae “I can see cleary now”, de Johnny Nash.  O curioso é que a faixa-título, “Uma nova vida”, foi composta pelo ex-marido de Diana, Odair José, e gravada originalmente por Rosemary, em 1974, mas o sucesso da música, ironicamente, só aconteceria na voz de Diana! Com essas e outras credenciais, além do impecável padrão técnico de gravação da Phonogram na época, este “Uma nova vida”, além de ser bastante representativo na carreira discográfica de uma intérprete de forte apelo popular, como Diana, é mais um grande álbum que o TM tem orgulho em oferecer, para alegria e deleite de tantos quantos apreciem o que nossa música popular tem de significativo em seu precioso legado!

ainda sou mais eu
lero lero
momentos
vem morar comigo
eu tenho razão
promessa de amor
uma nova vida
eu preciso fazer você feliz
o tempo e a distância
muito obrigada
eu amo você demais
se você tentasse (vem tentar a sorte)

*Texto de Samuel Machado Filho