Especial De Natal Parte 2 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 83 (2013)

Nesta que é a semana do Natal, o Grand Record Brasil apresenta a segunda parte de sua seleção de músicas do gênero, gravadas na era das 78 rotações por minuto, feita a partir de uma compilação realizada em 2006 por nosso amigo e colega Thiago Mello, para seu blog Bossa Brasileira (http://bossa-brasileira.blogspot.com). São as últimas onze gravações de nosso retrospecto, perfazendo um total de vinte.
Orlando Silva (1915-1978), o sempre querido e lembrado “cantor das multidões”, abre esta segunda parte com o fox-canção “Noite de Natal”, de Maugéri Neto e Maugéri Sobrinho, lançado pela Copacabana em outubro-novembro de 1952 sob n.o 5010-B, matriz M-260. Nessa época, Orlando retornara ao convívio do grande público, após um período marcado por problemas de ordem pessoal, inclusive amorosa, e substituiu Francisco Alves, morto em acidente rodoviário naquele ano, em seu programa de domingo na Rádio Nacional do Rio de Janeiro.  Em seguida, as duas partes de “Cantigas de Natal”, pot-pourri de conhecidas músicas do gênero (“Noite feliz”, “Tannenbaum”, “Jingle bells”, “Amanhã vem o Papai Noel”, etc.), com arranjo de Radamés Gnattali e Paulo Tapajós, e interpretadas pelos trios Melodia (do qual Tapajós fazia parte, junto com Albertinho Fortuna e Nuno Roland) e Madrigal (Edda Cardoso, Magda Marialba e Lolita Koch Freire). Esta seleção saiu pela Continental em 1951 com o número 20106, matrizes 2720 e 2721. Já que falamos em Francisco Alves (1898-1952), o eterno Rei da Voz aqui comparece com duas faixas. A primeira é a marchinha “Meu Natal”, parceria sua com Ary Barroso, em gravação Victor de 19 de outubro de 1934, lançada em dezembro seguinte sob n.o  33857-A, matriz 79762. No acompanhamento a orquestra Diabos do Céu, do mestre Pixinguinha. A outra é a canção-marcha “Natal”, de Herivelto Martins e Rogério Nascimento, gravação Odeon de 23 de outubro de 1945, lançada em dezembro seguinte com o n.o 12650-B, matriz 7926. Junto com ele está o Trio de Ouro em sua primeira formação, com Herivelto, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas, todos acompanhados plea orquestra de Fon-Fon  (Otaviano Romero Monteiro).  Carlos Galhardo, “o cantor que dispensa adjetivos”, vem com outras duas faixas, em gravações RCA Victor. A primeira é a singela canção “Feliz Natal”, de Peterpan (cunhado da cantora Emilinha Borba, que regravaria a música um ano mais tarde) e Giuseppe Ghiaroni, gravada por Galhardo em 4 de agosto de 1950 e lançada em outubro do mesmo ano sob n.o  80-0697-A, matriz S-092728 (na verdade a música fora lançada um ano antes, na Star, pelo coral da Rádio Nacional do Rio). O registro de Galhardo, curiosamente, seria reeditado com o n.o 80-1061-A, em dezembro de 1952. A outra faixa dele aqui é exatamente a música que inaugurou entre nós o gênero natalino: a marcha “Boas festas”, de Assis Valente, aqui em seu registro original, de 17 de outubro de 1933, lançado em dezembro seguinte pela então Victor com o n.o 33723-A, matriz 65864. Foi, aliás, o primeiro grande hit nacional do cantor, que a gravaria mais duas vezes. Em seguida, vem o grande Blecaute (Otávio Henrique de Oliveira, Espírito Santo do Pinhal, SP, 1919-Rio de Janeiro, 1983), com a conhecidíssima “Natal das crianças”, de sua autoria, lançada pela Copacabana em dezembro de 1955 sob n.o 5502-A, matriz M-1273, Blecaute rotulou a música, modestamente, como “valsinha de roda”, sem ao certo imaginar que seria um dos maiores hits do cancioneiro natalino brasileiro em todos os tempos!  Temos depois outra “Noite de Natal”, desta vez uma valsa de Newton Teixeira em parceria com (Murilo) Alvarenga, que a gravou na Odeon com Ranchinho (Diésis dos Anjos Gaya) em 30 de outubro de 1941 com lançamento em dezembro seguinte, disco 12079-A, matriz 6826. Para encerrar, temos Dick Farney (Farnésio Dutra e Silva, Rio de Janeiro, 1921-São Paulo, 1987), interpretando “Feliz Natal”, singela canção da festejada dupla Armando Cavalcanti-Klécius Caldas, lançada pela Continental entre outubro e dezembro de 1949 sob n.o 16123-A, matriz 2173, com acompanhamento da orquestra do também compositor José Maria de Abreu. Curiosamente, este registro teve reedição em 1955, sob n.o 17230-B. A todos os amigos cultos, ocultos e associados do Toque Musical , os nossos mais sinceros votos de um Natal maravilhoso e um ano novo de 2014 repleto de alegria, paz, saúde e realizações positivas!

* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

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Especial De Natal Parte 1 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 82 (2013)

Vem chegando mais um final de ano, e mais um Natal! Tempo de reunir a família, preparar o presépio, a árvore e a ceia, trocar presentes (com direito até ao chamado “amigo oculto”)… sem, é claro, esquecer que é o aniversário de Jesus. Tempo também de cantar músicas alusivas à chamada festa máxima da cristandade. Evidentemente, o Grand Record Brazil  entra nesta semana em clima natalino, apresentando a primeira de duas partes de uma seleção de músicas gravadas na era do 78 rpm para comemorar a data. Ela foi extraída de uma compilação realizada em 2006, por nosso colega e amigo Thiago Mello, para o seu blog Bossa Brasileira (http://bossa-brasileira.blogspot.com). Serão ao todo vinte gravações (algumas já aparecidas em nosso volume 4, agora voltando com melhor qualidade sonora), e aqui apresentamos as primeiras dez.  Abrindo esta seleção, temos a introdução, apenas instrumental,  a cargo do grande Radamés Gnattali, de “Cantigas de Natal”, um pot-pourri  de canções do gênero interpretadas pelos Trios Melodia e Madrigal em disco Continental 20106, de 1951, do qual apresentaremos as duas partes em nosso próximo volume.  Em seguida, Neyde Fraga (São Paulo, 1924-Rio de Janeiro, 1987) apresenta, de seu terceiro disco, o Elite Special (selo então coligado da Odeon) N-1020-A, editado em 1950, a marchinha “Quando chega o Natal”, de autoria de Sereno (Inácio de Oliveira, São Paulo, 1909-idem, 1978), matriz FB-539, muito bem acompanhada pelos Demônios da Garoa (que, como ela, também eram do cast da Rádio Record de São Paulo, então “a maior”) e pela orquestra e coro do maestro Edmundo Peruzzi (Santos, SP, 1918-idem, 1975). Curiosamente, em outra tiragem desse disco, o número da matriz foi alterado para MIB-1097. Aurora Miranda (Rio de Janeiro, 1915-idem, 2005), irmã de Cármen, comparece com duas faixas que gravou na Odeon:  “Natal divino”, marchinha de Mílton Amaral, do disco 11288-A, gravado em 4 de dezembro de 1935 e lançado logo em seguida, matriz 5173, e o samba “Sinos de Natal”, de Djalma Esteves e Vicente Paiva, do disco 11174-B, gravado em 18 de outubro de 1934 para lançamento, é claro, em dezembro, matriz 4935. Leny Eversong (Hilda Campos Soares da Silva, Santos, SP, 1920-São Paulo, 1984), notável intérprete de hits nacionais e internacionais, nos brinda com a marchinha “Prece de Natal”, de José Saccomani, Lino Tedesco e Walter Mello, lançada em dezembro de 1953 pela Copacabana sob n.o 5172-B, matriz M-559. “Noite de Natal”, interpretada por Dalva de Oliveira com a orquestra de Roberto Inglez, é o famoso “Noite feliz  (Stille nacht, heilige nacht)”, com letra diferente da que costumamos cantar, assinada por Mário Rossi, em gravação feita em 1952, nos estúdios da EMI, em Londres, durante a longa e vitoriosa excursão da cantora pela Europa, e lançada no Brasil pela Odeon com o n.o X-3372-A (série azul internacional), matriz CE-14164. A música nasceu por um capricho de ratos que, em 1818, entraram no órgão de uma igreja da cidade austríaca de Arnsdorf e roeram seus foles. Preocupado com a possibilidade de um Natal sem música nesse ano, o padre Joseph Mohr foi logo procurar um instrumento para substituir o antigo.  Nessas peregrinações, imaginou como teria sido o nascimento de Jesus, em Belém. Fez anotações, levou-as até o músico Franz Gruber para musicar… e pronto! Assim nasceu “Noite feliz”.  Já que falamos em Aurora Miranda, sua irmã Cármen (1909-1955), ainda hoje uma referência em termos de Brasil no exterior, aqui interpreta a marchinha “Dia de Natal”, de Hervê Cordovil, gravação Odeon de 16 de outubro de 1935, lançada  em dezembro seguinte sob n.o  11289-A, matriz 5170. Ângela Maria e João Dias interpretam, em dueto, a singela toada ‘Papai Noel esqueceu”, da parceria Herivelto Martins-David Nasser, lançada pela Copacabana para o Natal de 1955, sob n.o 20022-B (série “de exportação”), matriz M-1412. Um ano depois, em dezembro de 1956, nessa mesma série (20033-A, matriz M-1706), a Copacabana lançou o registro de Elizeth Cardoso para a canção “Cantiga de Natal”, de autoria da compositora e pianista Lina Pesce (Magdalena Pesce Vitale, São Paulo, 1913-idem, 1995), gravada originalmente por Mário Martins, em 1954, no mesmo selo.  Encerrando esta primeira parte, uma marchinha da dupla Alvarenga e Ranchinho, “Presente de Natal”, interpretada por Zelinha do Amaral com doce voz de menina e delicioso sotaque de caipirinha. Foi sua única gravação, feita na Victor em 12 de novembro de 1936 e lançada em dezembro seguinte sob n.o 34116-B, matriz 80250. Semana que vem, apresentaremos a segunda parte desta seleção natalina do GRB. Até lá!
*Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Vários – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 65 (2013)

