Golden Boys – Alguém na Multidão (1966)

No último sábado, 26 de novembro de 2016, a música popular brasileira sofreu mais uma perda irreparável. Roberto Corrêa, integrante dos Golden Boys, conjunto vocal de grande sucesso na Jovem Guarda, e de longa e vitoriosa trajetória, faleceu aos 76 anos, vítima de um câncer contra o qual lutava há tempos, em seu Rio de Janeiro natal. Formado por três irmãos (Roberto, Ronaldo e Renato Corrêa) e um primo (Waldir da Anunciação, falecido em 2004), o grupo iniciou carreira com seus membros ainda adolescentes (os irmãos mais jovens, Eva, Mário e Regina, formariam depois o Trio Esperança). O primeiro disco dos nossos “garotos de ouro”, em 78 rpm, foi lançado pela Copacabana em setembro de 1958, com as músicas “Wake up, little Susie” (então sucesso da dupla norte-americana Everly Brothers, de autoria do casal Boudleaux e Felice Bryant) e “Meu romance com Laura”, calipso de Jayro Aguiar que logo alcançou sucesso. Apresentaram-se em programas de rádio e televisão sempre com destaque, e gravaram inúmeros discos, entre LPs e compactos. Além disso, no final dos anos 1960 e início dos 70, participaram de vários álbuns de artistas da MPB e do rock brazuca, que futuramente se tornariam cults e objetos de desejo de inúmeros colecionadores, como “Carlos, Erasmo”, de Erasmo Carlos, “A matança do porco”, do Som Imaginário, e também em trabalhos de Marcos Valle. Muitos foram os hits dos Golden Boys, entre eles: “Erva venenosa”,  “Ai de mim”, “Toque balanço, moço”, “Pensando nela”, “Andança” (junto com Beth Carvalho), “História em quadrinhos”, “Agora é tarde”, “Fumacê”, “O cabeção”, “Perambulando”, “Minha empregada”,  “Sou tricampeão”, “Só vou criar galinha”… Além dos presentes no álbum que comentaremos a seguir. Como compositores, Ronaldo, Roberto e Renato fizeram várias músicas de sucesso. Basta citar, por exemplo, “É papo firme”, de Renato Corrêa e Donaldson Gonçalves, êxito em 1966 na voz do “rei” Roberto Carlos. Ou ainda “Foi assim’ (“Eu vi você passar por mim”…), de autoria de Renato e Ronaldo, marcante sucesso de Wanderléa em 1967. Ela também gravou, do agora falecido Roberto, “Eu já nem sei” e “Te amo”, outros de seus hits. Em homenagem póstuma a Roberto Corrêa, o Toque Musical oferece hoje, a seus amigos cultos, ocultos e associados, um dos melhores álbuns dos Golden Boys, e sem dúvida um título essencial quando se fala em Jovem Guarda. É o antológico “Alguém na multidão”, que a Odeon lançou em plena fervura do movimento, em junho de 1966. Devidamente acompanhados pelos Fevers, e com arranjos do maestro Peruzzi, nossos “garotos de ouro” dão verdadeiros shows de interpretação em suas doze faixas. Muitas delas foram sucessos inesquecíveis, a começar pela faixa-título, de autoria de Rossini Pinto, lançada pela primeira vez em compacto simples, em novembro de 1965, e que se tornaria um dos carros-chefes dos Golden Boys para sempre. As versões “Ontem (Yesterday)”, “Michelle” e “Mágoa (Heartaches)”, são outros pontos altos deste disco, todo excelente e para ser ouvido (e até dançado!) de fio a pavio. Oferecendo esta autêntica obra-prima da Jovem Guarda, um clássico em todos os sentidos, o TM homenageia com justiça o agora saudoso Roberto Corrêa e, por tabela, os Golden Boys, reconhecendo a importância que o grupo teve na história de nossa música jovem e, por extensão, da própria MPB.

se eu fosse você
ontem (yesterday)
te adoro (i need you)
tudo eu já fiz
alguém na multidão
o feiticeiro (love potion number nine)
o bobo
michelle
você me pega (woodoo woman)
só nós dois
mágoa (heartaches)
vai procurar alguém

*Texto de Samuel Machado Filho

The Gordons And Black Joe – Barra Limpa 2 (1968)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Espero que tenham gostando desta mostra de postagens voltadas para o tema Jovem Guarda. Embora todos esses discos já tenham sido postados em outros blogs, acredito que para alguns ainda seja novidade (em especial ao amigo Fares, um eterno apaixonado pela Jovem Guarda).
Para fechar a sequência, peço licença ao Samuca para que eu mesmo apresente esta próxima postagem. Temos aqui um lp lançado no final dos anos 60, provavelmente de 1968, pelo obscuro selo Op-Disc, um entre tantos que apareceram para dar voz aos artistas desconhecidos do grande público, principalmente os grupos de bailes da época. Aqui temos o conjunto The Gordons And Black Joe, um nome bem sugestivo e curioso para uma banda cujo repertório se concentra em sucessos da Jovem Guarda e versões estrangeiras. Numa consulta rápida ao Google veremos que existem muitas citações ao lp, mas todas se resumem a venda, ou coisa da qual não se tira nenhuma informação. Sobre o conjunto sabemos menos ainda, nem mesmo quem são os seus integrantes. Mesmo assim vale a pena conhecer, até por curiosidade. O que sei é que este selo Op-Disc lançou outros discos e ao que parece “Barra Limpa” seria uma série apresentando esses conjuntos. No excelente blog Sintonia Musical, do amigo Chico, foi postado não apenas este número 2, como também o primeiro, que traz outro obscuro conjunto, The Baby Players. Lá ele informa que o disco é de 67, mas tenho para mim, que a série (se é que tem mais) Barra Limpa é de 1968. Neste disco do The Gordons and Black Joe temos, por exemplo, a faixa “O ciúme”, sucesso de Deny & Dino cujo a abertura é idêntica a de “Alegria alegria”, de Caetano Veloso, lançada num festival em 1967. Certamente fora ouvida pelo The Gordons, que a usaram sem cerimônia. Também pode ser o contrário e se for, realmente o Sintonia Musical tem razão em afirmar que o disco seja de 67. Daí então, teremos os Beat Boys e Caetano Veloso plagiando o The Gordons And Black Joe. Quem será que copiou o outro? Confiram o disco e deixem aqui seus comentários, suposições e informações complementares, ok? 😉

o ciúme
faça alguma coisa pelo nosso amor
música para ver a garota passa
eu não presto mas te amo
o bom rapaz
coisinha estúpida
meu grito
esta é minha canção
nossa canção
coração de papel
a praça
pensando nela
.

Roberto De Oliveria – Vivo De Saudades De Você (1970)

Olá, amigos cultos, ocultos e associados! O álbum que o TM nos oferece hoje é mais um daqueles títulos cercados de incógnitas, dos quais a gente não consegue descobrir muita coisa a respeito de seus intérpretes. É o caso deste “Vivo de saudades de você”, lançado em 1970 pela Polydor/Philips e, ao que parece, o único LP gravado por Roberto de Oliveira. A única coisa que consegui apurar a respeito dele é que seu primeiro disco, lançado em 1969, foi um compacto simples com duas músicas vertidas para o português por Alf Soares : “Sozinho” (no original, “Comme l’habitude”, popularizada em inglês por Paul Anka e Frank Sinatra como “My way”) e “Somente a música ficou (The way it used to be)”.  Curiosamente, nenhuma delas foi incluída neste LP. Mas, pelo menos em sua ficha técnica, há uma curiosidade: o arranjador, apresentado como Pachequinho, é nada mais nada menos que o maestro Diogo Pacheco, aquele que já regeu mais de mil concertos de música erudita e ajudou a popularizá-la no Brasil! Como Pachequinho, inclusive, ele já fez arranjos para cantores do porte de Wanderley Cardoso, Ângela Maria e Agnaldo Timóteo.  Não por acaso, o livro que conta sua trajetória, escrito pelo jornalista Alfredo Sternheim, e publicado em 2010, se intitula “Um maestro para todos”…  Outro item importante deste disco fica por conta de sua produção, a cargo de Eustáquio Sena. Cantor, compositor , violonista e percussionista, ele nasceu na região do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, e trabalhou bastante tempo na Som Livre, onde, além de trilhas de novelas, produziu álbuns antológicos, como “Acabou chorare” dos Novos Baianos (1972) e “Molhado de suor”, o primeiro trabalho de Alceu Valença (1974). Também gravou discos como intérprete, sendo o melhor deles o álbum “Cauromi” (Epic/CBS, 1980). Eustáquio faleceu em abril de 2007, completamente esquecido pela mídia. Estes dois nomes, pelo menos, credenciam o álbum hoje oferecido pelo TM. Só não foi possível encontrar informações biográficas a respeito de Roberto de Oliveira. Pela seleção de repertório, percebe-se que é um disco feito para atingir a faixa mais popular de consumo, em uma corrente que ficaria mais tarde conhecida como romântico-brega (termo a princípio considerado pejorativo, mas que hoje, nunca é demais lembrar, designa música popular facilmente assimilável). O produtor, Eustáquio Sena, assina quatro faixas: “Tristeza infinita”, “Por que será?”, “Rose Rosemary” e a versão “Também sou criança”. Outra versão incluída neste disco é “O amor é tudo (Love is all)”, popularizada no original pelo cantor britânico Malcolm Roberts em um festival da canção e, em português, por Agnaldo Rayol. Curiosa é também a inclusão, em uma única faixa, de dois clássicos da MPB, apresentados em ritmo de balada romântica: “Malandrinha” e “Chuá chuá”. A dupla Evaldo Gouveia-Jair Amorim comparece com “Um dos dois”, Sidney Quintela vem com a faixa-título, “Vivo de saudades de você”, “Tristeza infinita” e “Por que será”, Carlos Roberto (autor de vários sucessos de Paulo Sérgio e até parceiro em alguns deles) assina a faixa de abertura, “De que vale esta grandeza?”. Ainda mais curiosa é a presença de Jair Rodrigues como compositor, assinando, em parceria com Carlos Odilon, a faixa “À procura de paz”. E olha: até que esse Roberto de Oliveira cantava muitíssimo bem, e chega até a ser uma pena que ele não tenha passado desse LP. E é também de se lamentar a ausência de informações biográficas a seu respeito. Ainda assim, o TM, dentro de sua proposta de preservação da memória musical brasileira, oferece este disco a vocês. E, se alguém tiver informações biográficas sobre Roberto de Oliveira, escreva pra nós. O email, vocês sabem, é toquelinkmusical@gmail.com. Eu e o Augusto, desde já, agradecemos…

de que vale esta grandeza

tristeza infinita

eu não a amo mais

também sou criança

malandrinha – chuá chuá

a procura da paz

rose rosemary

vivo de saudades de você

só sei te amar

porque será

um dos dois

o amor é tudo

*Texto de Samuel Machado Filho

Martinha (1969)

