Neste mês de setembro, mais exatamente no dia 27, estamos comemorando os 60 anos da trágica morte do cantor Francisco Alves, em acidente automobilístico na Rodovia Presidente Dutra, na cidade paulista de Pindamonhangaba, divisa com Taubaté, no Vale do Paraíba, quando um caminhão que estava na contramão colidiu com seu automóvel, um Buick azul. O cantor tinha 54 anos, e a tragédia enlutou todo o país. Seu corpo, carbonizado, foi enterrado no Cemitério São João Batista, em seu Rio de Janeiro natal, para o qual estava regressando quando houve o acidente fatal, no dia seguinte à sua última apresentação pública, acontecida em São Paulo, no Largo da Concórdia, no Brás. A tumba de Chico, até hoje, atrai inúmeros visitantes e fãs do cantor, mesmo depois de tanto tempo passado de sua morte.
O Grand Record Brazil, evidentemente, não poderia deixar a data passar em branco. Em sua edição de número 35, presta uma homenagem à memória do eterno Francisco Alves, apresentando doze fonogramas por ele registrados na Victor (ou RCA Victor, como queiram), gravadora da qual foi contratado entre 1934 e 1937, lá deixando 49 discos com 96 músicas. Em todos eles, os arranjos e regências são do mestre Pixinguinha, em mais uma contribuição fabulosa que deixou para nossa música popular. Em quase todas as faixas, Pixinguinha acompanha Francisco Alves com sua orquestra Diabos do Céu, considerada uma autêntica “jazz band” de sua época. Vamos às faixas, pela ordem:
Para começar, apresentamos um samba da parceria Bide-Marçal: “Durmo sonhando”, que Chico gravou em 20 de abril de 1934 com lançamento em agosto seguinte sob n.o 33812-A, matriz 79610. Damos depois um salto para o carnaval de 1935, apresentando uma marchinha de Lamartine Babo e Hervê Cordovil: “Moreninha sweepstake”, gravação de 21 de dezembro de 1934 lançada um mês antes da folia, janeiro, sob n.o 33894-A, matriz 79803. A marchinha cita o slogan de propaganda do achocolatado em pó Toddy: “Não tem nem pode ter similares”. O sweepstake do título era um prêmio especial, uma espécie de loteria do turfe, cujo resultado era vinculado a cavalos vencedores, instituído pelo Jockey Clube Brasileiro em 1933, nos moldes europeus. Naquele ano, o bilhete vencedor foi o do cavalo Mossoró, que abiscoitou 500 contos de réis. A terceira faixa é o samba “Reclamando a sorte”, de Nilo Almeida Fonseca, o lado B de “Durmo sonhando”, matriz 79611. Mais um samba vem em seguida: “Você chorou”, subintitulado “Me admiro é você”, de autoria de Sylvio Fernandes, o Brancura, gravado por Chico em 8 de julho de 1935 e lançado em agosto seguinte com o n.o 33959-A, matriz 79968, sendo incluído na burleta “Da Favela ao Catete”, de Freire Júnior, encenada no Teatro Recreio carioca, incluindo músicas de vários autores e da qual Francisco Alves também participou. Malandro histórico, temido por sua valentia, Brancura morreu ainda em 1935, com apenas 27 anos de idade. Temos em seguida a marchinha “Olha pra lua”, de autoria de Nássara e Cristóvão de Alencar, o “amigo velho” (aqui assinando com seu nome verdadeiro, Armando Reis), gravação de 13 de abril de 1934, lançada em julho seguinte com o n.o 33801-A, matriz 79602. Depois tem o samba “Me queimei”, também de Nássara, agora em parceria com Walfrido Silva, gravação de 28 de janeiro de 1936 lançada para o carnaval desse ano, em fevereiro, disco 34038-A, matriz 80100. E tem mais samba: “Linda mulher”, de Erlúcio Godoy, Orlando Machado e Orestes Barbosa (este último sem crédito no selo), que Francisco Alves gravou em 17 de abril de 1934, mas a Victor só lançou em dezembro desse ano, com o n.o 33857-B, matriz 79608. Em seguida, a marcha “aux flambeaux” “A melhor das três”, de Lamartine Babo e Alcyr Pires Vermelho, do carnaval de 1935, correspondente ao lado B de “Moreninha sweepstake”, matriz 79804. A letra faz referência ao processo movido pelos irmãos Raul e João Vítor Valença contra a omissão do nome deles, como parceiros de Lamartine, no disco original da marchinha “Teu cabelo não nega”. Lalá participa deste registro como cantor, não creditado no selo original. Do carnaval seguinte, 1936, é outra marchinha, “Marido da Eva”, de Nássara e Sylvio da Fonseca, gravada por Chico Alves em 7 de janeiro desse ano e lançada bem em cima da folia, em fevereiro, com o n.o 34033-A, matriz 80077. Foi uma das dez músicas que o Rei da Voz lançou para aquele carnaval, todas bem cantadas. Da folia de 1937 é a marchinha “Parei com elas”, do prolífico Nássara agora junto com Alberto Ribeiro, gravação de 18 de novembro de 1936, lançada ainda em dezembro sob n.o 34131-A, matriz 80260. Depois, desse mesmo carnaval, a lírica marchinha, do mestre Ary Barroso, “Uma furtiva lágrima”, que aproveita algo da ária de mesmo nome, da ópera “L’elisir d’amore”, de Caetano Donizetti, publicada em 1832. Chico gravou a marchinha em 17 de novembro de 1936, com lançamento ainda em dezembro com o n.o 34113-A, matriz 80244. E, para encerrar com chave de ouro, um clássico do samba: “É bom parar”, de Rubens Soares e Noel Rosa, sendo que este último aceitou ficar de fora dos créditos na edição e no disco. É a única das faixas desta seleção em que Francisco Alves é acompanhado não pelos Diabos do Céu, mas pelo Conjunto Regional RCA Victor. Sucesso estrondoso do carnaval de 1936, corresponde ao lado B de “Me queimei”, matriz 80101, e cita dois versos da valsa-canção “A mulher que ficou na taça”, de Chico Alves e Orestes Barbosa (“Mais cresce a mulher no sonho/ na taça e no coração”). “É bom parar” seria, inclusive, regravado por Francisco Alves na RCA Victor apenas três dias antes de seu trágico falecimento, em 1952, juntamente com ‘A mulher que ficou na taça”, mais “Serra da Boa Esperança” e “Foi ela”, devidamente autorizado pela Odeon, onde então trabalhava. Enfim, estas doze faixas com o eterno Francisco Alves acompanhado por Pixinguinha são o preito de saudade do GRB à memória do Rei da Voz, que, passados 60 anos de seu trágico passamento, ainda é uma importante referência na história de nossa música popular.
Texto de SAMUEL MACHADO FILHO.
Milton Banana Trio (1965)
Bom dia, amigos cultos, ocultos e associados! Domingão cheio de atividades! Já estou indo para rua. Antes porém, aqui vai o toque do dia: Milton Banana Trio. Um super disco! Escolhi a dedo, pois sei que nem preciso ficar me estendendo. Além do mais, tô pagando uma dívida, com direito ao link imediato, já postado no GTM. No que depender da trilha, o dia vai ser ótimo!
garota i
primitivo
samba de verão
primavera
nanã
samba do avião
minha saudade
ela é carioca
sambou, sambou
noa… noa
inútil paisagem
samblues
Gaya E Sua Orquestra – Um Brasileiro Em Paris (1959)
Boa noite, meus caros! Continuo devendo novos links, sempre, mas logo e aos poucos todos vão sendo atendidos. O que não pode faltar é a postagem diária, que acabou se transformando na ‘música do dia seguinte’, afinal o link só aparece no outro dia (e se alguém pedir).
Na postagem de hoje eu estou trazendo um disco para quem gosta de música francesa, mas também não abre mão dos ritmos brasileiros. Eis aqui um álbum bacana do maestro Lindolpho Gaya e sua orquestra, lançado, aparentemente, em 1959 ou 60. Não consegui localizar a data precisa. Seguindo a trajetória de vida artística de Gaya, deduzi que o álbum seja lá de 59. Temos neste lp, de selo Odeon, um apanhado de músicas francesas. Uma seleção do maestro, relembrando os bons tempos que viveu em Paris. Temos aqui doze clássicos da música popular francesa em arranjos que só mesmo um brasileiro como o Gaya poderia fazer. Ele transforma a ‘Chanson de France’ em samba, baião, marchinhas e toadas. Não fosse pela melodia, qualquer um entenderia como sendo música brasileira. Aliás, é interessante notar que qualquer tipo de música se adapta muito bem no samba. Ta tudo dominado!
valentine
vous que passez sans me vois
la vie en rose
la mer
un peu d’amour
douce france
la goualante du pauvre jean
pigalle
parlez-moi d’amour
c’est si bon
j’attendrai
paris je t’aime
Maria Rita Stumpf – Brasileira (1988)
Muito bom dia, amigos cultos, ocultos e associados! Hoje é sexta feira dia em que geralmente sempre adoto para postar artistas e suas produções independentes. De uns tempos para cá isso deixou de ser regra, mas continua valendo nas eventualidades, já que poucos são os artistas independentes que vem nos procurando atualmente. Assim sendo, vamos na sequência com um disco independente, raro e dos mais interessantes. Temos aqui a cantora e compositora gaúcha Maria Rita Stumpf, um nome talvez pouco conhecido, mas que na década de 80 chegou a ser cotada como uma das grandes revelações, concorrendo ao III Prêmio Sharp, ao lado de Marisa Monte, que foi quem levou a melhor. Certamente, Maria Rita só não faturou o prêmio devido ao apelo comercial por trás da outra cantora. Maria Rita é mais que uma simples cantora. Ela é também uma compositora, tendo lá um talento que vai além do popular. Sua musicalidade e sua arte expressam qualidade e refinamento, coisa, obviamente, para poucos. Talvez por isso mesmo é que ela acabou ficando meio esquecida, ou melhor dizendo, limitada a um público muito específico. Gravou também um outro disco raro de achar, chamado “Mapa das Nuvens”, mas depois sumiu da cena fonográfica. Pelo que sei, ela acabou se enveredando para o trabalho de produção cultural, criou uma produtora chamada Antares e passou a promover eventos com artistas renomados, trazendo ao Brasil espetáculos como “Zorba, O Grego”, “Lês Ballets Jazz de Montreal”, Orquestra de Câmara da Hungria, o flautista Jean Pierre Rampal e muitas outras atrações cênicomusicais.
