Bossa 3 – Os Reis Do Ritmo (1966)

O TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados um álbum de música instrumental brasileira da melhor qualidade, com o conjunto Bossa 3, que os estudiosos consideram o primeiro grupo instrumental da bossa nova. O Bossa 3 foi criado no início dos anos 1960 pelo pianista e compositor Luiz Carlos Vinhas (Rio de Janeiro, 19/5/1940-idem, 22/8/2001), e, em sua primeira formação, estavam ainda o contrabaixista Tião Neto e o baterista Edison Machado. As primeiras apresentações do trio aconteceram nas boates do Beco das Garrafas, em Copacabana, acompanhando os bailarinos Lennie Dale, Joe Benett e Martha Botelho. Com eles, viajaram aos EUA para se apresentar no “Ed Sullivan Show”, então um dos programas de maior audiência da televisão norte-americana. Após gravarem três álbuns e realizarem uma série de apresentações em clubes de jazz novaiorquinos, Luiz Carlos Vinhas foi o único que resolveu  voltar para o Brasil. Aqui chegando, reorganizou o Bossa 3, agora com Octávio Bailly Júnior no contrabaixo e Ronie Mesquita na bateria. A nova formação gravou mais cinco álbuns, sendo um deles com Pery Ribeiro e outros dois com o mesmo intérprete, mais Leny Andrade, sob o nome de Gemini V. Após realizar uma turnê no México, da qual resultou um LP ao vivo, o Bossa 3 se dissolveu, e só voltaria à cena em 2000, para tocar com a cantora Wanda Sá, e desta vez com o baterista João Cortez e o contrabaixista Tião Neto. Foi a última formação do grupo, desfeito definitivamente com a morte de Luiz Carlos Vinhas, em 2001, aos 61 anos, de parada cárdio-respiratória. “Os reis do ritmo”, que o TM nos oferece hoje,  foi lançado pela Odeon em 1966, com o Bossa 3 já reformulado, isto é, com o baterista Ronnie Mesquita e o contrabaixista Octávio Bailly Júnior, acompanhando Luiz Carlos Vinhas, pianista e fundador do grupo. Sob a batuta de Mílton Miranda na direção de produção, e do maestro Lírio Panicalli na direção musical, e com excelentes arranjos do próprio Vinhas, o Bossa 3 está em plena forma, num repertório que mistura sambas clássicos (“Não me diga adeus”,  “Exaltação à Mangueira”), standards da bossa nova (“Onde anda o meu amor?”, “Até o sol raiar”, “Coisa mais linda”,  “Samba de verão”, “Balanço Zona Sul”, “Silk stop”) e trabalhos autorais do próprio Vinhas (“É”, “Le Bateau”, “Recado ao pé do berço”), que na última faixa, “Cartaz”, da parceria Roberto Menescal-Ronaldo Bôscoli (este também escreveu o texto de contracapa do disco) chega até mesmo a cantar! Tudo isso em um trabalho primoroso, com o invejável padrão técnico que a Odeon então imprimia às suas produções discográficas. É só ouvir e confirmar!  E mais:brevemente estaremos apresentando mais um álbum de Luiz Carlos Vinhas. Aguardem…

onde anda o meu amor
até o sol raiar
não me diga adeus
coisa mais linda
e
samba de verão
le bateau
silk stop
exaltação a magueira
balanço zona sul
recado ao pé do berço
cartaz

*Texto de Samuel Machado Filho

Vários – Transa Musical Sandsom (1975)

Olá, amigos cultos, ocultos e associados! O TM hoje oferece um álbum-coletânea  raro, e ainda por cima duplo! É o tipo de coisa que, creio eu, pouquíssima gente tem, uma vez que foi produzido em 1975 pela CBS, hoje Sony Music, especialmente para a empresa Sands Exportação, que vendia seus produtos apenas e tão-somente por mala direta (correio), promovendo-os através de catálogos e anúncios em revistas. Quer dizer, um título que não chegou às lojas de discos. Com o nome de “Transa musical Sandsom”, este raro e precioso álbum duplo é um autêntico desfile de sucessos ditos “jovens” da época, interpretados por alguns dos principais artistas que a CBS então mantinha sob contrato, vários deles remanescentes da Jovem Guarda e que, mesmo com o fim do movimento, continuaram marcando presença nas chamadas “paradas de sucesso” e nas rádios AM de cunho popular. Por certo muita gente que viveu na metade dos anos 1970 vai se lembrar de grande parte das músicas que um certo Edson Paulo Cleto selecionou para integrar este LP duplo. Para cada intérprete, foram reservadas duas faixas, sendo uma em cada LP, salvo uma ou outra exceção. Também merece destaque a parte gráfica, realmente impecável, com fotos dos artistas participantes do disco recheando a capa dupla. Roberto Carlos, o “rei” que nunca perde a majestade, aqui comparece com faixas de seu álbum de 1973, ambas compostas por ele em parceria com seu eterno “amigo de fé” Erasmo: “Proposta” (sucesso eterno, realmente um clássico!), escolhida para abrir este LP duplo,  e “Palavras”. Jerry Adriani, outro remanescente das “jovens tardes de domingo”, vem com “Uma vida inteira” e “Não feche os olhos”, ambas também de 1973. Leno, já separado de Lilian, com quem formara uma dupla de sucesso durante a Jovem Guarda, canta apenas uma faixa, porém bastante expressiva: “A festa dos seus quinze anos”, de autoria de Ed Wilson, faixa-título e de abertura  de seu segundo LP-solo, editado em 1969, lembrada até hoje por muitos. Nalva Aguiar, que mais tarde abrigou-se entre os intérpretes sertanejos, aqui comparece com a versão “Quero que volte (Magic woman touch)”, gravação de 1973. O organista Lafayette, cuja sonoridade marcou época na Jovem Guarda, aqui executa, em registros de 1974, “No more troubles”, então sucesso do cantor marroquino Sharif Dean, e “Tema para um samba”, esta só gravada pelo Lafayette mesmo. Baiano de Salvador, e ainda hoje em atividade, José Roberto bate ponto neste LP duplo com as faixas “Lágrimas nos olhos” (grande sucesso em 1973, composto por nada mais nada menos que Raul Seixas) e “Desculpas” (1974). Cantor e compositor bastante expressivo, o mineiro (de Belo Horizonte) Márcio Greyck interpreta aqui duas músicas românticas de sucesso, até hoje lembradas: “Impossível acreditar que perdi você” (sua e do irmão Cobel, de 1970, inclusive regravada por outros artistas) e a versão “O mais importante é o verdadeiro amor (Tanta vogila di lei)”, de 1972. Outras duas faixas foram reservadas para Diana, cantora de expressivo êxito junto às camadas mais populares: a versão “Por que brigamos? (I am… I said)”, hit também de 1972, regravada até por duplas sertanejas, cujo refrão (“Ó meu amado, por que brigamos?”) é cantarolado até hoje por muitos, e “Amor só se paga com amor”, de 1973. Conhecido como “o reizinho da Jovem Guarda”, por ter sido apadrinhado por Roberto Carlos, Oscar Teixeira, ou, como ficou para a posteridade, Ed Carlos, aqui comparece com “Meu aniversário”, de 1974, e a versão “A menina que passa (Conmigo en algun lugar)”, de 1973. Renato e seus Blue Caps, grupo de rock considerado a cara da Jovem Guarda, aqui interpretam “Eu quero dançar contigo (Dancing on a saturday night)” e a romântica e sensível “Eu não aceito o teu adeus”, sucessos em 1974. Cláudio Roberto, outro intérprete de sucesso junto às camadas populares nos anos 70, aqui interpreta duas composições de Cláudio Fontana: “Como é que eu posso ser feliz sem você?” (1971) e “Separados” (1975), esta originalmente lançada por Nélson Ned na Copacabana, em 1973, e que encerra o álbum duplo. O recifense Luiz Carlos Magno entrou com “Ave Maria pro nosso amor” (com direito até a declamação da Ave Maria!), de 1972, e “Sonho de menina”, de 1974. A curiosidade fica por conta do grupo Os Selvagens, interpretando “Eu e você”, versão de Rossini Pinto para “Me and you”, lançada no original por Dave MacLean, um daqueles brasileiros que cantavam e até compunham em inglês. Ídolo eterno e inesquecível, o recifense Reginaldo Rossi vem aqui com uma verdadeira pérola de seu repertório, ainda hoje muito lembrada: “Mon amour, meu bem, ma femme”, composta por Cleide de Lima, e lançada em 1972 com enorme sucesso. Enfim, um raro LP duplo que certamente proporcionará momentos de agradável reminiscência para quem viveu nessa primeira metade dos anos 1970, e desfrutável também para os que só chegaram depois dessa época. Deliciem-se…

proposta – roberto carlos
uma vida inteira – jerry adriani
festa dos seus quinze anos – leno
quero que volte – nalva aguiar
no more troubles – lafayette
lágrimas nos olhos – josé roberto
impossível acreditar que perdi você – marcio greyck
porque brigamos – diana
meu aniversário – ed carlos
eu quero dançar contigo – renato e seus blue caps
como é que eu posso ser feliz sem você – claudio roberto
ave maria pro nosso amor – luiz carlos magno
palavras – roberto carlos
desculpas – josé roberto
amor só se paga com amor – diana
tema para um samba – lafayette
eu e você – os selvagens
sonho de menina – luiz carlos magno
eu não aceito o teu adeus – renato e seus blue caps
não feche os olhos – jerry aderiani
o mais importante é o verdadeiro amor – marcio greyck
a menina que passa – ed carlos
mon amour meu bem ma femme – reginaldo rossi
separados – caludio roberto

*Texto de Samuel Machado Filho

Radamés Gnattali E Rafael Rabello – Tributo A Garoto (1982)

O TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados um disco que reúne dois grandes instrumentistas: o pianista e também maestro e compositor Radamés Gnattali (Porto Alegre, RS, 27/1/1906-Rio de Janeiro, 3/2/1988), e o violonista Rafael Rabello (Petrópolis, RJ, 31/10/1962-Rio de Janeiro, 27/4/1995). O álbum é um tributo-homenagem a outro grande instrumentista e compositor brasileiro, verdadeiro mago das cordas: Aníbal Augusto Sardinha, ou como ficou para a posteridade, Garoto (São Paulo, 28/6/1915-Rio de Janeiro, 3/5/1955). Produzido pela Funarte e gravado nos estúdios da Sonoviso, em 1982, o disco faz parte do Projeto Almirante, uma das inúmeras iniciativas da entidade, hoje vinculada ao Ministério da Cultura, objetivando divulgar e preservar nossa melhor música popular. Este trabalho teve a produção artística de um verdadeiro “craque” na matéria, Hermínio Bello de Carvalho, ficando a produção executiva a cargo de Cláudio Guimarães, e as transcrições das obras incluídas neste disco pelo mestre Radamés. Este trabalho, como vocês verão, é primoroso e muitíssimo bem cuidado, tanto técnica quanto artisticamente. Cuidado esse que também se verificou na parte gráfica, que inclui um encarte repleto de informações sobre o homenageado, os músicos-intérpretes, as músicas incluídas e até mesmo um bate-papo informal entre Radamés, Rafael e o mestre Tom Jobim. São seis faixas, cinco delas compostas por Garoto, incluindo dois clássicos, “Duas contas” e “Gente humilde” (esta só revelada ao público na década de 1970, ao receber letra de Vinícius de Moraes e Chico Buarque). Na sexta e última faixa, temos o “Concertino para violão e piano” (1953), de autoria do mestre Radamés, versão reduzida do “Concertino n.o 2 para piano e orquestra”, composto em 1948 especialmente para Garoto, que o apresentou cinco anos mais tarde no Teatro Municipal do Rio, ficando a regência da orquestra por conta do maestro Eleazar de Carvalho. Como bem afirma Cláudio Guimarães no encarte, “Garoto e Jacob do Bandolim, que tanto prestigiaram Radamés Gnattali, se orgulhariam ao conhecer o jovem Rafael Rabello”. Por uma triste coincidência, tanto Rafael quanto Garoto faleceram prematuramente. Mas este “Tributo a Garoto” ficou para a posteridade como um dos mais expressivos trabalhos discográficos de Rafael Rabello, notável violonista, contando com a honrosa companhia, ao piano, de outro grande mestre, Radamés Gnattali. É o que os amigos cultos, ocultos e associados do TM poderão constatar.

desvairada
gente humilde
enigmático
nosso choro1919
duas contas
concertinho para violão e piano

*Texto de Samuel Machado Filho

Ricardo Silveira – Bom De Tocar (1984)

Violonista, guitarrista e compositor de primeira linha, aplaudido no Brasil e no exterior. Assim é Ricardo Rodrigues Parente Silveira, ou, como ficaria para a posteridade, Ricardo Silveira. Nascido no Rio de Janeiro, a 25 de outubro de 1956, Ricardo cresceu ouvindo bossa nova, samba e marchinhas carnavalescas.  Suas primeiras influências foram os violonistas Baden Powell e João Gilberto. Mais tarde, interessou-se por Jimi Hendrix, e recebeu influências de Wes Montgomery e George Benson. Terminado o segundo grau, Ricardo deixou o Brasil e foi para os EUA, onde estudou por dois anos na Berklee College of Music, de Boston. Após morar durante anos em Nova York, onde tocou com Herbie Mann, Ricardo voltou ao Brasil para se aprofundar na música instrumental, logo se tornando um dos mais requisitados músicos de estúdio no país. Gravou e fez shows acompanhando nomes de prestígio da MPB, como Elis Regina, Hermeto Paschoal, Gilberto Gil, Maria Bethânia, João Bosco, Ivan Lins, Nana Caymmi, Vinícius Cantuária e Mílton Nascimento.  Ele inclusive é o autor do arranjo da música “Portal da cor”, que fez em parceria com Mílton.  Assim Ricardo Silveira define seu trabalho: “Eu toco dentro do ponto de vista de um músico brasileiro. Há elementos de funk e jazz, mas não gosto de dizer que toco fusion.  Eu sou um músico que gosta de diferentes formas de música, e me sinto bem explorando esses diferentes mundos musicais”. A carreira internacional de Ricardo Silveira deslanchou nos EUA quando ele assinou contrato com o selo Verve Forecast, da Polygram, hoje Universal Music. Tem mais de dez álbuns em sua discografia, e, entre uma gravação e outra, excursiona com sua banda, nos EUA e no Brasil. Já formou trio com Alfonso Johnson (ex-Weather Report) eWalfredo Reyes Jr.  (ex-Santana) e participou da turnê “Brasil Project”, com o gaitista belga Toots Thielemans. Atualmente, faz parte do grupo Latin American All Stars, junto com o peruano Alex Acuña, o colombiano Jsto Almario e o mexicano Abraham Laboriel. E é justamente o começo de tudo isso, o pontapé inicial da longa e vitoriosa  carreira de Ricardo Silveira como guitarrista-solo, que o Toque Musical orgulhosamente apresenta a seus amigos cultos, ocultos e associados: “Bom de tocar”, seu primeiríssimo álbum-solo, editado pela Polygram (selo Fontana) no ano da graça de 1984. Produzido por ele próprio juntamente com Luiz Carlos, o Lelé, o disco traz nove faixas marcantes, inclusive a que lhe dá o título. E ele vem muito bem acompanhado, com gente do quilate de Jamil Joanes (baixo), Chacal (percussão), Léo Gandelmann (saxofone) e Márcio Montarroyos (mais conhecido como trompetista, aqui atuando nos teclados, juntamente com Serjão e Serginho Trombone). Tudo isso com o elevado padrão técnico que sempre caracterizou os trabalhos discográficos da antiga Polygram. Ouvindo este “Bom de tocar”, entende-se por que o álbum foi (e ainda é) considerado  um marco na história da música instrumental brasileira.

bom de tocar

pica-pau I

xamba

maricy17

dois irmãos

rock

espaços

55

raizes

*Texto de Samuel Machado Filho

Lô Borges (1972)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Após mais de mil publicações a gente começa a esquecer o que já, ou não, foi postado por aqui. Para a minha surpresa, verifico que este segundo e emblemático disco do Lô Borges ainda não havia passado por aqui. E olha que não foi por falta de oportunidade. Mas, por alguma razão, acabou passando batido. Hoje, meio que na base dos discos ‘de gaveta’, enquanto espero as resenhas do Samuca, vou tomando a frente e finalmente postando o ‘álbum do tênis’. Este lp, originalmente foi lançado em capa sanduíche e trazia esta contracapa com a foto do adolescente Lô Borges sentado num caixote lendo jornal. Depois, na segunda edição, em capa comum, tiraram o cara do caixote e o colocaram numa cadeira, em foto preto e branco e dessa vez trazendo também as letras. 1972 foi para o artista um ano prolixo, que estreava naquele ano com dois discos, este do tênis e o Clube da Esquina, ao lado de Milton Nascimento. Dois álbuns básicos, clássicos da música popular brasileira. Para não dizer que não falei de flores… segue aqui e no GTM, finalmente 😉

você fica melhor assim
canção postal
o caçador
homem da rua
não foi nada
pensa você
fio da navalha
prá onde vai você
calibre
faça seu jogo
não se apague esta noite
aos barões
como o machado
eu estou com você
toda essa água
.

Zimbo Trio – Sonny Stitt In Brasil (1979)

O TM apresenta hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados mais um álbum do sempre notável Zimbo Trio. Lançado em 1979 com o selo Clam, que pertencia ao grupo, o disco registra o encontro deles com o saxofonista norte-americano Edward “Sonny”  Stitt (Boston, Massachussets, 2/2/1924-Washington, DC, 22/7/1982). Ao contrário do que sugere o título, primeiro da trilogia “Zimbo Trio convida”, eles próprios foram convidados  a ser o grupo de apoio do já veterano músico norte-americano em uma turnê que ele fez pelo Brasil. O resultado é o que se pode esperar de uma reunião dessa ordem, repertório com base em standards do jazz, da bossa nova (“Corcovado”, “Samba de Orfeu”), do bebop (“Little suede shoes”, There you will never be another you”, “Autumn leaves”) e trabalhos originais do próprio Sonny Stitt (“Hope’s blues”, “Blues for Gaby”). Ele foi, talvez, o saxofonista com sonoridade e fraseado mais parecidos com os de Charlie Parker, ídolo do bebop. Stitt era alguns anos mais velho do que Parker, e iniciou-se como músico ainda na era do swing. Ele próprio declarou várias vezes que, quando ouviu Parker pela primeira vez, ainda com “Bird” tocando na orquestra de Jay McShan, levou um susto, tal a semelhança de estilos. Stitt tornou-se um dos nomes de peso do bebop, gravando alguns discos importantes com ninguém menos do que Dizzy Gilespie, o outro co-fundador desse estilo, ao lado de Charlie Parker. Dos integrantes do Zimbo Trio, o pianista Hamilton Godoy parece ser o que mais está á vontade, graças à influência de Oscar Peterson em seu estilo. O baixista Luiz Chaves e o baterista  Rubinho Barsotti, ao contrário, não demonstram lá muita intimidade com as acentuações rítmicas do bebop, especialmente no trabalho com o bumbo e a caixa, e as características do walking bass. Afora esses detalhes, percebidos apenas e tão-somente pelos ouvidos dos mais iniciados, este disco, para o público em geral, é uma agradável sessão de jazz com músicos de alto gabarito em suas respectivas estéticas. Um encontro histórico de grandes músicos brasileiros com um saxofonista que marcou época na história do jazz, agora oferecido pelo TM a todos aqueles que apreciam música de qualidade. Simplesmente o fino do fino…

hope’s blues

corcovado

there you’ll never be another you

little suede shoes

autumn leaves

samba de orfeu

blues for gaby

assim está certo

*Texto de Samuel Machado Filho

Lucinha Lins e Cláudio Tovar – Simbad de Bagdad (1986)

O TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados mais um álbum infantil que, por certo, vai fazer muitos deles recordarem seu tempo feliz de criança. Ele foi concebido por Lucinha Lins em companhia de seu segundo marido, Cláudio Tovar, e foi lançado em 1986 pela gravadora Arca Som, que pertencia ao Grupo de Comunicação O Dia, cuja principal empresa era o jornal carioca de mesmo nome, ainda hoje em circulação. Nesse tempo, a extinta Rede Manchete de Televisão havia perdido para a Globo a apresentadora Xuxa Meneghel, e o “Clube da Criança”, que ela apresentava na faixa vespertina, passou a ser uma simples “sessão desenho”. Para não deixar sua programação sem representantes para as crianças, a emissora dos Bloch, aproveitando o sucesso que Lucinha Lins e Cláudio Tovar vinham fazendo em espetáculos teatrais infantis, contratou o casal. Assim, no dia 3 de março de 1986, a Rede Manchete estreava o “Lupu Limpim Clapla Topo”, programa com nome bem incomum e que poucas crianças conseguiam pronunciar. Dirigido por Sérgio Galvão e Cláudio Tovar, e com textos de Lula Torres e Maria Lúcia Dahl, era um infantil bem diferente dos que haviam na época, pois baseava-se em teleteatro com agradáveis curiosidades e, logicamente, recheado de desenhos animados. Tempos depois, o programa passou a contar com um auditório de crianças. Nesta fase, além de brincadeiras como “Cama de gato”, o “Lupu Limpim” tinha dramatizações de clássicos infantis. E tinha também a Lucinha Lins ensinando a “língua do P”, uma forma diferente de falar que acabou caindo no gosto da criançada. O tema de abertura do programa era “Caixa de brinquedos”, que abre também o presente álbum, com produção executiva da própria Lucinha Lins, e dividido em duas partes. No lado A, temos a trilha sonora de um dos musicais teatrais que Lucinha e Cláudio fizeram com sucesso, “Simbad de Bagdad”. No lado B, os temas de “Lupu Limpim Clapla Topo”. Tudo com arranjos e regências de um verdadeiro “craque”, Antônio Adolfo. Em fins de 1987, o “Lupu Limpim Clapla Topo” saiu do ar, e o “Clube da Criança” voltou, agora apresentado por nada mais nada menos do que Angélica, atualmente na Globo. Este álbum de Lucinha Lins e Cláudio Tovar, portanto, é mais um trabalho de qualidade destinado ao público infantil, que o TM oferece com muito orgulho e satisfação. É digno representante de um tempo em que as redes de televisão aberta dedicavam mais espaço a atrações para crianças, que, com o advento da TV por assinatura e da internet , e as restrições impostas pelas autoridades à propaganda de produtos destinados ao consumo infantil, sobretudo guloseimas, passaram a se tornar inviáveis comercialmente. Mas, se as coisas boas um dia se acabam, o TM, através de postagens como esta, faz com que elas fiquem vivas em nossa lembrança!

*Texto de Samuel Machado Filho

Dorival Caymmi – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 149 (2017)

Para alegria dos amigos cultos, ocultos e associados do TM, o Grand Record Brasil, dedicado à musicografia brasileira em 78 rpm, está de volta. Nesta, que é a edição de número 149, apresentamos um pouco da preciosíssima obra de Dorival Caymmi, o poeta seresteiro da Bahia, interpretada por ele próprio em gravações originais. Caymmi veio ao mundo no dia 30 de abril do ano da graça de 1914, na capital baiana, Salvador. Era descendente de italianos pelo lado paterno, e seu bisavô chegou ao Brasil para trabalhar no reparo do Elevador Lacerda. Ainda criança, iniciou-se na música, ouvindo parentes ao piano. O pai, Durival (assim mesmo, com “u”!) Henrique Caymmi, funcionário público e músico amador, tocava ainda violão e bandolim, e a mãe, Aurelina Soares Caymmi, dona-de-casa, mestiça de portugueses e africanos, cantava apenas no lar. Ainda menino, nosso Caymmi era baixo-cantante em um coro de igreja. Aos 13 anos, interrompeu os estudos e passou a trabalhar como auxiliar na redação do jornal “O Imparcial”. Com o fechamento do periódico, em 1929, passou a vender bebidas. Escreve sua primeira música, “No sertão”, em 1930 e, aos vinte anos, faz suas primeiras apresentações como cantor  e violonista em programas da Rádio Clube da Bahia. Em 1935, passa a ter um programa só seu, “Caymmi e suas canções praieiras”. Aos 22 anos, vence um concurso de músicas de carnaval com o samba “A Bahia também dá”. Incentivado por um diretor da Rádio Clube da Bahia, Gilberto Martins, resolve seguir carreira no Sul do Brasil, e embarca para o Rio de Janeiro, então Capital da República, em abril de 1938, num ita (navio que cruzava o Brasil de sul a norte) , a fim de obter emprego como jornalista e estudar Direito. Com a ajuda de parentes e amigos, fez alguns pequenos trabalhos como repórter em “O Jornal”, periódico dos Diários Associados, ainda assim continuando a compor e cantar. Em seguida, estreou como cantor na PRG-3, Rádio Tupi (“o cacique do ar”), apresentando-se dois dias por semana. Foi no programa “Dragão da Rua Larga” que Caymmi apresentou, pela primeira vez, seu samba “O que é que a baiana tem?”, mais tarde interpretado por Cármen Miranda no filme “Banana da terra”,  e que muito contribuiu para a consagração internacional da “pequena notável”. E foi com ele que Caymmi estreou em disco, em dueto com Cármen, em 1939, tendo no verso “A preta do acarajé” (incluído nesta seleção).  Era o pontapé inicial para inúmeros outros sucessos, gravados por ele próprio e por outros intérpretes, em mais de 50 anos de atividade musical, entre os quais, além dos presentes nesta edição do GRB, podemos citar: “A jangada voltou só”, “Marina”, “Acalanto”, “A vizinha do lado”, “Saudade da Bahia”, “Pescaria (Canoeiro)”, “Tão só”, “Sábado em Copacabana”, “Samba da minha terra”, “Eu não tenho onde morar”, “São Salvador”, “Modinha para Gabriela”, “Das Rosas”, “Eu cheguei lá”, “Vou ver Juliana”, “Maracangalha”, “Adeus”, “Trezentas e sessenta e cinco igrejas”, “Oração de Mãe Menininha”, “O bem do mar” e muitos mais. Uma gloriosa trajetória que também inclui apresentações no exterior.  Possuía um estilo pessoal de compor e cantar, com espontaneidade nos versos, sensualidade e riqueza melódica. Além da música, dedicou-se intensamente à pintura. Em 1986, foi merecidamente homenageado pela Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira com o enredo “Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm”, com o qual a “verde-e-rosa” sagrou-se campeã do carnaval carioca. Do casamento de Caymmi com Adelaide Tostes (que, como cantora, usava o pseudônimo de Stella Maris), resultaram três filhos que também seguiram carreira musical, e estão na estrada até hoje:  Nana, Dori e Danilo, além da neta Alice. Dorival Caymmi faleceu em 16 de agosto de 2008, aos 94 anos, no Rio de Janeiro, de insuficiência renal.

Para esta edição do GRB, foram selecionadas doze preciosas gravações de mestre Caymmi, verdadeiras joias da nossa música popular, documentando parcela substancial de sua obra como autor e intérprete. Abrindo o programa, temos “Cantiga”, gravação RCA Victor de 5 de novembro de 1947, lançada em maio de 48 sob número 80-0585-A, matriz S-078820. O samba “Dois de fevereiro”, em homenagem  a Iemanjá, “a rainha do mar”, é gravação Odeon de primeiro de setembro de 1957, com acompanhamento orquestral de Léo Peracchi, lançada em dezembro seguinte com o número 14286-A, matriz 12000, aparecendo também no LP “Caymmi e o mar”, quarto vinil do artista baiano e primeiro no formato-padrão de doze polegadas. Voltando à RCA Victor, temos “Festa de rua”, “cena baiana” gravada em 18 de abril de 1949 e lançada em julho seguinte com o número 80-0596-B, matriz S-078868. Temos em seguida uma amostra do Caymmi apenas intérprete, no samba-jongo “Navio negreiro”, de Alcyr Pires Vermelho, J. Piedade e Sá Roris, gravação Odeon de 5 de março de 1940, com suporte orquestral do palestino Simon Bountman,  lançada em maio do mesmo ano sob número 11850-A, matriz 6311. Uma das obras-primas de Caymmi, o samba-canção “Nem eu”, que o autor já havia interpretado no filme “Terra é sempre terra”, da Vera Cruz, foi por ele gravado na mesma Odeon em 14 de maio de 1952, com lançamento em julho do mesmo ano, com o número 13288-B, matriz 9305. “Nem eu” tem regravações por Ângela Maria, Gal Costa e até mesmo por Hebe Camargo, entre outras. Logo depois, outra obra-prima do mestre baiano: a canção praieira “O mar”, por ele interpretada com acompanhamento orquestral de Radamés Gnattali. A gravação ocupou os dois lados do disco Columbia 55247, registrado em 7 de novembro de 1940 e lançado em dezembro do mesmo ano, matrizes 328 e 329. “Noite de temporal”, outra canção praieira do gênio baiano, é o lado B de “Navio negreiro”, e foi gravado um dia antes, em 4 de março de 1940, matriz 6310. Caymmi a interpreta acompanhado pelos violões de Laurindo de Almeida, Dilermando Reis e Rogério Guimarães. E tome clássico: “Dora”, samba com introdução de frevo, que Caymmi fez no Recife, inspirado numa mulata que dançava o frevo com perfeição, à frente de um bloco que passava em frente a um hotel da capital pernambucana. Antológica gravação Odeon de 18 de junho de 1945, com acompanhamento da orquestra do maestro Fon-Fon , lançada em agosto seguinte sob número 12606-A, matriz 7856. O samba “Lá vem a baiana” foi gravado por seu autor na RCA Victor em 11 de julho de 1947, com lançamento em agosto do mesmo ano, com o número 80-0536-B, matriz S-078763. O samba-canção “João Valentão” foi inspirado em um pescador amigo de Caymmi, Carapeba, e é considerado um dos melhores perfis humanos traçados pelo mestre baiano. Foi por ele imortalizado na Odeon em 28 de maio de 1953, acompanhado pela orquestra de Oswaldo Borba, com lançamento em agosto seguinte sob número 13478-A, matriz 9726, e tem sido bastante regravado, como aliás quase todas as suas obras. “Saudade de Itapoã” é outra obra-prima que o próprio Caymmi imortalizou, desta vez na RCA Victor, em 5 de novembro de 1947, com lançamento em abril de 48, sob número 80-0576-B, matriz S-078823. Para encerrar, uma gravação do início da carreira de Caymmi: a “cena típica baiana” “A preta do acarajé”, que ele interpreta ao lado de Cármen Miranda. Registro Odeon de 27 de fevereiro de 1939, lançado em abril seguinte com o número 11710-B, matriz 6024. Caymmi recolheu o pregão da voz de uma negra vendedora de acarajé , que todas as noites passava por sua rua, em Salvador, e ao servir os fregueses também dizia: “Todo mundo gosta de acarajé, mas o trabalho que dá pra fazer é que é”. Segundo o próprio Caymmi, “em verdade essa canção é muito mais daquela preta que vendia acarajé do que minha”… Enfim, uma pequena-grande amostra do talento, da poesia e da musicalidade de Dorival Caymmi como autor e intérprete, que o GRB tem a grata satisfação de oferecer.

* Texto de Samuel Machado Filho

Luiz Gonzaga – S.Paulo-QG Do Baião (1974)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Começando bem a manhã e antes de sair para o trabalho, vou deixando aqui um ‘disco de gaveta’, ou seja, aquele que está sempre pronto para cobrir um vão. Eu já havia abandonado esse termo, pois afinal, o que não falta aqui no Toque Musical é buraco, furo… Furo do amigo aqui, que nem sempre encontra tempo para manter a tradicional postagem diária. Mas como dizem por aí, é melhor pingar do que faltar.
Seguimos assim, trazendo este lp do Luiz Gonzaga, lançado em 1974 pela gravadora RCA. Aqui temos um disco dedicado aos paulistas e a comunidade nordestina, em São Paulo. Cidade onde o Lua amplificou o seu sucesso, ecoando por todo o Brasil e também fora dele. Trata-se de um lp importante, pois reúne gravações antigas da época dos 78 rpm com uma qualidade de som que só mesmo uma gravadora como a RCA Victor poderia nos dar. Há também o fato de que algumas gravações são raras, como é o caso de “A vida do viajante”, que aqui aparece na versão original. Geralmente quando ouvimos essa música, a versão é sempre em dueto com o filho Gonzaguinha. Na verdade, nem sei se existe essa primeira versão lançada em cd. Embora difícil de se ver e ouvir, acredito que sim, pois a obra do Gonzaga já foi toda rastreada. Confiram aqui essa joinha, é imperdível! 😉

baião da garôa
a vida do viajante
jardim da saudade
marabaixo
catamilho na festa
xaxado
cana só em pernambuco
moda da mula preta
moreninha, moreninha
tô sobrando
relógio do baião
a canção do carteiro
velho pescador
vamos xaxear

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Isolda (1979)

Hoje o TM oferece aos amigos cultos, ocultos e associados o primeiro álbum-solo, como intérprete, de uma compositora que tem mais de noventa músicas gravadas, a maior parte grandes sucessos. Estamos falando de Isolda Bourdot Fantucci, ou simplesmente Isolda.  Foi no dia 9 de janeiro de 1957, em São Paulo, que Isolda veio ao mundo. Seu bisavô e avó maternos foram maestros e compositores, e desde criança ela se interessou por artes em geral. Começou a aproximar-se da música em brincadeiras com o irmão e futuro parceiro Mílton Carlos, escrevendo canções e histórias para teatrinhos de bonecas. Nossa Isolda queria ser jornalista, mas, ainda adolescente, começou a participar, junto com o irmão, de festivais de MPB, muito em moda nas décadas de 1960/70, pelos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, sendo premiados em vários deles. A partir daí, Isolda e Mílton passaram a receber encomendas de músicas de alguns cantores que sentiram grande sensibilidade artística na dupla de irmãos. Entre eles, Roberto Carlos, que, em seu álbum de 1973, incluiu a música “Amigos, amigos”, primeiro grande sucesso autoral de Isolda e Mílton. Este último gravou seu primeiro disco em 1974, um compacto duplo que incluiu “Samba quadrado”, grande sucesso na época, evidentemente composto em parceria com a irmã. Deles, Roberto Carlos ainda gravaria “Jogo de damas” (1974), “Elas por elas” (1975), “Um jeito estúpido de te amar” e “Pelo avesso” (ambas em 1976). Outros cantores também registraram composições de Isolda e Mílton: Wando (“Amanhã é outro dia”, “Na boca do povo”), Ângela Maria (“Nunca mais”) e Agnaldo Rayol (“Eu levo uma cruz na corrente”). O próprio Mílton gravou “Um acalanto”, “Uma valsa, por favor”, “Telerodovida”, “Me mata” e “Vexame”. Infelizmente, a parceria Isolda-Mílton Carlos terminou prematuramente e de forma trágica, em 1976, quando Mílton faleceu em acidente automobilístico na Via Anhanguera, em São Paulo. Mesmo abalada com a morte do irmão e parceiro, Isolda compôs uma balada romântica que seria seu maior sucesso autoral: nada mais nada menos que “Outra vez”, sucesso de Roberto Carlos em 1977 e merecedor de inúmeras regravações no Brasil (Altemar Dutra, Simone, Emílio Santiago…) e no exterior (Peppino di Capri, Armando Manzanero, Ray Conniff…). “Outra vez” recebeu vários prêmios, foi incluída em trilha sonoras de telenovelas  e até hoje é muitíssimo lembrada. “É uma música que sempre vai me acompanhar”, como diz a própria Isolda. Apesar de todo o seu sucesso como compositora, Isolda sempre teve comportamento sóbrio e discreto, chegando até mesmo a evitar contatos com a mídia. Ainda assim, em 1979, concordou em soltar a voz quando, a convite da RCA, hoje Sony Music, gravou seu primeiro álbum-solo, este mesmo que o TM nos oferece hoje. O disco foi produzido pelo sempre versátil Sérgio Sá, que também se incumbiu dos arranjos e regências, além de assinar a faixa “Dois encontros casuais”. É claro que “Outra vez” está presente no repertório deste álbum, junto com outras composições suas (algumas em parceria com o então já falecido irmão, Mílton Carlos) e de outros autores. Com direito até a regravações de “Ilegal, imoral ou engorda”, de Roberto & Erasmo Carlos, “Um jeito estúpido de te amar” (que ela fez ainda com o irmão) e “Tente esquecer” (que compôs solo), estas duas também hits na voz do “rei da MPB”. A faixa de abertura, “Boleríssimo” (outra parceria com o irmão Mílton), chegou até a ser incluída em uma novela da extinta TV Tupi que não terminou, “Como salvar meu casamento”. Após mais de 140 capítulos exibidos, a novela (cuja trilha sonora já havia sido até lançada em disco) teve sua exibição interrompida no início de 1980, por conta da crise financeira que levou a emissora a fechar suas portas.  E a Tupi não deu nenhuma satisfação quanto à exibição dos capítulos restantes…  Ainda assim, “Boleríssimo” fez sucesso, e inclusive foi regravada por Maria Creuza. Isolda só gravaria mais um álbum além deste aqui, o CD “Tudo exatamente assim”, lançado em 2006 pela marca Toca Disc. E este primeiro disco-solo nos oferece a oportunidade de apreciar um pouco de sua arte como cantora e compositora, sempre com apurada sensibilidade e imenso talento. Confiram…

boleríssimo
um jeito estúpido de te amar
você precisa saber das coisas
questão de dias
não faça assim
outra vez
confidências
apague a luz
ilegal imora ou engorda
dois encontros casuais
sem desespero
tente esquecer

*Texto de Samuel Machado Filho

João Nogueira (1972)

Boa tarde, amigos cultos e ocultos! Para começarmos bem o ano, escolhi um disco que também representa um começo. O começo da carreira do grande compositor e sambista João Nogueira. Este foi o seu primeiro lp, lançado pela Odeon, em 1972. A capa do disco é originalíssima, replicando a manchete do jornal O Globo, onde o escritor e jornalista Carlos Jurandir nos apresenta o artista e seu disco de estréia. Certamente, a manchete saiu antes do lançamento do disco. A capa, por si só, já dá o recado e eu como sou muito preguiçoso, aproveito a onda pra ir de jacarezinho. Ou seja, recomendo, maiores informações, consulte a capa 😉
Sei que há tempos tenho andado um tanto desleixado com minhas postagens, inclusive o trabalho de apresentação. Depois que troquei o computador e perdi meus programas piratas de edição de imagens, nem as capas eu tenho tratado. Mas como um autêntico virginiano, eu odeio essas ‘meia-bocas’, para mim, a coisa tem que estar certinha. Acho que só não tomei providências ainda, porque ninguém tem reclamado. Aliás, quase ninguém mais dá sinal de vida neste blog. Sei que eu sou um chato de dar medo, mas fiquem tranquilos, eu ainda não mordo. (kkk…)

morrendo verso em verso
maria sambamba
beto navalha
mãe solteira
alô madureira
heróis da liberdade
mariana da gente
prum samba
meu caminho
das 200 pra lá
blá blá blá
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Elza Soares – O Samba É Elza Soares (1961)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Enfim, lá se foi 2016. Pqp, que ano feio! Fomos golpeados de todas as maneiras. Uma sequência de maus momentos que ainda insiste em se manter em 2017. Mas como diria o grande Belchior: ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro! Por aqui, no Toque Musical quem salvou o ano foi o amigo Samuca. Sem ele como colaborador, eu confesso, já teria desanimado. Aproveito para deixar aqui os meus agradecimentos, toda a atenção e empenho dedicado ao blog. Valeu, Samuel Machado Filho! Continuo contando com você em 2017. Por certo, também não posso deixar de agradecer a alguns poucos amigos cultos e ocultos que ainda visitam com frequência o nosso sítio. Obrigado pela colaboração e participação de todos. Desejo a vocês também um ótimo ano e que este seja mais musical e envolvente, pelo menos aqui no TM.
A postagem de hoje, “Elza Soares – O Samba é Elza Soares” já estava agendada desde o inicio do ano, mas por força das circunstâncias acabou ficando para o último dia. Deste álbum e desta cantora eu não preciso dizer muita coisa, todos já os conhecem bem. Temos aqui um clássico lp da Odeon, em capa sanduíche tradicional da gravadora. Elza Soares, sempre no auge do sucesso, nos apresenta uma seleção de ótimos sambas, com arranjos e orquestração do maestro Astor Silva que dá aos metais o nobre destaque. Neste álbum Elza também conta com a participação de, outro grande, o sambista e compositor Monsueto, presente em pelo menos três faixas. Um disco inegavelmente importante, que agora também faz parte de nosso acervo digital. Confiram…

eu e o rio
vedete certinha
teleco teco
bom mesmo é estar bem
fez bobagem
amor de mentira
na base do bilhetinho
cantiga do morro
acho que sim
ziriguidum
vou sonhar pra você ver
reconciliação

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Daltony – Bate Boca (1981)

Boa noite, amiguinhos cultos e ocultos! Falta pouco para ficarmos livre de vez deste 2016. Êta anozinho ingrato, cheio de mortes, de golpes, de coisas ruins… Por certo que não ficamos só na merda, afinal sofrimento tem limite. Tivemos sim bons momentos para compensar a tristeza. Entre as coisas boas, embora ninguém mais ligue, é o Toque Musical. Fiel ao seu propósito, um blog já tradicional. E é para manter o status que a gente falha mas não falta. Sempre presente trazendo os mais diferentes toques musicais.
Hoje, vamos com o Daltony. Artista já apresentando aqui por duas vezes, no compacto de 1982 e no lp “Cirose”, de 83. Agora ele volta em seu lp de estréia, “Bate boca”, lançado pela RCA, em 1981. Neste álbum, totalmente autoral ele conta com os arranjos e regência de Antonio Adolfo. Um trabalho muito bom de um artista que infelizmente poucos conhecem. Por isso, vale a pena ouví-lo com toda atenção.

os amigos do alheio
pra não se afastar
meu produtor
três amores
ligue
tempo
deda
bate boca
precisar de ti
classificados
primeira dança
nós o cantores

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Galo Preto (1981)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Para aqueles que não assistiram a Missa do Galo, não fiquem desolados. Para quem, como eu, não viu o Galão ser campeão, também não se desesperem. Ainda há tempo para um outro galo, o grupo de chorinho “Galo Preto”. Formado nos anos 70, o Galo Preto é um dos mais importantes grupos de choro do país. Em franca atividade ainda hoje, eles já tocaram e gravaram com uma infinidade de bons artistas. Já se apresentaram em diversos países, sempre com muto sucesso.
Neste lp, produção independente, lançada em 1981, o grupo seleciona um repertório com músicas até então inéditas de diversos autores. Confiram em detalhes, a contracapa traz toda a informação sobre essa produção. Para os amantes da boa música instrumental e do choro este lp é imperdível. Confiram…

meu tempo de garoto
choro ligado
eventualmente
gracioso
um presente pro titio
marceneiro paulo
amarelinho
deixa falar
rabo de galo
valsa n.2
vocês me deixam ali e seguem de carro
flor do mato

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Zimbo Trio – Strings and Brass Plays the Hits (1971)

Olá, amigos cultos e ocultos! Espero que tenham gostado de nossa mostra voltada aos festivais. Tivemos aqui um leque bem variado, com festivais de três décadas diferentes e sempre bem apresentados pelo nosso amigo culto Samuca.
Fugindo do tradicional, este ano não tivemos postagens natalinas. Acho que já esgotamos os discos ligados ao tema. Por essa e muito mais por outras, nosso Natal vai ser ao som do grande Zimbo Trio. Acho que este disco cai como uma luva, não apenas pelo seu conteúdo musical, mas também pela capa vermelha, que bem simboliza o Papai Noel.
Temos aqui mais uma belíssima pérola do Zimbo Trio, acompanhado de cordas e metais, numa sessão de ‘hits’ nacionais e internacionais. Um repertório misto e bem peneirado que agrada em cheio, antes ou depois da ceia.
Feliz Natal a todos os amigos cultos e ocultos!

madalena
bridge ove troubled water
falei e disse
agora
i’ll be there
apesar de você
na tonga da mironga do kaburetê
primavera (vai chuva)
close to you
carimbó
pulo pulo
fechado para balanço
para lennon e mccartney

O Melhor De O Brasil Canta No Rio (1968)

Encerrando de vez sua retrospectiva dedicada aos festivais, o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados , mais um álbum (o oficial já foi postado anteriormente) referente ao certame promovido em 1968 (“o ano que não terminou”) pela extinta TV Excelsior, canal 2, do Rio de Janeiro, oficialmente denominado “O Brasil canta no Rio”, mas também conhecido como III Festival Nacional de Música Popular.  Criado, organizado e realizado por Adonis Karan, o festival aconteceu simultaneamente em oito estados (e sem o apoio da Embratel, então estatal, criada três anos antes):  Rio de Janeiro, Guanabara, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo. Isso em uma época em que não havia as facilidades de comunicação de hoje (satélites, internet, redes sociais, etc.). Em cada um deles, houve quatro eliminatórias e uma final regional, cada um classificando cinco músicas. Entretanto, só três músicas classificadas em cada estado concorreram na final nacional, acontecida no ginásio Maracanãzinho (o mesmo do FIC) em 27 de julho de 1968. A música vencedora foi “Modinha”, de Sérgio Bittencourt, interpretada por Taiguara. O curioso é que neste álbum que hoje oferecemos, lançado pela CBS, a Sony Music de hoje,  quatro das primeiras colocadas no festival (“Modinha”, “Paixão segundo o amor”, “Fala moço” e “Você passa, eu acho graça”) nem sequer aparecem. Como seus intérpretes pertenciam a outras gravadoras, a empresa  decidiu oferecer o que tinha, literalmente à mão, apresentando neste disco doze concorrentes do festival da Excelsior, representando seis dos oito estados participantes (Minas Gerais e Paraná ficaram de fora), ficando a produção por conta de Hélcio Milito, então baterista e percussionista do Tamba Trio. Destas, seis participaram da final do certame: “Peccata mundi” (com Cynara e Cybele, ex-integrantes do Quarteto em Cy), “A vez e a voz da paz” (que abre o disco, na voz de Eduardo Conde, sendo que foi originalmente defendida por Taiguara), “Ciranda do amor” (aqui com seu autor, Roberto Lima), “Ultimatum” (a vice-campeã, de autoria dos irmãos Valle, originalmente defendida por Maria Odete com o grupo Momentoquatro, e aqui com a então estreante Glória), “O gaúcho” (na voz do autor, Raul Ellwanger) e “Retirada” (com Rose Valentim, curiosamente de autoria do maestro Eduardo Lages, futuro arranjador de Roberto Carlos em discos e shows). Completam o trabalho outras seis músicas: “Litoral”, dos estreantes Toninho Horta e Ronaldo Bastos, com a também estreante Gilda Horta, por certo irmã de Toninho (que já participara do festival de Juiz de Fora, acontecido pouco antes), “Sem assunto”, de Sidney Miller (vencedora do mesmo festival de Juiz de Fora), com Cynara e Cybele, que ainda interpretam “O jornal”, da dupla Chico Anysio-Arnaud Rodrigues (criadores, mais tarde, do “grupo” Baiano e os Novos Caetanos) e“Bloco do eu sozinho”, dos irmãos Valle,“Homem  do meu mundo”, também dos irmãos Valle e igualmente apresentada antes no festival de Juiz de Fora, com Eduardo Conde, e “Berenice”, com outra estreante de então, Vânia.  Tudo isso num verdadeiro álbum-documento, com o qual o TM encerra com chave de ouro sua retrospectiva dedicada aos festivais da MPB. Esperamos que vocês tenham gostado e apreciado, e desejamos-lhes um fim-de-ano cheio de alegria, e um ano novo repleto de realizações positivas e proveitosas!

a vez e a voz da paz – eduardo conde
ciranda do amor – roberto lima
litiral – gilda horta
sem assunto – cynara e cybele
retirada – rose valentim
homem do meu mundo – eduardo conde
peccata mundi – cynara e cybele
ultimatum – glória
berenice – vania
o jornal – cynara e cybele
o gaúcho – raul ellwanger
bloco do eu sozinho – cynara e cybele

*Texto de Samuel Machado Filho

I Festival Operário Da Música Popular Brasileira (1975)

Em sua retrospectiva “festivalesca”, o TM ofereceu anteriormente a seus amigos cultos, ocultos e associados um álbum documentando o festival interno de MPB promovido pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo em 1980. Pois bem: hoje apresentamos um precioso compacto duplo, com quatro concorrentes de um outro certame de que participaram trabalhadores. Batizado de I Festival Operário da Música Popular Brasileira, aconteceu em 1975, no estado do Rio Grande do Sul, iniciando-se em 2 de agosto e terminado em 21 de setembro, visando mostrar, conforme a chamada de capa, que “a boa música nasce nas fábricas”.  E foi bancado pelo próprio governo gaúcho,na gestão de Sinval Guazelli,  com a colaboração de empresas privadas (isso numa época em que os militares ainda governavam o Brasil, e os governadores de estado também eram eleitos indiretamente). Outro detalhe é que o compacto duplo com as músicas do festival foi lançado por uma “major” do setor fonográfico, a CBS, atual Sony Music, com a participação, nos arranjos, do então já veterano Alexandre Gnattali, irmão de Radamés. Duas faixas do disco são interpretadas por Waldir Mello, o samba-canção “Teu olhar” e o samba “Nossa guerra é diferente”, de cunho pacifista. O programa deste precioso disquinho se completa com o afro-samba “Cabo da Boa Esperança”, com o coral da CBS, e “Inquinação no samba” (pregando a volta do gênero às origens), com Vítor Ferreira e o grupo Som Kapela 6. Curioso também é o texto de apresentação do disco, escrito pelo então secretário do trabalho e ação social do governo riograndense, Carlos Alberto Gomes Chiarelli, afirmando que “ao lado do desenvolvimento econômico está o oferecimento  do bem-estar social para o trabalhador, incremento do lazer e da recreação”, além do objetivo de revelar novos talentos para nossa música popular. Ao que parece, os autores e intérpretes deste disco não foram lá muito longe, além do quê não há informação sobre qual foi a música vencedora. De qualquer forma, é um precioso documento que o TM nos revela, de um tempo em que nem sequer se imaginava que o Rio Grande do Sul iria enfrentar os graves problemas financeiros por que passa atualmente, e que por certo inviabilizariam iniciativas sócio-culturais como a do Festival Operário de MPB. Confiram…

teu olhar – valdir mello
nossa guerra é diferente – valdir mello
cabo da boa esperança – coral cbs
inquinação no samba – vitor ferreira

*Texto de Samuel Machado Filho

III Festival Bancário De MPB (1980)

Em seu livro “A era dos festivais – Uma parábola”, o pesquisador Zuza Homem de Mello informa que a mesma terminou em 1972, com o sétimo e último FIC (Festival Internacional da Canção), promovido no Rio de Janeiro pela TV Globo, após o quê foram realizados outros eventos esparsos do gênero, relacionados ao final do livro. A verdade, porém, é que festivais de música jamais deixaram de existir. Há, por exemplo,  escolas e colégios que, anualmente, promovem certames internos de música. Eu mesmo sou testemunha disso, pois estudei tecnologia têxtil no SENAI, quando morava em minha São Paulo natal, e os festivais estudantis de música promovidos pela Escola “Francisco Matarazzo”  (que se mudou do Brás para o Cambuci, em 1981) sempre foram bastante animados, com torcida organizada e tudo, a plateia cantando junto as músicas etc.  É assim, por certo, nas escolas, colégios e até mesmo faculdades  que boa parte de nossos amigos cultos, ocultos e associados frequentaram em seus tempos de estudante. Afinal de contas, quem nunca teve pelo menos um pouquinho de música em suas veias? Evidentemente, até sindicatos de trabalhadores promovem festivais internos de música popular. Aqui se enquadra o álbum que o TM nos oferece hoje, lançado em 1980, documentando o III Festival Bancário de MPB, promovido pelo sindicato paulistano da categoria (e, claro, produção independente). Nessa época, com a chamada “abertura lenta e gradual” promovida pelo regime militar, já em seus estertores finais, o sindicalismo brasileiro se revitalizou, a partir das greves de metalúrgicos no ABC paulista, capitaneadas pelo então presidente do sindicato da categoria, Luiz Inácio Lula da Silva. O álbum é dedicado a um certo Nélson C. Santos, falecido em uma terça-feira de carnaval, pouco antes do término dos trabalhos de gravação do disco. E resultou de brilhante iniciativa do departamento cultural do sindicato dos bancários paulistano, que então já acreditava nas atividades artísticas como instrumento de democratização do Brasil. As doze finalistas do certame (não há informação de qual foi a música vencedora, infelizmente) revelam cantores e compositores bastante inspirados, abordando temas diversos: homenagem ao homem do campo (“Imagem sertaneja”), pacifismo (“Nunca penso em guerra”), a luta do trabalhador pela sobrevivência (“O operário”, “Choro de breque”, “Zé carregador”), corrupção (“Uma rosa de cristal”), a saudade do retirante nordestino (“Sonho de voltar”)…  Tudo isso em trabalhos muito bem acabados, dando oportunidade a membros da categoria bancária, de mostrar talento, competência e inspiração no setor musical. Este disco praticamente encerra a retrospectiva dedicada aos festivais de música pelo TM, mas certamente não é um ponto final definitivo. Afinal, festivais de música continuam e continuarão sempre a existir ao redor de nós, ainda que não recebendo divulgação pela maior parte da mídia. E ponto final é uma coisa que o canto de nosso povo nunca teve, nem vai ter.

 rosa de cristal
sonho de voltar
chor de breque
o operário
despedida de um sambista
avesso
terra do sol
pegue o por do sol
pássaro doméstico
imagem sertaneja
zé na marra
nunca penso em guerra

*Texto de Samuel Machado Filho

I Festival Universitário de MPB (1979)

E prossegue a retrospectiva “festivalesca” do nosso Toque Musical. Desta vez, oferecemos hoje a nossos mui queridos amigos cultos, ocultos e associados o álbum que documenta o I Festival Universitário de MPB, promovido em 1979 pela TV Cultura de São Paulo, emissora estatal educativa que sempre se destacou pela qualidade de sua programação mas que, infelizmente, nos últimos tempos, vem sofrendo com sucessivos cortes de verbas por parte do governo do estado, e recentemente até enfrentou uma greve de funcionários. O certame constituiu-se na primeira experiência da Cultura em matéria de festivais competitivos. Realizado no Teatro Pixinguinha, hoje SESC Consolação, teve três eliminatórias, em 30 de abril, e nos dias 7 e 14 de maio, tendo a final acontecido no dia 21 desse mês. Como vocês poderão conferir na contracapa, o júri que escolheu as finalistas era pra ninguém botar defeito, com nomes ligados à MPB (Marcus Vinícius, Alaíde Costa, Tom Zé) e à crítica musical (Maurício Kubrusly, Chico de Assis, Adones de Oliveira, Renato de Moraes…). Enfim, gente especializada na matéria. O que, de certa maneira, contribuiu para o excelente resultado do certame a nível cultural e artístico. A faixa que abre este álbum da Continental é justamente a primeira colocada: “Diversões eletrônicas”, com o paranaense Arrigo Barnabé, mais tarde importante nome de vanguarda na MPB, já pintando e bordando (ele concorreu ainda com “Infortúnio”, também presente neste disco).  Muitos anos mais tarde, Arrigo passou também a ser radialista, apresentando o programa “Supertônica”, na Rádio Cultura paulistana. A vice-campeã, “Brigando na lua”, de e com Biafra, contou com o respeitável acompanhamento do grupo Premeditando o Breque, que também marcaria época no cenário musical paulistano, conhecido apenas por Premê.  Eliana Estevão defendeu a terceira colocada, “Meu grande amor suicida”, e ainda levou o prêmio de melhor intérprete profissional.  O quarto lugar foi de “Glória”, de e com Renato Lemos (que também apresentou “Coral dos gemedores”, outra faixa do presente LP), e o quinto foi para “Boneca de pano”, interpretada por José Carlos Ramos, laureado com o prêmio de melhor intérprete amador (ele ainda defenderia “Carruagens de cristal”, que encerra o disco). Tudo isso e muito mais dá a este álbum hoje oferecido pelo TM status de autêntico documento artístico e cultural, dando chance a então novos valores que então despontavam em nosso cenário musical. Se não, confiram. É só baixar e ouvir.

diversões eletrônicas – arrigo barnabé e grupo

brigando na lua – biafra

meu grande amor suicida – eliana estevão

glória – renato lemos

boneca de pano – josé carlos ramos

a turma do cometa – a banda dos aflitos

dia a dia – celso viáfora

a malhação – irene portela

amigo – julius m castilho

infortunio – arrigo barnabé e grupo

coral dos gemedores – renato lemos

carruagem de cristal – josé carlos ramos

*Texto de Samuel Machado Filho

Festival Da Feira Da Vila Madalena (1980)

Originalmente denominada Vila dos Farrapos, a Vila Madalena é um bairro nobre da cidade de São Paulo, situado no subdistrito de Pinheiros. Ficou bastante conhecida por ser um reduto boêmio da capital paulista, desde o início dos anos 1970, quando estudantes de pouco dinheiro passaram a ali residir, por causa da proximidade à Universidade de São Paulo (USP) e à Pontifícia Universidade Católica (PUC).  Na Vila Madalena, concentram-se inúmeros bares e casas noturnas, e lá também fica a Escola de Samba Pérola Negra. Há também ateliês, centros de exposições artísticas, lojas de vanguarda e escolas de música e teatro. O bairro até virou telenovela, exibida pela Globo no final dos anos 1990. A associação de moradores da Vila Madalena organiza feiras para mostrar os talentos artísticos do bairro, e um festival anual, conhecido como Feira da Vila, que atrai gente de toda São Paulo, com shows e barracas de artesanato. Sua primeira edição aconteceu em 1977, na Rua Girassol, e o evento já faz parte do calendário  oficial da capital paulista. Sendo assim, o Toque Musical prossegue seu ciclo dedicado aos festivais oferecendo a seus amigos cultos, ocultos e associados um álbum raro. O disco põe em foco a edição de 1980 do Festival da Feira da Vila Madalena, e foi lançado em 1980 pela Continental.  No repertório, estão doze das concorrentes do certame, inclusive a vencedora, “Tem Maria”, composta e interpretada por  Jorge Matheus. A vice-campeã foi “Improviso nordestino”, de e com Celso Machado, baseada em um arranjo do clássico “Juazeiro”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.  A terceira colocada, e que por certo ficou mais conhecida, foi “Nêgo Dito” (“Meu nome é Nêgo Dito João dos Santos Silva Beleleu”…), composta e interpretada por Itamar Assumpção (Tietê, SP, 13/9/1949-São Paulo, 12/6/2003), um dos ícones da música de vanguarda paulistana. Houve ainda menção honrosa para “Cool jazz”, de Cacá Mendes, com ele e Lúcia Nagib. Merece também destaque as participações de Celito Espíndola, irmão das cantoras Tetê e Alzira Espíndola, interpretando seu “Coração solitário”, e do futuro integrante da banda de rock Titãs, Paulo Miklos, com “Desenho”, feita por ele em parceria com Arnaldo Antunes, que seria a figura de proa do grupo em seus primeiros anos. Em suma, um álbum que documenta o que foi o Festival da Feira Livre da Vila Madalena de 1980, e com o qual o TM também homenageia esse bairro que vem se destacando como importante reduto sócio-cultural da capital paulista. É só conferir.

nêgo dito – itamar assumpção

improviso nordestino – celso machado

tem maria – jorge matheus

desenho – paulo miklos

coração solitário – celito espíndola

samba daqui – ricardo villas boas

o cheiro da beterraba – os camarões

cool jazz – cacá mendes e lucia nagib

recomeço – tuim

corujas da noite – rubens dultra e silvio piesco

gabriela – conjunto nosso som

menino doido – grupo arerê

 

 

*Texto de Samuel Machado Filho

Som Verde – I Festival Som Verde Da Música Sertaneja (1982)

O Toque Musical prossegue sua retrospectiva dedicada aos festivais apresentando desta vez o álbum com as doze finalistas de um certame de âmbito regional. Trata-se do I Festival Som Verde de Música Sertaneja, realizado em 1982 com promoção da Rádio Guarani Onda Rural, de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. A Guarani pertencia ao grupo Diários Associados e encerrou suas atividades por conta da venda de seus prefixos para igrejas evangélicas. Nessa mesma época, havia também o festival de música sertaneja da Rádio Record de São Paulo, que por certo motivou a Guarani a fazer algo semelhante em Minas. E com um patrocinador de prestígio: a Monark, fabricante de bicicletas, ainda hoje existente, embora sem a mesma participação de mercado que tinha na época. Além do imprescindível apoio da Secretaria de Agricultura mineira. O objetivo, conforme explica a contracapa do disco, era o de revelar novos cantores e compositores sertanejos. Foram sete eliminatórias e 84 músicas concorrentes. Doze delas foram para a final do certame, acontecida no Pavilhão de Exposições da Gameleira, em Belo Horizonte, que registrou um público de 25 mil pessoas presentes. E são justamente essas músicas finalistas que compõem o álbum que o TM hoje oferece a seus amigos cultos, ocultos e associados.  Gravado em Belo Horizonte mesmo, o disco saiu pela Continental (selo Chantecler), uma das gravadoras que mais investiam em música sertaneja na época, ao lado da extinta Copacabana. A única coisa que a contracapa não diz é qual foi a música vencedora. Como vocês perceberão, as músicas são interpretadas por duplas e trios oriundos de Minas mesmo, que certamente não ficaram conhecidos a nível nacional. Mas o esforço de ouvir este disco vale a pena, e muito, pois são trabalhos de primeiríssima qualidade, mostrando a mais autêntica música sertaneja brasileira. Um álbum que o TM oferece com a satisfação de sempre, e que será uma grata surpresa para todos que o baixarem e ouvirem. É só conferir…

meu boi carreiro –

recanto sertanejo – roninho e ronei

zé boiadeiro – caturana e flor da noite

assim é o meu sertão – os canários do sertão

carregando a minha cruz – matilde e manda brasa

cantiga do sertanejo – jaquelane e ibram

casas de barro – dudu e zezé

saudosa musa – mastro e maestro

tempo de boiadeiro –

tristeza de um carreiro – arcanjo e noé

*Texto de Samuel Machado Filho

Festival Da Viola – TV Tupi (1970)

Os festivais de música que assolaram o país nas décadas de 1960/70 tiveram, predominantemente, a participação de compositores urbanos, ou seja, nascidos e criados em cidades de grande porte. Um belo dia, Fernando Faro,  o “Baixo”, produtor de programas musicais que marcaram época na televisão brasileira, e então trabalhando na extinta Tupi de São Paulo, teve a feliz ideia de organizar um festival de música sertaneja (ou de inspiração sertaneja), objetivando colocar esse tipo de música no mesmo nível e importância da MPB urbana, além de despertar o interesse dos compositores dessa faixa para os ritmos ditos caipiras ou sertanejos. Foi assim que nasceu o Festival da Viola, com a devida colaboração de Magno Salerno, outro experiente membro da equipe de produção da Tupi nesses tempos, e do apresentador Geraldo Meirelles, cognominado “o marechal da música sertaneja”. O certame obteve grande repercussão na capital paulista, e a Tupi recebeu muitas cartas e telegramas cumprimentando os organizadores do festival pela iniciativa. As rádios paulistanas executaram bem as finalistas do certame, que eram até cantaroladas pelo povo nas ruas. Sendo assim, o Toque Musical prossegue sua retrospectiva “festivalesca” oferecendo hoje, a seus amigos cultos e associados, o álbum com as doze músicas apresentadas na finalíssima do Festival da Viola da extinta TV Tupi, editado em 1970 pela Copacabana, com o selo Sabiá. Pelo que pude apurar, a música que venceu o certame foi “À minha moda”, de Rolando Boldrin, o atual “Senhor Brasil”, defendida por ele em companhia da então esposa Lurdinha Pereira. Esta música, evidentemente, consta de nosso álbum de hoje, porém na interpretação de Nonô (Basílio) e Naná. O próprio Nonô, como autor, teve outras duas músicas classificadas para a final do festival: “A viola e a carabina” (que ele também canta com Naná neste disco, sendo inclusive a faixa de abertura) e “Devoção”, aqui interpretada pelos sempre afinadíssimos Titulares do Ritmo. Merece destaque também a presença, entre os intérpretes, de nomes queridos do cenário sertanejo de então, como Dino Franco e a dupla Criolo e Seresteiro. Letinho, que assina “Carro velho” em parceria com Criolo e Pedro Sabino de Oliveira, trocou mais tarde seu nome artístico, passando a ser conhecido como Ronaldo Adriano. Os Titulares do Ritmo ainda interpretam, neste álbum, “Da lua, da rua, do violão”, curiosamente assinada por Antônio Marcos, cantor de grande popularidade na época, mas que teve sua carreira destruída pelo alcoolismo, em parceria com o maestro José Briamonte. Outro ídolo popular dessa época, o cantor Paulo Sérgio, assina outras duas músicas, aqui interpretadas pelo mestre Dino Franco: “É hoje que a terra treme” (parceria com Tony Gomide) e “A boiada” (com Alcino de Freitas). Enfim, um esforço que valeu a pena, e hoje é um verdadeiro documento histórico. É também uma oportunidade, para o público de hoje, de conhecer um pouco do que se fazia nessa época em matéria de autêntica música sertaneja, que, como vocês facilmente perceberão, nada tem a ver com o estilo dito “universitário”, que tanto infesta a mídia nos dias que correm. Ê trem bão…

a viola e a carabina – nono e nana

a saudade continua – maracá, dorinho e nardeli

desafio – trio maraya

carro velho – criolo e seresteiro

é hoje que a terra treme – dino franco

da lua, da rua, do violão – titulares do ritmo

a minha moda – nono e nana

o caboclo também tem ética – altemir e altemar

devoção – titulares do ritmo

passarela – itaity e embalo 5

carreteiro da esperança – maracá, dorinho e nardeli

a boiada – dino franco

*Texto de Samuel Machado Filho

Gala 79 Apresenta: O Melhor Dos Festivais (1979)

Dando prosseguimento ao ciclo dedicado aos festivais, o Toque Musical oferece a seus amigos cultos, ocultos e associados mais uma compilação de primeira lançada pela Som Livre, braço fonográfico da Rede Globo de Televisão, dentro de uma série econômica, sob o selo Gala, em 1979. O título não poderia ser outro: “O melhor dos festivais”.  Em suas doze faixas, com seleção musical feita pelo inesquecível Márcio Antonucci (da dupla Os Vips), desfilam algumas das mais antológicas páginas musicais apresentadas  nos festivais da Record e da própria Globo. Abrindo, e muito bem, este disco, temos as duas vencedoras do festival de MPB da Record em 1966: “Disparada”, na interpretação insuperável do inesquecível Jair Rodrigues, acompanhado pelo Trio Marayá (destacando-se, na percussão, a queixada de burro de Aírto Moreira), e, em seguida, “A banda”, com seu autor, Chico Buarque, defendida no certame por ele e Nara Leão. A terceira faixa, do festival da Record de 1967, é “Domingo no parque”, com Gilberto Gil acompanhado pelos Mutantes, e orquestração de Rogério Duprat. Vice-campeã do certame, foi, ao lado de “Alegria, alegria”, de Caetano Veloso (não incluída aqui), uma das músicas que detonaram o movimento tropicalista, de ampla importância artística e cultural. Do FIC (Festival Internacional da Canção) de 1967 é a antológica “Travessia”, que revelou para todo o Brasil o nome de Mílton Nascimento, mais tarde um dos monstros sagrados da MPB, além de lhe dar o prêmio de melhor intérprete.  “O cantador”, originalmente defendida por Elis Regina no festival da Record, também de 67, é aqui interpretada por Maria Creuza, que se notabilizou na MPB por interpretar canções de cunho romântico. Do FIC de 1971 é “Casa no campo”, que Zé Rodrix, seu autor em parceria com Tavito, apresentou inicialmente no Festival de Juiz de Fora, Minas Gerais, vencendo o  certame. No FIC, porém, ficou apenas em nono lugar na fase nacional, mas Elis Regina, que presidia o júri do festival, apaixonou-se por “Casa no campo” e a gravou imediatamente, alcançando um dos maiores hits de sua carreira. O próprio Rodrix gravou a música duas vezes, a primeira em 1971, e a segunda em 1976, para o álbum “Soy latino-americano” (é a que está neste disco).  Terceira colocada no festival  da Record de 1967, “Roda viva” está aqui presente com quem a defendeu no certame, ou seja, o próprio Chico mais o MPB-4. Mais tarde, daria título a uma polêmica peça teatral escrita por ele mesmo. Em seguida, o primeiro grande sucesso de Beth Carvalho, “Andança”, com ela e os Golden Boys, terceira colocada na fase nacional do FIC de 1968, e que Beth manteria para sempre em seu repertório.  Do FIC de 1970 é “Universo do teu corpo”, de e com o saudoso Taiguara, uruguaio radicado no Brasil. Embora conquistando apenas o oitavo lugar na fase nacional, foi grande sucesso na época e tornou-se um clássico da MPB. A faixa seguinte é do FIC anterior, de 1969, e foi a segunda e última vez em que uma música brasileira venceu o certame também na fase internacional, conquistando o troféu Galo de Ouro: “Cantiga por Luciana”, na voz suave da grande Evinha, então assinando-se apenas Eva e iniciando triunfalmente carreira-solo, afastando-se gradativamente do Trio Esperança, que integrava junto com os irmãos Mário e Regina. Depois, volta Chico Buarque, desta vez interpretando sua “Carolina”, do FIC de 1967, terceira colocada na fase nacional, defendida por Cynara e Cybele. E encerrando com chave de ouro, e no maior alto astral, temos a agitadíssima Maria Alcina, interpretando outro grande clássico: “Fio maravilha”, de autoria de Jorge Ben (atual Ben Jor), apresentada no sétimo e último FIC promovido pela Globo, em 1972. Vencedora na fase nacional junto com “Diálogo”, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, “Fio maravilha” obteve menção honrosa na internacional, ingressando entre os clássicos de nossa música popular, e é uma homenagem ao jogador Fio (João Batista de Sales), então craque do Flamengo, clube de coração de Jorge da Capadócia. Como se percebe, é uma compilação que certamente trará recordações de momentos inesquecíveis a quem viveu a época áurea dos festivais de música, e surpreenderá agradavelmente aqueles que ainda não conhecem estes antológicos sucessos. É baixar, ouvir e conferir…

disparada – jair rodrigues

a banda – chico buarque

travessia – milton nascimento

cantador – maria creuza

casa no campo – zé rodrix

roda viva – chico buarque

andança – beth carvalho e golden boys

universo no teu corpo – taiguara

cantiga por luciana – eva

carolina – chico buarque

fio maravilha – maria alcina

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 *Texto de Samuel Machado Filho

V Festival Internacional Da Canção Popular-Rio (1970)

Prosseguindo o ciclo dos festivais de música, o TM apresenta hoje, a seus amigos cultos, ocultos e associados, o álbum com as músicas que concorreram na fase internacional do quinto FIC (Festival Internacional da Canção), promovido pela TV Globo em 1970. Lançado pela Polydor/Philips, ele já havia sido apresentado aqui anteriormente, mas agora retorna com os links devidamente repostos. A faixa de abertura é exatamente a que venceu a fase internacional, representando a Argentina: “Pedro Nadie”, com Piero, que derrotou a concorrente brasileira, “BR-3”, de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, defendida por Tony Tornado e aqui na voz de Gerson Combo, uma vez que Tony era então do elenco da Odeon. As demais concorrentes “gringas” não ficaram lá muito conhecidas, mas o disco mesmo assim vale como documento. E vale também pela música que ficou em sexto lugar na fase nacional, mas agradou tanto que foi reapresentada no dia do encerramento do FIC: “Eu também quero mocotó”, de Jorge Ben (atual Ben Jor), defendida por Erlon Chaves com sua Banda Veneno. Na gravação ele conta com o apoio do coro SAM (Sociedade Amigos do Mocotó), que tinha mais de 40 integrantes nas apresentações ao vivo. Entretanto, ao encerrar sua apresentação, na qual estava cercado de belas mulheres, Erlon provocou o maior escândalo ao beijar uma linda loira, olhar para as câmeras e dizer que, com aquele gesto, estava beijando todas as brasileiras! Algo inadmissível  para os valores morais então vigentes, além do quê era época de ditadura militar “braba”. O resultado: Erlon Chaves saiu do Maracanãzinho algemado, e ainda proibido por 30 dias de exercer qualquer atividade artístico-musical! Nesse período, Erlon sumiu de cena e, ao retomar seu trabalho, voltou a ser apenas maestro e arranjador, até falecer, em 1974, de infarto fulminante. Enfim, o TM nos oferece hoje a alegria do reencontro, ao trazer este álbum documentando a fase internacional do FIC de 1970. Afinal, todos merecem uma segunda chance… .

argentina – pedro nadie – pero
brasil – br-3 – gerson combo & orquestra som bateau
suécia – det ljuva livet – sylvie schneider
grécia – georges is sly – marinella
bélgica – who can tell me my name – music machine
inglaterra – out of the darkness – vincent deal
the best man – rocky shahan
brasil – eu também quero mocotó – s.a.m. & banda veneno de erlon chaves
frança – et pourtant c’est vrai – michelle olivier
canadá – put it off till september – les amis
mônaco – rire ou pleurer – michele torr
itália – tu non sei piu innamorato di me – diva paoli
espanha – elizabeth – nino bravo
holanda – just be you – rita heyes
*Texto de Samuel Machado Filho

II Festival Universitário da Guanabara (1969)

Olá, amigos cultos, ocultos e associados! Prosseguindo o ciclo dedicado aos festivais, o TM nos oferece hoje um compacto duplo com quatro músicas que concorreram no II Festival Universitário do Rio de Janeiro (então estado da Guanabara), promovido pela TV Tupi em 1969. Ao contrário dos certames similares promovidos pelas TVs Excelsior, Record e Globo, este destinava-se exclusivamente a compositores universitários, e foi realizado pela Tupi no Rio de Janeiro e em São Paulo durante quatro anos, de 1968 e 1972. Curiosamente, não consta deste compacto da Odeon a música vencedora da edição carioca de 1969 (quando o regime militar e, por tabela, a censura,  já estavam bastante endurecidos, com a decretação do draconiano Ato Institucional número 5), “O trem”, de e com Gonzaguinha, então assinando-se Luiz Gonzaga Júnior. Em compensação, vamos encontrar aqui grandes nomes da MPB em princípio de carreira, aos quais coube a apresentação das músicas dos então jovens compositores universitários.  Abrindo o precioso disquinho, temos “Nada sei de eterno” de Sílvio da Silva Jr. e Aldir Blanc, na voz de Taiguara, incluída depois no primeiro LP do cantor-compositor, uruguaio radicado no Brasil. “Dois minutos de um novo dia”, de Ruy Maurity e José Jorge, é interpretada pelo grupo Antônio Adolfo & A Brazuca, então em evidência.  Clara Nunes, acompanhada pelo Quarteto 004, apresenta a quinta colocada, “De esquina em esquina”, de César Costa Filho e Aldir Blanc, incluída depois no terceiro LP de Clara, “A beleza que canta”. Finalizando, os sempre afinadíssimos Golden Boys, interpretando “A menina e a fonte”, de Arthur  Verocai, Paulinho Tapajós e Arnoldo Medeiros.  Enfim, é um pequeno-grande documento sonoro que enriquecerá os acervos de tantos quantos apreciem o que a MPB produziu de melhor e mais expressivo na década de 1960. É só conferir…

nada sei de eterno – taiguara
2 minutos de um novo dia – antonio adolfo & a brazuka
de esquina em esquina – clara nunes
a menina e a fonte – golden boys

*Texto de Samuel Machado Filho

III Festival Internacional Da Canção Popular Rio – As 10 Mais Internacionais (1968)

Augusto José Marzagão (Barretos, SP, 12/12/1929) foi um verdadeiro “bruxo” da comunicação, no bom sentido, é claro. Sua atribulada trajetória pessoal iniciou-se aos 22 anos, nas funções de colaborador do então prefeito de São Paulo, Jânio Quadros. Depois disso, Marzagão passou vários anos na surdina, arquitetando um empreendimento fadado a marcar presença  numa difícil etapa da vida cultural brasileira: o FIC (Festival Internacional da Canção). E tudo começou em 1965, quando ele foi contatado pela Secretaria de Turismo do Rio de Janeiro, então estado da Guanabara, a fim de organizar uma agenda de promoções e realizar um projeto de divulgação do turismo. Entre as músicas nacionais concorrentes, o FIC premiava uma delas, que se classificaria para a segunda etapa, disputando o troféu Galo de Ouro com candidatos de outros países. O certame teve sete edições no ginásio Maracanãzinho, a primeira com promoção da TV Rio, em 1966, e as demais, entre 1967 e 1972, pela Globo. Marcaram época o bordão do apresentador Hílton Gomes, “Boa sorte, maestro!”, e o “Hino do FIC”, de autoria de Erlon Chaves. Os FICs mudaram e enriqueceram  não só a MPB, mas também a própria vida inteligente do país. Vários nomes de prestígio em nossa música popular foram revelados e/ou projetados nacionalmente pelas sete edições do FIC: Mílton Nascimento, Guarabyra, Beth Carvalho, Zé Rodrix, Egberto Gismonti, a dupla Antônio Adolfo-Tibério Gaspar, Taiguara, Paulinho Tapajós e muitos outros mais. Ter aberto essa clareira privilegiada ao talento, em situação particularmente adversa, constituiu, por si só, uma realização pessoal  de projeção suficiente para abrir uma página de nossa história cultural a Augusto Marzagão. Prosseguindo o ciclo dedicado aos festivais, o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados um álbum referente à terceira edição do FIC, realizada em 1968. Subintitulado ‘As 14 mais internacionais”, é, evidentemente, dedicado à fase “gringa” do evento, e foi lançado pela Philips, gravadora que também editou os três LPs que reuniram todas as concorrentes da fase nacional. E foi justamente no FIC de 68 que o Brasil ganhou pela primeira vez o Galo de Ouro, com “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque, a faixa de abertura deste disco, interpretada pelas sempre afinadíssimas vozes do MPB-4 (originalmente foi defendida pela dupla Cynara e Cybele, ex-integrantes do Quarteto em Cy). Era uma espécie de “canção do exílio”, que transmitia bem o clima político da época (o co-autor, Chico Buarque, já estava exilado voluntariamente na Itália), mas o público a considerou alienante e a vaiou impiedosamente, pois preferia “Caminhando (Pra não dizer que não falei das flores)”, de Geraldo Vandré, que acabou vice-campeã e foi proibida pela censura do regime militar, sendo liberada apenas onze anos depois. As outras treze faixas, claro, apresentam músicas de vários países, que concorreram com “Sabiá” na fase internacional do certame. Entre elas uma curiosidade: a música representante da Romênia, “Le bruit des vagues”, defendida originalmente por seu co-autor, Romuald, e aqui na voz de um obscuro Ronaldo, fez bastante sucesso mais tarde numa versão em português de Flávia de Queiroz Lima, gravada por Altemar Dutra, com o nome de “Murmura o mar”. Outro destaque fica por conta da concorrente de Luxemburgo, “Jogo de futebol”, composta e interpretada por Antoine, e mais tarde regravada pelos Brazilian Bitles e pelos Fevers (note-se, na interpretação do autor, que ele canta algumas palavras em português!). E é justo também fazermos menção a Françoise Hardy, autora e intérprete da concorrente da sua França natal, “A quoi ça sert”, e ao grande Jimmy Cliff, que assina e interpreta a concorrente da sua Jamaica, “Waterfall”. Enfim, todo o disco é um documento interessante do que foi a fase internacional do FIC de 1968. Para baixar, ouvir e guardar!

brasil – sabiá
andorra – le bruit des vagues
jamaica – waterfail
estados unidos – mary
itália – non domandarti
suécia – no one can say
finlândia – ill find a place for me someday
japãp – sayonara, sayonara
canadá – this crazy world
frança – a quoi ça sert
luxemburgo – jogo de futebol
monaco – un doamance apres la fin du monde
noruega – i feel so strong
holanda – the blue bird flew away

*Texto de Samuel Machado Filho

III Festival Da Música Popular Brasileira – As Doze Finalistas (1967)

O TM prossegue sua série de álbuns dedicada a festivais de música apresentando a seus amigos cultos, ocultos e associados este curioso exemplar do gênero. O certame em foco aqui é o III Festival de MPB da TV Record, acontecido em 1967, e que ficou conhecido como “o festival da virada”, pois foi nele que Caetano Veloso e Gilberto Gil ensaiaram os primeiros passos da Tropicália, com músicas que a seguir comentaremos, e assim por diante. O lançamento deste disco ficou por conta da Chantecler, então braço fonográfico das lojas Cássio Muniz (espécie de Magazine Luiza da época, mal comparando), que colocou praticamente todo o seu cast na época para interpretar  as doze finalistas do certame (acrescidas de mais duas faixas), com arranjos a cargo de Damiano Cozzella, Willy Join, Edmundo Cortes e Jacques Sandi, este o regente em todas as faixas. E com direito até a uma foto, na capa, do antigo Teatro Paramount (então conhecido por Record Centro, e hoje Teatro Renault), onde aconteceram as eliminatórias e a final desse histórico e importantíssimo certame musical. Naquele tempo, praticamente todas as gravadoras se beneficiavam do “boom” de vendas dos discos de festivais, e não é de se estranhar que a Chantecler também fizesse o seu, com os recursos (e contratados) de que então dispunha. Se não, vejamos: logo na abertura temos a vencedora, “Ponteio”, de Edu Lobo e Capinam, originalmente defendia por Edu com Marília Medalha e o conjunto vocal Momento Quatro, aqui interpretada em dupla por Joelma (então já sucesso nas paradas com músicas românticas) e Carlos Cézar. “Bom dia”, de Gilberto Gil e Nana Caymmi, que esta última defendeu, aqui vem com Mariana Porto de Aragão. “Roda viva”, de Chico Buarque, defendida por ele próprio no festival, é interpretada neste disco por José Augusto Sergipano (vamos chama-lo assim para não confundir com o atual, que é carioca), cujo repertório era recheado de boleros e canções românticas. “A estrada e o violeiro”, de Sidney Miller, que ele próprio apresentou junto com Nara Leão, aqui vem com a obscura Maria Helena, em dupla com Marcelo Duran. “O cantador”, de Dori Caymmi e Nélson Motta, que deu a Elis Regina o prêmio de melhor intérprete do certame, é cantada neste disco por Nalva Aguiar, então grande estrela da Jovem Guarda, que mais tarde, a exemplo de Sérgio Reis, abrigou-se entre os artistas sertanejos. “Samba de Maria”, de Frsancis Hime e Vinícius de Moraes, apresentada originalmente por Jair Rodrigues, aqui vem com a obscura Simoney.  Defendida nesse festival por Ronnie Von, a marcha-rancho “Uma dúzia de rosas” aqui vem, curiosamente, na voz de Rosa Miyake, paulista de Lins, descendente de japoneses, recém-saída da novela “Yoshiko, um poema de amor”, da extinta Tupi, onde fez o papel principal. Rosa também apresentou durante anos o programa “Imagens do Japão”, dedicado à colônia nipônica, e exibido em várias emissoras, inclusive a Gazeta de São Paulo e a extinta Rede Mulher. O eterno e inesquecível Reginaldo Rossi foi escalado para interpretar, neste disco, “Domingo no parque”, de Gilberto Gil, uma das músicas que começou a odisseia do movimento tropicalista. A outra, “Alegria, alegria”, de Caetano Veloso, tem sua interpretação neste disco a cargo do obscuro Toni Ricardo. “Ventania ou De como um homem perdeu seu cavalo e continuou andando”, de Geraldo Vandré, é cantada neste álbum por Edmundo DaMatta, intérprete cujas primeiras apresentações públicas aconteceram em 1964, no programa “Hebe e simpatia”, apresentado por Hebe Camargo, por tabela sua madrinha artística, na antiga TV Paulista, futura Globo (é só o que se sabe dele). Na faixa seguinte, volta José Augusto Sergipano, para interpretar o frevo “Gabriela”, de Chico Maranhão, originalmente defendido pelo MPB-4. Cantor, apresentador de rádio e TV  e também dublador de vários personagens de desenhos animados norte-americanos, como  o gato Batatinha (da turma do Manda-Chuva) e a tartaruga Touchê, Roberto Barreiros foi escalado pela “marca do galinho madrugador” para interpretar o belo samba “Maria, carnaval e cinzas”, de Luiz Carlos Paraná, originalmente defendido pelo “rei” Roberto Carlos. Em seguida, volta também Marcelo Duran, agora com a polêmica “Beto bom de bola”, aquela que, de tão vaiada, fez com que seu autor e intérprete, Sérgio Ricardo, quebrasse seu violão e o atirasse na plateia, fato que marcaria para sempre a carreira de Sérgio. Por fim, temos Giane, criadora de hits românticos como “Dominique”, “Angelita” e “Olhos tristes”, interpretando “Volta amanhã”, de Fernando César e Maria Brito, curiosamente também vaiada pela plateia quando defendida no festival pela já citada Hebe Camargo. Enfim, mesmo sendo um álbum apenas de “covers”, é um trabalho curioso e interessante, que permite comparar estas interpretações com as dos cantores que defenderam estas músicas nesse que, sem dúvida, foi um dos mais importantes festivais de MPB em todos os tempos. Confiram…

ponteio – joelma e carlos cezar

bom dia – mariana porto de aragão

roda viva – josé augusto

a estrada e o violeiro – maria helena e marcelo dutan

o cantador – nalva aguiar

samba de maria – simoney

uma dúzia de rosas – rosa miyake

domingo no parque – reginaldo rossi

alegria alegria – toni ricardo

de como um homem perdeu seu cavalo e continuou andando – edmundo matta

gabriela – josé augusto

maria carnaval e cinzas – roberto barreiros

beto bom de bola – marcelo duran

volta amanhã – giane

*Texto de Samuel Machado Filho

Festival Dos Festivais (1966)

Boa tarde, caríssimos amigos cultos e ocultos! Aproveitando que eu andei digitalizando alguns discos de festivais, achei por bem compartilha-los com vocês. Já encaminhei um tanto para que o nosso resenhista de plantão, o Samuca, faça aqui as devidas e sequentes apresentações. Eu, mais uma vez, vou me limitar apenas na seleção e publicação das postagens. Eventualmente, vou dando uns pitacos.
Iniciando a semana dedicada aos festivais de música, que muito sucesso faziam desde os anos 60, eu abro com este lp, lançado pelo selo Philips em 1966. Trata-se de uma coletânea, um resumo de suas produções para alguns dos festivais de música da época. Escolhi este lp para abrirmos nossa semana temática também por conta de uma contracapa cheia de informações, que me garante uma postagem imediata. Nem preciso entrar em detalhes. Me poupem… hehehe…

saveiros – elis regina
gina – wayne fontana
a banda – nara leão
ensaio geral – gilberto gil
dia das rosas – claudette soares
amor, sempre amor – f. pereira
o cavaleiro – geraldo vandré
disparada – jair rodrigues
canção de não cantar – elis regina
fran den wind – ronaldo
chorar e cantar – claudette soares
jogo de roda – elis regina
canção do negro amor – silvio aleixo

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Toquinho – A Sombra De Um Jatobá (1989)

Um cantor, compositor e violonista notável, de longa e vitoriosa carreira no cenário musical brasileiro. Assim é Antônio Pecci Filho, o Toquinho, hoje posto em foco pelo Toque Musical. Ele veio ao mundo no dia 6 de julho de 1946, em São Paulo, e ganhou da mãe o apelido que o acompanharia em toda a sua trajetória . Interessado pelo violão, começou a tomar aulas desde os primeiros anos de sua adolescência. Aprendiz de outro grande violonista, Paulinho Nogueira, acumulou conhecimento para o solo e o acompanhamento, após buscar outras influências, como as de Oscar Castro Neves, Isaías Sávio e Léo Peracchi. A partir da experiência técnica acumulada, começaram suas apresentações públicas, em colégios, faculdades e clubes. O primeiro a colocar letra em uma composição de Toquinho foi Chico Buarque, daí nascendo a música “Lua nova”. Em 1966, lança seu primeiro LP, “O violão de Toquinho”, um trabalho totalmente instrumental. Aproveitando a visibilidade da época, apresenta-se em programas musicais da televisão, inclusive os famosos festivais de MPB da antiga Record. Em 1969, compõe e grava, em dupla com Jorge Ben (depois Ben  Jor), dois grandes sucessos: “Que maravilha” e “Carolina Carol bela”. No mesmo ano, novamente ao lado de Chico Buarque, fez uma turnê pela Itália, durante a qual gravou o álbum “La vita, amico, é l’arte dell’incontro”, com poemas de Vinícius de Moraes musicados e gravados por artistas italianos como Giuseppe Ungaretti e Sergio Endrigo. Entusiasmado com a homenagem, o próprio Vinícius convidou Toquinho para uma temporada de shows na Argentina, ao lado da cantora Maria Creuza. Assim nasceu a dupla Toquinho e Vinícius, sucesso absoluto no Brasil e no exterior, tanto em discos quanto em shows, e que só terminaria em 1980, com a morte do Poetinha. Ao longo da década de 80, Toquinho continuou com grande prestígio, participando do Festival de Jazz de Montreux, Suíça, e tendo sua arte reconhecida internacionalmente. Mais de 65 álbuns gravados, cerca de 260 composições musicais (como esquecer sucessos tipo “Na boca da noite”,  “Aquarela”, “Ao que vai chegar”, “Era uma vez”, “O caderno”, “Tarde em Itapoã”, “Morena flor”, “Coisas do coração” e tantos outros?), e mais de 2.000 shows realizados no Brasil e no exterior, estão no respeitável currículo de nosso Toquinho. E dessa extensa e expressiva discografia, o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados, o quadragésimo-segundo LP de sua carreira, “À sombra de um jatobá”, lançado em 1989 pela RCA/BMG, atual Sony Music. Produzido pelo próprio Toquinho em parceria com Ed Wilson, também cantor e compositor, que ficou famoso no tempo da Jovem Guarda, este trabalho tem dez faixas, a maior parte  assinadas por ele próprio, sozinho ou com parceiros, instrumentadas por arranjadores conceituados, tipo Lincoln Olivetti, Jotinha e Ivan Paulo. Nele, Toquinho mescla gêneros musicais diversos, da balada ao samba rasgado, e não faltam convidados especiais, caso de Eliana Estevão (na faixa “Prêmio e castigo”) e Fagner (“Lindo e triste Brasil”). A faixa de abertura, “Linho e flanela”, é versão do próprio Toquinho para uma música do dominicano Juan Luís Guerra, de quem Fagner também verteu “Borbulhas de amor” (“Burbujas de amor”), posteriormente. O saudoso Vinícius de Moraes assina com Toquinho “Planta baixa”, originalmente lançada em 1974 pelo cantor Betinho, na trilha sonora da novela global “Fogo sobre terra”, e os parceiros de Toquinho em “Nosso amor” são o co-produtor deste disco, Ed Wilson, e Paulo Sérgio Valle. Ele ainda assina, com o irmão João Carlos, “Doce martíro”, e com Mutinho , sobrinho do imortal Lupicínio Rodrigues, “Canção pra Mônica”, que encerra o disco. Todo esse conjunto reafirma a qualidade do trabalho musical de Toquinho, e mostra porque ele é, ainda hoje, importantíssima referência para novos intérpretes e instrumentistas em início de carreira.

lindo e trriste brasil
nosso amor
caminhado juntos
planta baixa
a sombra de um jatobá
prêmio e castigo
doce martírio
misturando idiomas
canção pra monica
linho e flanela

*Texto de Samuel Machado Filho

Feche Os Olhos E Sinta (1989)

Para encerrar com chave de ouro a série de álbuns dedicados à Jovem Guarda, sem dúvida o primeiro movimento de massa da história da MPB, o Toque Musical oferece prazeirosamente a seus amigos cultos, ocultos e associados uma coletânea de primeira, lançada em 1989 pela EMI (gravadora incorporada anos mais tarde pela Universal Music). Intitulado “Feche os olhos e sinta”, este disco reúne 16 faixas, garimpadas nos arquivos da antiga multinacional britânica, e a seleção musical foi feita por Francisco Rodrigues. Uma coletânea, sim, mas repleta de momentos antológicos e inesquecíveis. Abrindo o disco, a antológica “Festa do Bolinha”, de Roberto & Erasmo Carlos, com o Trio Esperança.  É baseada nos personagens de quadrinhos criados em 1935 pela cartunista norte-americana Marge (Marjorie Henderson Buell) – Luluzinha, Bolinha, Aninha, etc. -, e que se tornariam entretenimento de gerações seguidas, inclusive no Brasil, onde foram publicados pelas editoras O Cruzeiro, Abril, Devil e Pixel. Lançada em compacto simples, em maio de 1965, “A festa do Bolinha” deu título, mais tarde, ao terceiro LP do Trio Esperança, marcando a infância de muitos… inclusive a minha! O grupo também bate ponto aqui com seu primeiro grande sucesso, “Filme triste (Sad movies/Make me cry)”, lançado em 1962, ainda em 78 rpm, e incluído, um ano mais tarde, no LP “Nós somos o sucesso”, o primeiro do trio. “Feche os olhos (All my loving)”, versão de um clássico dos Beatles, celebrizada por Renato e seus Blue Caps, é aqui revivida em uma regravação feita pelo ex-vocalista do grupo (e irmão de seu fundador, Renato Barros, também autor da letra brazuca), Paulo Cézar Barros, em 1977. Formada por José Rodrigues da Silva e Décio Scarpelli, ambos paulistas de Santos, a dupla Deny e Dino aqui comparece com duas faixas imperdíveis: a primeira é “Coruja”, seu primeiro e maior sucesso, lançado em 1966 e que batizou o primeiro LP de ambos, e a divertida marcha-rancho “O ciúme”, hit de um ano mais tarde. Sérgio Reis, o “grandão”, vem aqui com seu primeiro e inesquecível sucesso, “Coração de papel”, composição dele mesmo. Lançado em fins de 1966, atravessou quase todo o ano seguinte em primeiro lugar nas paradas de sucesso: QUARENTA E TRÊS semanas! Anos mais tarde, vocês sabem, Sérgio Reis aderiu à música sertaneja, com êxitos sobre êxitos. Eduardo Araújo, outro ícone da música jovem daqueles tempos,  aqui nos apresenta outros dois hits inesquecíveis, até hoje rememorados: “Vem quente que eu estou fervendo”, parceria dele mesmo com Carlos Imperial, também gravado por Erasmo Carlos e mais tarde revivido pelo conjunto Barão Vermelho, e “O bom”, este só de Imperial,  que se tornaria um verdadeiro hino da Jovem Guarda,  e carro-chefe de Eduardo Araújo para todo o sempre. Conhecidos como “os reis dos bailes”, os Fevers nos apresentam outras duas faixas, ambas versões de Rossini Pinto, sem dúvida um especialista na matéria: “Já cansei (It’s too late)”, originalmente sucesso de Johnny Rivers, e “Vem me ajudar (Help, get me some help)”, hit em todo o mundo com o cantor holandês Tony Ronald. O inesquecível “rei da pilantragem”, Wilson Simonal, tem aqui outras duas faixas: a primeira é “Mamãe passou açúcar em mim”, de Carlos Imperial, sem dúvida um clássico na interpretação do eterno Simona. E a segunda é uma bem humorada versão dele para “Se você pensa”, de Roberto & Erasmo Carlos, com aquele toque pessoal que só ele sabia dar. A versão “Escândalo em família (Shame and scandal in the family)”, celebrizada por Renato e seus Blue Caps em 1965, vem aqui numa regravação de 1976, a cargo do grupo Década Romântica, que, como vocês perceberão pelo timbre vocal de seus integrantes, eram, na verdade, os Golden Boys! E eles aparecem em outras três faixas, todas clássicos imperdíveis: “Alguém na multidão”, do já citado Rossini Pinto, que seria o carro-chefe do grupo para sempre,  a “bítlica”“Michelle”, e “Pensando nela (Bus stop)”, hit originalmente do grupo britânico The Hollies, ambas também abrasileiradas por Rossini. Enfim, um disco que irá, por certo, proporcionar momentos de feliz reminiscência a todos aqueles que têm, carinhosamente em suas memórias, estes inesquecíveis sucessos, e também mostrar para as gerações atuais, um pouco do que foi este movimento musical bastante expressivo que foi a Jovem Guarda.  Uma festa de arromba pra ninguém botar defeito!

a festa do bolinha – trio esperança

feche os olhos e sinta – paulo cezar

coruja – deny e dino

coração de papel – sérgio reis

pensando nela – golden boys

vem quente que eu estou fervendo – eduardo araújo

já cansei – the fevers

mamãe passou açucar em mim – wilson simonal

o bom – eduardo araújo

filme triste – trio esperança

o ciúme – deny e dino

escândalo em família – década romântica

alguém na multidão – golden boys

se você pensa – wilson simonal

vem me ajudar – the fevers

michelle – golden boys e the fevers

*Texto de Samuel Machado Filho