Bom dia, amigos cultos e ocultos! Hoje temos aqui um disco independente, álbum solo da cantora Bimba. Bimba? Este talvez seja o questionamento de muitos e foi também o meu no primeiro momento que vi a capa. Quem é essa cantora que atende pela alcunha de Bimba? De Bimba, que eu me lembrasse era apenas o mestre Manoel dos Reis, precursor da Capoeira. Chegou a me causar estranheza esse nome, que irremediavelmente me levou para um lado irônico e malicioso (ups! sem comentários). Mas não demorou muito para que eu caísse na real. Bastou por o disco para tocar e ler a ficha técnica no encarte. Claro, agora me lembrei… Bimba, na verdade é Semíramis, cantora que fez parte do grupo A Brazuka, de Antonio Adolfo e do quinteto Samba S.A., de Mário Castro Neves. Antes disso porém, em 1967, ela fez parte do Quarteto em Cy, passando a assinar Cymiramis. E com este grupo feminino ela excursionou pelos Estados Unidos. A partir da década de 80 ela volta em disco solo, já com o nome de Bimba. Até onde eu sei, ela gravou dois discos, um em 79 e este de 80, todos os dois sendo produção independente. Para este álbum que apresentamos, Bimba contou com a produção, arranjos e regências de Antonio Adolfo. Participam do discos instrumentista importantes, tais como Rick Ferreira, Márcio Montarroyos, Leo Gandelman, Luis Claudio Ramos, Claudio Stevenson e outros…
Mário Pereira – Na Praia (1965)
Boa noite, amigos cultos e ocultos! Trago hoje para vocês o clarinetista Mário Pereira, um músico capixaba, que atuou pela CBS nas décadas de 60 e 70. Fez parte do Regional de Canhoto, que foi quem o trouxe para a gravadora. Na CBS, gravou pelo menos uns seis discos, além de participação em discos de outros artistas. Formou na década de 80 seu próprio regional, sendo consagrado com um dos grandes músicos do choro. Também tinha um conjunto de baile e alegrou muita festa, principalmente nos subúrbios do Rio. Este lp foi o segundo disco gravado por ele. Seu último trabalho, pelo menos até onde eu sei, foi o cd independente “Gafierando”, com temas de sua própria autoria. Confiram…
Beth Carvalho – Beth (1986)
O TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados mais um álbum desta grande dama do samba que é Beth Carvalho. Com mais de 50 anos de carreira, ela já recebeu dezessete discos de ouro, nove de platina, e dois DVDs de platina, além de centenas de troféus e premiações. E, desta vez, o TM nos traz “Beth”, lançado em 1986 pela RCA (depois BMG, e hoje Sony Music). Produzido por Renato Corrêa, dos Golden Boys, foi dedicado pela própria Beth a Nara Leão, também sua amiga pessoal, a quem sempre admirou por ter buscado os compositores do povo, cantando suas tristezas e alegrias, e captar os anseios populares. Conforme assinala a jornalista Lena Frias no texto de apresentação, o disco traz uma Beth “ainda mais engajada político-ideologicamente, comprometida com o país e seus destinos”. O que comprova a faixa de maior sucesso do álbum, “Corda no pescoço”, de Almir Guineto e Adalto Magalha, a primeira desse trabalho a chamar a atenção das rádios e do público. E cuja letra, infelizmente, continua atualíssima. Há boas regravações de “Chega de saudade”, clássico da bossa nova, e “Coisa de pele”, originalmente sucesso na voz de seu co-autor, Jorge Aragão. De quebra, as participações especiais de Zeca Pagodinho em “Dor de amor”, e da cantora argentina Mercedes Sosa, então símbolo vivo da resistência na América Latina, em “Eu só peço a Deus”, num vigoroso “protesto da latinidade”. Com direito a um trabalho inédito de Cartola, falecido seis anos antes, “Espero por ti”, e uma composição do forrozeiro Jorge de Altinho, “Eu quero mais”. Em suas treze faixas, “Beth” é um trabalho impecável, muito bem produzido, de uma artista que sempre acreditou na arte gestada e nascida em terreiros, botecos e tendinhas, tanto que, quando este disco foi lançado, o chamado “pagode de mesa” estourou nas emissoras de rádio, tornando-se mania nacional. Há ainda composições de Arlindo Cruz, Sombrinha, Luiz Carlos da Vila, verdadeiros “cobras” do samba, enriquecendo ainda mais este LP, sem dúvida um ponto altíssimo na discografia de Beth Carvalho. Um verdadeiro manifesto de brasilidade e latinidade! Confiram…
nas veias do brasil
dor de amor
caxambu
partido alto mora no meu coração
padroeira
fogo de saudade
corda no pescoço
coisa de pele
falso reinado
chega de saudade
eu quero mais
espero por ti
eu só peço a deus
*Texto de Samuel Machado Filho
Expósito E Sua Orquestra – Motivo D’Amore (1965)
Bom dia, amigos cultos e ocultos! Ainda continuo no embalo que vim do mês de julho. É como se a festa de aniversário ainda não tivesse chegado ao fim. Ou por outra, no embalo final e etílico do fim de festa. Daí, a gente continua e parece que ainda mais inspirado, hehehe…
Pois é, e assim temos mais um disco do maestro Expósito em nossas fileiras. Depois de termos postado aqui, pelo menos uns quatro disco dessa maravilhosa orquestra, agora me aparece mais este, “Motivo D’Amore”, outro álbum com um sortido repertório contemplando temas nacionais e internacionais. Como em outros lançamentos da RCA Victor, este também não fica a desejar, exceto pelas informações a respeito de Expósito e Sua Orquestra. Este é um nome que só veio a ser desvendado depois que passamos a postar os seus discos. Foi graças aos amigos cultos que conseguimos desvendar o misterioso Expósito. Segundo informações colhidas nos próprios comentários de postagens, Expósito foi um maestro argentino que esteve no Brasil durante a década de 60 fazendo arranjos e regências para a Orquestra da RCA Victor. Gravou com ‘sua’ orquestra pelo menos uma meia dúzia de lps, todos geniais. Possivelmente, deve ter feito mais coisas para a gravadora, que naquela época produzia muito. Na contracapa deste lp podemos ver três lançamentos da gravadora, sendo que um deles é da Orquestra Namorados do Caribe (disco também já postado aqui no TM). Eu suponho que esta também foi outra contribuição de Expósito. Tudo leva a crer, pelo estilo, pelos arranjos, pela orquestra e pela gravadora. Enfim, estamos aos poucos mapeando todo o circuito musical desse maestro argentino pelo Brasil. Confiram mais este disco, que com certeza é um bom motivo para amar 🙂
Fagner – Manera Fru Fru Manera (1980)
Bom dia, amigos cultos e ocultos! Partido para os 10 anos, aqui vai o primeiro passo… Aliás, um passo muito especial. Hoje eu vou postar um dos discos que eu mais gosto. Embora já tenha prá lá de 40 anos, quando foi lançado, ainda hoje é um disco muito comercial. Na verdade um clássico que nunca deixou de ser sucesso. E muito por conta disso eu até então nunca pensei em postá-lo aqui. Por outro lado, trata-se de um lp bem manjado e que se pode encontrar em qualquer lugar. Mas, pensando agora aqui com os meus botões, acho que já está na hora dessa joinha’ figurar em nossa lista’. Assim, aqui temos “Manera Fru Fru Manera”, primeiro álbum do cantor, compositor e produtor cearense, Raimundo Fagner. O disco, originalmente, foi lançado em 1973. Produzido por Roberto Menescal, com coordenação de Paulinho Tapajós, arranjos de Ivan Lins e Luiz Cláudio e direção musical do próprio Fagner. Há participações especiais, de Nara Leão e Nana Vasconcellos. Na primeira edição o disco trazia a música “Canteiros”, que era na verdade um poema de Cecília Meirelles adaptado e musicado por Fagner e Belchior. Nesta edição não havia os créditos do parceiro e muito menos era citado o nome da poeta. Em 1976 o disco foi relançado e a música “Canteiros” se tornou um grande sucesso. Nesta segunda tiragem já constava o nome de Belchior e de Cecília Meirelles. Porém a família da poetisa entrou na justiça pedindo a exclusão da música, a qual foi substituída por “Cavalo ferro”, que ocupou o lugar da outra nesta edição de 1980. Para não ficarmos com a sensação de que está faltando alguma coisa, inclui no nosso arquivo a música original, “Canteiros”. Confiram lá no GTM, pois o tempo é limitado…
Madrugada e Seu Conjunto – Só Sucessos Vol. 10 (1970)
O TM já havia oferecido a seus amigos cultos, ocultos e associados o primeiro LP do misterioso Madrugada e seu Conjunto, “Apaixonadamente”, lançado em 1964 pela CBS, selo verde Entré. Segundo depoimento do organista Lafayette Coelho, músico que continua na ativa, para o site www.jovemguarda.com.br, era ele quem fazia as bases para o conjunto de Madrugada, cujo violinista, conforme muito bem frisado por nosso amigo Alceu, era Homero Gelmini, o “velhinho” ao qual Lafayette se refere na mesma entrevista, que inclusive fez parte do grupo Os Boêmios, da Rádio MEC do Rio de Janeiro, além de ter sido spalla da orquestra do Teatro Municipal carioca. Alguns dos músicos que colaboravam com o Madrugada também participaram dos álbuns da Orquestra Brasileira de Espetáculos, da mesma CBS, vários deles apresentando versões instrumentais dos sucessos do astro número 1 da gravadora, o “rei” Roberto Carlos. Incógnitas e mistérios à parte, o fato é que Madrugada e seu Conjunto tiveram longa e vitoriosa carreira fonográfica. Logo em seguida ao álbum de estreia, “Apaixonadamente”, viria o primeiro volume da bem sucedida série “Só sucessos”, sempre com a marca Entré/CBS. E viriam, até 1975, mais 19 volumes. Pois agora, o TM oferece a vocês o décimo volume de “Só sucessos”, editado em 1970. Sempre com o violino de Homero Gelmini se destacando, o grupo nos oferece, em doze faixas, sucessos dessa época em clima dançante, de bailinho mesmo. Entre eles, “A namorada que sonhei” (“Receba as flores que lhe doooooou”, lembram-se do Nílton César cantando esta pérola?), “Se eu pudesse conversar com Deus” (música de Nélson Ned consagrada por Antônio Marcos e até hoje lembrada), “A festa dos seus quinze anos” (de Ed Wilson, sucesso-solo do cantor Leno, ex-parceiro de Lilian em famosa dupla da Jovem Guarda), “Se ela voltar” (de Rossini Pinto, então hit de Wanderley Cardoso), “O amor é tudo” (aliás, “Love is all”, que Malcolm Roberts imortalizou no Festival Internacional da Canção de 1969, tendo a versão sido gravada por Agnaldo Rayol), “Eu vou sair para buscar você” (outro sucesso de Nélson Ned, este na voz de Agnaldo Timóteo), a clássica modinha “Quem sabe?”, de Carlos Gomes (que o mesmo Agnaldo Timóteo havia então relembrado), e, do repertório de Roberto Carlos, astro maior da CBS, “Não adianta” e “Nada tenho a perder”. “Vivamos o momento” e “Conta-me tua vida” foram hits de Roberto Muller, e “De mãos dadas” foi popularizado por Carlos Alberto, ambos os cantores então também contratados da “marca do olho caminhante”. Tudo isso em um álbum perfeito para animar qualquer bailinho ou festa de cunho nostálgico. E aí? Dá-me o prazer desta contradança?
não adianta
a namorada que sonhei
a festa dos seus 15 anos
de mãos dadas
conta-me tua vida
eu vou sair para buscar você
nada tenho a perder
se eu pudesse conversar com deus
o amor é tudo
quem sabe
vivamos o momento
se ela voltar
*Texto de Samuel Machado Filho31
Toque Musical – Comemorando 9 Anos Com você!
Bom dia, amigos cultos e ocultos! Hoje, dia 30 de julho, estão completando 9 anos em que inaugurei o blog Toque Musical. Foi justamente nesse dia que eu resolvi retomar as atividades de blogueiro, após ter ficado quase 5 anos publicando e compartilhando discos, até então raros, no que foi um dos primeiros blogs do gênero, o Acesso Raro. Neste primeiro blog eu postei também de tudo, tanto discos nacionais quanto internacionais. Era uma época em que poucos ainda compartilhavam músicas/discos e o grande barato era o Napster. Depois vieram os Torrents e junto com esses os blogs. Foi também nesse período que eu passei a colecionar a música digitalizada. Percebi que não era só eu quem estava interessado na coisa. Tanto aqui no Brasil como fora, muitos já estavam intercambiando seus acervos. Foi um momento profícuo para aqueles que gostam de música e de discos. Descobri e redescobri muita coisa que eu nem lembrava, principalmente os internacionais. Mas, até então, tudo isso era distribuído e compartilhando de forma confusa por quem publicava, inclusive eu, no meu Acesso Raro. Não levava em conta uma boa apresentação, nem sempre trazia textos informativos ou orientação sobre oque estava sendo postado, não havia respeito ou preocupação com direitos autorais, os links oferecidos nem sempre eram completos e ainda havia a questão dos vírus em arquivos. Era um verdadeiro ‘samba do crioulo doido’. Era mesmo o momento de coletar tudo e reorganizar. E foi o que eu fiz, criei um acervo digital, com boa parte sendo discos e músicas internacionais, principalmente rock, jazz e blues. Sentia falta, na época, da presença da mpb, dos discos da indústria fonográfica brasileira. Ainda era pouco o que havia sido publicado em termos discos nacionais. No Acesso Raro eu comecei então a postar os discos nacionais, mas este blog começou a ser muito visado depois de uma matéria que saiu na Folha de São Paulo falando sobre o ‘bum’ dos blogs musicais de compartilhamento. O público aumentou e nele vieram os acusadores de que aquilo era um ato de pirataria. Começaram então com a vigilância e as denúncias. Muitos blogs fecharam as portas, obrigatoriamente. Cansando da peleja, resolvi então fechar o meu boteco também. Alguns meses depois resolvi retomar, mas dessa vez com uma nova proposta, um novo blog, o Toque Musical. Incentivado pelo amigo Mauro e seu Loronix, voltei novamente as postagens, Só que desta vez com uma nova proposta, publicar apenas discos e artistas da música brasileira. Era hora de eu colocar para fora os meus discos de mpb. E foi o que eu fiz, comecei a digitalizá-los e postar diariamente. Assim como o Loronix, eu também tive a sorte de encontrar colaboradores. Amigos, donos de lojas de discos, me permitiam digitalizar alguns lps. Pouco tempo depois conheci o Edu Pampani, dono da Discoteca Pública, em Belo Horizonte. Ele generosamente abriu seus arquivos para mim. Me permitiu digitalizar tudo que quis e assim o Toque Musical se tornou um dos mais interessantes blogs de música, trazendo em primeira mão centenas de discos raros, obras importantes da mpb que até então estavam esquecidas. Ao longo de todos esses anos muita coisa aconteceu, inclusive diversas alterações no blog que o levou a se desdobrar em três versões para se manter ativo.
Hoje temos a matriz como um site independente em www.toque-musicall.com e duas versões pelo blogspot, a galeria em http://toque-music-all.blogspot.com.br/?view=flipcard e versão para apenas as produções exclusivas do TM, em http://toque-musica.blogspot.com.br/. As postagens atualmente já não são mais diárias como eram antes e até mesmo o público que já chegou a casa de mais de mil acessos, hoje talvez não chegue a 300. Isso se deve ao fato de que os tempos mudam e o que ofereciam os blogs, hoje se pode adquirir através até do Facebook, Youtube… Por outro lado, muito do que foi postados nos blogs de músicas, os discos antes raros, hoje são novamente relançados, tanto em formato digital quanto em vinil. Penso que o Toque Musical só resistiu a tanto tempo devido as escolhas que eu fiz, ao ter criado para ele regras e formatos. Por ter conseguido encantar as pessoas certas, um público certo que sabe valorizar esse meu trabalho. Foi graças aos amigos que fiz, que conquistei sendo honesto. Nunca fiz deste espaço um lugar para se lucrar. Nunca ganhei dinheiro com isso e só mesmo de um tempo para cá foi que passei a aceitar doações. E para a minha felicidade, as verdadeiras doações foram as que me trouxeram amigos. Aliás, esses vieram antes, ou com eles vieram as colaborações. Entre tantos amigos cultos e ocultos que fiz por aqui, destaco e agradeço principalmente a três figuras: ao Chris Rousseau pelos sempre inéditos, raros e polêmicos arquivos enviados. Ao Fáres, cuja a simpatia e impatia (recíproca, é bom que se diga) promoveu um novo momento no blog, enviando-me mais de uma centena de discos, os quais tem sido o produto da maioria das postagens desse ano. E finalmente o Samuca (Samuel Machado Filho), que passou a ser o segundo e mais completo resenhista do Toque Musical. É graças ao incentivo desses e de outros amigos, sejam eles cultos ou ocultos, que o TM chega a essa marca de 9 anos e com mais de 3 mil postagens. A todos que tem me apoiado eu só posso agradecer. Com já dizia o poeta Paulo Cesar Pinheiro: ‘O importante é que a nossa emoção sobreviva”. E vamos nós, porque ainda tem muita água pra rolar…
Abraços a todos!
