Temas Natalinos – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 130 (2014)

Então é Natal… Aquela ocasião em que a gente arma a árvore, o presépio, reúne a família, troca presentes, degusta a ceia… e, por que não, também canta canções típicas da festa máxima da cristandade. Assim sendo, o Grand Record Brazil, em sua edição de número 130,  presenteia os amigos cultos, ocultos e associados do TM com mais esta compilação de músicas natalinas. São, no total, dez gravações.

Abrindo esta seleção natalina muitíssimo especial, temos o gaúcho (de Rio Grande) Alcides Gerardi (1918-1978), criador de sucessos do porte de “Antonico”, “Cabecinha no ombro” , “Marise” e “Chora, Pierrô”, entre outros,  interpretando aqui a valsa “Natal de saudade”,da dupla Raul Sampaio-Ivo Santos. Saiu pela Columbia em dezembro de 1957, sob número CB-10386-A, matriz CBO-1220, entrando também no LP coletivo “Nosso Natal”. Um ano mais tarde, houve uma reedição em 78 rpm com o número CB-11093-B. Ângela Maria, a grande Sapoti, interpreta o samba-canção “Outros Natais”, de autoria de Cláudio Luiz Pinto,impregnado de forte crítica social em sua letra. A Copacabana o lançou em dezembro de 1954, sob número 5351-A, matriz M-1006, sendo mais tarde faixa de encerramento do LP de 10 polegadas “Sucessos de Ângela Maria”, primeiro de uma série de três.  João Dias, que o próprio Francisco Alves escolheria para ser seu sucessor, por ter timbre de voz parecido com o dele, vem com duas faixas, ambas extraídas do disco Odeon  13592, gravado em 30 de novembro de 1953, com acompanhamento orquestral de Osvaldo Borba,  e lançado (detalhe intrigante) em janeiro de 54. O lado A,matriz 9987, é “A doce canção de Natal”, de autoria de Sivan Castelo Neto (psudônimo de Ulysses Lelot Filho), na qual João Dias canta ao lado de Edith Falcão e do então menino Altir Gonçalves.  O lado B, matriz 9988, que João Dias canta em dueto com Edith Falcão, é a conhecida valsa “O velhinho”, de autoria de Otávio Babo Filho, primo do compositor Lamartine Babo, correspondente à última faixa desta seleção. Relançadas mais tarde em LPs e compactos, essas gravações de João Dias permaneceram no catálogo da Odeon por vários anos. Na faixa 4, você tem  o grande João Gilberto interpretando o delicado samba em estilo bossa nova “Presente de Natal”,de autoria de Nelcy Noronha, uma das faixas de maior destaque de seu terceiro LP-solo, sem título, editado pela Odeon em outubro de 1961. Formado por Edda Cardoso, Lolita Koch Freire e Yeda Tavares Gomes da Silva, o Trio Madrigal comparece aqui com as duas músicas do disco Todamérica TA-5359, ambas cânticos, gravado em 15 de setembro de 1953 e lançado em novembro do mesmo ano. Abrindo-o,  a matriz TA-542 apresenta “Oh! Vinde crianças (Ihr Kinderlein, kommet)”, do compositor alemão  Johann Abraham Peter Schulz, sobre versos de seu conterrâneo  Christophe von Schmid, sendo a letra brasileira de Frei Paulo Avelino Assis. No lado B, matriz TA-543, vem “Noite de luz”, outra adaptação de Frei Paulo. Laranjinha e Zequinha, dupla do sertanejo-raiz,  vem aqui com as duas músicas do 78 Odeon número 13553, gravado em 31 de agosto de 1953 e lançado em dezembro do mesmo ano.  No lado A, matriz 9852, o valseado “Natal no sertão”, de Reinaldo Santos e Vicente Lia, e, no lado B, matriz 9862, a valsa “Ano novo”, de  Francisco Lacerda e José Maffei. Filha caçula do compositor Hervê Cordovil, e por tabela irmã de Norman e Ronnie Cord, Maria Regina Cordovil, então com apenas quatro anos de idade, apresenta as duas faixas do 78 RCA Victor 80-2398, gravado em 28 de setembro de 1961, com acompanhamento orquestral de Francisco Moraes, e lançado em outubro do mesmo ano. Primeiro temos o lado B, matriz M2CAB-1479, “Carta a Papai Noel”, de autoria do paizão Hervê e certamente seu maior sucesso. Depois vem o lado A, matriz M2CAB-1478, o clássico “Sinos de Belém  (Jingle bells)”, do norte-americano James S. Pierpont em versão de Evaldo Ruy. Curiosamente, esta canção foi composta em 1857 sem qualquer intenção natalina, com o título de “One  horse open sleigh”. Foi traduzida para inúmeros idiomas. Ambas as faixas também saíram no LP “A menor cantora do mundo”, por sinal o slogan de Maria Regina. O niteroiense Orlando Correia, que se destacou gravando sucessos do porte de “Meu sonho é você”, “Sistema nervoso” e “Serenata suburbana”, interpreta aqui o samba-canção “Natal sem você”, de Bruno Gomes e Jorge de Castro, com a participação do Trio Madrigal. Foi gravado na Todamérica em 15 de setembro de 1953 (a mesma sessão em que o Trio Madrigal registrou outras duas faixas deste volume) e lançado em novembro do mesmo ano, disco TA-5358-A, matriz TA-544. Enfim, é um presente que o GRB  oferece aos amigos cultos, cultos e associados do TM, com os mais sinceros votos de um maravilhoso Natal e um 2015 repleto de alegrias e realizações positivas. E nunca é demais lembrar do verdadeiro dono desta festa. Feliz aniversário, Jesus!

* Texto de Samuel Machado Filho

Marília Batista – Dircinha Batista – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 129 (2014)

A  edição número 129 do Grand Record Brazil, “braço de cera” do Toque Musical, oferece alguns dos melhores momentos de duas  notáveis cantoras da MPB, que não eram parentes, apesar do sobrenome ser igual:  Marília e Dircinha Batista. São dezesseis gravações raras, sendo chover no molhado falar de seu valor artístico e histórico, absolutamente incontestável.
Marília Monteiro de Barros Batista nasceu no Rio de Janeiro em 13 de abril de 1918, filha do médico do Exército Renato Hugo Batista e da pianista Edith Monteiro de Barros Batista. Seus irmãos, Henrique e Renato, eram também compositores, o que faria nossa Marília (neta do poeta e Barão Luiz Monteiro de Barros) interessar-se desde menina pela música. Seu primeiro violão foi “ganho” por acaso, aos seis anos de idade, quando o barbeiro da família, numa ida à sua casa para cortar os cabelos do pai e de um irmão, esqueceu lá o seu instrumento. O violão seria uma de suas eternas paixões, e ela não o largaria mais, já mostrando talento de compositora aos oito anos. Estudou no Instituto Nacional de Música (atual Escola de Música da Universidade Federal  do Rio de Janeiro), onde se formou em teoria, solfejo e harmonia,apesar de ter abandonado, no quarto ano, o curso de piano. Em 1930, levada pelo jornalista Lauro Sarno Nunes (pai do humorista Max Nunes), fez seu primeiro recital, no Cassino Beira-Mar, interpretando, com sua voz e seu violão, canções sertanejas, sambas e cateretês, além de suas primeiras composições próprias. Aos 12 anos, começou a estudar violão com Josué de Barros, que, após ficar encantado com o recital da menina Marília, fez questão de lhe dar aulas por conta própria. Marília estudou com Josué por seis meses, mas, como pretendia ser concertista, passou a ter aulas de violão clássico com o virtuose José Rebelo. Porém, seu interesse pela música popular sempre foi mais forte. Em 1931, aos 14 anos, convidada para se apresentar no espetáculo “Uma hora de arte”, no Grêmio Esportivo Onze de Junho, ali conheceu Noel Rosa. Ambos logo se tornaram grandes amigos, e Marília é até hoje considerada por historiadores da MPB uma das melhores intérpretes de Noel, ao lado de Aracy de Almeida.  O primeiro disco viria em 1932,apresentando duas músicas suas de parceria com o irmão Henrique Batista: o samba “Pedi, implorei” e a marchinha “Me larga”. Em 1933,a convite de Almirante, participa do Broadway Cocktail, um espetáculo que acontecia no Cine Broadway, antecedendo o filme, ao lado de medalhões da MPB nessa época, tais como Sílvio Caldas e Jorge Fernandes. O sucesso fez com que, a convite de Ademar Casé (avô da humorista e apresentadora de TV Regina Casé),Marília participasse do “Programa Casé”, na PRAX, Rádio Philips. No programa, fazia improvisos e versinhos das propagandas dos patrocinadores, ao lado de Noel Rosa, com quem gravou três discos com seis músicas. Foi para Marília Batista que a mãe de Noel,  Dona Martha, após sua morte(1937),  entregou os manuscritos do filho, que a cantora repassou para Almirante. Foi uma das pioneiras da Rádio Nacional, inaugurada em 1936, e lá faria parte do grupo vocal As Três Marias, com quem gravaria alguns discos e acompanhou os cantores da emissora. Em 1945, ao se casar, interrompeu por alguns anos suas atividades artísticas, mas, no início da década de 1950, retomou-as, gravando inúmeros LPs,  incluindo músicas de seu amigo Noel Rosa, até mesmo inéditas que aprendera com ele (sua discografia também abrange cerca de 30 gravações em 78 rpm). Nos anos 1960, resolveu voltar a estudar e formou-se em Direito. Em 1988, quando participou do projeto “Concerto ao meio-dia”, no Teatro João Teotônio, foi aplaudidíssima pela plateia que superlotava o recinto, chegando a ir às lágrimas. Marília Batista faleceu em seu Rio natal, no dia 9 de julho de 1990. Abrindo esta seleção do GRB, ela interpreta justamente um samba de Noel, “Tipo zero”, composto em 1934, mas só gravado por Marília Batista em 1956, na Musidisc de Nilo Sérgio, integrando o 78 número M-50046-A, matriz MD-10091, e, como faixa de abertura, o LP de 10 polegadas “Samba e outras coisas”, título de um programa que seu irmão Henrique manteve no rádio por muitos anos.  Noel  faria retoques na segunda parte deste samba, e colocaria uma estrofe a mais para encaixá-lo na opereta “A noiva do condutor”, só gravada na íntegra em 1986, em álbum da Eldorado, já oferecido a vocês pelo TM.  Em seguida, temos mais cinco sambas de Noel Rosa, cantados por Marília em dueto com ele,  já no final da curta vida do compositor, e em sua maior parte com acompanhamento do regional de Benedito Lacerda,  e sua inconfundível flauta. “Provei” é da parceria de Noel com Vadico, gravação Odeon de 12 de novembro de 1936, lançada em dezembro do mesmo ano para o carnaval de 37, disco 11422-A, matriz 5445. O lado B, matriz 5446, está na faixa 8: ”Você vai se quiser”, único samba que Noel fez para sua esposa Lindaura, que se dispôs a trabalhar fora, dadas as dificuldades financeiras do casal. Noel, nada feminista, revidou:  “Ela esquece que tem braços,nem cozinhar ela quer”…  “Cem mil-réis” (faixa 3)  é outro produto da parceria Noel-Vadico, gravação Odeon de 5 de março de 1936, lançada em abril do mesmo ano, disco 11337-B, matriz 5275. Em seguida, na faixa  4, matriz 5277, o lado A desse disco:  o divertido e clássico “De babado”,  conhecido e regravado até hoje, como praticamente tudo do Poeta da Vila.  A letra menciona inclusive o cavalo Mossoró, vencedor do Grande Prêmio Brasil de Turfe em 1933. Ironicamente,era “De babado” que estava sendo executado numa casa vizinha a de Noel, no dia de sua morte (4 de maio de 1937), quando ele já agonizava em seu leito, consumido pela tuberculose. Na faixa 5, “Quem ri melhor”, samba de sucesso no carnaval de 1937, o último da vida de Noel, e feito sem parceria. Gravação Victor de 18 de novembro de 36, com acompanhamento dos Reis do Ritmo, lançada em dezembro seguinte sob número 34140-A, matriz 80258. “Silêncio de um minuto”, samba feito por Noel em 1935, só foi gravado pela primeira vez,  por Marília Batista, cinco anos depois, com Noel já falecido, em 20 de março de 1940, com lançamento pela Victor em maio do mesmo ano, disco 34604-B, matriz 33356. É uma versão resumida, pois o samba só foi gravado com a letra completa em 1951, por Aracy de Almeida.  Por fim, uma amostra do trabalho exclusivamente autoral de Marília Batista: o “Samba de 42”, parceria dela com o irmão Henrique Batista, mais Arnaldo Paes. Quem canta é Arnaldo Amaral, também galã de cinema, e o lançamento se deu pela Columbia em janeiro de 1942, é claro, para o carnaval, disco 55320-B, matriz 491.
 Filha do comediante Batista Júnior e irmã da também cantora Linda Batista, Dirce Grandino de Oliveira, aliás Dircinha Batista (São Paulo, 7/4/1922-Rio de Janeiro,  18/6/1999) começou bem cedo sua carreira artística: em 1930, aos oito anos de idade, como Dircinha de Oliveira, gravou seu primeiro disco, na Columbia,futura Continental,  interpretando duas composições do pai, “Dircinha” e “Borboleta azul”. Em mais de 40 anos de estrada, gravou mais de 300 discos em 78 rpm, e alguns LPs  e compactos, com inúmeros hits, especialmente carnavalescos, além de atuar no rádio, no teatro e no cinema (apareceu em 16 filmes). Foi eleita Rainha do Rádio em 1948, substituindo a irmã Linda, que detinha a coroa desde 1937. Parou de cantar em 1972, abalada pela morte de sua mãe, Emília Grandino de Oliveira, e pelo descaso da mídia com os astros do passado.  Nos últimos anos de vida, Dircinha e sua irmã Linda foram amparadas pelo cantor José Ricardo, que as acolheu como membros de sua família. No final dos anos 1980, surgiu o musical “Somos irmãs”, estrelado por Nicete Bruno e Suely Franco, relatando a vida das irmãs-cantoras.

Nesta edição do GRB, um pouco do legado artístico-musical de Dircinha Batista. Para começar, a bem-humorada e divertida “Canção pra broto se espreguiçar”,  que leva a respeitável assinatura de Mário Lago, gravada na RCA Victor por Dircinha em primeiro de julho de 1955 e lançada em setembro do mesmo ano, disco 80-1493-B, matriz BE5VB-0810. Mais tarde, entraria no LP-coletânea de 10 polegadas “Elas cantam assim”. “Chico Brito” é um samba clássico e bastante conhecido, de autoria de Wilson Batista e Afonso Teixeira.  Gravado por Dircinha na Odeon em primeiro de dezembro de 1949, só seria lançado menos de um ano depois (outubro de 50), sob número 13047-B, matriz 8603. O nome Peçanha foi posto na letra da música para substituir “meganha”, gíria da época para policial. Note-se também uma menção à “erva do norte”, possivelmente…   Adivinha! O samba “Icaraí”, de Raimundo Flores e Célio Ferreira, é uma exaltação à famosa praia situada em Niterói, litoral fluminense, imortalizada por Dircinha Batista na Continental em 19 de abril de 1948 e lançada em  julho-setembro do mesmo ano, disco 15923-A, matriz 1851. Mostrando que sabia dar o recado até em inglês, Dircinha interpreta depois, com acompanhamento orquestral de Aristides Zaccarias, o fox “I only have eyes for you”, de Harry Warren e Al Dubin, composto em 1934. Gravação RCA Victor de 1957, do LP de 10 polegadas “Música para o mundo”. “O teu sorriso me prendeu” é uma marchinha de meio-de-ano, assinada pelo pistonista Bomfiglio de Oliveira, com letra de Walfrido Silva. Dircinha a gravou na Victor na plenitude de seus 13 anos, acompanhada pela endiabrada orquestra Diabos do Céu, de Pixinguinha, em 8 de julho de 1935, sendo lançada em agosto do mesmo ano, disco 33961-B, matriz 79969. A batucada “A coroa do rei”, de Haroldo Lobo e David Nasser, foi uma das músicas campeãs do carnaval de 1950, imortalizada por Dircinha na Odeon em 30 de setembro de 49 e lançada ainda em dezembro, disco 12962-B, matriz 8564. Do carnaval de 1946 é o samba “Que papagaio sou eu?”,  de Wilson Batista e Henrique de Almeida, lançado por Dircinha na Continental em janeiro daquele ano, disco 15574-B,matriz 1352. Encerrando este volume,uma curiosidade histórica:  o jingle publicitário gravado por Dircinha para o Auris Sedina, um remédio para dor de ouvido, produzido até hoje pelos Laboratórios Osório de Moraes. Bastante veiculado no rádio durante os anos 1950, ficou na memória de muita gente. E,  se depender de iniciativas como a deste volume do GRB, as Batistas aqui recordadas, Marília e Dircinha, vão ficar para sempre na memória de muitos!

* Texto de Samuel Machado Filho

Bahiano – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 128 (2014)

O Grand Record Brazil chega à sua edição de número 128 trazendo um autêntico pioneiro da gravação de discos no Brasil: o Bahiano.

Batizado com o nome de Manuel Pedro dos Santos, nosso focalizado era mesmo baiano, nascido em 5 de dezembro de 1870 na cidade de Santo Amaro da Purificação, que, muito mais tarde, por coincidência, seria o berço natal dos irmãos Caetano Veloso e Maria Bethânia. Um dos mais populares intérpretes brasileiros do início do século XX, Bahiano integrou o primeiro grupo de cantores profissionais da Casa Edison, fundada em 1900 pelo tcheco Fred Figner, ao lado de Cadete, Mário Pinheiro e Eduardo das Neves.  Nesse tempo, em que a gravação de discos era pelo processo mecânico, o artista tinha que cantar na boca de uma enorme corneta: o microfone!  E o técnico de gravação empurrava o cantor para perto da tal corneta nas notas graves e o puxava para mais longe nas agudas. E ainda, na hora do coro, todos se amontoavam junto do microfone! Duro, não?
Bem, o fato é que a Casa Edison lançou seu primeiro suplemento de discos fonográficos, substituindo os cilindros, exatamente no dia 5 de agosto de 1902. E o primeiro deles foi justamente com o nosso Bahiano,  o lundu “Isto é bom”, de Xisto Bahia (que evidentemente abre este volume), pontapé inicial para inúmeros outros sucessos,  alguns deles aqui reunidos, que manteriam sua popularidade até 1924, quando, espontaneamente, aposentou-se do disco.  Como cançonetista, Bahiano atuou no teatrinho do Passeio Público e no Circo Spinelli, chegando a aparecer em  filmes de curta-metragem, como “O cometa” e “A seresta caipora”, ambos de 1910. Em sua discografia predominam as modinhas e lundus, que conhecia muito bem, mas hoje ele é principalmente lembrado pela gravação de “Pelo telefone”, de Donga e Mauro de Almeida, considerado o primeiro samba “cem por cento” levado a disco (também neste volume). Foi casado com Almerinda Pedro dos Santos, que faleceu em 1937. No mesmo ano, compôs, em homenagem a ela, a valsa “Dores íntimas”, jamais gravada. Bahiano não se adaptou ao processo elétrico de gravação, pois já era considerado um artista da chamada “velha guarda”, além do quê alguns de seus companheiros já haviam falecido (Mário Pinheiro, Eduardo das Neves) ou se aposentaram precocemente (caso de Cadete). Ainda assim, continuou funcionário da Casa Edison, uma compensação que Fred Figner lhe deu pelos serviços prestados nos primeiros tempos da companhia, pois era a “cara” da mesma. E lá continuaria trabalhando até falecer, em  15 de julho de 1944, aos 73 anos.

 

Nesta edição do GRB, temos 19 preciosíssimos fonogramas do pioneiro Bahiano, verdadeiros documentos da heroica era das 76 rotações por minuto (sim, 76, as 78 rpm viriam muito depois), todas evidentemente da Casa Edison, selos Zon-O-Phone e Odeon.  Abrindo-a, temos justamente “Isto é bom”, lundu de Xisto Bahia também conhecido como “Iaiá, vancê qué morrê?”, lançado em agosto de 1902 com o selo Zon-O-Phone, sob número 10001, justamente o disco pioneiro de nossa fonografia, depois relançado com o número X-1031. Note-se o improviso que Bahiano faz entre as estrofes, numa lembrança de Xisto Bahia, falecido oito anos antes.  A faixa seguinte é a embolada “A espingarda”,de autoria de Jararaca (José Luiz Rodrigues Calazans), lançada pela Casa Edison com o selo Odeon sob número 122102, em 1922. A marchinha “Ai, amor”, de Freire Júnior, é do carnaval de 1921, lançada pela Odeon/Casa Edison com o número 121974. Em seguida,a cançoneta “O angu do barão”, de Ernesto de Souza, data de 1903, e é do disco Zon-O-Phone  X-670, reeditado depois com o número X-1046. Nossa quinta faixa é a marchinha “A baratinha”, de autoria do português Mário São João Rabelo, sucesso do carnaval de 1917, época em que já se delineava uma produção musical exclusivamente para os festejos momescos.  Bahiano a lançou pela Odeon/Casa Edison sob número 121320. A cançoneta “A pombinha da Lulu”, de Costa Silva, é gravação de 1913, disco Odeon 120148, matriz XR-1692. A marchinha “Ai, Filomena”, adaptação de uma canção italiana feita por J. Carvalho de Bulhões, com letra ironizando o então presidente da República, marechal Hermes da Fonseca, o “seu Dudu”. foi sucesso no carnaval de 1916, em disco Odeon 120988. O cateretê “Eu só quero é beliscá”, de Eduardo Souto, data de 1922 (Odeon 122127).  De letra bastante apimentada, a cançoneta “O taco”, de autor desconhecido, data de 1913, e a Odeon/Casa Edison a lançou na voz do nosso Bahiano sob número 108531, matriz XR-1127. Como se vê,as plateias não eram assim tão puritanas como pensamos hoje… Outra cançoneta de autor desconhecido é “Os mosquitos”, gravação também de 1913, do Odeon 108716. Nessa época, o Rio de Janeiro,´então capital do Brasil, enfrentava séria epidemia de febre amarela, combatida com energia pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz. “Pra exposição”, de autor desconhecido, é de 1903, disco Zon-O-Phone X-697.  A modinha “Quem eu sou?”, igualmente de autor ignorado,saiu em fevereiro de 1914, e é do disco Odeon 120917. A faixa seguinte é um verdadeiro clássico da MPB: o tango-fado “Luar de Paquetá”, de Freire Júnior e Hermes Fontes, sem dúvida a mais belas das composições musicais que a famosa ilha do litoral do Rio de Janeiro inspirou.  Bahiano a imortalizou no Odeon 122064,em 1922, e neste registro original ele canta a letra completa, o que jamais aconteceria nas gravações posteriores de outros intérpretes. O lundu “Os colarinhos”, de autor desconhecido, data de 1913 (Odeon 108530, matriz XR-1126). Em seguida, um verdadeiro clássico: nada mais nada menos que “Pelo telefone”, de Donga e Mauro de Almeida, primeira composição denominada samba a obter sucesso. Samba que, evidentemente, mudaria muito com o passar do tempo. O Peru de que fala a letra é o próprio Mauro de Almeida, que, como cronista carnavalesco, assinava com o pseudônimo de Peru dos Pés Frios. Foi retumbante sucesso no carnaval de 1917, e Bahiano o imortalizou em disco no Odeon 121322. “Regente de orquestra”, de autor desconhecido,  disco Zon-O-Phone X-649, talvez seja de 1903. A serenata “São Paulo futuro (Os cavaleiros do luar)” é de 1916, disco Odeon 120991, composição de Marcelo Tupinambá (Fernando Álvares Lobo,Tietê, SP, 29/5/1889-São Paulo, 4/7/1953). A sátira política volta a bater ponto em “Ai, seu Mé”, marchinha do carnaval de 1922, de autoria de Freire Júnior (que se escondeu sob o pseudônimo de Canalha das Ruas) e Luiz Nunes Sampaio,o Careca. É um ataque ao então presidenciável Artur Bernardes,o”seu Mé” de que fala a música, e adversário de Nilo Peçanha. Freire Júnior chegou a ser preso e a marchinha foi proibida pela censura da época, acusada de subversão, mas ainda assim estourou nessa folia. Bahiano a gravou no Odeon 122115, e, apesar do sucesso, Artur Bernardes venceu a eleição presidencial , pondo mesmo o pé no Palácio das Águias,o do Catete, então sede do governo federal.  “O genro e a sogra” é um dueto de Bahiano com a Senhorita Consuelo, de quem nada se sabe, em gravação Zon-O-Phone provavelmente de 1904, disco X-763. Por fim, encerrando esta seleção histórica, temos o desafio “Cabala eleitoral”, que também o título de “Cabo eleitoral”, dueto de Bahiano com Cadete, gravação  de 1912, disco Odeon 120035. Todas essas gravações mecânicas, é bom que se frise, eram precedidas de um anúncio vocal, informando o título, o intérprete e sempre terminando com “Casa Edison, Rio de Janeiro”. Possivelmente  esse anúncio, em geral feito pelo chefe de estúdio Nozinho,  servia para facilitar a compreensão  dos analfabetos, por sinal método bem prático…  Enfim, é com muita alegria que oferecemos mais esta edição do GRB, dedicada ao pioneiro Bahiano, e que por certo irá figurar nos arquivos de muitos de nossos amigos cultos, ocultos e associados, por se tratar de documento musical e histórico imprescindível.
* Texto de Samuel Machado Filho

