Sandoval Dias – Um Saxofone Em Ritmo De Bolero Nº 2 (1959)

Ritmo de origem cubana, mesclando raízes espanholas com influências locais de vários países hispano-americanos, o bolero sempre foi muito popular, inclusive no Brasil. Influenciou o samba-canção, o mambo, o chá-chá-chá e a salsa. Existe inclusive uma variante do bolero surgida na República Dominicana, nos anos 1960, a bachata.  Entre os mais conhecidos intérpretes de boleros, podemos citar: o chileno Lucho Gatica, o espanhol Gregorio Barrios (que até radicou-se no Brasil), o argentino Roberto Yanés , o cubano Bienvenido Granda (“o bigode que canta”), o mexicano Armando Manzanero, o Trio Los Panchos (formado por mexicanos radicados nos EUA), e os brasileiros Anísio Silva, Orlando Dias e Altemar Dutra, além do Trio Irakitan. Até Maysa gravou boleros, e dizia gostar do gênero, sem se envergonhar disso (com razão, convenhamos). E Sidney Morais, ex-integrante do Conjunto Farroupilha e dos Três Morais, fez sucesso nos anos 80 com a série de álbuns “Boleros con amor”, sob o pseudônimo de Santo Morales. Mais recentemente, iriam destacar-se no gênero o portorriquenho Luís Miguel e as cantoras brasileiras Tânia Alves e Nana Caymmi. O bolero também influenciou, e muito, a música sertaneja brasileira, e até hoje é cultivado por intérpretes desse gênero. Sendo um ritmo musical bastante apreciado até hoje pelos brasileiros, o bolero também dá ibope até em blogs dedicados a raridades discográficas, como o Baú de Long Playing, o Estação Saudade  e, claro, o nosso TM. Tanto que já colocamos à disposição de nossos amigos cultos, ocultos e associados, títulos como os das orquestras Românticos de Cuba, Namorados do Caribe, e Serenata Tropical. Pois hoje apresentamos mais um grande álbum do gênero: trata-se do segundo volume de “Um saxofone em ritmo de bolero”, editado em 1959 pela Sinter, hoje Universal Music. E novamente trazendo o expressivo e talentosíssimo Sandoval Dias (1906-1993), agora pondo seu sax de ouro a serviço de alguns dos melhores e mais expressivos boleros de todos os tempos.  Como frisado na contracapa, a disposição das faixas  segue o esquema “dance o máximo com o mínimo de descanso”, distribuindo os catorze clássicos do bolero aqui incluídos (como “Santa”, ‘Amor”, “Desesperadamente”, “Palabras de mujer”, “Dize minutos mas”, “Lagrimas de sangre”) em seis faixas, com duas ou três músicas executadas seguidamente. Portanto, este disco é um prato cheio para quem aprecia boleros, seja para dançar ou apenas ouvir. É mais uma joia rara que o TM posta com a satisfação e o orgulho de sempre, e por certo fará os ouvintes recordarem momentos inesquecíveis ao som destes boleros mundialmente consagrados. E aí? Dá-me o prazer desta contradança?

amor…
desesperadamente
buenas noches mi amor
marimba
maria bonita
porque ya no me quieres
pecadora
palabras de mujer
santa
lágrimas de sangre
solamente una vez
sin motivo
condicion
diez minutos mas

*Texto de Samuel Machado Filho

Osmar Milito – E Deixa O Relógio Andar (1971)

Cantor, compositor e pianista de renome, Osmar Milito já é um nome com quem os amigos cultos, ocultos e associados de nosso TM já se familiarizaram, pois já temos dois de seus álbuns postados, “Nem paletó nem gravata” (1973) e “Lígia” (1978), além de LPs mistos que contaram com sua participação. Irmão do também músico Hélcio Milito, percussionista e baterista que integrou o Tamba Trio, Osmar nasceu em São Paulo, no dia 27 de maio de 1941. Iniciou seus estudos de piano aos sete anos de idade. Foi aluno de Armando Lacerda, professor do Conservatório de Música de São Paulo, e, no Rio de Janeiro, de Wilma Graça e Glória Maria Fonseca. Considerado um dos maiores pianistas de jazz e bossa nova de todos os tempos, tendo alcançado renome internacional, começou sua carreira artística em 1964, acompanhando inúmeros “cobras” da MPB, tais como Sylvia Telles, Nara Leão, Leny Andrade, Maria Bethânia, Elis Regina, Pery Ribeiro, Gilberto Gil, o Poetinha Vinícius de Moraes,  e Jorge (então) Ben. Em seguida, foi convidado a se apresentar nos México e nos EUA, onde residiu por dois anos e atuou com Sérgio Mendes realizando shows em Las Vegas e em diversas universidades norte-americanas. No início dos anos 1970, Osmar Milito retornou ao Brasil, participando de apresentações de Chico Buarque, Ivan Lins, Nana Caymmi  e Marcos Valle, entre outros. Acompanhou ainda inúmeros artistas de renome internacional, tipo Liza Minelli, Sarah Vaughan, Tony Bennett, Sammy Davis, Pat Metheny, Shelly Mane, Randy Brecker e Spanky Wilson. Inaugurou e atuou como pianista em diversas casas noturnas de sucesso no Rio de Janeiro, inclusive o extinto Mistura Fina, montando grupos que contaram com a participação de Márcio Montarroyos, Pascoal Meirelles, Djavan, Mauro Senise e a já citada Leny Andrade, entre outros. Seu respeitável currículo inclui ainda trilhas sonoras para novelas da TV Globo (“O primeiro amor”, “O bofe”, “Uma rosa com amor”, “Carinhoso” etc.) e filmes do cinema brasileiro. A discografia individual de Osmar Milito abrange oito LPs e quatro CDs. E o TM apresenta justamente seu primeiríssimo álbum, “E deixa o relógio andar”, lançado em 1971 pela Som Livre, gravadora do Grupo Globo até hoje em atividade, da qual Osmar foi um dos pioneiros, contando ainda com a participação do Quarteto Forma. Produzido por outro músico de renome, Nonato Buzar (que assina a faixa-título, “E deixa o relógio andar”),  o disco apresenta um repertório formado por hits nacionais e internacionais da ocasião, como “Garra”, “To Rio for love”  e “Que bandeira” (dos irmãos Valle), “Tá falado” (de Ivan Lins), “Mudei de ideia” (da então festejada dupla Antônio Carlos e Jocafi), a irreverente “Rita Jeep” (de Jorge Ben Jor, então Jorge Ben), “What are you doing the rest of your life?”, “Cantaloupe island”, “Mercy, mercy, mercy”, e a autoral “João Belo”, que encerra o álbum. Merece destaque também, é claro, “Chovendo na roseira”, uma das mais belas páginas do repertório do mestre Tom Jobim. Tudo isso formando um conjunto admirável, e documentando o promissor início da carreira discográfica de Osmar Milito, para o deleite e a apreciação de todos aqueles que apreciam música de qualidade. Como, aliás, é raro a gente encontrar nos tempos atuais…

e deixa o relógio andar

a famous mith

que bandeira

canteloupe island

garra

chovendo na roseira

rita jeep

what are you doing for the rest of your life

to rio for love

mercy mercy mercy

mudei de ideia

tá falado

joão bello

 

*Texto de Samuel Machado Filho

Tania Maria – Apresentamos (1966)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Hoje nós trazemos para vocês um disco raro e muito especial. Por certo já foi postado em diversos outros blogs, porém é aqui que ele se perpetua. Apresentamos, Tânia Maria, cantora, compositora e pianista. Artista que ganhou prestígio na Europa e Estados Unidos, fazendo por lá uma sólida carreira internacional. Respeitadíssima no mundo do jazz, já tocou com os mais diversos e importantes músicos dos quatro continentes. Aqui temos ela fazendo sua estréia, neste lp lançado pela Continental, em 1966. Ao lado de outros grandes músicos da época, Neco na guitarra; Luiz Marinho no contrabaixo; Edson Machado na bateria e ainda Maurício Einhorn e sua gaita, em três faixas do disco, Tania Maria é um verdadeiro show de competência. Disco gravado ao vivo, um registro mais que histórico da competência desses excelentes músicos.
Ainda neste mês vamos postar aqui mais dois discos dessa artista. É só aguardar, pois as apresentações mais detalhadas vão ficar por conta do nosso super amigo resenhista, Samuel Machado Filho. Confiram este lp no GTM 😉

não tem tradução
com que roupa
três apitos
feitiço da vila
feitio de oração
viver morrer
a voz do povo
nêgo são
papão
ficou na saudade
de manhã
terra de ninguém
a paz
agora
paz de espírito
o verão vem aí

Plaza Sensacional – 14 Sucessos (1963)

O Toque Musical oferece a seus amigos cultos, ocultos e associados mais um álbum do selo Plaza Discos, gravadora  idealizada e dirigida por Henrique Gandelman, advogado, maestro, violonista e pai do notável saxofonista Léo Gandelman.  Apresentamos , desta vez, um  “the best of” da Plaza, ou seja, uma compilação que foi editada em 1963, reunindo 14 faixas extraídas de LPs lançados anteriormente por essa marca, na execução de seis conjuntos e orquestras de seu cast. O interessante é que, na contracapa, aparecem os LPs de que as gravações foram extraídas, com a relação completa das faixas,  e, em negrito, as que foram escolhidas para esta compilação. Se não, vejamos: do álbum “Beguine solamente beguine”, da Orquestra Serenata Tropical (já postado aqui no TM), escolheram-se as faixas “Nunca aos domingos” e “La violetera”. Outras faixas com essa orquestra (regida pelo idealizador da Plaza, Henrique Gandelman) aqui incluídas são: “El manisero”, “Vereda tropical” (do LP “Rumbas solamente rumbas”) , “El reloj” e “Perfume de gardênia” (de “Boleros solamente boleros”). Os Saxsambistas Brasileiros comparecem aqui com três clássicos: “Tico-tico no fubá”, de Zequinha de Abreu, “Na Baixa do Sapateiro”, do mestre Ary Barroso, do álbum “Percussão em festa” (também já postado aqui no TM) e o jobiniano “Samba de uma nota só”, do LP “Saxsambando”. A Orquestra Rio de Janeiro vem com outro samba clássico de Tom Jobim, “A felicidade”, em gravação originalmente lançada no LP “Velhas ideias novas (Trinta anos de samba)”. O Billy Parker Septet nos apresenta sua versão para o clássico “The man I love”, dos irmãos Gershwin, extraída do álbum “It’s latin now”. Os Populares e seu Ritmo aqui interpretam o tema folclórico “Meu limão, meu limoeiro”, originalmente do LP “Dance conosco – As músicas que todo o Brasil canta”. Por último, a Banda Real de Momo revive a divertida marchinha “Touradas em Madri”, que gravou para o álbum “Carnaval em marcha”.  Enfim, uma compilação que reúne alguns dos melhores momentos dos álbuns da Plaza Discos, que então representavam, como dizia seu slogan, “o melhor repertório gravado em alta fidelidade”. E o disco faz jus ao título: é mesmo “Sensacional”!  Ouçam e constatem…

nunca aos domingos – orquestra serenata tropical
na baixa do sapateiro – os saxsambistas brasileiros
el manisero – orquestra serenata tropical
menina moça – os saxsambistas brasileiros
el reloj – orquestra serenata tropical
a felicidade – orquestra rio de janeiro
the man i love – the billy parker septet
la violetera – orquestra serenata tropical
samba de uma nota só – os saxsambistas brasileiros
vereda tropical – orquestra serenata tropical
tico tico no fubá – os saxsambistas brasileiros
perfume de gardênia – orquestra serenata tropical
meu limão, meu limoeiro – os populares e seu ritmo
touradas de madrid – banda real de momo

