Mercedes Sosa – Grandes Artistas (1972)

E eis que o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados, dentro de seu ciclo dedicado à música folclórica e popular latino-americana, uma compilação daquela que, sem dúvida, foi um dos maiores ícones do gênero, “a voz dos sem voz”, e uma das expoentes do movimento “Nueva canción”. Estamos falando de Haydée Mercedes Sosa, que recebeu de seus fãs o apelido de “La Negra”, por sua ascendência ameríndia, e não por causa dos longos cabelos negros, como se erroneamente acreditava). Mercedes veio ao mundo na cidade de San Miguel de Tucuman, no noroeste da Argentina, em 9 de julho de 1935 (nessa data, curiosamente, em 1816, e na mesma cidade, foi assinada a declaração de Independência da Argentina). Sempre foi patriota, e também árdua defensora do Pan-americanismo e da integração dos povos latino-americanos. Criada durante o governo de Juan Domingo Peron, Mercedes cresceu embalada pela ideologia peronista, recebendo, como quase todos de sua geração, uma influência muito grande da mitológica Evita. Sua ascendência era mestiça (mistura de europeus com americanos e índios): francesa e dos indígenas do grupo diaguita. Sua carreira artística iniciou-se em 1950, quando venceu, na plenitude de seus quinze anos, um concurso de canto promovido pela rádio de sua cidade natal, ganhando um contrato de dois meses com a emissora. Em 1962 é lançado seu primeiro álbum, “La voz de la zafra”, gravado no ano anterior. Em seguida, ficou conhecida entre os povos indígenas argentinos  ao fazer uma performance no Festival Folclórico Nacional. Sua preocupação sócio-política refletia-se no repertório que interpretava, tendo sido uma das maiores expoentes do movimento “Nueva canción”, movimento musical com raízes africanas, cubanas, andinas e espanholas, marcado por uma ideologia de rechaço ao imperialismo norte-americano, ao consumismo e às desigualdades sociais. Além do sucesso na Argentina, apresentou-se também em países da América e da Europa. A temática social e ligação com a esquerda também lhe renderam dissabores. Em 1979, em La Plata, durante a ditadura argentina, por exemplo, um show da artista foi invadido pelos militares, e tanto ela quanto o público presente foi parar na prisão! Banida no próprio país, Mercedes decidiu se exilar, primeiro em Paris, depois em Madri. Voltou à Argentina em 1982, vários meses antes do colapso da ditadura militar argentina, resultado da fracassada Guerra das Malvinas, e deu uma série de shows no Teatro Cólon, em Buenos Aires, onde convidou muitos colegas jovens para cantar com ela (um LP duplo com gravações dessas performances logo fez sucesso). E continuou a se apresentar nos anos seguintes, não só na Argentina, como também no exterior, cantando em lugares como o Lincoln Center, o Carnegie Hall e o Teatro  Mogador. Entre os artistas que gravaram com ela estão Fito Páez, Mílton Nascimento, Léon Gieco, Daniela Mercury, Beth Carvalho, Chico Buarque, Fagner, Sting, Andrea Bocelli e até mesmo a colombiana Shakira. Tem mais de 50 álbuns em sua discografia, e foi considerada a melhor intérprete das composições  do argentino Atahualpa Yupanqui e da chilena Violeta Parra. Ganhou quatro vezes o Grammy Latino de melhor álbum de música folclórica (em 2000, por “Misa Criolla”, em 2003 por “Acústico”, em 2006 por “Corazón libre” e já postumamente, em 2009, por “Cantora  1”). E continuaria em atividade até falecer, em 4 de outubro de 2009, aos 74 anos, de problemas renais. Hoje, o TM oferece a vocês uma coletânea com algumas das melhores gravações da notável e imortal Mercedes Sosa, lançada pela Philips argentina dentro de uma série denominada “Grandes artistas”, e reunindo gravações feitas entre 1966 e 1972 (talvez o disco seja de 1975). São treze faixas em que ela nos apresenta um repertório de primeira linha, de renomados compositores populares latinos, como Atahualpa Yupanqui (“Duerme mi negrito”, tema folclórico recolhido por ele), Armando Tejada Gomez (“Canción com todos”), H. Rufo Herrera (“Zamba del chaguanco’), Ariel Ramirez (que também a acompanha ao piano em “Alfonsina y el mar”), Figueredo Iramain (‘Cancion del derrume índio”) e Violeta Parra (“Gracias a la vida”, clássico que mereceu interpretação inesquecível de Mercedes). Tudo isso mostrando a força e o talento desta inesquecível intérprete, com todos os atributos que a fizeram, com justiça, uma gigante da música latino-americana contemporânea. E atenção: brevemente, estaremos postando mais álbuns de Mercedes Sosa. Aguardem!

al jardin de la republica
duerme negrito
chayita del vidalero
tristeza
alfonsina y el mar
zamba del chaguanco
cancion con todos
si se calla el cantor
cancion para un niño en la calle
la oncena
cancion del derrumbe indio
zamba para no morir
gracias a la vida

*Texto de Samuel Machado Filho

Óscar Chávez – Mariguana (1969)

1818

Buenas, amigos cultos e ocultos! Não sei mais nem porque ainda ficamos nessa de perguntar se estão gostando ou não da nossa mostra temática, dedicada aos nossos hermanos latinos. Digo isso porque já nem sei se ainda temos um grande público e também porque a nossa seção de comentários está desativada. Comunicação com a gente, só via e-mail e isso pouco também tem chegado para nós. Uma prova cabal de que essa onda de blog já era. Poucos são aqueles que ainda se aventuram em ‘download’. Aliás, poucos são ainda os blogs e sites que oferecem de mão beijada seus tesouros. E por outra, tudo que um dia já postamos aqui, hoje já está pronto para consumo no site do Youtube. Mas ainda assim blogs como o Toque Musical tem muito a mostrar e na pior das hipóteses não deixa de ser um catálogo, uma referência para aqueles que pesquisam sobre música e discos.
Bom, tenho para hoje este disco sensacional e raro do cantor, compositor e também ator, o mexicano Óscar Chávez. Um artista conhecido principalmente pela sua música de cunho político, crítico e de protesto. Foi um dos expoentes do movimento musical mexicano nos anos 60, conhecido como ‘Canto Nuevo’. Com suas canções apoiou também o Exército Zapatista de Libertação Nacional. Sua discografia inclui dezenas de discos e aqui no Brasil pouco se sabe sobre esse artista. Certamente, por se tratar de um cantor de protesto, deve ter sido censurado nos anos de chumbo aqui no nossa país. Nunca vi nada dele lançado aqui.
“Mariguana” é um álbum lançado em 1969, pela Polydor. Um trabalho de sua melhor fase cujo o repertório traz músicas das mais interessantes e curiosas, tais como a que dá título ao disco, Mariguana, que em espanhol que dizer maconha, uma planta que faz parte da cultura xamânica mexicana (pena que por aqui ninguém conheça). A letra dessa música é ótima. Na verdade o disco todo. Confiram… 😉

la marguana
elisa
san lunes
si estas domida
la milpa
de ranchero a diputado
mariana
la mina vieja
mi juana
el ferrocarril
amigo, amigo

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Los Fortineros – Canção da América (1981)

Prosseguindo o ciclo que o TM dedica à música popular e folclórica latino-americana, aqui está, para deleite de nossos amigos cultos, ocultos e associados, um álbum dedicado à musica do Uruguai, que partilha suas origens gaúchas com a Argentina, de forma que o tango tem uma importância relevante no país. É “Canção da América”, gravado no Brasil em 1981 pelo grupo Los Fortineros. É mais um álbum cuja produção foi coordenada por Lucas Robles, que, como vocês já sabem, é argentino radicado em território brazuca. O álbum foi lançado pela gravadora Cristal Discos, ex-Bandeirantes, que já não tinha mais vínculo com a rede de televisão homônima. Na verdade, o Grupo Bandeirantes era sócio do músico Cláudio Petraglia na gravadora, e decidiu vender sua parte. Detalhes à parte, o disco é um apanhado interessante, reunindo expressivos trabalhos de compositores uruguaios, tipo Alfredo Zitarrosa (“Doña Soledad”, “El retobao”, “Milonga para uma niña’, “P’al que se va”), Edoardo Mateo (“Tamboriles”), Geronimo Yorio , Carmelo Imperio e Romeo Gavioli (os três assinando o clássico “Baile de los morenos”), Daniel Vigilieti (“Canción para mi América”) e Aníbal Sampayo (“Ki chororo”), com direito até uma obra-prima do venezuelano Eloy Blanco, “Angelitos negros”. Os cinco membros do grupo, apoiados pelo bandoneonista  Hugo Abelo, pelo pianista Roberto Abitante e pelo baixista Ricardo Sorondo, mostram extrema competência, fazendo deste trabalho uma peça de colecionador digna de integrar o ciclo latino de nosso TM. A conferir, sem falta…

doña soledad
ki chororo
siga el baile
el retobao
angelitos negros
baile de los morenos
cancion para mi america
milonga para una niña
candela
p’al que se va
chiquillada
tamboriles

*Texto de Samuel Machado Filho

Violeta Parra – Canciones Ineditas (1980)

Dando prosseguimento a seu ciclo latino-americano, o TM hoje nos oferece um álbum daquela que é considerada a mais importante folclorista e fundadora da música popular chilena. Estamos falando de Violeta Parra. Compositora, cantora, artista plástica e ceramista, Violeta del Cármen Parra Sandoval nasceu na cidade de San Carlos, comuna da província de Ñuble, em 4 de outubro de 1917, filha de um professor de música (Nicanor Parra) e de uma camponesa (Clarisa Sandoval), ambos admiradores da música folclórica. Tinha oito irmãos e dois meio irmãos (filhos de um relacionamento anterior da mãe). Passou grande parte de sua infância em Lautaro, aos três anos teve varíola, e morou ainda em distintas localidades da zona de Chillán, onde teve suas primeiras experiências artísticas, compondo suas primeiras canções para violão em 1929. Estudou até o segundo ano do secundário, e abandonou os bancos escolares em 1934,para trabalhar e cantar com seus irmãos em bares e circos. Autodidata, cantora e violonista desde os nove anos, ingressou de vez na carreira musical aos quinze, após a morte do pai, deixando a casa da mãe, no interior chileno, e indo morar em Santiago com o irmão Nicanor, que estudava na capital. Na época, formou com sua irmã Hilda o duo Las Hermanas Parra, que cantava músicas folclóricas na noite. É quando conhece o ferroviário Luís Cereceda, com quem se casou em 1938 e teve dois filhos que também seguiriam carreira musical, Isabel e Ángel, separando-se em 1948. A desilusão desse relacionamento marcaria a vida e a obra de Violeta. Ela gravou seu primeiro disco em 1949, em parceria com a irmã Hilda, e contraiu segundas núpcias com Luís Arce, tendo com ele duas filhas, Luísa Cármen e Rosita Clara, que faleceu de pneumonia, antes de completar um ano de idade. Em 1952, começou a pesquisar as raízes folclóricas chilenas e compôs os primeiras temas musicais que a celebrizaram, ocasião em que também teve programa de rádio. Chegou a catalogar mais de 3 mil canções tradicionais! “Gracias a la vida”, “Míren como soríen”, “La carta”  e “Volver a los 17” estão entre seus mais conhecidos trabalhos. Em 1955, visitou a União Soviética, Londres e Paris, cidade onde residiu por dois anos, e realizou gravações para a BBC, e para os selos Odeon e Chant du Monde. Em 1957 radicou-se em Concepción e voltou a Santiago para iniciar uma nova carreira, a de artista plástica. Em 1961, mudou-se para a Argentina, onde fez grande sucesso em apresentações públicas. Voltou a Paris e lá ficou por mais três anos, percorrendo várias cidades da Europa, inclusive Genebra, na Suíça. Violeta regressou ao Chile em 1965, apresentou-se na Bolívia e, de volta ao país natal, instalou uma grande tenda na comuna de La Reina, objetivando convertê-la em um grande centro de referência para a cultura folclórica chilena, junto com os filhos Ángel e Isabel, e os folcloristas Patrício Manns, Rolando Alarcon e Victor Jara. Entretanto, Violeta Parra não teve sucesso nesse empreendimento, o que coincidiu com o fim do relacionamento amoroso com seu terceiro marido, o músico suíço, Gilbert Favré, e, abatida emocionalmente, suicidou-se no dia 5 de fevereiro de 1967, na tenda de La Reina. Três anos depois, é publicado seu primeiro livro de poemas, por iniciativa do irmão Nicanor. De sua extensa discografia, o TM traz hoje para seus amigos cultos, ocultos e associados “Canciones ineditas”, originalmente lançado em 1975 pela Intermusique, de Luxemburgo, e que aportou no Brasil em 1980, pela extinta Copacabana. Em onze faixas, encontraremos tudo que caracteriza a obra de Violeta: algumas músicas de extremo lirismo, associadas a outras de versos  demolidores contra toda injustiça social, enfim, características que fizeram suas canções serem entoadas por gerações de revolucionários latino-americanos em ocupações e barricadas. Um álbum que merece ser baixado, ouvido e guardado, apresentando trabalhos então inéditos desta que é considerada a mãe da canção comprometida com a luta dos oprimidos e explorados. Ou seja: nada mais atual!