E aqui vamos “nóis” para mais uma edição caipira do Grand Record Brazil, a de número 65, oferecendo, como já aconteceu anteriormente, uma parcela do rico acervo da música regional brasileira, a chamada música caipira, que, como os ouvintes irão perceber, é bem diferente do sertanejo dito “universitário” , tão divulgado pelos meios de comunicação nos dias atuais. São, como sempre, 13 gravações preciosas, representativas de um gênero e daqueles tempinhos “bãos” em que se ouvia músicas como essas no radinho, tomando o café da manhã…  E começamos justamente com os eternos “reis do riso”, Alvarenga e Ranchinho.  São duas gravações Odeon com a formação original da dupla, Murilo Alvarenga (Itaúna, MG, 1991-São Paulo, 1978) e o primeiro dos três Ranchinhos, Diésis dos Anjos Gaia  (Jacareí, SP, 1911-São Paulo, 1991). Eles aqui nos apresentam a moda de viola “Você já viu o cruzeiro?”, do Capitão Furtado, seu descobridor, mais outra dupla, Palmeira e Piraci, gravada a 15 de setembro de 1943 e lançada em novembro do mesmo ano com o n.o 12376-B, matriz 7384. É uma alusão à então nova unidade monetária brasileira, instituída um ano antes e que, após passar por mudanças e ser substituída até mesmo pelo cruzado, deixaria de existir em 1994, com o início do Plano Real. Também tem a primeira gravação com letra do clássico choro “Tico-tico no fubá”, de Zequinha de Abreu (1880-1935), feita por Alvarenga, tendo  como subtítulo “Vamos dançar, comadre”, datada de 27 de julho de 1942 e lançada em  outubro do mesmo ano com o n.o 12202-A, matriz 7021. A 10 de agosto desse mesmo ano, em seu primeiro disco, Ademilde Fonseca incluiu este choro clássico em seu primeiro disco, com os versos assinados pelo dentista Eurico Barreiros, e sua gravação foi talvez a de maior sucesso. Focalizamos em seguida a acordeonista Carmela Bonano, mais conhecida como Zezinha, nascida  em São Paulo no dia 16 de janeiro de 1928 e que formou com Luizinho e Limeira (os irmãos, também paulistanos,  Luiz  e  Ivo Raimundo) um trio ainda hoje lembrado com muitas saudades por seus contemporâneos. Zezinha gravou seu primeiro disco como solista de acordeon em 1951, na Todamérica, com duas composições suas em parceria com Luizinho: a valsa  “Brejeira” e a mazurca “Alegria”. Para este volume do GRB foram escalados o arrasta-pé “Oito baixos”, dela mesma e de Messias Garcia, gravação Odeon de 11 de março de 1960 lançada em outubro seguinte com o n.o 14681-A, matriz 50478 (relançado com a marca Orion sob n.o R-079),  e o baião “Saudade que machuca”, de Vicente Lia e do radialista Nino Silva, lançado pela Todamérica em agosto de 1955 com o n.o TA-5563-B, matriz TA-1315, ambas com vocais de Luizinho e Limeira, sem crédito nos selos. Na faixa 6, ela, agora com Luizinho e Limeira devidamente creditados, acompanha-os no arrasta-pé “Casamento é uma gaiola”, do Compadre Generoso, gravado na Odeon em 2 de abril de 1959 e lançado em junho seguinte sob n.o 14463-B, matriz 50158, depois relançado com a marca Orion sob n.o R-058. Música que seria regravada com sucesso  por Sérgio Reis, anos mais tarde. Com o falecimento de Luizinho, em 1982, Zezinha abandonou de vez a carreira, por isso muitas biografias dizem ter ela falecido nesse ano, a  11 de maio, em Perdizes, São Paulo (outras dizem que a morte da acordeonista aconteceu em 2002, nesse mesmo dia). A maranhense (de Viana) Dilu Mello (Maria de Lourdes Argolo Oliver, 1913-2000) também deixou sua contribuição para a história de nossa música popular. Tocava diversos instrumentos: sanfona, piano, violão, harpa, violino e até serrote, causando o maior escândalo ao executar nele uma peça de Schumann! É co-autora e intérprete da clássica toada “Fiz a cama na varanda”, que já apresentamos em edição anterior do GRB, e apenas uma de suas mais de cem composições.  