 

A Música De Caxiné – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 127 (2014)

Esta semana comemoramos o Dia Nacional do Samba, 2 de dezembro. Entrando no clima, a edição de número 127 do nosso Grand Record Brazil vem com toda a ginga e espontaneidade, apresentando uma amostra do trabalho de um dos maiores compositores do gênero: Eden Silva, popularmente conhecido como Caxiné. Poucos são os dados biográficos a seu respeito. Entretanto, Eden “Caxiné” Silva foi um verdadeiro gênio de nossa música popular. Participou da Escola de Samba Depois eu Digo, e também fundou a Independentes do Leblon, a Unidos do Humaitá, e a Acadêmicos do Salgueiro (que surgiu da fusão da Depois eu Digo com a Azul e Branco, ambas as escolas situadas no Morro da Tijuca). Caxiné é considerado inclusive um dos maiores compositores que o Salgueiro já teve em todos os tempos, tendo também feito bons trabalhos para blocos carnavalescos. Foi eleito Cidadão Samba em 1946, e era também carnavalesco. Caxiné  e Aníbal da Silva, conhecido como o “seresteiro da Praia do Pinto” (situada no Leblon, Zona Sul carioca)formaram uma dupla de compositores de muito sucesso nos anos 1940/50, tendo composto quase todos os sambas-enredo da Depois eu Digo na década de 40. “Brasil, fonte das artes”, que fez em parceria com Djalma “Sabiá” Costa e Nilo Moreira, foi um dos primeiros sambas-enredo a ser gravados comercialmente (inclusive está nesta edição).  Caxiné faleceu em 1963, deixando várias músicas que fazem parte da história do samba: sambas-canções, de terreiro, de enredo…
Nesta edição do GRB, apresentamos dez gravações que montam um pequeno-grande panorama da obra musical de Caxiné, seleção esta idealizada pelo Blog Coisa da Antiga.  Abrindo o programa, temos “Tudo é ilusão”, parceria dele com Aníbal da Silva e Tufic Lauar (mais tarde cantor de sucesso com o pseudônimo  de Raul Moreno). Destinado ao carnaval de 1945, foi gravado na Odeon por Odete Amaral, “a voz tropical do Brasil”, em 5 de outubro de 44, com lançamento ainda em dezembro, sob número  12519-B, matriz 7676. Voltaria a fazer sucesso vinte anos mais tarde, numa gravação de Clara Nunes.  A faixa seguinte é talvez o trabalho mais famoso de Caxiné: “Rosa Maria”, outra parceria dele com Aníbal, até hoje cantado em rodas de samba. Um dos campeões do carnaval de 1948, foi imortalizado na RCA Victor por Gilberto Alves em 9 de outubro de 47, com lançamento um mês antes da folia, em janeiro, disco 80-0564-A,matriz S-078792. Caxiné e Aníbal assinam também nossa terceira faixa, “Vem me consolar”, samba do carnaval de 1949, interpretado por Zé e Zilda, “a dupla da harmonia”.  Gravação Continental de 13 de outubro de 48, lançada um mês antes dos festejos momescos, em janeiro, sob n.o 15984-A,matriz 1980. Em seguida, uma homenagem de Caxiné e Aníbal a outro grande sambista: “Paulo da Portela”,aliás, Paulo Benjamin de Oliveira, falecido prematuramente, aos 47 anos, em 31 de janeiro de 1949. Zé e Zilda também gravaram este samba, na Star (futura Copacabana), disco 151-A. para a folia de 1950. A dupla ainda nos apresenta  outro samba de rara beleza de Caxiné e Aníbal, aqui em parceria com Noel Rosa de Oliveira, “Falam de mim”, lado B do disco Continental de “Vem me consolar”, matriz 1981, e outro sucesso do carnaval de 1949. Completando este trabalho, cinco faixas de um precioso LP de 10 polegadas da Todamérica, gravado por integrantes da escola de coração de Caxiné, o Salgueiro, lançado em maio de 1957 e intitulado apenas “Samba!” (LPP-TA-12).  “Brasil, fonte das artes”, já mencionado acima, parceria de Caxiné com Djalma “Sabiá” Costa e Nilo Moreira, havia aparecido em 1957, em versão resumida, na voz de Emilinha Borba, que também apresentou a música no filme “Garotas e samba”, da Atlântida. Aqui, neste registro de integrantes do Salgueiro, este samba-enredo de 56 é apresentado com a letra completa. Caxiné e Djalma, agora na companhia de Oldemar Magalhães, assinam o samba “Novo dia”, até agora só com esta gravação. Não podia faltar uma “Exaltação ao Salgueiro”, que Caxiné assina com seu parceiro mais constante, Aníbal da Silva, e mais uma vez Nilo Moreira. E – por que não? – uma “Exaltação à Tijuca”, em cujo morro o Salgueiro surgiu, novamente com Caxiné e Nilo Moreira na parceria, e aqui junto com Luís Silva. Para encerrar, uma regravação de “Tudo é ilusão” (ouça, na faixa 1, o registro original de Odete Amaral). Enfim,  uma homenagem que o Grand Record Brazil presta,com muita justiça, a Eden Silva, o Caxiné, sem dúvida um gênio do samba carioca e brasileiro.
* Texto de Samuel Machado Filho

João Nogueira & Cartola – Projeto Pixinguinha 1977 (2014)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Já faz tempo que eu não dou sequência a esta coleção de shows do Projeto Pixinguinha. Tá na hora de voltar, pois afinal ainda temos uma dezena de espetáculos, com um time de artistas de primeiríssima. Como já informei em outros volumes, as gravações aqui apresentadas fazem parte de material do excelente site “Brasil  Memória das Artes“, um projeto da Funarte onde boa parte do seu acervo em áudiovisual está disponível para consulta permanente. Entre esses os registros de shows do Projeto Pixinguinha.
Como todos podem ver, temos aqui em nosso volume 8 dois grandes sambistas. Melhor ainda, dois grandes compositores reunidos em show realizado em 1977. Aqui temos apenas 17 músicas, num roteiro que contava com mais de 20. Infelizmente nem todas foram disponibilizadas. Procurei editar cada música seguindo a sequência do programa. A gravação não está muito boa pois o som captado vem apenas dos microfones de voz. Daí, os instrumentos aparecem muito baixo. Mas mesmo assim vale a pena conferir esse encontro histórico.

nó na madeira – joão nogueira
batendo a porta – joão nogueira
wilson geraldo noel – joão nogueira
pimenta no vatapá – joão nogueira
espelho – joão nogueira
samba da bandola – joão nogueira
alvorada -cartola
corra e olhe o céu – cartola
disfarça e chora – cartola
autonomia – cartola
o mundo é um moinho – cartola
acontece – cartola
chorando pelos dedos – joão nogueira
tive sim – joão nogueira e cartola
não quero mais amar a ninguém – joão nogueira e cartola
o sol nascerá – joão nogueira e cartola
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Adelaide Chiozzo (parte B) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 126 (2014)

E aqui estamos mais uma vez com o meu, o seu, o nosso Grand Record Brazil. Esta semana concluímos a retrospectiva dedicada à cantora, atriz e acordeonista  Adelaide Chiozzo, uma verdadeira  estrela dos áureos tempos do rádio e dos filmes musicais.  Durante os 25 anos em que permaneceu na Rádio Nacional, Adelaide era anunciada de diversas maneiras, conforme o programa: “A Que Tem Simpatia Para Dar e Vender” (César de Alencar),  “A Bela e o Seu Acordeão” (Paulo Gracindo) e, aí já incluindo seu marido, o violonista Carlos Matos, “O Casal 20” (Manoel Barcelos).  Desta feita, o GRB oferece mais dez preciosas gravações da notável Adelaide. Abrindo a seleção desta semana, a polca “Zé da Banda”, de autoria do acordeonista (e também professor de acordeão)  Alencar Terra, em dueto com sua amiga e parceira de cinema  Eliana Macedo.  Saiu pela Star em maio-junho de 1952, sob número 345-A.  Em seguida, o belo baião “Nós três”, de autoria de Garoto, Fafá Lemos e Chiquinho do Acordeão, cujo título, por certo, se refere a eles mesmos.  A música surgiu pela primeira vez em disco, em versão apenas instrumental , em julho de 1955, na execução do acordeonista Ribamar. Logo em seguida, Adair Badaró, sem precisar mexer no título, escreve uma letra tendo em vista o nascimento de Creuza Maria, filha única de Adelaide Chiozzo e Carlos Mattos. Outros três… A versão cantada de Adelaide saiu pela Copacabana em outubro-novembro de 1955, sob número 5470-B, matriz M-1252. Temos depois a valsa junina “Casório lá do arraiá”, da conhecida dupla de autores Getúlio Macedo-Lourival Faissal, em que Adelaide é acompanhada por uma bandinha que parece ser a do mestre Altamiro Carrilho, à época (1954) também contratado da Copacabana, que lançou a composição sob n.o 5248-A, matriz M-808. A rancheira “Tempinho bom”, de autoria de outro grande mestre do acordeão, Mário Zan, em parceria com Sereno, é também gravação Copacabana de 1954, lançada pouco antes (disco 5201-B, matriz M-690), e Adelaide também a cantou no filme “O petróleo é nosso”, da Brasil Vita Filmes (em nosso volume anterior, está o lado A, a toada “Meu sabiá”, incluída no mesmo filme). Neste registro, o acompanhamento orquestral é de Alexandre Gnattali, irmão de Radamés.  O baião junino “Vai comendo, Raimundo…”, nossa faixa seguinte, também de 54, vem a ser o lado B de “Casório lá do arraiá”, matriz M-809, e foi composto por Petrus Paulus e Ismael Augusto.  Adelaide e Eliana  voltam a se encontrar em nossa sexta faixa, “Vapô de Carangola”, um coco muito animado, de autoria de dois grandes expoentes da MPB, ambos pernambucanos, Manezinho Araújo, “O Rei da Embolada”, e Fernando Lobo, jornalista e produtor,  pai do compositor-cantor Edu Lobo. É o lado B do disco de “Zé da Banda”, o Star 345, lançado em maio-junho de 1952. A rancheira “Tempo de criança”, de João de Souza e Ely Turquine, é o lado B do primeiríssimo disco de Adelaide Chiozzo, o Star 192,lançado em janeiro de 1950, e do qual já apresentamos o lado A, o clássico “Pedalando”.  A rancheira foi também apresentada por Adelaide no filme “E o mundo se diverte”, da Atlântida”, onde sua amiga e parceira Eliana Macedo (antes uma professora primária em Itaocara, interior fluminense, descoberta por seu tio, Watson Macedo, durante uma visita à cidade) também fez sua estreia no cinema, como atriz. O baião “É noite, morena” é dos irmãos Hervê e Renê Cordovil, lançado pela Star em julho-agosto de 1952, sob número 367-A. Temos depois um outro baião, este junino, “Papel fino”, de autoria de Mirabeau, Cid Ney e Don Madrid, que a Copacabana leva para as lojas em 1956, disco 5590-A, matriz M-1544. Encerrando esta seleção, a valsa “Meu papai”, outra composição de Getúlio Macedo e Lourival Faissal, feita, como indica o título, para o Dia dos Pais, data que começou a ser comemorada entre nós em 1953, no Rio de Janeiro, e dois anos mais tarde em São Paulo.  Cantada por Adelaide junto com o coro do programa “Clube do Guri”, então transmitido pela Rádio Tamoio do Rio de Janeiro, saiu pela Copacabana em 1956, sob número 5640-A, matriz M-1648. Portanto, aí está, para deleite de todos os que apreciam o que é bom e fica para sempre, a segunda e última parte do retrospecto dedicado pelo nosso GRB à notável Adelaide Chiozzo, estrela que deixou sua  marca indelével  na música e no cinema do Brasil.
* Texto de Samuel Machado Filho

Adelaide Chiozzo (parte 1) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 125 (2014)

Esta semana o Grand Record Brazil, o “braço de cera” do TM,  oferece a primeira de duas partes de uma retrospectiva dedicada a uma notável estrela dos áureos tempos do rádio e dos filmes musicais, extraordinária cantora, acordeonista e atriz: Adelaide Chiozzo. Nossa homenageada veio ao mundo em São Paulo, no dia 13 de maio de 1931, na Rua Martim Buchard, no bairro do Brás, tradicional reduto de italianos e seus descendentes. Residia perto das porteiras do Brás, nas quais costumava se dependurar quando elas se moviam para dar passagem ou impedir o trânsito, autêntico divertimento das crianças nessa época. Seu pai,Geraldo Chiozzo, era natural de Botucatu, interior paulista, e a mãe,Leonor Cavallini, era de Sorocaba. . Hábil marceneiro e mestre-entalhador, Geraldo Chiozzo era gerente da fábrica de móveis Paschoal Bianco. Mais tarde passou a trabalhar por conta própria, recebendo encomendas da mesma empresa.  Certa vez, uma loja de músicas pagou os serviços do “seu” Geraldo com um acordeão, que ele não conseguia tocar (o forte dele era o violão).  Quem acabou se interessando pelo  instrumento foi Adelaidinha, que às escondidas tirou a primeira música, a valsa “Saudades de Matão”, sem auxílio de professor.  Os quatro filhos de Geraldo e Leonor, aliás, tinham inclinação musical. Carolina, a mais velha, cantava e tocava violão. O segundo filho, Afonso, também era de acordeão. A filha caçula, Silvinha, cantava, e Adelaide,a terceira filha, é o que sabemos. Aos 11 anos, Adelaidinha se inscreveu num programa de calouros da PRH-9, Rádio Bandeirantes (então “a mais popular emissora paulista”), apresentado por Vicente Leporace, apenas solando músicas como “Branca” e “Saudades de Matão”.  Cumpridas  quatro etapas, ganhou o primeiro prêmio, em dinheiro, e o convite para atuar em um programa sertanejo matinal da mesma emissora, “Na Serra da Mantiqueira”, dirigido pelos Irmãos Mota, que também faziam seus números.  Para maior segurança da garota, seu pai, homem rígido, determinou que Afonso, com seu acordeão, fizesse dupla com ela: os Irmãos Chiozzo.  Durante alguns anos, eles passaram a excursionar pelo interior junto com os Irmãos Mota. E toda a família Chiozzo  ia em peso, inclusive “seu” Geraldo, de violão em punho,  e Dona Leonor, a única não incorporada à parte artística.  Durante uma apresentação na cidade mineira de Andradas, em 1945, alguém adentrou o recinto e anunciou, aos gritos, o fim da Segunda Guerra Mundial. Artistas e público imediatamente saíram às ruas, cantando, para comemorar. Em 1946, o pai de Adelaide Chiozzo se muda para Niterói e monta uma pequena fábrica de móveis. O compositor Irany de Oliveira, por acaso, redescobre a futura estrela e a leva ao prestigioso programa de calouros “Papel carbono”, de Renato Murce, na lendária Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Renato exigia uma imitação e ela escolhe a de Pedro Raimundo, “o gaúcho alegre do rádio”. Após quatro semanas, ganha o primeiro prêmio e um contrato da Nacional, mas apenas como acordeonista , pois acreditavam que ela tinha mesmo aquela voz imitativa. Assim passa a fazer parte do regional do flautista Dante Santoro, um dos melhores do Brasil, mesmo sendo mulher e jovenzinha, porém à altura daqueles músicos experientes. Um ano e meio depois, uma cantora falha durante a transmissão e Adelaide, que a acompanhava ao acordeão, a substitui na emergência. Só assim descobrem sua bela voz, passando a aproveitá-la também como cantora. Permaneceria na Rádio Nacional por 25 anos. Foi também Irany de Oliveira quem levou Adelaide, em 1946, com quinze anos, para um teste de cinema na Atlântida, sendo aprovada. Ela e o irmão Afonso acompanham o cantor-caubói Bob Nélson em dois filmes: “Este mundo é um pandeiro” (1947) e “É com esse que eu vou” (1948). Em “E o mundo se diverte” (1949), consegue um quadro só seu, interpretando a rancheira “Tempo de criança”, que mais tarde gravaria e estará em nosso próximo volume. Estreou como atriz no filme “Carnaval no fogo” (1949), onde também interpretou a polca “Pedalando”, que seria para sempre seu carro-chefe e consta deste volume.  Atuou também em “Aviso aos navegantes” (Atlântida, 1950), “O petróleo é nosso” (Brasil Vita Filmes, 1954) e “Garotas e samba” (Atlântida, 1957), entre outros filmes. Em janeiro de 1951, casou-se com o violonista e professor de violão Carlos Azevedo Matos (entre namoro, noivado e casamento foram apenas seis meses, pois “seu” Geraldo  não abria mão da marcação cerrada). Tiveram uma única filha, Cristina Maria, nascida em 1955, que lhe deu três netos, também músicos talentosos, que passariam também a acompanhar Adelaide em suas apresentações:  o baixista e guitarrista Bruno, o tecladista e cavaquinista Fábio Leandro, e o baterista Roberto.  O casamento durou até a morte de Carlos Matos, em 2006, aos 80 anos de idade. Por sugestão de Paulo Gracindo, a “Revista do Rádio” promoveu um concurso para escolher a Namoradinha do Brasil, por votação dos leitores. Adelaide ganhou, e ostentaria esse título para sempre, pois não houve outra eleição. Em 1975, seu espetáculo “Cada um tem o acordeão que merece” foi considerado pela crítica o melhor daquele ano. Em 2003, recebeu da Assembleia Legislativa do Ceará o título honorário de “cidadã cearense”. Adelaide Chiozzo gravou,em 78 rpm, 18 discos com 36 músicas, entre 1950 e 1958, sendo oito delas em dueto com Eliana Macedo, também atriz e sobrinha do cineasta Watson Macedo, e duas com sua irmã Sylvinha, todos pela Star e sua sucessora, a Copacabana.  Ainda gravou, em 1957, o LP “Lar… Doce melodia”, também na Copacabana.  Na televisão, atuou nas novelas “Feijão maravilha” (1979), “Cambalacho” (1986), “Deus nos acuda” (1992-93), todas pela Rede Globo, e na segunda versão de “Uma rosa com amor” (2010), pelo SBT.
Nesta primeira parte da retrospectiva que o GRB dedica a Adelaide Chiozzo, temos onze gravações históricas, nas quais, em sua maior parte, é acompanhada pelo conjunto do marido Carlos Matos.  Para começar, temos o clássico “Beijinho doce”, valsa ou corrido de José Alves dos Santos, o Nhô Pai, originalmente lançado pelas Irmãs Castro em 1945. Adelaide o interpretou junto com Eliana Macedo no filme “Aviso aos navegantes”, da Atlântida, e ambas repetiram o dueto em disco, o Star 263-A, em gravação de 1951. Na faixa seguinte, Adelaide recorda, em ritmo de baião (em moda na época),  a canção “Minha casa”, de Joubert de Carvalho, originalmente gravada por Sílvio Caldas em 1946. O registro de Adelaide saiu pela Star em julho-agosto de 1952, disco 367-B. Em seguida, a toada “Meu sabiá”, de Carlos Matos em parceira com Antônio Amaral. Saiu pela Copacabana  em 1954, sob número 5201-A, matriz M-689, sendo também cantada por Adelaide no filme “O petróleo é nosso”,  da Brasil Vita Filmes. A orquestração e a regência são de Alexandre Gnattali, irmão de Radamés.  “Sabiá na gaiola”, clássico baião de Hervê Cordovil e Mário Vieira, é outro duo de Adelaide com Eliana Macedo, que o interpretaram no filme “Aí vem o barão”, outra produção da Atlântida.  Originalmente lançado por Carmélia Alves, em 1950, seria regravado um ano mais tarde por Adelaide e Eliana na Star, disco 264-A. “Nossa toada”, feita para outro filme da Atlântida, “Garotas e samba” (onde Adelaide faz par romântico com o cantor Francisco Carlos, “El Broto”),  é gravação Copacabana de 1957, lançada com o número  5750-A, matriz M-1890. Foi composta por Carlos Matos em parceria com Luiz Carlos, um jovem compositor que logo faleceria sem poder assistir ao filme nem ouvir a gravação. Em seguida, temos a marchinha junina “Cada balão uma estrela”, de Zé Violão e Carrapicho, lançada pela Star em julho-agosto de 1952, disco 356-B. O clássico “Cabeça inchada”, outra composição de Hervê  Cordovil, foi originalmente lançado como balanceio, em 1949, por Sólon Sales. Aqui Adelaide Chiozzo e Eliana Macedo o recordam em ritmo de baião, em gravação lançada pela Star no lado B de “Beijinho doce”, disco 263, em 1951, mesmo ano do registro de Carmélia Alves pela Continental.  Adelaide e Eliana voltam a se encontrar nas duas faixas seguintes, lançadas em janeiro de 1953 para o carnaval,pela Copacabana, sob número 5026: o samba “Com pandeiro na mão” (lado B, matriz M-283), de Manoel Pinto,  D. Ayrão e Jorge Gonçalves, e a marchinha “Queria ser patroa” (lado A, matriz M-282), só de Manoel Pinto e D. Ayrão,  que Eliana interpretou solo no filme “Carnaval Atlântida”. A seguir, a música que consagrou Adelaide Chiozzo:  a polca “Pedalando”, com melodia do pianista Benê Nunes e letra do ator e futuro cineasta Anselmo Duarte. Adelaide a cantou no filme “Carnaval no fogo”, da Atlântida, sob a direção de Watson Macedo,  num cenário holandês, com moinhos de vento e tudo o mais. É a faixa de abertura de seu primeiro disco, o Star 192, lançado em janeiro de 1950, e aqui o acordeão que acompanha Adelaide é de Alencar Terra. Para terminar, outro clássico de Nhô Pai, agora em parceria com outro grande acordeonista, Mário Zan: o rasqueado “Orgulhoso”, criação das Irmãs Castro em 1947, e aqui apresentada em novo dueto de Adelaide com Eliana Macedo, que saiu pela Star em 1951, no lado B de “Sabiá na gaiola”, disco 264. Na próxima semana, concluiremos esta retrospectiva  que o GRB dedica a Adelaide Chiozzo. Até lá!
*Texto de Samuel Machado Filho

Sambas – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 123 (2014)

E prossegue a gloriosa trajetória do Grand Record Brazil. Já estamos na edição de número 123, e nela estamos apresentando uma seleção especialmente dedicada ao samba. São 15 gravações, com sambas de autores consagrados do gênero, interpretados pelos melhores cantores de sua época.  Abrindo esta edição, temos “Capital do samba”, de José Ramos (1913-2001), fluminense de Campos, que ajudou a fundar a ala de compositores da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, na interpretação do sempre notável Gilberto Alves. Gravação Odeon de 9 de setembro de 1942, lançada em outubro do mesmo ano, disco 12214-A, matriz 7053. Dos cariocas João da Baiana (João Machado Guedes, 1887-1974) e Babaú da Mangueira (Waldomiro José da Rocha, 1914-1993) é “Sorris de mim”, a faixa seguinte, interpretada por Odete Amaral, “a voz tropical do Brasil”. Ela o gravou na Victor em 9 de julho de 1940,com lançamento em setembro do mesmo ano, disco 34657-B, matriz 33463. De Paquito (Francisco da Silva Fárrea Júnior, 1915-1975) e do lendário Paulo da Portela  (Paulo Benjamin de Oliveira, 1901-1949), foi escalado “Arma perigosa”, na interpretação de Linda Rodrigues (Sophia Gervasoni, 1919-1995). É o lado A de seu terceiro 78, o Continental 15423, lançado em setembro de 1945, matriz 1136. Na quarta faixa, um clássico indiscutível do mestre Ary Barroso: é “Morena boca de ouro”,  na interpretação de Sílvio Caldas, que o imortalizou na Victor em 4 de julho de 1941, com lançamento em setembro do mesmo ano, disco 34793-A, matriz S-052259. Foi várias vezes regravado,inclusive por João Gilberto, que o incluiu em seu primeiro LP, “Chega de saudade”, em 1959. O dito popular “Quem espera sempre alcança” dá título à nossa quinta faixa, mais uma composição do lendário Paulo da Portela. Quem canta este samba é Mário Reis, em gravação lançada pela Odeon em setembro de 1931, disco 10837-B, matriz 4272, com acompanhamento da Orquestra Copacabana, do palestino Simon Bountman. “Quem mandou, Iaiá?” é de Benedito Lacerda (também no acompanhamento com sua flauta mágica e inconfundível) e Oswaldo “Baiaco” Vasques, e foi lançado pela Columbia  para o carnaval de 1934, em janeiro desse ano, na voz de Arnaldo Amaral, disco 22262-A, matriz 1005. Também de Baiaco, em parceria com João dos Santos, é nossa sétima faixa, “Conversa puxa conversa”, gravação Victor de Almirante (“a maior patente do rádio”) em 24 de abril de 1934, lançada em julho do mesmo ano com o n.o 33800-A, matriz 79615, com acompanhamento da orquestra Diabos do Céu, formada e dirigida por Pixinguinha.  Babaú da Mangueira volta em nossa faixa 8, “Ela me abandonou”, samba do carnaval de 1949, em parceria com Taú Silva. Novamente aqui comparece Gilberto Alves, em gravação RCA Victor de 23 de dezembro de 48, lançada um mês antes da folia,em janeiro,disco 80-0591-B, matriz S-078852. Autor de clássicos do samba, Ismael Silva (1905-1978) mostra seu lado de intérprete em “Me deixa sossegado”, que assina junto com Francisco Alves e Nílton Bastos, e foi lançado pela Odeon em dezembro de 1931, disco 10858-B,matriz 4281. De família circense, sobrinho do lendário palhaço Piolim,  o comediante paulista Anchizes Pinto, o Ankito (1924-2009), considerado um dos cinco maiores nomes da era das chanchadas em nosso cinema, bate ponto aqui com “É fogo na jaca”, samba de Raul Marques, Estanislau Silva e Mateus Conde. Destinado ao carnaval de 1954, foi lançado pela Columbia (depois CBS e hoje Sony Music) em janeiro desse ano, sob n.o  CB-10017-B, matriz CBO-152. Paulo da Portela volta na faixa 11, assinando com Heitor dos Prazeres “Cantar pra não chorar”, do carnaval de 1938. Quem canta é Carlos Galhardo, “o cantor que dispensa adjetivos”, em gravação Victor de 15 de dezembro de 37, lançada um mês antes da folia, em janeiro, disco 34278-B, matriz 80634. Na faixa 12, volta José Ramos, agora assinando com o irmão, Marcelino Ramos, “Jequitibá”. Gravação de Zé e Zilda (“a dupla da harmonia”), em 1949, na Star, disco 151-B, por certo visando o carnaval de 50. A eterna “personalíssima”, Isaura Garcia, vem com o samba “Mulher de malandro”, de Hervê Cordovil.  Gravado na Victor em 23 de outubro de 1945, seria lançado apenas em  setembro de 46, sob n.o 80-0431-B, matriz S-078380. Ernani Alvarenga, o Alvarenga da Portela, assina “Fica de lá”, samba do carnaval de 1939, em gravação Odeon de Francisco Alves, datada de 16 de dezembro de 38 e lançada bem em cima da folia,em fevereiro, disco 11700-A,matriz 5995. Por fim, temos o samba “Não quero mais”, samba de autoria de Zé da Zilda (também conhecido por Zé com Fome e José Gonçalves) e Carlos Cachaça (Carlos Moreira de Castro, que apareceu no selo com o sobrenome errado, “da Silva”),  gravado na Victor por Aracy de Almeida  em 9 de setembro de 1936 e lançado em dezembro do mesmo ano, disco 34125-A, matriz 80214, certamente com vistas ao carnaval de 37. Note-se, a respeito deste samba, que Cartola tinha feito duas segundas partes, mas Zé da Zilda fez uma outra segunda parte por conta própria e, assim, eliminou Cartola da co-autoria. Enfim, é uma excelente seleção de sambas que o GRB  nos oferece, para apreciação de todos aqueles que apreciam o melhor de nossa música popular.