Mais uma grande estrela da Jovem Guarda é posta em foco pelo TM. Estamos falando de Martha Vieira Figueiredo Cunha. Ou, como ficaria para a posteridade, Martinha. Até hoje conhecida pelo apelido de “queijinho de Minas”, nossa Martinha veio ao mundo exatamente na Capital das Alterosas, Belo Horizonte, a 30 de julho de 1949. Sua mãe, Dona Ruth, era uma das “ghost-writers” da coluna “Mexericos da Candinha”, publicada durante anos na “Revista do Rádio” e, mais tarde, em “Amiga”. Filha única, desde pequena já cantarolava músicas compostas por ela mesma, e aprendeu a tocar piano aos cinco anos de idade. Em 1966, foi trazida de Minas por nada mais nada menos que Roberto Carlos, o então “rei da juventude”, passando, logicamente, a fazer parte da Jovem Guarda e a ser figurinha carimbada do programa de mesmo nome, apresentado aos domingos á tarde pela antiga TV Record de São Paulo. Um ano mais tarde, Roberto gravaria uma balada romântica que se constituiu no primeiro sucesso autoral de Martinha: “Eu daria minha vida”, um clássico relembrado até hoje,  que tem mais de cinquenta gravações ao redor do mundo! Ainda em 1967, Martinha faz sua estreia também como intérprete, lançando pela Artistas Unidos (gravadora vinculada à Record, cujos produtos eram fabricados e distribuídos pela Mocambo/Rozenblit, do Recife) um compacto simples com duas músicas de autoria própria: “Barra limpa” (homenagem ao “rei” Roberto) e “Não brinque assim”. Após mais um single, com “Eu te amo mesmo assim” e ‘Quem disse adeus agora fui eu”, Martinha lançou seu primeiro LP, também intitulado “Eu te amo mesmo assim”.  Era o início de uma carreira fulminante, com vinte álbuns gravados, sendo oito deles no exterior, e apresentações em países como EUA, Espanha (onde residiu por mais de um ano) e em toda a América Latina, inclusive participando de festivais. “Não gosto mais de você”, “Arranje outra namorada”, “Pior pra você, bem pior pra mim”, “Aqui”, “Vestido branco” , “Como antigamente”, “Eu quero a América do Sul e “Que homem é esse?”  são outros sucessos de Martinha como intérprete. Como autora, tem músicas gravadas por intérpretes como Ângela Maria, Paulo Sérgio (“Pelo amor de Deus”, que fez para ele quando era sua namorada), Moacyr Franco, Ronnie Von, Wanderley Cardoso, Agnaldo Rayol (“Água caliente”), Gilliard (“Pouco a pouco”), Leno e a paraguaia Perla, além de duplas sertanejas como Chitãozinho e Xororó (“Vem provar de mim”, “Queixas”), de quem, aliás, ela é grande amiga. O TM hoje oferece a seus amigos cultos, ocultos e associados, o terceiro LP de estúdio de Martinha. Lançado em 1969, o disco também marcou a estreia da cantora-compositora mineira na Copacabana, após o fechamento da Artistas Unidos. Além de ter, em sua produção, a respeitável assinatura de Paulo Rocco, durante anos um experiente profissional da área artístico-fonográfica, e arranjos a cargo de Antônio Porto Filho, o Portinho, Vicente Salvia e José Paulo Soares.  Na contracapa, inclusive, a própria Martinha faz um agradecimento a todos que participaram deste trabalho, e também à mãe, Dona Ruth. São onze faixas, seis delas assinadas pela própria Martinha, destacando-se “À procura de mim” e “Eu escutei o seu adeus”, também editadas em compacto simples. Temos ainda trabalhos de Antônio Marcos (“Escuta”) e do irmão Mário (“Vou deixar você”), Luiz Fabiano (“Estou arrependida”), da dupla Luiz Wagner-Tom Gomes (“Sou feliz só por te ver”) e até mesmo de Arnaud Rodrigues (“Minha canção e eu”). Um repertório essencialmente romântico, linha essa que muitos cantores vindos da Jovem Guarda passaram a seguir após o fim do movimento. Tudo isso credencia, e muito, este trabalho da notável Martinha, hoje mãe de dois filhos já adultos, e residente em uma granja na região da Grande São Paulo.  E ela continua em franca atividade, como cantora e compositora, apresentando-se em shows por todo o país e recebendo, merecidamente,  os aplausos  e a benquerença do público!

a procura de mim

eu vou

eu escutei o seu adeus

vou deixar você

cansei de conversa

escuta

tarde, muito tarde

estou arrependida

deixe

minha canção e eu

sou feliz só por ter você

*Texto de Samuel Machado Filho

The Angels – 7 Dias Na TV (1964)

Para a alegria de seus amigos cultos, ocultos e associados, o Toque Musical apresenta hoje mais um precioso álbum da pré-Jovem Guarda. E gravado por um conjunto de primeira: The Angels, mais tarde The Youngsters. O grupo , originário do Rio de Janeiro, era formado por Carlos Becker (vocal e guitarra-base), Carlos Roberto (guitarra-solo), Sérgio Becker (sax-tenor e barítono), Jonas (baixo) e Romir (bateria), todos residentes na Zona Sul, mais precisamente em Copacabana. Os Angels começaram em 1961, tocando em bares, boates e shows, e animando bailes nos clubes Monte Líbano e Caiçaras, entre outros. Em 1962, passaram a se apresentar em um programa da extinta TV Continental , canal 9, dedicado à juventude, “Encontro com os anjos”. Com o sucesso alcançado, eles passaram a acompanhar a cantora Célia Vilela, com quem mais tarde Carlos Becker se casou. Assistidos por Nazareno de Brito, então diretor artístico da gravadora Copacabana, assinaram contrato com essa marca, lançando o primeiro LP em junho de 62: “Hully gully “, logo seguido de mais dois álbuns: o que apresentamos hoje e “Happy weekend with The Angels”.  Com o nome mudado para The Youngsters, acompanharam diversos astros da Jovem Guarda, em shows e discos, entre eles o “rei” Roberto Carlos, Wanderléa, Robert Livi (argentino radicado no Brasil), Ronnie Von e Wanderley Cardoso. Lançaram pela CBS os LPs “Twist only twist” (1963), “Os fabulosos Youngsters” (1964) e alguns compactos, além de um LP sem título pela Polydor/Philips, em 1969. Participaram ainda das trilhas sonoras das novelas “Véu de noiva” (1969) e “Pigmalião 70” (1970), ambas da TV Globo. Da discografia dos Angels, depois Youngsters, o TM nos oferece o segundo álbum de estúdio da banda: “Sete dias na TV”, mesmo nome de uma revista sobre televisão que circulava na época (por sinal escolhido em homenagem â mesma, que ainda mantinha uma seção sobre música jovem chamada “Brotolândia”),  lançado pela Copacabana em fevereiro de 1964. Aqui, o grupo nos traz vários  temas de seriados de televisão que faziam sucesso na época: “Os intocáveis”, “Bonanza”, “Dr. Kildare”, “Cidade nua”, “Maverick”, Peter Gunn”, “Rota 66”, “77 Sunset Strip” (esta pouco reprisada no Brasil) etc. E ainda o tema de “Shane” (no Brasil, “Os brutos também amam”), western clássico do cinema que, curiosamente, só virou seriado de TV em 1966, ou seja,  dois anos após a gravação do presente álbum, cujo entusiasmado texto de contracapa é de autoria justamente do mesmo Nazareno de Brito que os levou para a Copacabana. O tipo da coisa que faz a gente torcer para que tais séries estejam logo disponíveis em algum Netflix da vida… Enfim, mais um presente do TM para aqueles que jamais esqueceram a Jovem Guarda, e também para conhecimento de quem só ouviu falar desse que, sem dúvida, foi o primeiro movimento musical de massa acontecido no Brasil. Realmente, uma brasa, mora!

theme from the intoucheables

77 sunset strip

route 66

the deputy

peter gunn

shane

bonanza

riverboat theme

hawaiian eye

theme from dr. kildare

haked city theme

*Texto de Samuel Machado Filho

Rosemary (1967)

Boa tarde, amigos cultos e ocultos! Quando se trata de uma postagem ligeirinha, pode deixar que é comigo mesmo. E esta aqui vem a calhar. Como recentemente tivemos aqui a postagem do primeiro disco da Rosemary, feita pelo Samuca, com um rico texto sobre a cantora, acho agora desnecessário qualquer outro complemento, senão apenas informações sobre este lp lançado por ela, em 1967, através do selo RCA Victor. Ao que tudo indica, este foi seu segundo lp, Entre o primeiro e o segundo tiveram também alguns compactos cujas as músicas entraria neste lp de 67. Temos uma cantora mais moderninha, seguindo os passos da Jovem Guarda e como sempre, muito romântica.

não amor
tiquinho você
não te quero mais
pode acontecer amanhã
um coração
o que tem você
feitiço de broto
nada eu seria sem você
canção desafinada
teu olhar
amor feliz
só não pode me faltar você
.

Paul Bryan – Listen Of Paul Bryan (1973)

No início dos anos 1970, a maior parte da programação das rádios brasileiras eram de canções estrangeiras. Foi a época de um grande fenômeno que então acontecia no mercado fonográfico brasileiro: artistas brasileiros fazendo grande sucesso ao compor e cantar em inglês usando pseudônimos. Era uma exigência de consumo da época, e as gravadoras, para manter os lucros em alta, embarcaram nessa onda. Pois, naturalmente, pagar direitos autorais a artistas estrangeiros dava muito mais despesa do que cantores brasileiros. Quem nunca ouviu falar, por exemplo, de Terry Winter (“Summer holiday”), Morris Albert (autor e intérprete de “Feelings”, por sinal êxito em todo o mundo), Chrystian (que mais tarde formou dupla sertaneja com o irmão Ralf, sendo que este também cantava em inglês como Don Elliott), Michael Sullivan (que mais tarde formou uma bem-sucedida dupla autoral com Paulo Massadas), Steve MacLean, Glen Michael, Paul Denver, Mark Davis (o futuro Fábio Júnior), Tony Stevens (o saudoso Jessé) e tantos outros? Tinha também os conjuntos, tipo Pholhas, Lee Jackson, Sunday, Light Reflection, Harmony Cats… E ninguém imaginava que as belas canções que compunham e cantavam, ouvidas com frequência nas rádios, “brincadeiras” dançantes , bailes e até mesmo nas telenovelas, eram feitas aqui mesmo em terras brazucas…  Eram, em sua maioria, músicos e cantores experimentados, que se apresentavam em  bares e bailes. Outros eram profissionais de estúdios de gravação. Mas praticamente todos anônimos. Em 1973, a Rede Globo exibiu com sucesso a primeira novela colorida de nossa telinha: “O bem amado”, escrita por Dias Gomes. E, em sua trilha sonora internacional, uma música chamou a atenção:  “Listen”, composta e interpretada por um certo Paul Bryan. Pois essa era a identidade secreta de outro brasileiro: Sérgio Sá. Deficiente visual, Sérgio é cearense de Fortaleza e mudou-se para São Paulo aos treze anos de idade, a fim de prosseguir seus estudos. Foi interno, por um ano, do Instituto Padre Chico, onde aprendeu a tocar piano. É também co-autor de “Don’t say goddbye”, sucesso com Chrystian. Tem, aliás, várias composições gravadas por intérpretes de prestígio, entre os quais Roberto Carlos, Antônio Marcos, Eduardo Araújo e Fábio Júnior (o ex-Mark Davis).  Após o sucesso de “Listen”, foi tecladista do grupo de rock Joelho de Porco, nele permanecendo até 1976. Em 2005, participou da novela global “América”, como entrevistado de Dudu Braga (filho de Roberto Carlos) no programa fictício “É preciso saber viver”. E é justamente o único LP que Sérgio Sá gravou como Paul Bryan que o Toque Musical está oferecendo hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados. O título é Listen to Paul Bryan”, e o álbum foi lançado pela Top Tape (selo Blue Rock Records) em 1973. Além de “Listen”, que vem a ser a faixa de abertura, temos mais onze faixas, a maioria compostas pelo próprio Paul/Sérgio Sá, na mesma linha, essencialmente românticas. Evidentemente, o loiro barbudo que aparece na capa do disco não tem absolutamente nada a ver com o artista. Mas este “Listen to Paul Bryan” vale como documento de época e uma demonstração de versatilidade, talento e até mesmo superação.  E Sérgio Sá continua aí, felizmente.