Para esta edição, foi escalado o xote “Qual o valor da sanfona?”, composição sua em parceria com J. Portela (o jota seria de Jeová), gravação Continental de 31 de julho de 1948, porém só lançada em março-abril de 49 sob n.o 16024-B, matriz 10916. A faixa 7 nos apresenta a gravação original de uma balada humorística que muitos conhecem na interpretação dos irmãos Sandy e Júnior: é nada mais nada menos que “Maria Chiquinha”, de autoria de Geysa Bôscoli e Guilherme Figueiredo. Ela saiu pela RGE em agosto de 1961, sob n.o 10336-B, matriz RGO-2218, num divertido dueto entre Evaldo Gouveia (compositor, cearense de Orós, autor de vários hits, sobretudo em parceria com Jair Amorim, e que integrou como cantor o Trio Nagô) e a comediante Sônia Mamede (1936-1990), “a garota do biquíni vermelho”. Bonita e de corpo escultural, Sônia foi estrela das chanchadas da Atlântida (“Garotas e samba”, “De vento em popa”), tendo feito outros 14 filmes nesse e em outros estúdios,  e ficou famosa na televisão como a Ofélia do programa humorístico “Balança mas não cai”, da Globo (seu bordão era “eu só abro a boca quando tenho certeza!”), ao lado de Lúcio Mauro, o Fernandinho. “Maria Chiquinha” foi um sucesso absoluto em 1961, e nesse ano também seria gravada por Marinês, em dueto com Luiz Cláudio, na RCA Victor. Os trios Melodia (Albertinho Fortuna, Paulo Tapajós e Nuno Roland) e Madrigal (Edda Cardoso, Magda Marialba e Lolita Koch Freire) interpretam aqui, em ritmo de baião, “Maricota, sai da chuva”,  motivo folclórico adaptado por Marcelo Tupinambá, em gravação Continental de 19 de março de 1952, lançada em julho desse ano com o n.o 16600-A, matriz C-2813. A primeira gravação, ainda na fase mecânica, foi do Grupo O Passos no Choro, em 1919, apenas instrumental.  Recordaremos em seguida outra dupla sertaneja famosa: Silveira (Nivaldo Pedro da Silveira, 1934-1999) e Barrinha (Abílio Barra, 1929-1984) ambos mineiros, Silveira, de Uberaba, e  Barrinha, de Conquista.  Aqui eles interpretam a moda campeira “Coração da pátria”, de Silveira, Lourival dos Santos e do também radialista Sebastião Victor, em gravação RCA Camden  de 25 de maio de 1962, disco CAM-1133-A, matriz N3CAB-1712, uma exaltação ao estado de Goiás, que já abrigava, desde 1960, nossa atual capital, Brasília (lembrando que o Distrito Federal é um município nêutro). Teve regravações por Nalva Aguiar e até mesmo por Beth Guzzo, filha do humorista Valentino Guzzo (a Vovó Mafalda do programa do Bozo, lembram-se?). Apresentamos logo depois as duas músicas do primeiro dos três únicos 78 rpm da dupla Biá e Biazinho no selo Sertanejo da Chantecler, o PTJ-10087, gravado junto com o acordeonista Alberto Calçada, e lançado em maio de 1960, apresentando duas canções rancheiras ao estilo mexicano:  “Nunca mais” de Fernando Dias, matriz S9-173, e “Só Deus castiga”, de Nízio e Teddy Vieira, matriz S9-174. E reservamos para o final a joia da coroa desta edição: o único disco gravado por Tonico e Tinoco (“a dupla coração do Brasil”) junto com Aracy de Almeida (“ o samba em pessoa”, “a dama da Central”, “a dama do Encantado”), todos três já relembrados pelo GRB. Uma autêntica preciosidade que chega a nossos amigos cultos, ocultos e associados por generosa cortesia do amigo  Indalêncio, grande e notório restaurador de rádios antigos.  É o Continental  17251, gravado em 28 de julho de 1955, mas só lançado em fevereiro-março de 56, com dois cateretês. Abrindo-o, matriz 11764, “Ingratidão”, de autoria de Mário Vieira, parceiro de Hervê Cordovil no clássico “Sabiá na gaiola” e mais tarde fundador e proprietário da gravadora e editora musical Califórnia, que existe até hoje, no bairro paulistano do Tatuapé, dirigida pela terceira geração da família. Mário assina também o lado B, matriz 11765, “Tô chegando agora”, desta vez em parceria com Juracy Rago, primo do violonista Antônio Rago. Uma preciosidade que o Indalêncio mui gentilmente nos cedeu e que encerra com chave de ouro esta edição regional do GRB., para alegria e deleite dos “cumpades” e cumades” de todas as idades e deste Brasilzão!