“Brasileira” é o nome deste seu primeiro álbum, gravado no Rio de Janeiro e Belo Horizonte, em 1987, sendo lançado no ano seguinte. Neste trabalho de estréia Maria Rita contou com a ajuda e participação de Luiz Eça, que havia sido seu professor e chegou inclusive a se apresentar com ela em show. Estão presentes também no disco o músico e maestro gaúcho Ricardo Bordini e outro, o mineiro Marco Antonio Guimarães com o seu até então pouco conhecido grupo Uakti. Todas as músicas são de autoria de Maria Rita, exceto “Felicidade”, de Lupicínio Rodrigues e “Lamento Africano”, um canto tradicional angolano. Como já dizia o Caetano Veloso em seu “Araçá Azul”: um disco para entendidos!
cântico brasileiro nº 3 (kamaiurá)
felicidade
cântico brasileiro nº 6 (temporã)
canção da garoa (poesia de Mario Quintana)
lamento africano / rictus
a cidade
relhaços
trilhas
melodia de veludo
canção de barco e de olvido (poesia de Mario Quintana)
o amor
Bob Fleming (1961)
Bom dia amigos cultos, ocultos e associados! Hoje eu estou trazendo um disco que eu considero nota 10. Um dos primeiros álbuns do selo Musidisc, lançado em 1961 e apresentando o saxofonista criado por Nilo Sérgio, Bob Fleming. Quem acompanha o blog sabe que aqui temos outros discos desse artista e em vários outros momentos falamos sobre a real identidade do mesmo. Muitos falam que Bob Fleming era o saxofonista Moacyr Silva, depois passou a ser o Zito Righi… São tantas histórias e lendas que eu já nem sei mais qual é a verdade. Hoje, ao iniciar essa postagem, ainda agora, li no site “Agenda do Samba Choro” (uma lista de discussão sobre MPB) um texto que me deixou ainda mais confuso. Trata-se de um e-mail enviado ao site, em junho de 2004, pelo saxofonista Moacyr Marques da Silva onde ele tenta esclarecer a verdade sobre o assunto. Segue logo a baixo uma cópia do texto, que pode também ser conferido na própria lista do Samba Choro:
Rio de Janeiro 06 de junho de 2004.
Prezados Senhores.
Como testemunha viva dos fatos descritos sobre “BOB FLEMING”, gostaria de
esclarecer que eu, Moacyr Marques da Silva, músico, saxofonista, citado em
seu site:
“Caro internauta. Quero aqui informar-lhe que muito há que reparar neste seu
release sobre Bob Fleming. Não sei que fontes vc consultou, mas são muito
imprecisas. Conheci, pessoalmente, por intermédio de membros de minha
família o verdadeiro Bob Fleming, pseudônimo usado por um grande músico
brasileiro do Rio de Janeiro, cujo nome correto é Moacir Marques, que
apesaqr de não ser americano era branco, nada tendo a ver com o Moacir
Silva, outro grande músico brasileiro, este sim negro. Moacir Marques, tocou
em diversas orquestras ( inclusive da Rádio Nacional ) e formou um conjunto
que tinmha seu nome e tocava em diversos bailes do Rio de Janeiro e
adjacencias.Tive o privilégio de receber de suas mãos aquerle LP onde na
capa aparecia algém vestido numa armadura tocando sax. Procure pesquisar
mais em cima destas minhas informações e refeça ou retire do ar seu artigo,
para que evitar que com o passar do tempo essa incorreção venha a se tornar
uma verdade que nenhum dos dois Moacir merecem”.
Não fui e jamais gravei com este pseudônimo, criado por Nilo Sérgio, dono da
gravadora Musidisc, à época, para Moacyr Silva (Negro) e posteriormente para
Zito Rig (branco), outro saxofonista. Como músico profissional exerci a
função em diversas gravadoras (Copacabana Disco e Odeon, funcionário
efetivo) e rádios ( Tupi, Nacional e outras). Fui integrante e fundador da
Orquestra da Rede Globo de Televisão, enquanto existiu (23 ANOS).Tive meu
próprio conjunto musical, com o qual gravei 6 LP’s, entre os anos 60 a 66.
Integrei a Orquestra de Ary Barroso e do Maestro Copinha. Me apresentei com
grandes artistas Internacionais.
Em meados de 1966, com a Orquestra do Maestro Copinha, me apresentei no baile
beneficente da Cruz Vermelha Internacional oferecidos pelo Príncipe de
Mônaco em seu palácio; gravei com todos os grandes cantores da música
popular brasileira (ver ficha técnica nos LP´s – Simone, Gilberto Gil,
Bethanea, Gal Costa, Elizete Cardoso, e muitos outros). E, ainda, sou
funcionário público estatutário, aposentado na categoria de músico –
clarinetista baixo – da Orquestra Sinfônica Nacional do Ministério da
Educação, lotada na Universidade Federal Fluminense. Apesar da semelhança
dos nomes, Moacyr Marques da Silva, ou melhor, Moacyr Marques, “BIJOU”, como
sou conhecido no meio musical, jamais poderia ser confundido com o grande e
respeitado amigo Moacyr Silva, cuja a carreira abrilhantou a música
brasileira. Para maiores esclarecimentos, entre em contato:
Tels: 21-2447-1446 ou 21-2447-0139 horário da manhã.
Aproveito pra parabenizar o autor dos artigos sobre Moacyr Silva, e solicito
que desconsiderem as observações do Sr. Reginaldo Gomes de Souza. Grato pela
atenção.
Moacyr Marques – BIJOU.
Sinceramente, eu já não estou entendendo mais nada sobre essa história. Porém, como um dos muitos divulgadores do ‘sax’ criado por Nilo Sérgio, me vejo na obrigação de apresentar todos os fatos e versões. Qual é a verdade? Taí uma questão cheia de polêmica, que vale novamente vir à tona. Vamos comentar?
nosso amor
fechei a porta
é luxo só
teleco-teco nº 2
meditação
cheiro de saudade
a noite do meu bem
fim de caso
ideias erradas
e daí?
mundo mau
ho-ba-la-la
rio de janeiro (isto é meu brasil)
cidade maravilhosa
dizem por aí
o amor e a rosa
se acaso você chegasse
agora é cinza
chora tua tristeza
ri
carinho e amor
menina moça
o nosso olhar
exemplo
Sivuca – Sivuca At The Village Gate (1975)
Bom dia, amigos cultos, ocultos e associados de plantão! Puxando da ‘gaveta’, aqui vai o disco do dia, “Sivuca, Live At The Village Gate”. Este, na verdade, não é bem um ‘disco de gaveta’, como eu digo para aqueles que ficam sempre na reserva, para as horas de emergência. Acontece que é um álbum que eu estive ouvindo no fim de semana e mesmo já bem divulgado em outras fontes blogueiras, achei por bem posta-lo no Toque Musical. Com certeza, os amigos irão gostar, pois se trata do Sivuca e dele não há nada que se possa reprovar (e nem de mim por cair na ‘redundância sivucana musical’)
“Live at the Village Gate” foi um disco lançado por Sivuca em 1972 através do selo americano Vanguard. Gravado em Nova York, ao vivo, no tradicional ‘nightclub’ Village Gate. Neste show, Sivuca vem acompanhado por músicos estrangeiros e traz um repertório fino, mesclado de música popular brasileira e o jazz, feito mesmo com cuidado para surpreender e agradar o público americano. O Show foi tão bom que mereceu este registro em disco, que por sinal é considerado um dos melhores álbuns da carreira do grande Sivuca. Em 1975 o lp foi também lançado aqui no Brasil, através da gravadora Copacabana. Sem dúvida, um grande disco!
adeus maria fulo
berimbau
it might have been
rancho fundo
ain’t no sunshine
marina
coisa nº 10
batucada
Orquestra Chantecler – Cumbia E Outros Ritmos Latino Americanos (196…)
Boa noite a todos! Hoje eu estou trazendo um disco que é bem a cara das postagens do Toque Musical. Adoro discos que trazem alguma coisa de curiosa e interessante. No caso aqui, trata-se de um disco lançado originalmente na Bolívia (vejam vocês), sob o título de “Discoteca Del Dia”. Segundo nos informa o texto da contracapa, foi um tremendo sucesso tanto lá quanto em outros países sul americanos. O que levou o seu lançamento também no Brasil. O curioso disso tudo é que o disco foi gravado aqui e por uma orquestra e regente brasileiros. Acredito que a indústria fonográfica brasileira também abastecia os países vizinhos e, obviamente, tocando o que eles gostavam de escutar. A cumbia é mais um desses ritmos latinos de origem afroamericana, tradicional da Colômbia e Panamá, mas que se popularizou por toda a América Latina, principalmente nos anos 50.
Neste álbum, podemos encontrar 14 faixas com duas músicas em cada uma, o que nos dá um rico mostruário num repertório bem adaptado para a cumbia e outros ritmos latino americanos. Um disco orquestral sob a regência do maestro Francisco Moraes.
Por mais que eu tenha procurando, não encontrei a data de seu lançamento, mas creio que este álbum saiu aqui no início dos anos 60. Se algum dos amigos cultos tiver aí mais alguma informação, por favor, não se faça de rogado… o comentário está aí é para isso mesmo.