listen
like a rainy night
thais
feel like i feel
window
a song for helping hand
some love
afraid of all
so long
who to bleme
why she goes away
old rock
*Texto de Samuel Machado Filho

Diana – Uma Nova Vida (1975)

Hoje, o Toque Musical põe em foco uma das cantoras mais populares da década de 1970, representante  da chamada música brega, termo que já foi extremamente pejorativo e negativo, sinônimo de cafona, mas que hoje tem um outro significado, designando música popular de fácil assimilação. Estamos falando de Ana Maria Siqueira Iório, mais conhecida como Diana. Ela é carioca de Botafogo, tendo crescido no do Leblon, e veio ao mundo no dia 2 de junho de 1954, filha de Regina Siqueira e Osvaldo Iório. Sua batalha por um lugar ao sol nos meios artístico-musicais iniciou-se em 1968, quando gravou seu primeiro disco, na Philips, um compacto simples com as músicas “Não me deixe mais” e “Confia em mim”. Um ano mais tarde, grava o segundo single, na Caravelle, interpretando “Menti pra você” e “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Nessa época, ela conheceu um outro cantor que também estava em início de carreira, Odair José, e ambos passaram a viver juntos. Em 1970, Diana é contratada pela CBS, com o objetivo de substituir Wanderléa, que tinha ido para a Philips, e seu compacto de estreia nessa gravadora (selo Epic) trouxe as músicas “Não chore, baby” e “Eu gosto dele”. Passou então a ser produzida por Raul Seixas, futuro ícone do rock brazuca, então conhecido como Raulzito. E ele compôs, em parceria com Mauro Motta, o primeiro grande sucesso de Diana, lançado em 1971: “Ainda queima a esperança” (”Meus parabéns agora/ e feliz aniversário, amor/ Estás feliz agora/ depois que tudo acabou”…). Foi o pontapé inicial para inúmeros outros sucessos, bastante executados pelas rádios AM de cunho popular (o FM ainda engatinhava no Brasil): “Por que brigamos?” (versão de um hit de Neil Diamond, “I am… I said”, regravada até mesmo por duplas sertanejas), “Canção dos namorados”, “Hoje sonhei com você”, “Estou completamente apaixonada”, “Esta noite minha vida vai mudar”, “No fundo de minha alma”, “A música da minha vida”, “Uma vez mais”, “Foi tudo culpa do amor” etc. Diana e Odair José casaram-se oficialmente em 1973, mas já nessa época os dois já viviam às turras, o que desencadeou a conturbada separação do casal, em 1975. Um ano depois, nasceu a filha de ambos, Clarice, e, entre idas e vindas, a união de Odair e Diana só terminou definitivamente em 1981. Conhecida como “a cantora apaixonada do Brasil” e “a voz que emociona”, Diana tem, em sua discografia, nove álbuns, entre LPs e CDs, e inúmeros compactos. A partir dos anos 80, afastou-se progressivamente do disco e da mídia, mas nunca deixou de fazer apresentações por todo o Brasil, continuando a receber os aplausos e o carinho do público. “Uma nova vida”, que o TM hoje nos oferece, é o quarto álbum de estúdio da nossa Diana, lançado pela Polydor/Phonogram em 1975. O  disco traz músicas que diferem substancialmente  dos trabalhos anteriores da cantora, que ainda expressavam fortes reminiscências do iê-iê-iê e da Jovem Guarda. Com a produção dos competentíssimos Jairo Pires e Tony Bizarro (que por sinal assina uma das faixas, “Se você tentasse”, aliás a primeira música soul gravada por Diana), este álbum tem arranjos muito bem elaborados, levando a assinatura de José Roberto Bertrami  (líder da banda Azymuth, que também participou dos acompanhamentos em algumas faixas) e Luiz Cláudio Ramos, que oscilam da MPB à “soul music”. Das doze faixas, sete são de autoria da própria Diana, entre elas a divertidíssima “Lero-lero” (“Vou arranjar um alguém/ que ponha você no chinelo”), por certo a música desse trabalho que mais repercutiu. Outro destaque fica por conta da faixa de abertura, “Ainda sou mais eu”, versão do clássico do reggae “I can see cleary now”, de Johnny Nash.  O curioso é que a faixa-título, “Uma nova vida”, foi composta pelo ex-marido de Diana, Odair José, e gravada originalmente por Rosemary, em 1974, mas o sucesso da música, ironicamente, só aconteceria na voz de Diana! Com essas e outras credenciais, além do impecável padrão técnico de gravação da Phonogram na época, este “Uma nova vida”, além de ser bastante representativo na carreira discográfica de uma intérprete de forte apelo popular, como Diana, é mais um grande álbum que o TM tem orgulho em oferecer, para alegria e deleite de tantos quantos apreciem o que nossa música popular tem de significativo em seu precioso legado!

ainda sou mais eu
lero lero
momentos
vem morar comigo
eu tenho razão
promessa de amor
uma nova vida
eu preciso fazer você feliz
o tempo e a distância
muito obrigada
eu amo você demais
se você tentasse (vem tentar a sorte)

*Texto de Samuel Machado Filho

George Freedman – Multiplication (1962)

O TM traz hoje para seus amigos cultos, ocultos e associados mais uma preciosidade da fase pré-Jovem Guarda: o primeiro LP do cantor George Freedman, que mais tarde integrou-se ao movimento. Ele nasceu em Berlim, na Alemanha, em 7 de agosto de 1940, filho de pai alemão e mãe brasileira. Iniciou sua carreira no final dos anos 1950, interpretando rocks, a maior parte versões de hits internacionais do gênero. Em 1959 lançou seu primeiro disco, pela Califórnia, gravadora que pertencia ao cantor e compositor Mário Vieira, um 78 rpm interpretando “Leninha”, de sua autoria, e “Hey, little baby”, de Steve Rowlands em versão de Fred Jorge. Um ano mais tarde, em seu segundo 78, lançado pela Polydor em junho de 1960, consegue seus primeiros grandes sucessos, “O tempo e o mar” e “Olhos cor do céu (Pretty blue eyes)”. Nessa época, apresentava-se com frequência nos programas de televisão destinados ao público jovem, como o “Ritmos para a juventude”, de Antônio  Aguillar, na TV Paulista, hoje Globo, e cantava na boate Lancaster, de São Paulo, acompanhado pelo conjunto The Rebels. Entre seus maiores sucessos estão: “Adivinhão”, “O madison”, “Um grande amor”, “Tudo que sinto por você”, “Coisinha estúpida” (talvez o maior deles), “Quando me enamoro”, “Meu tipo de garota”, “Eu hei de seguir”, “Correio sentimental” e “Eu te amo, tu me amas”, esta última em dueto com Waldirene. Em 1972, George Freedman abandonou os meios musicais, passando a trabalhar no setor imobiliário. Mas, em 1995, voltou a se apresentar artisticamente, participando das comemorações dos trinta anos da Jovem Guarda, e em 2013 lançou nas redes sociais a música “Século 21”. Após sofrer cinco AVCs, o cantor passou a residir no Guarujá, litoral paulista. George Freedman tem, em sua discografia, vários compactos e apenas dois LPs. E é justamente o primeiro deles, “Multiplication”, lançado pela RGE em dezembro de 1962, que o TM está oferecendo a vocês, com a satisfação e a alegria de sempre. Muito bem apoiado por arranjos e regências do uruguaio Rúben Pérez, o Pocho, e com eficiente produção do já citado Antônio Aguillar, o cantor nos oferece  doze faixas do mais puro rock and roll daqueles tempos, seja em versões (“O jato”, “Não brinque, Sally”, “Meu carrinho”, “Um beijinho só”, “O meu anjo”, “Canção do casamento”) ou cantando na língua original (a própria faixa-título e de abertura, “Multiplication”, então hit de Bobby Darin, o clássico country “Jambalaya”, “Good luck charm”, “Town without pity”, “When the saints come twistin”). Completando o programa, um trabalho original de Baby Santiago e Nat Santos, “Lurdinha”.  Enfim, um disco bem “pra cima”, que vai agradar não só aos que viveram esse tempo como também aos que só chegaram depois. Preparem a cuba libre, tirem os móveis da sala e divirtam-se!

multiplication

não brinque sally

good luck charm

meu anjo

jambalaya

o jato

meu carrinho

um beijinho só

lurdinha

town without pity

canção do casamento

when the saints come twistin’

*Texto de Samuel Machado Filho

Rosemary – Igual A Ti Não Há Ninguém (1964)

Dando prosseguimento à série de álbuns relacionados à Jovem Guarda, o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados o primeiro LP de uma das mais expressivas cantoras do movimento, até hoje em atividade: Rosemary.  Com o nome de Rosemeire Gonçalves, ela veio ao mundo a 7 de dezembro de 1945, no bairro carioca de Bonsucesso. Gostava de cantar desde a mais tenra idade, e já aos oito anos participou do programa de rádio “Clube do Guri”. Atuando como amadora até os 14 anos, em 1959, adotou o nome artístico de Rosemary. Em agosto de 1961, é lançado pela Chantecler seu primeiro disco, em 78 rpm, apresentando o bolero “Fala, coração” e o samba “Também sou mulher”. O segundo disco vem um ano mais tarde, em junho de 1962, pela Continental, apresentando  os twists “Eu sei” e “Reprovada”.  Foi  justamente com a explosão da Jovem Guarda que Rosemary ficou conhecida do público, cognominada “a fada loira do iê-iê-iê”. Nessa época, gravou sucessos como “Que bom seria”, “Uma tarde no circo”, “Feitiço de broto”, “Juro por Deus”, “Eu que não vivo sem ti” e “O barco”. No cinema, apareceu cantando em filmes como “Na onda do iê-iê-iê”, “Adorável trapalhão” e “Jovens pra frente”, do qual foi inclusive a atriz principal. Com o fim da Jovem Guarda, Rosemary passou a interpretar outros gêneros musicais, com um repertório essencialmente romântico-popular, ainda que chegasse a regravar sucessos de Chiquinha Gonzaga e Cármen Miranda. São dessa fase (anos 1970/80/90) hits como “Quero ser sua”, “Joia (“Sou uma mulher, preciso ser amada”…)”, “Um caso meu”, “Solidão” e “Separação”, esta última em dueto com Amado Batista.  A partir de 1976, sua carreira nos palcos toma impulso por conta de seus shows dirigidos por Abelardo Figueiredo, como “Rose, Rose, Rosemary”, que ficou oito meses em cartaz na boate O Beco, de São Paulo.  Lá, ela também fez, em 1979, o espetáculo “Meu Brasil brasileiro”, depois apresentado na França, Alemanha, Portugal e EUA, onde Rosemary inclusive cantou para o então presidente Jimmy Carter, na Casa Branca, em Washington. Nos anos 80, apresentou shows como “Rosemary Paixão” e “Rosemary mulher”, tendo inclusive atuado em novelas como “Tititi” (primeira versão) e “Cambalacho”, ambas na TV Globo, e apresentado-se na China e no Japão.  Desde o final dos anos 70, é um dos destaques dos desfiles carnavalescos da Estação Primeira de Mangueira, sua escola de samba de coração.  Tem gravados nove álbuns, entre LPs e CDs, um DVD e inúmeros compactos, em mais de 50 anos de carreira. E é justamente o primeiro LP de Rosemary, lançado pela RCA Victor  em julho de 1964, que o TM oferece com a satisfação de sempre: “Igual a ti não há ninguém”. É um disco recheado de versões de hits internacionais, particularmente da música italiana, então desfrutando de grande prestígio no Brasil, a começar pela faixa-título e de abertura, na época sucesso de Rita Pavone (no original, “Come te non c’e nessuno”), o que vem também a ser o caso de ‘Que me importa o mundo? (Che m’importa del mondo)”, “Sempre aos domingos (La partita di pallone)”, “A dança dos brotos (Il ballo del mattone)” e “Meu coração (Cuore)”. Com direito até a um hit de Gigliola Cinquetti, “Non ho l’eta per amarti”, rebatizado como “Poema de ternura”. Nada mais natural, posto que, no Brasil dessa época, as versões faziam bem mais sucesso que os originais. O programa se completa com trabalhos de Erasmo Carlos (“O sonho de todas as moças”), dos irmãos Hélio e Dayse Justo (“Lágrimas de tristeza”, “Ninguém como você”) e até mesmo de José Messias (“O doutor do amor menino”), mais tarde polêmico jurado de televisão. Enfim, um disco que se constitui em precioso documento de época, não só do início de carreira de Rosemary, como também dos preparativos para a explosão definitiva, em 1965, do movimento Jovem Guarda. Imperdível!