* Texto de Samuel Machado Filho

Sertanejos – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 122 (2014)

Já em sua edição de número 122, o Grand Record Brazil volta a oferecer significativa parcela do rico acervo da chamada música sertaneja de raiz aos amigos cultos, ocultos e associados do TM. Uma seleção de quinze preciosíssimas gravações, que por certo farão a alegria dos apreciadores do gênero,  especialmente aqueles que estão decepcionados com o dito “sertanejo universitário”, que tanto tem infestado a mídia nos dias correntes.

Abrindo esta seleção, um representante da música regional nordestina, Zé do Norte (Alfredo Ricardo do Nascimento, Cajazeiras, PB, 18/12/1908-idem, 2/10/1979). Ele nos apresenta aqui uma bela toada que fez em parceria com José Martins, “Lua bonita”, por ele mesmo interpretada no filme “O cangaceiro”, da Vera Cruz, êxito internacional que, no entanto, não impediu a falência do estúdio, pois tal repercussão beneficiou apenas sua distribuidora, a multinacional Columbia Pictures. Gravação RCA Victor de 29 de janeiro de 1953, lançada em abril do mesmo ano, disco 80-1100-B, matriz SB-093595. Conhecido como “a maravilha negra das Américas”, Edson Lopes (c.1930-?) aqui nos oferece o jongo “Cafuné”, assinado pelo campineiro Dênis Brean (Oswaldo Duarte Ribeiro) em parceria com Gilberto Martins. Originalmente lançado por Aracy de Almeida, em 1955, é revivido aqui por Edson em gravação Odeon de primeiro de fevereiro de 1957, lançada em maio do mesmo ano, disco 14202-A, matriz 11543. Da escassa discografia da dupla Coqueiro e Belinha (apenas cinco discos 78 com dez músicas), foi escalada a guarânia “Lei de um mandamento”, de Coqueiro sem parceria.  Foi gravada na Odeon em 13 de junho de 1960, e lançada emjulho do memso ano, disco 14639-A, matriz 50567, sendo que a “marca do templo” o reeditou mais tarde com o selo Orion, sob número R-072. Em seguida apresentamos as faixas do único 78 da dupla Ibirama e Maruí, o RCA Camden CAM-1092, gravado em 17 de outubro de 1961 e lançado em janeiro de 62,com músicas assinadas por Pavãozinho. No lado A, matriz M3CAB-1508, o xote “Linda gaúcha”, em que Pavãozinho tem a parceria de Sereno. No lado B, matriz M3CAB-1509, a canção rancheira “Deixe eu sofrer”, de Pavãozinho sem parceiro.  O “trio orgulho do Brasil”, Luizinho, Limeira e Zezinha, aqui bate ponto com o conhecidíssimo baião “Casamento é uma gaiola”, de autoria do Compadre Generoso (muita gente se lembra dessa música na voz do Sérgio Reis, e aqui vai o registro original) , por eles gravado na Odeon em 2 de abril de 1959 e lançado em junho do mesmo ano sob número 14463-B, matriz 50108, sendo depois relançado com o selo Orion sob número R-058, além de figurar em LP sem título.  A dupla Mariano e Cobrinha, ambos de Piracicaba, SP, apresentam aqui a toada “Mágoas de carreiro”, de autoria do comediante e ventríloquo Batista Júnior, pai das cantoras Linda e Dircinha Batista. Lançada em 1929 pelo próprio autor, é aqui apresentada em gravação feita por Mariano e Cobrinha na Continental em 6 de abril de 1948 e lançada em maio-junhoi do mesmo ano, disco 15902-B, matriz 10839. O próprio Batista Júnior, aliás, agradeceu pessoalmente a dupla por esta regravação. Do único 78 da dupla Oswaldinho e Vieirinha, o RCA Victor 80-1818, gravado em 25 de março de 1957 e lançado em julho do mesmo ano, aqui está o lado B, a toada “Canção do tropeiro”, de exclusiva autoria de Vieirinha, matriz 13-H2PB-0078. Temos em seguida, as faixas do único disco da dupla feminina Chiquita e Chinita,o Columbia CB-10280, lançado em outubro de 1956, ambas de autoria de Francisco Lacerda com parceiros, um em cada música. No lado B, o valseado ‘Cavalinho pampa”, matriz CBO-821, o parceiro de Lacerda é Ricardo Jardim, e no lado A, o tango “Parabéns, meu amor”, matriz CBO-820, o co-autor é José Maffei.  Outra dupla feminina de discografia escassa (seis discos 78 com doze músicas, todos pela Columbia), as Irmãs Cavalcanti (Noemi, que foi vocalista do Trio de Ouro em sua segunda fase,  e Odemi) aqui comparecem com as faixas do disco de estreia, número CB-10029. No lado A, delas próprias, matriz CBO-170, o baião “Lumiô, lumiô”, e no lado B, matriz CBO-171, a guarânia “Ponta Porã”, de Pereirinha e Jamir da Silva Araújo. As Irmãs Maria (Thereza Gadotti e Maria Aparecida Oliveira), também de curta carreira discográfica, aqui apresentam o huapango “Por te querer”, de Piaozinho e Maria Aparecida Oliveira, lançadopela Continental, selo Caboclo, em julho de 1961, disco CS-457-A.  Silveira e Barrinha, “a dupla dos 22 Estados”, nos oferece a clássica moda campeira “Coração da pátria”, de Silveira, Lourival dos Santos e Sebastião Victor, gravação RCA Camden de 25 de maio de 1962, disco CAM-1133-A, matriz N3CAB-1712. E, encerrando esta seleção, Zé Carreiro e Carreirinho, “os maiores violeiros do Brasil”, apresentam o cururu clássico “Saudades de Araraquara”, de exclusiva autoria de Zé Carreiro, gravado na Continental em 9 de maio de 1952 e lançado entre esse mês e junho do mesmo ano, disco 16580-A, matriz 11381. Enfim, a mais autêntica música do sertão brasileiro, para fazer a gente recordar, como diz meu colega de YouTube Adalésio Vieira, “um tempo em que realmente havia música sertaneja”…  Deliciem-se!

*Texto de Samuel Machado Filho

4 Ases & 1 Coringa (parte 2) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 121 (2014)

O Grand Record Brazil, em sua edição de número 121, apresenta a segunda parte de sua retrospectiva dedicada aos  Quatro Ases e um Coringa,  grupo vocal e instrumental cearense que, de fato, deu as cartas durante sua carreira, tanto no rádio quanto no disco.
São mais catorze gravações históricas e indispensáveis para quem estuda , pesquisa e cultua a música popular brasileira dessa época,  feitas pelo grupo cearense na Odeon e na RCA Victor. Abrindo esta seleção, o samba “Meu bairro canta”, de Waldemar Ressurreição, gravado na RCA Victor em 14 de abril de 1950 e lançado em julho do mesmo ano com o número 80-0663-B, matriz S-092658. A faixa seguinte é o clássico baião “Paraíba”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, lançado pouco antes por Emilinha Borba e regravado pelos Quatro Ases e um Coringa na marca do cachorrinho Nipper em 10 de agosto de 1950, com lançamento em outubro seguinte sob número 80-0698-B, matriz S-092732. Temos depois outro clássico, o samba “No Ceará é assim”, de Carlos Barroso, gravação Odeon de 14 de maio de 1942, lançada em agosto do mesmo ano, disco 12183-B, matriz 6565. O divertido samba “Coisas do carnaval”, de Ary Barroso (história de alguém que se apaixona por uma bela mulher e no fim… ) é gravação de 3 de março de 1942, que a “marca do templo” lança em abril seguinte com o número 12137-B, matriz 6909. Outro clássico que temos em seguida é a marchinha “Trem de ferro”, composta pelo cearense (e conterrâneo do grupo) Lauro Maia (1912-1950)e imortalizada na mesma Odeon em 3 de agosto de 1943 e lançado em setembro seguinte sob número 12355-A, matriz 7350. Foi regravada inclusive por João Gilberto, em seu terceiro LP, de 1961. Lauro Maia aqui comparece também com o batuque “Eu vi um leão”, sucesso inclusive na Argentina, onde os Quatro Ases e um Coringa se apresentaram durante uma excursão pelos países da região do Rio Prata. Foi por eles imortalizado na “marca do templo” em 16 de abril de 1942, e lançado em junho seguinte sob número 12160-A, matriz 6943. Voltando à RCA Victor, temos o samba “O dinheiro que ganho”, de Assis Valente,  gravação de14 de abril de 1951, lançada em julho do mesmo ano, disco 80-0791-B, matriz S-092954. Traduz muito bem as dificuldades financeiras por que passava Assis, que o levariam ao suicidio, em 1958 (ele bebeu uma mistura de guaraná com formicida), depois de várias tentativas.  “Garota dos discos”, de Wilson Batista e Afonso Teixeira, gravação de primeiro de julho de 1952 e lançado em setembro do mesmo ano, disco 80-0975-B, matriz SB-093343. A garota em questão trabalhava, logicamente, em uma loja de discos, tipo de estabelecimento comercial que praticamente perdeu força com o advento da internet e posterior surgimento de portais de aquisição de músicas, como o iTunes (hoje existem pouquíssimas lojas de discos no Brasil). A “Marcha do caracol”, de Peterpan e Afonso Teixeira, que os Quatro Ases e um Coringa também interpretaram no filme “Aviso aos navegantes”, da Atlântida, foi merecido sucesso no carnaval de 1951, mostrando que o problema da falta de moradia nas grandes cidades brasileiras vem de muito tempo.  Gravação RCA Victor de 4 de outubro de 1950, lançada ainda em dezembro sob número 80-0728-A, matriz S-092771. O samba “Maria Luiza”, de Pedro Caetano e Hélio Ribeiro, foi gravado na Odeon pelo conjunto cearense em 13 de abril de 1945, e lançado em junho do mesmo ano, disco 12585-A, matriz 7800. Em seguida temos o lado A do disco de estreia oficial dos Quatro Ases e um Coringa, o Odeon 12066, gravado em 23 de setembro de 1941 e lançado em novembro do mesmo ano, matriz 6794: é a marchinha “Os dois errados”, de Estanislau Silva, Álvaro Nunes e Nélson Trigueiro. O samba “Rendeira”, outra composição de Carlos Barroso,é gravação Odeon de 14 de maio de 1942, lançada em outubro seguinte sob número 12204-B, matriz 6967. Evenor Pontes (líder e fundador do grupo) e Luiz Assunção assinam a rancheira “Sá Mariquinha”, gravado na “marca do templo” em 18 de abril de 1947 e lançado em julho do mesmo ano, disco 12784-A, matriz 8212. Encerrando esta seleção, temos o clássico “Baião de dois”, outro grande produto da parceria Luiz Gonzaga-Humberto Teixeira lançado por Emilinha Borba, em 1950, e que os Quatro Ases e um Coringa regravariam na RCA Victor logo em seguida, no lado A de “Paraíba”, matriz S-092731. Sem dúvida, uma merecida homenagem aos Quatro Ases e um Coringa, verdadeiro tributo ao legado de um dos mais expressivos conjuntos vocais e instrumentais que a música popular brasileira já teve!
*Texto de SAMUEL MACHADO FILHO.

Elizeth Cardoso – Elvira Pagã – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 119 (2014)

E chegamos à edição de número 119 do nosso Grand Record Brazil, apresentando duas cantoras de diferentes estilos, mas ainda assim bastante representativas.
 A primeira delas é a também vedete e atriz Elvira Pagã (Elvira Olivieiri Cozzolino,  Itararé,SP, 6/9/1920-Rio de Janeiro, 8/5/2003), uma das personalidades mais ousadas de seu tempo, cuja beleza e sensualidade lhe deram fama e até resultaram em inúmeras prisões, um autêntico “sex symbol”. Já abordada pelo GRB em seu volume de número  59, Elvira volta aqui com seis gravações de sua carreira-solo que não haviam aparecido no mesmo, conseguidas bem depois de sua postagem pelo nosso companheiro, amigo e pesquisador Beto de Oliveira. Em seu segundo disco, o Continental  15251, lançado bem em cima do carnaval de 1945, em fevereiro, Elvira interpreta quatro marchinhas, duas em cada fonograma. No lado A, matriz 973, ela interpreta, de Gadé, Amado Régis e Almanyr Grego, “E o mundo se distrai”e “Meu amor és tu”. No lado B, matriz 974, ela nos traz “Cabelo azul” e “Briga de peru”, ambas de Herivelto e Roberto Martins (que não tinham qualquer parentesco, apesar do sobrenome ser o mesmo). Depois temos as faixas do Todamérica TA-5333, gravado em 14 de julho de1953 e lançado em setembro do mesmo ano, com dois sambas da própria Elvira: no lado A, matriz TA-508, “Reticências”, sem parceria, e, no verso, matriz TA-507, “Sou feliz”, parceria de um certo M. Zamorano. Elvira Pagã encerra sua participação neste volume do GRB com as músicas de seu derradeiro 78 (ela só gravou nesse formato),do extinto selo Marajoara, número MA-10012, com duas composições de sua autoria para o carnaval de 1959. No lado A, matriz M-23, o samba “Vela acesa”, que fez com Orlando Gazzaneo e Orlando Valentim.E no lado B, matriz M-24, a marchinha “Viva los toros”, esta em parceria apenas com Gazzaneo. Enfim, mais seis faixas com Elvira Pagã para enriquecer a coleção de nossos amigos cultos,ocultos e associados (ficou faltando apenas o samba-jongo “Batuca daqui, batuca de lá”, de 1950).
A outra intérprete deste volume do GRB é a eterna “Divina”, “Magnífica” e “Enluarada” Elizeth Cardoso (Rio de Janeiro, 16/7/1920-idem, 7/5/1990). Dela temos cinco faixas marcantes, a maioria de seu início de carreira. De seu primeiro disco,o Star 202, de 1950, provavelmente lançado em março desse ano (e retirado do mercado por “problemas técnicos” jamais esclarecidos), temos, na faixa 10, o lado B, “Mensageiro da saudade”, samba de Ataulfo Alves e José Batista, com acompanhamento de Acyr Alves e sua orquestra. Logo depois, Elizeth foi para a então nascente Todamérica, onde estreou no dia 27 de julho de 1950 gravando dois sambas (estruturalmente sambas-canções)  lançados em outubro seguinte no disco TA-5010. O lado A, matriz TA-19 e oitava faixa desta seleção, é “Complexo”, de Wilson Batista e Magno de Oliveira. Mas o hit maior estava no lado B, matriz TA-20 e faixa 7 de nossa sequência: “Canção de amor”, de Chocolate e Elano de Paula, que consagrou Elizeth, saudada como grande revelação de 1950, e tornou-se o carro-chefe da cantora para sempre. A penúltima faixa é a clássica toada “Prece ao vento”, de Alcyr Pires Vermelho, Gilvan Chaves e Fernando Luiz Câmara, lançada originalmente em 1954 pelo Trio Nagô. O registro de Elizeth Cardoso aqui incluído é de 1956, extraído do LP de 10 polegadas “Fim de noite”, selo Copacabana, relançado dois anos mais tarde em 12 polegadas e com quatro faixas a mais. Por fim, Elizeth nos apresenta “Venho de longe”, samba-canção de Dermeval Fonseca e Alberto Ribeiro,gravação Todamérica de 25 de janeiro de 1952, lançada em abril seguinte sob número TA-5145-B, matriz TA-238. Enfim, foi o que deu para o amigo Augusto selecionar para o GRB desta semana. Mas seu esforço, com certeza, sempre vale a pena… Divirtam-se!
Texto de Samuel Machado Filho
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Linda Batista, Elizeth Cardoso, Onilda Figueiredo & Carmen Barbosa – Seleçào 78 RPM Do Toque Musical Vol. 118 (2014)

E vai para o ar mais uma edição do Grand Record Brazil, a de número 118. É mais um volume dedicado às cantoras, apresentando quatro grandes intérpretes que fizeram história em nossa música popular.
Para começar, temos Linda Batista (Florinda Grandino de Oliveira, São Paulo, 14/6/1919-Rio de Janeiro,  17/4/1988),que marca presença no GRB desta semana com quatro faixas bastante expressivas, todas em gravações Victor. A primeira é a divertida marchinha “No boteco do José”, sucesso do carnaval de 1946, alusivo à conquista do campeonato carioca de futebol pelo Vasco da Gama (o time era então chamado “expresso da vitória”), no ano anterior, invicto, fazendo menção inclusive ao atacante Lelé (Manuel Pessanha, 1918-2003), artilheiro do certame, de chute fortíssimo.  Flamenguista convicto, Wilson Batista fez a marchinha em parceria com Augusto Garcez, e Linda a gravou em 21 de setembro de 1945, sendo lançada ainda em  novembro com o n.o 80-0348-A, matriz S-078294. Logo depois,ao lado das Três Marias, com acompanhamento da orquestra do maestro Passos,  Linda interpreta o clássico samba-canção “Bom dia”, de Herivelto Martins e Aldo Cabral, em gravação de 2 de julho de 1942, lançada pela marca do cachorrinho Nipper em setembro do mesmo ano, disco 34962-A, matriz S-052569. “Bom dia” tem inúmeras regravações, destacando-se as de Dalva de Oliveira e Maria Bethânia. Ruço do Pandeiro e Alfeu de Brito assinam o samba “Quem sabe da minha vida sou eu”, que Linda gravou em 13 de agosto de 1941, com lançamento em outubro seguinte sob n.o 34814-A, matriz S-052327. Linda Batista encerra sua participação neste volume com o divertido samba-de-breque “Eu fui à Europa”, de Chiquinho Sales. No enredo, Linda é uma cantora brasileira que vai se apresentar numa rádio europeia, mas é presa, confundida com uma espiã, e levada para a execução. Porém… tudo não passou de um sonho! Gravação de 10 de junho de 1941, lançada em agosto do mesmo ano com o n.o 34785-A, matriz S-052241. Nestas duas últimas faixas,o acompanhamento é creditado aos Diabos do Céu, mas estes não eram mais os integrantes da orquestra formada e dirigida por Pixinguinha, e sim os do regional de Benedito Lacerda, como sempre fazendo maravilhas com sua flauta inconfundível.  Como a denominação era de propriedade da Victor, outros grupos também podiam aparecer nos selos dos discos como Diabos do Céu, caso do regional de Benedito.
 A eterna “Divina”, “Enluarada” e “Magnífica” Elizeth Cardoso, nascida (16/7/1920) e falecida (7/5/1990) no Rio de Janeiro, intérprete de uma longa e vitoriosa carreira, bate ponto aqui com outras quatro faixas,todas gravadas em seu início de carreira. Primeiro, temos seu primeiro  sucesso maiúsculo, “Canção de amor”, samba do comediante Chocolate (Dorival Silva, 1923-1989) em parceria com Elano de Paula, que se tornaria para sempre carro-chefe de Elizeth. Saiu no disco de estreia da cantora na Todamérica, n.o TA-5010-B, gravado em 27 de julho de 1950 e lançado em outubro seguinte, matriz TA-20, do qual também apresentamos logo depois o lado A, “Complexo”, samba de Wilson Batista e Magno de Oliveira, matriz TA-19. Meses antes, porém, Elizeth  havia gravado seu primeiro disco na Star, futura Copacabana, número 202, do qual apresentamos o samba do lado B, “Mensageiro da saudade”, composto por Ataulfo Alves e José Batista, com acompanhamento da orquestra de Acyr Alves. Esse disco, lançado provavelmente em março de 1950, seria logo retirado das lojas pela gravadora, que alegou “problemas técnicos”, jamais esclarecidos devidamente. Por fim, Elizeth canta “Venho de longe”, samba-canção de Dermeval Fonseca e Alberto Ribeiro, gravação Todamérica de 25 de janeiro de 1952, lançada em abril do mesmo ano, disco TA-5145-B, matriz TA-238.
Natural do Recife, a capital pernambucana, Onilda Figueiredo, a cantora que apresentamos a seguir, deixou, segundo consta,  uma escassa discografia. Gravou, em 78 rpm, quatro discos com oito músicas, entre 1956 e 1958, todos pela Mocambo, gravadora que por sinal tinha sede no Recife, e pertencia aos irmãos Rozenblit.  Foi também contratada da Rádio Jornal do Commércio, e era presença constante nos programas de auditório da emissora recifense, cujo slogan era “Pernambuco falando para o mundo”.  Fez ainda uma participação na coletânea “Catorze maiorais em boleros” (Copacabana, 1964), interpretando “Duas cruzes”. Ei-la aqui com as faixas de seu 78 de estreia, o Mocambo 15094, lançado em junho de 1956, com dois boleros. Primeiro, o lado B, matriz R-695, “Desespero”, de autoria de Ângelo Iervolino. E, em seguida, o lado A, o clássico “Nunca! Jamais! (Nunca! Jamás!)”, matriz R-694, de autoria do mexicano Lalo Guerrero, em versão de Nélson Ferreira, também notável compositor e então diretor artístico da Mocambo. Enorme sucesso, “Nunca! Jamais!” seria mais tarde faixa de abertura do único LP da cantora, o 10 polegadas “A voz de Onilda Figueiredo”, sendo também gravado por outros intérpretes (Ivon Cúri, Ângela Maria, Rosa Pardini, Zezé Gonzaga etc.).
Finalmente, lembramos de uma cantora expressiva, que infelizmente partiu muito cedo: Cármen Barbosa. Carioca do bairro do Catumbi, nascida em 4 de setembro de 1912, ela faleceria em 3 de setembro de 1942, um dia antes de fazer trinta anos, vítima de grave doença. Ela aqui comparece com as quatro faixas finais de nossa seleção desta semana. De início tem “Banalidade”, samba de Gilberto Martins (nada banal,apesar do título), gravação Columbia de 19 de junho de 1939, lançada em julho seguinte sob n.o  55073-A, matriz 165. O samba-canção “Carnaval que passou” é do mestre Benedito Lacerda, que muito incentivou Cármen Barbosa em sua carreira e por sinal a acompanha com sua flauta mágica em todas as quatro faixas que ela interpreta aqui, à frente de seu regional.  Gravação Victor de 30 de abril de 1937, lançada em agosto do mesmo ano, disco 34192-A, matriz 80390 (aqui, o regional de Benedito Lacerda aparece com o nome de Boêmios da Cidade). O samba “Depois que ele partiu” é também de Benedito, agora em parceria com Gilberto Martins, e Cármen o gravou na Columbia em 8 de agosto de 1939, com lançamento em setembro sob n.o 55157-B, matriz 187. Por fim, temos outro bom samba, “Adeus, Favela”, de Nélson Trigueiro e Paulo Pinheiro, gravação Columbia de 13 de maio de 1939, lançada em junho seguinte sob n.o  55069-A, matriz 152. Enfim, uma edição em que o GRB revive quatro grandes cantoras da MPB, cujo legado é sempre desfrutável e imperdível. Até a próxima!
* Texto de Samuel Machado Filho
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Miltinho – 24 Toque Musicais – É Samba! (2014)