violeta ausente
me voy me voy
miren como corre el agua
la jardinera
dicen que el aji maduro
donde estas prenda querida
ojos negros matadores
aqui acaba esta cueca
el gavilan
mariana
paimiti

*Texto de Samuel Machado Filho

Vários – América Latina Canta Vol. 3 (1981)

Olá, amigos cultos, ocultos e associados! Prosseguindo o ciclo latino-americano do TM, em comemoração ao décimo aniversário deste nosso blog, oferecemos mais uma expressiva compilação de música popular e folclórica dos países de língua hispânica, localizados sobretudo na América do Sul. É “América Latina canta 3”, lançada em 1981 pela mesma Bandeirantes Discos que produziu “Viva Argentina”, álbum já oferecido a vocês pelo nosso TM, e que faz parte de uma longa e vasta série do gênero, prova de que, mesmo vinculada a uma grande rede de televisão, a empresa ofereceu muito mais do que coletâneas ditas comerciais (ou seja, trilhas de novelas, hits do passado e do presente etc.), e procurava também atingir um nicho de mercado até então pouquíssimo ou nada explorado pelas “majors” do setor fonográfico. Aqui, saliente-se a presença de José Angel Robles Ramalho, argentino de Córdoba que se radicou no Brasil e adotou o pseudônimo de Lucas Robles. Ele fez  versões de músicas do espanhol para o português, e vice-versa, para artistas como Vanessa da Mata, Zezé di Camargo e Luciano, Wando, Julio Iglésias, Trio Los Angeles (que aliás descobriu), etc., e passou por várias outras gravadoras como produtor de discos (hoje é dono de sua própria gravadora, a LR Music). Além de coordenar os trabalhos de gravação deste disco, Lucas também canta dois clássicos indiscutíveis da canção popular latina: “Gracias a la vida”, obra-prima da chilena Violeta Parra, e “Guantanamera”, originária de Cuba (o título refere-se à mulher nascida e/ou residente na cidade cubana de  Guantánamo), com direito a poema declamado pelo próprio Robles. No repertório constam ainda, entre outras,  “El humahuaqueño” (que ficou conhecida no Brasil graças a um registro do “rei” Roberto Carlos), com o grupo Ñancahuasu, que também executa “Alma  llanera” (música originária da Venezuela, feita em 1914 e hoje considerada o segundo hino nacional daquele país), o clássico brasileiro “Asa branca”, de Gonzagão e Humberto Teixeira, aqui em ótima execução do grupo Los Inkamaru, e três faixas gravadas no México, devidamente cedidas por uma gravadora local: “Tierra humeda” (Amparo Ochoa), “Canto por la raza” (de e com Gabino Palomares) e “La maldición di Malinche” (Los Folkloristas). O lendário compositor Atahualpa Yupanqui aqui comparece com duas faixas autorais: “Los ejes de mi carreta”, com Buenos Aires 2, e  o clássico “Los hermanos”, na interpretação de Tono Baz. Este ainda nos oferece “Si  vas para Chile” e o Buenos Aires 2 ainda interpreta “Canción con todos”. Tudo isso compõe o programa de mais este álbum que nos oferece expressivas páginas da música popular latino-americana, e por certo irá agradar em cheio os que apreciam o gênero, além de surpreender agradavelmente quem ainda não conhece as páginas aqui incluídas. É ir para o GTM, baixar e conferir…

gracias a la vida – lucas robles
tierra humeda – amparo ochoa
los hermanos – tono baz
el humahuaqueño – ñancahuasu
canto por la raza – gabino palomares
cancion con todos – buenos aires 2
asa  brnaca – los inkamaru
guantaamera – lucas robles
la maldicion de maliche – los folkloristas
los ejes de mi carreta – buenos aires 2
si vas para chile – tono baz
alma lanera – ñancahuasu

*Texto de Samuel Machado Filho

Vários – Viva Argentina (1979)

Prosseguindo o “ciclo latino-americano” do TM, oferecemos hoje a nossos amigos cultos, ocultos e associados uma compilação reunindo o melhor do melhor em matéria de música argentina. Quando se fala na música produzida pelos nossos “hermanos”, a primeira coisa que vem à cabeça de muitos é o tango. É claro que nem só de tango vivem os argentinos, pois trata-se de música urbana, nascida em Buenos Aires e restrita à capital portenha. Quem se der ao trabalho de percorrer o interior do país, por certo ficará surpreso ao deparar com manifestações musicais populares das mais diversas, singelas, contundentes e repletas de garra,  sempre marcadas pelo amor à terra e ao homem argentino. Pois foi justamente com o objetivo de traçar um painel da música popular e folclórica da Argentina, que a Bandeirantes Discos, selo fonográfico de curta existência, ligado à rede de televisão de mesmo nome, lançou, em 1979, esta primorosa coletânea, com masters cedidos por três gravadoras portenhas e duas “majors”, a Polygram e a EMI, que hoje, ironicamente, são uma só, a Universal Music. Com o título de “Viva Argentina”, este disco reúne compositores e intérpretes consagrados, como Atahualpa Yupanqui (que canta sua “El alazán” e assina “Camino del índio”), Ariel Ramirez (“Alfonsina y el mar”) e Mercedes Sosa (“Cuando tienga la tierra”), além de apresentar outros nomes expressivos da música portenha, até então inéditos no Brasil. É o caso do Cuarteto Zupay (que interpreta “Camino del índio”, de Yupanqui), do quenista Uña Ramos (que interpreta “Mi linda humahuaqueña”, Jaime Torres (“Ireme pues’) e Jorge Cumbo, pesquisador e recriador do folclore argentino (aqui interpretando “Felices dias”).  São músicas de vários gêneros populares argentinos:  o zamba, a canción, a cueca, o ballecito, a cacharpaya etc. As letras dessas canções, sejam elas de cunho amoroso ou social,  possuem algo em comum:  a sensibilidade, seja índia ou “criolla”, abrangendo a paixão pelo pampa, suas colinas e cavalos (‘Mi alazán”, “La tropilla”), o culto à tradição e aos ancestrais (“Camino del índio”) e o clamor por liberdade e justiça social (“Cuando tienga la tierra”, “Chacarera al aire”, “No sé porque piensas tu”). Ou  seja, este “Viva Argentina”, como informa a contracapa, “é um vigoroso testemunho da cultura popular, da essência e do caráter do povo argentino”, autêntica joia que o TM nos oferece hoje. É ir ao GTM e baixar, sem falta!

mi linda humahuaquena – uña ramos
cuando tenga la tierra – mercedes sosa
chacarera al aire – quinteto clave
la tropilla – carlos vega pereda
afonsina y el mar – ariel ramirez
caminho del indio – cuarteto zupay
al alazan – atahualpa yupanqui
romace en taragui – huayra puka
ireme pues – jaime torres
no se porque piensas tu – daniel toro
cacharpaya – maria escudero
felices dias – jorge cumbo

*Texto de Samuel Machado Filho

Silvio Rodríguez & Pablo Milanés – Cuba Nueva Trova (1978)

Buenos dias, hermanos cultos e ocultos! Pelo visto, completaremos o ciclo de uma década saudando não apenas a música brasileira, mas também a música feita pelos nosso irmãos latinos. Quando me propus criar este blog, pensei também em guardar um espaço para a música latinoamericana e também as de língua portuguesa, afinal essa é a produção musical que ainda merece ser revistada, visto que nos dias atuais são apenas subprodutos o que encontramos facilmente por aí. Assim, seguiremos pelos próximos dias, trazendo esse leque de variedades musicais latino americanas.
Hoje temos a presença de Pablo Milanés e Silvio Rodrigues, dois grandes nomes da música cubana, ou ainda, da ‘nueva trova cubana’. Artistas de destaque internacional surgidos após a revolução cubana. Se tornaram conhecidos internacionalmente graças ao movimento musical surgido nos anos 70, conhecido como Nueva Trova Cubana, assim como foi no Chile com o movimento Nueva Canción, que se espalhou por toda America Latina, com ecos também na Espanha. Para a nossa surpresa, Silvio e Pablo se desentenderam a partir dos anos 80 por questões políticas e ao que contam passaram a trocar farpas a ponto de não se falarem mais. Pablo vive em Miami e Silvio em Havana.
Neste lp, que só agora percebo que está com a capa trocada, temos ao invés de 12, 17 músicas, sendo que essas, em sua maioria não tem nada a ver com o outro. O que temos aqui é então uma coletânea, para a qual usaram a mesma capa original de 1978. Por conta disso, exclui a contracapa, que já é da versão 85, lançada no Uruguai. Por enquanto, deixo as coisas como estão. Logo que eu tiver o disco nas mãos prometo repor um novo link, ok?

la nueva escuela
los caminos
cuando digo futuro
tú eres la musica que tengo que cantar
te doy una cancion
pobre del cantor
el rey de las flores
como el largo de tus rios que te riegan
fusil contra fusil
si el poeta eres tu
si tengo un hermano
yolanda
madre
su nombre puede ponerse en verso
el mayor
el papalote se fue a la bolina
la masa

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Elvira Rios – Noche De Ronda (1957)

Confesso que tive uma certa dúvida, ao receber este disco para resenhar, se poderia ou não fazê-lo (antes de saber que teríamos uma semana temática, dedicada a música latinoamericana). A maioria esmagadora dos álbuns postados pelo nosso TM é de produção exclusivamente brasileira, e este aqui foi gravado no México. Mas, como diz o ditado, “toda regra tem sua exceção”. Portanto, aqui vai hoje, para nossos amigos cultos, ocultos e associados, um álbum de Elvira Rios, primeira cantora mexicana a obter sucesso internacional na era de ouro dos boleros românticos, lançado em 1957 pela RCA Victor. Foi lá mesmo na cidade do México, a capital do país, que  María Elvira Gallegos Rios veio ao mundo, no dia 16 de novembro de 1913. Desde muito cedo, ela manifestou o vivo desejo de ser  cantora. Assim, bem jovem, e sem receio algum, apresentou-se para um teste perante o poderoso Emílio Azcarraga, diretor da Rádio XEW (um dos embriões do poderoso conglomerado Televisa).  Devidamente aprovada e contratada, ali apresentou-se durante um ano e meio em três programas diários de 15 minutos cada. Em 1937, apareceu pela primeira vez no cinema, cantando no filme mexicano “Esos hombres!”. Manuel Riachi, então assistente de Arthur Hornlow Jr., dos estúdios Paramount, de Hollywood, gostou da voz de Elvira e a indicou a ele, o que possibilitou a Elvira sua primeira aparição como atriz, no filme “Feitiço do trópico (Tropic holiday)”, de 1938, estrelado por Ray Milland e Dorothy Lamour. Em seguida, Elvira apresentou-se na casa noturna La Martinique, de Nova York, conquistando o público com sua voz grave, quente, sincera e dramática, e sua figura misteriosa e desesperadamente romântica, ressaltada por seu tipo de índia. No início de 1939, apresentou-se no luxuoso Miami-Biltimiros, e, ao voltar para Nova York, fez suas primeiras gravações, para a Decca, que marcaram época e ainda hoje são bastante apreciadas, com arranjos de José Morand e Nuno Morales. Em Hollywood, participou ainda dos filmes “No tempo das diligências (Stagecoach)”,  “Cupid rides the range” e “A verdadeira glória (The real glory”), os três de 1939. Ao voltar para o seu México, em gozo de merecidas férias, Elvira teve a satisfação de ser precedida pelos ecos de seus sucessos alcançados nos EUA, um mercado artístico sempre difícil, em especial para os latinos. E sua carreira de grande estrela da canção latino-americana prosseguiu por vários países. Na Argentina, filmou “Vem! Meu coração te chama” (1942) e “Tango vuelve a Paris” (1948). Em seu México de origem, atuou ainda no filme “Murallas de pasión” (1942). É claro que Elvira também ficou bastante conhecida aqui no Brasil, onde foi atração no Cassino da Urca e, na década de 1950, chegou a gravar um LP de dez polegadas na Musidisc, uma das pioneiras do vinil em território tupiniquim. Elvira Rios faleceu em seu México natal no dia 13 de janeiro de 1987, aos 73 anos de idade. Entretanto, sempre terá o carinho daqueles que não entendem a vida sem o romantismo, mesmo que para sofrer as consequências do amor feito de desencontros. Sendo assim, é digna merecedora  da postagem de hoje do TM, com este “Noche de ronda”. A faixa-título e de abertura  tem sido creditada a Maria Tereza Lara, irmã de Agustin Lara, mas na verdade é dele próprio, que a registrou em nome da “hermana”. Ao longo das catorze faixas, acompanhada pela orquestra de Chucho Zarzosa, Elvira nos traz um repertório com belas páginas da música popular latino-americana, compostas por nomes do quilate de Maria Grever (“Ya no me quieres”), Gonzalo Curiel (“Me aguerdo de ti”, “Calla tristeza”, “Noche de luna”), Mário Clavel (“Mi carta”, “Desencuentro”)  e Consuelo Velasquez (“Franqueza”).  E, de Agustin Lara, ela ainda interpreta “Santa” e “Janitzio”. Em suma, este disco é um prato cheio para os fãs da melhor música romântica latino-americana, oferecida pela inesquecível Elvira Rios em brilhantes interpretações. Para ouvir e sonhar…

noche de ronda
una mujer
santa
franqueza
ya no me quieres
canciones de guly cardenas
me acuerdo de ti
mi carta
janitzio
calla tristeza
desencuentro
noches de luna

*Texto de Samuel Machado Filho

Astor Piazzola – Mundial 78 (1978)

Como por certo já sabem nossos amigos, cultos e associados, o Toque Musical completa, em 30 de julho próximo, dez anos de existência. Uma longa e expressiva trajetória na qual, inúmeros tesouros raros da era do vinil, principalmente de música brasileira, foram resgatados, para alegria e satisfação de muitos colecionadores. E decidimos comemorar apresentando vários álbuns de música popular latino-americana, principalmente de países da América do Sul, o continente em que está o nosso Brasil. Para começar, apresentamos um disco gravado pelo notável bandoneonista Astor Piazzolla, também considerado o mais importante compositor de tangos da segunda metade do século XX. Foi no balneário argentino de Mar del Plata que Astor Pantaleón Piazzolla veio ao mundo, no dia 11 de março de 1921, filho dos italianos Vicente Piazzolla e Assunta Manetti. Aos quatro anos, mudou-se com a família para Nova York, EUA, em busca de melhores condições de vida. Em seu período norte-americano, tornou-se fluente em espanhol, inglês, italiano e francês, e começou a se interessar pela música. Em 1929, ganhou de seu pai o primeiro bandoneón, e, em 1933, começou a estudar piano com o húngaro Bela Wilde, discípulo de Sergei Rachmaninoff.  Foi em Nova York que o jovem Astor conheceu nada mais nada menos que Carlos Gardel, quando esteve na cidade para filmar “El dia que me quieras”, e atuou nessa película como um garoto entregador de jornais. Quando jovem, Astor tocou e fez orquestrações para o bandoneonista, compositor e maestro Aníbal Troillo, além de estudar teoria harmônica e contraponto tradicional com a compositora, educadora e maestrina Nadia Boulanger.  Ao regressar de Nova York, Piazzolla já mostrava forte influência do jazz em sua música, estabelecendo então uma nova linguagem, seguida até hoje.  Ironicamente, quando começou a fazer inovações no ritmo, no timbre e na harmonia do tango, foi muito criticado por antigos tocadores do gênero, mais ortodoxos, que bradavam que sua música não era tango de fato. A eles, Piazzolla respondia que era música contemporânea de Buenos Aires, que seus seguidores e apreciadores  consideravam de fato a cara da metrópole argentina.  Deixou uma vasta e prolífica discografia, tendo gravado com nomes do porte de Gary Burton, Gerry Mulligan, o violinista Fernando Suarez Paz e o nosso mestre Tom Jobim. Entre seus mais destacados parceiros na Argentina, estão a cantora Amelita Baltar, o poeta Horacio Ferrer e o escritor Jorge Luís Borges.  “Balada para um loco”, “Adiós, Nonino” (que fez quando seu pai faleceu, em 1959, e tem mais de 170 gravações) e “Libertango”, esta última constantemente executada por diversas orquestras em todo o mundo.  Em 1973, algumas de suas composições foram aproveitadas no filme “Toda nudez será castigada”, de Arnaldo Jabor, o que valeu a Piazzolla uma menção especial do júri, como melhor trilha, no Festival de Gramado daquele ano. Seu currículo, aliás, registra também apresentações públicas no Brasil, EUA, Itália, França e, claro, na Argentina. Astor Piazzolla faleceu em sua Argentina natal, mais precisamente em Buenos Aires, em 4 de julho de 1992, aos 71 anos. Seus restos mortais estão sepultados no cemitério Jardin de Paz, em Pilar, ao norte da província de Buenos Aires, e, desde 2008, o Aeroporto Internacional de Mar del Plata, sua cidade natal, possui o nome de Astor Piazzolla. De sua vastíssima discografia, o TM foi buscar “Mundial 78”, gravado na marca italiana Carosello em 1978, por ocasião da Copa do Mundo de Futebol realizada na Argentina, e editado no Brasil pela RGE-Fermata, com o selo Pick. Por sinal vencida pela representação da casa, depois de uma polêmica semifinal em que goleou o Peru por seis a zero (os jogadores peruanos teriam recebido suborno para perder a partida e, assim, tirar do jogo final o Brasil, que acabou com o mesmo numero de pontos da Argentina mas ficou inferiorizado no saldo de gols, tendo de se contentar com o terceiro lugar, obtido em partida contra a Itália). Polêmicas à parte, o fato é que este disco (que trazia de brinde até mesmo a tabela da Copa 78)  é muito bem produzido, confirmando a genialidade de mestre Piazzolla. São oito faixas, mostrando diferentes situações do futebol, como a faixa-título e de abertura, “Golazo” “Marcación”, “Córner” (o mesmo que escanteio) e, finalmente, “Campeón”. Um grande álbum que seguramente é um dos pontos altos da discografia de Astor Piazzolla, para sempre um ícone do tango e da música popular mundial. É só conferir…

mundial 78
marcacion
penal
gambeta
golazo
wing
corner
campeon

*Texto de Samuel Machado Filho

Bravo – Trilha Sonora Original (1975)

Muito bom dia a todos os amigos cultos e ocultos! Ao longo de todo este mês, sempre que possível, estarei aqui lembrando que estamos completando 10 anos de atividades. Acredito que o Toque Musical seja talvez o blog musical mais antigo ainda em atividade. e histórias são o que não faltam… muita água rolou e continua rolando. Não teremos nenhuma festa, nem faremos atividades extras comemorativas, mas dentro do possível vamos presenteando os amigos. Nos próximos dias estaremos apresentando aqui alguns discos que não são de brasileiros, mas sim, como já fizemos antes, uma semana dedicada à música latino-americana. Tenho aqui uma série de discos, presentes que ganhei do meu amigo Fáres e penso que o momento é esse… Deixo as resenhas para o amigo Samuca, que sempre nos brilha com muita informação.
Hoje, vamos com a trilha sonora da novela Bravo, realizada em 1975. Tempo bom para a música brasileira, tempo bom para as trilhas da Globo. Nessa época, música e artistas eram coisas de primeira, bem se vê pela seleção escalada para musicar a novela. Só artistas de primeira. Música boa para um tempo bom. Não deixem de conferir

esse tal de roque enrow – rita lee
sempre cantando – moraes moreira
o amor contra o tempo – denise emmer
balada – luigi paolo
um resto de sol – gerson conrad e zezé motta
bravo (abertura) – orquestra som livre
inteira – luli e lucinha
agora só falta você – rita lee
nosotros – joyce
montanhês – denise emmer
dentro de mim mora um anjo – sueli costa
valsa branca – orquestra som livre
piccadilly rock  – duardo dusek

The Fevers – A Juventude Manda Vol. II (1967)

Boa tarde, amiguíssimos cultos e ocultos! Estamos entrando no mês de aniversário do Toque Musical. No penúltimo dia de julho, dia 30, completamos 10 anos de atividades. Ao que parece, o TM é hoje o mais antigo blog musical em atividade. Confesso que já estou um pouco cansado de tudo isso, mas com a pequena grande ajuda dos meus amigos, em especial o Samuca, vamos tocando o barco…
Hoje eu trago um lp dos Fevers (The Fevers),”A Juventude Manda”, volume 2, lançado pela Odeon, através do selo London, em 1967. Este foi o segundo lp gravado pelo grupo, que até então se limitava ao som instrumental. Uma sequência do disco gravado em 66 com todas aquelas músicas que eram sucessos da Jovem Guarda, muitas até executadas pelos próprios músicos do conjunto, em gravações e principalmente por conta de serem os músicos de base de Roberto, Erasmo, Wanderléia e todos no programa da Jovem Guarda.

só vou gostar de quem gosta de mim
só eu e você
meia volta volver
felizes de novo
você fala demais
hi-lili hi-lo
music to watch girls by
o telegrama
last train to clarckville
aquela garota linda
gatinha manhosa
minha adoração

 

Deo Lopes – Voar (1981)

Com o prazer e a satisfação de sempre, o TM traz de volta, em repost, para seus amigos cultos, ocultos e associados, o primeiro álbum do sempre notável Déo Lopes, “Voar”, de 1981. Anteriormente, oferecemos este disco junto com outro expressivo trabalho dele, “Certos caminhos”, que gravou três anos depois, e que já havia sido apresentado pelo TM em separado, exatamente o que fazemos agora com “Voar”. Déo Lopes nasceu em 1952, na cidade de Santo Antônio da Alegria, cidade paulista da região de Ribeirão Preto, na divisa com Minas Gerais, e desde 1994 reside no Vale do Paraíba, também no estado de São Paulo. Profissionalmente, iniciou-se em 1980, na capital bandeirante, apresentando-se em teatros como o Lira Paulistana, o Sesc Pompeia  e o Tuquinha. Percorreu (e percorre até hoje) quase todo o Brasil (Minas, interior e litoral de São Paulo, Bahia, Maranhão, etc.) divulgando seu trabalho, suas composições, e aprendendo com muitos bons músicos de todas essas regiões. Como bem conceituou o amigo Augusto, Déo Lopes  “é um músico com muitas paradas, assimilando um pouco de cada lugar por onde passa”. Tem uma discografia que abrange seis álbuns, entre LPs e CDs, inclusive três que também já foram oferecidos pelo nosso TM: “Canticorda” (com o violonista argentino Juan Falú, 1982), “Relação natural” (1988) e “Noite cheia de estrelas” (1993). Fundou, em 1998, um grupo de música regional, o Trem da Viração, com quem possui outros dois álbuns lançados, produziu concertos e discos de outros artistas, e tem participado da criação e desenvolvimento de inúmeros projetos culturais, tanto na música (em especial o fomento da música regional) quanto em outras artes.  Em suas composições, Déo Lopes busca o que sempre acreditou: seus anseios, suas crenças, seu pensamento sobre a ecologia e o meio-ambiente, sobre o sentimento do amor, no sentido  do entendimento, do encontro e do desencontro. Com todo este respeitável currículo de artista e incentivador cultural, Déo Lopes bem merece a nossa repostagem de hoje. “Voar”, seu primeiro álbum, lançado em meio ao “boom” de discos independentes produzidos nessa época (1981), é o começo de tudo, o pontapé inicial de uma carreira promissora, sempre apresentado um trabalho musical de assimilação bem natural e extremamente agradável. O curioso é que a capa teve duas versões, uma em preto e branco, conforme o desenho original, e a outra em azul e branco, mudança esta que foi solicitada pelo próprio Déo Lopes. São doze faixas, nove delas feitas por ele mesmo com parceiros, e apenas como letrista. É um dos melhores álbuns independentes surgidos nessa época, e dele participam, entre outros, os irmãos Dante e Ná Ozzetti, no coro e na percussão. Portanto, é digno merecedor de um “vale a pena postar de novo”!  Agora, é ir direto para o GTM e desfrutar dessa autêntica preciosidade!

canto de agora
voar
a química e o drama
pés no chão
a lua é de luzia
larissa
dia de festa
herança
nos olhos da serra
um bom partido
tassiana e rafael
retratos

*Texto de Samuel Machado Filho

Sivuca – Forró E Frevo Vol. 2 (1982)

Olá amigos cultos e ocultos! O TM desacelera mas não para. Já não temos mais o gás de outrora, porém continuamos e hoje somos uma tradição.
Hoje eu trago para vocês o grande Sivuca em um lp muito bem apropriado para a ocasião, ou seja, o mês de junho e as festas juninas, “Forró e Frevo Vol. 2”, Finalmente, completamos assim a ‘trilogia’. Já havíamos postado aqui os volumes 1 e 3. Agora fechamos a série. Custou mais apareceu…

picadinho
capoeira poeira
forró em santa luzia
come e dorme
furiosa de quipapá
xanana
nas quebradas
tás cochilando, zé?
alagamar
guerra das andorinhas

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Assando Milho – As Melhores Musicas Para Quadrinha (1981)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Para não dizerem que o São João passou em branco por aqui, eu hoje vou trazendo um disquinho ótimo para a festa. Embora já estejamos no fim de temporada, ainda cabe um festejo.
LP lançado pelo selo Cid, em 1981. Conforme indica, este é o segundo volume. Na capa não traz nenhuma informação sobre quem toca. Mas aqui isso pouco importa, pois o disco tem antes de tudo a função de oferecer a festa Junina, ou Festa de São João. Como o título mesmo indica, as melhores músicas para quadrilha. Boa festa a todos!

itatuba
festa nordestina
bandinha do amor
veneno de cobra
quadrilha alagoana
forró da véia antonia
tocando com amor
mamolengo
piadinho de pinto
forró do velho inácio
arrastão
cheirinho do povo
assando milho
.

Leo Peracchi – Musikantiga (1975)

Os apreciadores da melhor música erudita ou clássica têm um prato cheio neste álbum que o TM oferece no dia de hoje. E não só eles, mas também todos os nossos amigos cultos, ocultos e associados. Estudos médicos têm comprovado, inclusive, que ouvir música clássica faz um bem danado pra nossa saúde…  Aqueles que, em criança, assistiam a desenhos animados na televisão (caso deste vosso resenhista), reconhecem alguns temas clássicos ou eruditos assim que os ouvem. Os “cartoons” de Tom e Jerry, do Pernalonga e do Pica-Pau, por exemplo, estavam recheados de páginas da música clássica, assinadas por “cobras” do gênero.  Portanto, foi com muita felicidade que a extinta Copacabana , selo AMC/Beverly, então sob a direção artística de Paulo Rocco, por certo um dos mais expressivos dirigentes que a indústria fonográfica brasileira já teve, decidiu lançar, em 1975, este “Musikantiga”, reunindo 14 dos mais expressivos temas clássicos de todos os tempos. Peças como a “Serenata”, de Haydn, a “Pastoral” de Cavalli, o “Hino de Ofeu”, de Peri,  e a superconhecida “Jesus, alegria dos homens”, de Bach, ganham execuções bastante expressivas, com arranjos e regências a cargo de outro “cobra”: Léo Peracchi. Nascido em São Paulo, a 30 de setembro de 1911, Peracchi foi, incontestavelmente, um dos mais destacados orquestradores de nossa música popular, e seu estilo caracterizava-se pelo equilíbrio conferido aos instrumentos de palheta, metais e cordas, que manejava com extrema competência. Sua gloriosa carreira profissional começa em 1936, como pianista e maestro na Rádio Kosmos (hoje América), atuando depois em outros prefixos do rádio paulistano, como a Bandeirantes e a Educadora. Em 1941, Peracchi ingressa na lendária PRE-8, Rádio Nacional do Rio de Janeiro, então disputando audiência com a Mayrink Veiga e a Cruzeiro do Sul, participando de vários programas como orquestrador, regente e compositor, entre eles, “A canção antiga”, “Rádio-almanaque Kolynos”, “A canção da lembrança” e“Paisagens de Portugal”. Também na Nacional, criou, juntamente, com Haroldo Barbosa e José Mauro, o programa “Dona música”, que apresentava melodias de todas as partes do mundo. Participou ainda do célebre “Festival GE”, programa da Nacional patrocinado pela General  Electric, no qual ele dirigia uma orquestra sinfônica organizada pela emissora da Praça Mauá, reunindo os maiores músicos da época, e que permaneceu cerca de dez anos no ar. Léo Peracchi ainda tem a seu crédito arranjos e regências para gravações de grandes nomes da MPB, como Orlando Silva, Trio Irakitan, Dorival Caymmi , Sylvia Telles etc. E, evidentemente, também gravou seus próprios álbuns como regente de orquestra, sobretudo na Musidisc (da qual foi diretor musical nos anos 1950) e na Odeon, tais como “Música de champanhe”, “Sambas e violinos” e “Canções de Tom e Jobim”. Léo Peracchi faleceu no Rio, em 16 de janeiro de 1993, aos 81 anos de idade. E sua extensa folha de bons serviços prestados à música, aliada à ótima qualidade técnica e artística, faz deste “Musikantiga” um trabalho digno de ser ouvido e apreciado pelos amigos do TM. Confiram…

largo – verachi
rondo alla turca – mozart
pavana – byrd
gavotta – lully
dido e eneas – purcell
tambourin – gretry
hino de orfeo – peri
serenata – haydn
jesus alegria dos homens – bach
dança dos espíritos bem aventurados – gluck
tambourin – rameau
pastoral – cavalli
la bernadina – des prez
intrada sarabande ball – pezel

*Texto de Samuel Machado Filho

Paulinho Pedra Azul – Papagaio De Papel (1990)

Quem apreciou o primeiro álbum de Paulinho Pedra Azul, “Jardim de infância”, lançado em 1982 e já oferecido pelo TM, por certo pediu mais. Portanto, é com muita satisfação que hoje oferecemos, a nossos amigos cultos, ocultos e associados, mais um trabalho deste notável artista mineiro, talento múltiplo (cantor, compositor, poeta, artista plástico, escritor…), e perfeito em tudo que faz. Trata-se de “Papagaio de papel”, cronologicamente seu quinto álbum de carreira, editado em 1990, em esquema de produção independente.  O título deste disco é o mesmo da faixa de abertura, composta por Sthel Nogueira, que também assina a faixa “Cantiga pro Gabriel”. E corresponde ainda a uma reminiscência da infância do artista, em sua Pedra Azul natal. Lá, um médico, apelidado de Doutor Moita, construía, e com extrema perfeição,  belos papagaios gigantes e coloridos. Paulinho e seus amigos, então crianças, ficavam ao redor do Doutor Moita, esperando o momento de o papagaio subir ao céu. Tais pipas tinham um tamanho tão grande que eram necessárias cinco pessoas para segurá-las! Algumas horas depois de o papagaio subir, o Doutor Moita cortava a linha. Aí, o Paulinho e seus amigos (mais de trinta crianças) saíam correndo à procura da pipa, e andavam cerca de dez ou quinze quilômetros, até encontrá-la. E voltavam felizes para casa, maravilhados por trazer o papagaio de volta… Das nove faixas deste disco, o próprio Paulinho assina cinco: “Naiara” (parceria com João Evangelista), a instrumental “Uma canção pra Godofredo”, “Pro teu coração”, “Cristalina’ e “Vagas expressões”.  Completam este trabalho composições da dupla Gonzaga Medeiros-Foka (“Sorriso menino”) e de Nilci Martins (“Vagas expressões”).  Perfeito em tudo, artística e tecnicamente, este é mais um álbum que confirma todo o talento que existe em Paulinho Pedra Azul, a ponto de ser, e com justiça, o segundo cantor mais conhecido de Minas Gerais, perdendo apenas para Mílton Nascimento, o carioca que se criou em Três Pontas. É ouvir e conferir!

papagaio de papel
sorriso menino
cantiga pro gabriel
naiara
uma canção para godofredo
pro teu coração
cristalina
valsa matinal
vagas expressões

*Texto de Samuel Machado Filho

Quarteto Em Cy – Interpreta Gonzaguinha, Caetano, Ivan E Milton (1980)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Nossas postagens tem sido tão espaçadas que eu até me esqueci de como fazê-las. Já perdi todo o pique da escrita, aliás essa, para felicidade de todos, passou a ser feita pelo amigo Samuca. Porém, ainda sou eu quem publica tudo e para não variar me falta sempre tempo. Hoje eu achei a brecha e nela me encaixo trazendo este disco do Quarteto em Cy, lançado no começo dos anos 80, pela Polygram e selo Philips. Como sempre, um excelente trabalho. Uma escolha acertada de repertório e com quatro grande nomes da MPB: Milton, Gonzaguinha, Ivan Lins e Caetano Veloso. São músicas bem conhecidas do público, mas sempre perfeitas na interpretação do maior quarteto vocal feminino, as baianinhas do Quarteto em Cy. Não bastasse, conta ainda com um time de músicos de primeiríssima. Não tem como não ouvir. É correr para o GTM 🙂

abandonado
ciranda menina
saindo de mim
começar de novo
gira girou
lua lua lua lua
canto do povo de um lugar
idolatrada
barco fantasma
recado
um dia
o último trem
ponta de areia
começaria tudo outra vez
antes que seja tarde

Carlos Roberto – Homenagem (1975)

Olá, amigos cultos, ocultos e associados! Hoje trazemos aqui no TM um álbum de 1975, revivendo alguns dos maiores sucessos de Roberto Carlos, na interpretação de um quase xará, ou seja, Carlos Roberto. Indiscutivelmente, o chamado “rei da MPB” ainda goza de grande popularidade.  E muitas das canções que compôs e gravou estão até hoje na memória de muita gente, merecendo até mesmo versões instrumentais e orquestradas (o maestro norte-americano Ray Conniff, por exemplo, era muito fã de Roberto Carlos, e incluía músicas dele em seus discos). Pois neste álbum, intitulado apenas “Homenagem”, selo Scala/Japoti (gravadora de pequeno porte, dessas que não duraram muito), Carlos Roberto apresenta  doze canções que fizeram grande sucesso na voz do “rei” Roberto Carlos. Creio, inclusive, que esse Carlos Roberto que gravou o álbum seja o mesmo que compôs os maiores sucessos de Paulo Sérgio, cantor de grande prestígio entre as camadas populares, prematuramente desaparecido em 1980, aos 36 anos, vítima de AVC. Gravado nos Estúdios Reunidos, de São Paulo, é um trabalho até muitíssimo bem produzido, com os arranjos e regências a cargo de Wilson Mauro, verdadeiro “cobra” nesse tempo, assim como Reinaldo Mazziero, que cuidou dos trabalhos de gravação e mixagem. No repertório, em sua maior parte, estão músicas que Roberto Carlos não incluiu em seus álbuns de carreira (só saíram em compactos e/ou na série “As 14 mais”), porém bastante conhecidas. A primeira faixa é uma versão gravada por muitos cantores, “Olhando estrelas (Look for a star)”, que, curiosamente, Roberto Carlos incluiu em seu primeiro LP, “Louco por você”, de 1961 (o chamado “álbum proibido”, uma vez que o cantor jamais permitiu que fosse relançado).  Carlos Roberto ainda revive joias como “Eu daria minha vida”, “Eu disse adeus”, “Tudo que sonhei”, “Com muito amor e carinho”, “Você me pediu”  e um dos primeiros hits de seu quase xará, “Parei na contramão” (originalmente do segundo LP de Roberto, de 1963). Com direito até a “Canzone per te”, vencedora do Festival de San Remo, Itália, de 1968, e que deu início à carreira internacional do então “rei da juventude”, após deixar de apresentar o “Jovem Guarda” na TV Record.  Enfim, interpretando estas doze páginas antológicas do repertório de Roberto Carlos, Carlos Roberto presta uma merecida e  justa homenagem a esse que, sem dúvida, é um dos mais populares e carismáticos cantores e compositores brasileiros. É só ouvir e conferir…

olhando as estrelas
com muito amor e carinho
o show já terminou
parei na contramão
custe o que custar
você me pediu
canzone per te
eu daria minha vida
eu disse adeus
tudo que sonhei
a palavra adeus
fiquei tão triste

*Texto de Samuel Machado Filho

Vanusa – Mudanças (1986)

Muitos pensam que ela é mineira. Mas, na verdade, Vanusa Santos Flores, nome completo da cantora-compositora que o TM põe novamente em foco no dia de hoje, é paulista de Cruzeiro, onde veio ao mundo no dia 22 de setembro de 1947, e foi criada na cidade mineira de Frutal. Foi lá que, na plenitude de seus 16 anos de idade, Vanusa deu início à sua carreira de cantora, atuando como crooner do conjunto Golden Lions, que se apresentava em inúmeras cidades da região. Em uma dessas exibições, foi vista por Sidney Carvalho, que trabalhava na agência de publicidade Magaldi, Maia & Prosperi, que produzia o lendário programa “Jovem Guarda”, comandado na TV Record por Roberto Carlos. Convidada para morar em São Paulo, Vanusa foi lançada como rival da então “rainha da Jovem Guarda”, Wanderléa, e ganhou participação fixa em programas da TV Excelsior: “O bom”, apresentado por Eduardo Araújo, e “Linha de frente”, comandado pelos Vips. Na mesma emissora, integrou o elenco do humorístico “Adoráveis trapalhões”, substituindo Ted Boy Marino, ídolo da luta-livre de então, que fora para a Globo, e participou das últimas edições do “Jovem Guarda”, na Record. Já no compacto simples de estreia, em 1967, obtém retumbante êxito com “Pra nunca mais chorar”, de Carlos Imperial e Eduardo Araújo. Um ano depois, lançou seu primeiro LP, no qual estreou também como compositora, em cinco das doze faixas: “Mundo colorido”, “Perdoa”, “Pode ir embora”, “Eu não quis magoar você” e “Negro”.  A cantora também ficou célebre por seus relacionamentos, e namorou diversos colegas de profissão, como Wanderley Cardoso e Antônio Marcos, com quem acabou se casando, resultando dessa união as filhas Amanda e Aretha. Mais tarde contraiu segundas núpcias com Augusto César Vannucci, ator e produtor de cinema e TV, com quem teve o filho Rafael, vencedor, em 2002, da segunda edição do reality-show “Casa dos artistas”, do SBT. Ao longo de sua carreira, Vanusa lançou 23 álbuns, entre LPs e CDs, e vários compactos, vendendo três milhões de cópias e obtendo sucessos como “Mensagem” (regravação de antigo sucesso de Isaurinha Garcia), “Manhãs de setembro” (talvez o maior de todos), “Comunicação” “Sonhos de um palhaço”, “Paralelas” (esta, do recém-falecido Belchior), “Estado de fotografia”, “Desencontro” e “Amigos novos e antigos”.  Representou o Brasil  em vários festivais internacionais, recebeu cerca de duzentos prêmios, e apresentou-se em programas de TV como “Clube dos artistas” (da extinta Tupi), “TV Bolinha” (Bandeirantes), “Globo de ouro” e “Qual é a música?” (célebre quiz musical apresentado por Sílvio Santos).  Em março de 2009, viveu uma situação constrangedora: ao participar de um encontro estadual de agentes públicos, na Assembleia Legislativa paulista, cantou de forma errada e desafinada o Hino Nacional, causando consternação aos presentes. O vídeo espalhou-se pela web, sendo até motivo de piadas, e Vanusa atribuiu o deslize por estar sob a ação de um remédio contra labirintite. Um ano depois, ao se apresentar em evento comemorativo do Dia dos Pais, acontecido no Parque do Idoso, em Manaus (AM), Vanusa errou a letra de “Sonhos de um palhaço” (composição do ex-marido Antônio Marcos) e, para compensar, cantou um trecho de outra música dele, “Como vai você?”, provocando novo vexame. Depois disso, entrou em depressão, internando-se em uma clínica e, em 2013, já recuperada, retomou a agenda de shows. Seu mais recente trabalho é o CD “Vanusa Santos Flores”, lançado em 2015 pela Saravá Discos, e produzido pelo cantor-compositor Zeca Baleiro. Hoje, o TM oferece a seus amigos cultos, ocultos e associados o décimo-quarto álbum de Vanusa, gravado ao vivo, em março de 1986,  no restaurante Inverno & Verão, de São Paulo, que ficava no bairro do Campo Belo e cedeu lugar, anos depois, a um supermercado (!). O título do álbum, “Mudanças”, corresponde a um dos hits da cantora, composto em parceria com o sempre notável Sérgio Sá. É um ligeiro retrospecto da carreira de Vanusa até então (ela já estava com 17 anos de estrada), no qual a intérprete desfila toda a sua capacidade vocal e interpretativa em faixas diversas: hits de carreira (“Paralelas”, “Mensagem”, “Manhãs de setembro”, além, claro, da faixa-título), alguns clássicos inesquecíveis (“Súplica cearense”, “Felicidade”, “Maria, Maria”, “Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones”, “Aprendendo a jogar”), um pot-pourri de sucessos dos eternos Beatles (“Yesterday”, “Day tripper” e “Eleanor Rigby”), e hits da ocasião (“Um dia de domingo’ e “Bilhete”, esta última com excelente arranjo de Antônio Adolfo). Tudo em interpretações de primeira, oferecendo, como diz a contracapa, “música para quem gosta de música”. Este disco seria relançado pela RGE em 1992, com o título de “A arte do espetáculo”. E constitui, sem dúvida, um prato cheio para os apreciadores de música com M maiúsculo, produto difícil de se encontrar nos dias que correm… Aproveitem!

mensagem – manhãs de setembro – paralelas
aprendendo a jogar
um dia de domingo
yesteerday – eleonor rigby – day tripper
mudanças
bilhete
era um garoto que como eu amava os beatles e os rolling stones
felicidade
súplica cearense

*Texto de Samuel Machado Filho

Os Reis Do Brega (1990)

O Toque Musical oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados uma compilação de música brega, gênero musical que teve seu auge nas décadas de 1970/80, e ainda hoje tem grande aceitação entre segmentos das camadas populares do Brasil. A princípio, como já sabemos, o termo “brega” era sinônimo de cafona, portanto pejorativo, mas hoje o sentido é outro, designando música popular de fácil assimilação. E é justamente uma amostra do rico e variado acervo desse gênero que o TM hoje nos oferece, através de um álbum que a Continental lançou em 1990. “Os reis do brega” nos traz, em doze faixas garimpadas nos próprios arquivos da gravadora, músicas que bem caracterizam o gênero, com letras simples, diretas, capazes de atingir em cheio a sensibilidade popular. Dos intérpretes aqui incluídos, três deles são de longe os mais conhecidos: Amado Batista, Bartô Galeno e Alípio Martins, este já falecido. O primeiro vem com “O lixeiro e a empregada”, música que fez parte do filme “Sol vermelho”, de 1982, estrelado pelo próprio Amado  (o Chaplin que é parceiro na música chama-se, na verdade, Odair de Souza Queiroz). Bartô Galeno vem com “Longe de você”, que encerra o disco. E Alípio Martins, responsável por hits como ‘Gozar a vida”, “Tira a calcinha” e “Ô Darcy”, abre este disco com “Lá vai ele”, que fez em parceria com uma certa Marcelle. Os demais intérpretes, mesmo com menor visibilidade, também são tão queridos pelas camadas populares quanto Amado, Alípio e Bartô. Edson Vieira comparece com duas faixas: “Te quebro a cara” e “Despeito” esta de autoria dele próprio em parceria com Sebastião Souza. Fernando Lelis comparece com a machista, porém divertida, “Lugar de mulher é lá em casa”, dele próprio em parceria com Jacinto José. Betto Dougglas vem com “Tudo foi assim”, faixa do álbum “O rei da lambada”, de 1988, e Ivan Peter aqui nos apresenta “Cheguei à conclusão”. Completando o programa, duas faixas com a banda Brega Puro, “Eu não socorro” e “Eu sou um sem vergonha”. Tudo isso, aliado às sensualíssimas mulheres de lingerie que ilustram a capa, expressa bem o clima desse disco oferecido hoje pelo TM, um divertido e interessante passeio pelo universo da música brega. Ouçam e deliciem-se…

lá vai ele – alipio martins

te quebro a cara – edson vieira

coisa obsena – alan edson

o lixeiro e a empregada – amado batista

amor verdadeiro – josé ribeiro

despeito – edson vieira

eu não socorro – brega puro

lugar de mulher é lá em casa – fernando lélis

tudo foi assim – betto dougllas

cheguei a confusão – ivan peter

eu sou sem vergonha – brega puro

longe de você – bartô galeno

 

*Texto de Samuel Machado Filho

Pierre Kolmann – Seleção De Sucessos N. 1 (1962)

O TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados mais um álbum do enigmático pianista Pierre Kolmann, lançado em 1962 pela Musidisc de Nilo Sérgio. Cronologicamente, este é o quarto LP de Pierre aqui postado. Como vocês bem se recordam, Pierre Kolmann é um dos muitos pseudônimos  do compositor, pianista e “bandleader” João Adelino Leal Brito, que ficou conhecido como Britinho (Pelotas, RS, 5/5/1917-?, 1964 ou 65). Por mais de três décadas, ele desenvolveu grande e importante atuação em nossa música popular, tendo suas músicas gravadas por inúmeros artistas de prestígio a seu tempo. Como pianista e maestro, gravou inúmeros discos com sua orquestra, e acompanhou cantores diversos. Foi um instrumentista super-requisitado , daí ter adotado o esquema de pseudônimos, usado por outros músicos de sua época, pois assim poderia gravar discos em outras companhias, sem enfrentar problemas de ordem contratual. Curiosamente, os álbuns gravados por Britinho como Pierre Kolmann não estão relacionados  em sua discografia, pois não eram considerados de carreira. Este “Seleção de sucessos”, como já bem explica o título, é uma compilação de faixas que já haviam saído nos LPs anteriores de Pierre Kolmann/Britinho para a Musidisc. Trata-se de um apanhado exclusivamente de músicas brasileiras, de compositores consagrados. A maior parte das dez faixas é assinada pelo mestre baiano Dorival Caymmi: “Marina”, “Rosa morena”, “Acontece que eu sou baiano”, “Saudade da Bahia”, “Maracangalha” e “João Valentão”. Completando o disco, temos “Boneca cobiçada” (Biá e Bolinha), “Conceição” (maior sucesso de Cauby Peixoto, assinado por Dunga eJair Amorim) e duas composições de Fernando César sem parceria, “Vício” e “Dó-ré-mi”.  Enfim, sucessos inesquecíveis que compõem o repertório de mais este interessante álbum na linha “dançante”, daqueles que animavam qualquer festinha caseira, que o TM oferece com a satisfação de sempre. O curioso é que não há registro de lançamento do segundo volume de “Seleção de sucessos”… Mesmo assim, bom divertimento!
marina
rosa morena
boneca cobiçada
acontece que eu sou baiano
conceição
saudades da bahia
maracangalha
vício
joão valentão
do re mi

*Texto de Samuel Machado Filho

Picolino da Portela – Sambistas Unidos (1975)

Hoje, o TM põe em foco um dos mais expressivos nomes do samba carioca: Claudemiro José Rodrigues, ou, como ficaria para a posteridade, Picolino da Portela. Compositor, cantor e ritmista, ele veio ao mundo no Rio de Janeiro mesmo, a 18 de maio de 1930. Funcionário aposentado do Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis, compôs sua primeira música ainda adolescente, aos 16 anos, para o Bloco Unidos da Tamarineira, de Oswaldo Cruz, e apresentou-se em vários clubes e rodas de samba da então capital da República. Mais tarde, ingressou na Portela, ao lado de Candeia e Waldir 59, passando a integrar a ala de compositores da escola, que presidiu por dois anos. Entre os sambas-enredo que Picolino compôs para a Portela, destaca-se “Legados de D. João VI”, com o qual a escola foi campeã no carnaval de 1957. Em 1963, ao lado de Candeia, Casquinha, Casemiro, Arlindo, Jorge do Violão e Davi do Pandeiro, forma o grupo Mensageiros do Samba, que gravaria seu único LP, “A vez do morro”, três anos depois. Mais tarde, forma o grupo ABC da Portela, ao lado de Colombo e Noca, que participa de vários espetáculos de samba e alguns festivais. O trio obteve sucesso no carnaval de 1968 com o samba “Portela querida”, na voz de Elza Soares. Outros intérpretes que gravaram músicas de Picolino da Portela foram Elizeth Cardoso, Martinho da Vila, Noite Ilustrada, Luiz Ayrão e Eliana Pittman, de quem por sinal é parceiro no samba “Lenços brancos”. Como intérprete, Picolino da Portela deixou escassa discografia: apenas dois LPs (sem contar “A vez do morro”), três compactos simples e um duplo. E dela, o TM traz hoje, para seus amigos cultos, ocultos e associados, exatamente o seu segundo e último álbum-solo: “Sambistas unidos”, lançado em 1975 pela Musidisc, com o selo América. A produção, caprichada, ficou por conta do fundador e proprietário da gravadora, Nilo Sérgio, sob a direção musical de Moacyr Silva, com trabalhos de gravação e mixagem de Max Pierre, supervisionados pelo engenheiro de som Jorge Coutinho.  Um verdadeiro time de “cobras” do disco, que legou-nos este belo trabalho, em que Picolino da Portela  interpreta composições dele, com parceiros (destacando-se “Tô chegando, já cheguei”, já conhecida do público na voz de Eliana Pittman), e ainda de outros autores (como “Maré tá cheia”, do então ainda iniciante Neguinho da Beija-Flor). Um disco  que, como frisa na contracapa o jornalista Luiz Carlos de Assis, mostra o samba simples, puro e autêntico, sendo portanto digno da postagem de hoje do Toque Musical. E agora… ó abre alas, que a Portela quer passar!

deixa a portela passar
tô chegando, já cheguei
maré tá cheia
os teus problemas são meus
prefiro esperar
só restou uma canção
tora de madeira
sebastião
silêncio que o natal morreu
uma saudade que ficou a mais
o teu passado impede o futuro
língua da candinha

*Texto de Samuel Machado Filho

Lauro Miranda E Seu Conjunto (1959)

O Toque Musical põe hoje em foco mais um músico brasileiro de renome, cujo centenário de nascimento comemoramos neste 2017: o pianista Lauro Miranda. Irmão do também músico Geraldo Miranda, ele veio ao mundo no dia 16 de junho de 1917, na cidade de Vitória, capital do Espírito Santo, com o nome completo de Lauro Osório Miranda. Autodidata, começou a aprender piano aos dez anos de idade. Sua carreira artística tem início aos 18 anos, como pianista profissional da orquestra do Automóvel Clube de Campos, litoral do estado do Rio de Janeiro. Em 1934, venceu o concurso de músicas carnavalescas de Campos com a música “Tá bom, deixa”. Em 1937, acompanhou as irmãs Cármen e Aurora Miranda em show no Teatro Trianon, ocasião em que também foi chefe da Orquestra do Cassino de Campos, onde conheceu o bandolinista uruguaio Miranda. Chegou a estudar na Faculdade de Agronomia, ainda em Campos, mas aos 21 anos largou tudo para dedicar-se apenas à música. É nessa ocasião que se transfere para o Rio de Janeiro, onde, em 1939, acompanhou o trio Gentile-Damian-Miranda em uma temporada no Cassino Atlântico, em Copacabana. Trabalhou ainda no restaurante Lido, também em Copacabana, na Rádio Tupi com o Trio Lalo Marenales e na orquestra do maestro Otaviano Romero Monteiro, o Fon-Fon. Em 1941, fez temporada de seis meses em Buenos Aires, como pianista da Orquestra Amazônia, inaugurando o programa “A hora do Brasil”, na Rádio El Mundo. No ano seguinte, atuou nas orquestras de Napoleão Tavares (Rádio Ipanema) e Guilherme Pereira. Em 1943, participa das orquestras dos maestros Pompeu Nepomuceno e Claude Austin, assumindo a chefia desta última até 1946. Em 1947, nova turnê internacional, agora com a orquestra de Fon-Fon, e percorrendo várias cidades da Europa: Paris, Milão, Barcelona, Madri, Roma, Nápoles e Knock, esta na Bélgica, passando ainda por Bagdá e Beirute, no Oriente Médio. E é em Beirute que fixa residência, entre 1947 e 1956, atuando como pianista da Orquestra Copacabana, que trabalhava na boate Le Grillon. De volta ao Brasil, atuou como pianista na boate Sacha’s, do Rio de Janeiro, e, mais tarde, ingressa no conjunto Sete de Ouros, do maestro Cipó, onde permanece até 1962, ano em que assume a direção artística do Hotel Nacional de Brasília. Nesse mesmo ano, faz nova turnê pela Europa, a convite do cantor Ernâni Filho, com ele percorrendo países como Portugal, França, Itália, Suíça, Alemanha e Inglaterra. De volta ao Brasil, ambos fazem temporada de três meses na boate Oasis, de São Paulo. Entre 1966 e 1974, foi pianista da extinta TV Tupi do Rio de Janeiro. Trabalhou ainda nos restaurantes Vice-Rei  (de 1985 a 1994) e Palhota (1995), transferindo-se depois para o Piano Bar St. Moritz, da Casa da Suíça, onde permanece até 2000, encerrando sua carreira. Como compositor, Lauro Miranda tem mais de 150 músicas gravadas, e foi um dos sócios-fundadores da Sbacem. Acompanhou ao piano, em toda a sua trajetória artística, vários nomes de prestígio na MPB, como Francisco Alves, Orlando Silva, Helena de Lima, Carlos Galhardo, Lana Bittencourt, Agnaldo Rayol, Lucienne Franco, Ellen de Lima, Carlos José, Aracy de Almeida… Com este respeitável currículo, Lauro Miranda bem merece a postagem de hoje do TM, oferecendo a seus amigos cultos, ocultos e associados o único LP que gravou com seu próprio conjunto, lançado em 1959 pela Drink Discos, gravadora que pertencia a outro músico de renome, o organista Djalma Ferreira, então dono da boate carioca de mesmo nome. E com direito até a uma capa dupla, verdadeira ousadia gráfica para a época, como de praxe nos lançamentos da Drink, e a um entusiasmado texto de contracapa de Carlos Machado, o então “rei da noite carioca”, descrevendo minuciosamente a trajetória de Lauro Miranda até então. No repertório, mesclam-se sucessos nacionais e internacionais da ocasião (“Poinciana”, “Fracassos de amor”, “Manhattan”, “O apito no samba”, “Foi o teu olhar”, “All the things you are”, “The ruby and the pearl”) e trabalhos autorais do próprio Lauro (“Cipolândia”, em parceria com o maestro Cipó, “Saudade”, “Recanto de rua” e “Será?’), dentro do padrão que caracterizava os álbuns dançantes da época. Enfim, uma homenagem a altura do TM aos cem anos de nascimento de Lauro Miranda! Em tempo: será que ele ainda vive? Em todo caso, se alguém souber do Lauro, favor enviar email para toquelinkmusical@gmail.com. Eu e o Augusto, desde já, agradecemos…

my funny valetine – where or when – more than you know
manhattan – all the things you are – saturday night
foi o teu olhar – sax cantabile
o apito no saba
cipolandia
the ruby and the pearl – poiciana
saudade – recanto da rua
será – fracassos de amor

*Texto de Samuel Machado Filho

Os Populares (1969)