*Texto de Samuel Machado Filho

Quarteto Excelsior – Coquetel Dançante N. 1 (1958)

Clarinetista, maestro e compositor, paulista de Jaboticabal, porém criado em São José do Rio Preto, Aristides Zaccarias (1911-?) prestou inestimável contribuição à música popular brasileira. Sua orquestra, por exemplo, animou os bailes de carnaval do Clube Internacional do Recife, ao som contagiante do frevo, durante a maior parte dos anos 1950 e até 1961. Além disso, Zaccarias teve também o Quarteto Excelsior, cujo primeiro LP, o dez polegadas “Jantar dançante” (Copacabana, 1955),  já foi oferecido a vocês pelo Toque Musical, e foi regente da Orquestra Namorados do Caribe, que só existiu em estúdio, revezando-se com o maestro Carioca, e de quem o TM, claro, também tem títulos postados, criada pela RCA Victor para fazer frente aos Românticos de Cuba, da Musidisc.  Pois agora apresentamos aos nossos amigos cultos e associados, com a satisfação e o orgulho costumeiros, o segundo LP do Quarteto Excelsior. Trata-se de “Coquetel  dançante”, que a marca do cachorrinho Nipper editou em 1957/58, mais ou menos, já no formato-padrão de doze polegadas. O disco mantém a mesma formação do álbum anterior, com o mestre Zaccarias ao clarinete, Fats Elpídio ao piano, Bill no contrabaixo e Romeu na bateria. E Zaccarias e Romeu ainda atuam como vocalistas, cantando em uníssono.  No repertório, sucessos nacionais (no lado A) e internacionais (no verso), bem no clima das boates e casas noturnas da época. Abrindo o LP, uma composição própria de Zaccarias, “Baião do lavrador”, com a parceria de Walfrido Silva. Seguem-se outros sambas e baiões, com destaque especial para “Tiradentes” (ou “Exaltação a Tiradentes”), samba-enredo clássico que deu à escola Império Serrano o título de campeã do carnaval carioca de 1949, mas que só chegou ao disco em  1955, na voz de Roberto Silva. O lado B nos traz boleros e foxes de sucesso mundial, até hoje lembrados, com destaque para “Angustia”, “Que murmuren”, “True love”, “Anastasia” e até mesmo “Love me tender”, um dos primeiros hits do eterno rei do rock, Elvis Presley. Enfim, uma “brilhante coletânea”, como diz a contracapa, da qual a RCA Victor já pressentia o sucesso de vendas, tanto que colocou  “número 1” no título. E, até 1961, de fato, viriam mais três “Coquetéis dançantes”, sendo este primeiro uma amostra dos que viriam a seguir. É baixar, ouvir e dançar…

baião do lavrador

abre a janela

lá no norte

tiradentes

pau de arara

batuque no morro

the veru thougt of you

love me tender

anastasia

petticoats of portugal

angústia

espérame en el cielo

que murmuren

you’re sensational

i love you, samantha

true love

*Texto de Samuel Machado Filho

Luiz Eça & Jerzy Milewski Ensemble – Duas Suítes Instrumentais (1988)

Após os dois volumes de “Piano e cordas”, o TM tem a honra de oferecer a seus amigos cultos, ocultos e associados mais um primoroso trabalho de Luiz Eça (1936-1992), músico, arranjador e compositor que deu extraordinárias contribuições para a nossa música. E desta vez ele está muitíssimo bem acompanhado, ao lado do violinista Jerzy Milewski, polonês de Varsóvia, nascido a 17 de setembro de 1946 e naturalizado brasileiro. Milewski começou sua carreira bem cedo, aos seis anos de idade. Graduou-se pela Academia de Música de Varsóvia, onde também fez um mestrado. Foi solista e membro da Orquestra de Câmara da Filarmônica Nacional da Polônia, com a qual tocou, na Europa, América e Ásia. Recebeu do governo polonês a Medalha Henryk Wienawski. Em 1968, conheceu, em sua Polônia natal, a pianista brasileira Aleida Schweitzer, com quem se casou, e ambos residem no Brasil desde 1971. Aqui gravou álbuns diversos interpretando composições de “cobras” da MPB, como Djavan e Mílton Nascimento. Também faz apresentações divulgando obras de compositores poloneses para o público brasileiro, sempre acompanhado ao piano pela esposa, com a qual forma o Milewski Duo. Além disso, faz “Concertos Didáticos” em escolas e universidades, mas também com crianças da mais tenra idade. Às vezes é solicitado para ser jurado em concursos internacionais, e seu currículo ainda inclui turnês pelo Canadá (1998-99) e Escandinávia (1999-2000). Este “Ensemble – Duas suítes instrumentais de Luiz Eça”, no qual o violino de Jerzy Milewski se une ao piano do notável músico brasileiro, é um ponto altíssimo na discografia de ambos. Produzido por Milewski, com a participação do baterista e percussionista  Robertinho Silva, e do contrabaixista Luiz Alves, e editado com o selo JAM, pertencente ao violinista, é um trabalho que contou com o patrocínio da Nestlé, empresa alimentícia de origem suíça, que se instalou no Brasil no início do século passado. O resultado não poderia ser outro: um LP de indiscutível qualidade técnica e artística, muitíssimo bem cuidado.  A parte gráfica também merece destaque, com a capa dupla repleta de informações sobre os intérpretes, os músicos acompanhantes e o álbum em si. É mais um trabalho primoroso que o TM orgulhosamente nos apresenta, digno de figurar no acervo de todos os que apreciam a melhor música instrumental do Brasil.

duro na queda

imagem

alegria de viver

sempre será

daniele

lá vamos nós

tranquilamente

dolphin

três minutos para aviso importante

melancolia

mestre bimba

*Texto de Samuel Machado Filho

Paulo Barreiros – Violão Amigo (1959)

Violonista, compositor, arranjador e professor de violão. Trata-se de Paulo Medeiros, autêntico virtuose das cordas, que o TM focaliza hoje. Paulo veio ao mundo na cidade de Botucatu, interior de São Paulo, em janeiro de 1909. Teve suas primeiras aulas práticas de violão com Silvério Paes. Angelino de Oliveira (autor, entre outras, do clássico “Tristeza do jeca”) deu-lhe os primeiros conselhos práticos no campo da composição popular, como também Guido Bisacó e Mário Cacace, este último professor de canto orfeônico. Paulo aprofundou seus estudos de violão, teoria musical e harmonia deslocando-se periodicamente para São Paulo. Foi aluno dos professores Atílio Bernardini e Isaías Sávio, e estudou também no Conservatório Paulista de Canto Orfeônico, sob a direção do maestro Batista Julião. Nessas idas e vindas, conheceu e atuou com grandes nomes que despontavam para o mundo violonístico, caso de Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, Ângelo Apolônio, o Poly, Laurindo de Almeida e Aymoré.  No Rio de Janeiro, Paulo Barreiros foi aluno de orquestração e regência do maestro Guerra Peixe. Trabalhou como músico profissional ao lado de outros grandes nomes da MPB e foi ativo membro-fundador da Sadembra (Sociedade Arrecadadora de Direitos de Execução Musical do Brasil). Deixou um substancial número de composições próprias e transcrições para o violão e, entre suas obras, destacam-se: “Coração de poeta”, “Choro típico” (números 1 e 2), “Velha saudade”, “Canção de outono”e “Mara”. Transcreveu para o violão obras de compositores eruditos (Bach, Liszt, Beethoven, Chopin) e populares (Ary Barroso, Dorival Caymmi, Ernesto Nazareth, Lírio Panicalli, etc.), revelando-se habilidoso arranjador, talvez um dos melhores de sua geração. Como violonista, formou ainda, juntamente com o professor Aymoré ao violão-baixo, e Manoel Marques na guitarra portuguesa, um trio que se apresentou durante muito tempo em programas de rádio, televisão e teatros por todo o Brasil. Paulo Barreiros faleceu em São Paulo, em março de 2004, com a avançada idade de 95 anos,  deixando gravados dois LPs-solo, além de outros acompanhando cantores como Roberto Fioravante e Ely Camargo. E é justamente seu primeiro LP como solista de violão editado pela Chantecler, em 1959, que o TM hoje oferece a seus amigos cultos, ocultos e associados. Trata-se de “Violão amigo”, que mereceu um entusiasmado texto de contracapa assinado por Moraes Sarmento, então notório apresentador de programas musicais de cunho saudosista na Rádio Bandeirantes de São Paulo. Neste disco, teremos oportunidade de ouvir alguns de seus notáveis arranjos para violão, de peças como “Aquarela do Brasil” e “Na Baixa do Sapateiro”, do mestre Ary Barroso, os tangos “El choclo” e “La cumparsita”, o dobrado “Capitão Caçulo” (conhecido também como “Canção do Exército” ou “Canção do soldado paulista”), além de trabalhos assinados por Armandinho (“Guru”, “Doloroso” e “Sempre no meu coração”) e Santana (“Sublime esperança”). O segundo LP de Paulo Barreiros, “Um violão em duas épocas”, só sairia em 1963, e ambos os discos seriam relançados juntos em CD com o título de “Violão brasileiro”. E o TM oferece hoje uma rara oportunidade, através deste primeiro LP, de apreciarmos o talento e a versatilidade deste notável violonista, tanto como arranjador quanto como executante, que infelizmente poucos brasileiros conhecem ou sequer sabem que existiu. Confiram…

aquarela do brasil

el choclo

guru

la cumparsita

concerto d’autunno

doloroso

na baixa do sapateiro

sublime esperança

marcha dos marinheiros

sempre no meu coração

moonlight fiesta

capitão caçula

*Texto de Samuel Machado Filho

Osmar Milito – Nem Paletó Nem Gravata (1973)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Trago para vocês um disco que há tempos espera a sua vez de ser postado por aqui. Temos hoje o álbum ‘Nem paletó, nem gravata”, do pianista, cantor e compositor Osmar Milito. Lançado em 1973 pela Continental através do selo internacional Atco, o lp nos traz um repertório de 13 faixas com músicas, muitas famosas, de diversos outros artistas. Apenas a música “Mais cedo ou mais tarde” que é uma parceria dele com a cantora Lilian Knapp, da dupla Lilian & Leno. O disco, no geral, é muito bom e certamente carrega nele o espírito genial de 73. Um ano mágico para a música. Uma das melhores safras da música popular brasileira. Confiram…

eu dei
a briga
bom conselho
mais cedo ou mais tarde
morre o burro fica o homem
um jeito novo de viver
nem paletó, nem gravata
dose pra leão
tem dendê
regra três
quem mandou
minhas razões
chiclete com banana

.

Ney de Castro – Brasilia An 2000 (1963)

O TM hoje oferece a seus amigos cultos, ocultos e associados um álbum produzido na França, porém com muito de brasileiro em sua concepção. Trata-se de “Brasília an 2000 – Rythmes à go go” (é “an” mesmo, sem “o”!), lançado por volta de 1960 (ano de inauguração da atual capital do Brasil), mais ou menos, pela gravadora Le Chant du Monde, fundada em 1938 por Léon Moussinac e até hoje em franca atividade, com um catálogo em que predominam títulos de música erudita e jazz. Sobre o responsável por este trabalho, Ney de Castro, quase nada se sabe. Por certo é (ou era) brasileiro radicado na França. O fato é que se trata de um álbum de cunho futurista, a começar pelo título, em que se utilizaram exclusivamente instrumentos de percussão, perfazendo um total de sete faixas. Além dos tradicionais pandeiro, reco-reco, agogô, bateria, berimbau, etc., usaram-se placas de metal, garrafas e até mesmo a voz humana. Uma produção, como se percebe,  bastante criativa, tornando  este disco único. No lado A, reproduz-se a batucada do carnaval carioca, e do maracatu do Recife, além de movimentos representando a Amazônia e os índios, já demonstrando preocupações de cunho ecológico. No lado B, após a faixa “Parapapa”, são destacados dois monumentos arquitetônicos de Brasília, o Palácio da Alvorada e a catedral, que por sinal está na capa deste disco, em foto tirada quando ainda estava em construção.  Enfim, um trabalho de primeira linha, no qual a percussão é utilizada com muita criatividade, procurando reproduzir com a máxima fidelidade os ritmos brasileiros. Verdadeira explosão rítmica que o TM oferece com a satisfação de sempre. E agora… que comece a batucada, maestro!
PS. Augusto TM: Ao que tudo indica, Ney de Castro parece ser o mesmo artista já postado aqui, em um lp gravado na Polônia, sob o título “Melodias do Brasil – De Castro“.

batucada
mracatú
chasse en amazonie
le chagrin de l’indien
parapapa
palácio da alvorada
cathedral de brasília

*Texto de Samuel Machado Filho

Lucien Studart – Quem Dera… (1957)

Olá amiguíssimos cultos e ocultos! Vez por outra eu também dou as caras por aqui, ok? Hoje é uma dessas vezes. Tenho tempo e um pouco de disposição. Então vamos lá…
Trago hoje para você um lp dedicado ao grande Herivelto Martins. Naquele ano de 1957 ele completava 25 anos de carreira artística e em sua homenagem a gravadora Sinter lançou o álbum “Quem dera”, título de uma de suas famosas composições, tendo como solista principal a pianista Lucien Studart. O disco, como se pode ver pelas fotos e na contracapa, traz um repertório amplo, com até 17 composições, sendo que em algumas faixas temos até três músicas. Trata-se de um disco instrumental que bem nos lembra outra pianista, a Carolina Cardos de Menezes. A propósito, Lucien Studart é hoje uma desconhecida. Pouco, ou quase nada, podemos encontrar sobre ela na internet. Pelo nome, eu suponho que seja uma artista estrangeira, que como outros passaram pelo Brasil deixando lá algum contribuição. Qualquer referência se limita aos discos por ela gravado e pelo que vi, foram pouquíssimos. Qualquer informação complementar será muito bem vinda.

ela
praça onze
laurindo
lá em madureira
palhaço
rei sem coroa
duas lágrimas
não posso nem comigo
se é por falta de adeus
e o vento levou
a lapa
segredo
caminhemos
madrugada
quem dera
fidelidade
bonita

.

Sandoval Dias – Um Saxofone Em Hi-Fi (1957)

Saxofonista, trompetista, clarinetista e arranjador, muito admirado entre os grandes nomes musicais de seu tempo. Este é o perfil de Sandoval Dias, que o TM põe novamente em foco no dia de hoje. Foi no dia 4 de maio de 1906, na capital baiana, Salvador, que ele veio ao mundo, com o nome completo de Sandoval de Oliveira Dias. Filho de músico, iniciou seus estudos de harmonia, solfejo e teoria musical ainda em Salvador, com Vivaldo Figueiredo, aos doze anos de idade.  Em 1921, Sandoval muda-se para a então capital da República, o Rio de Janeiro. Um ano depois, já participava da banda de música de Arcozelo, interior fluminense, dirigida por ele. Em 1927, troca o trompete pelo sax-tenor, instrumento que o celebrizou. Dois anos mais tarde, inicia sua carreira artística, tocando na Orquestra Pan American Jazz, no Cassino Assyrio. Pouco depois, excursionou com a companhia de revistas teatrais do ator Raul Roulien. Sandoval teve intensa atuação como músico de orquestra no Rio de Janeiro, a partir da década de 1930. É quando participa pela primeira vez de uma gravação, executando ao sax a música “Deliciosa”, junto com a orquestra de Harry Kosarin. Em 1931, passa a atuar na Orquestra Victor Brasileira, que acompanhava os cantores nas gravações da marca do cachorrinho Nipper, sob a direção do mestre Pixinguinha. Dois anos mais tarde passa-se para a orquestra de Napoleão Tavares, que atuava na Rádio Mayrink Veiga. A partir de 1938, exerce sua arte de saxofonista tocando em diversos cassinos: na Urca, com a orquestra de Romeu Silva, no de Icaraí, com a orquestra do maestro Sousa, e no Cassino Copacabana, com a orquestra do palestino Simon Bountman. Em 1941, é contratado pela lendária PRE-8, Rádio Nacional, onde permaneceria por vinte anos, tocando sob a regência de autênticos “cobras”: Léo Peracchi, Lírio Panicalli, Radamés Gnattali, Fon-Fon, Chiquinho, Aristides Zaccarias, etc., participando assim, das grandes orquestras da Era do Rádio. Em março-abril de 1952, lança seu primeiro disco, em 78 rpm, pela Continental, executando dois choros  de Radamés Gnattali: “Pé ante pé” e “Amigo Pedro”. Em 1957, organiza seu próprio conjunto, e, um ano depois, grava as “Brasilianas” números 7 e 8,  de Radamés Gnattali, que as dedicou ao próprio Sandoval e até participou da gravação do LP, ao lado dele e da pianista Aida Gnattali, esposa de Radamés. Em 1961, Sandoval transfere-se para a Rádio MEC, onde atuou como claronista (clarinete-baixo) na Orquestra Sinfônica Nacional do MEC, sob a regência de Eleazar de Carvalho. Mais tarde, na mesma emissora, atua no grupo Os Boêmios, com repertório que misturava sambas, chorinhos, valsas e sambas-canções. Sandoval Dias aposentou-se nos anos 1970, e passou a dedicar-se á regência de bandas, nas cidades fluminenses de Cordeiro e Nova Friburgo. Mais tarde, assume a função de maestro da Banda Civil do Rio de Janeiro, que exercerá até 1993, quando vem a falecer, no dia 6 de setembro, com a avançada idade de 93 anos.  Entre 1957 e 1965, Sandoval Dias gravou um total de catorze LPs, a maior parte na Sinter e em sua sucessora, a Philips/Polydor. E o TM traz hoje para a apreciação de seus amigos cultos, ocultos e associados, exatamente o primeiríssimo álbum dele. É “Um saxofone em hi-fi”, lançado em 1957 pela Sinter. Era um tempo, nunca é demais lembrar, em que os chamados discos “dançantes”, com orquestras e conjuntos, eram produtos que vendiam bastante, ideais para animar bailes e festas em residências e salões que não dispunham de música ao vivo. Para ajudar na venda do disco, foi posta na capa uma foto da atriz norte-americana Jayne Mansfield, verdadeiro “sex symbol” da época, vestindo “baby-doll” preto! Com texto de contracapa do compositor J. Cascata, que inclusive relata o entusiasmo do mestre Pixinguinha ao ouvir  o disco, ainda em fita, este álbum tem uma maravilhosa seleção musical, na qual se comprova sua preferência por canções românticas e dançantes, nas quais sentia-se muito á vontade para impor seu fraseado envolvente, suave, repleto de emoção, como aliás bem registra seu sobrinho Gilberto Gonçalves em seu blog “Na era do rádio”. Entre pérolas de sucesso dessa época (“Pensando em ti”, “No rancho fundo”, “Around the world”, “Love letters in the sand’, “Maria la ô”, etc.), o destaque fica por conta das “Czardas”, de Monti, mais apropriada para cordas e de execução difícil, mas aqui brilhantemente apresentada ao saxofone por Sandoval Dias, e em ritmo de samba, numa gravação espetacular , antológica e bastante elogiada, suficiente, por si só, para alçar o nosso Sandoval à condição de um dos maiores músicos de seu tempo. Um disco que, como também informa o Gilberto Gonçalves, nos traz saudosas recordações de uma época romântica e musical, quando tudo que se fazia era alimentado pela música que vinha de um aparelho de rádio. E era com fundos musicais como os deste álbum que o TM nos oferece, que se vivia nesse tempo. Verdes anos…

pensando em ti
love letters in the sand
maria lá o
encabulado
dejame en paz
neptuno18
nereidas
no rancho fundo
autumm leaves
czardas
aroud the world
deixa o meu coração cantar

*Texto de Samuel Machado Filho

Anastácia – 30 Anos De Forró (1985)

Um dos maiores nomes da música regional nordestina é posto em foco hoje no TM. Estamos falando de Anastácia, na pia batismal Lucinete Ferreira. Ela é pernambucana do Recife, onde nasceu no dia 30 de maio de 1941. E foi muito cedo, aos sete anos de idade, que surgiu seu interesse pela música, acompanhando um cantador de cocos no bairro de Macaxeira, onde residia. Iniciou sua carreira artística em 1954, cantando na Rádio Jornal do Commércio, de seu Recife natal, cujo slogan era “Pernambuco falando para o mundo”. Seu repertório compunha-se, basicamente, de músicas que faziam sucesso no Sul do Brasil, inclusive hits da então rainha do rock nacional, Celly Campello. Em 1960, Anastácia transfere-se para São Paulo, e passa a interpretar gêneros nordestinos.  Fez shows pelo interior paulista, participando da “Caravana do peru que fala”, comandada por nada mais nada menos do que Sílvio Santos, apresentando-se em seguida ao lado da dupla Venâncio e Curumba. Um ano mais tarde, em setembro de 1961, é lançado seu primeiro disco, no selo Sertanejo da Chantecler, um 78 rpm com as músicas “Noivado longo” (rancheira) e “Chuliado’ (baião), aparecendo no selo como Lucinete. Mais tarde, por sugestão do cantor e compositor sertanejo Palmeira, então dirigente da Chantecler e, depois, da Continental, muda seu nome artístico para Anastácia. Em 1963, ela tem sua primeira composição gravada, “Conselho de amigo”, de parceria com Italúcia, na voz de Noite Ilustrada. Em 1965, lança seu primeiro LP, pela Continental, “Anastácia no forró”.  Seguem-se mais três álbuns nessa marca, que obtêm sucesso especialmente no Nordeste. Daí por diante, Anastácia não parou mais… Em meados dos anos 60, num programa que Luiz Gonzaga apresentava na extinta TV Continental, do Rio de Janeiro, ela conheceu Dominguinhos, com quem se casou, participou de uma caravana artística ao lado de Gonzagão e fez uma parceria musical que resultou em mais de 50 músicas, entre elas sucessos como “De amor eu morrerei”, “Eu só quero um xodó” (maior hit autoral da dupla, popularizado por Gilberto Gil e merecedor de inúmeras regravações), “O bom tocador” e “Contrato de separação”. É também autora, sem parceiro, de um dos maiores sucessos de Ângela Maria, “Amor que não presta não serve pra mim”, de 1973. Com mais de trinta álbuns gravados, Anastácia continua sendo um dos maiores nomes do forró. Teve também músicas gravadas por Nana Caymmi, Jane Duboc , Dóris Monteiro, José Augusto, Cláudia Barroso, e pelos internacionais Paul Mauriat, Timmy Thomas e Ornella Vanoni.  Da vasta bagagem fonográfica de Anastácia, o TM hoje oferece, a seus amigos cultos, ocultos e associados, “30 anos de forró”,  lançado em 1985 pela Continental. Evidentemente, a produção é caprichada, com arranjos a cargo da própria Anastácia, Osvaldinho do Acordeom e Gino Vicente, e convidados muito especiais: Gilberto Gil (que com ela revive “Eu só quero um xodó”, logo na faixa de abertura) e Belchior (que canta com ela o clássico ‘Vozes da seca”, de Gonzagão e Zé Dantas).  No restante do programa, composições da própria Anastácia em parceria com Dominguinhos (“Sanfoneiro de pé de serra”, “Que diabo tem você?”), Zé Carlos (“Fogueirão do amor”), Zé Lagoa (“Forró dos coroas”), Geraldo Nunes (“Amor na rede”), Hélio Alves (“A hora do frevo”), Ciríaco (“Sorte tirana”), Hélio Andrade (“O toque do Mané”) e, sem parceria, “O sucesso da Zefinha”. Tudo terminando com um animadíssimo pot-pourri de forró, incluindo uma música sua com Dominguinhos, “Tenho sede”. Em suma, um impecável trabalho de Anastácia, no qual ela demonstra todo seu talento como autora e intérprete, firmando-se, com justiça, como uma das mais expressivas estrelas da música regional nordestina. Puxa o fole, maestro!

eu só quero um xodó

fogueirão do amor

sanfoneiro de pé de serra

que diabo tem você

forró dos coroas

vozes da seca

o sucesso da zefinha

amor na rede

a hora do frevo

sorte tirana

o toque do mané

pot pourri

*Texto de Samuel Machado Filho

Jota Junior e Seu Conjunto – Nova Bossa Nova (1966)

De vez em quando, os pesquisadores da MPB se deparam com certas incógnitas. E este vem a ser o caso do álbum que o TM hoje oferece a seus amigos cultos, ocultos e associados. Trata-se do único LP do pianista Jota Júnior e seu conjunto, denominado “Nova bossa nova”, lançado em 1966 pela Musidisc de Nilo Sérgio. Quase nada se sabe a respeito desse músico. Há rumores de que ele teria sido pianista de um outro grupo, denominado Bwana Trio, que gravou um álbum posterior a este aqui, em 1970. De qualquer forma, este “Nova bossa nova” é de um tempo em que esse importante movimento musical, que sempre deu ibope aqui no nosso TM, ainda respirava, mesmo em plena época de Jovem Guarda e festivais.  E no qual predomina o sambalanço bem ao estilo de Ed Lincoln, então também contratado da Musidisc, tipo de música então ideal para as festas e bailes desse tempo. Quase todo o repertório deste disco é formado por trabalhos até então inéditos, assinados por compositores diversos, que foram apresentados pela primeira vez em disco justamente aqui. E com direito a regravações dos clássicos internacionais “Melodie d’amour” e “Lavadeiras de Portugal”.  Deste trabalho, inclusive, a gravadora extraiu dois compactos simples, o primeiro com as faixas ”Vendedor de triguilim” e “Bate a palma”, e o segundo com “O trenzinho” e “O molejo dela”. Um disco, no todo, bastante desfrutável, com Jota Júnior e seu conjunto apoiados por um bom coral de vozes, repleto de “rasteirinhas” muito bem gingadas,  e a alta qualidade característica dos trabalhos fonográficos da Musidisc. Sendo, portanto, merecedor de mais esta postagem de nosso TM, para satisfação de todos os que apreciam o melhor de nossa música popular. É só conferir…

molejo dela

trenzinho

vendedor de trimguilim

melodie d’amour

bate a palma

bop no balanço

marraio

leva

balanceando

ilusão demais

menina tola

lavadeiras de portugal

*Texto de Samuel Machado Filho

Orquestra Rádio – Sambolandia (1958)

Ritmo brasileiro por excelência, o samba é a atração deste fascinante álbum que o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados. Ele foi lançado em 1958 por uma gravadora que lançou exclusivamente “long-playings”, a Rádio. A empresa originou-se da Rádio Serviços e Propaganda, e teve até sua própria fábrica, na cidade de Petrópolis, região serrana fluminense, dispondo até de uma gráfica para imprimir as capas de seus vinis. Foi lá que o pianista Waldyr Calmon lançou seu primeiro LP, o dez polegadas “Ritmos melódicos”, embrião de outras séries de álbuns que gravaria nos anos seguintes, como “Feito para dançar” e “Para ouvir amando”.  Outros cantores e instrumentistas também lançaram LPs pela Rádio, tais como Sílvio Caldas, Onéssimo Gomes, Trio Nagô, Marília Batista (que gravou o primeiro álbum da história da Rádio, “Poeta da Vila número 1”, em 1952), Edu da Gaita, Claudionor Cruz, Fats Elpídio, Raul de Barros e o Conjunto Farroupilha. A direção musical da Rádio estava a cargo do maestro e compositor Aldo Taranto, sobre quem pouca coisa se sabe. Ele nasceu no Rio de Janeiro, em 8 de novembro de 1906, e, como compositor, fez músicas em parceria com Mário Rossi, Oswaldo Santiago, Ary Barroso, Walfrido Silva e André Filho. Suas obras foram gravadas por inúmeros cantores de expressão, como Sílvio Caldas, Gastão Formenti, Cármen Miranda, Dircinha Batista, Moreira da Silva e Ângela Maria. É justamente Aldo Taranto o responsável pelas orquestrações e regências do disco que o TM hoje nos oferece, parte de uma série da Rádio denominada “Discos para dançar”. O título, “Sambolândia”, deixa bem claro o conteúdo. É um LP composto exclusivamente de sambas, e, conforme registra a contracapa, foi gravado por solicitação dos donos de lojas de discos, que então recebiam a visita de inúmeros turistas que procuravam álbuns de samba. Evidentemente, a Rádio atendeu  a tais solicitações, e o resultado, primoroso, aí está. Foram escolhidos dez clássicos sambísticos, bastante conhecidos até hoje. E o mestre de Ubá, Ary Barroso, assina a metade das faixas, quer dizer, cinco: “Eu nasci no morro”, ‘Pra machucar meu coração”,”Morena boca de ouro”, “Rio” e “Faixa de cetim”. No repertório também está “Não tenho lágrimas”, de Max Bulhões e Mílton de Oliveira, que, curiosamente, seria sucesso internacional um ano depois, ao ser gravado em português pelo norte-americano Nat King Cole durante temporada no Brasil. “Abre a janela”, “Nêga maluca”, “É Bom parar” e “Se alguém disse” completam este trabalho dedicado ao samba, com orquestrações vibrantes e expressivas. Portanto, este trabalho hoje oferecido pelo TM é uma deliciosa viagem ao alegre mundo da “Sambolândia”. Apertem os cintos e divirtam-se, ouvindo e dançando estes sambas clássicos e antológicos!

abre a janela

nêga maluca

se alguém disse

eu nasci no morro

pra machucar meu coração

morena boca de ouro

não tenho lágrimas

é bom parar

rio

faixa de cetim

*Texto de Samuel Machado Filho

Orquestra Brasileira De Espetáculos – Italia De Hoje (196…)

Olá amiguíssimos cultos e ocultos, como já deu para perceber, as resenhas de nossas postagens tem ficado a cargo do nosso amigo/colaborador Samuel Machado Filho. Mas, eventualmente eu também dou as caras por aqui…
Trago hoje para vocês um lp da Orquestra Brasileira de Espetáculos, da gravadora CBS, lançado certamente ainda na primeira metade da década de 60. A data, mesmo pesquisando eu não encontrei. O disco, como pode-se ver pelo título, “Itália de Hoje”, traz um repertório de músicas italianas, sucessos então do momento. Aliás, na década de 60 a música italiana esteve muito em voga, talvez por conta do cinema europeu que ajudou a projetar também a música. Mas o que nos chama mais a atenção aqui é o trabalho dessa magnífica orquestra de estúdio, sob a batuta do mestre Radamés Gnattali. É de dar inveja até às versões originais. Orquestra cristalina… 🙂

amici miei
perché non piango piú
tu non lo sai
devi recordar
el abrazo
ho scolpito il tuo nome
ieri ho incontrato mia madre
quando lo rivedrai
cielo muto
amore scusami
non e facile avere 18 anni
come sinfonia
era d’estate
aria di neve
.

Mílton Carlos – Largo do Boticário (1976)

O Toque Musical novamente apresenta um dos nomes mais representativos da MPB na década de 1970, e que o destino, infelizmente, levou muito cedo. Estamos falando de Mílton Carlos Fantucci, ou simplesmente Mílton Carlos.  Ele veio ao mundo no dia 13 de novembro de 1954, na cidade de São Paulo, e era irmão e parceiro da também cantora e compositora Isolda, de quem o TM já postou seu primeiro álbum como cantora-solo.  Nosso Mílton começou a se interessar pela música ainda criança, fazendo histórias e músicas para teatrinhos de bonecos, juntamente com a irmã. Ambos, inclusive, atuaram como “backing vocals” (ou seja, fazendo coro) em gravações de cantores consagrados.  No início dos anos 70, embora muito jovens, Mílton e Isolda já tinham suas músicas gravadas por nomes como Antônio Marcos, Maria Creuza e o conjunto Os Incríveis. E, em 1973, a dupla se consagra definitivamente quando o “rei” Roberto Carlos grava  “Amigos, amigos”, que constitui-se no primeiro grande hit autoral de ambos.  De Milton e Isolda, Roberto ainda gravaria “Jogo de damas” (1974), “Elas por elas” (1975), “Pelo avesso’ e “Um jeito estúpido de te amar” (ambas em 1976). Eles ainda teriam músicas gravadas por Wando (“Amanhã é outro dia”, “Na boca do povo”), Ângela Maria (“Nunca mais”) e Agnaldo Rayol (“Eu levo uma cruz na corrente”).  E o próprio Mílton Carlos também gravaria algumas de suas músicas com Isolda, com aquela voz fina e infantil que muitos a princípio pensaram ser de mulher!  Sua estreia como intérprete acontece em 1974, quando grava um compacto duplo pela RCA, com uma música de autoria de Martinha, “Eu queria”, e outras três que compôs com a irmã Isolda, “Um presente pra ela”, “Amici, amici (Amigos, amigos)” e “Samba quadrado”, esta última constituindo-se em sucesso absoluto de execução e projetando Mílton Carlos nacionalmente. “Samba quadrado” ainda foi, em 1975, faixa-título e de encerramento do primeiro LP de Mílton, que ainda teve outro hit até hoje lembrado, “Memórias do Café Nice”, de Artúlio Reis e Monalisa.  Infelizmente, Mílton Carlos morreria prematura e tragicamente, pouco antes de completar 22 anos de idade, no dia 21 de outubro de 1976, em desastre de automóvel, quando vinha de Jundiaí para São Paulo, a bordo de seu Passat. O acidente aconteceu em um trecho da Via Anhanguera, quando o carro do cantor tentou ultrapassar uma carreta Scania-Vabis e colidiu com um caminhão Chevrolet. Com o choque, o Passat de Mílton desgovernou-se e foi colhido pela carreta. Ele e sua noiva, a também cantora Mariley Lima, que estava com ele, morreram na hora, mas o empresário Genildo Oliveira, que viajava no banco de trás, teve apenas ferimentos leves.  Apesar de abalada com o acidente que levou o irmão e parceiro, Isolda continuou compondo suas canções, e foi justamente em um momento de grande saudade de Mílton, como vocês já sabem,  que ela escreveu seu maior hit autoral, “Outra vez”, gravado em 1977 por Roberto Carlos e lembrado até hoje. Pois o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados o segundo e último LP que Mílton Carlos lançou em vida (houve um terceiro, com gravações inéditas, lançado após sua morte, em 1978, e já postado aqui no TM). Trata-se de “Largo do Boticário”, de 1976, produzido com todo o aparato técnico e artístico que então caracterizava as produções fonográficas da RCA, hoje Sony Music.  Com a coordenação de Marcelo Duran, e produção, teclados e arranjos do sempre eficiente Sérgio Sá, Mílton Carlos apresenta um excelente repertório, a começar pela faixa-título e de abertura, que compôs em parceria com Artúlio Reis, e que segue a linha saudosista de “Memórias do Café Nice”, hit do disco anterior. Da parceria com a irmã Isolda, ele regrava “Elas por elas”, já sucesso com Roberto Carlos, e apresenta as então inéditas “Me mata”, “Último samba-canção”, “Uma valsa, por favor”, “Vexame” e “Um acalanto”, que encerra o disco. Há ainda composições do produtor do disco, Sérgio Sá, em parceria com o próprio Mílton (“Hora do jantar”) e Antônio Marcos (“Da janela”), e da dupla Edson Conceição e Aloísio (“Zé Biriba”), com direito a regravações dos clássicos “Dorinha, meu amor” (samba de José Francisco de Freitas) e “Alguém me disse” (bolero da profícua parceria Evaldo Gouveia-Jair Amorim).  Tudo isso num trabalho imperdível e histórico, onde poderemos conferir, mais uma vez, todo o talento e a musicalidade de Mílton Carlos, e lamentar que o tenhamos perdido de forma tão trágica e prematura. Enfim, coisas do destino…

largo do boticário

da janela

me mata

alguém me disse

hora do jantar

elas por elas

dorinha meu amor

último samba canção

uma valsa por favor

vexame

zé biriba

um acalanto

*Texto de Samuel Machado Filho

Luiz Eça & Jerzy Milewski Ensemble – Duas Suítes Instrumentais (1988)

Após os dois volumes de “Piano e cordas”, o TM tem a honra de oferecer a seus amigos cultos, ocultos e associados mais um primoroso trabalho de Luiz Eça (1936-1992), músico, arranjador e compositor que deu extraordinárias contribuições para a nossa música. E desta vez ele está muitíssimo bem acompanhado, ao lado do violinista Jerzy Milewski, polonês de Varsóvia, nascido a 17 de setembro de 1946 e naturalizado brasileiro. Milewski começou sua carreira bem cedo, aos seis anos de idade. Graduou-se pela Academia de Música de Varsóvia, onde também fez um mestrado. Foi solista e membro da Orquestra de Câmara da Filarmônica Nacional da Polônia, com a qual tocou, na Europa, América e Ásia. Recebeu do governo polonês a Medalha Henryk Wienawski. Em 1968, conheceu, em sua Polônia natal, a pianista brasileira Aleida Schweitzer, com quem se casou, e ambos residem no Brasil desde 1971. Aqui gravou álbuns diversos interpretando composições de “cobras” da MPB, como Djavan e Mílton Nascimento. Também faz apresentações divulgando obras de compositores poloneses para o público brasileiro, sempre acompanhado ao piano pela esposa, com a qual forma o Milewski Duo. Além disso, faz “Concertos Didáticos” em escolas e universidades, mas também com crianças da mais tenra idade. Às vezes é solicitado para ser jurado em concursos internacionais, e seu currículo ainda inclui turnês pelo Canadá (1998-99) e Escandinávia (1999-2000). Este “Ensemble – Duas suítes instrumentais de Luiz Eça”, no qual o violino de Jerzy Milewski se une ao piano do notável músico brasileiro, é um ponto altíssimo na discografia de ambos. Produzido por Milewski, com a participação do baterista e percussionista  Robertinho Silva, e do contrabaixista Luiz Alves, e editado com o selo JAM, pertencente ao violinista, é um trabalho que contou com o patrocínio da Nestlé, empresa alimentícia de origem suíça, que se instalou no Brasil no início do século passado. O resultado não poderia ser outro: um LP de indiscutível qualidade técnica e artística, muitíssimo bem cuidado.  A parte gráfica também merece destaque, com a capa dupla repleta de informações sobre os intérpretes, os músicos acompanhantes e o álbum em si. É mais um trabalho primoroso que o TM orgulhosamente nos apresenta, digno de figurar no acervo de todos os que apreciam a melhor música instrumental do Brasil.

duro na queda

imagem

alegria de viver

sempre será

daniele07

lá vamos nós

tranquilamente

dolphin

três minutos para aviso importante

melancolia

mestre bimba

*Texto de Samuel Machado Filho

Radamés Gnatalli – Radamés E Sua Bossa Nova (1961)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Passado o Carnaval, vamos voltar a Bossa Nova, que como sempre dá muito ibope. Hoje eu trago para vocês um raro e quase obscuro disquinho de 7 polegadas, o famoso ‘compacto’. Um disco de 45 rpm (que o torna ainda mais raro) de bossa nova, do grande maestro e precursor do mais famoso gênero musical brasileiro. Esta pequena preciosidade me foi enviada pelo amigo Hélio Mauro, a quem eu muito agradeço a generosidade. Antes de postá-lo, procurei dar uma melhorada no som e no GTM vocês irão encontrar este compacto duplo com suas faixas replicadas, possibilitando assim a escolha entre duas versões de cada faixa.
Neste joinha, vamos encontrar, abrindo o lado A, “Cheiro de saudade”, de Djalma Ferreira e Luiz Antonio; “Chora tua tristeza”, de Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorini; “Samba de uma nota só”, de Tom Jobim e Newton Mendonça e fechando, “Pior pra você”, samba de Evaldo Gouveia e Almeida Rego.
Como eu disse, este é um compacto bem obscuro, entre a produção fonográfica de Radamés. Procurei pelos quatro cantos da internet informações sobre ele e nada… Em nenhum dos mais importantes sites sobre o músico, sobre seus discos ou sobre a Bossa Nova… nenhuma referência, exceto as músicas que podem ser acessadas no Youtube. Faltou apenas perguntar para a minha fonte onde foi que ele conseguiu o compacto. Assim sendo, até mesmo a data de lançamento é uma dúvida. Considerando alguns diversos fatores, eu deduzi que o disco seja do início dos anos 60. Coloquei 1961 por ser uma data memorável (pelo menos para mim, foi quando eu nasci) e até que me provem o contrário. De resto, oque ainda nos falta são as informações artísticas, a ficha da gravação confirmando a presença do Chiquinho do Acordeon, Luciano Perrone… Confiram já no Grupo Toque Musical 😉

cheiro de saudade
chora tua tristeza
samba de uma nota só
pior pra você
.

Luiz Eça – Piano E Cordas Vol.2 (1970)

Em 1965, o notável músico e arranjador Luiz Eça (1936-1992), o Luizinho, lançou uma autêntica obra-prima, já oferecida a vocês pelo TM, “Luiz Eça & cordas”. Possivelmente, muitos que gostaram desse trabalho, de alto nível técnico e artístico, estavam esperando que o mesmo tivesse uma continuação. Pois é justamente  “Piano e cordas – volume 2”, lançado em 1970 pela mesma Philips, agora com o selo Elenco, que hoje oferecemos, com a satisfação e o orgulho de sempre, a nossos amigos cultos, ocultos e associados. Com a sempre eficiente produção de outro grande músico brasileiro, o capixaba Roberto Menescal, e arranjos a cargo do próprio Luiz Eça, este trabalho mantém a qualidade técnica e artística do primeiro volume, oferecendo treze faixas em autêntica roupagem de gala, com o piano de Luizinho e o notável reforço de uma orquestra de cordas. Três faixas são assinadas por ele mesmo: “Três minutos para um aviso importante” (com Novelli), “Daulphine” (sem parceiro) e “Oferenda” (que fez junto com a esposa Lenita, e foi defendida por Cynara e Cybele no Festival Internacional da Canção – FIC – de 1967). No restante do programa, temos hits do porte de “Preciso aprender a ser só”, dos irmãos Valle, “Pra dizer adeus”, de Edu Lobo e Torquato Neto, “Minha namorada”, clássico da parceria Carlos Lyra-Vinícius de Moraes, “Depois da queda”, assinada pelo próprio produtor desse disco, Roberto Menescal, e que foi inclusive tema da novela “Véu de noiva”, da TV Globo (o álbum com a trilha sonora já foi postado aqui no TM), “Duas contas”, inesquecível clássico do multi-instrumentista Garoto, a sempre lembrada “Travessia”, com a qual Mílton Nascimento despontou para a MPB, “Wave”, um dos trabalhos mais lembrados de outro mestre, Tom Jobim, e ainda duas composições de Dori Caymmi, “O homem entre o mar e a terra” e “Nosso homem em Três Pontas” (possivelmente uma homenagem a Mílton Nascimento).  Tudo com o alto padrão técnico de gravação que sempre caracterizou as produções fonográficas da Philips, fazendo este “Piano e cordas – volume 2”, a exemplo do primeiro, um trabalho digno de merecer mais esta postagem de nosso TM, para alegria e deleite de todos aqueles que apreciam o que é bom! Ótimas músicas, arranjos primorosos… Que mais se pode querer?

pra dizer adeus
três minutos para um aviso importante
daulphine
minha namorada
travessia
o homem entre o mar e a terra
wave
minha
nosso homem em três pontas
preciso aprender a ser só
depois da queda
duas contas
oferenda

*Texto de Samuel Machado Filho

Carnaval 76 – Convocação Geral Vol. 2 (1975)

Na sequencia carnavalesca temos então o segundo volume do projeto Carnaval 76 – Convocação Geral. Aqui também encontramos muita coisa boa, com destaque para Sérgio Sampaio, com a música “Cantor de rádio”, que viria no ano seguinte a fazer parte do seu lp “Sinceramente”. Tem Maria Alcina com “Paixão malagueta”, sucesso de vários carnavais, Alceu Valença no frevo “Pitomba pitombeira”. Moraes Moreira também vem de frevo na música “Satisfação”. Na contracapa podemos ver ainda a presença de veteranos com Jorge Veiga e Angela Maria. Tom e Dito também dão o recado na marchinha “Me larga, me solta, me deixa”. E ainda, Os Tincoãs e o maluco Osvaldo Nunes. É bom também lembrar do grande Waltel Branco, responsável pelos arranjos. Em resumo, um disco muito bom, com artistas de diferentes gravadoras. Puro espírito de carnaval.

paixão malagueta – maria alcina
a choradeira – oswaldo nunes
fazendo tudo – trama
quebra quebra guabiraba – os tincoãs
pitomba pitombeira – alceu valença
a roupa do gonça – jorge veiga
prenda minha no carnaval – angela maria
me larga me solta me deixa – tom e dito
satisfação – moraes moreira
cantor de rádio – sérgio sampaio
carnaval bloco do amor – renata lu

.