Olá, amigos cultos e ocultos!, Hoje sou eu quem faz a apresentação. Não podia deixar de prestar aqui uma homenagem ao Milton Santos de Almeida, o inigualável Miltinho. Um cantor, para mim, sem igual. Uma voz anasalada e marcante, sucesso no bolero, no samba e outras bossas. Ele faleceu neste último domingo, 7 de setembro, aos 86 anos. Já apresentei por aqui vários dos seus inúmeros discos e com certeza iremos trazer outros tantos. Desta vez vamos com uma coletânea exclusiva criada pelo Toque Musical, reunindo 24 sambas. Uma seleção que só peca pela falta. 24, realmente pode ser pouco. Mas como eu já disse, outros dos seus discos ainda virão a ser postados. Hoje, foi só para dar um adeus.
venha devagar
mulata assanhada
emília
eu quero um samba
palhaçada
o amor e a rosa
desfolhando a margarida
mulher de trinta
a rita
rosa morena
doralice
é hoje! independência ou morte
bolinha de papel
samba maroto
murmúrio
sincopado triste
ideias erradas
vou te contar
samba do criolo
perdoa coração
zé da conceição
faço um lelele
mandei uma rosa
menina moça
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Lupicínio Rodrigues – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 116 (2014)

Chegando à sua edição de número 116, o Grand Record Brazil apresenta a primeira parte de uma retrospectiva dedicada ao centenário do maior compositor que o Rio Grande do Sul deu à música popular brasileira: Lupicínio Rodrigues.  Lupi, como era carinhosamente chamado, nasceu em Porto Alegre, no dia 16 de setembro de 1914, na Travessa Batista, 97, na Ilhota, bairro pobre da Cidade Baixa. Dia esse de chuva torrencial, a ponto de, com a inundação, a parteira vir de barco para atender a mãe, Dona Abigail. Foi quarto, e primeiro homem, de VINTE E UM (!) filhos, de uma família extremamente musical. Seu pai, Francisco Rodrigues (o “seu” Chico), era porteiro da Escola de Comércio. Aos seis anos de idade, o pequeno Lupi seria matriculado na Escola Complementar, estudando a seguir nas escolas Ganzo e Dom Sebastião.  Era um aluno de atenção muito distraída para a música e para o futebol.  Torcia para o Grêmio, e compôs, em 1953, o hino do tricolor gaúcho, que começa com ”Até a pé nós iremos”  (na época havia uma greve no transporte coletivo de Porto Alegre). Seu retrato está na Galeria dos Gremistas Imortais, no salão nobre do clube. Após o primário, Lupicínio faz o curso de mecânica na Escola Técnica Parobé, sendo admitido como aprendiz na companhia de bondes e, depois, como menino de recados na fábrica Micheletto.  Aos 14 anos, em 1928, compõe a marchinha “Carnaval”, para o Cordão Prediletos. Na esperança de afastar Lupi de uma vida boêmia precocemente adotada , com bebida, música e mulheres, “seu” Chico o obriga a alistar-se no Exército “voluntariamente”, com 18 anos incompletos.  De fato entrou na linha, mas apenas quando marchava com seus colegas de farda.  Em 1932, conheceu Noel Rosa, que fazia uma excusão pelo Sul com Francisco Alves e Mário Reis.  Noel ouviu algumas músicas de Lupi, e previu acertadamente: “Este garoto é bom! Este garoto vai longe!” Mais ou menos nessa  ocasião, quando estava no Sétimo Batalhão de Caçadores,  chegou um catarinense de bela voz, o futuramente célebre Nuno Roland. Lupi, então “crooner” do Jazz do Batalhão e tinha em Mário Reis seu  espelho de cantor, passa o ofício a Nuno, imediatamente seu amigo nas madrugadas. Quando estoura a Revolução Constitucionalista, em São Paulo, o 7.o BC é mandado para lá, desembarcando com Lupi cínio e Nuno. Durante a longa viagem de trem, foram cantado inúmeros sambas. Ainda em 32, foi transferido para Santa Maria, no interior rio-grandense, ocasião em que conheceu sua musa inspiradora, Inah, uma paixão que lhe deixaria cicatrizes pelo resto da vida, uma dor-de-cotovelo “federal”, como ele próprio a definia. O noivado teria fim com a volta de Lupi a Porto Alegre, em 1938. Ele deixaria a caserna em 1935, ano em que compôs, com Alcides Gonçalves,o samba “Triste história”, inscrito em um concurso realizado por ocasião das comemorações do centenário da Revolução Farroupilha, e ganhador do primeiro prêmio, de 2 contos de reis.  Mesmo com várias composições prontas, Lupi não se empenhava em divulgá-las, e  as duas primeiras que teve gravadas, na voz do parceiro Alcides Gonçalves, foram dois sambas, o já citado “Triste história” e “Pergunta aos meus  tamancos”, em 1936, sem que saísse da sua Porto Alegre (de onde nunca se afastaria, a não ser por uns meses, em 1939, mais para conhecer o ambiente musical carioca),pois Alcides viajara para o Rio.  Em 1938, Lupicínio consegue estabelecer uma ponte com Felisberto Martins, compositor, pianista e funcionário de gravadora no Rio, que ainda não conhecia pessoalmente, para divulgação de suas músicas em troca de parceria, o que foi bom para ambos. No mesmo ano,  acontece o primeiro grande sucesso de Lupi, o samba “Se acaso você chegasse”, que também projeta seu intérprete, Cyro Monteiro.  Entre 1935 e 1947, por interferência do pai, trabalhou como  bedel  da Faculdade de Direito porto-alegrense.  Composições como ‘Felicidade”, “Nervos de aço”, “Minha história”, ‘Vingança”, “Ela disse-me assim”, “Exemplo”, “Paciência” e “Nunca”, só para citar algumas, foram sucesso em todo o Brasil e até no exterior. Era procurado por cantores de sucesso e fez da sua Porto Alegre a ‘Capital do Samba-Canção”.  Em contraponto à imagem boêmia,Lupicínio foi dono de diversos bares, churrascarias e restaurantes com música (era também bom cozinheiro, especializado no trivial caprichado), que seguidamente ia abrindo e fechando, como a Churrascaria Jardim da Saudade, o Clube dos Cozinheiros e o Restaurante Batelão, este o mais famoso de todos, que elevou a ponto turístico da capital gaúcha. Tudo para, antes do lucro, ter um lugar para encontro com os amigos. Lupi não fazia músicas por encomenda, era um despreocupado comercial. Suas composições nasciam de fatos verídicos, observados ou vivenciados por ele mesmo.  Cada mulher que lhe fazia alguma “sujeira” lhe inspirava a compor algo… Deixou cerca de 150 músicas editadas, e compôs outras centenas que foram perdidas, esquecidas ou estão à espera de quem as resgate. Por muitos anos, exerceria o cargo de procurador do SDDA (Serviço de Defesa do Direito Autoral) e de representante da SBACEM (Sociedade Brasileira de Autores,Compositores e Escritores de Música).  Alma boa e caridosa, manteve, em propriedade sua, e sem fazer qualquer alarde,um abrigo para desprotegidos da sorte. Sua rotina se dividia entre a boemia e o lar, onde era perfeito chefe-de-família. No seu casamento com Dona Cerenita, apesar dessa combinação inusitada, reinava o amor.Tanto que,ao comemorar dez anos de casamento com ela, compôs o samba-canção “Exemplo”, sucesso de 1960 na voz de Jamelão (que o próprio Lupi considerava o melhor intérprete de seus trabalhos). Lupicínio Rodrigues faleceu em sua Porto Alegre natal, em 27 de agosto de 1974, coincidentemente um dia  chuvoso, como havia sido o de seu nascimento, vitimado por uma trombose. Sua obra, porém, ficou como legado para os que sentem que, apesar dos riscos, vale a pena amar demais,  venham as dores-de-cotovelo que vierem. Enquanto houver paixão. Lupi viverá e será amado. Apesar de sua enorme bagagem autoral, Lupicínio Rodrigues deixou escassa discografia como intérprete. Com voz débil e interpretação intimista, impressionava  mais ao vivo, por sua figura fiel ao que cantava. Nesta primeira parte do retrospecto que o GRB lhe dedica, apresentamos doze faixas com o Lupi cantor-compositor. Sua estreia como intérprete em disco aconteceu em 1952,quando gravou na Star, futura Copacabana, um álbum de quatro discos em 78 rpm com oito músicas, “Roteiro de um boêmio” (época em que o LP estava em fase de implantação), acompanhado por Enrico Simonetti (piano), Paulo Mezzaroma (violino) e Paulo Pês  (contrabaixo). Aqui temos algumas faixas desse álbum, lançado em maio-junho de 52. Pela ordem de apresentação original, temos:  do disco 352, os sambas-canções clássicos “Vingança” (faixa 8, sucesso retumbante no ano anterior com Linda Batista, maior que o do registro original,com o Trio de Ouro) e “Não sou de reclamar” (faixa  4, também gravado na época pelo cantor Francisco Carlos); e do disco 354, outros dois clássicos de Lupi sem parceria: o samba-canção “Nunca” (faixa 9, então já sucesso com Dircinha Batista) e, em ritmo de baião, a toada  “Felicidade” (faixa 5, que conta com o suporte vocal das Três Marias). Foi lançada originalmente pelo Quarteto Quitandinha, depois Quitandinha Serenaders, em 1947, mas aqui Lupi e as Três Marias o cantam com a letra completa, com estrofes eliminadas na primeira gravação por serem consideradas demasiado gauchescas.  No restante do programa, temos faixas extraídas do LP de 10 polegadas também intitulado “Roteiro de um boêmio”, lançado em 1955 já pela Copacabana (CLP-3014), igualmente com arranjo e regência de Simonetti, todas, claro, de autoria do próprio Lupi. Na primeira faixa,  vem o samba-canção “Nossa Senhora das Graças”, que no entanto obteria maior sucesso um ano mais tarde, na voz de Nélson Gonçalves.Na faixa 2 , o samba (então também  inédito) “Amor é um só”. Na faixa 3, o fox-canção “Inah”, inspirado na mulher que, como já informado, era a “dor-de-cotovelo federal” de Lupicínio.  Na sexta faixa,o samba-canção “Namorados”, lançado um ano antes por Léo Romano. A faixa 7 é o primeiro grande hit autoral de Lupicínio, o samba “Se acaso você chegasse” (parceria com Felisberto Martins),  que projetaria seu criador, Cyro Monteiro,em 1938, e, mas tarde, em 1959, Elza Soares. Na faixa 10, “Os beijos dela”, samba-canção originalmente lançado em 1953,por Lúcio Alves. Na faixa 11, “Aves daninhas”, outro samba-canção bastante conhecido, lançado originalmente por Nora Ney, em 1954. Por último, encerrando esta seleção, a valsa “Jardim da saudade”, que deu nome ao primeiro estabelecimento gastronômico-musical montado por Lupi, uma churrascaria, e foi originalmente lançada por Luiz Gonzaga, em 1952. A destacar que Lupicínio gravaria ainda dois discos 78 com quatro músicas, também pela Copacabana, visando o carnaval de 1953, um compacto de 45 rpm em 1960, com três músicas de cada lado (na mesma marca), e,em 1973, um ano antes de sua morte, lançaria seu segundo e último LP como intérprete, “Dor de cotovelo”, pela Chantecler (selo Rosicler), além de ter registrado  uma ou outra faixa esparsa.  Na próxima semana, apresentaremos composições de Lupicínio Rodrigues nas vozes de outros intérpretes. Até lá!
*Texto de SAMUEL MACHADO FILHO.
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Carlos Galhardo – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 115 (2014)

Chegando à sua edição de número 115, o Grand Record Brazil apresenta a terceira e última parte da retrospectiva dedicada a Carlos Galhardo (1913-1985), sem dúvida um dos mais queridos e expressivos intérpretes de nossa música popular, um cantor que, de fato, como dizia seu slogan, dispensava adjetivos. Desta feita, estamos oferecendo a nossos amigos cultos, ocultos e associados onze preciosas gravações  de Galhardo, verdadeiras joias de seu repertório.  Abrindo o programa, temos “Vela branca sobre o mar”, ótimo fox de José Maria de Abreu e Oswaldo Santiago, gravação Victor de 18 de junho de 1937, lançada em setembro do mesmo ano, disco 34200-A, matriz 80469. Fiel às raízes italianas da família, Galhardo depois nos oferece “Guaglione”, palavra que em italiano quer dizer “rapazola” ou “garoto”.  É outro fox, este composto lá mesmo na Itália, por Nicola Salerno, o Nisa, e Giuseppe Fanciulli, com letra brazuca do radialista Júlio Nagib. Foi gravado na já então RCA Victor em 3 de dezembro de 1956, indo para as lojas em março de 57 com o n.o 80-1735-B, matriz BE6VB-1396 (curioso é que, um mês antes, a Odeon pôs nas lojas a gravação de Léo Romano, feita porém três dias depois desta de Galhardo, a 6 de dezembro de 56, sendo nosso focalizado, portanto, o primeiro a gravar a versão). Em seguida, a marchinha “Mercador”, de Wilson Batista e Ari Monteiro, do carnaval de 1953. Outra gravação RCA Victor, esta de 7 de agosto de 52, e que chegou às lojas ainda em dezembro sob n.o  80-1047-A, matriz SB-093392. Da safra de Galhardo na Odeon é “Morena faceira”, samba do mestre Ataulfo Alves, gravado em primeiro de junho de 1937 e lançado em  outubro do mesmo ano, disco 11522-B, matriz 5586. “Noite sem luar”, nossa faixa seguinte,  é uma das inúmeras e bem-sucedidas valsas dos  autores de “Boa noite, amor” (prefixo pessoal de Francisco Alves) , José Maria de Abreu e Francisco Matoso.  Abreu já era o “rei da valsa” entre os autores, e Galhardo, “rei da valsa” entre os intérpretes, imortalizando “Noite sem luar” na Victor  em 18 de junho de 1937, mas com lançamento apenas em março de 38 com o n.o 34299-A,matriz 80470. “Notícia de última hora”, de Benedito Lacerda e Darcy de Oliveira, é um samba do tempo da Segunda Guerra Mundial, em que um pracinha avisa que vai lutar com os países aliados na Itália e retornar vitorioso. De fato, os aliados derrotaram as forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), marcando o fim do conflito, em 1945. Destinado ao carnaval de 1943, o samba foi gravado na Victor por Galhardo em 25 de setembro de 42, com lançamento ainda em dezembro, disco 80-0026-A, matriz S-052624. “O homem da valsa”, de Custódio Mesquita e David Nasser, por certo é uma referência ao próprio Galhardo, ele que a registrou na mesmíssima Victor em  11 de fevereiro de 1943, com lançamento em maio do mesmo ano sob n.o 80-0076-B, matriz S-052719. Do início da carreira do cantor é pinçado o samba que vem em seguida, “Para onde irá o Brasil?”, de autoria de Assis Valente, então também iniciante como Galhardo, que o gravou em seu segundo disco, o Victor 33627-A,em 2 de fevereiro de 1933, com lançamento em março do mesmo ano, matriz 65663. Assis havia composto o samba durante a Revolução Constitucionalista de 1932, e  foi intimado a dar explicações às autoridades policiais. Seu conteúdo,  porém, traz uma mensagem antibélica. O mestre Ataulfo Alves novamente aparece com outro de seus inspirados sambas, ‘Receita”, parceria com João Bastos Filho, gravação Victor de Galhardo em 20 de junho de 1938, porém só lançada em abril de 39, disco 34422-A, matriz 80832. O samba seguinte também é de Ataulfo, agora em parceria com o violonista Claudionor Cruz:  o clássico “Sei que é covardia (Mas…)”.  E  é também gravação Victor do nosso Galhardo, datada de 5 de dezembro de 1938, com lançamento em janeiro de 39 para o carnaval,  triunfalmente consagrado como um dos maiores hits dessa folia, disco 34401-A, matriz 80952. Finalizando, a belíssima valsa “Viena do meu coração”, de autoria de dois expoentes do gênero, Paulo Barbosa e Oswaldo Santiago, que nosso “rei da valsa”, Carlos Galhardo, imortalizou na Odeon em 23 de março de 1937, com lançamento em julho do mesmo ano, disco 11492-A, matriz 5557. De fato, um belo fecho para o retrospecto de Carlos Galhardo feito por nosso GRB.  E nossas duas próximas edições serão dedicadas ao grande compositor Lupicínio Rodrigues, cujo centenário de nascimento comemoramos neste 2014. Até lá!

* Texto de Samuel Machado Filho

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Carlos Galhardo (parte 2) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 114 (2014)

E estamos de volta com o Grand Record  Brazil, em sua edição de número 114, apresentando a segunda parte da retrospectiva dedicada a Carlos Galhardo (1913-1985), “o Cantor que dispensa adjetivos”. São mais doze faixas preciosas e imprescindíveis para todos os que apreciam a arte de cantar no que ela tem de mais belo e expressivo.  Abrindo nossa seleção desta semana, Galhardo apresenta “Ai, amor”, samba de dois Robertos, Martins e Roberti, gravado na Victor em 25 de agosto de 1939 e lançado em novembro do mesmo ano sob n.o 34508-B, matriz 33153. Roberto Martins também assina, agora com Ari Monteiro, a faixa seguinte, “Vinte e três de abril”, data consagrada a São Jorge, e inspiradora deste samba que Galhardo imortalizou na já então RCA Victor em 27 de fevereiro de 1948, com lançamento em abril seguinte com o n.o 80-0579-A, matriz S-078829. Do carnaval de 1960 é a marchinha “Cachopa”, de Augusta de Oliveira e Madalena Correia, gravada em 14 de setembro de 59 e lançada ainda em dezembro sob n.o 80-2148-B, matriz 13-K2PB-0759, e no LP coletivo “Carnaval RCA Victor”, isso já numa época, sempre é bom frisar, de transição do 78 rpm para o vinil. Recuando no tempo, temos em seguida o samba “Cantar pra não chorar”, de autoria do lendário Paulo da Portela em parceria com um dos pioneiros do gênero,  Heitor dos Prazeres, que Galhardo grava na então Victor em 15 de dezembro de 1937, com lançamento bem em cima do carnaval de 38, em fevereiro, sob n.o 34278-B,matriz 80634. Mostrando que foi talvez o cantor do Sul do Brasil mais fiel ao frevo,gênero com o qual estreou em disco, Galhardo apresenta “O frevo é assim”. De autoria de Nélson Ferreira, um craque do gênero, em parceria com o também  pernambucano Nestor de Holanda, este frevo-canção do carnaval recifense de 1946 foi gravado na marca do cachorrinho Nipper em 23 de outubro de 45, sendo lançado ainda em dezembro com o número 80-0353-A,matriz S-078302, com acompanhamento da orquestra do maestro paulista Aristides Zaccarias, que também animava os bailes de carnaval pernambucanos.  A faixa seguinte, aliás, é do primeiríssimo disco de Carlos Galhardo, o Victor 33625.  É a “marcha pernambucana” (como então era chamado o frevo-canção) “Que é que há?”, de Nélson Ferreira sem parceiro., lado B desse histórico 78 do cantor, gravado em  26 de janeiro de 1933 e lançado em março seguinte, matriz 65659. Da primeira safra de Galhardo na Odeon (onde gravaria seus derradeiros discos, nos anos 1970) é a marchinha “Serpente do amor”, do carnaval de 1937. De autoria de Benedito Lacerda e Aldo Cabral, foi gravada na “marca do templo” em 31 de outubro de 36, com lançamento ainda em dezembro sob n.o 11421-A, matriz 5433. Retornando à Victor, temos a valsa “Mares da China”, da profícua parceria João de Barro (Braguinha)-Alberto Ribeiro, que Galhardo imortaliza em 20 de junho de 1938, com lançamento em outubro do mesmo não,sob número 34365-A, matriz 80831. “Deus no céu, ela na terra”, samba de Wilson Batista e Marino Pinto, é uma daquelas manifestações à chamada mulher ideal, então comuns. Galhardoo imortalizou na marca do cachorrinho Nipper em 14 de junho de 1940, devidamente acompanhado de regional, com destaque para a expressiva clarineta do mestre Luiz Americano, indo para as lojas em agosto seguinte, sob n.o 34643-B,matriz 33443. “Flor do céu”, de autoria creditada a Rômulo Paes e Henrique de Almeida, é na verdade adaptação, em ritmo de fox, de uma modinha de cunho tradicional, “É a ti, flor do céu”, regravada até mesmo pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira.  Esta versão foi gravada por Galhardo na já então RCA Victor em 8 de junho de 1956, sendo lançada em agosto seguinte com o número 80-1654-A, matriz BE6VB-1182. “Cármen”, valsa de Paulo Barbosa e Cristóvão de Alencar, o “amigo velho”, é o lado B do disco de “Cerejeira do Japão” (apresentada em nosso volume anterior), o Victor 34659, gravado em 16 de julho de1940 e lançado em outubro do mesmo ano, matriz 33473. Também de Paulo Barbosa, agora em parceria com Francisco Célio, é a valsa que encerra nossa seleção desta semana, “Quero a teus pés te adorar”, outra preciosidade da rica safra de Galhardo na Victor, gravada em 27 de janeiro de 1940 e lançada em março do mesmo ano, disco 34585-B, matriz 33320. Na próxima semana, encerraremos esta retrospectiva dedicada a Carlos Galhardo, um cantor que, de fato, dispensava qualquer adjetivo. Até lá!