Desta vez, não vou tomar o trabalho de repetir aqui a relação de músicas (são tantas que me dá até preguiça). Tá na capa!
Instrumental – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 35 (2012)
Chegamos à trigésima-quinta edição do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil. Nesta semana, apresentamos mais uma seleção do melhor do “easy listening” tupiniquim, ou seja, a nossa música instrumental.
Para começar, apresentamos raridades executadas por um violonista que deixou sua marca na história de nossa música popular: Américo Jacomino, o Canhoto (São Paulo, 1889-idem, 1928). Filho de imigrantes napolitanos, ele foi um dos responsáveis pelo “enobrecimento” do violão, antes considerado um instrumento de menor importância, dizia-se até que só marginais faziam uso do mesmo. Tocava com a mão esquerda, daí o apelido de Canhoto. Sua peça mais conhecida, a valsa “Abismo de rosas”, foi por ele gravada pela primeira vez em 1916, com o nome “Acordes do violão”, recebendo o nome que a consagrou em 1925, numa execução bem mais lenta e elaborada. Canhoto morreu prematuramente, aos 39 anos de idade, por problemas cardíacos. Aqui, duas autênticas preciosidades da fase mecânica de gravação, ambas valsas, gravadas entre os dias 16 e 26 de junho de 1913 pela lendária Casa Edison, selo Odeon, e de autor desconhecido: “Adeus, Helena”, com o grupo do violonista, número 120600, e “Lágrimas de amor”, com Canhoto integrando o Grupo dos Chorosos, disco 120624, matriz SP.36. Esses dois registros fizeram parte da primeira série de gravações paulistas da Casa Edison, que teve um total de 82 matrizes!
Instrumentista, cantor, compositor e maestro, o carioca João Thomaz de Oliveira, aliás J. Thomaz (c.1900-ant.1964) costumava reger suas orquestras de luvas brancas, isso porque, quando ele era baterista, queimou as mãos ao soltar um foguete numa festa de São João. E nada sabia de música! Dele apresentamos o disco Victor 33460, gravado em 28 de julho de 1931 e lançado em setembro do mesmo ano, com dois maxixes. Abrindo-o, a matriz 65203 apresenta “Levanta, meu nêgo”, de autoria do mestre Pixinguinha. No verso, matriz 65202, uma composição do próprio J. Thomaz em parceria com Sátiro de Melo, “Vê se pode”.
A carioca Carolina Cardoso de Menezes (1916-1999) fazia parte de um clã de ilustres pianeiros, sendo filha de Oswaldo Cardoso de Menezes e da dona Sinhá, que também tocavam, é claro. Carolina começou a estudar piano aos 13 anos, e chegou a ter aulas até mesmo com Chiquinha Gonzaga. Mesmo com idade avançada e problemas de saúde, apresentou-se em recitais até falecer, em 31 de dezembro de 1999. Aqui, Carolina, acompanhada de grupo rítmico, nos brinda com sua arte tão pianística e brasileira com as faixas do disco Odeon 13611, gravado em 20 de outubro de 1953 e lançado em março de 54. No lado A, matriz 9938, o choro “Uma farra em Campo Grande”, de autoria de outro pianista de renome, Romualdo Peixoto, o Nonô, tio dos cantores Cauby Peixoto e Ciro Monteiro, e por ele próprio lançado em 1932. No verso, matriz 9939, um baião de autoria dela própria, “Vem cá, meu amor”.
O paraguaio Luiz Bordón (1926-2006) recebeu incentivo de seus pais desde a infância para dedicar-se à música. Com sua harpa, fez apresentações no Paraguai e no Brasil (onde residiu por vários anos), e seu álbum mais famoso é “A harpa e a cristandade”, com músicas de Natal, editado em 1960 e que mereceu um segundo volume cinco anos depois. Residiu por três anos nos EUA e voltou ao Paraguai, onde morreu aos 80 anos. Aqui, apresentamos o disco Chantecler 78-0238, lançado em março de 1960, que abre com o clássico “Baião de dois” (o arroz com feijão no Ceará), de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, matriz C8P-475, originalmente lançado por Emilinha Borba em 1950. No lado B, matriz C8P-476: uma versão, em ritmo de tango, da marchinha “Me dá um dinheiro aí”, dos irmãos, Homero, Ivan e Glauco Ferreira, hit do carnaval daquele ano na voz de Moacyr Franco, e inspirada no mendigo por ele interpretado na “Praça da Alegria”, na TV. Ambas as gravações também chegaram ao LP, afinal era uma época de transição de formatos: “Baião de dois” saiu em “Harpa paraguaia em hi-fi – volume 3”, e “Me dá um dinheiro aí” em “Recordando carnavais”.
Um dos maiores ‘bandleaders’ brasileiros, o paulistano Sylvio Mazzuca (1919-2003) também foi pianista e exímio executante de vibrafone. Sua orquestra, nos anos 1950/60, era a mais solicitada para animar bailes e festas em São Paulo, além de também se exibir em bailes de formatura no Rio de Janeiro. Continuou atuando até meados dos anos 1990, viajando pelo país a bordo de um ônibus especialmente adaptado. De Mazzuca e sua prestigiadíssima orquestra apresentamos o disco Copacabana 5145, lançado em agosto-setembro de 1953. De um lado, o fox-slow “Limelight”, matriz M-554, composição de Charles Chaplin incluída em seu filme de mesmo nome, o famoso “Luzes da ribalta” no Brasil (só foi lançado nos EUA em 1972, pois Chaplin estava incluído na lista negra do macartismo). No verso, matriz M-555, um choro do próprio Mazzuca, “Travesso”.
Para terminar, apresentamos dois clássicos do mestre Zequinha de Abreu (Santa Rita do Passa Quatro, SP, 1880-São Paulo, 1935), executados pela Orquestra Colbaz, com piano e regência do maestro Gaó (Odmar Amaral Gurgel, 1909-1994), paulista de Salto. Os demais integrantes eram Jonas Aragão (clarineta), Zé Carioca (violino), Petit (violão), José Rielli (acordeão) e Atílio Grany (flauta). Colbaz era o endereço telegráfico da gravadora Columbia do Brasil, que lançou esse disco em junho-julho de 1931 com o número 22029. Abrindo-o, matriz 381027, a bela valsa “Branca”, que Zequinha compôs em homenagem à filha do chefe da estação ferroviária de Santa Rita, então com 13 anos de idade, e a quem muito admirava, “a gentil senhorita Branca Barreto”, nome dado inclusive a pedido do chefe da estação, muito amigo do compositor. O verso, matriz 381028, é o famoso “choro sapeca” “Tico-tico no fubá”, mundialmente conhecido e gravado inúmeras vezes. Foi composto em 1917 como “Tico-tico no farelo”, e lançado por Zequinha durante um baile animado por sua orquestra. Mas já havia outra música com esse nome, daí o farelo ter sido trocado pelo fubá. Esse disco permaneceria em catálogo por vários anos, e teve outras edições: pela mesma Columbia, com o número 55038, e pela Continental, com o número 15004. E encerra a edição desta semana do GRB, que certamente proporcionará momentos muito agradáveis de recordação e enlevo. Aproveite!
TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO.
Leny Eversong – A Internacional (1959)
Boa noite, amigos cultos, ocultos e associados! Quanto mais links de REPOST eu envio para o GTM, mais pedidos me aparecem. Peço aos que ainda não foram atendidos que tenha paciência. Milagres, eu só faço de vez em quando!
Para fechar bem o domingo, eu trago para vocês a super cantora, Leny Eversong. Acho curioso como a mídia esqueceu-se dela. Pelo menos eu nunca vejo as rádios, tvs, revistas e jornais falarem mais dela. Se fosse apenas uma cantora mediana, ainda vá lá. Mas estamos falando aqui é da ‘internacional’. Uma grande cantora brasileira que fez sucesso aqui e lá fora – Europa, Estados Unidos e América do Sul. Pode parecer bobagem minha, mas eu a apontaria como o Cauby Peixoto de saias (ou vice versa). Interpretações magistrais, cantando em vários idiomas e cantando bem, diga-se ainda de passagem. Neste álbum, lançado pela RGE em 1959, iremos encontrar gravações da cantora feitas na França para o selo Vogue. Nesta seleção ela canta em até quatro idiomas, num repertório de sucessos internacionais, acompanhada pela orquestra de Pierre Dorsey. Um bom disco, eu recomendo 😉
au bleu du ciel bleu
i want to be happy
gitano (olivia y cristal)
carmelita
fascination
ça c’est lamour
granada
esmagando rosas
veronique
stormy weather
swing low, sweet chariot
solitude
Miltinho – Miltinho E A Seresta (1970)
Boa noite, amigos cultos, ocultos e associados! Embora não seja o disco de hoje um ‘álbum de gaveta’, ele acabou ficando por conta de uma espera de postagem que nunca chegou. Esqueci dele completamente e agora, procurando o que postar, eis que trombo com o dito cujo, hehehe…
Hoje, então, vamos com o Miltinho em um lp Odeon, lançado em 1970. O título, direto e simples, já diz tudo. Temos o nosso cantor interpretando em seresta doze clássicos da MPB. Na linha do mais tradicional, Miltinho vem acompanhado pelo Regional do Canhoto, o que dá ao trabalho um caráter ainda mais autêntico. Um belíssimo lp que não precisa de hora para se ouvir. Basta pedir… 😉
no rancho fundo
malandrinha
queixumes
três apitos
deusa da minha rua
se tu soubesses
última inspiração
foi ela
modinha
arranha céu
boneca
quem há de dizer
Fotopotoca Do Mês (Setembro)

INAUGURANDO UM NOVO ESPAÇO (POIS RI AINDA É O MELHOR REMÉDIO)
The Lovers – Lovers Vol. 2 (1961)
Boa noite, amigos cultos, ocultos e associados de plantão. Estou vendo que em breve precisarei fazer novas mudanças neste blog. Me refiro à questão do acesso ao Toque Musical tendo de contrapeso o GTM. Tenho a impressão de que o envio de links por e-mails tem deixado muita gente acomodada, quietinha, esperando eu levar de bandeja. Por essa e por outras, estou pensando em configurar o Grupo apenas para acesso, sem envio de links por e-mail. Talvez até eu venha a colocar novamente os links como antigamente, na seção de comentários da postagem. Fiquem atentos, pois essas mudanças poderão ocorrer sem um novo aviso prévio. Eu não vou ficar repetindo, ok? Sei que aqueles que me acompanham de verdade, não terão muitas dúvidas. O GTM continua, mas será apenas para concentrar informações, um canal alternativo e de emergência para que a gente não se perca no caminho, ok?