Carnaval 76 – Convocação Geral Vol. 1 (1975)

Boa tarde, amigos foliões, cultos e ocultos! Embora espaçadas as nossas postagens, eu não poderia deixar ficar em branco nossa festa maior, o Carnaval. Para não dizerem que eu não falei de flores, segue aqui alguns buquês. Vamos fazer aqui uma convocação geral e em duas chamadas 🙂
Trago hoje o volume 1 do Carnaval 76, Convocação Geral. Este lp já se tornou um clássico, pois traz em seu conteúdo uma série de marchinhas carnavalescas nas vozes de um variado leque de artistas. Ao contrário de tantas outras coletâneas dessa espécie, esta tem algo de original, pois apresenta gravações únicas, feitas exclusivamente para este projeto da gravadora Som Livre, que começou no ano anterior, quando então lançaram o Carnaval 75 – Convocação Geral, em álbum duplo (disco este já postado aqui). Muitos desses fonogramas são encontrados apenas nesses discos, o que os torna raros. Para o ano de 76 a gravadora decidiu desmembrar o álbum duplo em dois volumes. No primeiro, que postamos hoje temos 12 músicas, sendo quase todas sucessos memoráveis. Vale muito a pena ouvir esses discos, pois eles só costuma aparecer uma vez por ano 😉

a filha da chiquita bacana – caetano veloso
mangueira minha alegria – elza soares
prá lá de bagdá – fevers
carimbó no carnaval – jorge goulard
verde e branco – sonia santos
a tartaruga – blackout
kojak – nelson gonçalves
é nessa onda – conjunto nosso samba
quem for mulher que me siga – quarteto em cy
mexa-se – djalma dias
feliz de quem pode sambar – luiz ayrão
saudade poluída – cesar costa filho
.

Breno Sauer Quarteto – 4 Na Bossa (1966)

Hoje o TM põe em foco um dos mais criativos instrumentistas da época de ouro da bossa nova, que, apesar de ter feito grande sucesso no Brasil, hoje está totalmente esquecido : Breno Sauer.  Ele nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 1930 (ou 1935, não há certeza). Tanto seu pai como seus três irmãos também eram músicos. Ele começou tocando acordeom em um grupo regional, acompanhando calouros no rádio, também composto de violão, flauta, cavaquinho e pandeiro. Influenciado pelo quinteto de Art Van Damme, montou um grupo com a mesma formação, ou seja, guitarra elétrica, baixo, vibrafone, acordeom e bateria. Mais tarde, o próprio Breno passou a ser o vibrafonista. Com essa formação, grava seu primeiro LP  em 1959, “Viva o samba”. Um ano depois, lança “Viva a música”, com repertório essencialmente de bailes, tocando até mesmo o tema erudito “Pour Elise”, de Beethoven.  Em 1961, Breno Sauer transfere-se para Curitiba e forma um grupo para se apresentar em boates. De lá, vai para o eixo Rio-são Paulo, onde então estavam as melhores oportunidades de trabalho e desenvolvimento profissional. Grava mais quatro álbuns no Brasil até 1966, e, no ano seguinte, parte para uma turnê no México, já com seu grupo convertido em quarteto. Breno morou lá por um bom tempo, inclusive gravando, em terras mexicanas, um excelente LP com Leny Andrade. Em 1974, transfere-se para Chicago, nos Estados Unidos, e forma um grupo com músicos de diferentes nacionalidades residentes na América (brasileiro, japonês, cubano e norte-americano).  A base era: trompete, sax, piano, baixo, bateria, percussão e voz (no caso, a da esposa de Breno Sauer, Neusa). A princípio, o grupo se chamava Made in Brazil, mas como já havia um conjunto de rock com esse nome, este foi mudado para Som Brasil. Em 1983, o conjunto gravou o álbum “Tudo joia”, muito bem recebido pela crítica. Não se sabe se o grupo ainda está na ativa. Pois hoje o TM oferece a seus amigos cultos, ocultos e associados o quinto LP gravado por Breno Sauer no Brasil, quando seu grupo era um quarteto. Trata-se de “Quatro na bossa”, lançado em 1965 pela Musidisc de Nilo Sérgio, em que Breno está ao vibrafone, acompanhado pelo pianista Adão, o baixista Ernê e o baterista Portinho. Nele, um repertório que mescla standards da bossa nova (“Você”, “Sonho de Maria”, Sambossa”, “Estamos aí”, “O amor em paz”) e do blues (“My many shely”, “Blues for mother”) com direito até mesmo ao clássico “Terra seca”, do mestre Ary Barroso, em produção bem cuidada. Portanto, o TM oferece a vocês uma rara oportunidade de se conferir o talento e a musicalidade de Breno Sauer e, quem sabe, tirar seu nome do injusto esquecimento a que foi relegado.  É ouvir e conferir…

você

essa é nossa

blues for mother

estamos aí

olhou pra mim

sonho de maria

sambossa

amanhã

my many shely

baiãozinho

amor em paz

terra seca

 

*Texto de Samuel Machado Filho

Luiz Eça & Cordas (1965)

Hoje, o TM põe em foco mais um nome importantíssimo de nossa música popular, atuando como pianista, compositor, músico e arranjador. Estamos falando de Luiz Mainzi da Cunha Eça, ou simplesmente Luiz Eça, como ficou para a posteridade. Ou ainda Luizinho, como era chamado carinhosamente pelos amigos. Embora nascido no Rio de Janeiro, em 3 de abril de 1936, Luiz Eça era descendente do escritor português Eça de Queiroz, e foi tão importante para a música, tanto popular quanto erudita, quanto seu ilustre antepassado para a literatura. Seu primeiro contato com a música deu-se aos quatro anos de idade, quando ganhou de presente um pianinho de brinquedo.  A sua primeira professora foi a pianista russa Zina Stern, amiga de seus pais, que lhe ensinou durante quatro anos as técnicas de piano das escolas francesas e russas. Aos catorze anos, após um período de muita brincadeira e pouca música, voltou aos estudos sistemáticos, e apresentou seu primeiro recital, no Conservatório Brasileiro de Música, e também fez seu primeiro baile, no Clube Caiçaras, na Lagoa. Nessa época, início dos anos 1950, ocasião em que estudava no Colégio Mallet Soares, em Copacabana, passa a ter aulas de piano com aquela que ele próprio considerava sua grande mestra, Madame Petrus Verdier. Em 1951-52 atuou na lendária Rádio Nacional, junto com Garoto, o mago das cordas, com quem inclusive participou de algumas rodas de choro no sítio que ele possuía em Areal, RJ. Aos 17 anos, em 1953, passa a atuar como pianista na boate do Hotel Vogue, autêntico reduto da “high society” carioca, onde tinha grande trânsito com os estrangeiros que lá se hospedavam, por falar fluentemente inglês, francês e espanhol (com essa idade, Luiz só podia tocar na noite com permissão judicial).  Um ano mais tarde, ingressa no conjunto do acordeonista Sivuca, que seria seu amigo para o resto da vida e, depois, forma o Trio Penumbra, com Candinho ao violão e Jambeiro ao contrabaixo, que fazia apresentações na Rádio Mayrink Veiga.  Em 1955, como pianista do Trio Plaza, integrado ainda por Ed Lincoln no contrabaixo e Paulo Ney na guitarra, Luiz Eça faz sua estreia fonográfica, quando a etiqueta Rádio lança o LP “Uma noite no Plaza”. Depois desse álbum, Luiz Eça ganhou uma bolsa de estudos do então presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira, para estudar em Viena, capital da Áustria, onde teve aulas, entre outros grandes professores, com o pianista e compositor Friederich Guida. De volta ao Brasil, em 1962, Luizinho forma um dos mais importantes conjuntos da bossa nova: o Tamba Trio, ao lado do contrabaixista Bebeto e do baterista Hélcio Milito, sendo os três também vocalistas. O Tamba Trio foi, inclusive, o primeiro a fazer “pocket-shows” no Bottle’s Bar, que ficava no lendário Beco das Garrafas, catedral da bossa nova no Rio de Janeiro, e ainda fez excursões pela América do Norte e pela Europa.  Luiz Eça acompanhou e fez arranjos para muitos dos mais importantes nomes da MPB a seu tempo, como Maysa, Nara Leão, Carlos Lyra, Sylvia Telles, Edu Lobo, Mílton Nascimento, Flora Purim, Joyce Moreno, João Bosco, Luiz Gonzaga  e Nana Caymmi, entre tantos outros. Foi ainda professor de jovens músicos e atuou como pianista na casa noturna Chiko’s Bar, onde também gravou um disco ao vivo com um de seus maiores amigos, o pianista de jazz norte-americano Bill Evans, em 1979. Luiz Eça faleceu em 25 de maio de 1992, em seu Rio de Janeiro natal, aos  56 anos, de infarto fulminante, deixando, como se vê, um extenso currículo de serviços prestados à música brasileira. Dele, o TM oferece, orgulhosamente, a seus amigos cultos, ocultos e associados, o álbum que é talvez sua maior obra-prima. Trata-se de “Luiz Eça & cordas”, lançado em  1965 pela Philips. Produzido pelo próprio Luizinho, que, claro, está também ao piano, este disco contém primorosos arranjos (dele próprio, naturalmente)  para composições suas e de outros grandes nomes da bossa nova, como Edu Lobo, Baden Powell, Robereto Menescal e Durval Ferreira. Obras como “A morte de um deus de sal”, “Chegança”, “Primavera” e “Tristeza de nós dois” ganham roupagem de gala, com grande orquestra de cordas e participação do contrabaixista Bebeto, seu companheiro de Tamba Trio, do violonista Neco e do baterista Ohanna.  A contracapa do disco reproduz, inclusive, um entusiasmado telegrama de parabéns do então diretor artístico da Philips, Armando Pittigliani. Tudo isso faz de “Luiz Eça & cordas” um trabalho de qualidade inquestionável, merecedor, por todos os títulos, de mais esta postagem do nosso TM.É só conferir…

morte de um deus de sal

imagem

canção da terra

tristeza de nós dois

velho pescador

canção do encontro

chegança

primavera

consolação

saudade

quase um deus

amando

*Texto de Samuel Machado Filho

Momento Quatro – Momento 4uatro (1968)

Boa noite, prezados amigos cultos e ocultos! Hoje a resenha ‘fonomusical’ é minha. Trago, enfim, para as nossas ‘fileiras’ um lp que há tempos eu venho querendo postar. Vamos no embalo do Momento Quatro, um quarteto vocal que surgiu nos anos 60, junto aos festivais. Ganhou forma a partir do III Festival da TV Record, em 1967, acompanhando Edu Lobo e Marília Medalha na apresentação da festejada e memorável ‘Ponteio’. O Momento Quatro era formado por Zé Rodrix, Ricardo Villas, Maurício Maestro e David Tygel, figuras que após a efêmera existência do ‘M4’, seguiriam se destacando em outro importantes projetos. Zé Rodrix iria para o Som Imaginário, formaria um trio com Sá e Guarabyra, depois seguia em carreira solo. Ricardo Villas (antes Ricardo Sá) chegou a ser preso por conta da ditadura, se exilou na França e formou dupla com a cantora Teca Calazans. Maurício Maestro e David Tygel também se destacaram formando com Claudio Nucci e Zé Renato o conjunto vocal Boca Livre.
O Momento Quatro gravou apenas este lp, que hoje é um disco raro, afinal (e que eu saiba) nunca chegou a ser relançado. Tendo total liberdade de criação, o álbum ‘Momento 4uatro’ foi produzido ao gosto do quarteto, que nos apresenta um repertório fino, tanto autoral quanto de outros grandes nomes como Gilberto Gil, Milton Nascimento, Marcos Valle, Edú Lobo e mais… basta ver nos créditos da contracapa. Orquestrações de Rogério Duprat e arranjos vocais de Maurício Maestro. Um trabalho muito bacana que merece o nosso toque musical. Confiram lá no GTM 😉

passa ontem
três pontas
festa
dos caminhos longoestranhos até chegar junto dela
no brilho da faca
classe dominante
ele falava nisso todo dia
de luzia, ana e maria
irmão de fé
veleiro
proton elétron e neutron
litoral

.