Texto de Samuel Machado Filho

Carlos Galhardo (parte1) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 113 (2014)

Esta semana,o Grand Record Brazil apresenta a primeira de três partes de uma retrospectiva que homenageia um dos mais queridos cantores da música popular brasileira, considerado um dos “quatro grandes” da década de 1930, ao lado de Francisco Alves, Sílvio Caldas e Orlando Silva, e de carreira lôngeva e expressiva. Falamos, evidentemente, de Carlos Galhardo. Na pia batismal, nosso biografado recebeu o nome de Catello Carlos Guagliardi, e era filho de italianos,Pedro Guagliardi e Savéria Novello. Segundo Norma Hauer em seu livro “Uma voz que é um poema”, sua mãe engravidou no Rio de Janeiro, mas ele veio ao mundo na capital argentina, Buenos Aires, para onde toda a sua família se deslocou em busca de melhor sorte, em 24 de abril de 1913. Quando Galhardo tinha apenas dois meses de nascido, ele e seus familiares (também tinha dois irmãos, nascidos na Itália, e uma irmã, nascida no Rio) mudaram-se para São Paulo, onde permaneceriam apenas  outros dois meses, transferindo-se definitivamente para o Rio,  e fixando-se no Estácio de Sá, bairro da primeira escola de samba, a Deixa Falar.  Enquanto fazia o grupo escolar, o pequeno Catello foi encaminhado para a batalha da vida, como aprendiz de alfaiate. Por algum tempo, trabalhou como balconista de charutaria, ali cultivando uma amizade que seria útil para a primeira oportunidade de sua carreira, como veremos a seguir. Voltando à tesoura e à agulha, em seguida, chega a ser oficial de paletó, a ponto de confeccionar um jaquetão para Getúlio Vargas,quando chefe do governo provisório,  logo que assumiu o poder pela primeira vez, em 1930. Aos oito anos, Galhardo perde a mãe, e o pai, que trabalhava no ramo lotérico, casa-se de novo, tendo mais cinco filhos! Galhardo não conheceu dificuldade alguma na carreira artística. Já vinha cantando para os amigos, principalmente músicas italianas, fiel às origens. Numa festa familiar, a que compareceu Francisco Alves, canta exatamente uma página do repertório do Rei da Voz, a canção “Deusa”, de Freire Júnior. Foi devidamente aprovado por Chico Viola, mas precisava de uma oportunidade mais concreta. Aí é que entra em cena Maria Rita de Carvalho, a Mariazinha, manicure que conhecera em um salão de beleza, que funcionava em conjunto com a charutaria em que ele havia trabalhado. Mariazinha, por sua vez, conhecia uma pessoa relacionada com o compositor e violonista Bororó, que então trabalhava na Rádio Educadora do Brasil. Por esse intermédio, Galhardo foi ouvido por Bororó num ambiente inusitado e o mais sossegado naquele momento:  o banheiro da rádio! E foi logo escalado para cantar ao microfone da emissora.  Nessa apresentação, para sua sorte, estava Leslie Robert Evans, o Mister Evans da Victor, então diretor e engenheiro de gravações no selo do cachorrinho Nipper, que logo manda seu assistente, João Martins, em busca do futuro astro. E Galhardo, com apenas 19 anos de idade, é designado pela Victor para cantar no coro das gravações e ganhar alguma experiência. Finalmente, em janeiro de 1933, grava seu primeiro disco-solo, interpretando dois frevos para o carnaval recifense desse ano: “Você não gosta de mim” e “Que é que há?”.  No final desse ano, Galhardo obtém seu primeiro grande hit nacional: a marcha natalina “Boas festas”, de Assis Valente. Grava também na Columbia (futura Continental), e na Odeon, retornando à RCA Victor. Com voz emotiva e bem timbrada, revestida de uma maciez incomum, Galhardo brilhou por décadas em nosso cenário musical, atuando em emissoras de rádio, cassinos, cinema e televisão, percorrendo todo o Brasil, e, em 1952, fez uma vitoriosa excursão a Portugal.  Sem contar os LPs, foram cerca de 580 gravações em 78 rpm, e numerosos sucessos. Como “Rei da Valsa” e “O Cantor que Dispensa Adjetivos”, foi grande em todos os gêneros, na canção romântica, nos sambas e nas marchinhas, tanto no meio-de-ano como no carnaval, além de ter gravado as chamadas datas festivas (Natal, aniversários de nascimento e casamento, Dia dos Pais e das Mães, festas juninas…) mais do que qualquer outro intérprete de seu tempo. Residindo no Estácio, Galhardo era evidentemente torcedor do América Futebol Clube. Também teve cavalos no Jockey Club e um sítio, onde descansava da agitação do meio artístico. Casou-se com Eulália, em 1955, na maturidade dos seus 42 anos, dessa união nascendo três filhos: Carla Maria, Sandra Maria e Eduardo César. Era responsável  e tranquilo, como ser humano, o que só fazia aumentar a simpatia e a admiração de seus milhões de fãs, que até hoje cultuam carinhosamente sua memória.  Foi um dos fundadores, em 1962,  e presidente da Socinpro  (Sociedade Brasileira de Administração e Proteção dos Direitos Intelectuais). Seu último trabalho em disco foi o LP “Parabéns a mim por ter você”, lançado pela EMI-Odeon em 1978. Em 1983, Galhardo faz sua última apresentação artística, no espetáculo “Alá-lá-ô”, de Ricardo Cravo Albim, dedicado ao compositor Nássara (parceiro de Haroldo Lobo na marchinha homônima,  um dos inúmeros sucessos carnavalescos do intérprete, em 1941), realizado na Sala Funarte-Sidney Miller. Carlos Galhardo faleceu em 25 de julho de 1985, no Rio de Janeiro, aos 72 anos. De seu imenso legado na cera, o Grand Record Brazil oferece, para começar, 12 expressivas páginas, a maior parte gravadas na Victor, mais tarde RCA Victor. Abrindo esta seleção, “Linda butterfly”, fox-canção de Georges Moran (russo radicado no Brasil) e Oswaldo Santiago, registro de 26 de janeiro de 1939, que imediatamente vai para as lojas, em fevereiro, sob n.o 34415-A, matriz 80994. Revelando uma postura crítica em relação ao saudosismo de que as épocas sempre padeceram, a valsa ”Antigamente era assim”, de Custódio Mesquita e Ari Monteiro,é levada a disco por Galhardo em 11 de fevereiro de 1943, e a Victor a lança em maio do mesmo ano, disco 80-0076-A, matriz S-052718. Galhardo depois interpreta o fox “Sombras ao luar”, de José Maria de Abreu e Francisco Matoso, em gravação de 9 de abril de 1941, editada em  junho do mesmo ano com o n.o 34752-A, matriz 52174. Um dos maiores violonistas brasileiros, Dilermando Reis assina, em parceria com Jair Amorim, a valsa “Se ela perguntar”, imortalizada por Galhardo na já então RCA Victor em 18 de janeiro de 1952, e lançada em abril do mesmo ano com o número 80-0865-B, matriz S-093172. O disco vendeu cerca de duzentas mil cópias, principalmente porque do lado A estava “Mãezinha querida”, outro clássico do repertório de Galhardo, o que por certo ajudou “Se ela perguntar” a ser igualmente sucesso.  Na quinta faixa, outro fox, “Perfil”, da festejada parceria Roberto Martins-Mário Rossi (responsável também por outra famosa composição do gênero, “Adeus”, na voz de Gilberto Alves), que Galhardo grava em 16 de abril de 1943 e a Victor lança em junho com o número 80-0089-A, matriz S-052756. “Que importa?” é uma valsa do mesmo Mário Lago que deu a Galhardo os hits “Devolve”,  “Não quero saber” e “Será?”, gravação Victor de 13 de julho de 1942, lançada em setembro do mesmo ano, disco 34961-A, matriz S-052580. “Cerejeira do Japão”, fox-canção de Paulo Barbosa e Jorge Ronaldo, é uma nostálgica lembrança da terra do sol nascente bem antes das bombas atômicas que cairiam sobre Hiroshima e Nagasaki, pondo fim (embora trágico) à Segunda Guerra Mundial. Galhardo o imortalizou na Victor em 16 de julho de 1940, com lançamento em outubro do mesmo ano, disco 34659-A,matriz 33472. “Beija-flor”, de Roberto Martins e Torres Homem, é outra das inúmeras valsas que Galhardo tornou clássicas, em gravação Victor de 25 de março de 1940, lançada em maio do mesmo ano, disco 34606-A, matriz 33360. Provando que era também o “Cantor das Efemérides”, Galhardo apresenta a seguir “Bodas de prata”, valsa até hoje lembrada e conhecida, de Roberto Martins e Mário Rossi, gravação de 23 de março de 1945 que a Victor lança em julho do mesmo ano, disco 80-0291-A,matriz S-078140. Tem inúmeras regravações, inclusive do próprio Carlos Galhardo.  “Indiferença” é outra valsa, esta de Georges Moran e J. G. de Araújo Jorge (escritor discutido mas muito lido), imortalizada por Galhardo na marca do cachorrinho Nipper em  4 de maio de 1944 e lançada em julho do mesmo ano, disco 80-0191-A, matriz S-052956. “Linda borboleta”, de João “Braguinha” de Barro e Alberto Ribeiro,é outra bela e graciosa valsa que Galhardo tornou célebre, em gravação Victor de 9 de agosto de 1938, lançada em outubro do mesmo ano com o n.o 34365-B, matriz 80859. Tão famosa a ponto de certa vez, quando Galhardo estava se apresentando em seu programa de rádio, alguém lembrar a ele:”Se você não cantar ‘Linda borboleta’, os ouvintes vão telefonar aqui pra emissora reclamando!” Por fim, o primeiro grande êxito romântico de Galhardo, a valsa-canção “Cortina de veludo”, de Paulo Barbosa e Oswaldo Santiago, gravada na Columbia em 15 de maio de 1935, sendo lançada com o número 8156-A, matriz 1092, e ganhando mais tarde reedições com os números 55118 (ainda pela Columbia) e 15013 (já pela Continental). Em sua primeira fase na Victor, Carlos Galhardo só podia gravar sambas e marchinhas, e por isso transferiu-se para a Columbia, onde gravaria 20 discos com 19 músicas.  Foi quando teve a oportunidade, negada na marca do cachorrinho Nipper, de se lançar como cantor romântico, lançando justamente “Cortina de veludo”. Galhardo, um ano mais tarde, retornaria à Victor, agora registrando também hits românticos, sem se descuidar do samba e da marchinha. Nas próximas duas semanas, teremos mais páginas do repertório do inesquecível Carlos Galhardo. Aguardem!

* Texto de Samuel Machado Filho

 

Luiz Americano – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 112 (2014)

E prossegue a brilhante trajetória do Grand Record Brazil, agora em sua edição de número 112. Nela, apresentamos significativa parcela do legado de um clarinetista e saxofonista cuja história se confunde com o desenvolvimento de nossa música popular: Luiz Americano Rego. Nascido em 27 de fevereiro de 1900,em Itabaiana, Sergipe (e não na capital do Estado, Aracaju, como divulgado em sua biografia conhecida), Luiz Americano teve toda a sua cultura musical criada no seio de uma geração de grandes músicos de sopro. A começar por seu pai, professor e incentivador, o mestre de banda Jorge Americano (1860-1926), e seu primo, o maestro Antônio Melo (1902-2002, membro da renomada Filarmônica de Nossa Senhora da Conceição, hoje também conhecida como Orquestra Sinfônica de Itabaiana. Iniciou seus estudos de clarinete com o pai, aos 13 anos.  Em 1920, o Sr. Jorge traz a família (esposa e quatro filhos) para o Rio de Janeiro, em busca de um futuro melhor para todos, face à arte musical que ele e o filho Luiz (então já casado com Dulcineia Costa Rego) dominavam, além de fugir das péssimas condições de saneamento de Itabaiana.  Por essa época, Luiz Americano já estava no Exército,como músico instrumentista, largando a farda os 22 anos.Luiz  faz suas cinco primeiras gravações em 1925, ainda no processo mecânico, todas elas maxixes:  três de sua autoria (“Gozando a vida”, “Me deixa, Donzela” e ‘Tico-tico”), um de Freire Júnior (“Coração que bate, bate”) e outro do baterista Júlio Casado (“Nacionalista”).  Foi um pioneiro na utilização da clarineta no choro, angariando prestígio como solista durante as décadas de 1920, 30 e 40. Tornou-se o músico mais requisitado da época, inclusive para participar em inúmeras gravações, atuando, em discos e shows, com as mais importantes orquestras do período (Simon Bountman, Justo Nieto, Romeu Silva, Raul Lipoff etc.) e inúmeros grupos regionais. Após uma temporada de trabalho na Argentina, de volta ao Rio, Luiz Americano funda um dos primeiros conjuntos brasileiros de jazz. Não gostava de viajar, e por isso não acompanhou Cármen Miranda nos EUA. Ainda assim, ganhou elogios de Benny Goodman, outro mestre da clarineta. Afinal, o prazer de Luiz Americano era mesmo tocar, e a clarineta nunca foi um instrumento desafiador para ele, que impressionava com sua excepcional habilidade de improvisação e respiração. Também dominava o sax-alto, seu leal companheiro durante anos,  com virtuosismo, soprando-o com vigor e elegância, e produzindo um som claro e distinto, tendo deixado inúmeras obras inesquecíveis como compositor. Verdadeiro fenômeno!  Além de vasta discografia em 78 rpm, gravou dois LPs: “Chora, saxofone” (1958) e “Luiz Americano e seu Conjunto” (1959), ambos pela RCA Victor. Teve três filhas, todas do primeiro casamento, com Dulcineia:  Leda, Lysses e Iolanda. Após enviuvar, contraiu segundas núpcias  com Érika Romminger  (que assim passou a ser Érika Rego),  para quem compôs um belo choro, “Linda Érika”, já executado por músicos diversos, mas nunca se encontrou a gravação do autor. Por outro lado, ele e seu pai já vieram de Itabaiana contaminados pelo vírus da hepatite. E foi a evolução da hepatite (guloso, devorava os banquetes das festas em que tocava, mas nunca ingeria bebida alcoólica) que causou sua morte prematura (60 anos), no Rio de Janeiro,  em 29 de março de 1960, de cirrose, causando uma perda irreparável para a MPB.
Nesta edição do GRB, um pouco da magia e da arte de Luiz Americano, em 15 preciosas gravações. Abrindo-a, temos seu choro “Alma do Norte”, gravação Odeon de 3 de outubro de 1936, só lançada em abril de 37, disco 11459-A, matriz 5389. Depois, a bela valsa ‘Teu olhar”, de Getúlio “Amor” Marinho e João Bastos Filho, lado B da faixa anterior, matriz 5390. Um dos choros mais conhecidos de Luiz Americano, “É do que há” é apresentado nas duas gravações que ele fez do mesmo em 78 rpm: a primeira no lançamento, pela Odeon (faixa 3), de 5 de março de 1931, disco 10797-A, matriz 4169, e a segunda encerrando esta seleção, feita na Todamérica em 7 de abril de 1953 e lançada em junho do mesmo ano, disco TA-5298-B, matriz TA-442.  A quarta faixa é a conhecida valsa “Lágrimas de virgem”, gravação Odeon do mesmo disco original de “É do que há”, de 1931,sendo seu lado B, matriz 4168. Foi igualmente regravada por Luiz na Todamérica, na mesma sessão de 7 de abril de 53 em que reviveu “É do que há”, e este registro está na faixa 12, disco TA-5297-B, matriz TA-440, indo para as lojas igualmente em junho daquele ano.  Foi com o dinheiro resultante dos direitos de “Lágrimas de virgem”, inclusive, que Luiz Americano pôde comprar a casa em que morou, no bairro carioca de Brás de Pina.  O choro “Lysses” (faixa 5) homenageia a segunda filha do compositor-instrumentista, e saiu pela Odeon em abril de 1929, sob n.o 10362-B, matriz 2313. Na sexta faixa, um choro literalmente “das Arábias”: “Luiz Americano de passagem pela Arábia”, que ele gravou na mesma Odeon em 5 de setembro de 1933, mas só saiu em março de34, disco 11075-A,matriz 4721. Radamés Gnattali, pianista e maestro de renome, assina a faixa 7, o primoroso choro “Serenata no Joá”, executado por Americano em gravação Odeon de 24 de agosto de 1934, editada em novembro seguinte com o n.o 11171-A, matriz 4900. Depois temos outro choro do próprio executante, ‘Luiz Americano no Lido”, também registro Odeon, este de 8 de dezembro de 1934,que foi para as lojas em abril de 35 sob n.o 11212-A, matriz 4966. Violonista consagrado nos EUA,onde desenvolveu carreira de muito prestígio e prêmios, Laurindo de Almeida assina a faixa 9,o choro “Última lágrima”, da safra de Luiz Americano na Victor, gravação de 25 de julho de 1939, lançada em outubro do mesmo ano, disco 34499-B, matriz 33130. De outro músico renomado, o bandolinista Luperce Miranda, é o choro ‘Caboclo brasileiro”, que Americano, ao sax-alto,  grava na marca do cachorrinho Nipper em 11 de julho de 1940, com lançamento em setembro do mesmo ano, disco 34649-A, matriz 33468. ‘Sossega, Juca” , choro do próprio Americano, é gravação Odeon de 19 de abril de 1940, disco 12133-B, matriz 6348, ao que parece, lançada apenas em 1942. “Sorriso de cristal” (faixa 13) é um choro de autoria da segunda mulher de Luiz Americano, Érika Rego, e ele o grava na Todamérica em  11 de maio de 1954, com lançamento em agosto seguinte sob n.o TA-5455-B, matriz TA-649. Por fim, na penúltima faixa (a última é a regravação de “É do que há”), Luiz Americano presta homenagem a outro grande compositor e saxofonista, Severino Rangel, o Ratinho (da dupla humorística com Jararaca), revivendo seu choro “Saxofone,por que choras?”, originalmente registrado pelo autor em 1930. A regravação de Americano é da Todamérica, datada de 7 de abril de 1953 e lançada em junho do mesmo ano, disco TA-5297-A, matriz TA-441. Enfim, uma amostra expressiva da arte, do talento e da versatilidade de Luiz Americano, clarinetista e saxofonista como poucos, merecendo por isso um lugar de destaque entre os grandes mestres da música instrumental do Brasil.
* Texto de Samuel Machado Filho

Castro Barbosa – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 111 (2014)

Já estamos na centésima-primeira edição do Grand Record Brazil, o “braço de cera” do Toque Musical, dedicado à era das 78 rotações por minuto. E nela oferecemos uma significativa amostra do trabalho de um expressivo cantor, compositor e também humorista da era de ouro do rádio: Castro Barbosa. Ele veio ao mundo na cidade de Sabará, interior de Minas Gerais, a 7 de maio de 1905 (ou 1909, não há certeza), batizado com o nome completo de Joaquim Silvério de Castro Barbosa. Era irmão do cantor Luiz Barbosa e do humorista e igualmente cantor Barbosa Júnior, sendo que  os três eram filhos de um engenheiro que participara da construção da antiga estrada de ferro Rio-São Paulo. Ainda durante a infância de nosso Joaquim Silvério, a família se transfere para a então Capital da República, o Rio de Janeiro. Em 1924, ele passa a cursar uma escola comercial, formando-se em Contabilidade. Entre 1926 e 1928, trabalha na livraria Braga & Cia., mas em virtude de um acidente ferroviário que sofreu em Teresópolis, fica inativo por alguns meses.  Restabelecido, foi trabalhar na Companhia de Navegação Lóide Brasileiro, e nessa ocasião nem pensava em seguir carreira artística. Em 1930, porém, o cantor João Athos, que Castro Barbosa conhecera no Lóide, escutou-o cantarolar e viu que ele levava jeito. Athos o indica para um teste na Rádio Educadora (PRB-7), onde é apresentado a Almirante (“a maior patente do rádio”) , que o leva a seu programa. Castro também participa do ‘Programa Casé”, apresentado por Ademar Casé, avô paterno da atriz e apresentadora de TV Regina Casé.  Na emissora, Castro Barbosa trava conhecimento com os maiores cartazes da época, entre eles, Noel Rosa, Custódio Mesquita, Nonô e Francisco Alves.  No início de 1931, a convite do compositor André Filho (autor dos clássicos ‘Cidade maravilhosa” e “Alô,alô”), grava seu primeiro disco, na Parlophon, lançado em março desse ano, com o samba-canção “Tu hás de sentir”, de Heitor dos Prazeres, e a marcha “Uvinha”, de André. Nessa ocasião, grava com o Bando da Lua, na Brunswick, o samba “Tá de mona”, de Maércio e Mazinho. No carnaval de 1932, obtém seu primeiro grande sucesso, em gravação Victor (devidamente aprovado em teste pelo então diretor artístico da gravadora,o violonista Rogério Guimarães): a marchinha “Teu cabelo não nega”, de Lamartine Babo e dos irmãos Raul & João Victor Valença, hoje um clássico, vendendo quinze mil cópias (cifra considerável  para a época, na qual os grandes cantores vendiam, em média, até mil discos).  Mais tarde, conhece João de Freitas Ferreira, o Jonjoca, e em uma festa na casa do cantor Jorge Fernandes, ambos fizeram um dueto de brincadeira, com Barbosa imitando Francisco Alves, o eterno Rei da Voz. Nascia a dupla Jonjoca e Castro Barbosa, que a Victor lança para competir com Chico Alves e Mário Reis, da Odeon, e grava inúmeros hits.  Barbosa gravaria, até 1954, 83 discos de 78 rpm com 150 músicas, várias delas de sucesso, mas,  em 1937, foi convidado por Renato Murce para substituir o ator Artur de Oliveira no “Programa Palmolive”, da lendária Rádio Nacional, atuando como cantor e humorista ao lado de Jorge Murad e Dircinha Batista. A partir daí, sua atuação como locutor e humorista passa a sobrepujar a carreira de cantor. Em 1939, é convidado por Lauro Borges para atuar no humorístico “PRV-8 Rádio X” (com o pseudônimo de Vasco Ferreira), embrião do que, em poucos anos, viria a ser a notória “PRK-30”, estreada em 1944 na Rádio Mayrink Veiga. Nos primeiros programas, porém, foi Pinto Filho quem atuou ao lado de Lauro Borges, e Castro Barbosa (ex-Vasco Ferreira) só entraria em cena a partir do programa de número 25 da série, interpretando o locutor português Megatério Nababo d’Alicerce, com Lauro no papel de Otelo Trigueiro, o “porigrota da voz lantijolada”.  Em 1946, a “PRK-30” transfere-se para a Rádio Nacional, tornando-se  uma das maiores audiências da emissora estatal da Praça Mauá,indo depois para a Tupi, sendo, a partir de 1951, apresentado também em São Paulo. Foram muitos anos de absoluto sucesso, e o programa iria inevitavelmente para a televisão, transmitido pelas TVs Rio e Paulista, repetindo o êxito no rádio. Em 1967, com a trágica morte do parceiro Lauro Borges (ele foi encontrado morto, com um tiro na cabeça, na garagem do edifício em que morava,no bairro paulistano da Vila Mariana), Castro Barbosa (mais tarde nome de rua no bairro carioca da Vila Isabel) decide deixar a vida artística, vindo a falecer no dia 30 de abril de 1975, no Rio de Janeiro, de aneurisma no estômago, deixando a viúva, Guilhermina Mendes, três filhos e cinco netos, entre estes últimos a hoje também atriz Renata Castro Barbosa, contratada da Rede Globo de Televisão.
Nesta edição do GRB, apresentamos 19 exemplos notáveis e expressivos da arte musical de Castro Barbosa, solo ou em dupla com outros. Abrindo a seleção, a clássica rumba “Aqueles olhos verdes (Aquellos ojos verdes)”, de Nilo Menéndez (cubano radicado nos EUA) e Adolfo Utrera, em versão de João de Barro,  o Braguinha. Gravação Parlophon de 30 de julho de 1932, matriz 131430, inicialmente lançada com o número 13431-A e, em março de 33, reeditada pela Odeon sob número 11005-A. Braguinha também é responsável pela faixa seguinte, a marchinha “Escravos de Jó”, adaptando famosa cantiga de roda, que Barbosa lança na Columbia em janeiro de 1942, para o carnaval desse ano, disco 55323-B, matriz 502. O fox “Julieta” é uma das raras exceções na obra essencialmente sambística de Noel Rosa, em parceria com Eratóstenes Frazão. Castro Barbosa o gravou na Odeon em 3 de agosto de 1933, com lançamento em outubro seguinte sob número 11063-B, matriz 4703. A marcha “Paris sorrirá outra vez” é de Paulo Barbosa e Oswaldo Santiago,  e a Columbia o lança em novembro de 1942 (época em que a capital francesa era impiedosamente bombardeada, durante a Segunda Guerra Mundial), sob n.o 55382-A,matriz 565. Castro Barbosa demonstra em seguida seu talento de compositor no samba-canção ‘Tudo que a boca não disse”, que gravou na Victor em 13 de abril de 1937, com lançamento em julho do mesmo ano, disco 34182-B, matriz 80361, que apresentava do outro lado ‘Tua partida”, com Francisco Alves, então retornando à Odeon.  A marcha “Asas do Brasil”, da fértil parceria Braguinha-Alberto Ribeiro,é o lado B do disco Columbia de “Paris sorrirá outra vez”, de 1942, matriz 564, e aproveita a melodia de outra composição da dupla, a marcha-rancho “A flor e o vento”, que Francisco Alves lançara na mesma marca dois anos antes. Em seguida, a bela valsa “Dona Felicidade”, do flautista Benedito Lacerda em parceria com Nélson Tangerine, que Barbosa grava na Victor em 19 de abril de 1937, e é lançada em junho do mesmo ano com o n.o 34170-B, matriz 80371. O samba “Vou pegá Lampião”, de J. Thomaz (aquele maestro que regia de luvas brancas sem saber música, e teve de largar a bateria por se queimar com fogos de artifício), faz referência ao famoso e então temido cangaceiro, e Castro Barbosa o grava na mesma Victor em 3 de julho de 1931, com lançamento em agosto do mesmo ano, disco 33451-A, matriz 65183. Em dueto com Almirante, Castro Barbosa interpreta em seguida “A maior descoberta”, rara incursão carnavalesca de Cãndido “Índio” das Neves, compositor essencialmente romântico (“Noite cheia de estrelas”, “A última estrofe”, “Lágrimas”, “Dileta” etc.. Exaltando a mulata, “que venceu mais uma vez”, e é tida como a maior descoberta depois da do Brasil, é lançada pela Victor em fevereiro de 1934, em pleno carnaval, tendo a gravação sido feita a 12 de janeiro, disco 33758-A, matriz 65934. Em seguida, Barbosa interpreta, ao lado de Francisco Alves e Murilo Caldas (irmão de Sílvio), o samba “Desacato”, parceria de Murilo com Wilson Batista e Paulo Vieira, gravado na Odeon em 18 de julho de 1933, e lançado em agosto seguinte sob n.o 11042-B,matriz 4699, obtendo sucesso “desacatador”, segundo a edição impressa.  Em seguida vem o lado A, matriz 4693, gravado ainda em 7 de julho, dueto de Castro Barbosa com Francisco Alves: o clássico samba “Feitio de oração”, primeira música da parceria Noel Rosa-Vadico, que tornou antológicas os versos“Ninguém aprende samba no colégio” e “Quem suportar uma paixão/sentirá que o samba então/ nasce no coração”. Note-se o andamento mais rápido que o adotado em gravações posteriores. Depois, Barbosa, agora em dueto com Déo, “o ditador de sucessos”, interpreta o “Frevo n.o 1”, que na verdade, é o famoso “Vassourinhas”, de autoria de Matias da Rocha e Joana Batista Ramos, em adaptação de Almirante. Foi lançado pela Continental em pleno carnaval de 1945, em fevereiro,com o número 15279-B, matriz 1032. O clássico frevo, porém, ficaria mais conhecido a partir de 1950, numa gravação instrumental da Orquestra Tabajara de Severino Araújo. Da dupla de Castro Barbosa com Jonjoca vêm três sambas notáveis. O primeiro é o clássico “Adeus”, de Ismael  Silva, Noel Rosa e Francisco Alves, gravação Victor de 12 de abril de 1932, lançada em maio seguinte sob n.o 33548-B,matriz 65451. Da mesma santíssima trindade é “Dona do lugar”, gravação Odeon de 23 de dezembro de 1932, lançada um mês antes do carnaval de 33, janeiro, com o n.o 10966-B, matriz 4562. Em seguida, “Sinto falta de você”, de Jonjoca sem parceiro, gravado na Victor em 12 de junho de 1931 e lançado em julho do mesmo ano, disco 33447-A, matriz 65162. Vêm logo em seguida dois sambas de Raul Marques e Ernâni Silva, gravados por Castro Barbosa em dueto com Aracy de Almeida na Victor em 21 de dezembro de 1936, com lançamento em janeiro de 37, claro que para o carnaval: ‘Eu e você”, matriz 80303, e ‘Helena”, matriz 80304. Em dueto com Sônia Barreto, também radialista e atriz, Castro Barbosa interpreta  o fox “Você me enlouquece (You drive me crazy/What did I do?)”, de Walter Donaldson e Franz Skinner, em versão de Lamartine Babo (editada como “Estou ficando maluco por ti”), gravação Victor de 13 de janeiro de 1932, lançada em fevereiro seguinte sob n.o 33526-A,matriz 65360, e também gravado na Odeon por Francisco Alves dias depois. Para terminar, no maior alto astral, a divertida marchinha “Vou espalhando por aí”, de Assis Valente, um dueto de Castro Barbosa com Cármen Miranda, também gravação Victor, esta de 23 de abril de 1934,porém só lançada em junho de 35, quando Cármen já se transferira para a Odeon, sob n.o 33936-A, matriz 79612. Não poderia haver melhor final para esta expressiva retrospectiva que o GRB faz do trabalho musical de Castro Barbosa. Divirtam-se!
*Texto de Samuel Machado Filho