O calor continua e a dança também. Segue no clima um belo e interessante álbum lançado no início dos anos 60 pelo selo Nilser. Para quem não sabe, embora eu já tenha comentado isso em outra postagem, Nilser é a junção das duas primeira sílabas do nome Nilo Sérgio. Este foi outro selo criado por ele, um projeto paralelo à Musidisc, onde o músico empresário primava por uma alta qualidade de som, com gravações modernas e estéreo. Um luxo da época, que contava ainda com encartes muito bem produzidos, de capas duplas e diferenciadas. Pelo selo Nilser saíram poucos discos, sendo os primeiros lançamentos a série “Lover”, que pela capa nos dava a entender que fosse um disco internacional cujo o conjunto se chamaria “The Lovers”. Mal sabia o público e poucos ainda saberão que por traz desses “The Lovers” (três volumes) estava o Ed Lincoln e seu conjunto. Aliás, o Ed Lincoln foi um dos artistas que mais gravou usando pseudônimos!
Eu deveria começar esta mostra pelo volume 1. Acontece que, no momento, eu só tenho esse. Mas para frente a gente volta trazendo os outros dois. Aqui, como se pode ver logo a baixo, vamos encontrar um repertório totalmente internacional com características que ressaltam as qualidades da gravação. Se gostaram do volume 2, com certeza vão gostar do 1 e 3. Mas esses ficam para uma próxima oportunidade, ok?
it had to be you
i love you
i’ll see youi in my dreams
bye bye blackbird
tender is the night
amado mio
ebb tide
bolero
dans mon ile
tu, mi delírio
autumn love song
el manisero
the dream of olwen
Chiquinho E Seu Conjunto – Dançando No Rio (1958)
Boa noite, amigos cultos, ocultos e associados! Com o calor que anda fazendo por aqui, eu hoje não estou nem um pouco animado a fazer postagem. Por mim, passaria o dia numa rede, só no suco 🙂 Ia mesmo deixar o 13 de setembro passar em branco, mas como não é lá nenhuma data especial, vamos em frente, tentando manter o ritmo…
Não foi por acaso que eu hoje escolhi este raro lp do Chiquinho do Acordeon. Para dar uma refrescada, acho que ele vai cair bem. Traz uma sonoridade bem particular, com seu conjunto formado apenas de piano, contrabaixo, guitarra elétrica, bateria e o acordeon, claro! Não consegui identificar ao certo a data de lançamento deste álbum, mas creio, pelo repertório, que deve ser de 1958 ou 59. Apesar do estado um tanto lastimável do disco, eu fiz questão de digitaliza-lo, pois se trata de um trabalho que vale ser conferido. Como convinha à época, feito para dançar, em seis faixas recheadas com ‘hits’ nacionais e internacionais. Destaque para “Se todos fossem iguais a você”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
pois é
recado de olinda
o apito no samba
if you can dream
if i loved you
c’est magnifique
quero te assim
quem foi que prometeu
calypso (high society)
não me diga adeus
esquina da saudade
vem meu amor
invitation
i love paris
an affair to remember
se todo fossem iguais a você
nereidas
pé de chumbo
Alceu Valença e Jackson do Pandeiro – Projeto Pixinguinha 1978 (2012)
Olá, amigos! Em dias em que eu não estou para muito papo, ou um tanto quanto preguiçoso, nada melhor que uma postagem do Projeto Pixinguinha. Pois nesta, eu só tomo mesmo o trabalho de editar ‘as faixas’ e criar a capinha. Querem saber mais sobre este show memorável de Alceu Valença e Jackson do Pandeiro? Eu indico com prazer. Vai lá no site da Funarte, a página é “Brasil – Memória das Artes – Projeto Pixinguinha”. Quem ainda não conhece, com certeza, vai adorar 🙂
Alceu Valença apresenta neste show praticamente todas as músicas que estão em um de seus primeiros álbums, o “Vivo”. Jackson do Pandeiro não faz por menos e nos traz alguns de seus maiores sucessos. Gravação muito boa. Vale conferir no GTM 😉
vou danado pra catende – alceu valença
forró em limoeiro – jackson do pandeiro
sol e chuva – alceu valença
vou de tutano – jackson do pandeiro
maria dos santos – alceu valença
alegria do vaqueiro – jackson do pandeiro
agalopado – alceu valença
anjo de fogo – alceu valença
pisa na fulo – alceu valença
eu sou você – alceu valença
quando eu olho para o mar – alceu valença
espelho cristalino – alceu valença
a rainha de tamba / o canto da ema / um a um – jackson do pandeiro
tambor de criola / meu boi não pode carriar / sebastiana – jackson do pandeiro
chiclete com banana – jackson do pandeiro
lágrima / vou gargalhar / vou ter um troço – jackson do pandeiro
amigo do norte – jackson do pandeiro
papagaio do futuro – alceu e jackson
papagaio do futuro (bis) – alceu e Jackson
Roberto Silva – O Principe Do Samba (1965)
Boa noite, amigos cultos, ocultos e associados. Pois é, como eu havia dito, aqui vai a nossa homenagem ao “Príncipe do Samba”, o cantor carioca, Roberto Silva. Eu não tive como fazer esta postagem antes, mas agora segue aqui, em um disco lançado em 1965, originalmente pelo selo Som, da Copacabana. Neste álbum vamos encontrar doze sambas orquestrados, bem aos moldes da década anterior, possivelmente por Dalton Vogeler, que também é quem assina o texto na contracapa do disco. Me chamou a atenção em diversas faixas um trombone sincopado, que eu acredito ser do Mestre Raul de Barros. Como em outros discos de Roberto Silva, este é mais um que quando não se tem o que falar, melhor é ouvir.
inspiração
espelho da vida
conselho de amigo
gostei da sugestão
não adianta chorar
dúvida
diz a verdade todinha
linda manicure
zero hora
aparências
fim do boêmio
silencio no morro
Tonico E Tinoco 2 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 34 (2012)
Ê trem bão… Eis a segunda parte da retrospectiva que o meu, o seu, o nosso Grand Record Brazil dedica aos eternos e inesquecíveis Tonico e Tinoco. Dupla que tem em seu respeitável currículo, inclusive, atuações no cinema. Estrearam na sétima arte em 1949, participando de “Luar do sertão”, primeiro filme brasileiro do italiano Mário Civelli (1923-1993), que teve um remake em 1971, sob a direção de Oswaldo de Oliveira, e do qual a dupla também participou. Também atuaram em “Lá no meu sertão” (1963), “Obrigado a matar” (1965), “Os três justiceiros” (1972), “A marca da ferradura” (do mesmo ano), “O menino jornaleiro” (1982) e “A marvada carne” (1983). Enfim, caipiras versatilíssimos.
Prosseguindo esta retrospectiva da eterna “dupla coração do Brasil”, apresentamos onze preciosos fonogramas, todos originalmente da Continental. Em ordem cronológica de lançamento são estes: para começar, a primeiríssima gravação da dupla: o cateretê “Em vez de me agradecer”, de autoria do Capitão Furtado (Ariowaldo Pires, sobrinho de Cornélio Pires, pioneiro na divulgação da música caipira em disco), em parceria com Jayme Martins e o violonista Aymoré. Feita em 26 de novembro de 1944, matriz 10324, era só um teste, uma “prova”, como se dizia na época. Quando eles foram gravar o verso do 78, cantaram tão alto (como faziam lá na roça)… que o microfone estourou! E a Continental os puniu com seis meses de aulas de canto para educar a voz e voltar a gravar… Para sorte deles, uma música que deveria entrar no último disco lançado pela dupla Palmeira e Piraci, que teria no lado B “Salada internacional”, foi proibida pela censura do Estado Novo, e o jeito foi usar justamente “Em vez de me agradecer” como lado A desse disco, o Continental 15385. Agradaram em cheio!
Depois apresentamos o lado B do primeiro disco completo da dupla, de n.o 15417, gravado em 4 de agosto de 1945 e lançado em setembro seguinte, matriz 10453: a moda de viola “Porto Esperança”, mesmo nome de um distrito da cidade de Corumbá, Mato Grosso do Sul, onde se passa a narrativa.
O 78 seguinte é o de número 15447-B, gravado em 8 de agosto de 1945 e lançado em outubro do mesmo ano, matriz 10470: outra moda de viola das boas, “Moreninha”, de Tonico sem parceiro.
Temos depois as duas faixas do disco 15655, gravado em 10 de abril de 1946 e lançado em junho seguinte. O lado A, matriz 10581, é outro modaço de viola, “Destino de caboclo”, de Tonico e Aldo Renatti, No verso, a matriz 10580 nos traz o recortado mineiro “Ai, meu bem”, de Piraci e Geraldo Costa.
Completamos depois o disco 15706, gravado em primeiro de junho de 1946 e lançado em setembro seguinte, apresentando o lado B, correspondente à matriz 10605, o rasqueado “Adeus, morena, adeus”, de Piraci e Luiz Alex, este último não creditado no selo original como co-autor.