Moacir Santos – The Maestro (1974)

“Tu que não és um só, és tantos, como o meu Brasil de todos os santos, inclusive meu São Sebastião”. Assim o Poetinha Vinícius de Moraes, em seu “Samba da bênção”, com melodia de Baden Powell, homenageou um dos principais arranjadores, multi-instrumentistas e compositores brasileiros, aquele que renovou a linguagem da harmonia no país. É Moacir Santos, que o TM põe hoje em foco.  Foi na cidade de Flores, no sertão pernambucano, que Moacir Santos veio ao mundo, no dia 26 de julho de 1926. Começou a tocar clarinete aos onze anos, e iniciou sua carreira tocando em bandas de música. Foi para o Recife ainda adolescente e, em seguida, excursionou com um circo pelo interior de Pernambuco. Nos anos 1940, trabalhou na Bahia, Ceará e Paraíba, e aprendeu a tocar saxofone. Em 1948, junta-se à Orquestra Tabajara de Severino Araújo e muda-se para o Rio de Janeiro, sendo logo contratado pela lendária Rádio Nacional. Conhecido por seu virtuosismo, ainda dominava o piano, o trompete, o banjo, o violão e a bateria. Por dois anos, Moacir residiu em São Paulo, onde foi regente da orquestra da antiga TV Record, voltando em seguida para o Rio. Foi lá que, em 1965, gravou seu primeiro LP, “Coisas de Moacir Santos”, pela marca Forma, que pertencia a Roberto Quartin. Suas composições mais conhecidas são “Nanã (Coisa número 5)”, de parceria com Mário Telles, irmão da cantora Sylvia Telles, “Se você disser que sim” (que fez com o Poetinha Vinícius), “Menino travesso’ e “Triste de quem”.  Foi assistente do compositor alemão Hans Joachin Kollreuter e professor de importantes nomes da MPB, tais como Baden Powell, Paulo Moura, João Donato, Nara Leão, Roberto Menescal e Sérgio Mendes. Em 1967, Moacir Santos transfere-se para Los Angeles, EUA, pois fora convidado para a estreia mundial do filme “Amor no Pacífico”, de cuja trilha sonora foi responsável (também compôs para filmes do cinema novo brasileiro, como “Ganga Zumba”, “Os fuzis”, “O beijo” e “Seara vermelha”). Nos EUA, Moacir lançou quatro álbuns autorais (inclusive o que o TM nos traz hoje) e continuou compondo para o cinema, além de ministrar aulas de música e vir esporadicamente ao Brasil, onde recebeu inúmeras homenagens, como o Prêmio Shell de Música, com o qual foi agraciado em 2006. Em 2005, foi lançado pela Biscoito Fino o álbum “Choros & alegria”, com várias composições do início da carreira de Moacir, nunca antes gravadas.  Moacir Santos faleceria um ano mais tarde (6 de agosto de 2006), em Pasadena, Califórnia, onde residia. “The maestro”, o álbum de Moacir Santos que o TM orgulhosamente oferece a seus amigos ocultos, ocultos e associados, é o primeiro que ele fez nos EUA. Lançado em 1972 pela Blue Note, verdadeira referência em matéria de jazz, só chegou ao Brasil dois anos mais tarde, através da extinta Copacabana Discos, que representava o selo, então coligado da United Artists, e hoje com seus produtos mundialmente distribuídos pela Warner. Gravado em Los Angeles, nos estúdios da A&M Records, e remixado em Nova York, é um trabalho excepcional, com oito faixas, todas de autoria do próprio Moacir Santos, sozinho ou com parceiros. Logo no início, ele revive sua “Coisa número 5”, o afro-samba “Nanã”, como já frisado, um de seus mais conhecidos trabalhos autorais. Ele mesmo participa como vocalista em cinco faixas, sendo que em duas ele divide os vocais com Sheila Wilkinson, e assina quase todos os arranjos, a exceção de “Nanã”, que ficou a cargo de Reggie Andrews, também produtor deste trabalho. Por sinal, impecável do início ao fim, com o padrão técnico e de qualidade que até hoje caracteriza as produções fonográficas da Blue Note. Ouvindo-o, constata-se que, realmente, Moacir Santos não era um só: eram muitos, em uma só pessoa!

nanã (coisa n.5)

bluishmen

sou eu (luanne)

lamento astral (astral whine)

mãe iracema

kermis

april child (maracatu, nação do amor)

the mirror’s mirror

*Texto de Samuel Machado Filho

Claudia – Reza, Tambor E Raca (1977)

O Toque Musical põe hoje em foco uma das mais expressivas cantoras brasileiras. Estamos falando de Maria das Graças Rallo, que adotou inicialmente o nome artístico de Cláudia, e, por questões numerológicas, passou a se assinar Claudya. Ela veio ao mundo no dia 10 de maio de 1948, na cidade do Rio de Janeiro. Entretanto, foi criada em Juiz de Fora, Minas Gerais, onde também começou a cantar, aos oito anos de idade, participando de um programa de calouros da Rádio Sociedade.  Aos treze anos, atuou como “crooner” do conjunto Meia-Noite, que atuava em bailes e festas de Juiz de Fora e cidades vizinhas. Sua carreira profissional  se inicia nos anos 1960, em São Paulo, quando participa do programa “O fino da bossa”, da antiga TV Record. Entretanto, sua apresentadora, Elis Regina, a baniu definitivamente da atração, pois Claudia foi considerada, logo de saída, uma intérprete tão boa quanto Elis, que evidentemente temia sofrer concorrência. Claudia gravou seu primeiro disco em 1965, na RGE, um compacto simples com as músicas “Deixa o morro cantar”, de Tito Madi, e “Sorri”, de Zé Kéti e Elton Medeiros. Logo no primeiro ano de carreira, foi agraciada com o Troféu Roquette Pinto de cantora-revelação e, em 1967, lançou seu primeiro LP, também pela RGE.  Mais tarde, viajou para o Japão, onde se apresentou ao lado do saxofonista Sadao Watanabe, ficando seis meses naquele  país, e lançando um LP em japonês que vendeu mais de 200 mil cópias! De volta ao Brasil, em 1969, venceu o I Festival Fluminense da Canção, defendendo a música “Razão de paz para não cantar” , de Eduardo Lages e Alézio de Barros, que também concorreu no quarto FIC (Festival Internacional da Canção), obtendo a quarta colocação e dando à nossa Claudia o prêmio de melhor intérprete.  Ela também foi marcante presença em diversos festivais de música no exterior (Japão, Espanha, Grécia, México, Venezuela…), tornando-se a cantora mais premiada fora do Brasil. E, aqui mesmo, recebeu ainda os troféus Imprensa e Globo de Ouro. Claudia tem, em sua discografia, mais de 20 álbuns, entre LPs e CDs, e alguns compactos, e entre seus principais sucessos, destacamos: “Jesus Cristo” (cuja gravação chegou a vender tanto ou mais que a do próprio Roberto Carlos!), “Com mais de trinta”, “Só que deram zero pro Bedeu”, “Deixa eu dizer” (sampleada por Marcelo D2 na música “Desabafo”), “Mudei de ideia”, “Memória livre de Leila” (homenagem póstuma à atriz Leila Diniz, morta em acidente aéreo, composta por Taiguara) e “Gosto de ser como sou”.  O grande momento da carreira de nossa Claudia viria em 1982, ao ser convidada para fazer o papel principal na versão brasileira do musical “Evita”, de autoria dos britânicos Andrew Lloyd Weber e Tim Rice. Grande sucesso de público e crítica, “Evita” permaneceu seis meses em cartaz em São Paulo, e quase dois anos no Rio de Janeiro, e Claudia ainda foi considerada a que melhor interpretou o mito político argentino entre todas as adaptações internacionais do espetáculo. Claudia (ou Claudya) é ainda, desde os 23 anos de idade, exímia tecladista, e sua filha, Graziela Medori, também segue carreira de cantora. Da extensa e bastante expressiva discografia da então Claudia, o TM oferece hoje, a seus amigos, ocultos e associados, o sexto álbum de estúdio da intérprete. É “Reza, tambor e raça”, editado no início de 1977 pela RCA Victor, depois BMG, Sony/BMG e atualmente Sony Music.  Com direção de estúdio do experiente Osmar Navarro, e arranjos e regências a cargo dos competentíssimos José Paulo Soares, Pepe Ávila e Bauru, é um trabalho muitíssimo bem cuidado, técnica e artisticamente. Nele, Claudia dá um banho de interpretação e técnica vocal, seja em regravações de hits da ocasião (“Soy latino-americano”, “O cavaleiro e os moinhos”, “Apenas um rapaz latino-americano”, “Glorioso Santo Antônio”), quanto em trabalhos até então inéditos , como a própria faixa-título, “Reza, tambor e raça”, “Poeta do medo”, “Pororoca” e ‘Ana cor de cana”. E a curiosidade deste trabalho fica por conta da releitura do tema da série de TV norte-americana “Peter Gunn”, sucesso de audiência nos anos 1950/60, composto por Henry Mancini, que ganhou letra em português com o título de “Vai, baby” e acordes brasileiríssimos de samba! Enfim, um excelente trabalho da agora Claudya, cuja voz permanece atualíssima e vibrante. E ela continua aí, na ativa, para alegria de tantos quanto apreciem o que nossa música popular tem de melhor e mais expressivo!

reza, tambor e raça

soy latino americano

glorioso santo antonio

poeta do medo

pororoca

lua negra

apenas um rapaz latino americano

o cavaleiro dos moinhos

vai baby (peter gunn)

segunda feira

homem e mulher

ana cor de cana

*Texto de Samuel Machado Filho

Mario Albanese – Jequibáu na Broadway (1967)

Boa tarde, meus prezados amigos cultos e ocultos! Aqui estou eu, cada dia mais sumido, porém, ainda não completamente perdido. Graças ao amigo e colaborador Samuca, vamos aos trancos e barrancos mantendo acesa a chama do Toque Musical. Hoje quem traz a postagem sou eu mesmo, mas o Samuel continua no baralho e até mais atuante em suas resenhas (para a nossa felicidade).
Tenho hoje para vocês uma boa raridade, Mário Albanese e seu álbum ‘Jequibau na Broadway’, disco lançado em 1967 pelo selo Chantecler. Foi o seu segundo lp pela gravadora e que muitos consideram como sendo uma continuação de ‘Jequibáu’, uma obra prima, a qual Mário Albanese dividiu os créditos com o maestro Ciro Pereira. No presente lp temos um repertório de composições próprias de Mário e Ciro no ritmo do Jequibáu, somado a outros temas famosos e internacionais muito bem arranjados. Um trabalho de padrão internacional. Não deixem de conferir…
Numa próxima oportunidade postaremos também aqui o ‘Jequibáu’, uma joia brasileira premiada, que até hoje não recebeu por parte de nós brasileiros a sua merecida atenção. Aguardem, pois a resenha vai ser do Samuca, quer dizer, super completa 😉

zambo
un homme et une femme
o caminho das estrelas
days of wine and roses
longe de você
maré alta
fim de semana em guarujá
the shadow of your smile
certa vez
não posso esquecer

.