A alegria do reencontro. É o que o TM proporciona hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados, ao fazer o “repost” de um dos álbuns do conjunto Os Populares.  O grupo vocal-instrumental foi formado em 1967, ainda no auge da Jovem Guarda, tendo como líder e guitarrista-solo o excelente Júlio César, dissidente de outro conjunto famoso na época, The Pop’s. A ele juntaram-se Paulo Sérgio (guitarra rítmica), vindo do conjunto Os Aranhas, João Carlos (baixo elétrico), ex-Os Bárbaros, Pedrinho (bateria), vindo dos Youngsters, e Carlinhos (teclados). Em princípio, o grupo tinha um estilo basicamente instrumental, com solos de guitarra e órgão, bem na linha “conjunto de beira de piscina e bailes”. A estreia em disco deu-se através de um compacto com músicas de Natal, hoje muito raro. Os Populares apresentaram-se em diversos programas de rádio e TV divulgando seus trabalhos, entre eles o “Rio Jovem Guarda”, “Festa do Bolinha” (ambos da TV Rio), “Tevefone” (Globo), “AP show”, de Aérton Perlingeiro (Tupi) e “Euclides Duarte” (TV Continental). Com apuradíssima qualidade técnica, os álbuns dos Populares obtiveram excelente vendagem. Os quatro primeiros LPs do grupo saíram pela RCA, hoje Sony Music, compostos não apenas de releituras de hits da ocasião, como também apresentando  músicas de autoria do próprio guitarrista-líder, Júlio César, por sinal um dos melhores do Brasil. Em 1971, eles passaram a gravar na Polydor/Philips, hoje Universal Music, só que com execuções em que predominavam os vocais. O grupo se desfez em 1978. Pois hoje o TM traz de volta o quarto álbum dos Populares, e o último que fizeram para a RCA, lançado em 1969. E num clima bem de festa mesmo, a partir da primeira faixa, “Aniversário de casamento”, de Ivanovici (erroneamente creditada a Lourival Faissal, que na verdade fez a versão em português que Carlos Galhardo gravou em 1950). Outro destaque fica por conta da “Canção da criança”, um dos derradeiros sucessos de Francisco Alves, lançado pouco depois de sua morte em desastre rodoviário, em 1952. A estas, juntam-se músicas de cunho tradicional (“Lenda do beijo”, “Ai, mouraria”), hits da ocasião (“Não há dinheiro que pague”, de Roberto Carlos, “Obladi oblada”, dos Beatles,” Ferry ‘cross the Mersey”, de Gerry and The Pacemakers, “Toi toi toi”), e um medley com as belas marchas-rancho “Estrela do mar” e “Pastorinhas”, além de dois trabalhos autorais  do próprio Júlio César, “Mara” e “Balançando”.  Tudo naquele ritmo jovem e vibrante que caracterizava essa época, com o Júlio César dando aquele “banho” característico nos solos de guitarra. Enfim, é com muita alegria que trazemos de volta o quarto LP dos Populares, e com uma resenha bem mais coerente com seu conteúdo, pois da primeira vez repetiu-se a do primeiro álbum, o da “pipoca”, de 1967. Agora está tudo certo, felizmente…

aniversário de casamento
toi toi
canção da criança
não há dinheiro que pague
estrela do mar
obla di obla dá
atravessando o rio mersey
lenda do beijo
ai mouraria
mara
balançando

*Texto de Samuel Machado Filho

Sylvia Telles – Bossa Balanço Balada (1963)

Sylvia Telles (para os íntimos, Sylvinha) foi, sem sombra de duvida, uma das melhores intérpretes da  chamada “moderna música brasileira” das décadas de 1950/60. Ela veio ao mundo na cidade do Rio de Janeiro, então capital da República, em 27 de agosto de 1934, filha de Paulo Telles, carioca amante da música clássica, e Maria Amélia D’Atri, francesa radicada no Brasil. Era irmã do também cantor e compositor Mário Telles, nascido oito anos antes dela. Sylvinha estudou no Colégio Sagrado Coração de Maria e sonhava em se tornar bailarina. Porém, ao fazer um curso de teatro, descobriu que tinha talento, de fato, para cantar. Dom esse que foi notado, em 1954, pelo compositor Billy Blanco, amigo da família, que apresentou a jovem Sylvinha a amigos músicos. Nas reuniões que eles faziam, ela teve a grata satisfação de conhecer os grandes nomes do rádio na época, entre os quais estava o grande violonista Garoto (Aníbal Augusto Sardinha), que a ajudou a encontrar trabalho em boates para o início de sua carreira profissional. Na ocasião, Sylvinha conhece seu primeiro namorado, nada mais menos que João Gilberto, amigo de seu irmão Mário Telles. Tal relacionamento, porém, acabou porque os Telles não gostavam do futuro papa da bossa nova, então vivendo de favor na casa dos outros.  Em 1955, a convite do humorista Colé Santana (tio do “trapalhão” Dedé), Sylvia Telles participa do musical “Gente bem e champanhota”, apresentado no Teatro Follies de Copacabana, interpretando o samba-canção “Amendoim torradinho”, de Henrique Beltrão, acompanhada ao violão por José Cândido de Mello Matos, o Candinho. A música seria o lado A de seu disco de estreia, um 78 rpm lançado pela Odeon em  agosto de 55, tendo no verso outro samba-canção, “Desejo”, de Garoto (falecido três meses antes), José Vasconcelos e Luiz Cláudio. “Amendoim torradinho” foi enorme sucesso, e deu à nossa Sylvinha o prêmio de cantora-revelação de 1955, outorgado pelo jornal ‘O Globo”.  Em 1956, Sylvinha e Candinho se casam, passando a apresentar juntos, na TV Rio, o programa “Música e romance”, no qual recebiam ilustres convidados, tais como Dolores Duran, Tom Jobim, Johnny Alf e Billy Blanco. Desse matrimônio, de curta duração, resultou a filha Cláudia, mais tarde também cantora, nascida em 1957, ano em que Sylvinha lança seu primeiro LP, o dez polegadas “Carícia”. Integrou-se à bossa nova, prestes a irromper, frequentando as reuniões de músicos que aconteciam no apartamento de Nara Leão (na época com apenas 15 anos de idade), em Copacabana. É nessa ocasião que Sylvinha participa de um espetáculo no Grupo Universitário Hebraico, juntamente com Carlos Lyra, Roberto Menescal e outros. Foi nesse show, “Carlos Lyra, Sylvia Telles e os seus bossa nova”, que foi divulgada pela primeira vez a expressão que deu nome ao movimento considerado divisor de águas da MPB. O currículo de Sylvinha incluiu também apresentações em países como EUA, França, Suíça e Alemanha. Entre as músicas que ela imortalizou em sua voz, destacam-se “Foi a noite’, “Por causa de você”, “Luar e batucada”. “Suas mãos”, “Cala, meu amor”, “Fotografia”, “Dindi”, “Eu preciso de você”, “Eu sei que vou te amar”, “Esquecendo você”, “Demais”, “Se é tarde me perdoa”,  “Só em teus braços” e muitas mais. Uma gloriosa carreira que, infelizmente, terminou de forma trágica e prematura, a 19 de dezembro de 1966, quando Sylvinha, então com apenas 32 anos de idade, faleceu em um desastre automobilístico na Rodovia Amaral Peixoto, em Maricá, litoral fluminense. Ela estava em companhia de seu então namorado Horacinho de Carvalho, filho da socialite Lily de Carvalho, também falecido no acidente (ele dormiu no volante), e ambos se dirigiam à fazenda dele, em Maricá. Sylvia Telles já teve alguns de seus álbuns postados aqui no TM, dada sua importância para a história da MPB. Agora, oferecemos a nossos amigos cultos, ocultos e associados, mais um primoroso trabalho desta inesquecível cantora. É “Bossa, balanço, balada”, editado em 1963, e por sinal o primeiro LP que fez para a recém-fundada Elenco, gravadora que pertencia a seu segundo marido, Aloysio de Oliveira, ex-integrante do Bando da Lua, e que antes passara pela Odeon e pela Philips como diretor artístico. Gravado nos estúdios Riosom, com caprichada e cuidadosa produção de Aloysio, tem um repertório, como não poderia deixar de ser, estupendo, com arranjos a cargo dos supercompetentes  Lindolfo Gaya e Moacyr Santos, e músicas assinadas por verdadeiros “cobras”, como, por exemplo, Vinícius de Moraes, em parcerias com Tom Jobim (“Amor em paz”, “Insensatez”) e Carlos Lyra (“Você e eu”). A dupla Roberto Menescal-Ronaldo Bôscoli assina mais três clássicos bossanovistas, “Rio”, “Só quis você” e “Vagamente”, Johnny Alf entrou com “Ilusão à toa”, Tom Jobim assina sozinho o não menos antológico “Samba do avião”, e a dupla Pery Ribeiro-Geraldo Cunha vem com “Bossa na praia”. O programa se completa com “Rua deserta”, de Dorival Caymmi e Carlinhos Guinle, “Sol da meia-noite” (versão de Aloysio de Oliveira para “Midnight sun”, standard do repertório popular norte-americano) e “Dorme”, da parceria Candinho-Ronaldo Bôscoli.  Com estes três bês, a bossa, o balanço e a balada, Sylvia Telles mostra por que foi uma das mais expressivas intérpretes da moderna MPB de então, sendo este disco, portanto, mais um presente do TM  a todos que apreciam a arte de cantar no que ela tem de melhor e mais expressivo.

rio
amor e paz
você e eu
ilusão a toa
só quis você
rua deserta
sol da meia noite
samba do avião
insensatez
bossa na praia
vagamente
dorme

*Texto de Samuel Machado Filho

We – Ouriço (1971)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! As postagens deste mês acabaram sendo poucas. Infelizmente em abril é o período em que eu fico mais ocupado e daí, consequentemente sem tempo para as postagens. Mesmo com a pronta colaboração do amigo Samuca, ainda assim estamos devagar. Mas o pulso ainda pulsa…
Hoje eu trago um lp que pelas fontes, das mais variadas, indicam que se trata de um trabalho paralelo do conjunto The Fevers. Lançado em 1971 pela Odeon, através de seu selo Parlophone que servia para publicações obscuras como esta. Na verdade, trata-se de lançamentos do que poderíamos chamar de projetos pilotos, utilizando de seus artistas contratados para outros trabalhos e geralmente com outros nomes. Naquele início dos anos 70 estava em voga conjuntos e artistas brasileiros cantando em inglês, reforçando a máxima de que para se fazer sucesso nas rádios tinha que cantar em inglês (afinal, nosso povo sempre foi muito culto e bilingue, né?). É daí que nasce esse disco que eu até hoje não sei se a banda se chama Ouriço ou We. Para não variar, deixando sempre o público com a pulga atrás da orelha, no lp, não temos nenhuma informação plausível, além da lista de um repertório cujas as músicas eram extraídas de discos estrangeiros da época, como Chicago, Nilsson, Jesse Colin Young, Bachaman e outros, além de algumas ‘composições próprias’. Outra curiosidade, talvez para encher linguiça, colocaram nun canto da capa a definição enciclopédica do que é um ouriço. Bom, podemos não saber quem é realmente esse conjunto, mas com certeza agora sabemos o que é um ouriço.

yo yo
second thoughts
living
25 or 6 to 4
cherr me up
i’m gonna be a rich man
us thumbstyle
down to the valley
when you pass near me
please believe me
.

Jorge Henrique Alan Gordon & Hugo Lander – Dançando Face A Face (1959)

O TM traz hoje para seus amigos cultos, ocultos e associados mais um álbum do selo Rádio, marca que, como vocês já sabem, lançou apenas e tão somente LPs, em toda a sua existência, sendo, por tabela, uma das pioneiras do vinil em território brasileiro. Trazemos, desta vez, “Dançando face a face”, lançado em 1959, com o pianista Alan Gordon, o baterista Hugo Lander e o organista Jorge Henrique. A ressaltar que Alan Gordon, já falecido, foi proprietário da lendária boate Stardust, em São Paulo, e é pai de Lanny Gordin, autêntico mestre da guitarra e um dos ícones da MPB.  Os três, então se apresentando com muito sucesso nas casas noturnas do eixo Rio-São Paulo,  já haviam gravado juntos, pela mesmíssima Rádio,  os dois álbuns da série “Cheek to cheek”, o último deles já oferecido a vocês pelo TM (Alan e Hugo ainda se encontrariam no álbum “Dois americanos no Rio”). Pois este “Dançando face a face” também é um trabalho de inquestionável qualidade, dentro do padrão dos álbuns dançantes que tanto faziam sucesso naquele final de anos 1950. São onze faixas marcantes, selecionadas entre standards sempre queridos e apreciados do repertório popular nacional e internacional. Na parte brasileira, há quase que apenas sambas: “Cinco letras que choram (Adeus)”, “Dois corações”, “Reconciliação”, “Cabelos brancos”, “Juramento falso” e duas composições então inéditas de Jorge Henrique, “Preto velho” e “Tédio” (esta, um bolero). Completando o programa, quatro clássicos internacionais: os boleros “Acercate más”, “Incentidumre” e “Concerto d’autumno” (originalmente fox-canção), e o fox “Because of you”.  Arranjos primorosos, aliados à competência e à técnica do trio de instrumentistas, fazem deste “Dançando face a face” um LP digno de merecer mais esta postagem de nosso TM, oferecendo o melhor em matéria de música ambiente, seja para simples audição, como “relax”, seja para se dançar bem juntinhos, de rosto colado. Aproveitem…

cinco letras que choram
dois corações
acercate mas
because of you
reconciliação
incertidure
cabelos brancos
juramento falso
concerto d’autunno
preto velho
tédio

*Texto de Samuel Machado Filho

Los 13 Soñadores – Amor… Love… L’Amour (1963)

O TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados mais um precioso álbum do selo Plaza, de Henrique Gandelman, do qual  já postamos outros títulos anteriormente. Desta vez, trata-se de um disco essencialmente romântico, a começar pelo título: ”Amor… Love… L’amour”, lançado em 1963 pelo grupo (ou orquestra?) Los 13 Soñadores. Por certo, este foi o único LP deles. Nas doze faixas deste trabalho, encontraremos verdadeiros hits românticos, tanto de ocasião quanto mais antigos, executados em ritmo de bolero, que, como já sabemos, é um gênero sempre muito apreciado, sobretudo em países latino-americanos, como o Brasil. Trabalhos como “Maria” (do filme “West Side Story”, no Brasil, “Amor, sublime amor”), “I’ve got you under my skin”, “Tender is the night” (o famoso “Suave é a noite”, do filme de mesmo nome), “Always in my heart” (ou seja, “Sempre no meu coração”, de outro filme famoso), “L’hymne a l’amour” (de Edith Piaf), “On the street  where you live” (de “My fair lady”, musical da Broadway que curiosamente só foi para as telonas um ano mais tarde), “Non dimenticar”, “Ansiedad” e duas faixas mesclando temas eruditos, “Amor.. Love… L’amour”, que dá título ao álbum, e “Guitarras & romance”, que o encerra, são apresentadas bem na medida para aqueles que gostam de dançar “coladinho”, ou então para aqueles que só desejam ouvir, de preferência à noite, ao lado de quem a gente gosta. Tudo isso com o invejável padrão técnico e artístico que eram a marca registrada dos lançamentos da Plaza Discos, tanto que este álbum foi lançado nas versões mono e estéreo.  Afinal, como diz a contracapa, o amor sempre foi inesgotável tema de poesias e canções, como as aqui incluídas. Portanto, aproveitem o “super áudio” deste disco, amigos: afinal de contas, o amor está no ar!

maria
i’ve got you under my skin
amor amor
all the things you are
l’hymne à l’amour
amor love l’amour
non dimenticar
always in my heart
ansiedad
tender is the night
on the stree where you live
guitarras e romance

*Texto de Samuel Machado Filho

Som 3 (1966)

É indiscutível a contribuição dada à música popular brasileira por César Camargo Mariano, músico, arranjador, compositor, produtor, diretor musical e empresário de renome internacional. Nascido em São Paulo, a 19 de setembro de 1943, César começou a tocar piano por conta própria, e, aos 14 anos, passaria a ser apresentado como “menino prodígio” em espetáculos no qual acompanhava bandas de jazz. Logo em seguida, fez amizade com Johnny Alf, que o incentivou a estudar harmonia, arranjo e composição. Ao longo de sua vitoriosa carreira, César Camargo Mariano foi agraciado com vários prêmios, como o Sharp e o Grammy Awards, foi jurado de festivais de música, apresentador de TV (comandou o musical “Um toque de classe”, na extinta Rede Manchete), compôs jingles publicitários, foi o primeiro a utilizar teclado sintetizador em arranjos musicais e acompanhou inúmeros astros de nossa música popular, sobretudo Elis Regina, com quem se casou e estabeleceu marcante parceria em shows e discos. Desse enlace matrimonial, vocês sabem, resultaram dois filhos, hoje também cantores, Pedro Mariano e Maria Rita. César reside nos EUA desde 1994, mas continua em contato permanente com os maiores nomes da nossa música popular, dirigindo e produzindo discos e espetáculos.  César Camargo Mariano começou a atuar como músico profissional na orquestra de William Furneaux, e, em 1962, formou o grupo Três Américas, que tocava em festas e bailes. Um ano mais tarde, integra o Quarteto Sabá, com quem grava o primeiro LP. Em seguida, ao lado de Aírto Moreira e Humberto Claiber, forma o Sambalanço Trio, que grava um álbum com o cantor e dançarino Lennie Dale, e ganha prêmios. Contratado pela antiga TV Record de São Paulo, passa a se apresentar com um novo grupo, o Som Três, ao lado de Sabá no contrabaixo e Antoninho Pinheiro na bateria, os dois últimos egressos do Jongo Trio, com o qual grava cinco LPs, sem contar um ao vivo, em que acompanharam o grande e inesquecível Wilson Simonal. E é justamente o primeiríssimo álbum do Som Três, lançado em 1966 pela Som Maior, selo que pertencia ao grupo RGE-Fermata, que o TM oferece hoje, em grande estilo, a seus amigos cultos, ocultos e associados. Nas onze faixas deste trabalho, há trabalhos autorais dos próprios integrantes (“Samblues”, “Tema 3”, “Cristina”, “Margarida B”, de César, e “Um minuto”, de Sabá e Antoninho), sucessos da ocasião (“O morro não tem vez”, “Canto de ossanha”, “O bolo”) e composições de Lula Freire com parceiros (“Cidade vazia”, com Baden Powell, e “Deixa pra lá”, com Sérgio Augusto), além do clássico “Na Baixa do Sapateiro”, do mestre Ary Barroso.  Tudo isso criando, conforme diz a contracapa, uma personalidade musical exatamente como  exigia o gosto do público musical dessa época, com execuções primorosas. Portanto, este primeiro LP do Som Três é mais um trabalho de qualidade que o TM possui a grata satisfação de oferecer, simbolizando uma significativa parcela do melhor da música instrumental brasileira.

samblues
canto de ossanha
na baixa do sapateiro
o bolo
um minuto
cidade vazia
deixa pra lá
tema 3
cristina
o morro não tem vez
margarida b

*Texto de Samuel Machado Filho

Tania Maria, Boto & Helio – Via Brasil (1975)

Conforme o prometido, o TM coloca seus amigos cultos, ocultos e associados em contato, mais uma vez, com o talento, a competência e a versatilidade de Tânia Maria, esta notável cantora, compositora  e pianista brasileira de prestígio mais que merecido internacionalmente. Com o nome completo de Tânia Maria Corrêa Reis, essa extraordinária jazzista veio ao mundo na cidade de São Luís, capital do Maranhão, em 9 de maio de 1948. Aos sete anos de idade, ela começou a estudar piano, e, aos treze, ganhou o primeiro prêmio em um concurso de música local como líder de um conjunto que seu pai havia começado. Em 1963, aos quinze anos, fez sua estreia em disco, lançando, pelo obscuro selo Pedestal, um 78 rpm com a valsa “Papaizinho”, de Francisco de Paula, e a marcha “Serão do papai”, de Amâncio Cardoso. Aos dezesseis anos, casou-se e começou a estudar Direito, mas, em 1966, abandonou os estudos para gravar seu primeiro LP, exatamente o que o TM já ofereceu a vocês, “Apresentamos Tânia Maria”, mostrando, logo de saída, um estilo todo peculiar, combinando jazz e ritmos brasileiros, que ela iria desenvolver posteriormente. O segundo álbum viria em 1971, pela Odeon, “Olha quem chega”. Em meados da década de 70, Tânia Maria decide fixar residência no exterior, mais precisamente em Paris, capital da França, onde voltou a morar com sua família após alguns anos de permanência em Nova York, EUA. Desde então, desenvolveu uma sólida carreira internacional, com mais de 25 álbuns gravados, além de turnês e apresentações em praticamente todos os festivais de jazz do mundo. Em 1980, seu álbum “Piquant” venceu o Golden Leonard Feather Award. As principais 07influências de nossa Tânia Maria são Oscar Peterson, Bill Evans, Luiz Eça, Sarah Vaughan, Tom Jobim e Mílton Nascimento, e sua música abrange desde melodias pop às harmonias complexas do jazz, passando pelo soul, samba e funk. Usa sua voz para executar complicadas improvisações de “scat”, em uníssono com o piano, sendo uma das expoentes nessa técnica. Um estilo musical e uma voz inconfundíveis, que a tornaram, com justiça, um dos grandes talentos da cena contemporânea. A ponto de, em 2009, ser nomeada “officier” da Ordem de Artes e Letras da França. Segundo informa seu site oficial, Tânia Maria está preparando um novo álbum, a ser lançado ainda em 2017. Enquanto aguardamos este novo trabalho, o TM nos oferece um disco por ela gravado quando já havia se estabelecido na França. É “Via Brasil”, lançado naquele país pela Barclay (hoje subsidiária da Universal Music e denominada EmArcy Records) em 1974, e que chegou ao Brasil um ano depois, através da RCA, futura Sony Music. Aqui ela está acompanhada pelo baterista e percussionista Boto, e pelo contrabaixista Hélio, oferecendo um repertório, como não poderia deixar de ser, de primeiríssima qualidade, com sucessos já consagrados no Brasil (“Samba de Orly”, “Abre alas”, “Até quem sabe”, o clássico jobiniano “Águas de março”, “Fio maravilha”),  dois pot-pourris, um com hits de Jorge (então) Ben e outro com sambas da velha guarda, denominado “Via Brasil”. Nessa época, o trio se apresentava no bar musical A Batida, então recém-inaugurado, que ficava no complexo Via Brasil, no centro comercial da “Torre” Maint-Montparnasse.  Foi lá que Eddie Barclay, então proprietário da gravadora, ouviu Tânia, Boto e Hélio, e, entusiasmado, logo os contratou.  O resultado aí está, como os amigos cultos, ocultos e associados do TM terão a grata satisfação de conferir.  Um segundo volume de “Via Brasil”, ao que parece não editado por aqui, viria em seguida. E este primeiro é simplesmente espetacular!

samba de orly
pot pourri de jorge ben
até quem sabe
abre alas
fio maravilha
a cruz
aguas de março
bedeu
não tem perdão
pot pourri

* Texto de Samuel Machado Filho