Nossa próxima faixa é o lado A do disco 15795, gravado em pleno feriado de Tiradentes, 21 de abril de 1947, e lançado em julho seguinte, matriz 10707, a moda de viola ”A cruz do caminho”, de Anacleto Rosas Júnior (autor de inúmeros hits do sertanejo de raiz, como “Baldrana macia”, “Os três boiadeiros” e “Burro picaço”) e Arlindo Pinto, outro compositor bastante considerado no gênero, tendo em seu currículo parcerias com Mário Zan (“Chalana”, “Balanceio”) e Palmeira (“Baile na tuia”). Confira em nossa edição anterior o lado B, que é o clássico “Tristeza do jeca”.
Passamos em seguida às duas músicas do Continental 15796, gravado também em 21 de abril de 1947, e lançado no mesmíssimo suplemento de julho daquele ano. No lado A, matriz 10705, Arlindo Pinto entra novamente em cena, desta vez assinando em parceria com Geraldo Costa a moda de viola “Boiadeiro entrevado”. No verso, matriz 10704, Geraldo Costa assina com o acordeonista Mário Zan (o consagrado autor de “Nova flor”, “Quarto centenário”, “Chalana”, “Festa na roça” etc.)o recortado mineiro “Que lucro dá?”, inclusive com o próprio Mário puxando o fole no acompanhamento.
Por fim, o disco que encerra esta nossa segunda parte é o de número 15819, gravado em 30 de junho de 1947 e lançado entre agosto e outubro do mesmo ano. No lado A, matriz 10727, o cateretê “Você sabe onde eu moro”, de Piraci e Geraldo Costa, de novo com a sanfona do mestre Mário Zan no acompanhamento, mais o violão do co-autor, Piraci. No verso, matriz 10726, a moda de viola “Destinos iguais”, de autoria do mesmo Capitão Furtado que os descobriu, em parceria com o professor Ochelcis Laureano, paulista de Sorocaba e autor do clássico “Marvada pinga”, um dos eternos carros-chefes de Inezita Barroso. Curiosa, aliás, é a composição de seu nome: “O” (artigo masculino), “chel” (segunda sílaba do nome da mãe, Rachel) e “cis” (sílaba do meio do nome do pai, Francisco), ficando “Ochelcis”. Com esta interessante curiosidade, encerramos esta resenha do segundo volume que o GRB dedica a Tonico e Tinoco, a eterna e insubstituível “dupla coração do Brasil”!
* TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO
Inezita Barroso – Lá Vem O Brasil (1956)
Boa noite, amigos cultos, ocultos e associados! Êta domingo baixo astral este de hoje! Um belo dia de sol não foi suficiente para me levantar da gripe que peguei. Estou hoje ainda mais preguiçoso e para piorar o mal estar, fiquei sabendo agora a pouco do falecimento do cantor Roberto Silva. Infelizmente eu fui pego de surpresa e não tive tempo de preparar algum disco do cantor. Vou deixar a minha homenagem para a semana. Prometo que vou trazer algum disco dele para a gente ouvir. De qualquer forma, estou enviando para o GTM um novo link para o disco “Descendo o morro – Vol. 2”, postado no TM há tempos atrás. Hoje vamos mesmo é de Inezita Barroso, que já estava pronta para entrar. Tenho aqui este albinho de dez polegadas – “Lá vem o Brasil” – um disco bem bacana que a cantora gravou em 1956. Um trabalho totalmente acústico, só ela e o violão. Nele, ela nos apresenta alguns temas clássicos do nosso folclore, como, por exemplo “Tristezas do Jeca”, de Angelino de Oliveira; o poema musicado de Cecília Meirelles, “Berceuse da Onda”; “Galope a Beira Mar”, de Luiz Vieira e outros… Não deixem de conferir 🙂
lá vem o brasil
berceuse da onda
o carreteiro
temporal
sertão de areia seca
rede de sinhá
galope a beira mar
cantilena
Língua De Trapo – Big Golden Hits (1986)
Olá amigos cultos, ocultos e associados! Para manter o bom humor na casa, eu hoje estou trazendo para vocês o conjunto paulista Língua de Trapo. Há tempos atrás eu postei aqui o primeiro disco deles, o qual eu acho ótimo. Geralmente discos de humor, sempre são datados e a piada acaba ficando manjada. Depois que se ouve algumas vezes, a coisa perde a graça. Mas apesar disso, o Língua de Trapo é um daqueles que a gente não perde de vista. O Língua de Trapo foi formado no início dos anos 80 por um grupo de estudantes universitários, sem grandes preensões. Mas eles faziam um humor tão diferenciado, com sutilezas inteligentes, que acabaram conquistando um bom público. Ao longo dos anos 80 eles lançaram uns três discos, sendo este o último para depois darem uma pausa, só voltando à ativa, em discos, em 1994 já com uma nova formação. Vieram depois novos discos, mas os tempos eram outros. A onda de humor e besteirol haviam passado e por certo, a criatividade replicada em exaustão deixou de ser engraçada. O Língua de Trapo parece ainda continuar ativo, pelo menos virtualmente e através de seu site e um blog que eles não atualizam desde o ano passado.
Confiram os “Big Golden Hits Superquentes Mais Vendidos No Momento”. Não é o ‘azulzinho’, mas também é muito engraçado e gostoso de ouvir. Ótimo para aprender e cantar com os amigos numa roda de violão. Eu já fiz muito isso 🙂
das profundezas (samba do inferno)
marcinha ligou
interromper I (canal 1)
interromper II (canal 2)
balada cibernética
merda
o homem da minha vida
a rainha do karaokê
use (descartável)
o homem da minha vida (remix)
eu amo esse homem (trecho)
grito
ou não
no “&tgrmfhz232?xh”, prrrzt (como é que é o negócio?)
hitler (ou, foi tudo exagero da imprensa)
Jair Rodrigues – Jair De Todos Os Sambas (1969)
Boa noite amigos cultos, ocultos e associados! Hoje, 7 de Setembro, eu deveria estar apresentando aqui algum disco relacionado ao tema da Independência, ou algo assim. Mas, confesso que não tive muito ânimo e nem nada pronto em meus ‘discos de gaveta’. Por outra, achei aqui este disco do Jair Rodrigues. Gosto muito dessa fase (anos 60) do Jair, não apenas por um repertório de qualidade, mas também pelos arranjos, que até então eram feitos com muito zelo e por gente competente. “Jair de todos os sambas” é um título que já diz tudo. Aqui encontraremos uma seleção de sambas de sucesso, muitos deles nascidos na voz do próprio artista. Um bom disco, que mesmo já bem divulgado em outros blogs, merece o nosso toque. 🙂
bahia de todos os deuses
bloco do sujo
levanta a cabeça
avenida iluminada
enxuga a tristeza do olhar
em nome da lua, da mulata e do samba
casa de bamba
vê que luar
pra que dinheiro
o conde
na brincadeira do mundo
feiticeira
olelê, cheguei agora
quem entra na roda é rei
leva meu samba
Maria Alcina – Plenitude (1979)
Boa noite amigos cultos, ocultos e associados de plantão! E a vida continua para quem pode estar vivo, aos demais, que tenham um bom descanso. Bola pra frente e toque também…
Hoje o nosso encontro vai ser com a cantora Maria Alcina. Mineira de Cataguases, apareceu para o público em 1972, no Festival Internacional da Canção, onde defendeu a música “Fio Maravilha”, de Jorge Bem, a qual foi classificada na fase nacional. Gravou seu primeiro disco em 73, trazendo entre outras “Alô, alô..”, grande sucesso de Carmem Miranda. “Plenitude” era o nome do show da cantora, que chegou a ter problemas com a censura por conta de músicas com duplo sentido. Lembram-se de “É mais embaixo”? Ela fez sucesso com essa música e seu show acabou lhe rendendo este lp de mesmo nome. Vamos encontrar no álbum um repertório de primeira, com músicas de Rita Lee, Eduardo Dusek, Morais Moreira, Walter Franco e outros no mesmo calibre. Há também a participação de Adoniran Barbosa na faixa “Torresmo a milanesa”, dele e Carlinhos Vergueiro. Sem dúvida, um muito bom disco 🙂 Querem ouvir? Então dêem o toque 😉
tua sedução
tum tum
escandalosa
folia no matagal
não venha tarde demais
quase
haja o que houver
torresmos a milanesa
nova bandeira
voz da américa
é mais embaixo
plenitude
Dilermando Reis – Volta Ao Mundo (1959)
Boa noite a todos! Hoje eu recebi uma notícia chata. Não sei nem se deveria comentar isso aqui, porém, fiquei incomodado e pesaroso. Há coisa de umas duas semanas faleceu um de nossos visitantes cultos (e também oculto). Uma pessoa que foi a responsável pela criação deste novo blog, a versão Toque Musical independente. Foi ele quem me deu todas as coordenadas e todo o apoio técnico necessário para chegarmos até aqui. No momento ele estava procurando um ‘player’ ideal para tocarmos a programação da nossa pretensa rádio. Eu havia até mandado para ele novas músicas para completarmos os blocos de programação. Achei estranho ele demorar tanto para me responder. Deixei passar duas semanas e agora recebo essa triste notícia através de um e-mail respondido pela viúva. Que chato, que pena… Felizmente ele me deixou relativamente preparado para encarar sozinho a empreitada. Vamos ver se eu consigo. Se não der, lá para o próximo ano o Toque Musical deve voltar às origens. Sem um apoio técnico fica complicado…
Em homenagem ao meu amigo, eu hoje vou postar um disco do Dilermando Reis. Um álbum onde o violonista interpreta músicas de diferentes lugares do mundo. Um verdadeiro passeio musical por diversos países. No violão e arranjos do mestre essas melodias ganham um sabor ainda mais especial.