Dick Farney – As Duas Maneiras De Dick Farney (1972)

Um dos precursores da bossa nova, e, por tabela, integrado à mesma, Dick Farney (Farnésio Dutra e Silva, Rio de Janeiro, 14/11/1921-São Paulo, 4/8/1987) tem vários de seus álbuns postados aqui no TM, e já foi devidamente focalizado no Grand Record Brazil. É lembrado e cultuado até hoje, e com justiça, por todos que apreciam o importantíssimo legado que deixou como cantor e pianista, aplaudido tanto no Brasil quanto no exterior. Hoje, o TM apresenta a seus amigos cultos, ocultos e associados, mais um disco do notável Dick. Com o título “As duas maneiras de Dick Farney”, o álbum é uma coletânea organizada por Maurício Quadrio, e lançada em 1972 pela Philips/Phonogram, futura Universal Music, com o selo Fontana.  É dividido em duas partes distintas: na primeira, “Dick na Broadway”, são apresentadas as gravações que ele fez nos EUA com a orquestra do maestro Paul Baron, em 1954, perfazendo um total de oito faixas, que chegaram ao Brasil em discos de 78 rpm pela antiga Sinter. Os clássicos “Copacabana”, de Braguinha e Alberto Ribeiro, e “Marina”, de Dorival Caymmi, ganham aqui versões bilíngues, com letras em inglês de Jack Lawrence. No restante do programa, seis standards do repertório popular norte-americano, entre eles “How soon”, “For once in your life” e “Tenderly”(que ele próprio registrou pela primeira vez em 1946, lá mesmo nos EUA). A segunda parte deste álbum é denominada “Dick em Ipanema”, e engloba seis faixas que ele registrou em território brasileiro, todas pela Elenco, gravadora criada por Aloysio de Oliveira, cujos trabalhos fonográficos (lançou 60 LPs em quatro anos de atividades) eram extremamente bem produzidos, alguns deles tornando-se até clássicos. Três faixas são do álbum que Dick Farney gravou em 1964, sem título, entre elas um sucesso absoluto na época: “Você” (“Manhã de todo meu”), da vitoriosa parceria Roberto Menescal-Ronaldo Bôscoli, inesquecível dueto de Farney com Norma Bengell, atriz, cineasta e cantora e hoje, com justiça, um dos clássicos da bossa nova. Desse disco de 64 também são as faixas “Inútil paisagem”, e “One for my baby” . As três faixas restantes são de um outro LP, de 1966, denominado “Dick Farney: piano – Orquestra: Gaya”, e são apenas instrumentais, na qual Farney demonstra todo seu virtuosismo de pianista, acompanhado pela orquestra do já veterano maestro Lindolfo Gaya: “Fotografia”, “Valsa de uma cidade” e “And roses.. and roses”, que na verdade é “Das rosas”, de Dorival Caymmi, que ganhou esse título ao receber letra em inglês de Ray Gilbert, gravada por Andy Williams. Enfim, está é mais uma oportunidade que o TM oferece de apreciar um pouco do extraordinário trabalho do inesquecível Dick Farney. Para baixar e ouvir com todo o carinho…
*Texto de Samuel Machado Filho

Luiz Carlos Vinhas – O Som Psicodelico De LCV (1968)

Após apresentar o álbum “Os reis do ritmo”, com o conjunto Bossa 3, formado e dirigido pelo pianista Luiz Carlos Vinhas (1940-2001), o TM tem a grata satisfação de oferecer a seus amigos cultos, ocultos e associados mais um trabalho com a marca deste notável músico, e considerado até mesmo sua obra-prima: trata-se de “O som psicodélico de Luiz Carlos Vinhas”, seu segundo disco individual (o primeiro foi “Novas estruturas”, em 1964), elaboradíssima produção de Hélcio Milito, então baterista do Tamba Trio, para a CBS, futura Sony Music, e preciosíssimo legado do “ano que não terminou”, 1968. Tendo em seu currículo participações em discos de grandes nomes da MPB, tipo Elis Regina, Quarteto em Cy, Jorge Ben Jor e Maria Bethânia, Luiz Carlos Vinhas iniciou-se na música ainda cedo, quando seu pai lhe deu um violão de presente, e em 1957 já estava nas composições da bossa nova carioca. Ele se supera neste trabalho, riquíssimo em elementos e experimentos, mesclando psicodelia e toques de música brasileira, com cantos folclóricos, caboclos e umbandistas. Abrindo o disco, a instrumental “Amazonas”, de João Donato, que impressiona o ouvinte logo de saída. Vinhas sempre foi experimental, e conhecia bem a cultura brasileira, o que se reflete em trabalhos autorais como “Tanganica”, “Zizê baiô”  e “Ye-melê” (títulos que remetem à cultura afro), esta última um lindo canto para Iemanjá, na mesma época também gravada por Elis Regina e mais tarde êxito mundial com Sérgio Mendes. Outro destaque é “Um jour Christine”, de Bruno Ferreira, uma canção melancólica porém com linda melodia vocal e percussão bem simples ao fundo. A partir da sexta faixa, Vinhas nos oferece fantásticas regravações de sucessos nacionais e internacionais, como “Arrasta a sandália”, “Chatanooga choo-choo”, “Tributo a Martin Luther King”, “Rosa morena”, “Morena boca de outro” e “Can’t take my eyes of you”. Tudo terminando, e muitíssimo bem, com “O diálogo”, uma parceria de Vinhas com Chico “Fim-de-Noite” Feitosa, que também fizeram juntos “Ye-melê” e “Zizê baiô”. Em suma, um trabalho primoroso, de alta qualidade técnica e artística, que o TM orgulhosamente nos oferece. Confiram…

amazonas

tanganica

yê-melê

zizé-melê

un jour christine

song to my father

chatanooga choo-choo

pourquoi

birthday morning

o diálogo

*Texto de Samuel Machado Filho

Marcos Valle (1970) REPOST

Um dos cobras da MPB, Marcos Valle já teve inúmeros álbuns postados aqui no TM, inclusive este, que agora volta como ‘repost, o quinto por ele gravado no Brasil, e lançado pela Odeon’, em 1970. Marcos Kostenbader Valle, seu nome na pia batismal, veio ao mundo em 14 de setembro de 1943, na cidade do Rio de Janeiro. Iniciou seus estudos de piano clássico aos seis anos de idade e formou-se em piano e teoria musical em 1956. Considerado um dos integrantes da segunda fase da bossa nova, Marcos iniciou sua carreira artística em 1961, participando de um trio do qual também faziam parte Edu Lobo e Dori Caymmi.  É quando também começa a compor, formando parceria com o irmão, Paulo Sérgio Valle. A primeira composição da dupla, “Sonho de Maria”, chegou ao público em 1963, interpretada pelo Tamba Trio. Um ano mais tarde, Marcos Valle grava seu primeiro LP-solo, “Samba demais”, alternando composições próprias com trabalhos de outros autores.  Entre os muitos sucessos compostos pelos irmãos Valle, destacamos: “Samba de verão”, “Preciso aprender a ser só”, “Terra de ninguém” (que Marcos apresentou com Elis Regina no show “Bossa no Paramount”, em 1965), “Viola enluarada”, “Black is beautiful”, “Com mais de trinta”, “Mustang cor de sangue”, “Um novo tempo” (aquela que todo fim-de-ano toca na programação da TV Globo, “Hoje é um novo dia, de um novo tempo que começou”…), “Pelas ruas do Recife”, “Remédio pro coração”, etc. Seu respeitável currículo também inclui jingles publicitários, temas para novelas globais como “Pigmalião 70”, “Assim na terra como no céu”, “Carinhoso” e “Os ossos do barão”, e a trilha sonora do infantil “Vila Sésamo”, também da Globo, que tantas saudades deixou em quem foi criança nos anos 70. Compôs ainda a trilha completa do documentário “O fabuloso Fittipaldi” (1973), sobre a trajetória do célebre piloto de Fórmula-1 Emerson Fittipaldi. No setor publicitário, foi sócio da Aquarius Produções Artísticas, junto com o irmão Paulo Sérgio e o jornalista Nélson Motta. Em 1965, Marcos Valle esteve pela primeira vez nos EUA, onde atuou por sete meses no conjunto Brasil 65, de Sérgio Mendes. Retornou algumas vezes a esse país, e, farto da censura do regime militar, e enfrentando problemas psicológicos que afetavam sua voz, ali residiu entre 1975 e 1980, trabalhando com gente do porte de Andy Williams, Sarah Vaughan, Airto Moreira e o grupo de pop-rock Chicago. Fortemente influenciado pela “disco music”, então na moda, Marcos foi se aproximando  de músicos negros e do universo do rhythm and blues e do boogie-funk. Por volta de 1978, iniciou parceria com Leon Ware, colaborador frequente de Marvin Gaye. E, em 1980, Marcos volta definitivamente ao Brasil, já então em época de abertura política. Surgem, então, novos sucessos, como  “Bicho no cio”, “Velhos surfistas querendo voar”, “A Paraíba não é Chicago”, “Estrelar” e “Bicicleta”. Enfim, uma longa e vitoriosa trajetória com mais de 25 álbuns gravados, tanto no Brasil quanto nos EUA, além do DVD “Bossa entre amigos”, junto com Wanda Sá e Roberto Menescal, lançado em 2011. O álbum de Marcos Valle que o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados, de 1970, é um de seus melhores trabalhos. Curiosamente, na capa do disco, ele aparece deitado em uma cama, com o quarto arrumado, e, na contracapa, o mesmo quarto (na verdade o da irmã, Ângela Valle, na casa de seus pais) está vazio e desarrumado, com roupas femininas espalhadas pelo chão.  O álbum tem as credenciais de Mílton Miranda na direção de produção, com assistência de Mariozinho Rocha, direção musical do maestro Lírio Panicalli e arranjos e regências a cargo de dois outros “cobras”, Leonardo Bruno e Orlando Silveira. Evidentemente, é um trabalho autoral, com todas as faixas compostas pelo próprio Marcos Valle, sozinho ou com parceiros como Novelli e o irmão Paulo Sérgio. Destaque para dois temas que compôs para novelas da Globo, “Quarentão simpático” (de “Assim na terra como no céu”) e “Pigmalião 70” (do folhetim de mesmo nome) e para as faixas “Dez leis (Is that law)”, “Esperando o Messias”, esta com a participação dos sempre afinadíssimos Golden Boys, e a provocadora “Ele e ela”, na qual Marcos e a irmã Ângela insinuam uma relação sexual! “Os grilos” aparece duas vezes, na versão que foi gravada para este álbum, e na original, editada em compacto simples em 1967, como faixa-bônus. É mais um trabalho de Marcos Valle que o TM tem muito orgulho em oferecer a vocês que tanto apreciam nossa música popular, no que ela tem de melhor!
quarentão simpático
ele e ela
dez leis
pigmaleão
que eu canse e descanse
esperando o messias
freio aerodinâmico
os grilos
suite imaginária
os grilos (versão single 67)

*Texto de Samuel Machado Filho