Augusto TM
Shopping Tops (1976)
Bom dia, meus caríssimos amigos cultos e ocultos! Trazendo mais um disco na linha promocional, hoje temos uma coletânea elaborada pela gravadora e selo Crazy para o Shopping Center Ibirapuera, um dos primeiros e gigantes centros de compra que surgiam no Brasil a partir da década de 70. Eu não achei informações, mas creio que este lp foi lançado como brinde aos fornecedores e clientes do Shopping. No álbum vamos encontrar uma verdadeira salada mista, com os mais variados e obscuros artistas e gêneros da época. Entre esses temos também os destaques, que são os artistas/conjuntos do cast da gravadora, tipo Tarancon e Joelho de Porco. Por aí já dá para se ter uma ideia do variado leque dessa seleção…
Toque Musical – 9 Anos Com Você!
O Som Brasileiro Do Bamerindus (1981)
Em 1929, ano de grave crise financeira mundial, o empresário e político Avelino Antônio Vieira resolveu fundar uma empresa bancária na cidade paranense de Tomazina, em sociedade com amigos: o Banco Popular e Agrícola do Norte do Paraná, incorporado, em 1944, ao Banco Comercial do Paraná, do qual Avelino tronou-se diretor comercial. Em 1951, Avelino Vieira comprou o Banco Meridional da Produção, que tinha apenas quatro agências, mudando seu nome para Banco Mercantil e Industrial do Paraná, que ficaria conhecido pela sigla Bamerindus. Tanto que, em abril de 1971, a empresa passou a ser Banco Bamerindus do Brasil S.A., e tornou-se uma das maiores instituições do setor na América do Sul durante os anos 1970/80. Quem não se lembra do jingle “O tempo passa, o tempo voa, e a Poupança Bamerindus continua numa boa”? Ou então da série de minidocumentários “Gente que faz”, patrocinada pelo banco e veiculada em horário nobre da televisão, que teve 230 episódios, e foi até premiada? Entretanto, nos anos 90, o Bamerindus entrou em dificuldades financeiras e acabou liquidado pelo Banco Central, sendo parte de seu espólio incorporada pelo HSBC, de capital britânico (mais tarde, o HSBC é quem deixaria o Brasil, sendo suas agências incorporadas pelo Bradesco, processo esse ainda não concluído quando da elaboração desta resenha). Agora, o TM oferece a seus amigos cultos, ocultos e associados um raríssimo álbum oferecido como brinde aos clientes do extinto banco da família Andrade Vieira. É “O som brasileiro do Bamerindus”, produzido como parte da campanha “Integração”, criada pela agência de publicidade Umuarama, e lançada em 1981 nas emissoras de rádio de todo o Brasil, aproveitando regionalismos e outras características próprias de determinadas cidades e estados. O objetivo era mostrar a proximidade do Bamerindus com a cultura local, e o presente álbum se enquadra nele perfeitamente. Nessa época, o principal garoto-propaganda do banco (e também seu cliente) era o eterno Rei do Baião, Luiz Gonzaga, que participa com duas faixas, a de abertura (“O homem da terra”, que foi até jingle do Bamerindus) e a de encerramento (“Erosão”), tendo na sanfona, em ambas, o não menos eterno Dominguinhos. São, ao todo, dez faixas, com arranjos de Luiz Arruda Paes, Nélson Ayres, Heraldo do Monte e Luiz Roberto, e ainda contando com as participações especiais do acordeonista Oswaldinho e do regional de Evandro. A capa dupla é muitíssimo bem ilustrada, e tem um ótimo texto de apresentação do pesquisador e jornalista Zuza Homem de Mello, que nessa época também apresentava o programa “Com música nas veias”, na Rádio Jovem Pan AM de São Paulo. Este foi também um dos primeiros lançamentos (se não o primeiro) da gravadora Som da Gente, criada pelo casal de músicos Walter Santos e Tereza Souza (autores, por sinal, de todas as faixas deste álbum que o TM hoje oferece), e até hoje referência obrigatória quando se fala em produção musical independente. Enfim, um trabalho primoroso, de qualidade, sob medida para quem aprecia o que há de melhor em nossa música popular.
homem da terra
para sempre
natal
homem de palavra
vinte e cinco anos
um grande abraço
amanhã, com certeza
viver a vida
essas coisas simples
erosão
*Texto de Samuel Machado Filho
Lyra Do Xopotó – Mestre Filó Apresenta a Lira De Xopotó (1957)
Boa tarde, amigos cultos e ocultos! Só agora estou me dando conta de que já havia enviado este disco para o Samuca resenhar, eu acho… Fiquei meio na dúvida e ao mesmo tempo com preguiça de verificar. Vou eu mesmo fazer a postagem, pesaroso por vocês não terem aqui um texto, sempre muito informativo, do nosso amigo. Prometo que o próximo disco da Lira de Xopotó vai ser apresentado por ele, ok? Para este, não carecemos de muitas apresentações, visto que na contracapa já temos tudo que precisamos, um texto de Paulo Tapajós, em letras bem graúdas que nos permite ler até sem precisar ampliar a imagem. Já falamos da Lira de Xopotó em outros discos postados aqui. Mas é sempre bom esclarecer. A Lira de Xopotó foi idealizada pelo radialista da Rádio Nacional, Paulo Roberto, em seu programa de mesmo nome, em 1954. O programa foi criado com o objetivo de promover o estilo das bandinhas de cidades do interior, aquelas típicas de coreto, ou coisa parecida. O programa contava com o apresentador Paulo Roberto contracenando com o ‘Mestre Filó’, personagem interpretado por Jararaca (da dupla Jararaca e Ratinho). Porém, quem comandava mesmo a banda era outro, o maestro Lírio Panicali, responsável pela regência e arranjos. O programa Lira de Xopotó foi um tremendo sucesso, a ponto de levar a bandinha para além das ondas do rádio, dando origem ao lançamento de uma série de discos. Este, lançado em 1957, foi o primeiro em 12 polegadas e com doze faixas. No repertório, como se pode ver, temos uma série onde predominam os maxixes e dobrados. Um trabalho muito bonito que merece toda a nossa atenção. Não deixem de conferir…
Globo De Ouro Vol. 5 (1979)
O TM oferece hoje, prazeirosamente, aos seus amigos, ocultos e associados, mais um álbum da série “Globo de ouro”, baseada no programa de mesmo nome, exibido pela Rede Globo de Televisão entre 1972 e 1990, seguindo a linha do “hit parade”, ou seja, apresentando músicas que faziam sucesso em sua época. Desta vez, é oferecido o volume 5, lançado, como sempre, pela Som Livre, braço fonográfico da emissora, em 1979. E, como vocês irão perceber, esta seleção apresenta catorze hits da época que ainda estão na memória de muitos que a viveram, interpretados, em sua maioria, pelos artistas que os consagraram, em gravações originais cedidas pelas co-irmãs da Som Livre. A seleção musical ficou a cargo de um verdadeiro craque das montagens, Toninho Paladino, e transmite bem a época do lançamento desta compilação. Só pra começar: a faixa de abertura é “Sou rebelde (Soy rebelde)”, com Lilian (ex-parceira de Leno em famosa dupla da Jovem Guarda). Com letra em português do futuro escritor best-seller Paulo Coelho, é considerado o maior sucesso-solo da cantora. Ídolo junto às camadas mais populares, Júlio César aqui comparece com seu maior hit, “Tu (Du)”, versão de Cleide Dalto para uma canção de origem alemã, lançada em 1977 e que foi conseguindo êxito aos poucos. O inesquecível “cachorrão”, Jair Rodrigues, vem com um ótimo samba, “Gotas de veneno”. Outro ídolo das camadas populares, este também já falecido (e de forma trágica, em acidente de automóvel), Carlos Alexandre (pseudônimo de Pedro Soares Bezerra), potiguar de Nova Cruz, vem com seu maior sucesso: “Feiticeira”, que ele até interpretava como cantor mascarado no programa do Chacrinha (então transmitido pela Bandeirantes). O conjunto Superbacana aparece com a maliciosa “Tá com medo, tabaréu? (Melô da pipa)”, cujo sucesso até desaguaria no carnaval de 1980. Francis Hime vem com a ótima “Pivete”, parceria dele próprio com Chico Buarque, em faixa extraída do álbum “Se porém fosse portanto”, da própria Som Livre. A curiosidade fica por conta do argentino Danny Cabuche, interpretando “Para esquecer”, versão em português de um sucesso seu em terras portenhas, “Que hay que hacer para olvidar?”. Outro argentino, Palito Ortega, assina “Por muitas razões eu te quero (Por muchas razones te quiero)”, em versão de Walter José, e então sucesso absoluto nas vozes de Jane e Herondy, aqueles do “Não se vá”. Ruy Maurity, conhecido por músicas como “Serafim e seus filhos” e “Nem ouro nem prata”, aqui interpreta “Bananeira mangará”, regravação de um êxito da forrozeira Marinês em 1973. Outro inesquecível nome da MPB, Roberto Ribeiro, apresenta aqui um samba realmente antológico, “Todo menino é um rei” (“e eu também já fui rei”), sucesso merecido na época. Em seguida, temos o primeiro grande hit de Fábio Júnior, “Pai”, que ele apresentou pela primeira vez ainda em fins de 1978, num episódio do seriado “Ciranda, cirandinha”, também da Globo, e explodiu no início de 79, ao ser tema de abertura da novela “Pai herói”, de Janete Clair, estrelada por Tony Ramos, Paulo Autran e Glória Menezes, entre outros. Carlos Alberto de Oliveira, o Dicró, outro nome da MPB que deixou muitas saudades, interpreta aqui a maliciosíssima “Olha a rima”. Composta por Chico Buarque para sua peça teatral “Ópera do malandro”, a conhecidíssima “Folhetim” é interpretada aqui por Neuza Borges, expressiva atriz negra, catarinense de Florianópolis, e com inúmeros trabalhos de sucesso na TV e no cinema em seu currículo (no momento em que esta resenha foi elaborada, julho de 2016, ela estava no ar como a Mãe Quitéria da novela “Escrava mãe”, da TV Record). Para encerrar, a roqueira Bianca (pseudônimo de Cleide Domingos Franco), interpretando o hit que a consagrou, “Os tempos mudaram (O que me importa)”, composto por Cléo Galanth. Enfim, esta quinta edição do “Globo de ouro” traz de volta um pouco do que foi sucesso em nossa música popular no final dos anos 1970, para recordação de muitos e conhecimento de quem só veio depois dessa época. Diversão garantida!
* Texto de Samuel Machado Filho
Milton Carlos – Inédito (1978)
Bom dia, amigos cultos e ocultos! Começando a semana, vamos com um disco já bem conhecido dos exploradores de sites e blogs musicais. Temos aqui o cantor e compositor paulista, Milton Carlos em seu álbum póstumo, lançado pela RCA dois anos após sua trágica morte em um acidente automobilístico. Para os que não sabem, Milton Carlos era um jovem músico, que ao lado de sua irmã Isolda, compôs diversos sucessos, interpretados por diferentes artistas, em especial o Roberto Carlos, que os credenciou como autores em sucessos como, “Amigos, amigos”, “Pelo avesso” e “Um jeito estúpido de te amar”. Foi um artista de uma carreira curta, porém deixou o seu legado em, pelo menos, quatro lps, além de diversas canções de sucesso. É curioso também notar a interpretação, a voz desse artista. Quem escuta pela primeira vez há de pensar que quem canta é a irmã, Isolda, mas a voz fina, quase feminina é mesmo do Milton Carlos. E não era falsete, ele realmente tinha uma voz infantil, cantando parecia uma mulher. Isso também foi um diferencial que ajudou o artista a se ingressar na RCA. Já havia, na época, o Ney Matogrosso no Secos & Molhados cantando assim. Acho que os produtores viram aí uma oportunidade… Neste álbum, como o próprio título diz, temos uma seleção de inéditas. Músicas que ele gravou, mas que não chegaram a ser lançadas antes, ou outras em novas versões.
Dom & Ravel (1974)
Quem viveu o final da década de 1960 e começo da de 70, os chamados “anos de chumbo” da ditadura militar, lembra-se muito bem da dupla Dom e Ravel. Seus nomes verdadeiros eram, respectivamente, Eustáquio Gomes de Faria, e Eduardo Gomes de Faria, irmãos cearenses nascidos em Itaiçaba, Eustáquio em 21 de agosto de 1944, e Eduardo em 13 de outubro de 1947. Mudaram-se ainda pequenos para São Paulo, na década de 1950, com os pais e a irmã caçula, Eva, residindo e criando-se na periferia da cidade. Eduardo foi apelidado de Ravel por um professor de música, por causa de sua aptidão para a arte. Dom e Ravel gravaram seu primeiro disco em 1969, pela RCA Victor, um compacto simples com as músicas “O som do silêncio” (versão em português para o clássico “The sound of silence”, de Simon e Garfunkel) e “Desvio mental”. Em seguida na mesma marca, outro single, com “Hey” e “O que é meu dela”. Ambos os discos foram verdadeiros fracassos de vendagem. Em contrapartida, passaram a se destacar como compositores, com músicas gravadas por intérpretes como Os Incríveis, Wanderléa, Jerry Adriani e Wanderley Cardoso. Foram Os Incríveis, inclusive, quem lançaram, em 1970, o maior e mais polêmico sucesso da dupla: a marcha-rancho “Eu te amo, meu Brasil”, que, segundo eles mesmos, foi composta para comemorar a conquista do tricampeonato mundial de futebol pelo Brasil. Esta e outras músicas ufanistas que compuseram, tais como “Só o amor constrói” e “Você também é responsável”, esta transformada pelo governo em hino do extinto Mobral, Movimento Brasileiro de Alfabetização, renderam a Dom e Ravel bastante sucesso e, por outro lado, acusações de bajuladores do regime militar. Ambos juravam por toda a vida não ser verdade. Os sobrenomes de ambos ajudaram a aumentar a confusão, fazendo acreditar que eles tinham parentesco com o brigadeiro Eduardo Gomes e o general Cordeiro de Farias, e eram filhos de militares (na verdade, o pai deles era um pequeno comerciante paraibano e a mãe, cearense, era “do lar”, ou seja, dona-de-casa). Em 1971, Dom e Ravel lançaram seu primeiro LP, “Terra boa”, pela RCA Victor. A fim de tentarem se afastar da fama de bajuladores da ditadura militar, gravaram, em 1974, a música “Animais irracionais (Somos todos meio)”, falando de desigualdade social. Entretanto, a música não recebeu o devido apoio dos militares que então governavam o país, e acabou vetada pela censura. É justamente o segundo LP da dupla, editado pela Beverly, que traz como faixa de abertura “Animais irracionais”, que o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados. Mas há também outras faixas interessantes que vocês poderão conferir, a maioria deles próprios com ou sem parceiros, tipo “O que é que você está fazendo aí, meu bem?”, “Se você me pudesse ouvir”, “Laço de boi”, “Conflito de gerações” (outro tema sempre atual). Depois deste, Dom e Ravel ainda lançariam mais dois LPs, em 1982 e 1993, e também gravaram inúmeros compactos, obtendo sucesso com “Obrigado ao homem do campo” (1978) e “Canção da fraternidade”, mais conhecida por “Cantemos juntos”, em 1979. Mais tarde, a dupla se desfez e ambos partiram para carreiras-solo. Foram eles, inclusive, quem realizaram gestões junto ao então presidente da República João Figueiredo para outorgar a concessão de uma rede de TV ao empresário e animador Sílvio Santos. Nascia o SBT e, ao mesmo tempo, terminava a dupla… Eustáquio Gomes de Faria, o Dom, faleceu em 10 de dezembro de 2000, de câncer no estômago. Ravel, porém, prosseguiu cantando solo mesmo após ter sua vista prejudicada por um acidente. Isso até também falecer, em 16 de junho de 2011, de ataque cardíaco. Mas se depender de blogs como nosso TM, eles jamais cairão no esquecimento. Portanto, aí vai o álbum de “Animais irracionais”, para apreciação de todos vocês! Divirtam-se…
*Texto de Samuel Machado Filho
Blecaute – Don Octavio Henrique De Los Boleros (1961)
Bom dia, amigos cultos e ocultos! Neste mês de aniversário, minha intenção é manter o Toque Musical como nos bons tempos, com postagens diárias e bem variadas. Não sei de depois eu vou conseguir manter o ritmo, mas tá valendo.. 😉
Hoje temos ‘Don Octávio Henrique de los Boleros”, um nome que para quem não conhece, há de passar como mais um título criado pela indústria fonográfica mexicana, aportando por aqui. Mas esse é apenas um título para um disco do cantor Blecaute. Octávio Henrique era o seu nome de batismo. No início dos anos 60, Blecaute passou a ensaiar em seu repertório alguns boleros cantados em espanhol. Seus produtores, na época, acharam interessante transformar o cantor de samba em cantor de boleros. E deram assim vazão a uma ideia que acabou colando. Produziram este lp num clima bem ‘bolerado’, com boleros autênticos e outros adaptados. Coube ao maestro Gaya todos os arranjos, que conseguiu dar ao disco uma característica bem próxima aos originais latinos. Este lp foi lançado pelo selo Polydor em 1961. Depois saiu pelo selo Philips, curiosamente com uma inversão na arte da capa. Eu acredito que este disco da Philips é o que foi lançado no mercado internacional latino americano, principalmente na Colômbia e no Peru, onde o artista chegou a fazer muito sucesso. Confiram…
Hyldon (1989)
Baiano de Salvador, nascido em 17 de abril de 1951, Hyldon de Souza Silva é um dos ícones da “black music” brazuca, ao lado de Tim Maia e Cassiano. Embora nascido na capital baiana, sua família foi morar em Senhor do Bonfim, no sertão daquele estado, quase na divisa com Pernambuco, quando nosso Hyldon tinha seis meses de idade. Ali viveu até os sete anos, quando houve nova mudança da família, desta vez para o Rio de Janeiro. Na adolescência, Hyldon manifestou interesse pelo iê-iê-iê, influenciado por seu primo, Pedrinho da Luz, então guitarrista dos Fevers, chegando a montar uma outra banda, chamada Os Abelhas, com ela apresentando-se em clubes de Niterói e cidades vizinhas, e até em programas de rádio e TV. Foi quando a família decidiu voltar à Bahia natal, mas Hyldon conseguiu convencer sua mãe a deixa-lo ficar no Rio, morando junto com o primo Pedrinho. Tal relação também acabou lhe dando a oportunidade da primeira gravação, quando ele teve a chance de tocar em uma faixa do primeiro álbum dos Fevers, na ocasião em que o guitarrista e vocalista Almir Bezerra não pôde comparecer ao estúdio. Como compositor, teve músicas gravadas por cantores como Robert Livi, Jerry Adriani e Wanderley Cardoso, e começou a firmar-se como músico, participando como acompanhante em várias gravações, inclusive de nomes como Wilson Simonal e Tony Tornado. Em 1969, tocando com Os Diagonais, banda formada por Cassiano, seu irmão Amaro e Amaro, Hyldon acabou conhecendo nada mais nada menos que Tim Maia, isso no dia em que o síndico da MPB gravava sua participação em um álbum de Elis Regina. Em 1970, ingressa como produtor na Philips/Phonogram, hoje Universal Music, a convite de Mazzola, Guti e Jairo Pires. Lá, produz vários discos de sucesso, como os de Erasmo Carlos, Diana, Wanderléa e todos os que Odair José fez naquela companhia, inclusive tocando guitarra na polêmica “Uma vida só (Pare de tomar a pílula)”, grande sucesso de Odair, acompanhado pelo grupo Azymuth. Finalmente, em 1974, Hyldon conseguiu gravar solo pela primeira vez, obtendo sucesso em todo o Brasil com “Na rua, na chuva, na fazenda (Casinha de sapê)”, que daria título, no ano seguinte, a seu primeiro LP. Outras músicas consagradas por Hyldon foram “As dores do mundo”, “Na sombra de uma árvore”, “Acontecimento”, “Sábado e domingo” e “Velho camarada”, esta ao lado Tim Maia e Fábio Stella. Sua discografia abrange dez álbuns de estúdio, um ao vivo, e alguns compactos. Após um longo período de ostracismo, começou a ser redescoberto no final dos anos 1990, quando suas músicas são regravadas por grupos como o Kid Abelha (“Na rua, na chuva, na fazenda”) e o Jota Quest (“As dores do mundo”) e até mesmo aproveitadas em produções cinematográficas, tais como “Cidade de Deus”, “Carandiru” e “Durval Discos”. O TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados este que, cronologicamente, vem a ser o sexto álbum de estúdio gravado por Hyldon. O disco foi lançado em 1989 pela Esfinge, gravadora de existência efêmera que então lançava-se em nosso mercado fonográfico. Gravado em São Paulo e no Rio de Janeiro, e mixado em Hollywood, Estados Unidos, tem a participação do cantor norte-americano Alfonz Jones na faixa de abertura, “Pétalas vermelhas” e a curiosa parceria do futuro escritor best-seller Paulo Coelho em “Caminho de Santiago”. Aqui, Hyldon conta com uma excelente banda de apoio, com músicos do porte do baterista Ocolé, do baixista Luizão Maia, do tecladista Tutuca, dos percussionistas Chacal, Cidinho e Léo, e Paulinho Trompete e Bidinho nos sopros. Embora tenha vendido pouco na época do lançamento, este trabalho de Hyldon tem ótima qualidade sonora, e tudo isso faz com que mereça toda a atenção de quem aprecia o que é bom em matéria de música. É só conferir…
pétalas vermelhas
coração cigano
vá embora tristeza
uma chance para nós dois
muito além da razão
o mundo fica triste sem você
o amor é como a flor
trem da madrugada
caminho de santiago
vem comigo
*Texto de Samuel Machado Filho
Via Paulista (1992)
Bom dia, amigos cultos e ocultos! Seguindo em nossa luta musical (quase) diária, eu hoje trago para vocês o disco Via Paulista, que é o registro fonográfico de um projeto de show idealizado e produzido pelo músico Eduardo Gudin e pelo produtor e letrista José Carlos Costa Neto, no início dos anos 90. O Via Paulista rolou por uns dois anos no teatro do Sesc Pompéia, sempre apresentando encontros memoráveis com os mais diferentes artista da época. Em 1992 foi lançado este lp com algumas das gravações feitas ao vivo, trazendo nomes como Jorge Benjor, Leila Pinheiro, Rosa Maria, André Christovam, Luiz Tatit, José Miguel Wisnik, Ná Ozzetti, Guilherme Antes e outros. Vale a pena rever esses shows 😉
Charles Da Flauta – Pinguinho De Gente (1988)
O TM oferece hoje a seus amigos cultos ocultos e associados o único disco gravado por um músico de rua, flautista de talento promissor, mas que infelizmente teve sua carreira interrompida pelas drogas. Trata-se de “Pinguinho de gente”, com Charles Gonçalves, conhecido como Charles da Flauta, lançado em 1988 com o patrocínio da Eletropaulo, sob o selo Ideia Livre, e que teve distribuição comercial pela Polygram, hoje Universal Music. Charles, então na plenitude de seus catorze anos de idade, encantava as pessoas tocando sua flauta no centro de São Paulo, aos sábados, em companhia do pai (ele perdeu a mãe muito cedo) e mais dois irmãos, também menores. O pouco que faturavam ao fim da tarde garantia o sustento da família por toda a semana. A convite do jornalista (e também exímio bandolinista) Luís Nassif, o produtor musical Aluizio Falcão foi conferir a versatilidade e a espantosa precocidade de Charles, que chegou a ter aulas de flauta até mesmo com o mestre Altamiro Carrilho e o maestro Júlio Medaglia. Evidentemente, eles também se encantaram com Charles, e sua agilidade surpreendente na emissão das notas e improvisos, cadência, respiração, toque sutil e bem timbrado. E daí veio o convite de Aluizio Falcão para que Charles gravasse um disco-brinde. Entretanto, como sempre acontece nesses casos, foi difícil arranjar quem bancasse a produção do álbum. Ate que o jornalista Audálio Dantas, então superintendente de comunicação da Eletropaulo, obteve o apoio decisivo do então presidente da empresa, André Yppolito. Gravado em oito dias, o disco foi logo distribuído como brinde aos clientes da Eletropaulo. E a crítica especializada logo se encantou com o então menino Charles, saudado como um novo gênio da flauta, notícia até no “Fantástico” da TV Globo! Lançado comercialmente pouco depois, o disco estourou, como previsto, e o nosso Charles teve momentos de glória: apareceu em inúmeros programas de TV, além do “Fantástico”, tocou com músicos do porte de Arthur Moreira Lima e Paulo Moura e participou de um encontro de músicos de rua na Holanda, patrocinado pela Unesco, sendo considerado “hors concours” e agraciado com uma medalha. Até ganhou uma bolsa para estudar na Europa. Entretanto, o uso compulsivo do crack e da maconha destruiu uma carreira que parecia promissora. Chegou até a ser preso por ferir alguém com uma facada, mas logo foi libertado. Portanto, é de se lamentar o destino de Charles Gonçalves, um músico de rua que tinha tudo para ser, como flautista, legítimo sucessor de nomes como Patápio Silva, Pixinguinha Benedito Lacerda e Altamiro Carrilho. Felizmente, o TM nos oferece a oportunidade de apreciá-lo neste que foi (pelo menos até agora) seu único álbum, mostrando todo o seu precoce e impressionante talento de flautista virtuose em páginas imortais e inesquecíveis como “Bem-te-vi atrevido”, “Primeiro amor”, “Apanhei-te cavaquinho”, “Ronda” e “Urubu malandro”. Enfim, é ouvir este disco e lamentar que as drogas tenham interrompido os sonhos e a carreira de um músico de rua tão talentoso quanto ele! Entretanto, a coisa teve um final feliz: após passar por tratamentos diversos, o nosso Charles se recuperou, casou-se, tem uma filhinha, nascida em 2015, e está de novo na ativa. É músico free-lancer e vocês podem visitar seu perfil no Facebook: Charles da Flauta Gonçalves. Uma boa sorte e muita saúde a ele, é o que nós do TM lhe desejamos!
chorinho antigo
bem te vi atrevido
pinguinho de gente
espinha de bacalhau
doce de côco
ronda
sonoroso
apanhei-te cavaquinho
lamento
primeiro amor
urubu malamdro
valsinha
*Texto de Samuel Machado Filho.
Dom – Em Todos OS Tempos (1977)
Olá, amiguíssimos cultos e ocultos! Hoje o tempo está corrido, mas mesmo assim vamos por em dia a nossa sequência de postagens, afinal este é o mês de aniversário do Toque Musical. Para quem não sabe, não se tocou, estamos fazendo 9 anos de atividades! Não é mole não! (mas é doce e viciante como rapadura)
Tenho para hoje um disco que até bem pouco tempo eu não conhecia, exceto por uma ou duas músicas. Trata-se do disco solo de Eustáquio Souza de Faria, ou, mais conhecido como Dom, da dupla Dom & Ravel. Pelo pouco que sei, este foi seu único trabalho, sem o irmão Ravel. O lp foi lançado em 1977, numa fase em que a dupla já havia entrado em declínio. “Em todos os tempos” é um disco onde predomina o samba. Samba? Sim, o cara tinha o ‘dom’ do samba. Mas também tem uns carimbós e fecha com a melhor, a faixa ‘disco’, “Jangada’. Vale a pena conhecer. Em breve teremos a dupla Dom & Ravel aqui, apresentado pelo nosso resenhista Samuca, sempre minucioso, detalhando um pouco mais sobre a carreira dessa curiosa dupla. Aguarde…
The Marginals – Tremenda Onda (1968)
Boa noite, amigos cultos e ocultos! Boa noite, em especial, ao Antonio Nascimento, figura que por quase 5 anos vem me (per) seguindo, sempre enviando e-mails e perguntando se eu já achei o disco que ele queria. E qual disco era? Ah! Sim, The Marginals, em ‘Tremenda onda’. Pelo tanto que este meu amigo ficou encima, me pedindo repetidamente para achar e postar, eu imagina que fosse assim, o ‘supra-sumo’ da obscuridade fonográfica. Eis que finalmente achei o tal disco, mais lenhado que disco em vitrola de puteiro. Não fosse pela promessa/desafio, eu certamente não teria postado este disco. Não muito pela qualidade ou repertório, mas principalmente porque o bichinho tá fritando, mesmo no abafo. Quem é The Marginals? Eu diria que se trata apenas de mais um nome sugestivo para um falso conjunto, entre tantos outros, tão comuns naqueles anos 60. Uma seleção musical cheia de sucessos internacionais em versões instrumental. Produção ao estilo de selos como Coledisc, Paladium e afins…
Chapeuzinho Amarelo – Uma História De Chico Buarque (1981)
Em 1979, aconteceu o lançamento de um livro para crianças, escrito por Chico Buarque, ele que também concebeu peças teatrais e romances. Trata-se de “Chapeuzinho Amarelo”, nome que, evidentemente, parodia o famoso conto infantil “Chapeuzinho Vermelho”, publicado primeiramente pelo francês Charles Perrault e mais tarde pelos irmãos alemães Jacob e Wilhelm Grimm.
“Chapeuzinho Amarelo” conta a história de uma menina com medo do medo – isto é, amarela de medo -, que transforma a fantasia dos contos em sua própria realidade, chegando ao ponto de não brincar, se divertir, se alimentar e nem mesmo dormir. Enfrentando o desconhecido Lobo, ela consegue superar seus medos e inseguranças, descobrindo assim a alegria de viver. Narrado em forma de poema, com rimas, e excelentemente ilustrado por Ziraldo, outro consagrado autor de livros infantis (“Flicts”, “O Bichinho da Maçã’, “O Menino Maluquinho”), “Chapeuzinho Amarelo” foi um grande sucesso entre as crianças e também aplaudido pela crítica, tornando-se mais um clássico do gênero, premiado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. A obra atravessou gerações, fazendo parte da vida e da infância de muitos que, após tornarem-se pais e mães, a leriam para seus filhos, o que acontece até hoje.
Com o sucesso literário, “Chapeuzinho Amarelo” seria mais tarde adaptado para musical de teatro, igualmente muito bem acolhido pela criançada (e pelos adultos também, por que não?). E é justamente a trilha sonora desta adaptação que o TM tem a grata satisfação de oferecer hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados. O álbum foi lançado em 1981 pela WEA (depois Warner Music), e foram escalados para esta adaptação os nomes de Zeca Ligiero, Ricardo Pavão e Chico Lá, sendo que estes últimos também participam do disco como intérpretes dessa história tão bem concebida por Chico Buarque. Completam o elenco os atores Zezé Polessa (que mais tarde atuou em novelas da extinta Manchete e também da Globo), Juliana Prado, Felipe Pinheiro, Márcio Calvão e Jana Castanheiras. Tudo com o capricho da produção de João Luiz de Albuquerque, devidamente dirigida por Augusto César Nogueira de Carvalho, o Guti, a sonoplastia de Jorge Napoleão e o suporte instrumental de Luciano Alves (teclados, arranjos e direção musical) e Charle Chalegre (bateria e percussão), além de Marize Rezende no coro. Tudo isso, no conjunto, recria a força, o vigor e a magia do texto literário de Chico, tornando o álbum uma diversão garantida para crianças e adultos. Verdadeiro show de bola!
*Texto de Samuel Machado Filho
Zé Ramalho (1978)
Boa tarde, amigos cultos e ocultos! Hoje eu passei o pouco tempo que tinha preparando um disco para postar. Depois de tudo pronto e até o texto da minha apresentação lacônica, percebi que já havia postado o disco. Que raiva! E aqui tudo pronto… foi então que eu me lembrei que tinha aqui, no meu arquivo de gaveta e já pronto o primeiro disco do Zé Ramalho. Embora seja um dos discos de mpb que eu mais gosto, não pensava em postá-lo aqui tão cedo. Mas as contingências acabam nos levando por caminhos inesperados. O jeito é ir curtindo esse clássico, que por certo todos conhecem. Mas vale a pena ouvir de novo. 😉
Círculo Sertanejo (1981)
Bom dia, amigos cultos e ocultos! Se tem uma coisa gostosa nessa vida é presentear e ser presenteado. Não há nada melhor que a gente ganhar algo que a gente tanto queria. E mais ainda, presentear alguém com algo que ela muito quer. Foi mais ou menos algo assim que aconteceu comigo. Eu estava a digitalizar alguns discos que ganhei e entre eles havia este, um box com três lps, reunindo uma série de fonogramas, clássicos da música sertaneja, dos arquivos da gravadora Chantecler, que foi o selo que mais investiu no gênero caipira. Eu estava no momento tocando o disco na minha ‘vitrola’, talvez um pouco alto, quando de repente a campainha de casa tocou. Era o vizinho, um senho já idoso e eu logo pensei, “puxa, devo estar incomodando o velho com o barulho”. Mas qual nada. Para a minha surpresa e estranheza ele estava chorando. Ele veio até a minha porta pedir para ouvir direito o que estava tocando. Ele também gosta de discos de vinil e tem um bocado. O velho ficou alucinado quando viu essa caixa. Ele a segurava como se não fosse soltar mais, via e revia por dentro e por fora. Lia a lista de músicas, segurava como se fosse um bichinho de estimação. Sabia todas as músicas e começou a me contar suas histórias. Eu já havia acabado o trabalho de digitalização, mas ele ficou ali, querendo ouvir mais… Como meu tempo era meio curto e mais ainda, vendo a satisfação daquele homem, não tive dúvida, virei para ele disse: “olha aqui, Seu João, leva este disco com o senhor, é um presente meu para você”. O velho ficou numa satisfação que não dá para descrever. Eu também, naquela hora tive uma satisfação por oferecer a alguém um presente. Confesso que alguns dias depois eu quase me arrependi. Não por ter lhe dado os discos, mas porque agora eu sou obrigado a ouvir isso diariamente. Não se trata de ser ruim, afinal o que temos nesse box com três lp são 39 clássicos da autêntica música sertaneja, trazendo o melhor do ‘cast’ e arquivos da gravadora, com duplas famosas tipo, Mariano e Caçula, Tonico e Tinoco, Liu e Léo, Tião Carreiro e Pardinho, Cascatinha e Inhana, Pedro Bento e Zé da Estrada, Torres e Florêncio, Mandy e Sorocabinha e também, Duo Guarujá, Irmãs Castro, Nhá Barbina, Miranda, Paraguassú, Zé Messias, Teixeirinha e mais um montão de artistas. Este box foi uma produção feita exclusivamente para os assinantes do Círculo do Livro. Uma seleção com os mais consagrados artistas da música caipira, autêntica sertaneja. Taí, uma oportunidade que os amigos não devem perder. Façam como o Seu João, vai na fonte… 😉
.
Orquestra América Romântica – El Cha Cha Cha (1970)
Originário de Cuba, o chá-chá-chá é considerado uma variação do mambo. “La engañadora”, do violinista Enrique Jorrin, é considerada a primeira composição desse gênero, lançada em 1951. E o chá-chá-chá foi logo popularizado através de grandes bandas e orquestras, tendo no mambo seu ascendente mais direto. Relativamente fácil de aprender, o chá-chá-chá pode muito bem ter sido a primeira dança pop de que se tem notícia, dado o seu caráter divertido, alegre e muito dinâmico, servindo de inspiração para muitos astros musicais do passado e do presente, ecoando hoje nos “tops” da música latino-americana, onde constam nomes como o guitarrista mexicano Carlos Santana e o cantor portorriquenho Ricky Martin, ex-integrante do grupo Menudo. É justamente dedicado ao chá-chá-chá o álbum que o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados. Lançado em 1970 perla gravadora Beverly com o selo AMC (iniciais do então proprietário da empresa. Adiel Macedo de Carvalho), faz parte de uma série denominada “Os maiores sucessos da música latino-americana”, que teve ainda títulos dedicados ao bolero, à rumba, ao tango e ao beguine, todos com execução a cargo de uma certa Orquestra América Romântica, por certo criada na esteira dos Românticos de Cuba, da Musidisc, dos Namorados do Caribe, da RCA, e da Orquestra Serenata Tropical, da Plaza Music. O disco não traz nenhuma informação sobre quem teriam sido os músicos e o regente de orquestra que participaram da gravação. Incógnitas à parte, porém, o fato é que o álbum vai de encontro àqueles que apreciam o chá-chá-chá. Em suas doze faixas, mesclam-se clássicos do gênero (“Cachito” e “El bodeguero”, popularizados no Brasil por Nat King Cole, e “Patrícia”, de Pérez Prado) e outras músicas tradicionais adaptadas para chá-chá-chá. Aqui se incluem “Night and day”, “Stardust”, o tema clássico “Pour Elise”, de Beethoven (que em certa época chegou a ser irritantemente tocado por alto-falantes de caminhões que distribuíam gás de cozinha!), “Arrivederci, Roma”, “Quizas, quizas, quizas”, “Nel blu dipinto di blu” (o famoso “Volare”), “Ojos negros” (tradicional canção folclórica russa) e, surpreendentemente, a brasileira “Mulher rendeira”, mundialmente popularizada graças ao filme “O cangaceiro”, de 1953. Tudo isso apresentado no “caliente” e irresistível ritmo do chá-chá-chá, pra dançarino nenhum botar defeito. E ahora… vamos a bailar!
cachito
mulher rendeira
nel blu, dipinto di blu
el bodeguero
pour elise
patricia
stardust
quizas quizas quizas
ojos negros
arrivederci roma
night and day
canção da índia
*Texto de Samueol Machado Filho
Noel Pela Primeira Vez – 229 Gravações De Noel Rosa Em Suas Versões Originais (2000)








Boa noite, amigos cultos e ocultos! Dentro das comemorações de 9 anos do Toque Musical, eu hoje presenteio vocês com uma coleção que ganhei há mais de uma década. Um box com 7 cds duplos, lançado pela Funarte e a Editora Velas, reunindo 229 gravações originais do Poeta da Vila, o grande Noel Rosa. Este box saiu em 2000, mas ao que parece, em uma edição meio que limitada. Tanto assim que eu mesmo, na época, não consegui achar para comprar. Somente algum tempo depois ganhei de presente de uma amiga. Muitas vezes fiquei tentado a publicar esta coleção aqui no Toque Musical, mas acabei deixando que outros blogs se encarregassem da tarefa. Hoje, passado um bom tempo e já maturada, esta edição já pode ser mostrada por aqui. Podemos dizer que essa é uma coleção definitiva, que permeia toda a obra de Noel Rosa. Confiram…
.
Asas Da América (1979), (1980), (1981), (1983) e (1989)
Olá, amigos cultos, ocultos e associados! O TM oferece hoje a vocês os cinco primeiros álbuns do projeto Asas da América, idealizado pelo cantor e compositor Carlos Fernando, lançados entre 1979 e 1989. Nascido em Caruaru, Pernambuco, em 1938, Carlos Fernando se notabilizou por misturar o frevo à MPB, o jazz ao forró e muitas outras inovações, em 40 anos de carreira. Chegou a escrever uma peça de teatro, “A chegada de Lampião no inferno”, baseada em livro de cordel escrito por José Pacheco. A peça inspirou, posteriormente, sua primeira composição musical, “Aquela rosa”, de parceria com Geraldo Azevedo (com quem até apresentou um programa de televisão no Recife), vencedora, em 1967, da Primeira Feira Nordestina de Música Popular, defendida por Teca Calazans, dividindo o prêmio com “Chegança de fim de tarde”, de Marcus Vinícius. Morando no Rio de Janeiro, Carlos Fernando firmou-se como compositor, e teve músicas gravadas pelos maiores nomes da MPB em seu tempo, vários deles presentes nos álbuns que hoje o TM nos oferece. Concebeu trabalhos também para a televisão (“Saramandaia”, “Sítio do Pica-Pau Amarelo”) e cinema (“Pátriamada”, filme dirigido por Tizuka Yamazaki). Entre seus maiores sucessos, ambos gravados por Elba Ramalho, estão “Canta, coração” e “Banho de cheiro” (este último aqui presente). Falecido em primeiro de setembro de 2013, no Recife, aos 75 anos, de câncer na próstata, Carlos Fernando recebeu, um ano mais tarde, um espaço dedicado à sua memória no Museu Memorial de Caruaru, além de uma homenagem na tradicional festa de São João do município. Sem dúvida, a série “Asas da América” foi (e ainda é) o maior legado de Carlos Fernando. Ele deu tratamento pop e futurista ao frevo, acelerando-lhe o andamento e introduzindo arranjos contemporâneos, com guitarra e teclados, fazendo o carnaval pernambucano voltar a ter uma trilha sonora contemporânea. Parcela importante da série nos é oferecida hoje pelo TM, através de seus primeiros cinco álbuns, que apresentam composições não só do próprio Carlos Fernando como também de outros autores. Entre os intérpretes, nomes de várias tendências e gêneros da MPB: Jackson do Pandeiro, Fagner, Amelinha, Elba Ramalho, Alceu Valença, Chico Buarque, Gilberto Gil, Juarez Araújo, MPB-4, Alceu Valença, o próprio conterrâneo Geraldo Azevedo, Robertinho de Recife, As Frenéticas, Michael Sullivan, Trem da Alegria, Lulu Santos… Os dois primeiros discos foram lançados pela CBS (hoje Sony Music), selo Epic, em 1979-80, o de 1981 pela Ariola, o de 1983 pela Barclay (sucessora da Ariola, que passou a adotar esse nome após sua venda para a Polygram, hoje Universal Music) e o de 1989 pela RCA/BMG, hoje também Sony Music. É no álbum de 1983, inclusive, que está um dos maiores hits autorais de Carlos Fernando, “Banho de cheiro”, na interpretação inesquecível de Elba Ramalho, sucesso absoluto durante o carnaval de 84 e depois do mesmo, e regravada seis anos depois por Alcione em outro disco da série aqui incluído, o de 1989. Outro destaque fica por conta de “Noites olindenses”, que abre esse mesmo volume, na voz de Caetano Veloso. Nele, Zé Ramalho regrava “Frevo mulher” (sucesso na voz de sua ex-esposa, Amelinha), Moraes Moreira revive seu clássico “Festa do interior” e aparece até mesmo uma inacreditável interpretação do roqueiro Lulu Santos para “Atrás do trio elétrico”, de Caetano. Uma quina primorosa de documentos discográfico-musicais, que representa, sem dúvida, o melhor do precioso legado de Carlos Fernando como compositor e produtor musical. E ainda viriam mais dois LPs, em 1993, e 1995, este último destinado ao público infantil (“Asinhas da América – O pinto da madrugada”). Agora é azeitar as canelas e frevar até se acabar!
* Texto de Samuel Machado Filho
Grupo Rumo – Quero Passear (1988)
Boa noite, minha gente boa, amigos cultos e ocultos! Não sei se todos sabem, mas neste mês de julho o Toque Musical está completando 9 anos de atividades. Não é moleza não. Poucos foram aqueles que conseguiram chegar até aqui. Proeza maior foi manter-se fiel a uma proposta, enfrentar todo tipo de obstáculo e continuar aqui divulgando, resgatando e compartilhando os tesouros que só vê quem escuta com outros olhos 😉 Vamos falar mais desse aniversário durante o mês. Inclusive, teremos aqui boas surpresas, bons pacotes… Basta ficar ligado.
Para hoje eu tenho este delicioso disco do grupo paulista Rumo. Já postamos deles algumas coisas e acho que este disco é outro que vale a pena recordar. Este foi o quinto lp lançado por eles. Um disco voltado para o público infantil. Ganhou o Prêmio Sharp de 88 como o melhor disco infantil e melhor canção infantil, “A noite no castelo”. Muito bacaninha 🙂
Brazil By Music – Brazil By Cruzeiro (1972)
Boa noite, amigos cultos e ocultos! Aproveitando o embalo, aqui vai mais um disco promocional, lançado pela Brazilian Airlines Cruzeiro, em 1972. Um disco recheado de boa música. Uma seleção que busca ‘ilustrar’, ou melhor, referenciar as diferentes regiões e culturas do Brasil. Voltado para o público estrangeiro, acredito eu que este disco tenha sido distribuído promocionalmente aos seus clientes internacionais. Uma maneira elegante de mostrar o país com músicas que representam verdadeiramente o espírito brasileiro.
Embora houvesse como editar cada uma das músicas, achei mais interessante manter a linearidade do disco que não traz separação por faixa. Vocês ouvirão o lado A e depois o lado B, sem pausa. Fica melhor ouvir o disco assim.
Grupo Zurana – Sorte (1977)
Olá amigos cultos e ocultos! Tenho para hoje um disco especial, do tipo que eu gosto de postar por aqui. Um lp promocional produzido pelo Grupo Zurana, sob a supervisão da MPM Propaganda, apresentando as versões musicais dos jingles usados pela Caixa Economica Federal na divulgação das extrações da Loteria Federal, em 1977. As músicas são interpretadas pelo Grupo Zurana, que nada mais é que um time de músicos e cantores, gente que trabalha em estúdios fazendo música para além do mercado fonográfico. Temos aqui figuras como Sivuca, Gilson Peranzetta, Reginha, Márcio Lotti, Mamão, Altamiro Carrilho, Joel Nascimento e muitos outros. A produção musical e arranjos são de Tavito e Eduardo Souto Neto. As composições são de artistas como Ivan Lins, Mariozinho Rocha, Paulo Sérgio Valle, Ruy Maurity, Eduardo Souto Neto, entre outros…
Eis aí um disco interessante, promocional e certamente uma edição limitada que poucos devem conhecer. Vale a pena resgatar coisas assim. Confiram essa joinha, pois o tempo é limitado 😉
Zimbo Trio + Cordas – É Tempo De Samba (1967)
Olá, amigos cultos, ocultos e associados! O TM hoje oferece a vocês mais um álbum da extensa discografia do Zimbo Trio. Formado em março de 1964, em São Paulo, era originalmente formado por Luís Chaves Oliveira da Paz (contrabaixo) – que curiosamente iniciou sua carreira na Belém do Pará de origem, como violonista de um regional -, Rubens Alberto Barsotti, o Rubinho (bateria), e Amíton Godoy (piano). O nome do grupo vem do termo afro “zimbo”, que significa boa sorte, felicidade e sucesso, além de designar uma das tantas moedas que circulavam no Brasil colonial. Em 17 de março de 1964, o trio faz sua primeira aparição em público, na boate paulistana Oásis, em show produzido por Aloysio de Oliveira, acompanhando a cantora e atriz Norma Bengell. Ainda nesse ano, seriam intérpretes da trilha musical de Rogério Duprat para o filme “Noite vazia”, de Walter Hugo Khouri, que tinha Norma Bengell no elenco. Em 1965, passam a ser acompanhadores fixos do programa “O fino da bossa”, apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues na TV Record, e que marcou época na telinha brasileira. Em 1968, o Zimbo Trio participa de um histórico recital no Teatro João Caetano do Rio de Janeiro, ao lado de Elizeth Cardoso e Jacob do Bandolim, que resulta em dois LPs gravados ao vivo pelo Museu da Imagem e do Som (MIS) carioca. Em 1973, o trio fundou, em parceria com o baterista Chumbinho (João Rodrigues Ariza), o CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical), voltado para a formação musical ampla, sem barreiras entre erudito e popular. A escola formou gerações de músicos. Com a morte do contrabaixista Luís Chaves, em 2007, este é substituído por Itamar Collaço, que introduziu o baixo elétrico no Zimbo Trio. Porém, em 2010, o contrabaixo acústico volta ao trio, com a substituição de Collaço por Mário Andreotti. Nos últimos tempos, o Zimbo Trio, às vezes atuando como um quarteto , com Pércio Sápia dividindo a bateria com Rubinho Barsotti, vem apresentando um repertório autoral baseado em composições do pianista Amílton Godoy. Com 51 discos gravados em mais de meio século de carreira, o Zimbo Trio conquistou reconhecimento mundial, excursionando por países dos cinco continentes, e assim divulgando nossa melhor música instrumental. Este “´É tempo de samba”, editado pela RGE em 1967 nas versões mono e estéreo, e hoje oferecido a vocês pelo TM, vem a ser o quarto álbum de estúdio do Zimbo Trio. Desta vez, é um trabalho que vem acrescido de uma orquestra de cordas, com arranjos cuidadosamente elaborados pelo contrabaixista Luiz Chaves. No repertório, composições de autores brasileiros então em evidência, tipo Chico Buarque (“Quem te viu, quem te vê”. “Tereza tristeza”, “Tem mais samba”), Baden Powell (“Cidade vazia”, com Lula Freire, e “Olô pandeiro”, com o Poetinha Vinícius), Tom Jobim (“O amor em paz”, também com Vinícius de Moraes), Geraldo Vandré (“Arueira” e o clássico “Disparada”, imortal produto de sua parceria com Théo de Barros) e Luiz Bonfá, este com duas composições de filmes norte-americanos (ele então residia nos EUA) que ainda não estavam sendo exibidos em nossos cinemas. E tudo isso apresentado na contracapa por um entusiasmadíssimo Sérgio Porto, esse mesmo que marcou época na imprensa brasileira com o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, criando tipos inesquecíveis como 0707Tia Zulmira, Rosamundo e Primo Altamirando. A boa aceitação deste trabalho motivaria, em 1969, o lançamento de um segundo volume de “Zimbo Trio + cordas”. E este primeiro comprova a qualidade artística e a versatilidade do Zimbo Trio, que fizeram do grupo uma autêntica referência na música instrumental brasileira.
anoiteceu
disparada
non stop to brazil
arueira
é tempo de samba
quem te viu e quem te vê
cidade vazia
tereza tristeza
o amor em paz
olô pandeiro
tem mais samba
the gentle rain
* Texto de Samuel Machado Filho.