Coletânea Feliz Aniversário – Toque Musical (2014)


Olá amigos cultos e ocultos! Hoje eu tive uma grande surpresa ao abrir o Facebook e me deparar com tantos votos de felicitações pelo meu suposto aniversário. Acontece que quando eu criei o perfil do Augusto TM, coloquei como data de aniversário o mesmo dia em que o Toque Musical fez sua primeira postagem. Em outras palavras, Augusto e Toque Musical nasceram juntos. Completam verdadeiramente hoje 7 anos. Eu havia me precipitado e cheguei a anunciar os sete anos do TM ainda em junho no Facebook. Acho que me confundi com os meses. Tenho recebido as saudações até hoje e agora, como o lembrete do Face e para a minha surpresa, a turma de amigos por lá engrossou os votos. De coração, agradeço a todos pelo carinho e atenção. Em retribuição, dedico a vocês esta coletânea que só podia mesmo ter nascido aqui no Toque Musical. Uma divertida seleção de músicas cujo o tema é o aniversário. São 17 músicas de diferentes épocas e com diferentes artistas e gêneros, bem ao jeito aqui da casa. Eis assim uma coletânea ótima para se consultar sempre. Afinal, todos os dias são dias de aniversários. Parabéns para todos nós!

feliz aniversário – coral céu da boca
parabéns pra você – carlos imperal e a turma da pesada
parabéns, parabéns – carequinha
parabéns a você – nilo sérgio e leo peracchi
canção de aniversário – nilo sérgio e leo peracchi
canção de aniversário – lyrio panicali
feliz aniversário – lô borges
parabéns – esquema 64
teu aniversário – pixinguinha
aniversário – jair rodrigues
a música do teu aniversário – mauro sérgio
um chorinho para aniversário – fred williams
parabéns a você – zaccarias e sua orquestra
parabéns do patati patatá
aniversário (fernando pessoa) – jô soares
meu aniversário – vanessa da mata
hoje é seu aniversário – lulu santos
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Marlene – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 110 (2014)

Depois de Emilinha Borba, na semana passada, nada mais justo que o Grand Record Brazil dedique este seu centésimo-décimo volume àquela que foi durante anos apontada como sua rival, sem nunca tê-lo sido. E nossos amigos cultos, ocultos e associados por certo já perceberam que estamos falando de Marlene, aliás uma das inúmeras perdas importantes deste ano de2014, ainda em curso. Batizada como Victoria Bonaiutti de Martino, nossa focalizada veio ao mundo no dia 22 de novembro de 1922, em São Paulo, na Bela Vista (o velho e bom Bixiga), bairro central tipicamente italiano, com características tradicionais ainda conservadas em parte.  Os  pais,claro, eram italianos, e Vitória era a caçula de três filhas, as demais eram Marieta e Geni. Seu nome vem do pai, Victorio, falecido sete dias após seu nascimento. A mãe, Dona Antonieta, não se casaria outra vez, e por isso teve de arcar sozinha com a manutenção e a educação das filhotas. Alfabetizava no Instituto de Surdos e Mudos e trabalhava como costureira. Como pertencesse à Igreja Batista, D. Antonieta conseguiu que Victorinha fosse internada, pagando apenas uma taxa, no Colégio Batista Brasileiro, com mensalidades dispensadas, em troca  de a futura estrela executar  serviços gerais, como a arrumação dos dormitórios.  Nesse colégio, frequentado por meninos e moças da alta sociedade, Victorinha estudou dos 9 aos 15 anos, destacando-se nas equipes esportivas, e no coro juvenil da igreja. Sabia também declamar, e cantava se acompanhando ao violão. Mais tarde, Victoria vai cursar a Faculdade de Comércio, na Praça da Sé, a fim de se tornar contadora. Ao mesmo tempo, necessitando trabalhar, emprega-se, durante o dia, em um escritório comercial, e começa a participar de uma entidade estudantil recém-formada, a qual passa a dispor de um espaço na PRH-9. Rádio Bandeirantes (então “a mais popular emissora paulista”), “A hora do estudante”, onde seria cantora. Nessa ocasião,seus colegas estudantes escolhem o nome artístico que a imortalizou, Marlene, por certo em homenagem à atriz e cantora alemã Marlene Dietrich. Mais tarde, acompanhando a sambista Jeanette Thadeu, “a garota do chapéu-de-palha”, vai conhecer a PRG-2, Rádio Tupi (“a mais poderosa emissora paulista”), sendo admitida com salário de 200 mil-réis mensais.  Cansada da desaprovação e dos temores de sua família (que não podia admitir nenhuma incursão no setor artístico, por razões sociais e religiosas então vigentes), Marlene soube que o empresário e radialista Armando Silva Araújo (Domanar) poderia lhe proporcionar um teste para crooner no Cassino Icaraí, em Niterói. Aí, toma o trem, e vai para o Rio de Janeiro, faz o teste no Icaraí com o maestro Vicente Paiva e é aprovada. Passa depois a ser crooner da orquestra de Carlos Machado, no Cassino da Urca, o mais famoso do Brasil e o preferido dos turistas, pelo qual passavam grandes cartazes internacionais.  E Marlene (“a que canta o samba diferente”) foi logo se constituindo em uma das atrações do cassino. Mas, em abril de 1946, o então presidente Dutra proíbe o jogo no Brasil, com o consequente fechamento dos cassinos e desemprego de artistas. Para Marlene, porém, houve compensação, pois seguiu com a orquestra de Carlos Machado para a boate Casablanca. Vai depois para o sofisticadíssimo Copacabana Palace, hotel dos irmãos Guinle, promovida a estrela da casa. Em 1947, atua na Rádio Mayrink Veiga e, depois, na Rádio Globo. Pouco antes, lançou pela Odeon seu primeiro disco, interpretando “Swing no morro” e “Ginga, ginga, moreno”,obtendo mais tarde seu primerio hit maiúsculo, no carnaval daquele ano, a marchinha “Coitadinho do papai”, premiada no concurso oficial da prefeitura do Rio. Já estreara no cinema, em 1944, atuando na comédia “Corações sem piloto”, e em seguida nos filmes carnavalescos “Pif-paf” (1945), “Caídos do céu” (1946) e “Esta é fina” (1947). Em 1948, assina contrato com a lendária Rádio Nacional, para atuar no programa de César de Alencar, logo tornado-se uma das estrelas da emissora da Praça Mauá. Um ano mais tarde, vence espetacularmente o concurso de Rainha do Rádio, derrotando Emilinha Borba,franca favorita, com o apoio da Antarctica, que então lançava o guaraná Caçula, sendo esse concurso a origem da eterna rivalidade entre seus fãs e os de Emilinha. A partir daí, todos sabem o que acontece: sucessos sem conta no disco (grava também na Star, Continental, RCA Victor, Todamérica, Sinter,  RGE…), e excursões pelo Brasil e no exterior. Vai a Paris (ficou quatro meses e meio em cartaz no famoso teatro Olympia), Nova York , Chicago, Santiago do Chile, Buenos Aires (na Argentina, em 1954, atuou no filme “Adeus, problemas”), e se apresenta em Cannes, na França, a convite do duque e da duquesa de Windsor. Em 1952, casa-se com o também ator Luiz Delfino, que conhecera durante as filmagens de ”Tudo azul”, e o enlace, na Igrejinha do Outeiro da Glória, é um verdadeiro acontecimento. Ao lado dele, dedica-se ao teatro, sua maior e declarada paixão, consagrada pelo público e crítica como atriz, e ambos fazem sucesso no rádio e na TV com o programa “Marlene, meu bem”, escrito por Mário Lago,versão brazuca da sitcom americana “I love Lucy”, satirizando episódios da vida a dois. . Atuou em espetáculos como “Carnavália”, “É a maior”, “Te pego pela palavra”, “Botequim” e “Ópera do malandro”, a maior parte registrados  em disco.  Como compositora, fez o samba-canção ‘A grande verdade” (parceria com Luiz Bittencourt), gravado em 1951 por Dalva de Oliveira. Enfim, uma artista completa. Marlene faleceria em 13 de junho de 2014, no Rio, aos 91 anos, de falência múltipla de órgãos. Ela estava internada no hospital Casa de Portugal, em virtude de uma queda sofrida dias antes, em casa. Para sempre “a maior”, “a incomparável” e “aquela que não perde a majestade”,  Marlene recebe a homenagem do GRB, nesta edição em que apresentamos catorze de suas melhores gravações,  nas quais se mostra uma intérprete versátil e personalíssima. Abrindo esta seleção, que contou inclusive com a preciosa colaboração deste que vos escreve, a marchinha “Vou nas águas”, de Raul Sampaio e Benil dos Santos, para o carnaval de 1959, gravação Odeon de 6 de novembro de 58, lançada ainda em dezembro, disco  14398-B, matriz 13037. Em seguida,o baião “Estrela Miúda”, primeira composição gravada do maranhense (de Pedreiras)  João do Valle, em parceria com Luiz Vieira, gravação Todamérica de 26 de março de 1953, lançada em junho do mesmo ano sob n.o TA-5293-B, matriz TA-432. Nessa ocasião, João do Valle era servente de pedreiro, de dormir na obra e tudo o mais, e uma mulher que morava lá perto tocava esse disco sem parar,o dia todo. João não tinha coragem de dizer que a música era dele. Um dia, não dando mais para segurar a coisa, ele se chegou para seu chefe e perguntou: “Tá ouvindo essa música?” “Sim, é Estrela Miúda”, respondeu ele. “Sabe quem canta?”, perguntou João. “Sei, é a Marlene”. “E quem é o autor?” O chefe não sabia, e ao ouvir de João do Valle que o autor era ele, nem acreditou: “Que é isso, neguinho, tá delirando? Traz massa, neguinho, traz massa!” Depois vem o samba “Gabi morena”, de autoria de outro expressivo compositor nordestino, o pernambucano Luiz Bandeira (também autor de”Na cadência do samba”,o famoso “Que bonito é”), gravado na Continental pela “maior” em 2 de junho de1954, com lançamento em junho-julho desse ano, disco 16991-A, matriz C-3380. Temos em seguida a divertida marchinha-crônica “Ibrahim piu-piu (Marcha do Ibrahim)”, um dos hits do carnaval de 1956, de autoria de Miguel Gustavo, sem dúvida um cronista musical de seu tempo. Lançada pela Sinter ainda em novembro-dezembro de 55 sob n.o 00-00.440-B, matriz S-1002, faz referência ao colunista social Ibrahim Sued, muito popular na imprensa e na televisão, com bordões que marcaram época: “Depois eu conto”, “De leve…”, “Bola branca”, “Bola preta”, “Alô, panteras e panterinhas”, “E ademã que eu vou em frente” etc. O lírico e expressivo samba-canção “Luz de vela”, de Luiz Antônio, é lançado por Marlene, na Continental, em maio-junho de 1952, com o n.o 16563-B,matriz C-2822. Sucesso no carnaval de 1953, a “Marcha do sapinho”, de Humberto Teixeira e Norte Victor, é lançada pela mesma Continental na voz da “incomparável” em janeiro desse ano, com o n.o 16670-B, matriz C-2990, sendo interpretada também por Oscarito e Maria Antonieta Pons no filme “Carnaval Atlântida”.  “Canta, menina, canta”, samba de Monsueto e Arnaldo Passos,é lançado pela Sinter em maio-junho de1955 sob n.o 00-00.395-A, matriz S-893, entrando mais tarde no LP de dez polegadas “Vamos dançar com Marlene e seus sucessos”. João “Braguinha” de Barro, Nássara e Antônio Almeida assinam a marchinha “Sereia da areia”, do carnaval de 1952, que a Continental põe nas lojas um mês antes dos festejos momescos, em janeiro, disco 16509-B, matriz C-2777, e é também interpretada por Marlene no já citado filme “Tudo azul”, da Flama Filmes, último trabalho do cineasta Moacyr Fenelon.  Do mesmo suplemento Continental de “Luz de vela”, maio-junho de 1952, é o baião junino “Canção das noivas”, de Haroldo Lobo e Rômulo Paes, que é catalogado com o número 16556-B, matriz C-2843. “Quero sambar”, de autoria de Zé Kéti, é gravado na RCA Victor pela nossa Marlene em 30 de agosto de 1957, sendo lançado em novembro seguinte sob n.o 80-1862-A,matriz 13-H2PB-0207. Marlene também o interpreta no filme “O cantor e o milionário”, da Cinematográfica Guarujá”, no qual atua como atriz, interpretando a si mesma, ao lado do marido, Luiz Delfino. Norival Reis,o Vavá, que também era técnico de gravação da Continental, assina com Rutinaldo Silva “Vamos à valsa”, que Marlene lança pela gravadora dos irmãos Byington em maio-junho de 1951, sob n.o 16406-A,matriz 2610. Também na Continental, agora tendo ao lado o então nascente conjunto vocal Os Cariocas, e com acompanhamento impecável da Orquestra Tabajara de Severino Araújo, Marlene lança, entre outubro e dezembro de 1949, no disco 16125, dois baiões clássicos da parceria Luiz Gonzaga-Humberto Teixeira, que o próprio Gonzagão só irá gravar posteriormente. No lado A, matriz 2166, “Macapá”, e no verso, matriz 2167, “Qui nem jiló”, originalmente valsa,mas que Humberto Teixeira transforma no então ritmo da moda, alcançando expressivo êxito. Esta faixa encerra nosso retrospecto marleniano, mas, antes dela, iremos encontrar a divertida valsa ‘Marlene, meu bem”, de Mário Lago, em dueto com o entoa marido Luiz Delfino, e inspirada no já citado programa de rádio e TV de mesmo nome, escrito justamente por Mário Lago. Foi lançado pela Sinter em setembro-outubro de 1955, sob n.o 00-00.425-A, matriz S-975.Enfim, esta é a homenagem do GRB àquela que foi, é e será eternamente A MAIOR!
* Texto de Samuel Machado Filho

Emilinha Borba – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 109 (2014)

E aí vai, para nossos amigos cultos, ocultos e associados, a centésima-nona edição do Grand Record Brazil. Desta vez, apresentamos uma das mais queridas cantoras do Brasil, autêntico ídolo da fase áurea do rádio brasileiro e um fenômeno de popularidade como poucos:  Emilinha Borba. O nome completo de nossa focalizada era Emília Savana da Silva Borba. Ela veio ao mundo na Estação de Mangueira, no Rio de Janeiro, no dia 31 de agosto de 1923, filha do engenheiro agrônomo Eugênio Jordão da Silva Borba, por sinal proprietário da Vila Savana, onde nasceu e morava Emilinha, e Edith da Silva Borba. A família teve ao todo sete filhos, sendo seis mulheres  (Maria de Lourdes, Xezira, Salete, Emília, Ely e Terezinha)e apenas um homem, José Maria, qual Emilinha era irmã gêmea.  A prodigalidade do pai acabou por deixar a todos, quando faleceu prematuramente,em situação bem difícil.  E Dona Edith precisou distribuir os filhos pelas casas dos parentes, e nossa Emilinha foi para a residência da avó, Dona Bela. Desde muito pequena, Emilinha demonstrou estar fadada a trilhar o caminho da arte, passando a frequentar as emissoras de rádio. Apresentando-se no programa “De graça para todos”, da PRG-3, Rádio Transmissora, produzido por Oscar Gomes Cardim, em 1937, recebia cachês de 20 mil-réis.  Passou também pelo “Programa juvenil”, da PRD-2, Rádio Cruzeiro do Sul, e até mesmo pelo programa de calouros do sempre exigente Ary Barroso, onde conquistou o primeiro prêmio, feito do qual se orgulharia para o resto da vida.  Na Cruzeiro do Sul,conheceu Bidu Reis, com quem formaria o duo As Moreninhas. Xezira Borba,irmã de Emilinha, também chegou a esboçar carreira de cantora, com o pseudônimo de Nena Robledo, gravando dois discos com três músicas, mas abandonou o canto ao se casar com o compositor Peterpan (José Fernandes de Paula). Dona Edith, mãe de Emilinha, em 1938, trabalhava como faxineira do Cassino da Urca, e despertou a atenção de Cármen Miranda, então grande atração da casa. Ao saber da reviravolta na vida dos Borbas, Cármen se ofereceu para ajudar, caso alguma das filhas da Dona Edith pudesse ser aproveitada no espetáculo. Esta então indicou Emilinha, que, com roupas fornecidas por Cármen, fez um teste perante o mineiro Joaquim Rolas,dono do cassino. Percebendo o nervosismo da menina, que teve sua idade aumentada em dois anos, Cármen desviava a atenção de Rolas com uma conversa sem fim enquanto Emilinha cantava. Além de ser uma das “crooners” da Urca, a futura “Favorita” atuava na Rádio Cajuti. Em fevereiro de 1939, apresentou-se pela primeira vez em São Paulo, através da Rádio Record, no Teatro Coliseu, ao lado de Orlando Silkva, Almirante e Sílvio Caldas. No mesmo ano, ainda como Emília Borba, estreia em disco, na Columbia, interpretando a marchinha “Pirulito”, ao lado de Nílton Paz,  e, embora só este  aparecesse como intérprete no selo, sua voz se evidenciava, e bem. Até 1940, ela faria mais quatro discos na Columbia, e um ano depois, teve curta passagem pela Odeon, aparecendo pela primeira vez no selo do disco como Emilinha Borba. Ela foi também a cantora que mais participou de filmes  em toda a história do cinema brasileiro, cerca de 40, todos eles musicais: “Vamos cantar” (1940), “Tristezas não pagam dívidas” (1944), “Não adianta chorar” (1944), “Segura esta mulher” (1946), “Estou aí?” (1948), “De pernas pro ar” (1957), etc.  Em 1944, Emilinha ingressa na lendária Rádio Nacional, onde atua por 27 anos, e volta a gravar na Columbia, já com o nome de Continental, onde fica até 1958, quando ingressa em outra Columbia, a futura CBS, hoje Sony Music. É aí que tudo acontece: sucessos sobre sucessos em disco, programas de auditório (inclusive o de César de Alencar, seu apresentador oficial, então líder de audiência nas tardes de sábado), faixas, troféus, a propalada rivalidade com Marlene…  Esta começou em 1949, quando Marlene venceu o concurso de Rainha do Rádio (Emilinha só ganharia o título em 1953). A “Favorita” teve até sua própria página na “Revista do Rádio”, o “Diário de Emilinha”, e o simples anúncio de sua presença em qualquer cidade ou lugarejo do Brasil era feriado local, com desfile em carro aberto, outorga da chave da cidade etc. Até agosto de 1995, foi a personalidade que mais apareceu em capas de revistas, aproximadamente 350! Entre 1968 e 1972, Emilinha esteve inativa por causa de um edema nas cordas vocais, voltando a cantar após três cirurgias e um longo estudo de reeducação da voz. Em toda a carreira, gravou, em 78 rpm, 117 discos com 216 músicas, e cerca de dez LPs.  Nos três últimos anos de vida, continuou se apresentando por todo o país, inclusive animando bailes carnavalescos. Em 2003,após 22 anos sem gravar, lançou o CD independente “Emilinha  pinta… e Borba”, que ela mesmo vendia de forma bem popular, em contato com o público.  No início de 2005, lançou seu último trabalho em disco, o CD “Na banca da folia”, para o carnaval desse ano. Emilinha Borba morreu na tarde do dia 3 de outubro de 2005, aos 82 anos, de infarto fulminante, enquanto almoçava em seu apartamento, no bairro carioca de Copacabana, mas continua até hoje lembrada por sua voz, popularidade e extremo carisma.  E o GRB reverencia sua memória apresentando dezoito faixas gravadas em 78 rpm, uma amostragem de alguns de seus melhores momentos, que os fãs da cantora por certo reconhecerão aos primeiros acordes. Abrindo esta seleção, a batucada “A louca chegou”, do carnaval de 1953, de autoria de Rômulo Paes, Henrique de Almeida e Adoniran Barbosa, em dueto com o também “bandleader” Ruy Rey, lançada pela Continental em janeiro desse ano com o n.o 16692-B, matriz C-3005 (nessa ocasião também gravada na Copacabana por Elza Laranjeira). A maior parte das faixas com a ‘Favorita” aqui incluídas foi por sinal gravada na Continental. Em seguida, um verdadeiro clássico: o baião “Paraíba”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, por ela imortalizado em primeiro de março de 1950, com lançamento em abril, disco 16187-B, matriz 2256 (Gonzagão só fez seu próprio registro em 1952). No acompanhamento,o regional de Canhoto (Waldiro Frederico Tramontano) e o coro Os Boêmios. A música iria criar, por sinal, um neologismo significando mulher masculinizada, mas a expressão “Paraíba masculina, mulher macho, sim senhor” significava que a Paraíba era um estado, mas com nome feminino.  A faixa 3 apresenta o choro ‘Divagando”,  de Nélson Miranda e Luiz Bittencourt, com Emilinha acompanhada pelo conjunto Bossa Clube, e lançado pela Continental em novembro de 1945,disco 15473-B, matriz 1299. “Quando tu não estás (Cuando tu no estás)” é uma versão de Haroldo Barbosa, em ritmo de bolero, para um tango de Carlos Gardel, Alfredo Le Pera e Battistella, que Francisco Alves interpretava em seus programas de rádio. Mas foi Emilinha quem a gravou comercialmente, na Continental, menos de um ano depois da morte trágica do Rei da Voz, em 15 de abril de 1953, com lançamento em julho-agosto seguintes sob número 16796-A,matriz C-3113. A faixa seguinte traz a toada junina “Capelinha de melão”, motivo popular adaptado por João de Barro, o Braguinha, e Alberto Ribeiro, com lançamento  pela então “marca dos sininhos” em março-abril de 1949, disco 16041-A, matriz 2058. Desse mesmo suplemento bimestral da Continental  é o samba “Deixa que amanheça (Como nos versos de Bilac)”, de autoria de Oswaldo Santiago, catalogado com o número 16036-A,matriz 2041. A faixa 7 é um verdadeiro clássico de Emilinha e do carnaval: a marchinha “Chiquita Bacana”, de Braguinha e Alberto Ribeiro, lançado em janeiro de1949 com o número 15979-A,matriz 2001, época em estava em moda o chamado Existencialismo, cuja figura de proa era a atriz francesa Juliette Greco. Emilinha também a interpretou no filme “Estou aí?”, de Moacyr Fenelon. “Dançando a rumba”, de Ayrton Amorim e Mário Menezes,  é outro dos conhecidos hits da “Favorita”, e a Continental o lançou entre julho e setembro de1951, disco 16416-A, matriz 2680. Em seguida, temos o fox “Deixa eu, nêgo (Let me go, lover)”, de Jenny Lou Carson e All Hill, com letra brasileira de Giuseppe Ghiaroni, escritor, jornalista e então colega de Emilinha na Rádio Nacional, onde escreveu inúmeras novelas e programas. A gravação da ‘Favorita” foi lançada pela Continental em maio-junho de 1955, sob número 17123-A, matriz C-3609, imediatamente após a de Violeta Cavalcanti com o Trio Irakitan, pela Odeon.  Depois , do primeiro disco-solo de Emilinha, então Emília Borba, o Columbia 55048, temos o lado A, o samba-choro “Faça o mesmo”, de Nássara e Eratóstenes Frazão, gravado em 2 de março de 1939 e lançado em maio do mesmo ano, matriz 145. Voltando à Continental, ou melhor, permanecendo nela, já que era a antiga Columbia, temos o samba “Jurei”, também de Nássara, agora em parceria com Waldemar “Dunga” de Abreu, lançado em setembro-outubro de 1950 sob n.o 16295-B, matriz 2417. A seguir, outra marchinha carnavalesca conhecidíssima: a famosa “Vai com jeito”, de exclusiva autoria do grande Braguinha, que a “Favorita” imortalizou em 19 de outubro de 1956, com lançamento em janeiro de 57, sob n.o 17372-B, matriz C-3869, abrindo também o LP coletivo “Carnaval de 1957”, em 10 polegadas. “Vai com jeito”,aliás, dominou essa folia, sendo também apresentada no filme ‘Garotas e samba”, da Atlântida.  “Você e o samba”, de Peterpan (cunhado de Emilinha) e Ari Monteiro, saiu pela “marca dos sininhos” em outubro de 1945, sob número 15455-B, matriz 1215. O fox-samba “Istambul”, de Norman Simon e Jimmy Kennedy, tem letra brasileira de Lourival Faissal, gravada por Emilinha em 2 de agosto de 1955 e lançada em outubro seguinte com o n.o 17177-A, matriz C-3675. Chegaria até mesmo ao LP, na compilação  “Seleções Continental n.o 1”, por sinal o primeiro da gravadora no formato-padrão de 12 polegadas. Ainda do cunhado Peterpan, agora em parceria com José Batista, é o bolero ‘Noite de chuva”, que Emilinha imortaliza na Continental de sempre em 7 de junho de 1954, para lançamento no suplemento do bimestre junho-julho, disco 16990-B, matriz C-3361, sendo também apresentado no filme “Capricho de amor”, da Bandeirante Filmes.  Outro inesquecível hit carnavalesco de Emilinha aqui incluído é a marchinha “Tomara que chova”, de Paquito e Romeu Gentil, que dominou a folia de 1951. Inicialmente gravado na Odeon pelos Vocalistas Tropicais, ganha também registro de Emilinha pela Continental, em 25 de outubro de 50, com lançamento um mês antes do carnaval, janeiro, sob n.o 16339-B, matriz 2479. A “Favorita” igualmente a interpretou no filme “Aviso aos navegantes”, da Atlântida.  A lírica toada “Não é só o luar”, de José Batista, é lançada pela “marca dos sininhos” em  abril-maio de 1956, sob n.o 17273-A, matriz C-3408. Para encerrar, temos justamente a estreia de Emilinha em disco, em dueto com Nílton Paz: a marchinha “Pirulito”, composta por João “Braguinha” de Barro e Alberto Ribeiro, com estribilho oriundo do folclore português, para o filme “Banana da terra”, da Cinédia, em substituição ao samba ‘Boneca de piche”, de Ary Barroso, que seria interpretado por Almirante e Cármen Miranda com os rostos pintados de preto, como malandros da Lapa. Como não houve acordo financeiro com Ary, Almirante e Cármen filmaram “Pirulito” com essa mesma caracterização.  A gravação, porém, coube a dois estreantes em disco, o maranhense (de Caxias) Nílton Paz, em dupla com nossa Emilinha, na Columbia, em 3 de janeiro de 1939, com lançamento em plena folia, fevereiro, sob n.o  55013-A, matriz 120, e com estrondoso sucesso, um fecho realmente de ouro para esta seleção. Com vocês, a minha, a sua, a nossa favorita…. Emilinha Borba!
Texto de Samuel Machado Filho

A Música De Alvaiade E De Djalma Mafra – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol.108 (2014)

Dois grandes compositores cariocas abrilhantam a centésima-oitava  edição do Grand Record Brazil: Alvaiade e Djalma Mafra. Alvaiade, na pia batismal Oswaldo dos Santos,  nasceu na Estrada da Portela, no subúrbio carioca de Oswaldo Cruz, a 21 de dezembro de 1913. Órfão de pai aos cinco anos, começou a trabalhar aos treze, como empregado de uma tipografia, assim sustentando a família. Desde criança interessou-se por música, e sua primeira composição data de 1926: o choro “O que vier eu traço”,em parceria com Zé Maria, só gravado em 1945 por Ademilde Fonseca.  Em 1928, a convite de Paulo da Portela, deixou o pequeno bloco carnavalesco  de que participava em Oswaldo Cruz para integrar a escola de samba dirigida por Paulo, a Vai Como Pode, que mais tarde se transformou na atual Portela. Inicialmente, Alvaiade (apelido que recebeu de companheiros de futebol, tendo jogado no time da própria Portela e na Associação Atlética Portuguesa) apresentava-se fazendo um cavaquinho (que tocava de ouvido) de centro,  acompanhando o samba, e mais tarde passou a compor para a escola. Era também percussionista. Na Portela, desempenhou funções várias, inclusive administrativas, e tendo também lançado compositores como Manaceia, Walter Rosa, Candeia e Chico Santana. Apresentou-se nas rodas de samba do Teatro Opinião, na década de 1970, fez parte da ala de compositores da Portela e foi um dos fundadores da UBC (União Brasileira de Compositores). Alvaiade faleceu em seu Rio natal em 23 de junho de 1981, já aposentado da UBC e dos serviços tipográficos, e seu corpo permaneceu dois dias no IML (Instituto Médico Legal), antes de ser reconhecido, sendo depois sepultado no cemitério do Irajá. E foi justamente o bairro carioca do Irajá o berço natal de Djalma Mafra, que veio ao mundo no dia 2 de novembro de 1916, e faleceu, também no Rio de Janeiro, em plena véspera de Natal de 1974, ou seja, a 24 de dezembro. Djalma sempre esteve muito ligado ao carnaval, especialmente de Madureira, do qual foi grande folião. Teve inúmeras composições gravadas, especialmente sambas e marchinhas,  em parceria com outros nomes de prestígio:  Geraldo Pereira, o próprio Alvaiade, que também abordamos aqui, Ataulfo Alves, Joel de Almeida, etc. Nesta edição do GRB, um pouco do expressivo legado de Alvaiade e Djalma Mafra, em catorze preciosas gravações. Abrindo-a, o samba “O coração ordena”, de Alvaiade e Paquito, do carnaval de 1939, gravação Victor de J. B. de Carvalho, em 27 de setembro de 38, lançada ainda em dezembro sob n.o 34392-A, matriz 80906. Do carnaval seguinte é outro samba de Alvaiade, agora em parceria com Alcides Lopes, “Eu chorei”, gravado na Odeon por Joel e Gaúcho em 4 de dezembro de 1939 e lançado um mês antes da folia de 40, em janeiro, disco 11820-B, matriz 6286. De ambos os nossos focalizados, Alvaiade e Djalma Mafra, em parceria, é o samba-canção “Brigas de amor”, gravado na Sinter por Flora Matos (não confundir com a “rapper” brasiliense), com lançamento em maio-junho de 1955, disco 00-00.400-A,matriz S-889. Flora, também compositora, gravou 16 discos 78 com 32 músicas, entre 1946 e 1960, e participou de LPs coletivos. De Alvaiade e Ari Monteiro é o samba “De sol a sol”, do carnaval de 1942, gravação Victor de Linda Batista em  12 de novembro de 41, lançada um mês antes dos festejos momescos, em janeiro, com o n.o 34860-B, matriz S-052419. De Djalma Mafra sem parceiro é o samba “Banco de réu”, que o mestre de Miraí, Ataulfo Alves, com suas Pastoras a tiracolo, lança pela Star em  maio de 1949, disco 132-B. Logo em seguida, acompanhado por sua Academia de Samba, Ataulfo interpreta outro samba, “Deus me ajude”, do carnaval de 1943, de autoria de Alvaiade, Estanislau Silva e Humberto de Carvalho, gravação Odeon de 11 de setembro de 42, lançada ainda em dezembro, disco 12232-A, matriz 7063. Novamente com as Pastoras, Ataulfo interpreta em seguida “Brasil”, outro samba de Alvaiade, agora com a parceria de Nílson Gonçalves, do carnaval de 1945, também gravado na “marca do templo” em 19 de outubro de 44 e lançado ainda em dezembro, disco 12525-A,matriz 7682. O paulista Risadinha (Francisco Ferraz Neto, 1921-1976), interpreta depois um samba só de Alvaiade, “Eu ainda sou eu”,  outra gravação Odeon, esta de 14 de abril de 1952, lançada em maio do mesmo ano com o n.o 13292-B, matriz 9282. Na faixa 9, volta Ataulfo Alves, com sua Academia de Samba, agora para interpretar o samba “Leonor”, dele próprio com Djalma Mafra, em registro Odeon de 9 de setembro de 1943, lançada em novembro seguinte sob n.o 12372-B, matriz 7376. Djalma Mafra assina em seguida,com Joel de Almeida, a marchinha ‘Cavalinho bom”, do carnaval de 1944, que Joel grava com Gaúcho na mesmíssima Odeon em 5 de agosto de 43 com lançamento ainda em novembro, disco 12373-B, matriz 7354. Marilu (Maria de Lourdes Lopes), carioca da Vila Isabel, aqui comparece com o samba “Réu primário”, de Djalma Mafra e Amaro Silva, também destinado ao carnaval de 1944. Gravação Victor de 12 de outubro de 43, lançada ainda em dezembro com o n.o 80-0137-A,matriz S-052854. O eterno ‘Formigão”, Cyro Monteiro,  interpreta em seguida o samba “Dentro da capela”, parceria de Djalma Mafra com Alcides Rosa, gravado na RCA Victor ao apagar das luzes de 1946, 20 de dezembro, indo para as lojas em março de 47 com o n.o 80-0502-B, matriz S-078703. O cantor José Ribamar, que deixou uma escassa discografia (apenas cinco discos 78 com dez músicas, entre 1954 e 1958), vem aqui com o lado B de seu primeiro disco, o Todamérica TA-5479: o samba “Falsidade”, de Djalma Mafra e João Pereira de Lucena, gravado em 17 de agosto de 1954 e lançado em outubro do mesmo ano, matriz TA-720. Para encerrar, o  trombonista  e maestro Astor Silva, à frente do grupo Rio Melodian’s, executa o choro “Comprando barulho”, de Djalma Mafra e Jorge Tavares, gravação da marca Rio, de existência efêmera, disco 10-0034-B, datado de 1951. Aqui fica a homenagem do GRB a estes compositores que muito contribuíram para nossa música popular, Alvaiade e Djalma Mafra, para a alegria e o deleite de todos os que apreciam o que é bom!
* Texto de Samuel Machado Filho

O Rock Do Augusto – 60 Pedras Escolhidas A Dedo (2011)

Olá amigos cultos e ocultos! Uma boa noite para todos vocês. Hoje é um dia muito especial e poderia ser ainda mais, não fosse o ‘grande fiasco da invenção da Copa’. Mas eu não quero falar disso Este é um momento que eu quero apagar da minha lembrança. Não estou suportando a maioria dos brasileiros com esse ‘complexo de mulher de malandro’. Felizmente, pra salvar o dia, pra salvar-me do domingo, hoje é o Dia do Rock. Eu vou mais é me afundar no rock’n’roll. Pensei em fazer uma seleção rock brazuca, daí me lembrei que já havia feito isso anteriormente. Eu confesso que as vezes eu simplesmente esqueço o que já postei aqui no Toque Musical. Mas também não é para menos, muito pelo contrário, é para mais. Com tantas publicações ao longo desses últimos sete anos, se eu não pesquisar ou verificar na unha, acabo as vezes repetindo a dose. Desta vez eu vou repetir em forma de um ‘repost’ 🙂 Como já tenho aqui uma seleção, criada e publicada em 2011, acho que vou trazê-la de volta, pois acredito que irá fazer tanto sucesso quanto fez da primeira vez. Eis aqui uma seleção com 60 músicas do nosso singular rock’n’roll. Uma escolha que obedece o meu gosto pessoal, embora incompleta, pois não corresponde integralmente a tudo que eu gostaria de selecionar. Fica então assim a minha homenagem ao Dia do Rock e a seleção “60 Pedras Escolhidas A Dedo” de 2011. Uma repostagem que merece! 😉
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chuck berry fields forever – doces bárbaros
de ponta a cabeça – a chave do sol
casa do rock – casa das máquinas
seráque eu vou virar bolor – arnaldo baptista
sinal da paranóia – som nosso de cada dia
flores astrais – secos e molhados
não pare na pista – raul seixas
super god – som imaginário
é como teria que ser – bixo da seda
1990 projeto salva a terra – erasmo carlos
os pilares da cultura – a barca do sol
se o rádio não toca – raul seixas
marta, zeca, o prefeito, o padre, o doutor e eu – bango
eu quero essa mulher assim mesmo – caetano veloso
sujeito de sorte – belchior
que loucura – tutti frutti
hey amigo – o terço
prá cabeça (jogue tudo prá cabeça) – casa das máquinas
bicho do mato – som nosso de cada dia
tecnicolor – mutantes
os pingos da chuva o os novos baianos
noite e dia – blow up
ando jururú – rita lee e tutti frutti
trem – bixo da seda
baby – erasmo carlos
jardim elétrico – mutantes
uma banda made in brazil – made in brazil
os hemadecons cantavam em côro – a bolha
eu não tô nem aí – arnaldo baptista
saravá – mutantes
lagoa das lontras – o terço
a hora e a vez do cabelo crescer – mutantes
posso contar comigo – rita lee e tutti frutti
porta das maravilhas – rick ferreira
essa menina tá ficando moça – dom e ravel
toada & rock & mambo & tango & etc – secos e molhados
luz de vela – o terço
cabeça feita – guilherme lamounier
água limpa p som nosso de cada dia
sociedade alternativa – raul seixas
sou louco por você – peso
minha fama de mau – cilibrinas do éden
delírio – secos e molhados
coração paulista – guilherme arantes
ainda vou transar com você – mutantes
a paulicéia pirou – made in brazil
ilusão e brisa – tutti frutti
beijo exagerado – mutantes
como vovó já dizia – raul seixas
essa éa vida – casa das máquinas
e você ainda duvida – cilibrinas do éden
mudança de tempo – o terço
send it for tomorrow – torbuk
análise descontraída – erasmo carlos
make believe waltz – som imaginário
departamento de criação – rita lee e tutti frutti
stress – casa das máquinas
é como teria que ser – bixo da seda (repetido, vacilão!)
caroço de manga – raul seixas
sempre brilhará – celso blues boy
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Nuno Roland – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 107 (2014)

A centésima-sétima edição do Grand Record Brazil é dedicada a um dos maiores cantores da era de ouro do rádio brasileiro. Estamos falando de Nuno Roland. Nosso focalizado veio ao mundo na cidade de Joinville, Estado de Santa Catarina, no dia primeiro de março de 1913, batizado com o nome de Reinold Correia de Oliveira. Ainda menino, ele tocava tarol e caixa na banda da cidade de Teixeira Soares, no Paraná. Aos 13 anos, mudou-se com a família para outra cidade catarinense, Porto União, tendo trabalhado como balconista, telegrafista e bancário. Após servir o exército, em 1931, transferiu-se para a cidade gaúcha de Passo Fundo, onde começou sua carreira, conseguindo emprego de cantor e baterista em um cassino, e apresentando-se com seu nome verdadeiro, Reinold de Oliveira. Em 1932, alistou-se como voluntário no Sétimo Batalhão de Caçadores de Porto Alegre, para entrar em combate na Revolução Constitucionalista daquele ano. Veio com sua tropa para São Paulo, e na ocasião fez amizade com outro soldado, então crooner da jazz band do batalhão: nada mais nada menos que Lupicínio Rodrigues, posteriormente célebre compositor. Encerrada a Revolução, o cantor voltou a Porto Alegre, e, com apenas 19 anos, assinou seu primeiro contrato profissional, com a Rádio Gaúcha, posto ter se destacado como cantor em uma apresentação radiofônica da jazz band do batalhão em que estava lotado. Em 1934, muda-se para São Paulo, onde fez sucesso apresentando-se inicialmente na Rádio Record (então “a maior”), recebendo pequenos cachês. Mais tarde,com o apoio do violonista Garoto, consegue um contrato com a Rádio Educadora Paulista.  E é nessa ocasião que passa a adotar o nome artístico pelo qual ficou conhecido em todo o Brasil: Nuno Roland.  Ainda em 1934, grava seu primeiro disco, na Odeon, com duas composições de Sivan Castelo Neto (pseudônimo de Ulysses Lelot Filho):  a valsa “Pensemos num lindo futuro” e a canção “Cantigas de quem te vê”.  Dois anos mais tarde, Nuno muda-se para o Rio de Janeiro e torna-se um dos pioneiros da PRE-8, Rádio Nacional, onde estreia no dia de sua inauguração, 12 de setembro de 1936. Durante onze anos foi também crooner da orquestra do Copacabana Palace Hotel.  Em cerca de quarenta anos de carreiro, Nuno Roland gravou ainda nos selos  Columbia, Victor, Belacap, Carroussel, Caravelle, Todamérica  e Continental. Nesta última marca, ele viveu a melhor fase de sua carreira, registrando inúmeros sucessos, no carnaval e no meio-de-ano. Seu currículo também inclui duetos com Cármen Miranda, Linda Batista e Emilinha Borba. Integrou ainda, juntamente com Albertinho Fortuna e Paulo Tapajós,o Trio Melodia, formado na Nacional para apoio do superprograma “Um milhão de melodias”, e as carreiras individuais de seus integrantes prosseguiriam sem quaisquer problemas. As participações de Nuno nos programas musicais da emissora da Praça Mauá eram consideradas de alta qualidade artística. Sua atividade artística declinou na década de 1960, gravando esporadicamente nesse período. Em 1968, participou, ao lado de Marlene e Blecaute, do espetáculo “Carnavália”, que ficou em cartaz no Rio por quase um ano.  Nuno Roland faleceu em 20 de dezembro de 1975, também no Rio, aos 62 anos. De sua gloriosa trajetória fonográfica, o GRB foi buscar dezoito faixas, notáveis exemplos de sua arte, assinadas por alguns de nossos maiores compositores populares.  Pedro Caetano, por exemplo, assina a faixa de abertura, “Guarapari”, célebre canção que homenageia a cidade do litoral do Espírito Santo famosa pelas suas praias com areias monazíticas. Nuno Roland a imortalizou na Todamérica em 8 de março de 1951, com lançamento em abril seguinte sob n.o TA-5053-B, matriz TA-102.  A faixa seguinte é um clássico imortal do carnaval brasileiro: a marchinha “Pirata da perna de pau”, uma das mais expressivas contribuições do grande João de Barro, o Braguinha, para o repertório momesco , aliás Nuno Roland  foi um dos melhores intérpretes do compositor. Imortalizada por ele na Continental em 3 de setembro de 1946, com lançamento em novembro seguinte sob n.o 15727-A,matriz 1591, “Pirata da perna de pau” foi merecido sucesso no carnaval de 47, sendo lembrada até hoje com muita, muita justiça. “Cai, sereno”, a faixa 3,é um batuque assinado por outro mestre, Assis Valente: “Cai, sereno”, que Nuno registrou na Odeon em 18 de maio de 1939, com lançamento em julho do mesmo ano, disco 11734-A, matriz 6094. O samba “Covardia”, que encontraremos logo em seguida, é de uma dupla “braba”, Ataulfo Alves e Mário Lago. Foi, aliás,o primeiro trabalho conjunto deles, de uma série de oito, entre eles os clássicos “Ai, que saudade da Amélia” e “Atire a primeira pedra”. Nuno gravou “Covardia”,também na Odeon, em 16 de agosto de 1938, com lançamento em outubro seguinte sob n.o 11646-B, matriz 5903. E quem nunca entoou aquela famosa música do “Lobo mau” (“Eu sou o lobo mau, lobo mau,lobo mau”…), da história de Chapeuzinho Vermelho, tão bem adaptada e musicada por Braguinha? Pois ele a reaproveita, junto com Antônio Almeida, na faixa 5, como marchinha para o carnaval de 1951, que Nuno Roland, à frente do já citado Trio Melodia, lançará na Continental em janeiro desse ano, disco 16344-A, matriz 2475. Outro presente de Ataulfo Alves para Nuno, agora tendo Jorge Faraj na parceria, é essa joia de valsa, “Mil corações”, que o cantor grava na Odeon em  28 de março de 1938,com lançamento em julho do mesmo ano, disco 11603-A,matriz 5747. O beguine “Ballerina”, de Carl Sigman e Bob Russell, foi publicado nos EUA em 1947, tendo merecido gravações por Nat King Cole e Bing Crosby, entre outros.  Dois anos mais tarde, Oswaldo Santiago escreve a letra brasileira, com o título de “Bailarina” mesmo, para Nuno Roland gravar na Continental, com lançamento entre julho e setembro de 1949,sob n.o 16087-A, matriz 2102. Raridade absoluta é também o samba  “Dia dos meninos”,  da parceria Wilson Batista-Jorge de Castro, provavelmente gravado por Nuno Roland em 1960, numa etiqueta de curta duração, a Popular, tendo o disco recebido o número 0011-A,matriz DPM-21. “Peixe vivo”, motivo do folclore mineiro, e por sinal a música favorita de Juscelino Kubitschek de Oliveira, político nascido em Diamantina que chegou à presidência da República (governou de 1956 a 1961), é aqui apresentada por Nuno Roland em tempo de baião, ritmo então na moda, num arranjo de Antônio Almeida. Gravação Todamérica de 26 de junho de 1951, lançada em agosto seguinte com o número TA-5084-A, matriz TA-169. A dupla Alcebíades “Bide” Barcellos-Armando Marçal , responsável por clássicos como “Agora é cinza”, “Ando sofrendo” e “Barão das cabrochas”, aqui comparece com o samba “Perdão, meu bem”, que Nuno Roland grava na Odeon em 3 de novembro de 1939 para o carnaval de 40, sendo lançado um mês antes da folia, em janeiro, com o número 11807-B, matriz 6245. O famoso tango “Por ti eu me rasgo todo (Por vos yo me rompo todo)”, do uruguaio Francisco Canaro  (que, a exemplo do francês Carlos Gardel, fez carreira na Argentina), ganha aqui uma versão em ritmo de samba, com letra brazuca de César Siqueira, que Nuno Roland irá registrar também na Odeon em 5 de setembro de 1939, indo para as lojas em novembro com o n.o 11781-A,matriz 6191. Em seguida, por intermédio de Luiz Bittencourt e Murilo Caldas (irmão de Sílvio), Nuno Roland pergunta em ritmo de samba: “Quem  é que está com a razão?” Gravado na Continental em 3 de setembro de 1946, permaneceu, no entanto, quase um ano na gaveta, e só saiu em julho de 47 sob n.o 15787-A, matriz 1590. O samba do lado B, que vem logo em seguida, foi gravado em 2 de maio de 1947, matriz 1655, é mais um clássico imortal de Braguinha, aqui com seu inseparável parceiro Alberto Ribeiro: o belíssimo “Fim de semana em Paquetá”, sob medida para a notável interpretação de Nuno Roland, devidamente acompanhado pela orquestra de cordas de Eduardo Patané (a mesma do registro original de “Copacabana”, com Dick Farney). Até hoje é bastante conhecido e tem inúmeras regravações. Também de Braguinha e Alberto Ribeiro é outra antológica marchinha carnavalesca: “Tem gato na tuba”, da folia de 1948, que Nuno Roland imortaliza na mesma Continental em 23 de setembro de 47, com lançamento ainda em dezembro sob n.o 15843-B, matriz 1727. Vencedora do concurso oficial da prefeitura do Rio de Janeiro, “Tem gato na tuba” foi também interpretada por Nuno Roland no filme “Esta é fina”, e jamais seria esquecida, tendo regravação até mesmo pela Turma do Balão Mágico!  Outra raridade é “Volta”, samba-canção de Radamés Gnattali e Luiz Bittencourt, que Nuno Roland lança em 1953 no LP coletivo de dez polegadas “Show”, da Musidisc  de Nilo Sérgio, por sinal uma das gravadoras pioneiras do vinil, e que encerrou definitivamente suas atividades em 2013. Braguinha, agora sem parceiro, é o responsável por outra imortal página carnavalesca:  a marchinha “Serenata chinesa”, um dos hits da folia de 1949, que Nuno imortaliza na Continental em 13 de outubro de 48 e vai para as lojas um mês antes do carnaval, em janeiro, com o número 15971-A, matriz 1983. Da santíssima trindade Wilson Batista-Claudionor Cruz-Pedro Caetano é o samba “Senhor do Bonfim te enganou”, dueto de Nuno Roland com Dircinha Batista, em gravação Odeon de 5 de outubro de 1939, só lançada em maio de 40, disco 11834-B, matriz 6240. Para encerrar com chave de ouro, outro grande hit carnavalesco de João “Braguinha” de Barro: “Tem marujo no samba”, em que Nuno Roland tem a notável companhia da eterna “Favorita”, Emilinha Borba.  Um dos hits do carnaval de 1949, por sinal um dos mais ricos musicalmente, foi gravado na Continental em 13 de outubro de 48, com lançamento um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 15980-B, matriz 1994, tendo sido também apresentada no filme “Estou aí?”, de Moacyr Fenelon. Não poderia haver melhor fecho para esta brilhante retrospectiva que o GRB dedica a Nuno Roland. Divirtam-se e até a próxima!
Texto de Samuel Machado Filho

João Petra De Barros – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 106 (2014)

Já estamos na centésima-sexta edição do Grand Record Brazil, o “braço de cera” do Toque Musical.  E prosseguimos esta brilhante e vitoriosa trajetória focalizando mais um grande nome da era de ouro de nossa música popular, cujo centenário de nascimento celebramos neste 2014: João Petra de Barros. Nosso focalizado veio ao mundo no dia 23 de junho de 1914, no Rio de Janeiro, e era irmão do também cantor Mário Petra de Barros. Começou sua carreira no início dos anos 1930 no “Programa Casé”, apresentado por Ademar Casé (avô de Regina Casé) na PRAX, Rádio Philips, que pertencia ao grupo holandês de mesmo nome. Em pouco tempo, João Petra se notabilizou por ter  timbre de voz parecido com o de Francisco Alves, grande astro do rádio e do disco nessa época, logo sendo cognominado  “a voz de dezoito quilates”.  Era figura constante em rodas de samba, ao lado de “cracões”  tipo Noel  Rosa, Custódio Mesquita , Chico Alves, Lamartine Babo, Benedito Lacerda, e com eles frequentava o então célebre Café da Uma Hora, na Rua São Francisco Xavier, zona norte carioca. A estreia de João Petra em disco acontece em 1933, na Odeon, com dois sambas para o carnaval desse ano,  ambos neste CD: “Quero falar com você” (Lauro dos Santos) e o clássico “Até amanhã” (Noel Rosa), ambos presentes nesta seleção e dos quais daremos mais detalhes a seguir. Um ano mais tarde, participa de um recital em benefício do Sindicato Brasileiro de Artistas de Rádio, ao lado de outros grandes cartazes da época, tais como Cármen Miranda e Custódio Mesquita, com eles também se apresentando em inúmeros programas radiofônicos  e espetáculos teatrais. Seria um dos pioneiros da Rádio Globo, fundada no Rio de Janeiro em 1944, em substituição à Rádio Transmissora, adquirida anos antes junto à antiga proprietária, a multinacional americana RCA Victor.  Mas essa carreira promissora e auspiciosa sofreria um abalo de monta exatamente no dia 22 de julho de 1946.  João Petra de Barros viajava no estribo de um bonde pela Rua da Assembleia, a caminho da Praça XV. De repente, uma caminhonete da Escola de Aeronáutica choca-se com o bonde, e atinge o terço médio da perna direita de João Petra. O cantor é logo atendido nem um pronto-socorro, mas tem sua perna amputada, fato que o traumatiza e o deixa inconsolável, a ponto de retirar-se da cena artística. Sabedora da tragédia nos EUA, onde então residia, sua amiga e colega Cármen Miranda chegou a lhe oferecer tratamento médico por lá, mas não foi possível salvá-lo. Após duas tentativas, João Petra de Barros suicidou-se no dia 11 de janeiro de 1947, com apenas 32 anos de idade. Em sua curta carreira, João Petra de Barros gravou 48 discos com 94 músicas. Desse legado, o Grand Record Brazil foi buscar as vinte e quatro faixas desta edição, muitas delas sucessos inesquecíveis, interpretados por ele com profundo sentimento. Abrindo-a, o samba “Quero falar com você”, de Lauro “Gradim” dos Santos,lado A de seu primeiro disco, o Odeon 10950, gravado em 19 de outubro de 1932 e lançado para o carnaval de 33, em janeiro, matriz 4526. Na faixa 12 está o verso do disco, um verdadeiro clássico do samba: “Até amanhã”, de Noel Rosa, matriz 4528. Noel o compôs durante uma excursão que fez pelo Sul do pais, como integrante do grupo Ases do Samba,inspirado em uma moça de cabaré por quem se apaixonou, na passagem por Porto Alegre. Sucesso estrondoso na folia de 1933, “Até amanhã” foi executado durante anos para encerrar os bailes carnavalescos. Na faixa 2, temos a valsa “Último sonho”, de Afonso Teixeira e Ari Monteiro, gravação Victor de 12 de maio de 1942, lançada em julho do mesmo ano, disco 34942-A, matriz S-052515. A faixa 3, “Canção ao microfone”, é um fox de Custódio Mesquita em parceria com o jornalista e médico Paulo Roberto, gravação Odeon de 15 de agosto de 1933, lançada em outubro do mesmo ano, disco 11058-A, matriz 4714. “Você prometeu”, a faixa seguinte, é um samba do mestre Ismael Silva em parceria com o jornalista Dan Mallio Carneiro, e João Petra o gravou na Odeon em 12 de junho de 1935, com lançamento em novembro seguinte para a folia de 36, disco 11281-B, matriz 5069. O lado A, que você vai encontrar na faixa 15, tem uma curiosidade. Trata-se da marcha-rancho “Linda pequena”, parceria de João de Barro, o Braguinha, com Noel Rosa, e que já estava gravada desde o dia 8 de dezembro de 1934, matriz 4965, ficando engavetada por quase um ano, e obtendo pouca ou nenhuma repercussão na folia de 36. Após o falecimento de Noel, em 1937, Braguinha, não entendendo o porquê da não-aceitação da música,  decide relançá-la para o carnaval de 38, com uma ou outra alteração na letra, e o novo título de “Pastorinhas”, na voz de Sílvio Caldas, obtendo desta vez o êxito merecido, e vencendo o concurso da prefeitura carioca na categoria marcha. A faixa 5, “Sou eu quem volta”, é um fox de Olga  Maria e Ribeiro Filho, e João Petra o imortaliza na Victor em 5 de junho de 1943,com lançamento em setembro do mesmo ano sob n.o 80-0111-B, matriz S-052787. O lado A, matriz S-052786, é justamente a faixa seguinte, a valsa ‘Quem será?”, de Custódio Mesquita e David Nasser. Para o carnaval de 1944, “a voz de dezoito quilates” grava dois sambas na mesma Victor, em 2 de dezembro de 43, e que são lançados bem em cima da folia, em fevereiro, com o n.o 80-0159: o lado A, sétima faixa desta edição, é “Depois de um longo inverno”, de Francisco Malfitano e Humberto deCarvalho, matriz S-052898. O lado B está na faixa 9: “Agora é tarde”, da parceria Alcyr Pires Vermelho-Pedro Caetano, matriz S-052899. A faixa 8, “Conto da carochinha”, é um samba-canção também de Custódio Mesquita, agora sem parceiro, gravação Victor de 14 de junho de1933 e lançado em agosto do mesmo ano, disco 33692-B, matriz 65776. Também de 1933 são dois foxes que João Petra grava na marca do cachorrinho Nipper em 25 de julho e são lançados em setembro seguinte com o n.o  33693. No lado B, faixa 10, ‘Sonho bonito”, de Joaquim Medina e Monte Branco, matriz 65822. Na faixa 23, você vai encontrar o lado A, “Dor de uma saudade”, matriz 65821, também de Joaquim Medina (e com ele em dueto com João Petra), agora tendo como parceiro nada mais nada menos que o Poetinha Vinícius de Moraes, então dando seus primeiros passos na MPB. A faixa 11 traz o maior hit da carreira de João Petra de Barros: a valsa “Última inspiração”, do alagoano  Peterpan (José Fernandes de Paula), imortalizada na mesma Victor em 16 de abril de1940 e lançada em junho seguinte sob n.o 34615-B, matriz 33382. É um clássico até hoje e tem várias regravações. Na faixa 12, o fox-canção “Cantor do rádio”, da parceria Custódio Mesquita-Paulo Roberto, gravação Odeon de 17 de agosto de 1933, lançada em setembro do mesmo ano, disco 11056-A, matriz 4713. O lado B está na faixa 18:  “Veio d’água”, canção de Francisco Alves e Luiz Iglésias, matriz 4712. A faixa 14 é um outro clássico do samba: “Feitiço da Vila”, da parceria Noel Rosa-Vadico, aquele da famosa definição “São Paulo dá café. Minas dá leite e a Vila Isabel dá samba”. Gravação Odeon de 22 de outubro de 1934, lançada em dezembro seguinte para o carnaval de 35, disco 11175-A, matriz 4938, na qual Noel faz a segunda voz, porém não foi creditado no selo como intérprete.  A faixa 16, “Santo Antônio amigo”, é um samba junino, como às vezes também se fazia, em gravação Victor de 9 de maio de 1941, lançada em julho seguinte sob n.o 34766-A, matriz 52208, nela ouvindo-se a inconfundível  flauta do mestre Benedito Lacerda  no acompanhamento.  Na faixa 17, outra bela valsa, ‘Teatro de revista”, de Marino Pinto e Pandiá Pires, gravação Victor de 28 de janeiro de 1942, lançada em abril do mesmo ano, disco 34889-A, matriz S-052467. A faixa 19 é o fox “Ninon  (Quando tu sorris)”, de Bronislau Kaper e e Walte Jurman, em versão de João ‘Braguinha” de Barro, gravação Odeon de 21 de setembro de 1934, lançada em novembro do mesmo ano, disco 11163-A, matriz 4917. É do filme alemão “Uma canção para você (Einlied fur dich”), de 1933, sendo nele cantado por Jan Kiepura.  A faixa 20, “Isso não se faz”, é outro samba do mestre Ismael Silva, agora em parceria com Noel Rosa e Francisco Alves, gravado na “marca do templo” em 2 de maio de 1933 e lançada em julho do mesmo ano, disco 11031-B, matriz 4661. Na faixa seguinte está o lado A, ‘Sorrindo sempre”,  outro samba dos mesmos autores mais Lauro “Gradim” dos Santos, matriz 4660. Na faixa 22, o fox “O que o teu piano revelou”, da parceria Custódio Mesquita-Orestes Barbosa, gravação Odeon de 12 de janeiro de 1935, lançada em maio do mesmo ano, disco 11222-A,matriz 4995. O lado B é a faixa de encerramento desta seleção, a canção “Tapera”, também de Custódio Mesquita, agora em parceria com Alberto Ribeiro, gravada em 11 de agosto de 1934 e que ficou nove meses engavetada, matriz 4892. Enfim, uma seleção vasta e primorosa que dá uma visão panorâmica da curta carreira de João Petra de Barros, e representa uma digníssima homenagem ao centenário de seu nascimento. Simplesmente imperdível!
* Texto de Samuel Machado Filho

Sempre No Meu Coração – Always In My Heart (2014)

Olá amigos cultos e ocultos! Eu havia dito que faria uma pausa nas postagens, mas devido as circunstâncias, me vi obrigado a fazer mais uma. Considerando que hoje é um dia muito especial para todos nós brasileiros, quando então um sentimento, a paixão, nos arrebata fazendo nosso coração vibrar, eu daqui não pude me furtar a esta saudação: feliz Dia dos Namorados! É, vocês estavam pensando que eu me referia à Copa? Nada disso, nada de copa… a conversa é no quarto, entre quatro paredes. Só love, só love… Aproveitei que tinha aqui uma seleção de versões para um clássico da música americana, “Always in my heart”, canção composta nos anos 40 por James Kimball Gannon, para um filme de Hollywood, com o mesmo nome. Graças ao filme, a canção ganhou o mundo e também muitas versões. Selecionei aqui vinte delas internacionais e outras vinte da versão nacional. Entre as versões nacionais, faço constar também a interpretação do cantor Pedro Paulo Lecuona, grande colecionador de lps, dos quais muitos foram extraídos como parte do acervo digital do Toque Musical..
Segue assim 40 diferentes versões para a música “Always In My Heart”. Um presentaço para velhos casais ainda apaixonados. Listados abaixo vão os intérpretes nacionais:

indios tabajaras
omar izar
dalva andrade
francisco petronio
luiz arruda paes
anísio silva
abilio farias
antonio marcos
roberto barreiros
joanna
josé ricardo
mário augusto
nelson gonçalves
orlando silva
pedrinho mattar
roberto luna
pedro lecuona
teixerinha
waldick soriano
orquestra românticos de cuba
PS.: Uma pequena correção, muito bem apontada pelo amigo Wander. A música “Always in my heart” foi , na verdade composta pelo cubano Ernesto Lecuona. Seu nome original é “Siempre en mi corazon”. Falha minha 🙂
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A Música De Henricão – Seleção 78 RPB Do Toque Musical Vol. 104 (2014)

Apresentamos anteriormente, aqui no Grand Record Brazil, várias composições de Henricão (Henrique Felipe da Costa, Itapira, SP, 1908-São Paulo, 1984), inclusive duetos dele com Cármen Costa, cantora que ele próprio lançou,na edição de número 75, e que conseguiria maior sucesso de mídia que ele. Como bem se lembram os amigos cultos, ocultos e associados do TM, apresentamos na ocasião um esboço biográfico da obra deste compositor, que ganhou o apelido por causa de sua exagerada estatura (quase dois metros de altura) e, pouco antes de falecer, ficou na história  como o primeiro Rei Momo negro do carnaval de São Paulo. Também marcou presença como ator de cinema e televisão e, apesar de ter feito inúmeras composições de sucesso e de toda a sua fama, vivia em dificuldades financeiras, até passando fome, mas sempre ajudado pelos amigos e encarando a vida com otimismo e esperança. Pois nesta centésima-quarta edição do GRB, apresentamos mais um pouco do legado do notável Henricão,tanto como autor quanto apenas intérprete,  com uma seleção de nove gravações de valor artístico e histórico inquestionáveis.  Abrimos a seleção desta semana com três duetos do compositor com a carioca Sarita, cuja biografia é um mistério para muitos pesquisadores, em gravações Odeon. O primeiro é “Moreninha do sertão”, toada do acordeonista Antenógenes Silva , evidentemente com a participação dele mesmo no acompanhamento (sua popularidade era tão grande que seus discos, mesmo quando cantados, tinham seu nome acima dos de quem interpretava as músicas). A gravação é de 9 de maio de 1936, tendo sido lançada em outubro do mesmo ano com o número 11398-B, matriz 5340. A segunda faixa com Henricão e Sarita é “Noiô noiô”, maracatu dos irmãos Paulo e Sebastião Lopes (autores também de um clássico do gênero, “Coroa Imperial”), destinado ao carnaval pernambucano de 1937. A gravação data de 15 de dezembro de 36, sendo lançada um mês antes dos festejos momescos pela “marca do templo” com o número 11447-A,matriz 5494. Escalou-se também, na faixa seguinte, o lado B, outro maracatu, este de Benigno Gomes e Franz Ferrer, “Chora, meu goguê”, matriz 5495. Em seguida, como solista, Henricão nos traz o samba “Pra que tanto ciúme?”, de Bucy Moreira e Lacy Martins (irmão de Herivelto),.também gravação Odeon, datada de 10 de dezembro de 1937, com lançamento em fevereiro de 38 (para o carnaval, “of course”), disco 11565-A,matriz 5731. O lado B, matriz 5732, também aqui está, e também é samba: “Qual foi o mal que te fiz?”, de Getúlio “Amor” Marinho e O. Patrício. O samba-choro “Casinha da Marambaia”, de Henricão e Rubens Campos (sequência de “Só vendo que beleza”, de 1942), originalmente lançado por Cármen Costa em 1944, é aqui revivido ao solovox  (considerado o primeiro sintetizador monofônico da história musical) pelo também maestro Roberto Ferri, à frente de seu conjunto, em raríssima gravação do selo Califórnia (gravadora fundada pelo compositor Mário Vieira e até hoje em atividade, dirigida pela terceira geração da família), datada de 28 de novembro de 1960, disco TC-1191-B, matriz TC-502. A “Marcha dos Democráticos”, interpretada solo por Henricão na faixa seguinte, é de Sátiro de Melo, José Alcides e Tancredo Silva, mesmos autores do clássico “General da Banda”. Só se sabe que é gravação RCA Victor, possivelmente de disco promocional, não-comercializado. “Não me abandone”, samba  do carnaval de 1944, que Henricão fez com Rubens Campos e José Alcides, é interpretado pela cantora que o compositor apadrinhou, Cármen Costa, em gravação Victor de 24 de novembro de 43, lançada um mês antes da folia, em janeiro, disco 80-0153-B, matriz S-052889. O multi-instrumentista Garoto (Aníbal Augusto Sardinha, 1915-1955) executa ao cavaquinho, em ritmo de baião, “Está chegando a hora”, adaptação de Henricão e Rubens Campos para a valsa mexicana “Cielito lindo”, escrita em 1882 por Quirino Mendoza y Cortés. A música teve seu título mudado para “Chegou a hora” nesta gravação Odeon de 26 de maio de 1953, lançada em  julho seguinte sob número 13472-B, matriz 9716. A faixa seguinte, “Dever de um brasileiro”, com o próprio Henricão, outra parceria sua com Rubens Campos, é um samba da época da Segunda Guerra Mundial, relatando a despedida de um pracinha da FEB (Força Expedicionária Brasileira) para lutar na Itália, Gravação Victor de 4 de maio de 1943, lançada em julho do mesmo ano, disco 80-0095-A, matriz S-052762. Por fim, “Será possível?”, samba também de Henricão e Rubens Campos e outra gravação Victor, agora do “Formigão’ Cyro Monteiro, datada de 5 de junho de 1941 e lançada em agosto seguinte com o número 34781-A, matriz S-052234. É a faixa que encerra esta pequena-grande retrospectiva de Henricão, apresentando músicas seja de outros autores, por ele interpretadas solo ou acompanhado, e composições próprias apresentadas por outros expressivos nomes da MPB. Divirtam-se!

Texto de Samuel Machado Filho

Sylvinha Mello – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 103 (2014)

Nesta semana, em sua centésima-terceira ediçã o, o Grand Record Brazil resgata uma cantora hoje esquecida, mas que deixou um legado importantíssimo, tanto artística quanto historicamente, para nossa música popular. Estamos falando de Sylvinha Mello. Nossa biografada, evidentemente batizada como Sylvia Mello, nasceu  em Vitória, capital do Espírito Santo, no dia 23 de fevereiro de 1914, filha de pernambucanos. Aos nove anos de  idade, chegou ao Rio de Janeiro. Iniciou sua carreira artística interpretando peças folclóricas em teatros e cassinos do Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais brasileiras. Ao atingir a maioridade (dezoito anos), Sylvinha apresentou-se no programa radiofônico de César Ladeira, o que lhe permitiu atuar ao lado de três grandes cartazes da época: Francisco Alves, Cármen Miranda e Sílvio Caldas. Gravou seu primeiro disco em 1931, na Victor, com duas canções de Hekel Tavares: “Chove, chuva” (parceria com o poeta Ascenso Ferreira) e “O pequeno vendedor de amendoim” (com versos do teatrólogo Joracy Camargo), esta última incluída nesta edição do GRB. Como atriz, participou de três filmes: “Estudantes” , “O grito da mocidade” e “Estrela da eterna esperança”.  Sua discografia compreende dez discos com dezenove músicas, oito deles pela Victor, e os outros dois pela Columbia, interpretando composições de Hekel Tavares, Joubert de Carvalho e Custódio Mesquita, entre outros, com estilo marcadamente romântico, predominando as canções e as valsas. Mais tarde, Sylvinha mudou-se para Nova York, onde viveu dois anos como estudante, conseguindo, pouco depois, emprego no consulado brasileiro.  Foi uma das primeiras brasileiras a fazer sucesso nos EUA, obtendo grande aceitação com suas interpretações de músicas de Ary Barroso, em emissoras de rádio e boates daquele país, inclusive a Blue Angel, de Nova York. Após se separar de um primeiro casamento, Sylvinha contraiu novas núpcias, agora com um diplomata francês, passando, então, a residir em Paris. Sylvinha morreu ali mesmo na capital francesa, por volta de 1978. Para esta edição do GRB, foram escolhidos nove exemplos da arte de Sylvinha Mello. Abrindo esta seleção, o lado A de seu derradeiro disco, o Columbia 55001, lançado em dezembro de 1938: a canção “Soldadinhos de chumbo”, de Marcelo Tupinambá e Galda de Paiva, matriz 3721, música originalmente gravada em 1930, por Edgard Arantes. As oito faixas seguintes foram todas gravadas  na Victor. Do disco 33956, foi escalado o lado B, o samba-canção “Perto do céu”, de autoria do pianista Romualdo Peixoto, o Nonô (tio dos cantores Cyro Monteiro e Cauby Peixoto) com versos de Francisco Matoso, gravação de3 de abril de 1935, lançada em agosto do mesmo ano, matriz 79859. Na faixa 3, temos a valsa “Os teus olhos me falam de amor”, de Joubert de Carvalho, gravada em 30 de agosto de 1935 e lançada em outubro seguinte sob número 33984-A, matriz 80023. Na faixa 6 está o lado B, matriz 80022, a canção “Mariblanca”, também de Joubert em parceria com Luiz de Gongora.  Na faixa 4, do primeiro disco de Sylvinha, o Victor 33489, foi escalada a canção “O pequeno vendedor de amendoim”, de Hekel Tavares e Joracy Camargo,o lado B, gravado em 14 de outubro de 1931 e lançado ao apagar das luzes desse ano, em dezembro, matriz 65254. A seguir, outras quatro  composições de Joubert de Carvalho, autor com quem Sylvinha obteve seus maiores hits.  Na faixa 5, a valsa “A carícia de suas mãos”, disco Victor 33972-A, gravação de 15 de julho de 1935, lançada em setembro desse ano, matriz 79981. Na faixa 8 está o lado B, a canção “Teu retrato”, matriz 79990, gravada três dias depois da “Carícia”, ou seja em 18 de julho de 1935. Na faixa 7, a valsa “Viver para o amor”, gravação de 15 de julho de 1935 que a marca do cachorrinho Nipper lançará em agosto seguinte com o número 34079-A,matriz 79982 (curiosamente, no lado B, apareceu a valsa “Italiana”, clássico na voz de Carlos Galhardo!).  Por fim, o fox “Canção das águas”, outra página do autor de “Taí” e “Maringá”, que Sylvinha gravou na Victor em 26 de maio de 1936 e foi lançada em julho seguinte com o número 34070-B, matriz 80166. Enfim, uma expressiva amostra, “curta e grossa”, do expressivo legado deixado por Sylvinha Mello para a nossa música popular. Ouçamos e recordemos
Texto de Samuel Machado Filho

Hermeto Pascoal & Grupo – Live In Hamburg 1985 (2014)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Eu hoje estou trazendo uma ‘produção exclusiva’, aproveitando o tempinho de folga e em consequência da ‘geral’ que eu andei dando em um dos meus HDs. Foi fazendo uma faxina digital que encontrei uns arquivos em uma pasta chamada Hermeto Pascoal & Grupo – Ao Vivo Em Hamburgo 1985. Creio que foi alguma das muitas coisas que sempre recebo dos amigos e acabo esquecendo de postar. Na verdade, esperando uma hora como essa em que eu animo e banco a embalagem. Continuo produzindo essas capinhas porque sei que muita gente gosta (e eu também).
Segue então este registro que consta como sendo um show ao vivo de Hermeto Pascoal e seu grupo, em Hamburgo, na Alemanha em 1985. Passando o olho pelo Google, não encontrei nada a respeito desse show. Será que alguém aí sabe? Diz aí Hermeto!
O mais importante nisso tudo é que a gravação é de muito boa qualidade, o que garante uma audição prazerosa, principalmente em se tratando de Hermeto Pascoal. Fica em aberta esta postagem, esperando que os comentários se façam como complemento. Hermeto Pascoal é show! 😉

magimani – forró da gota
era pra ser e não foi – nivaldo (aka camila, guarânia louca)
mosquito
suite paulista
jegue (taynara)
candango
forró desonhecido

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