*Texto de Samuel Machado Filho

Trio De Ouro, Trio Melodia, Trio Madrigal, Trio Marabá, Trio Nagô – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 14 (2012)

Encontros a três… vozes! É o que apresenta esta décima-quarta edição do Gran Record Brazil, apresentando trios vocais que marcaram época na história da música popular brasileira. Logo de saída, temos o Trio de Ouro. E em sua primeira fase, com o “rouxinol do Brasil” Dalva de Oliveira (Rio Claro, SP-1917-Rio de Janeiro, 1972), Herivelto Martins, seu fundador (Engenheiro Paulo de Frontin, RJ, 1912-Rio de Janeiro, 1992), e Nilo Chagas (Barra do Piraí, RJ-1917-Rio de Janeiro, 1973). O disco escolhido foi o Odeon 12185, gravado em 5 de junho de 1942 e lançado em agosto do mesmo ano, com acompanhamento da orquestra do maestro Fon-Fon (Otaviano Romero Monteiro, Santa Luzia do Norte, AL, 1908-Atenas, Grécia, 1951). O lado A, matriz 6964, é simplesmente um clássico: o samba-canção “Ave Maria no morro”, uma das mais famosas obras-primas de Herivelto. Foi muitas vezes gravada, até mesmo em… esperanto! Uma joia apresentada em seu registro original, daqueles indispensáveis para quem não conhece. No verso, matriz 6965, o curioso “lamento negro” “Festa de preto”, de autoria de Humberto Porto (Salvador, BA, 1908-Rio de Janeiro, 1943), parceiro de outros dois grandes compositores, Assis Valente e Benedito Lacerda. A composição é característica da obra de Porto, que trata muito da religiosidade baiana e da história de escravidão dos negros. Porto morreu uma semana depois de seu pai… se suicidando! E o primeiro Trio de Ouro acabaria em 1949, com a ruidosa separação de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins, que organizaria mais duas formações do grupo vocal: a segunda ainda com Nilo Chagas mais Noemi Cavalcanti, e a terceira com Raul Sampaio e Lurdinha Bittencourt.

Em seguida temos o Trio Madrigal, formado na Rádio Mayrink Veiga do Rio de Janeiro, em 1946, pelo maestro Alceu Bocchino. Sua primeira formação tinha Edda Cardoso, Magda Marialba e Margarida de Oliveira (irmã de Dalva), que seis meses depois abandonou o trio para se casar, sendo substituída por Lolita Koch Freire. É esta a formação que aparece nos discos Continental aqui incluídos, com acompanhamento instrumental dirigido pelo maestro gaúcho Radamés Gnatalli, sob o pseudônimo de Vero. No primeiro, de número 16554, gravado em 10 de abril de 1952 e lançado em maio-junho do mesmo ano, elas estão junto com o Trio Melodia (integrado por Albertinho Fortuna, Nuno Roland e Paulo Tapajós e formado na lendária Rádio Nacional para apoio do programa “Um milhão de melodias”) acompanhando vocalmente o cantor Jorge Goulart, que por uma triste coincidência acaba de falecer, aos 86 anos, em sua cidade natal, Rio de Janeiro. São regravações de dois hits de João de Barro, o Braguinha, então diretor artístico da gravadora dos irmãos Byington, intimamente ligados às festas juninas. No lado A, matriz C-2836, a marchinha “Noites de junho”, parceria com Alberto Ribeiro e criação de Dalva de Oliveira em 1939, e, no verso, matriz C-2835, uma obra-prima de Braguinha sem parceiro: o samba-canção ‘Mané Fogueteiro”, originalmente lançado em 1934 por Augusto Calheiros. O segundo disco do Trio Madrigal aqui incluído, também de 1952, com lançamento em julho, leva o número 16586. No lado A, matriz C-2903, uma versão do especialista Lourival Faissal para o fox “Bom dia, mister Eco” (“Good morning, mister Echo), de Bill e Belinda Putman. Aqui, nota-se a criatividade do técnico de gravação Norival Reis, o Vavá, que até idealizou uma câmara de eco, fato que ajudou este registro, inclusive, a receber prêmio da Associação Brasileira de Discos naquele ano. No verso, matriz C-2809, a valsa “Convite ao amor”, na verdade uma versão com letra para “Sobre as ondas” (“Sobre las olas”), do uruguaio Juventino Rosas, versos de Lourival Faissal e Luiz de França. Valsa bastante gravada instrumentalmente no Brasil, e seu primeiro registro entre nós surgiu em 1910, com o rancho Ameno Resedá, sob o selo (olha só a coincidência)… Gran Record Brazil!!!

Em seguida temos os Trios Madrigal e Melodia novamente juntos no Continental 20106, lançado para os festejos natalinos de 1951, matrizes 2720 e 2721-R. Evidentemente, como diz o próprio título, é um popurri das mais expressivas”Cantigas de Natal”, de vários autores e/ou de origem folclórica, em arranjo de Paulo Tapajós e Radamés Gnatalli, com o sempre eficiente acompanhamento orquestral deste último, igualmente como Vero.

O Trio Marabá era formado por Pancho, Panchito e Cármen Duran (seriam mexicanos?). Aqui comparece com seu oitavo disco, o Copacabana 5044, lançado em março-abril de 1953, com regravações de dois hits da época: no lado A, matriz M-332, o baião “Mulher rendeira”, de origem folclórica, internacionalmente conhecido graças ao filme “O cangaceiro”, e nele interpretado pelos Demônios da Garoa. A película ganhou a Palma de Prata no festival de Cannes, França, como melhor filme de aventuras, mas quem mais se beneficiou de seu sucesso foi a distribuidora Columbia Pictures, sendo que a produtora, a lendária Vera Cruz, com estúdios em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, acabou falindo um ano depois. No verso, matriz M-333, o clássico samba-canção “Ninguém me ama”, de exclusiva autoria de Antônio Maria, mas com parceria de Fernando Lobo, por acordo que havia entre ambos. Originalmente saiu na voz de Nora Ney, em 1952.

Encerrando, vamos encontrar o Trio Nagô, integrado por Mário Alves de Almeida, Epaminondas de Souza e Evaldo Gouveia. Mário e Epaminondas cantavam na Rádio Clube do Ceará, quando conheceram o então estreante Evaldo Gouveia. Os três logo se tornaram amigos e passaram a cantar juntos na noite de Fortaleza. O grupo se chamava, a princípio, Trio Cearense, nome depois mudado para Trio Iracema e, finalmente, para Trio Nagô. Seu primeiro disco saiu em janeiro de 1953, pela Sinter, com o rasqueado “Moça bonita” e o maracatu “Paisagem sertaneja”. Eles estão aqui com o disco RCA Victor 80-1951, gravado em 24 de março de 1958 e lançado em junho do mesmo ano, com duas composições de Paulo Borges. No lado A, matriz 13-J2PB-0387, o conhecido e clássico rasqueado “Cabecinha no ombro”, lançado em fins do ano anterior por Alcides Gerardi e regravado inúmeras vezes, sendo conhecido até os dias de hoje (quem nunca ouviu?). No verso, matriz 13-J2PB-0388, o belo samba-canção “Cartão postal”. Enfim, uma edição do GRB que irá enriquecer o acervo de muitos amigos cultos e ocultos com algumas das melhores interpretações a três vozes. Divirtam-se!

* TEXTO SAMUEL MACHADO FILHO