Sylvio Mazzucca E Sua Orquestra – Baile De Aniversário (1958)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Hoje é sexta feira 13, uma data que para muitos é considerado um dia de azar. Eu, ao contrário, penso diferente. Primeiro, é sexta feira, melhor dia da semana. E segundo, é 13 de setembro, data do aniversário do meu melhor amigo. E é para ele esta postagem especial. Para ele e para todos aqueles que hoje completam mais um ano de vida. Parabéns, amigão! Parabéns a todos vocês, privilegiados por terem nascido nesse maravilhos ciclo astral! Setembrinos, virginianos… são sempre gente boa, isso eu garanto! 🙂
Segue aqui este álbum de 1958 do maestro Sylvio Mazzucca, o rei dos bailes. Este é uma daqueles discos que dispensa maiores apresentações, principalmente porque traz em sua contracapa toda a informação necessária. E eu como estou me preparando para ‘o baile’, tenho pouco tempo para ficar aqui dando explicações. Como podemos ver, trata-se de um álbum feito por encomenda, um presente para uma data geralmente festiva e para a época, consequentemente dançante. O disco se divide em apenas seis faixas longas nas quais são apresentadas 18 músicas em forma de ‘pot pourri’. Os temas apresentados, claro, são voltados para uma autêntica festa de aniversário, na qual não poderiam faltar músicas como, “Parabéns prá você”, “Feliz aniversário” e “Anniversary Song”. As demais músicas que completam o disco cumprem o seu papel de entreter os convidados numa festa dançante. Feita a postagem, agora é correr para um abraço. Feliz aniversário e muitos e bons anos de vida!

parabéns a você
feliz aniversário
anniversary song
chá chanzinho
with all my heart
tequila
alone
convite ao samba
não tenho lágrimas
night club
pour elise
o que é que a baina tem
you turned tables on me
do, ré, mi
tv tema
love me forever
diana
moonglight fiesta
.

Sacha’s Piano And Orchestra – Smooth And Gay (1966)

Olá amigos cultos e o ocultos, boa noite! Cheguei já no final da festa, ou melhor do dia. Mas ainda sim, há tempo para um toque musical. Mais uma vez estou eu recorrendo aos meus ‘discos de gaveta’ e desta vez o que eu puxei aqui não foi no acaso. Diria estratégico para os trinta minutos que restam de hoje. Vou apenas copiar e colar como complemento o meu próprio texto em outra e antiga postagem que fiz sobre o mesmo artista. Estamos falando aqui do Sacha Rubin Sacha, uma figura pitoresca, personagem bem conhecida na noite carioca nos anos 50 e 60. Sacha Rubin foi um pianista trazido ao Brasil pelo Barão Max Stukart, empresário austríaco residente no país, ao criar a boate Vogue. A Vogue foi uma casa noturna muito badalada, se tornando um ponto de encontro de figuras das mais importantes da sociedade carioca da época. Foi ao final dos anos 40 que Sacha passou a se apresentar. Segundo contam, Sacha Rubin era de origem turca, mas se fazia passar por francês (que era mais chique, claro). Tocava piano, invariavelmente com um cigarro (americano) no canto da boca e um copo de uísque (escocês legítimo) do lado. Fazia um tipo meio Humphrey Bogart, no filme Casablanca. Gostava de saudar os frequentadores tocando ao piano suas músicas prediletas, logo que esses adentravam no recinto. Provavelmente inspirado no Rick’s Bar de Casablanca ele também criou a sua casa noturna, a Sacha´s, também famosa naqueles tempos.
“Smooth and gay” foi mais um de seus álbuns, lançado em 1966 pelo selo London, da Odeon. No disco iremos encontrar um repertório de sambas de primeiríssima, antigos e atuais da época, com arranjos modernos, a la bossa nova, como manda o figurino. Sacha, no meu entender, floreia muito ao piano, mas o disco ganha a dimensão exata com a presença de uma orquestra impecável. Disco muito legal. Tem que ouvir!

implorar
agora é cinza
aí que saudade da amélia
favela
se você jurar
se acaso você chegasse
chuva
minha namorada
inútil paisagem
samba do avião
primavera
garota moderna
.

Renato De Oliveira Em Tempo Quente – Made In Brazil (1968)

Boa noite a todos, amigos cultos e ocultos! A partir de outubro o Toque Musical vai mudar. Não mais teremos as costumeiras postagens diárias. Essas, acontecerão de acordo com o meu tempo disponível. Dessa forma também, espero estar mais disponível para atender às centenas de solicitações e pedidos para novo links. Estou planejando, também para breve, algumas mudanças radicais no GTM. Creio que já é hora do Augusto aqui ser remunerado pelo seu trabalho e pela manutenção de seu conteúdo. Em breve, pode ser que eu venha a alterar a forma de associação ao grupo. Penso em cobrar uma anuidade aos associados como forma de cobrir gastos e custos, bem como a manutenção e reposição mais eficiente dos links. A taxa (anual) será quase simbólica, o suficiente para não deixar o Toque Musical continuar me dando prejuízo 🙂 Observo que minhas intensões e propostas continuam sendo as mesmas, divulgar a esquecida produção fonográfica brasileira e seus mais diversos artistas.
Para a noite de hoje eu estou trazendo para vocês um álbum muito interessante, bem a cara dos anos 60, ou do final dele. Temos aqui o maestro, instrumentista e compositor Renato de Oliveira, em tempo quente, desfilando um repertório “made in Brazil”. Uma seleção bem variada que trás alguns temas clássicos da nossa música popular. Na época, músicas consagradas e novos sucessos que mais tarde também se tornariam outros clássicos. Renato de Oliveira é mesmo um mestre e demonstra isso em arranjos surpreendentes que dão a essas músicas uma nova roupagem. Muito bom!

pot pourri:
segura esse samba – ogunhé
bafo de onça
o teu cabelo não nega
cidade maravilhosa
você passa eu acho graça
helena helena helena
marcha da quarta feira de cinzas
fita amarela
canto chorado
brasileirinho
bom tempo
vem chegando a madrugada
zelão
toda colorida
eu e a brisa
modinha
tempo quente
.

Jacaré – Choro Frevado (1985)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Eis aqui um disco que eu descobri recentemente. Na verdade eu o adquiri em um lote de disco que comprei em um sebo no Recife. Há tempos esse disco está esperando uma oportunidade de ser apresentado aqui. Hoje eu resolvi postá-lo e porque não dizer, conhecê-lo melhor. Confesso que me surpreendi. Aliás, quando se trata de artistas nordestinos eu geralmente me surpreendo, pois a turma lá pra cima tem uma musicalidade ímpar.
Temos aqui o ‘Jacaré’, apelido de Antonio da Silva Torres, um genial instrumentista e compositor pernambucano. Músico nato, que veio a ser descoberto, tardiamente, pelo violonista Maurício Carrilho na década de 80. Gravou apenas este disco através de um projeto cultural patrocinado pela Prefeitura da Cidade do Recife e Funarte, o Projeto Nelson Ferreira, que buscava registrar e promover a boa música  feita na região e seus artistas. O disco de Jacaré foi o segundo volume de uma série do qual eu só conheço este lp. Com apoio e produção artística de Maurício Carrilho, o disco foi lançado em 1985. Como se trata de uma produção cultural, certamente o número de cópias (discos) foi pequena, insuficiente para apresentar o artista aos quatro cantos do país. Mesmo assim já valeu o esforço, o registro para a posteridade. Mesmo de maneira tímida, este trabalho permaneceu. A Funarte, pelo que sei, chegou até a relançá-lo em formato cd. Este é mais um daqueles álbuns que a gente precisa mesmo conhecer. Na verdade, não só o disco, mas também o artista. Para melhor apresentá-los, vou tomar aqui emprestado o texto do jornalista Marcos Toledo, publicado no Jornal do Commercio do Recife, há 12 anos atrás:

Antônio da Silva Torres é o nome que está nos seus documentos. Mas nem pelo seu famoso apelido, Jacaré, talvez você o reconheça. Quem curte o ritmo do choro, contudo, encontrará entre a pouco variada discografia disponível em CD um álbum desse cavaquinista de 72 anos, natural do bairro do Cordeiro, Recife. O talento de Jacaré, reconhecido por instrumentistas de renome nacional, não corresponde ao modo como ele vive hoje, relevado e desmotivado, levando a vida a animar rodas de chorões pelos bares da vida. Ainda assim, o músico tem um projeto de lançar mais um disco de inéditas, que já conta com o apoio do violonista e produtor Maurício Carrilho.
Ainda criança, ele tomou gosto pelo cavaquinho. O pai, Josias Olímpio Torres, era barbeiro e também violonista. “Ele levava muitos amigos para tocar lá em casa”, lembra Jacaré. Antes de se tornar um profissional da música, o cavaquinista trabalhou como auxiliar do alfaiate Arlindo Melo, que era também cantor de boleros e lhe deu o apelido pelo qual ficou conhecido até hoje. Seguiu, paralelamente, na alfaiataria e tocando o instrumento.
A vida do músico começou a ficar meio incerta com a morte dos pais. Sentindo-se sozinho, entrou para um circo e foi parar em Campina Grande, na Paraíba. “Depois, quiseram ir para o Peru mas eu não quis”, recorda.
De volta a Pernambuco, Jacaré voltou a ser alfaiate, já de maneira autônoma. Em sua mente, havia um outro objetivo: tocar no rádio, talvez, o que havia de melhor em termos de trabalho para um músico, naquela época. “Aqueles sonhos bestas que a gente tem”, define o artista, com um pouco de ressentimento.
O sonho, o cavaquinista começou a realizar quando, mais uma vez, foi para o interior. No município de Limoeiro, onde viveu por quatro anos, conseguiu uma vaga para atuar no regional da Rádio Difusora local. Lá, seu padrinho de crisma, Galba Bittencourt, sugeriu que voltasse ao Recife para tocar na Rádio Clube. Era o ideal de Jacaré participar de um conjunto em uma grande rádio da capital e ele resolveu arriscar. “Estava ansioso e não tinha compromisso com mulher”, conta.
TRABALHO PRÓPRIO – Foram seis anos. Primeiramente, integrando o regional de Martinho da Sanfona e, depois, o famoso do saxofonista Felinho. A experiência, logo se transformou na primeira oportunidade – por intermédio do radialista Aldemar Paiva – de Jacaré gravar seu primeiro disco, um compacto duplo pelo selo Mocambo, da gravadora Rozenblit.
O instrumentista explica que começou a compor porque “não gostava de tocar música dos outros”. Assim, faturou o primeiro lugar com uma de seus temas num concurso do programa Céu e Inferno, da Rádio Clube. “Dá um trabalho danado fazer música”, afirma. “Tenho que estar muito tranqüilo, com a cabeça tranqüila.”
O estilo de interpretação de Jacaré é, até hoje, elogiado por diversos músicos brasileiros especialistas em choro. O que sempre dificultou a sua afirmação como compositor é o fato dele não ler nem escrever música. O cavaquinista conta que sua avó, organista de igrejas, até que insistiu para que ele aprendesse. “Mas eu era menino”, tenta justificar. O talento de Jacaré, no entanto, era latente desde criança. “Meu irmão começou antes de mim, mas o pessoal só queria que eu tocasse. Aí, ele desistiu.”
Jacaré, então, criou suas próprias músicas como aprendera a executar a de virtuoses do seu instrumento, como Waldir Azevedo: por ouvido. Assim, idealizou as 13 composições que formam seu único álbum, Choro Frevado, lançado pela primeira em 1985, como segundo volume do Projeto Nelson Ferreira, da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, com apoio da Funarte. A produção artística e vários arranjos são assinados pelo violonista Maurício Carrilho.
Depois que deixou de ser músico nas rádios, Jacaré ainda integrou conjuntos de bom nível que se apresentavam em hotéis nos bairros da Boa Vista (São Domingos) e Boa Viagem (Casa Grande & Senzala). “Era com carteira assinada”, lembra. “Eu ganhava mais do que na rádio.” A experiência no setor hoteleiro, no entanto, não chegou a uma década.
Após esse período, o músico começou a amargar a falta de espaço para atuar. Os bares, último reduto dos chorões, já não abre tanto espaço para esse ritmo secular. As gravadoras, muito menos. “Está tão horrível, que eu saio todo dia atrás da música. Eu, um (intérprete de) violão e um (de) pandeiro. Quando eles não vêm, eu vou só”, diz, parafraseando um samba sem querer.
Do seu único álbum, reeditado em CD, Jacaré afirma que recebeu 100 cópias para divulgação e apenas R$ 34 relativo a direitos autorais. Se já é difícil para o músico brasileiro que tem suas músicas devidamente editadas receber seus royalties, imagine para o cavaquinista pernambucano, que nunca teve suas músicas editadas, não tem conta no banco e cujo endereço é informação para poucos.
Um pouco amargurado, Jacaré vive hoje modestamente de aluguel numa pequena casa conjugada no bairro de Salgadinho (Olinda). Ele a atual esposa, Maria José, que canta em corais. Para achá-lo, somente por intermédio de amigos como o violonista Henrique Annes que, quando recebe convites para tocar em outras cidades – Rio de Janeiro, São Paulo –, tenta levar o cavaquinista.
Mesmo sem muita esperança, na última vez que esteve no Rio de Janeiro – em janeiro deste ano, durante um festival que homenageou os 100 anos do choro – gravou quatro novas composições no estúdio da gravadora Acari, de Maurício Carrilho e Luciana Rabello.
O instrumentista garante que tem mais composições e espera contar com apoio de algum órgão cultural do governo para realizar o que seria seu segundo álbum. Ele conta que, quando viaja, sente-se mais inspirado a compor. “ A gente se esquece dos problemas”, explica. Na mesma viagem ao Rio, no início do ano, fez o choroTricolor, uma homenagem ao clube Santa Cruz.
Contatado por telefone, o músico e produtor Maurício Carrilho confirmou que está com as quatro faixas gravadas por Jacaré arquivadas e que, assim que o músico pernambucano tiver as outras músicas prontas, pode avisá-lo. “A gente manda as passagens para ele vir gravar”, garantiu.
Até lá, quem quiser ouvir os choros de Jacaré, além do disco, pode conferi-lo, ao vivo, em bares do Recife Antigo, como o História e o Scotch.

Obs.: Jacaré faleceu em 2005

galho seco
saudade de limoeiro
goianinha
jacaré de saiote
silvana
vai e vem
jacaré voador
jacarezinho
chorinho caiçara
pro herminio
sem rancor
jaciara
saudoso cavaquinho

A Música De Cartola – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 68 (2013)

Em sua sexagésima-oitava edição, o Grand Record Brazil nos brinda com as primeiras composições gravadas de um grande nome do samba e da MPB. Estamos falando de Cartola. Angenor de Oliveira – que só por ocasião de seu casamento com Zica (Euzébia Silva do Nascimento) descobriria que seu pré-nome era Angenor e não Agenor, como vinha assinando – nasceu em 11 de outubro de 1908, na Rua Ferreira Viana n.o 9, no bairro do Catete, Rio de Janeiro. Era o primeiro dos oito filhos do primeiro casamento de Sebastião, com Aída. Aos oito anos, foi morar na Rua das Laranjeiras e teve despertado seu interesse pela música no contato com ranchos e clubes de operários e, ora, pois, pois, portugueses. Quando ele tinha 11 anos, a situação da família piorou, fazendo com que se mudasse para o morro da Mangueira, então ainda com características rurais e pouquíssimo habitado. Aí conhece Carlos Cachaça (1902-1999), marcando o início de uma estreita e duradoura amizade, inclusive na música, sendo parceiros de grandes sambas. O primeiro emprego de Cartola, primeiro de muitos trabalhos humildes, foi numa modesta tipografia. Na profissão de pedreiro, ele passou a usar um chapéu-coco a fim de proteger o cabelo do reboco, daí nascendo o pseudônimo com que ficou para a posteridade. Com apenas 18 anos, amasia-se com Deolinda (que era casada, tinha uma filha e era sete anos mais velha que ele!). Integrado na roda dos batuqueiros, integra a formação, anos depois, do Bloco dos Arengueiros, cujo maior prazer entre seus componentes era promover arruaças, fazendo jus ao nome. Um dia, porém, seus componentes concluem ser chegada a hora de acalmar os nervos, sem perder a finalidade musical. Assim nasceu, em 1928, a lendária Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, cujas cores, verde e rosa, foram adotadas por sugestão do próprio Cartola (eram as mesmas cores do Rancho dos Arrepiados, por ele frequentado no tempo em que morara na cidade).  Entre 1929 e 1933 teve suas primeiras oito composições gravadas, cinco por Francisco Alves , o maior cantor da época, uma por Cármen Miranda, uma por Sílvio Caldas e uma pelo iniciante Arnaldo Amaral. Essa primeira fase de músicas gravadas seria interrompida, pois os rendimentos eram parcos, e Cartola dedicou-se apenas a compor para sua querida Mangueira, da qual se tornou figura lendária, lançando esporadicamente em disco um ou outro samba, inclusive gravando para o maestro Leopold Stokowski, em 1940, o samba “Quem me vê sorrir” (ou “Quem me vê sorrindo”), parceria com Carlos Cachaça, registro que na época só saiu nos EUA.  Nos anos  40, teve inúmeras dificuldades, tanto financeiras quanto pessoais, abalado pelo falecimento de sua Deolinda e gravemente doente. Nessa ocasião, Cartola se afasta da Mangueira e chega até a ser dado como morto. Em meados da década de 1950, o jornalista e escritor Sérgio Porto o redescobre na penúria, como lavador de carros numa garagem de Ipanema. Sérgio anuncia a boa nova de que Cartola ainda vivia, e lhe arranja um emprego menos árduo. Aos poucos, o mestre mangueirense começa sua reintegração ao meio musical. É quando se casa com sua querida Dona Zica, bela cabrochinha de olhos brilhantes, e também exímia e celebrada cozinheira. Ambos instalam, num antigo casarão da Rua da Carioca, o lendário restaurante Zicartola, que funcionou de 1963 a 1965, tornando-se ponto de encontro de sambistas de morro com nomes ditos elitizados , dando também oportunidade para o surgimentos de novos valores, Cartola comandando o samba e Dona Zica o “rango”. Entre suas composições mais conhecidas destacam-se “O sol nascerá”, “As rosas não falam”, “Acontece”, “O mundo é um moinho”, “Sim” e “Alvorada”. Entre 1974 e 1978, Cartola grava quatro LPs, dois pela Marcus Pereira e outros dois pela RCA, bastante elogiados pela crítica e bem acolhidos pelo público. Cercado do respeito e reconhecimento gerais, faleceu em 30 de novembro de 1980, aos 72 anos, sendo seu corpo velado na sede da Mangueira com todas as homenagens, e sepultado no cemitério do Caju.

Para esta edição do Grand Record Brazil, foram selecionadas nove faixas, gravadas em 78 rpm.  Abrindo esta seleção, temos a primeira composição gravada de Cartola, “Que infeliz sorte!”, lançada pela Odeon em dezembro de 1929, na voz de Francisco Alves, disco 10519-A, matriz 3095. Mário Reis chegou a adquirir os direitos de gravação deste samba por 300 mil-réis, mas preferiu repassá-lo ao Rei da Voz. Em seguida, Cármen Miranda, já então “o maior nome feminino da fonografia nacional”, interpreta “Tenho um novo amor” gravação Victor de 11 de maio de 1932, lançada em julho seguinte sob n.o 33575-B, matriz 65486, com acompanhamento do mestre Pixinguinha, à frente do Grupo da Guarda Velha.  É uma parceria de Cartola com Noel Rosa, não creditado no selo e na edição. Vem também a ser o caso das faixas seguintes, interpretadas por Francisco Alves e por ele gravadas na Odeon: “Não faz, amor”, gravação de 7 de julho de 1932, disco 10927-A, matriz 4481, e “Qual foi o mal que eu te fiz?”, imortalizado pelo Rei da Voz em 30 de dezembro de 32 mas só lançado em maio de 1933 sob n.o 10995-B, matriz 4574. Noel e Cartola, sem dinheiro, procuraram Chico Alves no Largo do Maracanã e lhe pediram algum. Chico concordou, desde que cada um fizesse um samba naquele momento. Foi aí que compuseram “Qual foi o mal que eu te fiz?”, com toda a segunda parte de Noel, que nessa ocasião fez sozinho “Estamos esperando”, gravado por Chico em dupla com Mário Reis. No dia 3 de janeiro de 1933, Francisco Alves retorna aos estúdios da Odeon para gravar outro samba de Cartola, agora sem parceiro: “Divina dama”, que será lançado logo em seguida com o número 10977-B, matriz 4575, constituindo-se no maior sucesso da primeira fase de composições gravadas do poeta mangueirense.  A faixa seguinte, “Na floresta”, foi gravação de Sílvio Caldas, parceiro de Cartola neste samba, em  13 de julho de 1932, matriz 65546, mas a Victor só o lançou em outubro de 33 com o n.o 33712-A. Isso em virtude de atritos entre Sílvio e Francisco Alves. Bucy Moreira compôs um samba chamado ‘Foi um sonho”, do qual Chico Alves gostava da letra, mas não da melodia. Então o Rei da Voz encaixou a de “Na floresta”, deixando a letra de lado. Os versos seriam musicados e gravados por Sílvio Caldas, e Francisco Alves, evidentemente, surtou e quis impedir o lançamento do disco. Mas Sílvio Caldas convenceu o Rei da Voz de que ele tinha comprado apenas a melodia: “Você deixou a letra de lado e o Cartola precisa ganhar dinheiro!” E Chico deixou os atritos também de lado…  A faixa seguinte é “Não posso viver sem ela”, parceria de Cartola com Alcebíades “Bide” Barcelos, gravada na Odeon por Ataulfo Alves, à frente de sua Academia de Samba, em 27 de novembro de 1941, com lançamento bem em cima do carnaval de 42, fevereiro, sob n.o 12106-B, matriz 6870. Entretanto, o hit maior desse disco foi o clássico “Ai, que saudades da Amélia”, de Ataulfo e Mário Lago, que ofuscou esta aqui. O samba-canção “Grande Deus” foi composto por Cartola em 1946, quando contraiu meningite e demorou mais de um ano para se recuperar. Porém, só em agosto de 1958 é que a música foi lançada em disco, na voz do grande Jamelão, pela Continental, sob n.o 17573-A, matriz C-4099. E, para encerrar mais este pequeno-grande programa do GRB, o samba “Festa da Penha”, parceria de Cartola com Asobert (pseudônimo e anagrama de Adalberto Alves de Souza). Foi gravado em 1958 por Ary Cordovil para o extinto selo Vila, em disco de número 10003-A, matriz V-7801-A. A festa em questão acontecia todo ano no mês de outubro, com romaria de fiéis  percorrendo o longo caminho até a igreja (com escadaria e tudo), que até hoje fica bem em cima do morro da Penha, numa demonstração de fé e oportunidade para apresentação de novas músicas, sempre com um olho profano em direção ao carnaval. Esta é a homenagem do GRB ao mestre Cartola, nome que tem seu lugar garantido entre os imortais de nossa música popular.

* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Mancha – Apresenta Batucada Maravilhosa (1991)

Olá amiguissímos e cultos e ocultos! Batendo o ponto do domingo, aqui vamos nós, antes que o domingo acabe. Estou trazendo para vocês outro curioso e interessante lp que comprei em Sampa. Há tempos este artista me persegue, mas talvez pelo seu visual meio exótico, cabelo armado e bem delineado, lente de contado colorida, corpo brilhante, nunca dei muito crédito. Mas desta vez resolvi encarar o som do Mancha e olha… gostei. Ao que me parece, o cara é daqueles que joga em todas as posições:  criação, concepção, produção, execução e divulgação. Seus discos são variados, tem samba, rock, funk… Neste álbum vamos encontra o Mancha nos apresentando a Bateria Maravilhosa. Um disco a la Luciano Perrone, estritamente de  percussão. Realmente muito bacana. Fiquei agora interessado em conhecer um pouco mais o trabalho deste artista, Infelizmente, pelo Google não há muito o que encontrar além de anúncios de venda de alguns de seus dsicos. Se alguém tiver informações, por favor, fiquem a vontade para comentar.

cavaco envolvente
chora cuica
ritmo mesclado
tamborim malandro
cavaco alucinante
solo incrementado
ritmo de samba
percussão vibrante
ritmo de primeira linha
descendo o morro
.

Luiz Bittencourt E Sua Orquestra De Violões – Vereda Tropical (1962)

Olá amigos cultos e ocultos! Não bastasse a falta de tempo, no pouco que me resta tenho andado numa preguiça que nem conto a vocês. As vezes a gente dá aquela desanimada, desacelera, mas não chega a pisar de vez no freio. Quando não estou muito animado isso aqui vira uma salada mista, pois vou catando o que vier primeiro. Se hoje é samba, amanhã pode ser rock e depois pode ser jazz, ou erudito, ou sertanejo… Vira um verdadeiro leque sortido, para agradar os gregos e troianos. No fundo, eu até gosto mesmo desse ecletismo musical, mas gosto mais quando posso planejar e projetar as futuras postagens. Enfim…
Seguimos agora com o compositor e instrumentista Luiz Bittencourt neste álbum lançado originalmente em 1962. Produção de Nilo Sérgio através de seu selo Musidisc. O álbum aqui apresentado já é uma segunda versão, em estéreo, lançada algum tempo depois, inclusive este aparece com algumas alterações na capa e com o selo “Rio Stereomono”. Certamente mais uma jogada promocional do nosso grande produtor.
Temos aqui Luiz Bittencourt e Sua Orquestra de Violões, que lendo assim a gente até pensa ser um disco todo voltado para o instrumento. Mas não é bem assim. Ou por outra, é bem mais… Os violões (elétricos) até que estão presentes, mas dividem a cena com os outros instrumentos. Nesta soma quem mais sai ganhando é a própria música, com arranjos e instrumentação de primeiríssima. Gravação cuidadosa e de alta qualidade como cabe aos discos produzidos pelo refinado Nilo Sérgio. Eis um álbum que merece ser ouvido  num estéreo. Olhem só a seleção…

foi ela
beguin the beguine
jalousie
ave maria no morro
vereda tropical
despertar da montanha
prenda minha cha cha cha
morena boca de ouro
fascination cha cha cha
amor cha cha cha
.

Charme Faces – Um Plano (2002)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Finalmente é sexta-feira! Mesmo estando eu um tanto ‘pitimbado’, cheio de dores, como cabe a todo cidadão na ‘idade do condor’. Foi por estar meio mal que não tive ânimo para postar nesses últimos dois dias. Hoje me sinto um pouco mais animado, a ponto de curtir uma balada (mas regada a água mineral) e de quebra ainda botar um som para todo mundo dançar. Oha ele aí…
No início do ano estive em São Paulo e por lá comprei, numa garimpada pelos sebos do Centro, uma série de curiosidades musicais, discos que me chamaram a atenção. Produções nacionais, claro, mas específicamente da terra da garôa. Gêneros dos mais variados. Fico impressionado de ver essas produçoes independentes, coisas que parecem circular apenas na própria cidade, ou para um grupo muito específico. É o caso deste álbum (duplo!) do trio “Charme Faces”, um grupo de rap muito bem arranjado. Os ‘manos’ fazem um som bem gostoso, um batido contagiante, que leva qualquer um  no clima. Claro, é música puramente americana, ‘black music’, um estilo conhecido do ‘charme’, que agrada com facilidade. O que pega é a qualidade dos ‘raps’, as letras são fraquinhas, somadas a um vocal típico de paulista suburbano que puxa o ‘erre’. Mas no mais, o disco é bem interessante de se ouvir, seja com esses ou com outros olhos. Infelizmente eu não tenho nenhuma informação do grupo. Pelo Google também não encontramos muita coisa além das próprias músicas. O Charme Faces, pelo pouco que pude ver é uma trio muito bem conceituado do rap, inclusive internacional. A música “Sexta feira” é um dos seus hits mais conhecidos. Taí uma boa razão para essa apresentação. Hoje é sexta feira!

vinheta
sexta feira
te amo demais
seu corpo
sexta feira (intrumental)
a cruz
minha hora chegou
cansei do seu amor
um plano
ficar sem ninguém
puro desejo
rainha da pista
esqueça do passado
vinheta outra chance
outra chance
te amo demais (instrumental)
.

Luiz Cláudio E Outro Assuntos

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Hoje nós teremos uma postagem diferente. Quero deixar aqui uma homenagem ao cantor e compositor mineiro Luiz Cláudio, “a voz de veludo”, que veio a falecer no último dia 30 de agosto. Para meu espanto, não vi e nem ouvi nenhuma repercussão do fato na mídia. O falecimento do artista passou meio que batido. Parece que não deram muita bola para aquele que foi um dos maiores cantores do Brasil. Cantor, compositor e artista plástico, diga-se de passagem. Aqui no Toque Musical nós postamos uma boa parte da sua discografia. Como no momento não tenho nenhum outro disco dele para postar, resolvi pelo menos reativar todos os ‘toques’ publicados aqui. Assim, fiquem os amigos sabendo que os discos já estão lá, no GTM, ok? Valeu, Luiz Cláudio! Aqui você será sempre lembrado!
Outro assunto a tratar é esse nosso espaço, o blog/site Toque Musical. Estou tendo problemas com a atualização da plataforma WordPress junto ao meu provedor de hospedagem. Eles precisam atualizar suas máquinas e programação e ao que parece, na forma em que está, o TM é incompatível, não funcionando integralmente. Dentro das próximas 48 horas o blog pode ficar fora do ar. Para que vocês não percam as postagens, a coisa continuará rolando normalmente em nossa versão pelo Blogger. As postagens continuaram acontecendo diariamente. Qualquer dúvida, estamos também no facebook. Chega mais.. 🙂

Cyro Monteiro – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – parte 2 – Vol. 67 (2013)

 “Uma criatura de qualidades tão raras que eu acho improvável qualquer de seus amigos não se haver dito, num dia de humildade, que gostaria de ser Cyro Monteiro. Pois Cyro, pra lá do cantor e do homem excepcional, é um grande abraço em toda a humanidade”. Foi assim que o eterno Poetinha Vinícius de Moraes (1913-1980) se referiu ao “Formigão”, ou ainda “o cantor das mil e uma fãs”, na contracapa do LP “Senhor samba”, lançado em 1961 pela Columbia, hoje Sony Music.  Coincidentemente, estamos comemorando neste 2013 o centenário de ambos, Vinícius e Cyro.
E é com muita alegria e prazer que o GRB traz a segunda parte da retrospectiva que iniciamos semana passada, em comemoração ao centenário do nascimento de Cyro Monteiro.  Desta feita, apresentamos mais 16 preciosos e históricos fonogramas, todos da RCA Victor,  incluindo clássicos de seu repertório, e por tabela, da própria MPB.
Pois, mais uma vez, Cyro está aqui muitíssimo bem servido, apresentando composições de alguns dos monstros sagrados do samba nessa época. Caso, por exemplo, de Wilson Batista (outro cujo centenário estamos comemorando neste 2013).  Ele assina com mestre Ataulfo Alves de Miraí a faixa de abertura de nossa seleção da semana, “Você é o meu xodó”, gravação de 5 de junho de 1941 lançada em agosto do mesmo ano, disco 34781-B, matriz S-052235. Temos em seguida “Você está sumindo”, de Geraldo Pereira  (de quem Cyro foi assíduo freguês) e Jorge de Castro, gravado em 2 de abril de 1943 e lançado em junho do mesmo ano sob n.o 80-0085-A, matriz S-052742. De Alcides Rosa e Djalma Mafra  é “Abriu-se o pano”, gravação de 22 de janeiro de 1946, lançada em abril seguinte com o n.o 80-0389-A, matriz S-078417. “A mulher que eu gosto”, de Wilson Batista e Cyro de Souza, é um clássico do repertório do “Formigão”, que o imortalizou em 28 de março de 1941, com lançamento em junho desse ano sob n.o 34745-A, matriz 52164. Wilson assina depois, mais uma vez com mestre Ataulfo, “Mania da falecida”,  registro de 30 de maio de 1939, lançado em agosto com o n.o 34470-A, matriz 33077. Em seguida vem um clássico dos clássicos do samba brasileiro: “Falsa baiana”, obra-prima de Geraldo Pereira, em gravação de 3 de abril de 1944, lançada em junho seguinte sob n.o 80-0181-A, matriz S-052940. Obrigatório na lista dos maiores sambas de todos os tempos, foi inspirado na fantasia de baiana que a esposa do compositor Roberto Martins usava no carnaval do ano anterior, 1943. Ela não sabia sambar, e estava longe de ser uma baiana cem por cento. Foi o que levou Geraldo Pereira a fazer este clássico, inicialmente oferecido a Roberto Paiva, que não quis gravá-lo, estranhando seu ritmo “quebrado”. Azar dele, porque com Cyro Monteiro estourou! Tem várias regravações, inclusive de João Gilberto e Gal Costa. Geraldo assina, em parceria com Príncipe Pretinho (autor de outro samba clássico, “Só pra chatear”), a faixa seguinte, “Voltei  mas era tarde”, gravação do “Formigão” em 13 de setembro de 1944 lançada em novembro seguinte com o n.o 80-0228-B, matriz S-078053. Outro grande nome do samba, Ismael Silva (1905-1978), responsável por clássicos como “Se você jurar”, “Novo amor”, “Arrependido” e “Antonico”, assina aqui “Não vá atrás de ninguém”, gravação de 3 de setembro de 1941, lançada em novembro desse ano com o n.o 34822-B, matriz S-052346. Ernâni Alvarenga, conhecido como “o samba falado da Portela”, assina com Jardel Noronha “Linda Iaiá”, que o “Formigão” irá imortalizar no dia 14 de agosto de 1940, e será lançado em outubro do mesmo ano com o n.o 34666-A, matriz 33486. Cyro volta a interpretar Ismael Silva na próxima faixa, “Eu sou um”, que, como exceção ao repertório essencialmente sambístico desta edição, é uma marchinha, visando o carnaval de 1940, gravação de 11 de outubro de 39 lançada ainda em dezembro, disco 34529-A, matriz 33184. Ainda no setor carnavalesco, e voltando ao samba, temos “Golpe errado”, do trio Geraldo Pereira-Cristóvão de Alencar (o “amigo velho”)-David Nasser, da folia momesca de 1946, gravado em 4 de novembro de 45 e editado bem em cima dos festejos, em fevereiro, sob n.o 80-0383-A, matriz S-078405. Em seguida outro inesquecível clássico da parceria Ataulfo Alves-Wilson Batista: “O bonde São Januário”, hit absoluto no carnaval de 1941, gravado em 18 de outubro de 40 e lançado ainda em dezembro sob n.o  34691-A, matriz 52022. Foi inclusive o samba vencedor do concurso oficial de músicas carnavalescas promovido pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), da ditadura getulista, superando até mesmo “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, inscrito por motivos políticos. Até uma paródia foi feita ironizando os torcedores do Vasco; “O bonde São Januário/ leva um português otário/ pra ver o Vasco apanhar”…, Logo depois, Geraldo Pereira e Ari Monteiro assinam “Ai, mãezinha”, gravação de 28 de maio de 1946, lançada em setembro do mesmo ano com o n.o  80-0437-A, matriz S-078529. De Geraldo é também, parceria com J. Portela, “Até hoje não voltou”, gravado por Cyro na mesma sessão, matriz S-078530, sendo o lado B de “Ai, mãezinha”. Numa prova de que estava mesmo com a corda toda nessa época, Geraldo Pereira assina com Elpídio Viana outro clássico do samba, “Pisei num despacho”, que o “Formigão” imortaliza em 17 de abril de 1947 com lançamento em junho seguinte sob n.o 80-0518-A, matriz S-078745. É outra peça que tem regravações aos cachos, com destaque para as de Roberto Silva e Jackson do Pandeiro. E, para encerrar este autêntico show de criações do grande Cyro Monteiro, Wilson Batista e Germano Augusto assinam “Tá maluca”, gravação de 10 de maio de 1940, lançada em julho com o n.o 34627-B, matriz 33428. Esta é a justíssima homenagem do GRB ao grande Cyro Monteiro, para sempre um monstro sagrado do samba e da música popular brasileira!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Gang 90 – Pedra 90 (1987)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Hoje, devido a uma ‘falha técnica’ nós não teremos a já tradicional coletânea exclusiva do Toque Musical, a série “Grand Record Brazil”, com textos de postagem do nosso grande amigo culto, Samuel Machado Filho, o Samuca. Resolvemos remanejar o volume 67 para amanhã, terça feira, ok?
Enquanto isso, vamos dar mais uma chance ao rock brazuca. Estou trazendo para fechar a noite o “Pedra 90”, terceiro e último álbum da banda Gang 90. Este grupo surgiu em São Paulo nos anos 80, fundado pelo jornalista Júlio Barroso. Ficaram conhecidos a partir da participação no “Festival MPB Shell”, em 1981, defendendo a música “Perdidos na selva”. Nessa ocasião ainda se chamavam apenas “As abusurdetes”. Emplacaram mais um sucesso, a música “Nosso louco amor” em 83. No ano seguinte Júlio Barroso morre ao cair da janela de seu apartamento. A banda continuou em frente com novas formações e apoio dos amigos, liderada pela tecladista Taciana Barros. Em “Pedra 90” temos dois destaques, as músicas “Palavras não bastam” e “Cara pálida”, musicas que conseguiram um relativo sucesso. Confiram…

palavras não bastam
cara pálida
sou da rua
coração de alguém
vida dura
funk favela
visão noturna
do outro lado da cidade
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Labirinto – Kadjwynh (2012)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Domingo, para não variar, é um dia cheio de surpresas, geralmente desagradáveis. Como já foi noticiado em todos os veículos de comunicação, principalmente pela web, morreu hoje o nosso grande cavaquinista Waldir Silva. Eu cheguei até pensar em dedicar esta postagem a ele, mas infelizmente não tenho como preparar uma para de imediato. Assim, estou pelo menos repondo no GTM os dois discos que temos publicado aqui. Logo que possível  a gente faz a homenagem, afinal este é um artista que merece o nosso carinho.
Como disse, o domingo é um dia de surpresas, mas que também podem ser boas. Eis aqui uma delas, a conceituada banda Labirinto. Hoje eu estou postado um disco lançado no ano passado. Trata-se de um EP cujo nome é “Kadjwynh”, que segundo informações quer dizer ‘energia vital’ na língua indígena Kayapó. O trabalho foi editado em formato cd e também em lp, em tiragem limitada. Como se pode ver nas ilustrações, o vinil é super bacana, totalmente estampado num desenho que lembra muito uma arte japonesa, embora não tenha nada a ver. Confesso que comprei este disco mais pela sua arte, digno de ficar na discoteca sempre exposto, de forma decorativa. Mas o que é belo por fora é ainda mais primoroso por dentro. Me fez lembrar um pouco de tudo que já ouvi em matéria de rock progressivo, psicodélico e coisas do gênero. Gostei tanto do trabalho dessa moçada que acabei comprando também o álbum duplo “Anatema”, lançado em 2010, genial! Para que gosta de rock progressivo, eis aqui uma superbanda. Esta eu fiz questão de postar e indicar. Não basta ouvir apenas, tem que comprar o disco e ir ao show. Aos interessados, sugiro que visitem o site da banda. Vale a pena!

non sunt daemones
tuira
piam ket
cairo
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Cabine C (1987)

Olá amigos cultos e ocultos! Aqui vamos nós neste sábado frio… acho que hoje eu nem vou sair de casa. Desânimo total! Tomar uma sopa ou talvez um mingau (putz, até rimou!)
Seguimos com mais uma curiosidade do rock tupiniquim, desta vez lá dos anos 80, Cabine C, alguém aí se lembra? Formada em Sampa por Ciro Pessoa (ex Titãs), Marinella 7, Wania Forghieri e Anna Ruth. Foi mais uma das muitas bandas surgidas naquela década, buscando seu lugar ao sol. Ficou só neste lp, disco este, por sinal, produzindo pelo Luiz Schiavon do RPM. Álbum independente, com onze faixas, também conhecido como “Fósforos de Oxford”, nome de uma de suas músicas. O Cabine C traz um ‘rock’ bem aos moldes do que rolava naquela época do pós punk. Suas músicas trazem elementos do gótico, industrial, dark… muito influenciada pelas bandas inglesas de ramificação mais ‘cult’ da onda ‘New Wave’. O Cabine C teve seu segundo momento ao ser incluído em uma copilação lançada há alguns anos atrás na Inglaterra, ao lado de outras bandas brasileiras, o cd “The Sexual Life of The Savages”.

pânico e solidão
lapso de tempo
anos
jardim das gueixas
a queda do solar de usher
lágrimas
opus 2
tão perto
soldadas
neste deserto
fósforos de oxford
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Blues Etílicos – Água Mineral (1989)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Estou aqui preparando as postagens de hoje e do fim de semana. Como todos já deve ter percebido, a onda da vez é o rock pop nacional, que provavelmente deve se estender pela outra semana também. Mas como eu gosto de ter por perto todos vocês, os velhos e os moços, trazendo sempre seus comentários, vou procurar mesclar mais os gêneros e sair dessa de ‘semana temática’. Nada como uma surpresa todos os dias. Se hoje é rock, amanhã poderá ser qualquer outro estilo, samba, jazz, bossa, erudito e por aí… Por enquanto, para fechar a semana, vamos num embalo da eterna música jovem, o gênero rock’n’roll (ou algo assim).
Para a sexta feira vou postando aqui este que foi o segundo álbum do Blues Etílicos, uma das mais importantes e cultuadas bandas de blues rock nacional. O Blues Etílicos nasceu no Rio de Janeiro, formado inicialmente por Flávio Guimarães, Otávio Rocha, Claudio Bedran, Greg Wilson e Gil Eduardo (esse último, filho do Tremendão Erasmo Carlos), que veio a sair do grupo depois do álbum “Salamandra”, de 1994, entrando em seu lugar o baterista Pedro Strasser. Ao longo de quase trinta anos de estrada a banda gravou vários discos, assim como alguns de seus componentes o fez isoladamente. O BE cresceu pra valer, se tornando mais que uma simples banda de blues, hoje é uma marca, literalmente. Já estão até produzindo cerveja, vejam vocês! Uma ideia ótima, cerveja, blues e rock combinam muito bem. E para que o novo empreendimento decole de vez (já decolou) eles até lançaram um CD cujo o título é “Puro Malte”, também nome de uma da músicas, que canta de forma bem divertida o universo da cerveja artesanal. Depois dessa postagem, mesmo sendo tão cedo, me deu uma baita vontade de tomar uma ‘puro malte’, mas tem que ser puro malte mesmo! Será que a cerveja deles a gente só encontra nos seus shows? Eu quero!

funky blues (homenagem a charlie mccoy)
driftin’blues
frank zappa vai pra martinica
it’s not easy
cross roads
mona’s blues
vou pegá ma beibe
kansas city
maracujina
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Câmbio Negro HC – O Espelho Dos Deuses (1990)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Hoje eu amanheci nervoso e vou culpar o meu Galo, que ontem fez a besteira de empatar com o Botafogo e agora está fora do campeonato. Por conta disso eu hoje estou bem ‘hardcore’, chutando a lata… E como já entramos no embalo do rock, aqui vai um que eu gosto muito, o Câmbio Negro HC, esquecido entre tantas outras edições e semanas dedicas ao gênero aqui no Toque Musical. Desta vez ele saí, com força total, mostrando o quanto ainda está atualíssimo, tanto no estilo quanto nos temas abordados em suas músicas. O Câmbio Negro HC é uma banda de origem pernambucana. Acredito até que seja uma das pioneiras do gênero no cenário recifense do rock. Formada no início dos anos 80, foi uma das bandas de maior destaque, participando ativamente dos maiores festivais, chegando a dividir palco com outros grandes nomes, inclusive internacionais. “O Espelho dos Deuses” foi seu primeiro disco, lançado em 1990, em produção independente. Em 92 eles gravaram um outro disco, também independente, “Terror nas ruas”, mantendo a mesma linha pesada e reafirmando sua importância na cena rock do Recife e porque não dizer do Brasil.
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programados pra morre
meu filho
evolução
fantoches
psicopatas de deus
a ordem
agonia de 64
ao filho do homem
vaticano
reatores
farsa
emergência
o espelho dos deuses
consciência inválida
descontrole
o ecologista morto
ecos de horror
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Hanoi Hanoi (1986)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Como anunciei, a semana seria para outros sons, na verdade para postarmos mais alguns discos de pop e rock nacional. Mais uma vez eu me armei de um variado leque de títulos prontos para darem entrada diariamente. Agora só depende de eu achar tempo para não deixar vocês muito ansiosos esperando aquele toque no GTM. Hoje, por exemplo, não tive tempo para nada. Estou escolhendo agora o disco  do dia. Puxando do ‘gavetão’ aqui vai um bem escolhido, Hanoi Hanoi, do Arnaldo Brandão. Este foi o primeiro álbum do grupo liderado pelo contrabaixista Arnaldo Brandão, que antes toca no Brylho (A noite do prazer) ao lado de Claudio Zoli. O Hanoi Hanoi surgiu na década de 80 juntamente com tantas outras bandas que efervesceram a cena pop/rock nacional. Teve, como todos devem se lembrar, emplacado vários hits de sucesso, que deram a banda e ao seu líder um lugar de destaque dentro do rock brazuca. Vamos encontrar neste álbum, entre outros, dois grandes sucessos, “Totalmente demais” e “Blá blá blá… Eu te amo”. Confiram aí…

partido verde alemão
blá blá blá eu te amo
bom sucesso 68
prazer e ciúme
caprichos da loucura
totalmente demais
nem sansão nem dalila
spartana
baton
testemunha
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Kris Kringle – Sodom (1971)

Olá, amigos cultos e ocultos! Para fazer jus ao ‘ecletismo musical’ e à ‘tripolaridade’ fonográfica deste blog, eu hoje tomo um outro rumo, abrindo a semana para outros sons. Abro esta leva com um disquinho que merece o toque musical. Um álbum que virou clássico sem nunca ter sido (pelo menos por intenção ou pretensão). Como já comentamos aqui no Toque Musical, no início dos anos 70 houve um produtor italiano em São Paulo chamado Cesare Benvenuti. Foi ele o responsável pela criação de cantores e grupos de música pop com nomes estrangeiros. Através de Benvenuti surgiram artistas que naquela época todos acreditavam serem internacionais. O cara tinha mesmo uma visão de mercado, oferecendo ao público o que fazia sucesso no Brasil, música ‘pop’. Criou diversos nomes, muitas vezes com os mesmo músicos e artistas.  Grupos como o Light Reflection, Connection Eyes, Edu Leslie, Lee Jackson, Sunday e muitos outros, foram ideia do italiano. Kris Kringle foi também um desses conjuntos ‘fabricados’ e recebeu uma atenção especial devido ao seu estilo diferenciado, apresentando versões desconsertante (e as vezes até melhores) para hits internacionais. O trabalho ficou tão bem feito que muitos acreditavam mesmo ser um conjunto internacional. Apresentado em capa dupla, bem ao estilo das artes gringas, o álbum saiu pela Beverly, através de um selo especial, Kool, dando assim a impressão de ser mesmo um material importado. Ao longo do tempo o disco foi ganhado novos admiradores e por conta até da pouca informação sobre ele, tornou um álbum ‘cult’, procurado por colecionadores. Cultuado como pérola escondida do rock nacional.
Pessoalmente acho o disco muito legal e bem convincente. Contudo, trata-se apenas de um projeto que demonstrou ser possível fazer bonito que nem os gringos. Memorável por conta de Cesare Benvenuti que foi capaz de criar nossos próprios artistas internacionais sem a necessidade de importá-los 🙂

louisiana
help
that’s my love for you
the resurrection shuffle
janie slow down
susie
the monkey song
sarabande
mr. universe
what you want
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Cyro Monteiro (parte 1) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 66 (2013)

Esta semana, em sua sexagésima-sexta edição, o Grand Record Brasil apresenta a primeira de duas partes de uma retrospectiva dedicada a um dos maiores cantores que o Brasil já teve, e cujo centenário de nascimento comemoramos neste 2013: Cyro Monteiro, o “Formigão” (apelido que lhe foi dado pelo compositor Eratóstenes Frazão), também conhecido como “o cantor das mil e uma fãs”.
Sobrinho do pianista Nonô (Romualdo Peixoto), o “Paderevsky do samba” e, por  tabela, primo de Cauby Peixoto, Cyro Monteiro era carioca da gema, nascido no subúrbio do Rocha em  28 de maio de 1913, em uma família de nove irmãos, todos com nomes começados com a letra C! O pai de Cyro era dentista, capitão do Exército e funcionário público. O futuro astro passou a infância e a juventude em Niterói, litoral fluminense, para onde se mudou com a família quando tinha só dois anos de idade. Fez seus estudos no Grupo Escolar Alberto Brandão, na Escola Profissional Washington Luiz e no Instituto de Humanidades. Costumava cantar informalmente para os amigos, no conforto de seu sacrossanto lar, doce lar, e em festas, acompanhado do irmão Careno, até que um dia, em 1933, Sílvio Caldas, que frequentava sua casa, chamou-o para substituir Luiz Barbosa, com quem cantava em dupla, em um programa da Rádio Educadora. Um ano depois, Cyro foi contratado pela Rádio Mayrink Veiga, escalado de início para um programa diurno mas logo subindo para os noturnos, marcando o ritmo com sua indefectível caixa de fósforos, assim como Luiz Barbosa fazia com o chapéu de palha.
 Grava seu primeiro disco na Odeon, para o carnaval de 1936, com dois sambas que na tiveram muito sucesso, até porque o ano  foi concorridíssimo: “Vê se desguia” e “Perdoa”. Um ano depois, grava dois discos particulares na RCA Victor, por encomenda, a fim de promover a tradicional Festa da Uva de Jundiaí, SP.  E finalmente, em 1938, vem o primeiro grande sucesso, com um clássico do samba: “Se acaso você chegasse”, de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, seu primeiro disco comercial na marca do cachorrinho Nipper. E esse foi o pontapé inicial para inúmeros outros hits inesquecíveis:” Os quindins de Iaiá”, “Falsa baiana”, “Deus me perdoe”, “Oh! Seu Oscar”, “Botões de laranjeira”, “Beija-me”, “A mulher que eu gosto”, “O bonde São Januário”, “Boogie-woogie na favela”, “O que se leva dessa vida”, “Escurinho”, “Quatro loucos num samba”, “Tem que rebolar” (dueto com Mariúza), e muitos, muitos mais.
Cyro foi casado com a cantora Odete Amaral (“a voz tropical do Brasil”), com quem teve um filho, dela separando-se em 1949. Além da voz, do ritmo e da  capacidade de modular e improvisar, ele também sabia fazer amigos, com seu calor humano e bondade infinitos. Em 1956, participou, como ator, da peça “Orfeu da Conceição”, de Vinícius de Moraes com música de Tom Jobim, interpretando o personagem Apolo. Na fase áurea da TV Record de São Paulo, era cadeira cativa no programa “Bossaudade”, apresentado por Elizeth Cardoso.  Gravou também vários LPs, o último deles ao lado de Jorge Veiga,  em 1971, “De leve”. Torcedor convicto do Flamengo, de quem torcedores de outros clubes também gostavam, certa vez mandou de presente para a recém-nascida filha de Chico Buarque e Marieta Severo, Sílvia (hoje atriz), então residentes na Itália, uma camisa do Flamengo. Chico, que sempre torceu para o Fluminense, respondeu de forma bem-humorada com a música “Ilmo. Sr. Cyro Monteiro ou Receita para virar casaca de neném”.
Cyro Monteiro faleceu no dia 13 de julho de 1973, em seu Rio de Janeiro natal, aos 60 anos de idade. Seu corpo foi sepultado no Cemitério São João Batista, ao som do hino do Flamengo, cantado pela torcida jovem do clube, com o caixão coberto com a bandeira do mesmo e também com a de sua escola de samba de coração,  a Mangueira.
Começamos, então, a relembrar o grande “Formigão”, apresentando  treze joias de seu repertório, todas em gravações RCA Victor.  A presente seleção inclui os primeiros sambas gravados do mestre Nélson Cavaquinho (1911-1986), lançados justamente por Cyro, a saber:  “Apresenta-me aquela mulher” (faixa 12), parceria com Augusto Garcez e G. de Oliveira, gravação de 25 de maio de 1943, lançada em setembro seguinte com o n.o 80-0107-B, matriz S-052779, “Não te dói a consciência” (faixa 11), parceria de Nélson e Augusto Garcez com Ari Monteiro, também de 1943, gravada a 6 de julho com lançamento em outubro sob n.o 80-0119-B, matriz S-052799, “Aquele bilhetinho’ (faixa 6), também de Nélson e Garcez mais Arnô Canegal, gravado em 13 de abril de 1945 e lançado em maio seguinte com o n.o  80-0282-A, matriz S-078154, e, por fim, o clássico “Rugas” (faixa 3), outra parceria do poeta Nélson com Augusto Garcez e Ari Monteiro, gravação de 21 de março de 1946 lançada em maio seguinte com o n.o 80-0406-A, matriz S-078450. De Alvaiade (Oswaldo dos Santos, 1913-1981) Cyro nos apresenta quatro sambas: “A saudade me devora” (faixa de abertura desta seleção), parceria com Djalma Mafra, gravado em 25 de janeiro de 1945 e lançado em abril do mesmo ano com o n.o 80-0264-B, matriz S-078121, “Meu trabalho” (faixa 7), parceria com Alberto Maia, gravado em 17 de abril de 1947 e lançado em agosto seguinte com o n.o 80-0529-B, matriz S-078746, “Pensando no futuro” (faixa 8), outra parceria de Alvaiade com Djalma Mafra, gravação de 10 de maio de 1944 lançada em julho do mesmo ano com o n.o 80-0193-B, matriz S-052961, e “Aliança de casada” (faixa 10), outra parceria de Alvaiade com Alberto Maia, gravação de 17 de julho de 1946 lançada em outubro seguinte, disco 80-0456-A, matriz S-078563. Geraldo Pereira (1918-1955), que deu a Cyro Monteiro o clássico “Falsa baiana”,  aqui comparece com outros dois sambas, ambos em parceria com Augusto Garcez:  “Acabou a sopa” (faixa 2), gravação de 11 de setembro de 1940 lançada em novembro do mesmo ano, disco 34671-B, matriz 33499, e “Ela não teve paciência” (faixa 4), gravado em 24 de junho de 1941 e lançado em setembro do mesmo ano sob n.o 34800-A, matriz S-052251. Djalma Mafra (c.1900-1974) também assina outras três composições nesta seleção:  o samba “Domine a sua paixão”  (faixa 5), parceria com João Bastos Filho, que o “Formigão” grava na marca do cachorrinho Nipper em 10 de maio de 1943 com lançamento em  julho seguinte sob n.o 80-0098-A, matriz S-052770, a batucada “Tire a mão do meu bolso” (com Nicola Bruni, faixa 9), gravação de Cyro a 13 de dezembro de 1943 lançada bem em cima do carnaval de 44, em fevereiro, disco 80-0163-A, matriz S-052906, e a faixa de encerramento desta primeira parte, a marchinha “Op op op”, do carnaval de 1947, parceria com Ari Monteiro, gravação de 26 de outubro de 46 que a Victor lançará ainda em dezembro, sob n.o 80-0480-B, matriz S-078612. É o que o GRB oferece com muito prazer e alegria para comemorar o centenário de nascimento do eterno “Formigão”, com o compromisso de retornar com mais Cyro Monteiro na próxima semana. Encontro marcado!
. * Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Carlos Lyra – Eu & Elas… (1972)

Amigos cultos e ocultos, aqui vou eu entrando no finalzinho do segundo tempo. O domingo vai acabando e eu aqui já estou chegando para marcar o ponto diário 🙂 Vamos com mais um ‘disco de gaveta’, aqueles sempre prontos para as hora incertas. Mais uma vez, no sorteio, temos uma boa pedida, Carlos Lyra.
“Eu & Elas…” foi um álbum lançado em 1972, o segundo após seu retorno ao Brasil. O disco foi produzido por Paulinho Tapajós e traz um repertório particamente autoral com temas sempre românticos e letras poéticas.

entrudo
afrolatino
antes do tempo
só choro quando estou feliz
nothing night
os olhos da madrugada
solo una mujer
elas
isabel
o amor mais triste
lá vou eu
despedida
.

Agostinho Dos Santos – As Melhores Interpretações De Agostinho Dos Santos (196…)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Hoje não foi por falta de tempo, mas por puro esquecimento que eu quase deixei de fazer a postagem do dia. Agora, justamente agora, quando estava para sair me lembrei da tarefa musical diária. Agora estou com falta de tempo, por isso, vamos recorrer a um ‘disco de gaveta’. E que sorte, o primeiro que puxei foi esse do Agostinho dos Santos. Estou vendo aqui que é uma coletânea, mas nem vou me dá ao trabalho de verificar se as músicas se repetem, afinal temos tantos discos do Agostinho postado que eu nem sei mais. Vão conferindo aí, se interessar, basta dar o toque. Logo ele cai no GTM. 🙂

até o nome é maria
meu castigo
a noite do meu bem
céu e mar
dindi
mulher passarinho
eu sei que vou te amar
fim de caso
canção da volta
leva-me contigo
chora tua tristeza
nossos momentos
.

Ivan Roskov – Casatschok (1969)

Bom dia a todos, amigos cultos e ocultos! Para uma manhã fria como está agora, para dar aquela esquentadinha, que tal cairmos no embalo do ‘casatschok’? É isso aí… Casatschok foi mais uma ‘onda’, um modismo dançante. Segundo o texto na contracapa, trata-se de ‘uma dança vigorosa e sensual’ que veio da Rússia (vigorosa eu concordo, sensual, só se for pela moça dançando de mini-saia). Trata-se de uma dança típica russa que tentaram revitalizar naquela época como sendo uma nova ‘onda dançante’. Em busca de novidades comerciais, a indústria fonográfica inventava de tudo, inclusive os nomes, como ‘Ivan Roskov”, aqui encarnado no maestro Rogério Duprat. Creio, ao contrário do que muitos pensam, que esses pseudônimos não eram desejo daqueles que os usavam, mas faziam parte do jogo de cena. Se a gravadora queria lançar um determinado tipo de disco, criava um nome apropriado e catava um de seus maestros para dar conta do recado. O Duprat esteve por trás de vários nomes e orquestras fantasmas, que só existiram naquele momento. Eventualmente, diante a um sucesso de vendas, se repetia a dose e novamente o artista ou orquestra ‘X’ voltava a cena, chegando mesmo a ganhar uma identidade quase física. Ivan Roskov, pelo que sei, nasceu e morreu neste disco. “Casatschok”, com tudo, graças ao seu repertório, não fica só naquela de mais um disquinho sem importancia. Ele é no mínimo curioso, graças ao seu repertório e ao seu maestro tropicalista oculto, que dá ao disco extamante a atmosfera tropical, que nada lembra o gelo, a vodka… No máximo uma cutucada na censura da época, que por certo, mesmo com um descomprometido e inocente repertório, que também é variado e internacional, deve ter chamado a atenção. Tá vermelho, tá russo!

casstschok
those were the days
toi toi toi
a banda
lichetensteiner polka
tema de lara
noites de moscou
ob-la-di-ob-la-da
otchichornia
planice
barqueiros do volga
nunca aos domingos
a dança de zorba
barril de chope
boublitchki
czardas
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Elis Regina – Como & Porque (1969)

Muito bom dia, amigos cultos e ocultos! Para o dia de hoje eu já estava planejando continuar na base da orquestra e conjuntos dos anos 60, mas por alguma razão eu sonhei que estava postado este disco da Elis Regina. Pode parecer estranho, mas no sonho até a música em senti. Sonhei que estava ouvindo a Elis cantando a “Aquarela do Brasil”. Acordei com a música na cabeça e fui cantarolando pro banheiro. Continuei solfejando até encontrar o disco e agora ele está aqui 🙂 Não resisti a tentação… Maravilha este lp, o qual, creio, todos já conhecem, mas vale a pena ouvir de novo. Elis vem acompanhada por um time de feras: Antônio Adolfo no piano; Hermes na percussão; Zé Roberto no contrabaixo; Wilson (literalmente) da Neves e Roberto Menescal. Este último é o responsável pelos arranjos do conjunto e os arranjos de orquestra ficam por conta do maestro Erlon Chaves. Vamos ouvir? Dá-lhes GTM!

aquarela do brasil – nega do cabelo duro
o sonho
vera cruz
casa forte
canto de ossanha
giro
o barquinho
andança
les parapluies des cherbourg
samba da pergunta
memórias de marta saré
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Pinduca – Sucesso É Pinduca (1965)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Chegando já na reta final do dia, aqui vamos nós com mais um toque musical raro e aparentemente exclusivo (até então), antes que eu desmonte de vez sobre o teclado, vou rapidinho passando a bola…
Tenho para vocês um álbum raro do percussionista, vibrafonista, organista, compositor, professor, maestro e arranjador sergipano, Luis D’almeida Assunção, mais conhecido como ‘Pinduca’. Eis aí um nome pouco lembrado, mas que esteve presente nos mais diversos momentos da nossa música popular e erudita. Traçar aqui a trajetória deste artista é coisa que demanda tempo e eu já caindo pelas tabelas não posso garantir muita coisa. Mas saibam que Pinduca foi um artista incomum, merecedor de toda a nossa atenção. Acredito que existam outras fontes de informação sobre ele, mas vou ‘linkando’ vocês para a coluna do jornalista e historiador Luiz Antonio Barreto. Lá ele explica bem quem foi o mestre Pinduca.
Para completar, vamos apenas fazer uma pequena apresentação deste disco. “Sucesso é Pinduca” explica bem qual é a proposta, um repertório variado contemplando em especial algumas música de verdadeiro suceso. Pessoalmente, acho o disco meio fraco, principalmente quando mesmo sem querer comparamos algumas de suas faixas com as versões originais. No fundo, o que pega mesmo são os arranjos… sei não, acho que poderiam ter feito coisa melhor. Mas independente dos meus comentários, ouvir este disco é algo que necessário. Nem que seja para me provar o quanto eu estou enganado.

una lacrima sul viso
lawrence of arabia
mar amar
beijo gelado
times square
amor de mentirinha
vai de vez
dandara
berimbau (capoeira)
cadê joão
tema de james bond
pantera cor de rosa
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Quincas E Os Copacabana – Rítmos Sob Medida (1961)

Boa noite, meus prezados amigos cultos e ocultos! Trago hoje para vocês o conjunto “Os Copacabana”, sob o comando do saxofonista Quincas, em disco lançado pela Companhia Brasileira de Discos, com o selo Philips, em 1961. Quincas é o responsável pela direção e arranjos deste conjunto/orquestra que aparece aqui sem a presença de dois outros condutores do grupo, o pianista Vadico e o trombonista Astor. Ao que tudo indica, este álbum foi lançado após o retorno do grupo em turnê de sucesso pela Europa. Trazem um repertório variado e dançante, inclusive a moderna “A Felicidade”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, música composta em 1959 e que fez parte da trilha do filme “Orfeu Negro”. Cheia de bossa 🙂 Disco bacana…

chorinho na gafieira
trumpet mambo
greenfields
rosa morena
bájate de esa nube
tema para dois
trumpet talk
a felicidade
botijão
perfídia
gin-kana
angelique
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Vários – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 65 (2013)

E aqui vamos “nóis” para mais uma edição caipira do Grand Record Brazil, a de número 65, oferecendo, como já aconteceu anteriormente, uma parcela do rico acervo da música regional brasileira, a chamada música caipira, que, como os ouvintes irão perceber, é bem diferente do sertanejo dito “universitário” , tão divulgado pelos meios de comunicação nos dias atuais. São, como sempre, 13 gravações preciosas, representativas de um gênero e daqueles tempinhos “bãos” em que se ouvia músicas como essas no radinho, tomando o café da manhã…  E começamos justamente com os eternos “reis do riso”, Alvarenga e Ranchinho.  São duas gravações Odeon com a formação original da dupla, Murilo Alvarenga (Itaúna, MG, 1991-São Paulo, 1978) e o primeiro dos três Ranchinhos, Diésis dos Anjos Gaia  (Jacareí, SP, 1911-São Paulo, 1991). Eles aqui nos apresentam a moda de viola “Você já viu o cruzeiro?”, do Capitão Furtado, seu descobridor, mais outra dupla, Palmeira e Piraci, gravada a 15 de setembro de 1943 e lançada em novembro do mesmo ano com o n.o 12376-B, matriz 7384. É uma alusão à então nova unidade monetária brasileira, instituída um ano antes e que, após passar por mudanças e ser substituída até mesmo pelo cruzado, deixaria de existir em 1994, com o início do Plano Real. Também tem a primeira gravação com letra do clássico choro “Tico-tico no fubá”, de Zequinha de Abreu (1880-1935), feita por Alvarenga, tendo  como subtítulo “Vamos dançar, comadre”, datada de 27 de julho de 1942 e lançada em  outubro do mesmo ano com o n.o 12202-A, matriz 7021. A 10 de agosto desse mesmo ano, em seu primeiro disco, Ademilde Fonseca incluiu este choro clássico em seu primeiro disco, com os versos assinados pelo dentista Eurico Barreiros, e sua gravação foi talvez a de maior sucesso. Focalizamos em seguida a acordeonista Carmela Bonano, mais conhecida como Zezinha, nascida  em São Paulo no dia 16 de janeiro de 1928 e que formou com Luizinho e Limeira (os irmãos, também paulistanos,  Luiz  e  Ivo Raimundo) um trio ainda hoje lembrado com muitas saudades por seus contemporâneos. Zezinha gravou seu primeiro disco como solista de acordeon em 1951, na Todamérica, com duas composições suas em parceria com Luizinho: a valsa  “Brejeira” e a mazurca “Alegria”. Para este volume do GRB foram escalados o arrasta-pé “Oito baixos”, dela mesma e de Messias Garcia, gravação Odeon de 11 de março de 1960 lançada em outubro seguinte com o n.o 14681-A, matriz 50478 (relançado com a marca Orion sob n.o R-079),  e o baião “Saudade que machuca”, de Vicente Lia e do radialista Nino Silva, lançado pela Todamérica em agosto de 1955 com o n.o TA-5563-B, matriz TA-1315, ambas com vocais de Luizinho e Limeira, sem crédito nos selos. Na faixa 6, ela, agora com Luizinho e Limeira devidamente creditados, acompanha-os no arrasta-pé “Casamento é uma gaiola”, do Compadre Generoso, gravado na Odeon em 2 de abril de 1959 e lançado em junho seguinte sob n.o 14463-B, matriz 50158, depois relançado com a marca Orion sob n.o R-058. Música que seria regravada com sucesso  por Sérgio Reis, anos mais tarde. Com o falecimento de Luizinho, em 1982, Zezinha abandonou de vez a carreira, por isso muitas biografias dizem ter ela falecido nesse ano, a  11 de maio, em Perdizes, São Paulo (outras dizem que a morte da acordeonista aconteceu em 2002, nesse mesmo dia). A maranhense (de Viana) Dilu Mello (Maria de Lourdes Argolo Oliver, 1913-2000) também deixou sua contribuição para a história de nossa música popular. Tocava diversos instrumentos: sanfona, piano, violão, harpa, violino e até serrote, causando o maior escândalo ao executar nele uma peça de Schumann! É co-autora e intérprete da clássica toada “Fiz a cama na varanda”, que já apresentamos em edição anterior do GRB, e apenas uma de suas mais de cem composições.  Para esta edição, foi escalado o xote “Qual o valor da sanfona?”, composição sua em parceria com J. Portela (o jota seria de Jeová), gravação Continental de 31 de julho de 1948, porém só lançada em março-abril de 49 sob n.o 16024-B, matriz 10916. A faixa 7 nos apresenta a gravação original de uma balada humorística que muitos conhecem na interpretação dos irmãos Sandy e Júnior: é nada mais nada menos que “Maria Chiquinha”, de autoria de Geysa Bôscoli e Guilherme Figueiredo. Ela saiu pela RGE em agosto de 1961, sob n.o 10336-B, matriz RGO-2218, num divertido dueto entre Evaldo Gouveia (compositor, cearense de Orós, autor de vários hits, sobretudo em parceria com Jair Amorim, e que integrou como cantor o Trio Nagô) e a comediante Sônia Mamede (1936-1990), “a garota do biquíni vermelho”. Bonita e de corpo escultural, Sônia foi estrela das chanchadas da Atlântida (“Garotas e samba”, “De vento em popa”), tendo feito outros 14 filmes nesse e em outros estúdios,  e ficou famosa na televisão como a Ofélia do programa humorístico “Balança mas não cai”, da Globo (seu bordão era “eu só abro a boca quando tenho certeza!”), ao lado de Lúcio Mauro, o Fernandinho. “Maria Chiquinha” foi um sucesso absoluto em 1961, e nesse ano também seria gravada por Marinês, em dueto com Luiz Cláudio, na RCA Victor. Os trios Melodia (Albertinho Fortuna, Paulo Tapajós e Nuno Roland) e Madrigal (Edda Cardoso, Magda Marialba e Lolita Koch Freire) interpretam aqui, em ritmo de baião, “Maricota, sai da chuva”,  motivo folclórico adaptado por Marcelo Tupinambá, em gravação Continental de 19 de março de 1952, lançada em julho desse ano com o n.o 16600-A, matriz C-2813. A primeira gravação, ainda na fase mecânica, foi do Grupo O Passos no Choro, em 1919, apenas instrumental.  Recordaremos em seguida outra dupla sertaneja famosa: Silveira (Nivaldo Pedro da Silveira, 1934-1999) e Barrinha (Abílio Barra, 1929-1984) ambos mineiros, Silveira, de Uberaba, e  Barrinha, de Conquista.  Aqui eles interpretam a moda campeira “Coração da pátria”, de Silveira, Lourival dos Santos e do também radialista Sebastião Victor, em gravação RCA Camden  de 25 de maio de 1962, disco CAM-1133-A, matriz N3CAB-1712, uma exaltação ao estado de Goiás, que já abrigava, desde 1960, nossa atual capital, Brasília (lembrando que o Distrito Federal é um município nêutro). Teve regravações por Nalva Aguiar e até mesmo por Beth Guzzo, filha do humorista Valentino Guzzo (a Vovó Mafalda do programa do Bozo, lembram-se?). Apresentamos logo depois as duas músicas do primeiro dos três únicos 78 rpm da dupla Biá e Biazinho no selo Sertanejo da Chantecler, o PTJ-10087, gravado junto com o acordeonista Alberto Calçada, e lançado em maio de 1960, apresentando duas canções rancheiras ao estilo mexicano:  “Nunca mais” de Fernando Dias, matriz S9-173, e “Só Deus castiga”, de Nízio e Teddy Vieira, matriz S9-174. E reservamos para o final a joia da coroa desta edição: o único disco gravado por Tonico e Tinoco (“a dupla coração do Brasil”) junto com Aracy de Almeida (“ o samba em pessoa”, “a dama da Central”, “a dama do Encantado”), todos três já relembrados pelo GRB. Uma autêntica preciosidade que chega a nossos amigos cultos, ocultos e associados por generosa cortesia do amigo  Indalêncio, grande e notório restaurador de rádios antigos.  É o Continental  17251, gravado em 28 de julho de 1955, mas só lançado em fevereiro-março de 56, com dois cateretês. Abrindo-o, matriz 11764, “Ingratidão”, de autoria de Mário Vieira, parceiro de Hervê Cordovil no clássico “Sabiá na gaiola” e mais tarde fundador e proprietário da gravadora e editora musical Califórnia, que existe até hoje, no bairro paulistano do Tatuapé, dirigida pela terceira geração da família. Mário assina também o lado B, matriz 11765, “Tô chegando agora”, desta vez em parceria com Juracy Rago, primo do violonista Antônio Rago. Uma preciosidade que o Indalêncio mui gentilmente nos cedeu e que encerra com chave de ouro esta edição regional do GRB., para alegria e deleite dos “cumpades” e cumades” de todas as idades e deste Brasilzão!

*Texto de Samuel Machado Filho

José Rastelli – Eu E Meu Amigo Violão (1960)

Olá amigos cultos e ocultos! Depois de postar recentemente o volume 3 da série “Eu e meu amigo violão”, vi o quanto este artista é admirado e o quanto ele é mal divulgado. Fiquei de repostar o volume 2 e aproveitando o ensejo, aqui vamos com o primeiro. Agradeço aos dois amigos cultos que prontamente me enviaram os arquivos dos discos. Felizmente eu já encontrei todos eles, como manda o figurino. Sem dúvida, esta série é muito boa e ouvindo hoje com mais atenção o primeiro, acho que entre eles é o melhor. O repertório é dos mais agradáveis e variado, o que demonstra a riqueza técnica e musical de José Rastelli.

aquarela do brasil
chuá chuá
tristesse
mentiroso
última inspiração
milongueiro de ayer
abismo de rosas
la cumparsita
malagueña
india
ave maria
valsa do adeus
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Orquestra Jean Kelson – Berimbau & Bigorrilho (1964)

Olá amigos cultos e ocultos! Mais uma orquestra aqui para alegria geral. Para fechar o sábado, vou mandando para vocês a Orquestra de Jean Kelson, numa seleção musical das mais interessantes, doze temas que se dividem, de um lado o samba e do outro o ‘bigorrilho’, que neste disco virou quase um gênero musical, graças as composições que empregam a curiosa expressão, entre elas, a mais popular, a música de Sebastião Gomes, Paquito e Romeu Gentil, o “Bigorrilho”, revisitada até pelo Lulu Santos. Se me perguntassem o que é bigorrilho eu diria que é qualquer coisa e também aquele charmoso bairro de Curitiba. Taí uma expressão cheia de significados e que poucos saberão dizer o que realmente é. Como eu também não sei, vou me limitar às minhas ‘bigirrolhice’. De volta ao disco.
“Berimbau & Bigorrilho” é sem dúvida um disco curioso,  capaz de trazer informações técnicas detalhadas das gravações, gráficos e até propaganda da antiga linha aérea Cruzeiro do Sul. Mas no que diz respeito às informações artísticas, ficha técnica… isso, como sempre, fica a desejar. Atípico, este não é um lp de orquestra simplemente, ou seja, instrumental. Temos também um conjunto vocal que participa ativamente em várias faixas para o qual não há créditos. Quem seriam? A mesma pergunta muitos talvez também farão: quem era Jean Kelson? Um maestro estrangeiro em visita ao Brasil ou mais um pseudônimo? Esta última eu posso responder, Jean Kelson foi um nome adotado pelo maestro Guerra Peixe, que chegou a gravar outro disco usando o mesmo ‘apelido’. Acredito que ele usou este nome para afastar o Guerra Peixe do popular, preservando seu verdadeiro nome para o erudito.
E como dizia o Jorge Ben: “se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem…” (o que tem isso a ver? nada…, apenas lembrei da canção)

berimbau
samba de negro
catolé
munganga
agô agô
vou pra senzala\bigorrilho
saci pererê
vamos bigorrilhar
dança do bigorrilho
jogado fora
na base do bigorrilho
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Zuleika Ruvian – Boemia (1981)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Na semana passada, na Feira do Vinil e CDs Independentes aqui em BH, achei este lp, o qual me chamou a atenção pela capa. Ah, o que seriam dos artistas se não fossem as capas. Ou por outra, a capa muitas vezes pode definir a sorte do artista. Se a capa tiver aquele apelo visual necessário, o freguês aqui cai matando. E foi mais ou menos isso que aconteceu, bati o olho e pensei, capa interessante… tem coisa aí…. Realmente não me desapontei, o que para muitos pode ter parecido um disco brega, para mim, foi um achado. Zuleika Ruvian, até então nunca tinha ouvido falar nessa artista. Mas depois de ouvi o lp tive certeza de ter investido bem os meus 5 reais. Fiquei realmente surpreso com o nível da cantora, dos arranjos e também do repertório. Zuleika nos apresenta uma seleção pontual de composições de Adelino Moreira e seu fiel representante e também parceiro, Nelson Gonçalves. Estão aqui reunidas algumas das mais importantes e clássicas composições que se eternizaram na voz do ‘Metralha’. Estranho pensar numa mulher cantando essas canções, não apenas por retratarem o sentimento e a visão masculina, mas por serem mesmo músicas fortes, que exigem uma boa interpretação. Mas, Zuleika Ruvian não deixa por menos, interpreta com afinco, poderosa e bem afinada, mostra suas qualidades com segurança. Canta muito bem. Segundo informações que colhi na rede, mais especificamente uma nota no Orkut, Zuleika foi uma cantora que atuou na década de 70 e encerrou a carreira em 1983. Pelo perfil no Orkut não se sabe se ela ainda está viva, ou onde mora. Estendendo a pesquisa, vi que ela gravou outros discos e contradizendo a nota no Orkut, parece que ela já havia gravado até um compacto de 45 rpm, possivelmente nos anos 60. Seja como for, aqui está o seu disco de maior sucesso, ou pelo menos, o mais divulgado na rede.
Outra curiosidade que me chamou a atenção. Na capa, no canto inferior direito, há um desenho de um pé de sapato 43. Alguém pode me explicar a natureza da coisa? 🙂

a volta do boêmio
fica comigo esta noite
deixe que ela se vá
escultura
pensando em ti
meu dilema
meu vício é você
cilcone
maria bethania
argumento
mariposa
queixas
extase
renúncia
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Rio – Seja Benvindo Ao Rio (1970)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Como todos já deve ter percebido, eu sou apaixonado pelo Rio de Janeiro. Êta cidade maravilhosa! E digo isso não apenas pela paisagem, que é deslumbrante, mas também pela sua própria história, ou pelas diversas histórias que acontecem neste lugar. Gosto também do carioca, um tipo descolado, malandro e muito solto. O Rio é totalmente musical e tem também o samba, a bossa nova… O Rio é dez! Por essas e por outras que eu sempre que posso estou postando aqui alguma coisa ligada a essa cidade tão bacana. Na verdade isso é quase inevitável, afinal é no Rio que a maioria das coisas acontecem.
Temos aqui este lp, “Rio”, lançado pelo selo Itamaraty, supostamente no início dos anos 70. Um disco estranho, bem típico de outros lançamentos desse selo. Não há nele qualquer tipo de informação além da relação musical. Tenho quase certeza de que este lançamento não trazia encartes com ficha técnica ou coisa assim. Dessa forma, o que temos é um disco sem nome de artistas, grupo ou orquestra. Sem ficha técnica ou algo que mereça ser informado. E olha que pelo repertório e excussão musical, este álbum bem que merecia uma ficha completa. Excelente, da primeira à última faixa! Taí um disco que eu gostaria de saber que é que está tocando. Alguém aí pode me informar?  🙂

ritmo do brasil
sinfonia carioca
saudades do rio antigo
rio de janeiro a janeiro
aquarela do brasil
dobrado dos quatrocentos janeiros
a voz do morro
ensaio da escola (batucada)
madureira chorou
cidade maravilhosa
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Orquestra Cid Gray – Só Samba Sabendo Sambar (1961)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Na brecha do dia, ou melhor, da noite, aqui vou eu com mais um toque musical. Mais uma vez vamos de orquestra para mostrar a todos o quanto a música já foi grande. Hoje, orquestra é coisa rara de ver em discos, sejam sós ou acompanhando algum artista.
Vamos hoje com a Orquestra Cid Gray, muito requisitada em bailes e clubes de dança naquele final dos anos 50 e início dos 60. O álbum que apresento a vocês foi lançado pela Continental em 1961. Antes deste a orquestra já havia gravado outros discos. Foi, porém, neste lp que o público veio a saber que Cid Gray era na verdade um nome adotado pelo maestro Renato de Oliveira, quando este abandona o trabalho em estúdio, indo para São Paulo formar uma orquestra de dança e consequentemente discos de sucesso. Segundo Fernando Cesar, em seu texto na contracapa, “este não é apenas mais um e sim o melhor de todos”. Realmente o álbum traz um repertório muito bom, recheado de ótimos sambas e uma qualidade instrumental de arrepiar. Além, é claro dos ‘arranjos vibrantes’, tipo exportação, hehehe…

palhaçada
boato
eu não sei me repetir
o que faltou
mumúrio
água de beber
deixe de sofrer
que fazer
louca
chorou, chorou
rosa do mato
não sei mais fingir
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