Olha aí Bira, este é para você! Tá tudo certo, eu entendi o recado… 🙁
na baixa do sapateiro (brasil)
ausência (paraguai)
la despedida (chile)
milongueiro del ayer (argentina)
estrelita (méxico)
an affair to remember (usa)
love is a manu splendored thing (usa)
dança nº 5 (espanha)
comme prima (itália)
amoureuse (frança)
uma noite em haifa (israel)
jalousie (finlândia)
olhos negros (rússia)
duas guitarras (rússia)
Márcia – Vol. II (1969)
Boa noite, amigos cultos, ocultos e associados! Eu estava hoje para postar um disco da Joyce, gosto muito do trabalho dela. Mas para contradizer a intenção, descobri que o álbum foi relançado em cd há alguns anos atrás. Certamente ainda podemos encontrar para venda. Assim sendo, melhor deixarmos a moça do violão vendendo no Japão 🙂
Vamos com outra, vamos com a cantora Márcia. Esta fez muito sucesso nas décadas de 60 e 70. Paulista, começou a carreira com pouco mais de 15 anos. Cantou em diversas rádios, boates, emissoras de tv e em festivais. Entre os seus maiores sucessos podemos destacar “Ronda”, de Paulo Vanzolini e “Eu e a brisa”, de Johnny Alf. Nos anos 70 ela integrou o memorável show, “O importante é que a nossa emoção sobreviva”, ao lado de Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro, que originou o disco. Aliás, os discos, pois o show renderia ainda mais um lp, um ano depois.
Neste lp, o seu segundo disco, vamos encontrar um repertório de gemas finas, com destaque para umas cinco músicas de Johnny Alf.. Mas não fica só nisso, tem também Dorival Caymmi em parceria com Paulo Tapajós e Eduardo Souto; Milton Nascimento, Baden Powell; Walter Santos; Edu Lobo e Vinicius… e mais… Belíssimo disco, produzido por Armando Pittigliani e com direção musical e arranjos do maestro José Briamonte.
ilusão à toa
sorriso antigo
canto pra dizer-te adeus
boêmio do samba
tarde
elegia
pra você
viu
o tempo e o vento
aperto de mão
canto livre
não tem solução
se eu te disser
Tonico & Tinoco – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 33 (2012)
E o Grand Record Brazil chega à “idade de Cristo” (rsrsrsrsrsrs…)… É porque já estamos na edição de número 33, apresentando a primeira parte de uma retrospectiva dos melhores momentos da eterna “dupla coração do Brasil”, Tonico e Tinoco.
Obviamente, os dois eram irmãos, filhos de imigrantes espanhóis. Tonico (João Salvador Perez) era de São Manoel, interior paulista, onde nasceu em 2 de março de 1917. Tinoco (José Perez), por sua vez, era um pouquinho mais novo, nascido em 19 de novembro de 1920 em uma fazenda em Botucatu, perto de São Manoel, que hoje pertence ao município de Pratânia. E foi ouvindo as músicas de Cornélio Pires que foram influenciados na arte de cantar. Ainda adolescentes, compraram suas violas e passaram a cantar em dupla em serenatas nas fazendas da região, sendo que a primeira música que aprenderam foi o clássico “Tristeza do Jeca”, de Angelino de Oliveira, que mais tarde gravariam (e está nesta seleção). Em fins de 1937, a família Perez, ao lado de outras, decidiu tentar a sorte em Sorocaba, Tonico foi ser servente na Pedreira Santa Helena e Tinoco virou engraxate na estação de trem da Sorocabana. Mas, a coisa não deu certo, e a família voltou ao campo, na Fazenda João Cintra, em São Manoel. Isso, porém, deu aos irmãos Perez a chance de se apresentar em rádio, mais precisamente a Rádio Clube de São Manoel, levados pelo administrador da fazenda, José Augusto Barros. Durante a semana eles trabalhavam na roça e aos domingos cantavam na rádio, sem nada ganhar, apenas por amor à arte.
Em 1943, já em São Paulo, os irmãos participaram de programas de calouros do rádio, sem êxito. Nessa ocasião, o Capitão Furtado (Ariowaldo Pires, sobrinho de Cornélio Pires), promoveu um concurso em seu programa “Arraial da Curva Torta”, na Difusora, para preencher uma vaga (o programa estava sem violeiros). É aí que os irmãos Perez, mais um primo, se candidatam como Trio da Roça. Classificam-se para a final, obtendo o primeiro lugar e, sem o primo, são batizados pelo Capitão Furtado com os nomes que os imortalizaram: Tonico e Tinoco.
A primeira gravação da dupla saiu pela Continental, em julho de 1945: o cateretê “Em vez de me agradecer”, do Capitão Furtado, Jaime Martins e Aimoré, lado B de “Salada internacional”, com Palmeira e Piraci (só saiu porque a outra música dessa dupla foi censurada!). Em setembro de 1945 é que sai o primeiro 78 completo de Tonico e Tinoco, gravado em 8 de agosto desse ano, apresentando as modas de viola “Tudo tem no sertão”, de Tonico (lado A, que aliás está aqui, matriz 10454-2), e “Porto Esperança”, de Tonico e Miguel Patetti.
Depois disso, todos sabem o que aconteceu: êxitos sobre êxitos em disco (cerca de mil gravações em 60 anos de estrada!), apresentações em todos os cantos do Brasil (até mesmo no Teatro Municipal de São Paulo, e chegaram até a cantar numa feira de moda junto com nossa rainha-mãe do rock, Rita Lee!), sempre mantendo a fidelidade ao velho e bom gênero caipira, sendo por isso considerada, com justiça, a mais importante dupla caipira brasileira, e a de maior referência no gênero. Ganharam, claro, inúmeros prêmios: Roquette Pinto, Prêmio Sharp de Música, Medalha Anchieta, Troféu Imprensa… Tiveram companhia circense, escrevendo e atuando em 25 peças, e atuaram no rádio paulistano durante mais de 50 anos, na Nacional (atual Globo), na Record e sobretudo na Bandeirantes (então “a mais popular emissora paulista”), onde apresentaram o programa “Na beira da tuia”. Também tiveram esse programa na televisão, nas redes Bandeirantes e SBT. Gravaram, além da Continental, na Chantecler, na RCA Victor, na Copacabana, na Philips e em sua sucessora, a Polygram, onde registraram seu último trabalho em disco.
O último show da dupla aconteceu na cidade matogrossense de Juína, em 1994. Seis dias mais tarde, a 13 de agosto, Tonico falece após uma queda na escada do prédio em que morava, no bairro paulistano da Moóca. Tinoco, porém, após dizer que deixaria de cantar, prosseguiu sozinho, apoiado pelos seus inúmeros fãs e homenageado até mesmo por Roberto Carlos, em 2010, no especial de TV “Emoções sertanejas”. E continuaria na ativa até falecer, em 4 de maio deste 2012, em São Paulo, de insuficiência cardiorrespiratória, aos 91 anos, tornando-se assim o artista sertanejo que mais atuou na história de nossa música.
O GRB começa a trazer um pouco da história musical dos inesquecíveis irmãos Tonico e Tinoco. As gravações que apresentamos são todas de sua primeira fase, na Continental, feitas entre 1945 e 1948. Em ordem de lançamento, são: a já citada “Tudo tem no sertão”; “Sertão do Laranjinha”, motivo popular adaptado pela dupla mais o Capitão Furtado, matriz 10453, tendo no verso do disco 15418, gravado em 22 de julho de 1945 e lançado em setembro seguinte, o cateretê “Percorrendo o meu Brasil”, de João Martins, matriz 10451. Temos depois a moda de viola “Cuiabana” de Tonico e Bonfim Pereira, gravada em 16 de agosto de 1945, com lançamento em outubro (15447-A, matriz 10469). Em seguida o disco 15681, gravado em 10 de abril de 1946 e lançado em agosto do mesmo ano, apresentando a valsa “Cortando estradão”, de Anacleto Rosas Jr., matriz 10578, e no lado B, matriz 10579, uma toada que todo mundo sabe de cor, embora pungente: “Chico Mineiro”, de Tonico e Francisco Ribeiro. Aliás, quando Tonico e Tinoco foram gravar a música, os dirigentes da Continental lhes informaram que esse seria o último disco deles na empresa, pois já haviam gravado outros cinco com nove músicas e os ouvintes reclamavam não entender a pronúncia caipira da dupla. É claro que isso não aconteceu, e, com o dinheiro resultante do sucesso de “Chico Mineiro”, eles conseguiram comprar sua primeira casa para viver com a família. Do Continental 15706, gravado em primeiro de junho de 1946 e lançado em setembro seguinte, vem o lado A, matriz 10606, apresentando a moda de viola “Peão vaqueiro”, de Tonico sozinho. E não há quem nunca tenha ouvido “Tristeza do jeca”, toada clássica de Angelino de Oliveira, originalmente lançada em 1926 por Patrício Teixeira. Esta é a primeira das muitas gravações que Tonico e Tinoco fizeram desta página antológica, em pleno feriado de Tiradentes (21 de abril) de 1947, matriz 10706, com lançamento pela Continental em julho sob n.o 15795-B. Na sequência vem a toada “Vingança do Chico Mineiro”, de Tonico e Sebastião de Oliveira, sequência natural do sucesso de “Chico Mineiro”. Saiu no lado A do Continental 15913, em gravação de 3 de maio de 1948, lançada no suplemento para o trimestre de julho a setembro desse ano, matriz 10867, tendo no verso, matriz 10866, a moda de viola “Goiana”, de Tonico e Teddy Vieira (autor do clássico “O menino da porteira”, entre outras), também aqui apresentada. E é assim que o GRB começa a reviver a gloriosa trajetória de Tonico e Tinoco nas 78 rotações por minuto. E olha: semana que vem tem mais. Combinado?
TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO.