igual a ti não há ninguém

lágrimas de tristeza

como sinfonia

sempre aos domingos

o sonho de todas as moças

vintee quatro mil beijos

que me importa o mundo

a dança dos brotos

ninguém como você

o doutor do amor, menino

meu coração

poema de ternura

*Texto de Samuel Machado Filho

Reino Da Juventude (1964)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Agora quem passou a ser esporádico nos textos e resenhas fui eu. Nos últimos dois meses o trabalho ficou a cargo do grande Samuca, que como sempre nos oferece um texto rico e esclarecedor. Porém, como gerente-criador desse blog, eu continuo na ativa programando os discos que iremos postar e eventualmente dando os meus pitacos.
Para a próxima semana estamos programando uma série de discos voltados a Jovem Guarda. Alguns pré, alguns pós, mas todos relacionado a esse momento. Com certeza, alguns de nossos visitantes, amigos cultos e ocultos, irão gostar.
Começando nossa mostra, eu trago o lp “Reino da Juventude”. Lp lançado pela gravadora Continental em 1964. Trata-se de um disco produzido a partir de um famoso programa homônimo da TV Record apresentado por Antonio Aguillar, um dos pioneiros da chamada ‘música jovem’, no Brasil. Ele era jornalista, fotógrafo, disc-jockey e empresário, responsável pelo lançamento de vários artistas, entre os mais famosos estão Os Incríveis, The Jet Black’s, Marcos Roberto e Sérgio Reis. Aguillar também foi o responsável pela divulgação de Roberto Carlos em São Paulo. Foi em seu programa, nas tardes de sábado, que a juventude da época começou a conhecer os artistas que mais tarde estariam fazendo parte da Jovem Guarda. O disco”Reino da juventude” reúne alguns dos mais expressivos talentos do programa, todos artistas lançados por ele. Aqui temos 12 cantores e conjuntos, sendo que alguns deles continuam na ativa por duas décadas ou mais, Entre esses temos Sérgio Reis, Os Vips e Tony Bizarro (que na época era apenas Luiz Antonio). Quem gosta e acompanha as aventuras da Jovem Guarda, certamente irá lembrar de todos. Vale a pena conferir…

reino da juventude – the flyers
canção do amor perdido – marcos roberto
eu sei – marly
todo es amor – orlando alvarado
soninha – renê dantas
o mio signore – sergio reis
i got a woman – tulio e os hitch-hikers
solo duo righe – dick damello
estamos tristes – sidnéia
pobre milionário – tony dilson
tonight – the vips
primeira estrela – luiz antonio
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Trio Elétrico Tapajós – Caetanave (1972)

Sem dúvida, o trio elétrico é um dos maiores fenômenos de massa no Brasil. Surgiu em 1950, na capital baiana, Salvador, evoluindo ao longo das décadas, a ponto de se tornar um dos maiores atrativos do carnaval da Bahia e outras festas do país, sempre apresentando um repertório bem “pra cima”, com samba, frevo e outros ritmos. De início montados sobre caminhões do tipo “truck” (sem articulação, com um eixo dianteiro e dois traseiros), os trios elétricos passaram, ao longo dos anos, a serem construídos sobre carretas (normalmente com três eixos), tracionadas por caminhões tipo “cavalo mecânico”. O que ampliou suas dimensões,   e aumentou também a capacidade sonora, além de proporcionar maior conforto e segurança para artistas e convidados. Até dois geradores passaram a garantir o fornecimento de energia para os trios elétricos, além da incorporação de grandes e confortáveis camarins artísticos, e dos indispensáveis banheiros… Foi Caetano Veloso, através de seu frevo “Atrás do trio elétrico”, hit do carnaval de 1969, quem revelou para todo o Brasil a tradição dos trios elétricos no carnaval da Bahia. E, nos anos 1970, a atividade começa a se profissionalizar, com a inovação de se trazer um cantor para os trios elétricos. Um deles, que se transformou em empresa, é justamente o que o TM põe hoje em foco: o Trio Elétrico Tapajós, que ainda nos anos 1960 foi contratado para se apresentar no carnaval do Recife, a capital pernambucana. Seu fundador, Orlando  Tapajós, tem a mesma importância de Dodô e Osmar para a história dos trios elétricos, e, em 2015, foi agraciado com a Medalha Tomé de Souza, pela Câmara Municipal de Salvador. Da discografia do Tapajós, abrangendo um total de sete álbuns, gravados entre 1969 e 1984, oferecemos a nossos amigos cultos, ocultos e associados o terceiro deles. Intitulado “Caetanave”, foi lançado pela Philips/Phonogram  em fins de 1972, e tem uma particularidade bastante interessante: foi todo gravado ao vivo nas ruas do Rio de Janeiro! Dá até pra imaginar o trabalho que a coisa deve ter dado aos técnicos que trabalharam no registro deste disco… De qualquer forma, é um esforço que valeu a pena, e muito. Neste álbum, com muita alegria e animação, são apresentados sucessos da ocasião em ritmo carnavalesco, tais como “Deixa sangrar”, “Summer holiday” (cujo autor e intérprete, Terry Winter, era na verdade brasileiro), “Cada macaco no seu galho (Chô chuá)”, “Chuva, suor e cerveja” (outro hit inesquecível de Caetano Veloso), “Cavaleio de Aruanda” e “O meu amor chorou”. Nessa ocasião, o Trio Elétrico Tapajós  vinha de três anos consecutivos de premiações no carnaval soteropolitano: melhor decoração, melhor instrumental, melhor figurino. A Caetanave do título, como explica a contracapa, é uma mistura de monstro pré-histórico e nave espacial do (então distante) ano 2000, e foi construída para homenagear Caetano Veloso quando este voltou de seu exílio em Londres. Todos esses atributos, inclusive de ordem técnica e artística, dão importância histórica ao álbum que o TM hoje nos oferece, trazendo “in loco” toda a alegria e a animação dos trios elétricos. Afinal de contas, como diz o frevo do Caetano, “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”…

frevança
caetanave
duduca
estamos aí
tapajós no rio
trampolim
summer holiday
deixa sangrar
martin cererê
maria vai com as outras
quizas, quizas, quizas
chuva suor e cerveja
vem me ajudar
cada macaco no seu galho
cavaleiro de aruanda
o meu amor chorou

*Texto de Samuel Machado Filho

Som Brasileiro (1975)

É com a satisfação de sempre que o Toque Musical oferece hoje, a seus amigos cultos, ocultos e associados, mais uma coletânea apresentando MPB da melhor qualidade. Trata-se de “Som brasileiro”, editada em 1975 pela Odeon (depois EMI, hoje Universal Music), reunindo alguns dos então contratados da “marca do templo” em dez faixas marcantes e bastante expressivas. Uma seleção de primeira, conforme vocês poderão constatar. O álbum já começa arrebentando, com o grande Mílton Nascimento e seu eterno clássico “Travessia”, que o projetou nacionalmente em 1967 e aqui, em registro feito, ao que parece, especialmente para esta compilação. O grande Bituca ainda comparece com outra de suas inesquecíveis criações, “San Vicente”, lançada em 1972 no histórico álbum duplo “Clube da Esquina”. Outro “cobra” de nossa música, Marcos Valle, aqui nos traz “Remédio pro coração”, de sua longa e profícua parceria com o irmão Paulo Sérgio, extraída de seu álbum de 1974. O clássico “Primavera”, de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes, composto  para a peça “Pobre menina rica”, é aqui oferecido na voz de Alaíde Costa, em gravação que saiu primeiro num compacto duplo também  de 1974 e, no ano seguinte, foi incluída em um dos muitos LPs dessa excelente cantora. João de Aquino vem com “Sapos e grilos”, parceria dele próprio com Paulo Frederico, faixa extraída do álbum “Violão viageiro”. Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro, juntamente com outra notável cantora, Márcia, aqui nos apresentam “Mordaça”, em registro feito ao vivo durante o espetáculo “O importante é que a nossa emoção sobreviva” (título, por sinal, oriundo de um verso desta música), e lançado primeiramente no álbum de mesmo nome. Gonzaguinha, o inesquecível  e eterno aprendiz, então ainda se assinando Luiz Gonzaga Júnior, aqui comparece com “Meu coração é um pandeiro”, faixa de seu segundo álbum-solo, de 1974 (no mesmo ano, a música teve outro registro, feito ao vivo, pela cantora Marlene).  Obra-prima de João Donato, em parceria com Lysias Ênio e Mercedes Chies, “Até quem sabe?” é apresentada neste disco na voz da não menos inesquecível Maysa, em faixa de seu derradeiro álbum de estúdio. Autor de clássicos como “Eu e a bridsa” e “Céu e mar”, Johnny Alf expressa bem sua porção- intérprete com “Um gosto de fim”, de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de  Souza, faixa extraída do álbum “Nós”. Finalizando, temos o grande Egberto Gismonti, músico completo e extremamente versátil, com “Vila Rica 1720”, por ele gravada pela primeira vez em 1972, para o álbum “Água & vinho” e, aqui, em seu segundo registro, extraído de um de seus mais expressivos LPs, ‘Academia de danças”. Repertório primoroso, intérpretes do melhor quilate… Que mais se pode querer?

travessia – milton nascimento
remédio pro coração – marcos valle
primavera – alaide costa
sapos e grilos – joão de auino
mordaça – paulo cesar pinheiro, eduardo gudin & marcia
san vicente – milton nascimento
meu coração é um pandeiro – luiz gonzaga jr
até quem sabe – maysa
um gosto de fim – johnny alf
vila rica 1720 – egberto gismonti

*Texto de Samuel Machado Filho

Diana Pequeno – Mistérios (1989)