Milton Nascimento – Milton (1976)
Boa noite amigos cultos, ocultos e associados! Hoje eu vou lançar mão de mais um ‘disco de gaveta’. Cheguei em casa agora há pouco e sem condições de ficar muito tempo em frente a tela do computador.. Tô dormindo em pé! Mas antes de correr para cama vou deixando aqui o meu recado.
Vamos como este maravilhoso trabalho de Milton Nascimento, gravado em Los Angeles, nos anos 70. Disco primoroso que conta com feras com Novelli, Toninho Horta, Herbie Hancock, Wayne Shorter, Hugo Fattoruso, Airto Moreira, Raul de Souza e outros. Na minha opinião, um dos melhores disco do Bituca. Confiram, mas só amanhã, ok? Agora eu vou é dormir! Mais uma vez, boa noite.
race – raça
fairy tale song – cadê
francisco
nothing will be as it was – nada será como antes
clove and cinnamon – cravo e canela
the call – chamada
one coin – tostão
exits and flags – saídas e bandeiras
the people – os povos
Turma Da Bossa – Sambas De Bossa Nova (1959)
Boa noite, meus prezados amigos cultos, ocultos e associados! Depois que nos transferimos para um espaço independente, eu acabei deixando meio de lado a programação tradicional do blog. Hoje, por exemplo, seria o dia de coletâneas, mas confesso, nem lembrei. Vamos ver se a partir da próxima semana eu consigo voltar ao velho esquema.
Hoje eu tenho para vocês este interessantíssimo álbum, lançado pela Musidisc, logo nos primeiros sussurros da Bossa Nova. Nilo Sérgio, sempre um passo a frente, foi logo tratando de por a Musidisc na linha de frente da nova onda. Naquele momento, Bossa Nova era ainda uma espécie de jargão, um termo para definir um tipo de samba que estava nascendo. Por certo, metade das músicas deste disco viriam a se tornar clássicos da Bossa Nova. A outra metade é também de sambas clássicos, porém dos antigos. O lp, apesar de toda bossa, ainda estava longe do conceito moderno ‘Bossa Nova’. Ainda carrega em sua produção e arranjos aquele mesmo jeitinho tradicional. Pena, apesar de todo o cuidado e qualidade, a gravadora não informar no álbum a ficha técnica. Mesmo assim, não deixa de ser um excelente disco e merece em muito a nossa atenção.
chega de saudade
lamento
vai, mas vai mesmo
não vou pra Brasília
mocinho bonito
é luxo só
se acaso você chegasse
recado
barracão
com que roupa
Bezerra Da Silva e Os Partideiros Nota 10 – O Melhor Do Partido Alto Vol. 2 (1983)
Bom dia, amigos cultos, ocultos e associados! Ainda continuo devendo a reposição de alguns links solicitados. Peço a todos que tenha paciência e aguardem. Aos poucos eu vou atendendo os pedidos, ok? Enquanto isso, vão curtindo o meu pagode 🙂 Hoje, sexta feira, na malandragem, tô passando o rôdo nos independentes. Como não tive tempo de procurar e nenhum novo artista veio trazer seu disco para a nossa divulgação, vamos com meus velhos álbuns de gaveta.
Tenho aqui um disquinho de samba bem apropriado para uma sexta feira. Embora já bem divulgado na rede, percebi que no momento, em outros blogs que eu conheço, ele não está assim tão acessível. Temos aqui o sambista Bezerra da Silva e o conjunto Os Partideiros Nota 10 em um álbum lançado pelo selo CID. Este lp, segundo consta, foi lançado originalmente em 1979. Nos anos 80, com a popularidade das músicas do Bezerra, os discos da trilogia ‘Partido Alto’, voltaram à tona. É bom lembrar que esses discos são na verdade uma espécie de ‘meio a meio’, ou seja, cada qual em seu quadrado, ou melhor, em sua faixa. Quem vê pelo título há de pensar que o Bezerra da Silva e Os Partideiros Nota 10 estão tocando juntos, mas não é nada disso. O que há neles em comum é o fato de cantarem samba de Partido Alto e também a boa dose de malandragem. A temática é quase a mesma, a vida na favela, os problemas sociais, malandragem e um pouco de fumaça, que ninguém é de ferro. Taí, um disquinho bacana para fazer a cabeça hoje. Vão daí, que eu de cá, vou apertar… mas não vou acender agora 😉
malandro demais vira bicho – bezerra da silva
samba do trabalhador – darcy da mangueira
malandro não vacila – bezerra da silva
ladrão que entra na casa de pobre só leva susto – zé ventura
o bom sofredor – bezerra da silva
lei da madeira – rey Jordão
acordo de malandro – bezerra da silva
retrato do morro – zé ventura
dedo duro – bezerra da silva
já falei com você – bezerra da silva
são quatro coisas da vida – zé ventura
lugar macabro – bezerra da silva
Vamos Dançar? – Vol. 1 (1957)
Olá a todos! Hoje eu estou trazendo um disco bem interessante, um lp dos mais raros entre os raros postados aqui. Trata-se de uma coletânea da Sinter reunindo oito de seus artistas em gravações originalmente lançadas em 78 rpm. O lp do qual eu extraí as gemas, infelizmente não estava lá grandes coisas, precisei de paciência para limpa-lo, ‘na unha’. Acho que agora está um pouco mais aceitável. Por outra, a qualidade desse microssulco é também questionável. Este é um raro exemplo entre os primeiros lp de 12 polegadas onde podemos encontrar mais do que 12 faixas. Eles aqui aproveitaram ao máximo o espaço do vinil para colocarem 16 músicas, ou seja, 8 bolachas num só lp. Ficou tão apertadinho que mal se percebe a pausa entre uma faixa e outra.. Suponho que entre os sulcos também, o que, no meu entendimento, prejudicou uma melhor captação do som pela agulha. Mesmo apesar disso, achei de posta-lo para que os amigos possam conhecer, ou reconhecer. Há aqui alguns fonogramas raros, como é o caso do primeiro disco gravado por Johnny Alf, trazendo as duas faixas: “De cigarro em cigarro”, de Luiz Bonfá e “Falseta”, de sua própria autoria. No álbum não há muitas informações, inclusive a data de lançamento, que eu acredito que seja de 1957 ou 58. Apenas no selo, de forma confusa, é que podemos identificar música e artista. Entre essas há uma que não consta o intérprete, o choro “Atraente”, de Chiquinha Gonzaga (faixa 7). Suponho que seja a música do outro lado do 78 onde tem a faixa “Zulu”, com Irany Pinto. Nesta, só quem pode nos ajudar é o nosso pesquisador Samuel Machado Filho. Aliás, dar um geral em todas, hehehe… Fala aí Samuca!
fuchico – os copacabana
tenderly – donato e seu conjunto
eu vou partir – jamelão
teus olhos entendem os meus – steve bernard
maria candela – carioca e sua orquestra
de cigarro em cigarro – johnny alf
atraente – os copacabana
eu quero um samba – os namorados
mambo do turfe – carioca e sua orquestra
falseta – johnny alf
zulú – irany pinto
mora no assunto – Jamelão
invitation – donato e seu conjunto
três ave maria – namorados
blue canary – steve bernardes
perereca – os copacabana
PS.: Através de nosso amigo Salvador identificamos o intérprete da 7ª faixa, “Atraente”. Trata-se do conjunto Os Copacabana. Esta gravação foi relançada no disco “Quincas E Os Copacabana”, em 1958, pelo selo Odeon (e pode ser encontrado no Vinyl Maniac).
Paulo Diniz – Estradas (1976)
Boa noite, amigos cultos, ocultos e associados! Depois de mais um decepcionante empate do Galo, fiquei meio sem tesão para finalizar o dia. E ainda me faltava a postagem que eu descuidado deixei de fazer. Tem dias que eu realmente esqueço…
Felizmente, me lembrei que tinha uma boa carta na manga, um disco do Paulo Diniz. Taí um artista que merece ser lembrado, mais uma vez, aqui no Toque Musical. Temos então este álbum, lançado em 1976 pela EMI. Uma produção caprichada como convém aos discos da gravadora, porém com uma ficha técnica limitada e curiosa. Me chamou a atenção o fato de constar com responsável pela orquestração e regência o Maestro João Donato. Fiquei na dúvida, seria o João Donato? Uai… Procurei alguma informação na rede, mas até onde eu fui, não encontrei nada. Mas deve ser ele mesmo.