O Toque Musical põe hoje em foco uma cantora que, após anos de afastamento, voltou à cena em 2016: Diana Pequeno. Ela nasceu na capital baiana, Salvador, em 25 de janeiro de 1958, e, vinte anos mais tarde, radicou-se em São Paulo. Ainda estudante de Engenharia  Elétrica, começou a aparecer  cantando em shows universitários, passando a se dedicar à música. Gravou seu primeiro LP em 1979, pela RCA, hoje Sony Music. Participou de festivais de MPB e, em mais de 20 anos de carreira, apresentou-se em diversos países, entre os quais o Japão, onde recebeu o prêmio de Originalidade com a música “Papagaio dos cajueiros”.  Sua discografia tem um total de dez álbuns, entre LPs e CDs, e alguns compactos, onde registrou um repertório bastante eclético, com baião, xote, música latina e pop. “Blowin’ in the wind” (versão dela mesma para o clássico de Bob Dylan), “Diverdade”, “Canção de fogo”, “Engenho de flores”, “Facho de fogo” e “Sinal de amor e de perigo” são alguns de seus maiores sucessos. A última aparição pública de Diana Pequeno, ao que se sabe, foi em 2005, em sua Salvador natal, no projeto “Pelourinho dia e noite”.  Desde então, ela nunca mais desempenhou qualquer atividade artística, e passou a residir no Rio de Janeiro. Mas neste 2016 que ora finda, Diana voltou à cena, lançando uma série de álbuns independentes, a maioria contendo gravações recentes de músicas de composição própria. Um deles, “Signo”, é um “disco perdido”, gravado entre o final de 1989 e o início de 90, bem clima deste que comentaremos a seguir. “Mistérios”, que o TM apresenta hoje, é o sexto álbum de Diana Pequeno, também gravado e distribuído de forma independente.  Foi lançado em 1989, após cinco anos de afastamento dos estúdios, e marca o retorno da intérprete baiana aos caminhos originais de sua trajetória, após tentativas de tornar sua música mais comercial, e à parceria com seus velhos colaboradores Papete (falecido em maio deste ano)  e Ruy Saleme. O que resultou em seu trabalho mais intimista e autoral, com arranjos despojados, diferindo, nesse sentido, de seus primeiros discos. A faixa de abertura deste disco, “Tudo que eu quero”, é uma versão da própria Diana para “All I want”, balada folk do norte-americano John Mitchell, presente naquele que é considerado seu melhor álbum, “Blue”, de 1971. Seguem-se composições próprias, com ou sem parceiros, e de outros autores, como Zé Rodrix e Guarabyra (“Os olhos abertos”), Joyce Moreno (“As ilhas”) e a dupla Guilherme Rondon-Paulo Simões (“Mil melodias”). Destaque ainda para a bela adaptação, da própria Diana, para uma cantiga tradicional das ilhas de Cabo Verde, “Ser feliz é melhor do que nada” e para a faixa-título, dela mesma em parceria com Ruy Saleme. Tudo isso faz de “Mistérios” um disco maduro e agradável do começo ao fim, comprovando e reiterando o talento de Diana Pequeno. Confiram…

tudo que eu quero

olhos abertos

as ilhas

mistérios

tudo no olhar

ser feliz é melhor do que nada

mulher rendeira

mil melodias

jeito de viver

analfabetos do amor

imagens e sentimentos

*Texto de Samuel Machado Filho

Brasil Selo Exportação (1978)

No decorrer dos anos 1970, com o sucesso obtido pela Som Livre, gravadora vinculada à Rede Globo de Televisão, as emissoras concorrentes decidiram criar seus próprios selos fonográficos. Dessa maneira, surgiram a Bandeirantes Discos, a Seta (vinculada à Record)e a GTA (Gravações Tupi Associadas). Esta última, vinculada à Rede Tupi, grande rival da Globo na época, surgiu em 1976, e seu primeiro lançamento foi a coletânea “Sucessos pop Difusora”, recheada de hits internacionais, e produzida pela rádio AM paulistana de mesmo nome, que também pertencia ao grupo Diários Associados e tinha uma programação para a juventude, embrião do que as FMs teriam bem mais tarde. O disco (que tinha na capa o desenho de uma macaca vestida de Mona Lisa) foi um sucesso, sendo logo seguido de um segundo volume. A GTA fazia praticamente o mesmo que a Som Livre, ou seja, trilhas sonoras das novelas da Tupi e compilações nacionais e internacionais de gêneros diversos, a partir de fonogramas cedidos pelas co-irmãs. Mas, com a falência da emissora, em 1980, acabou também sumindo do mercado fonográfico, o mesmo acontecendo com a Seta e a Bandeirantes Discos, que também não foram muito longe. A Som Livre, vocês sabem, continua na ativa. É justamente uma coletânea da GTA que o Toque Musical está oferecendo hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados. Trata-se de “Brasil selo exportação”. Com seleção de repertório a cargo de Ana Maria Mazzocchi, cujo nome está ligado ao extinto Sebo de Elite, uma loja de discos raros que comandou por mais de quinze anos em São Paulo, o álbum reúne vários nomes da MPB de então, a maior parte bastante conhecidos. A exceção fica por conta de Neuber, um cantor-compositor que a própria GTA tentou emplacar sem êxito, aqui com a faixa “Análise”, que encerra o LP. No mais, verdadeiras “feras” da MPB batem ponto neste disco: Maria Bethânia, logo de saída, vem com “Terezinha”,  cujo autor, Chico Buarque, aparece logo em seguida com a não menos antológica “Basta um dia”, também composição sua. Temos ainda a inesquecível Elis Regina com “Sentimental eu fico”, de Renato Teixeira, Lula Carvalho com “Portão antigo”, releitura de uma composição de Antônio Maria originalmente lançada por Renata Fronzi em 1953, Ney Matogrosso interpretando “A gaivota”, de Gilberto Gil, a não menos inesquecível cantora e violonista Rosinha de Valença com sua “Os grilos são astros”, Fafá de Belém com a sensível “Dentro de mim mora um anjo”, de Suely Costa e Cacaso, João Nogueira com sua “Albatrozes”, Nana Caymmi revivendo “Perdoa, meu amor”, de Georges Moran e J. G. de Araújo Jorge, hit de Orlando Silva em 1947, Gal Costa com a versão “Louca me chamam” (Crazy he calls me)”, feita pelo poeta concretista Augusto de Campos a partir de original dos norte-americanos Carl Sigman e Bob Russell, e Alaíde Costa com um trabalho da parceria Ivan Lins-Vítor Martins, “Corpos”. Tudo isso em uma compilação de inestimável valor artístico e histórico, trazendo de volta um pouco da melhor MPB da década de 1970. É ouvir e comprovar.

terezinha – maria bethania

basta um dia – chico buarque

sentimental eu fico – elis regina

portão antigo – lula carvalho

a gaivota – ney matogrosso

os grilos são astros – rosinha de valença

dentro de mim mora um anjo – fafá de belém

albatrozes – joão nogueira

perdoa meu amor – nana caymmi

louca me chamam – gal costa

corpos – alaide costa

análise – neuber

*Texto de Samuel Machado Filho

Antena Um – Sucessos FMPB (1981)

Surgida em 1975, por iniciativa do empresário Orlando Negrão, a Antena 1 FM de São Paulo foi uma das primeiras rádios comerciais a apostar numa programação segmentada e de qualidade. De início, a emissora estava mais voltada para o público jovem, com programação baseada em música pop e rock, além de MPB contemporânea. Com o passar dos anos, a Antena 1 foi mudando seu estilo, passando a atingir o segmento conhecido como adulto contemporâneo, e voltando-se para as classes A e B, executando flashbacks de música internacional. No final dos anos 1980, passou a transmitir via satélite, tornando-se a primeira rede de emissoras de rádio FM do Brasil. Atualmente, a Rede Antena 1 conta com 21 emissoras, sendo sete próprias e as demais afiliadas, e vem se firmado como uma opção de qualidade para o público mais exigente. Além, é claro, de poder ser ouvida aqui na web. É justamente dos primórdios da Rede Antena 1, quando a MPB também fazia parte de sua programação, a coletânea que o Toque Musical oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados. Trata-se de “Antena 1 – Sucessos FMPB”, lançada em 1981 pela Philips/Polygram, hoje Universal Music, gravadora que sempre teve entre seus contratados autênticas “feras” de nossa música popular. Embora não haja crédito ao responsável pela seleção de repertório, esta é de arrepiar. O disco já começa arrebentando, com “Meu bem, meu mal”, grande hit de Gal Costa na época. Depois tem um irresistível dueto de Ivan Lins com a então esposa  Lucinha, “Amor”, Zizi Possi com “Caminhos de sol” (mais conhecida por “Um minuto além”), o grupo Boca Livre (então já contratado da Polygram, após lançar os dois primeiros LPs de forma independente), com “Folia”, Renato Terra com “Raio de Sol”, o grupo Céu da Boca (do qual fez parte a cantora Verônica Sabino) com a expressiva “Clarissa”, extraída do primeiro álbum do conjunto, Robertinho de Recife e a esposa Emilinha interpretando “Feliz com você”…  Robertinho, por sinal, é parceiro de Capinam na faixa seguinte, “Seja o meu céu”, na interpretação da inesquecível Nara Leão. O “Tremendão” Erasmo Carlos vem com o megahit “Minha superstar”, faixa extraída do álbum “Mulher (Sexo frágil)”, por sinal o mais vendido de toda a sua carreira. Ângela Ro Ro interpreta “Vou lá no fundo”, Eduardo Dusek vem com “Injuriado”, o Boca Livre retorna acompanhando Elza Maria (cantora que, ao que parece, não foi muito longe na carreira) em “Pena de sabiá”, um certo Heraldo com “Primavera” e, para encerrar, o sempre competentíssimo Roupa Nova, com a expressiva releitura de “Lumiar”, de Ronaldo Bastos e Beto Guedes, grande hit deste último de 1977. Enfim, uma compilação que nos dá uma ideia do que a Antena 1 apresentava musicalmente em seus primeiros tempos, na parte nacional, além de nos oferecer um pouco do que a MPB produzia de mais expressivo no início da década de 1980, na interpretação de alguns de seus expoentes. Divirtam-se…

meu bem, meu mal – gal costa
amor – ivan lins
caminhos do sol – zizi possi
folia – boca livre
raio de sol – renato terra
clarissa – céu da boca
feliz com você – robertinho de recife
seja o meu céu – nara leão
minha super star – erasmo carlos
vou lá no fundo – angela roro
injuriado – eduardo dusek
pena de sabiá – elza maria
primavera – heraldo
lumiar – roupa nova
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*Texto de Samuel Machado Filho

Luiz Gonzaga – Ô Véio Macho (1962)

Boa noite, prezadíssimos amigos cultos e ocultos! Hoje eu acordei com vontade de ouvir Luiz Gonzaga e naturalmente, eu não deixaria esse momento passar em branco aqui no Toque Musical. Embora o Gonzagão já tenha sido exaustivamente publicado aqui, Muitos de seus lps, principalmente os de 12 polegadas ainda continuam inéditos, pelo menos por aqui. Assim sendo, aqui vai mais um.
“Ô véio macho” é um lp de carreira, lançado em 1962 pela RCA Victor. Neste disco vamos encontrar o Luiz Gonzaga intérprete e parceiro. São doze faixas recheadas de xote, baião, forró e toada. Aqui, pela primeira vez, Luiz Gonzaga apresenta em disco um de seus parceiros e fã, José Marcolino, com quem divide seis faixas. Disco bacana, gravação com a qualidade que só mesmo a RCA Victor sabia fazer. Confiram…

ô véio macho
balança a rede
sertão de aço
serrote agudo
de teresina a são luiz
pássaro carão
sanfoneiro zé tatu
matuto aperriado
forró de zé dantas
a dança do nicodemos
no piacó
adeus iracema
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Assis Brasil Quarteto – Self Portrait (1988)

Irmão gêmeo do saxofonista Victor Assis Brasil, o pianista e professor João Carlos Miranda de Assis Brasil nasceu em 28 de agosto de 1945, no Rio de Janeiro.  Sua formação musical iniciou-se no Conservatório Brasileiro de Música, onde, além de piano, estudou  harmonia e teoria musical, tendo recebido, aos dez anos de idade, o primeiro prêmio em concurso promovido pela instituição de ensino. Em 1960, prosseguiria seus estudos, com o renomado concertista Jacques Klein e, dois anos mais tarde, venceu o Concurso Nacional de Piano da Bahia. Em 1964, viajou para Paris, a capital francesa, onde estudou com Pierre Sancan. Em 1965, classificou-se em terceiro lugar no Concurso Internacional Beethoven, realizado em Viena, Áustria, disputando com mais de 60 candidatos, e ali aprimorou seus estudos com Richard Hauser e Dieter Weber. Também atuou como solista na Orquestra Filarmônica de Viena. Em 1966, apresentou-se em Londres (Wigmore Hall), Milão (no auditório da família Meneghine), Belgrado (no teatro local) e também em Viena (no Brahmsaal). Estudou em Londres com Ilona Kabos, em 1970, e cinco anos depois, apresentou-se em Washington, na Universidade Católica. Nos anos 1980, formou o João Carlos Brasil Trio, ao lado do baixista Zeca Assumpção e do baterista Cláudio Caribé, que passou a quinteto com a entrada do violoncelista David Chew e do saxofonista Idriss Boudrioua. O grupo apresentou-se em vários concertos e, nessa época, João Carlos ainda atuou como professor do Conservatório Brasileiro de Música e, durante cinco anos, como professor e diretor da Faculdade de Música da Universidade  Estácio de Sá, também do Rio de Janeiro. Possui uma discografia de doze álbuns, inclusive com ilustres parceiras, como a cantora Olívia Byington e a também pianista Clara Sverner. A morte prematura de Victor Assis Brasil, em 1981, afastou os irmãos do convívio, mas João encontrou justamente na música o meio sublime que encontrou para manter viva a memória de Victor. O que resultou no belo álbum que o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados, gravado em 1988 e lançado com o selo Kuarup (houve reedição em CD, pela Biscoito Fino).  Seu título, “Self portrait” (auto-retrato, em português), já sugere tratar-se de um disco autobiográfico.  São treze músicas de Victor Assis Brasil executadas pelo piano de João, com o apoio de Paulo Sérgio Santos (clarinete e saxofone), Zeca Assumpção (baixo) e Jurim Moreira (bateria). A seleção foi feita a partir de 400 composições inéditas, a maior parte escritas durante o verão carioca de 1972/73, em três cadernos, encontrados em um baú herdado da mãe de Victor e João Carlos, dona Elba. Segundo o próprio João Carlos Assis Brasil, a intenção foi a de apresentar um panorama da obra de Victor, muito ligado á imagem de músico jazzista, mas o disco permite lançar nova luz sobre sua produção, oferecendo uma visão mais abrangente, mostrando como a música clássica contemporânea foi também fonte recorrente de inspiração e, sobretudo, como Victor  buscou criar a partir de temas e ritmos brasileiros. “Self portrait” (a faixa-título), “One for Bill” (homenagem ao pianista Bill Evans) e “Blues for Oliver” (tributo ao norte-americano Oliver Nelson) têm clara inspiração no jazz, “Samba sem nome” é embebida de Brasil, e “Almendrix” traz referências à música latina. Por sua vez, as incursões de Victor pelo gênero erudito estão presentes em “Jazz sonata for piano”, com toques jazzísticos, “Fast/slow/fast” e “Moderato valsa”.  Assim é o álbum que o TM orgulha-se em nos oferecer hoje: a obra de um compositor  diverso e pouco conhecido, interpretada pelo sentimento de um irmão saudoso. É só conferir.

blues for oliver

samba sem nome

self portrait

one for bill

blues

almendrix

choral n.1

moderato valsa

motif for piano – scattered clouds31

elba

jazz sonata for piano

fast slow fast

*Texto de Samuel Machado Filho

Bud Shank – Holiday In Brazil (1958)

Olá, amigos cultos e ocultos! Para não dizerem que eu abandonei o barco, que deixei o Samuca sozinho no leme, vou aqui me apresentando e apresentando um disquinho diferente, para não variar 🙂 Tenho para vocês hoje um disco de jazz. Um álbum raro lançado nos Estados Unidos no final da década de 50 trazendo o grande flautista e saxofonista da Costa Leste, Bud Shank. Como todos já devem saber, o Toque Musical se dedica a postar exclusivamente a produção fonográfica brasileira, mas também vai a miúde pautando também os estrangeiros, desde que esses tenham alguma relação com o Brasil. E é por conta disso que este clássico do chamado Latin Jazz vem agora se juntar a nossa lista. Temos aqui um lp inspirado na música brasileira trazida por ninguém menos que o genial Laurindo Almeida, que podemos entender como a pré Bossa Nova. “Holiday In Brazil” foi um álbum lançado originalmente em 1958 pelo ainda modesto selo Pacific Jazz Records, que também passou a ser chamado, a partir de 57 de World Pacific Records. Foi neste selo que o violonista brasileiro Laurindo Almeida gravou ao lado de músicos americanos uma dezena de discos. Em ‘Holiday In Brazil’, Laurindo é o responsável pelos arranjos e também participa como compositor e instrumentista, azeitando e afiando o grau neste maravilho trabalho. Uma joia, não deixem de conferir…

simpatico
rio rhapsody
nocturno
little girl blue
choro in ‘a’
mood antigua
the color of her hair
lonely
i didn’t know what the it was
carioca hills
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Lyra De Xopotó – Valsa da Saudade (1958)

O Toque Musical oferece hoje, a seus amigos cultos, ocultos e associados, mais um álbum da Lyra de Xopotó, banda que foi criada a partir do programa de mesmo nome, criado e apresentado por Paulo Roberto na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, aos sábados, a partir de 1954, visando incentivar as bandas de música do interior do Brasil. Contava com arranjos do sempre eficiente Lírio Panicalli, e era apresentado através de um diálogo imaginário entre Paulo Roberto e o personagem Mestre Filó, o maestro da banda, interpretado por Jararaca. Com o sucesso do programa, a Lyra passou a existir também em disco, vendendo feito água. Em 1960, o programa saiu do ar, e a Lyra de Xopotó, por tabela, silenciou, ressurgindo apenas em fins dessa década, com dois LPs na Copacabana.  O disco que o TM hoje nos oferece é “Valsas da saudade”, lançado em fins de 1958 pela Sinter, hoje Universal Music. O repertório, muitíssimo bem escolhido, compõe-se de doze das mais belas páginas do gênero, a maior parte de autores nacionais, exceção feita a “Sobre as ondas”, do mexicano Juventino Rosas. Não há quem, pelo menos uma vez na vida, não tenha ouvido as belas valsas que compõem o repertório deste disco, tais como “Saudades de Ouro Preto”, “E o destino desfolhou”, “Rosa”, “Tardes em Lindóia”, “Abismo de rosas” e “Branca”.  E tudo arranjado e dirigido, assim como no programa de rádio, por Lírio Panicalli, que fazia brilhantemente o papel do fictício Mestre Filó. Em suma, um trabalho que nos transporta para um tempo muito feliz, em  que as “furiosas” tocavam todos os domingos nos coretos das pracinhas de cidades interioranas, alegrando e até fazendo dançar as pessoas que passavam. É ouvir, fechar os olhos e recordar…

saudade de ouro preto
primavera
abismo de rosas
sobre as ondas
ave maria
branca
saudade de queluz
rosa
e o destino desfolhou
tarde de lindóia
canta maria
saudade de iguapé

*Texto de Samuel Machado Filho

Minas 1717-1977 – Região Do Rio Das Mortes (1977)

Com o prazer e a satisfação de sempre, o Toque Musical oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados, parcela significativa da música sacra brasileira. E trata-se de um álbum da Som Livre, braço fonográfico do Grupo Globo, que sempre especializou-se em produtos de forte apelo comercial, como trilhas de novelas e compilações. Uma louvável “ousadia” que resultou de uma iniciativa cultural da TV Globo de Belo Horizonte, aliada ao extinto Banco Nacional (“o banco do guarda-chuva”). É na região do Rio das Mortes (MG) que a música sacra do Brasil tem seu ponto forte. Ali, mais do que em qualquer lugar de nosso território, a música desempenha o papel  para a qual foi composta, não sendo mera peça de concerto. As orquestras e bandas são tradições fortemente enraizadas no povo daquela região. O presente álbum foi gravado em igrejas de Tiradentes e São João Del Rei, sendo desta última cidade as orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos, ambas bicentenárias, que juntas mantém a tradição sacro-musical do município. Os visitantes e moradores de São João Del Rei se deparam com essas orquestras no seu cotidiano, nas missas de segunda a segunda, executando sempre peças do repertório sacro-colonial.  Neste trabalho, são apresentadas nove expressivas peças sacro-coloniais. Essas e outras orquestras, como a Ramalho e a Lira Ceciliana de Prados, ainda hoje mantêm viva a tradição sacro-musical da região do Rio das Mortes. A instalação de uma faculdade de música em São João Del Rei resultou em considerável melhora no padrão técnico das execuções desses grupos, mas ainda prevalecem, no dia-a-dia do município, aqueles que zelam pelo amor à arte e pela tradição, mantendo o caráter não profissional. A realidade técnica desses grupos mudou muito da época da gravação deste nosso álbum para os dias atuais, até mesmo para melhor. Mas, ainda assim, vale a pena ouvir o disco. Deliciem-se com as peças sacras nele incluídas, fechem os olhos e imaginem-se numa das igrejas barrocas da região do Rio das Mortes, cheias de riquezas, de ouro… e, principalmente, cultura!

applaudatur

maria mater gratiae

laudamus

assumpta est

exaltata est

primeira jaculatória de s. francisco de assis

segunda jaculatória de s. francisco de assis

missa de são benedito

domenica palmarum

*Texto de Samuel Machado Filho

Ilder Miranda – Nesse Estado De Coisas (1981)

Olá, amigos cultos, ocultos e associados! Conforme já disse William Shakespeare, “existem mais mistérios entre o céu e a terra do que possa imaginar a nossa vã filosofia”. Sem contar as incógnitas, que vez por outra nos chegam. É o caso do álbum que o TM oferece hoje, “Nesse estado de coisas”, ao que parece o único trabalho de Ilder Miranda. O LP saiu em 1981 com o selo Mãos e Meios, numa época em que se registrou um verdadeiro “boom” de lançamentos discográficos independentes, a partir do sucesso do primeiro álbum do grupo Boca Livre, editado justamente nesse esquema. É um trabalho até caprichado, tanto técnica quanto graficamente, gravado em São Paulo no estúdio Vice Versa, na época um dos melhores do Brasil. Compõe-se de doze faixas, todas de autoria do próprio Ilder. Em todas as músicas, percebe-se um olhar crítico do cantor-compositor ao panorama do mundo contemporâneo, com todas as suas mazelas, tais como violência e degradação do meio-ambiente. Ouvindo-se este trabalho, pode se concluir que o mesmo continua atualíssimo, apesar de decorridos mais de 35 anos de sua realização. Agora:  o único problema é que não encontrei nenhuma informação biográfica a respeito de Ilder Miranda. O que se pode afirmar com certeza é que, hoje, este disco pertence ao catálogo  da Sonhos & Sons, a maior distribuidora de artistas independentes de Minas Gerais, pertencente ao compositor, músico e produtor Marcus Vianna, mais conhecido pela música-tema da novela “Pantanal”, sucesso da extinta Rede Manchete em 1990, e mais tarde reprisada pelo SBT. No site da Sonhos & Sons, o artista é identificado por seu nome completo, Ilder Miranda Costa. O mesmo de um advogado devidamente registrado na OAB mineira, que tem até livros jurídicos publicados. Seria ele? Pois aqui vai um lembrete a nossos amigos cultos, ocultos e associados: quem tiver informações mais detalhadas a respeito deste nosso Ilder Miranda, favor escrever para: toquelinkmusical@gmail.com. Eu e o Augusto agradecemos desde já a quem puder decifrar este enigma…

madrugada paulista

a porta do cabaré

ciranda

carta pra minas inteira

a volta da filha presa

porque qui oce num pode aguentar

pena apenas

cala a boca

iara

preso por dentro de nada vale o teu gritar

r-evolução

quase louca

*Texto de Samuel Machado Filho

Frank Morris E Sua Orquestra (196…)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Como todos já devem saber, o Toque Musical é um blog que prima pela qualidade, mas também e principalmente pela curiosidade. Temos aqui todo tipo de artista, gênero musical, gravações e publicações das mais variadas, tudo sempre relacionado ao universo fonográfico produzido no Brasil. Excepcionalmente, apresentamos também coisas que vem de fora, internacionais, mas sempre com algum viés brasileiro. Entre tantos e tantas, hoje eu trago um disco que me chamou a atenção logo que eu o achei. Trata-se de mais um daqueles discos da Odeon e seu selo Imperial. Lp sem data, mas possivelmente da primeira metade dos anos 60, na tradicional capa sanduíche. Teria me passado batido, não fosse o perfeito estado da capa. Me interessei, inicialmente, mais por conta disso, um lp de capa sanduíche (original) super bem conservado é coisa rara de se ver. E realmente era isso mesmo, um disco novinho em folha, com quase seus 50 anos! Prova de que nunca havia sido tocado era o selo de segurança tampando o buraco do vinil. Esse selinho, cabaço de vinil, garantia ao comprador que o disco nunca havia sido tocado antes. Uma ideia bem legal, mas que parece ter sido exclusividade da Imperial/Odeon, assim como eram os modelos capa sanduíche. Era tudo patenteado. Acredito que esta tenha sido a primeira vez que eu pus a mão em um disco virgem de 50 anos (hehehe…)
Bom, mas o que me levou a postá-lo aqui é a quase certeza de que se trata de mais uma produção nacional. Um disco como tantos outros lançados por aqui, com pinta de estrangeiro, apenas para atrair público. Uma seleção de temas exclusivamente internacionais, bem ao gosto do público da época. Frank Morris e Sua Orquestra é com certeza um nome fictício criado para engrossar o caldo de títulos da gravadora. Confiram os primeiros sinais sonoros de um disco virgem de 50 anos. 🙂

tea for two
dancing in the dark
a could have danced all night
tenderly
three coins in the fountain
when i fall in love
just one of those things
september song
moonglow
i can’t give you anything but love
mack the knife
the lady is a tramp
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Wanderley Cardoso – Juventude E Ternura (1966)

O TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados mais um álbum de Wanderley Cardoso, um dos cantores mais expressivos  da Jovem Guarda e que, no Nordeste, chegou a ser até mais popular do que o próprio Roberto Carlos, líder do movimento e apresentador do programa de mesmo nome na antiga TV Record de São Paulo, que ficou no ar entre 1965 e 1968. Trata-se de “Juventude e ternura”, seu terceiro LP de estúdio, lançado pela Copacabana em  agosto de 1966, apenas quatro meses após o segundo, “Perdidamente apaixonado”, que o TM já ofereceu a vocês. É bom lembrar que, nessa ocasião, Wanderley era também contratado da extinta TV Excelsior, e participava do programa “Adoráveis trapalhões”, ao lado de Renato Aragão, Ted Boy Marino e Ivon Cúri. Nesse tempo, Wandeco era o genro que toda sogra, por mais megera que fosse, queria ter… “Juventude e ternura” foi também o título de um programa que Wanderley apresentava na Excelsior, ao lado de Rosemary, mas que durou pouco tempo. Em compensação, o disco foi aquele sucesso, é claro. Dois dos maiores hits de Wandeco nessa época estão nele: “Meu amor brigou comigo”, de  Eliza Moreira, e “Você zangada é feia”, da parceria Roberto & Erasmo Carlos. Sérgio Reis, o “grandão”, antes mesmo de estourar com “Coração de papel”, assina a faixa “Por que chorar, coração?”. “Sozinho na multidão” tem a parceria de Nélson Ned, outro que anos mais tarde obteria sucesso como intérprete. “Showman” de talento incontestável, Moacyr Franco assina, com Mílton Rodrigues, “Do sublime que tu és”. O lado compositor de Wanderley Cardoso manifesta-se na faixa de encerramento do disco, “Meu regresso”, uma parceria com Genival Melo, que durante anos foi conceituado empresário do setor artístico. Genival também assina aqui as versões “Não te amo mais” e “Morrer ou viver”, ambas as músicas de origem francesa, o que também é o caso de “Assim é a vida”, abrasileirada por Carlos Vidal. Trabalhos de Carlos Cézar (“Vivo te esperando”), Hamilton di Giorgio (“Por favor, vai embora”, parceria com o irmão Eduardo Alberto), e da dupla Heitor Mangeon-Roberto Muniz (“Desengano”) completam este terceiro e bem-sucedido álbum de Wanderley Cardoso, sem dúvida um prato cheio para quem viveu aqueles tempos. Mesmo quem ouviu falar da Jovem Guarda e só chegou depois dela poderá apreciar mais este trabalho de Wanderley Cardoso, precioso documento  desse que é considerado o primeiro movimento de massas da história da MPB. É uma brasa, mora!

não te amo mais
meu amor brigou comigo
porque chorar coração
morrer ou viver
desengano
por favor vai embora
você zangada é feia
sozinho na multidào
vivo te esperando
do sublime que tu és
assim é a vida
meu regresso

*Texto de Samuel Machado Filho

 

Paul Mauriat – Brazilian Landscape (1974)

Apreciadores da “easy listening”, ou seja, da música instrumental e orquestrada, lembram-se, e com muitas saudades, de nomes como o norte-americano Ray Conniff, o francês Franck Pourcel, o canadense Percy Faith e o italiano Mantovani, notáveis regentes de grandes orquestras. E, evidentemente, também têm na lembrança um outro grande maestro francês, hoje lembrado pelo TM: Paul Mauriat. Ele veio ao mundo na cidade de Marselha, a 4 de março de 1925. Filho de uma família de músicos, teve seu pai como primeiro mestre. Iniciou seus estudos de piano aos quatro anos, e aos dez, entrou para o Conservatório de Paris, e de lá saiu aos catorze, decidido a seguir carreira de concertista. Porém, o encontro com o jazz mudou seus planos, influenciando decididamente o estilo que o consagrou a nível mundial. Mauriat cresceu em Paris, e organizou sua própria orquestra aos dezessete anos, apresentando-se com ela em cabarés e teatros da França e outros países europeus. Nos anos 1950, tornou-se o arranjador preferido de inúmeros cantores franceses, principalmente Charles Aznavour. Gravou o primeiro álbum com sua orquestra, “Paris by night”, em 1961, depois do qual vieram muitos e muitos outros. Seu maior sucesso talvez seja “L’amour est bleu (Love is blue)”, gravado em 1968, que embalou as festinhas de muita gente e é lembrado até hoje. “El bimbo” e “Penelope” também estão entre as gravações mais lembradas de Paul Mauriat e sua “grande orquestra”. Após vários anos de intensa atividade no disco e em apresentações públicas por todo o mundo, em 1998, Paul Mauriat decidiu retirar-se da vida artística, realizando um último show em Osaka, Japão. Mas sua orquestra continuou em atividade, assumida primeiramente por Gilles Gambus, que era seu pianista, e mais tarde por Jean-Jacques Justafre. Em fins de 2006, aos 81 anos de idade, Mauriat afasta-se definitivamente da vida artística e passa a residir em sua casa de verão, na cidade francesa de Perpignan, onde morreu no dia 3 de novembro daquele ano. O álbum de Paul Mauriat que o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados, é “Brazilian landscape”. Lançado em 1974 pela Philips/Phonogram, é o primeiro volume de uma série denominada  “Melodies and memories”, que teve no total dez títulos temáticos, cada um dedicado a um gênero musical, e todos montados a partir dos muitos LPs gravados pelo maestro francês até aquele ano. Mauriat muito apreciava a música popular brasileira, e não é à toa que este disco seja inteiramente dedicado a hits brazucas. Em catorze faixas, desfilam sucessos da MPB principalmente dos anos 1960/70, bem conhecidos até hoje, tipo “A banda”, “Jesus Cristo”, “Naquela mesa”, “Ponteio”, “Amada amante”, “Folhas secas”, “Viagem”, “Você abusou”, além da tradicionalíssima “Carinhoso”, do mestre Pixinguinha, uma dessas páginas musicais que não há quem não conheça. Merece também destaque a inclusão de “O sonho”, de Egberto Gismonti, surgida em um festival da canção e, mesmo não classificada, o projetou internacionalmente. Uma compilação que irá por certo fazer o deleite e o entretenimento dos amigos do TM, especialmente os que gostam de dançar “coladinho”, e pode ser considerada o embrião da série de álbuns “Exclusivamente Brasil”, que Mauriat gravaria nos anos seguintes. Show de bola!

carinhoso

ponteio

tristeza20

a banda

folhas secas

jesus cristo

presepada

naquela mesa

viagem

amada amante

casa no campo

você abusou

teimosa

o sonho

*Texto de Samuel Machado Filho

Sergio And Odair Assad – Alma Brasileira (1989)

“O melhor duo de violões existente, talvez em toda a história. Nenhuma antecipação poderia ter me preparado para o jeito deles de tocar: flexível, ousado, estranhamente unânime”.  Assim escreveu, certa vez, um comentarista do jornal norte-americano “The Washington Post”, referindo-se aos protagonistas da postagem de hoje do TM: o Duo Assad, formado pelos irmãos Sérgio e Odair, cuja família é de origem libanesa. Vindos de escola tradicional do choro, e consagrados internacionalmente, ambos residem no exterior: Sérgio, em São Francisco, EUA, e Odair, em Bruxelas, capital da Bélgica. E têm uma irmã mais nova, também violonista e cantora, mundialmente consagrada, assim como eles, Badi Assad. O pai, relojoeiro de profissão, adorava tocar. Ganhou um cavaquinho em uma rifa e não sabia o que fazer com ele. Aí, comprou discos, ouviu e tirou de ouvido mais de quatrocentos choros!  E foi nesse ambiente que os irmãos cresceram e começaram, bem cedo, a dedilhar seus violões. Mais tarde, Sérgio e Odair foram estudar violão clássico com a professora argentina Monina Távora. Além de estabelecer novos padrões de interpretação, os Assad influenciaram vastamente na criação e introdução de novas músicas para dois violões. E essa extraordinária virtuosidade inspirou vários compositores a escrever peças especialmente para os Assad, tais como Astor Piazzolla, Teddy Riley, Radamés Gnattali, Francisco Mignone, Marlos Nobre, Edino Krieger… Além disso, o repertório dos irmãos Assad é formado de arranjos para músicas folclóricas, jazz e música latina, e também de composições próprias. A carreira internacional começou em 1979, em Bratislava, hoje capital da Eslováquia, ao vencerem  a Young Artists Competition.  E até hoje ambos viajam pelo mundo, apresentando clássicos do violão, não só europeus mas também brasileiros, como as obras de Garoto, Villa-Lobos, Egberto Gismonti, Baden Powell, João Pernambuco e Dilermando Reis. Uma cativante mistura de estilos, períodos e culturas. Os Assad têm trabalhado extensivamente com artistas renomados, tais como Yo-Yo Ma, Paquito D’Rivera, Gidon Kremer, Nadja Salerno Sonnenberg e Dawn Upshaw. Todos os anos, no último final de semana do mês de julho, a cidade de São João da Boa Vista (SP), berço da família, realiza o Festival Assad, que, além de ser referência de música instrumental da mais alta qualidade, recebendo visitantes de várias partes do mundo, já se tornou tradição no calendário cultural do município. E, claro, contando com a participação dos irmãos Assad. Da vasta e extensa discografia de Sérgio e Odair Assad (mais de 30 álbuns), o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados, “Alma brasileira”, selo Nonesuch /Warner. Gravado na Holanda, em 1987, e lançado no Brasil dois anos mais tarde, possui um repertório de primeiríssima qualidade, assinado por compositores do porte dos que já citamos aqui:  Egberto Gismonti (“Baião malandro”, “Frevo”), Marlos Nobre (“Cantiga de cego”, “Capoeira” “Martelo”, “Praiana”, todas da série “Ciclos nordestinos”), Radamés Gnattali (“Tocata em ritmo de samba”, “Pixinguinha”, esta última da série “Retratos”), além de trabalhos próprios de Sérgio Assad (“Jobiniana número 1”e, da “Suíte brasileira”, “Baião” e “Canção”). Ainda batem ponto aqui Wagner Tiso (“Choro de mãe”) e Hermeto Paschoal (“Série de arco”). Um trabalho absolutamente impecável, que o TM orgulha-se em oferecer, e mostra por que Sérgio e Odair Assad tornaram-se referência unânime para os violonistas, criando um padrão de inovação para o violão com geniosidade e expressão.

marlos nobre: cantiga de cego

egberto gismonti; balão malandro

heitor villa-lobos: a lenda do caboclo

sérgio assad: jobiniana n. 1

marlos nobre: capoeira

wagner tiso: choro de mãe

hermeto pascoal: serie de arco

radamés gnattali: toccata em ritmo de samba

heitor villa-lobo: alma brasileira

marlos nobre: martelo

radamés gnattali – pixinguinha

sérgio assad: baião

marlos nobre: praiana

egberto gismonti: frevo

sérgio assad: canção

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*Texto de Samuel Machado Filho

Vários – Programa Especial Vol. 4 (1979)

Amigos cultos e ocultos, bom dia! Segue aqui, enfim, o último disco que tenho da série “Programa Especial”, o volume 4. Nele, como podemos ver, temos Alcione, Chico da Silva, Jair Rodrigues e Leci Brandão. Uma coletânea, desta vez, voltada para o samba. Confiram…

não deixe o samba morrer – alcione
o conde – jair rodrigues
ombro amigo – leci brandão
na beira do mangue – jair rodrigues
não chore não – alcione
pandeiro é meu nome – chico da silva
ela- jair rodrigues
o surdo – alcione
marias – leci brandão
o barba azul – chico da silva
lá vem você – alcione
pout pourri de samba – jair rodrigues
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Passa, Passa, Passará – TSO (1986)

Compositor,  tecladista, arranjador e professor de música, Antônio Adolfo (Rio de Janeiro. 10/2/1947) fez, em parceria com Tibério Gaspar, sucessos que ainda hoje estão na memória de muitos, tais como “Sá Marina”, “BR-3”, “Juliana” e “Porque hoje é domingo”.  É irmão de outro cantor-compositor bastante conhecido, Ruy Maurity, e pai da cantora Carol Saboya. Em 1971, no auge da ditadura militar, Antônio Adolfo  resolveu sair do Brasil, indo para os EUA e Europa, a fim de realizar estudos de aperfeiçoamento musical, retornado anos mais tarde para atuar como músico de estúdio. Em 1977, resolveu criar seu próprio selo fonográfico, o Artezanal, passando a produzir ele mesmo seus discos. Nesse ano, lançou seu primeiro álbum nesse novo esquema, “Feito em casa”, que é considerado o primeiro LP independente na história fonográfica brasileira. E, evidentemente, viriam muitos outros. Desde 1985, ele se dedica à sua escola de música, o Centro Musical Antônio Adolfo, além de participar em eventos internacionais como músico e educador, sem deixar de lado a carreira de intérprete. Ganhou dois Prêmios Sharp de Música, pelos álbuns “Antônio Adolfo” (1995) e “Chiquinha com jazz” (1997), este último dedicado á obra de Chiquinha Gonzaga. Em 1986, o selo Artezanal produziu o álbum que o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados. É a trilha sonora do musical infantil de teatro “Passa passa passará”, com texto de Ana Luiza Job, mulher de Antônio Adolfo (suas filhas, Carol Saboya, então atuando no teatro infantil, e Luísa Maria, sempre adoraram o gênero), e para o qual, além dele, também produtor, arranjador e executante das faixas deste disco, Xico Chaves e Paulinho Tapajós colaboraram na elaboração das canções.  A peça foi encenada com sucesso em teatros cariocas, e vez por outra ressurge em novas montagens. E, deste disco, participaram nomes de peso:  Oswaldo Montenegro, Elza Maria, Zezé Gonzaga, Joyce (atualmente Joyce Moreno), Leci Brandão e, claro, o irmão de Antônio Adolfo, Ruy Maurity, e a filhota, Carol Saboya, esta integrando o coral do Passa Passa Passará, ao lado de Paulinho Tapajós e do maestro Ary Sperling, entre outros. Tudo produzido com elevado padrão técnico e artístico, com músicas bem elaboradas e cativantes. Enfim, mais um trabalho de primeiríssima qualidade que o TM oferece hoje, para o encanto e o deleite de crianças e adultos!

passa passa passará

cacarejando

o menino perdido

samba do macaco

natureza

blues da raposa

bola de cipó

abelhinha

fazendo bolo

caracol

* Texto de Samuel Machado Filho

Joyce – Feminina (1980)

O Toque Musical oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados o álbum de maior sucesso da cantora e compositora Joyce, que mais tarde passou a se assinar Joyce Moreno, por conta do registro civil de seu casamento com o baterista Tutty Moreno. Batizada como Joyce Silveira Palhano de Jesus, ela veio ao mundo no dia 31 de janeiro de 1948, e foi criada na Zona Sul de sua cidade natal, o Rio de Janeiro. Começou a tocar violão aos 14 anos, observando seu irmão, o guitarrista Newton, amigo de músicos da bossa nova como Eumir Deodato e Roberto Menescal.  Mais tarde, estudou com Jodacil Damasceno (violão clássico e técnica) e Wilma Graça (teoria e solfejo). Em 1963, a convite de Roberto Menescal, participou pela primeira vez de uma gravação em estúdio, no álbum “Sambacana”, de Pacífico Mascarenhas. A partir daí, gravou inúmeros jingles publicitários e começou a compor.  Em 1967, classificou sua composição “Me disseram” no II Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo. Um ano depois, veio o primeiro LP-solo, intitulado apenas “Joyce”, com texto de apresentação do Poetinha Vinícius de Moraes. Em 1970-71, fez parte do grupo vocal e instrumental A Tribo, ao lado de Toninho Horta, Naná Vasconcellos, Nélson Ângelo e Novelli, chegando a gravar algumas faixas no LP “Posições”. Entre 1971 e 1975, afastou-se do meio musical, dedicando-se apenas às filhas Clara e Ana, nascidas respectivamente em 1971 e 1972. Em 75, Joyce retoma a carreira, substituindo o violonista Toquinho, ao lado de Vinícius de Moraes, em turnê pela América Latina e depois pela Europa, já com Toquinho de volta ao grupo. Na Itália, gravou o álbum “Passarinho urbano”, com músicas de autores brasileiros então duramente atingidos pela censura do regime militar, como Chico Buarque, Mílton Nascimento, Caetano Veloso e o próprio Vinícius. Em 1977, fez uma temporada de seis meses em Nova York, e gravou, junto com Maurício Maestro, o disco “Natureza”, para o mercado exterior, mas que jamais foi comercializado.  Como compositora, tem músicas gravadas por nomes do porte de Mílton Nascimento, Elis Regina. Maria Bethânia, Fafá de Belém, Quarteto em Cy e Joanna. Sua discografia abrange mais de quarenta álbuns, gravados no Brasil e no exterior, além de inúmeros compactos e dois DVDs. Joyce Moreno tem divulgado nossa música em sucessivas turnês internacionais, fazendo grande sucesso entre o público de drum’n’bass e acid jazz.  Publicou, em 1997, o livro “Fotografei você na minha Rolleyflex”, reunindo crônicas e histórias da MPB. “Feminina”, o álbum que o TM hoje nos oferece, foi o trabalho que marcou a primeira grande exposição de Joyce na mídia. Lançado pela EMI-Odeon em 1980, foi seu quinto álbum-solo, o mais autoral e o de maior repercussão popular, no qual canta as dores e delícias de ser mulher: a descoberta da sensualidade (na faixa-título, “Feminina”), a paixão (”Mistérios”),  o sexo (“Da cor brasileira”) e as dificuldades de conciliar marido, filhos e desejos (“Essa mulher”).  Além, é claro, de incluir sua música de maior sucesso, “Clareana”, que fez em homenagem a suas filhas, e uma das finalistas do festival MPB-80, da TV Globo. Elas, inclusive, fazem pequena participação ao final do registro. Mais tarde, já crescidas, profissionalizaram-se como cantoras, sob os nomes de Clara Moreno e Ana Martins. “Feminina” foi inclusive citado por Charles Gavin, baterista do grupo de rock Titãs, em seu livro “Trezentos discos importantes da música brasileira”, publicado em 2008. Portanto, é mais um trabalho de qualidade orgulhosamente oferecido a vocês pelo TM, e uma valiosa amostra do talento de Joyce (agora Moreno) como autora e intérprete. É só conferir.

feminina

minstérios

clareana

banana

revendo amigos

essa mulher

coração de criança

da cor brasileira

aldeia de ogum

compor

*Texto de Samuel Machado Filho

Programa Especial Vol. 3 (1979)

Olá amiguíssimos cultos e ocultos! E aqui vai mais um lp da série “Programa Especial”. Temos para hoje o volume 3 que traz nesta coletânea outros quatro grandes artistas da mpb. Desta vez a pegada tem uma pitada de rock, muito por conta da Rita Lee e do Raul Seixas. Mas Fagner e Belchir, nessa fase, também não ficam para trás. Eis uma coletânea boa, com três músicas para cada artista. Dá para matar a vontade, ou despertar o ouvir mais 😉

nasci para chorar – fagner
ouro de tolo – raul seixas
sujeito de sorte – belchior
menino bonito – rita lee
mucuripe – fagner
não leve flores – belchior
josé – rita lee
eu nasci a dez mil anos atrás – raul seixas
como nossos pais – belchior
mamãe natureza – rita lee
último pau de arara – fagner
gita – raul seixas
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