Quanto à “Estradas” este é mais um dos excelentes trabalhos de Paulo Diniz. Neste álbum ele nos traz um repertório de parcerias, principalmente com Juhareiz Correya, músicas de Waldir Neves, Paraibinha e Carlos Fernando. Destaque também para o poema de Manuel Bandeira, “Vou me embora pra Pasárgada”, musicado por Paulo. Ele, inclusive, recorreu com freqüência à essa prática de musicar poemas, fazendo outras coisas bem bacana como “E agora José”, de Drummod.
vou me embora pra pasárgada
capim da lagoa
a seca de 1932
desejo mudo
junco do serindó
poema pra lea
baião da alagoas
ciranda do mar
peixe vivo
cravo vermelho
ôco do mundo
guarânia morena
Grandes Instrumentistas Brasileiros (1978)
Boa noite amigos cultos, ocultos e associados! Enquanto eu espero o transito melhorar, vou de uma vez já mandando bronca na postagem do dia. Vou inclusive voltar para casa ouvindo (na boa) este discão, hehehe…
Discão mesmo. Este é um daqueles álbuns que merece a nossa atenção. Trata-se, sem dúvida, de uma coletânea, mas como poucas, muito bem produzida. Um trabalho do pesquisador J. L. Ferrete que juntamente com a Gravadora Continental nos proporciona uma deliciosa mostra de interpretação de alguns dos maiores músicos instrumentistas brasileiros. Nomes bastante conhecidos do público e também outros que merecem ser lembrados. Pena este disco ser apenas um álbum simples. Merecia um duplo, ou triplo, quem sabe. Artista para isso é o que não falta. Mas nessas treze faixas podemos bem saciar (ou despertar) a nossa sede musical. Muitas das faixas, inclusive, já foram apresentadas aqui, em outros discos. Por serem tão geniais, vale a pena ouvir de novo. Pouparei vocês de maiores apresentações, essas cabem melhor ao produtor, J. L. Ferrete em seu texto na contracapa. Gostaria apenas de chamar a atenção para dois artistas, Garoto na guitarra havaiana interpretando o chorinho “Dolente” e Pereira Filho e seu violão elétrico guitarrando e arrasando em outro chorinho, “Edinho no choro”. Quem se liga em guitarra e guitarristas não pode deixar de ouvir isso…
doutor sabe tudo – dilermando reis
capricho nortista – edu da gaita e orquestra de alexandre gnattali
gorgulho – benedito lacerda
camundongo – waldir azevedo
imperial – abel ferreira e seu conjunto
edinho no choro – pereira filho e conjunto
maluquinho – andré penazzi
salões imperiais – jacob do bandolim
sincopado – sivuca
dolente – garoto
sonho – luiz americano e pereira filho
bicharada – djalma ferreira
pé de moleque – radamés gnattali
Cristina Maristany – Aracy Côrtes – Olga Praguer Coelho – Laura Suarez – Elisinha Coelho – Elsie Houston – Neide Martins – Helena Pinto De Carvalho – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 32 (2012)
Estamos de volta com o meu, o seu, o nosso Grand Record Brazil, em sua edição de número 32, apresentando mais uma seleção interpretada exclusivamente por cantoras. Nunca esquecendo de mencionar as pessoas da radialista Biancamaria Binazzi e do jornalista Ronaldo Evangelista, idealizadores do blog Goma Laca (www.goma-laca.com), de onde foi extraída a seleção musical completa de nossa edição número 29, e a quem eu e o Augusto agradecemos o toque e a lembrança, inclusive aproveitando fonogramas raros desse mesmo blog sempre que possível, unidos que estamos por um só ideal, que é a preservação de nossa memória musical.
Esta semana, começamos nossa seleção musical com a soprano Cristina Maristany (Porto, Portugal, 1906-Rio Claro, SP, 1966), na pia batismal Cristina Navarro de Andrade Costa, que veio parta o Brasil com poucos meses de idade. Ela gravou seus primeiros discos com o nome de Cristina Costa, e mudou o sobrenome artístico quando casou-se com o jornalista Breno Maristany. Não tiveram filhos, e mesmo depois de se desquitar, Cristina conservou o sobrenome Maristany na vida artística. Cristina aqui comparece com o disco Odeon X-3273, da série azul internacional da “marca do templo”, gravado em outubro de 1941. No lado A, matriz 6824, a clássica modinha “Quem sabe?” (“Tão longe, de mim, distante”…), de autoria do paulista (de Campinas)Antônio Carlos Gomes (1836-1896), aquele mesmo do “Guarani”, com versos do sergipano Bittencourt Sampaio (1834-1895), poeta e futuro governador do Espírito Santo. Foi inspirada em Ambrosina, o primeiro amor de Carlos Gomes, que morava na sua Campinas natal, e composta em 1859, mesmo ano em que o parceiro Bittencourt Sampaio se formou em Direito. Muito gravada, até mesmo por Agnaldo Timóteo. No verso, matriz 6825, a toada “Quando uma flor desabrocha”, de autoria de Francisco Mignone, que por sinal acompanha Cristina com seu quarteto de cordas nesse disco, música também muito conhecida.
Em seguida, tiramos do esquecimento Olga Praguer Coelho (Manaus, AM, 1909-Rio de Janeiro, 2008), cantora e pesquisadora de música folclórica aplaudida no Brasil e no mundo, inclusive nos Estados Unidos, onde residiu por vários anos, e lá moram dois filhos seus atualmente. Olga comparece inicialmente com uma gravação feita em Nova York nos anos 1940: a canção “Azulão”, de Jayme Ovalle e Manuel Bandeira, cuja primeira gravação entre nós é de 1944, na voz de Alice Ribeiro. Depois, tem o ponto de macumba “Estrela do céu”, motivo popular por ela adaptado, em gravação Victor de 30 de julho de 1936, porém só lançada em junho de 1938, disco 34325-B, matriz 80182. No lado A desse disco, matriz 80137, gravação de 22 de abril de 1936, a conhecida modinha “Mulata”, também chamada de “Mucama” ou “Mestiça”, com versos de Gonçalves Crespo e melodia de autor até hoje ignorado, peça também merecedora de inúmeras gravações desde 1902. Olga encerra sua participação neste volume com “Róseas flores”, outro motivo popular por ela adaptado, em gravação Victor de 29 de novembro de 1935, só lançada em abril de 36, disco 34042-A, matriz 80024.
Gaúcha de Uruguaiana, Elisa de Carvalho Coelho(1909-2001)criou-se porém na capital catarinense, Florianópolis. Foi casada com o deputado Lopo Coelho e mãe do jornalista e apresentador de TV Goulart de Andrade, o do bordão “Vem comigo”. Sua discografia, nos selos Victor, Odeon e Parlophon, abrange 15 discos 78 com 30 músicas, entre 1930 e 1932, incluindo hits como “No rancho fundo” e “Caco velho”, ambas de Ary Barroso e a primeira com letra de Lamartine Babo. Dessa discografia, o GRB apresenta a toada “Ciúme de caboca” (assim mesmo, em caipirês), de Josué de Barros, descobridor de Cármen Miranda, e Domingos Magarinos, em registro Victor de 11 de junho de 1930, só lançado, porém mais de um ano depois, em agosto de 1931, com o número 33444-B, matriz 50308 (o lado A é “No rancho fundo”, que fica pra uma próxima).
A paulistana Helena Pinto de Carvalho (1909-1937) foi funcionária pública, trabalhando na Secretaria das Municipalidades de São Paulo. Iniciou sua carreira artística no rádio, em 1929, e dois anos mais tarde participou do primeiro filme sonoro produzido no Brasil, “Coisas nossas”. Helena faleceu prematuramente, com apenas 28 anos, de ataque cardíaco, em sua casa, deixando seis 78 com doze músicas. Ei-la aqui no Columbia 22021, de 1931, interpretando de um lado, matriz 380984, o samba “Já cansei de chorar por você”, e , de outro, matriz 380991, uma deliciosa marchinha de Jayme Redondo, “Chi! Iaiá tá brava”.
De longa carreira no teatro de revista, a carioca Aracy Cortes (Zilda de Carvalho Espíndola, 1904-1985) não gravou tanto quanto poderia, talvez porque a maior parte de seus rendimentos viesse mesmo dos palcos. Já veterana, em 1965, participou do show “Rosa de ouro”, ao lado de Clementina de Jesus, Paulinho da Viola e Elton Medeiros, entre outros. Aracy está presente nesta edição com dois sucessos inesquecíveis lançados em selo Parlophon: o primeiro, lançado em novembro de 1928 em disco 12868, é o samba “Jura”, de Sinhô, lançado por ela na revista musicada “Microlândia”. Ironicamente, porém, ela a foi a segunda a gravá-lo, pois “Jura” teve dois registros na mesma sessão, fato inusitado: o primeiro por Mário Reis (matriz 2070, lançado com o selo Odeon, da qual a Parlophon era subsidiária), e em seguida o de Aracy (matriz 2071), ambos de sucesso e com acompanhamento da Orquestra Pan American de Simon Bountman, aqui como Simão Nacional Orquestra. Em seguida outro clássico, extraído do disco 12926-A, matriz 2366, lançado em março de 1929: “Iaiá”, ou “Meiga flor”, de Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto, que ficou mais conhecido como “Ai, Ioiô”, considerado o primeiro samba-canção brasileiro, também cantado por Aracy na revista “Miss Brasil”. Tinha recebido duas letras anteriormente: a primeira por Freire Júnior (“Meiga Flor”), gravada por Francisco Alves, e a segunda por Cândido Costa (“Linda flor”), na voz de Vicente Celestino, mas a que pegou foi mesmo este “Ai, Ioiô”, com Aracy Cortes.
Logo depois, trazemos de volta a cantora-folclorista Elsie Houston (Rio de Janeiro, 1902-Nova York, EUA, 1943), agora interpretando um motivo popular adaptado por Ary Kerner (também autor de “Na Serra da Mantiqueira” e “Trepa no coqueiro”, entre outras), o samba “Morena cor de canela”, extraído do disco Columbia 5217-A, lançado em junho de 1930, matriz 380649.
Na faixa seguinte, temos a carioca Laura Suárez (1909-c.1990), a primeira “garota de Ipanema” de que se tem notícia, afinal foi Miss Ipanema em 1929. Atuou também em teatro (ao qual dedicou mais de 50 anos de carreira) e cinema, tendo participado de filmes como ‘Tudo azul” e ‘Mulheres cheguei”. Só gravou na Brunswick, marca americana de curta duração entre nós, em 1930/31: 13 discos com 26 músicas, e aqui se apresenta com um samba de sua autoria, “Você… você”, lançado em setembro de 1930 pela Brunswick com o número 10092-B, matriz 422.
Encerrando, trazemos Neide Martins, cantora cuja biografia é uma incógnita. Ela deixou uma discografia escassa, e dela aqui está sua gravação de estreia, o frevo-canção “Que fim você levou?”, de Nélson Ferreira, para o carnaval pernambucano de 1937, lançado em janeiro daquele ano pela Victor e gravado ainda em 10 de dezembro de 36, disco 34142-A, matriz 80293. Enfim, mais uma edição do GRB com cantoras que deixaram sua marca na história da MPB, e que não podem nem devem ser esquecidas.
TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO