A Música De Príncipe Pretinho – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 93 (2014)

Esta semana, o Grand Record Brazil apresenta a primeira parte de uma retrospectiva dedicada a um compositor com várias músicas gravadas, mas sobre o qual pouquíssima coisa se sabe. Estamos falando de Príncipe Pretinho, cujo nome verdadeiro era José Luiz da Costa, nascido no Rio de Janeiro em data ignorada e ali mesmo falecido em 1946. Um personagem tão misterioso quanto fascinante, que muito incentivou a carreira de outro grande nome  de nossa música popular, Herivelto Martins, ao apresentá-lo a J.B. de Carvalho, fundador e líder do Conjunto Tupi, no qual Herivelto participou. Nesta primeira parte, apresentamos dezoito composições de Príncipe Pretinho, interpretadas por cantores de prestígio em sua época. Abrindo-a, temos sua primeira composição levada a disco, o samba “Gamela quebrada”, sem parceiro, do carnaval de 1931, gravação Victor de Sílvio Caldas em 13 de dezembro de 1930, lançada bem em cima da folia, em fevereiro, sob n.o 33407-B, matriz 65058. Em seguida, o Conjunto Tupi interpreta a marchinha ”Me dá, me dá”, igualmente de Príncipe Pretinho e ninguém mais, do carnaval de 1933. Outra gravação Victor, esta de25 de outubro de 1932, lançada ainda em dezembro, disco 33599-A, matriz 65569. Francisco Sena (Bahia, c.1900-Rio de Janeiro,1935), primeiro integrante da Dupla Preto e Branco, ao lado de Herivelto Martins, interpreta solo o ponto de macumba “Quem tá de ronda?”, também só de Príncipe Pretinho, gravada na Victor em 25 de maio de 1933 e só lançada em julho de 35 (!), disco 33953-B, matriz 65751. No samba “Tereré não resolve”, do carnaval de 1938, Príncipe Pretinho tem a parceria de Rogério Nascimento. Quem canta é Miguel Baúso (1913-?). em gravação Odeon de 27 de dezembro de 1937, lançada bem em cima dos festejos momescos, em fevereiro, sob n.o 11576-B, matriz 5750. O Trio de Ouro (apresentado inicialmente nos selos “Dalva de Oliveira e Dupla Preto e Branco”, isto é, Herivelto Martins e Nilo Chagas) apresenta-nos as duas músicas de seu disco de estreia, o Victor 34206, gravado em primeiro de julho de 1937 e lançado em novembro seguinte com vistas ao carnaval de 38, ambas apenas e tão-somente de Príncipe Pretinho. Na faixa 6, o lado A, a marchinha “Ceci e Pery”, matriz 80513. Nessa ocasião, Dalva e Herivelto combinaram que seu filho, então prestes a nascer, teria o nome de Ceci, caso fosse menina, e o de Pery, se fosse menino. E foi mesmo Pery, o excelente cantor Pery Ribeiro, outro de saudosa memória. Na faixa 5 está o lado B, matriz 80512, o batuque “Itaquari”. O Trio de Ouro interpreta depois o samba “Palavra de rei”, em que Príncipe Pretinho tem a parceria de Waldemar Crespo. Também destinado ao carnaval de 1938, foi gravado na mesmíssima Victor em 28 de julho de 37, com lançamento um mês antes da folia, em janeiro,sob n.o 34263-A, matriz 80557. Para essa folia, na mesma Victor e no mesmo dia, 28 de julho de 1937, a Dupla Preto e Branco, sem Dalva, ainda gravaria o samba “Bate palmas”, onde o parceiro de Príncipe Pretinho é Boanerges Guedes. Saiu ainda em dezembro de 37, com o n.o 34247-A, matriz 80558, O Trio de Ouro volta a se reunir na faixa seguinte, o batuque “Quem mora na lua”, só de Príncipe Pretinho, gravação Odeon de 27 de junho de 1938, mas só lançada em abril de 39 com o número  11652-A, matriz 5878. No samba “Nosso amor não convém”, do carnaval de 1939, Príncipe Pretinho tem a parceria de Peterpan (José Fernandes de Paula, Maceió, AL, 1911-Rio de Janeiro, 1983). A gravação ficou por conta de Carlos Galhardo, na Victor, em 16 de dezembro de 1938, com lançamento um mês antes dos festejos momescos, em janeiro, disco 34401-B, matriz 80970. Na faixa seguinte, volta o Trio de Ouro, desta vez interpretando o belíssimo samba-rumba “Alvorada”, em que Príncipe Pretinho tem a parceria de um certo E. J. Moreira. Marcou a estreia do trio na Columbia, em gravação de 10 de maio de 1939, com lançamento em  junho seguinte, disco 55066-B, matriz 150. Da escassa discografia da cantora Janir Martins, outra cuja biografia é um mistério (dois discos com quatro músicas, ambos pela Columbia), foram pinçadas as duas músicas do primeiro disco, número 55175, gravado em 20 de setembro de 1939 e lançado em novembro do mesmo ano, ambas por ela cantadas em dueto com Jorge Nóbrega, parceiro de Príncipe Pretinho nas duas composições,  destinadas ao carnaval de 1940: a marchinha “Eu me rasgo todo”, matriz 215, por certo inspirada no tango “Por vos yo me rompo todo”, de Francisco Canaro, e o samba “Podes crer”, matriz 216. Para esse mesmo carnaval Príncipe Pretinho fez sozinho a marchinha “Na Turquia”, outra gravação do Trio de Ouro na Columbia, em 15 de dezembro de 1939, lançada um mês antes da folia, em janeiro de 40, sob n.o 55200-B, matriz 248. Nessa ocasião, vez por outra, Dalva de Oliveira, que integrava o Trio de Ouro, tinha oportunidade de gravar como solista. É o que acontece na mazurca “Menina de vestido branco”, de Príncipe Pretinho e mais ninguém, gravação Columbia de 24 de maio de 1940, lançada em junho do mesmo ano sob n.o 55218-B, matriz 286. Cármen Costa e Henricão apresentam em dueto dois sambas de Príncipe Pretinho, ambas do disco Columbia 55239, gravado em 19 de julho de 1940 e lançado em agosto do mesmo ano: “Dance mais um bocado”, parceria do próprio Henricão, matriz 307, e “Não quero conselho”, em que o parceiro é Constantino Silva, o Secundino, matriz 308. Para encerrar, Janir Martins interpreta, de seu segundo e último disco, o Columbia 55241-A, a marchinha “É espeto”, parceria de Príncipe Pretinho com Rogério Nascimento, gravada em 20 de setembro de 1940 e lançada em novembro seguinte, matriz 318, por certo para o carnaval de 41. Enfim, um atraente e histórico apanhado da obra musical de Príncipe Pretinho, que continuaremos a abordar na próxima semana. A gente se vê!
*Texto de Samuel Machado Filho

Carnaval B – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 92 (2014)

O carnaval continua aqui no Grand Record Brazil. Apresentamos nesta semana mais 14 músicas destinadas à folia de Momo, gravadas na era das 78 rotações por minuto. Várias delas clássicos inesquecíveis. E começamos com o pé direito, apresentando um clássico inesquecível: “Pastorinhas”, de João “Braguinha” de Barro e Noel Rosa. Esta composição havia sido lançada originalmente para o carnaval de 1935, na voz de João Petra de Barros, com o nome de “Linda pequena”, sem no entanto repercutir. Após o falecimento prematuro de Noel, em 1937, Braguinha resolveu relançar esta bela marcha-rancho para a folia do ano seguinte, fazendo uma ou outra alteração na letra e rebatizando-a “Pastorinhas”. Sílvio Caldas a imortalizou na Odeon em 13 de dezembro de 1937, com lançamento em janeiro de 38 sob n.o 11567-A, matriz 5733. E “Pastorinhas”, além de ser um sucesso inesquecível, venceria o concurso oficial de carnaval da prefeitura do Rio de Janeiro. A vencedora na categoria marcha tinha sido “Touradas em Madri”, também de Braguinha com Alberto Ribeiro, mas acabou sendo desclassificada sob a alegação de que se tratava de um passo-doble espanhol. Evidentemente, Braguinha não ficou sem o primeiro lugar entre as marchas, pois “Pastorinhas” subiu do segundo para o primeiro lugar! A faixa seguinte é mais uma clássica marchinha, esta do carnaval de 1932: “Teu cabelo não nega”, adaptação feita por Lamartine Babo para o frevo-canção “Mulata”, dos irmãos Raul e João Valença. Castro Barbosa levou a música a disco, tornado-a um sucesso permanente da folia de Momo, e a regravaria outras vezes. A versão desta edição, também gravada na RCA Victor, é de 17 de outubro de 1952, lançada em dezembro do mesmo ano sob n.o 80-1072-A, matriz SB-093524, e mantém sua famosa introdução instrumental. E tome marchinha clássica! Agora é “Mamãe, eu quero”, de Jararaca e Vicente Paiva, do carnaval de 1937, um sucesso que é lembrado até hoje e ultrapassou as fronteiras do Brasil (tocou até em desenho animado de Tom e Jerry!). O próprio Jararaca imortalizou a marchinha na Odeon em 17 de dezembro de 1936, com lançamento um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 11449-A, matriz 5499. Destaque, na gravação, para o hilariante diálogo inicial, em que o papel da mãe é feito por Almirante. Prosseguindo nosso desfile de clássicos carnavalescos, Orlando Silva, o eterno “cantor das multidões”,  nos brinda com a impecável marcha-rancho “Malmequer”, de Newton Teixeira e Cristóvão de Alencar, o “amigo velho”, hit inesquecível do carnaval de 1940. Gravação Victor de 4 de novembro de 1939, lançada um mês antes do tríduo momesco, em janeiro, sob n.o 34544-A, matriz 33248. O eterno e sempre bem-humorado Lamartine Babo volta à cena neste retrospecto carnavalesco, agora com a marchinha “Linda morena”, absoluta no carnaval de 1933, que ele próprio interpreta ao lado de Mário Reis. Gravação Victor de 26 de dezembro de 1932, lançada bem em cima da folia, em fevereiro, sob n.o 33614-A, matriz 65631. Destaca-se no coro, deste registro, uma voz feminina que parece ser a de Cármen Miranda. E falando em Cármen Miranda, ela aqui comparece com duas faixas. A primeira, da parceria Braguinha-Alberto Ribeiro, muitos conhecem na  interpretação de Gal Costa: é a famosa marchinha “Balancê”, de João “Braguinha” de Barro e Alberto Ribeiro, do carnaval de 1937. Cármen a gravou na Odeon em 19 de novembro de 1936, com lançamento um mês antes do carnaval, em janeiro, sob n.o  11430-A, matriz 5457. Apesar de ter obtido alguma aceitação, “Balancê” ficou esquecida com o passar do tempo, até que Gal Costa,  mais de 40 anos depois, a tirasse do esquecimento no LP “Gal tropical” e a transformasse em hit permanente de todos os carnavais a partir de 1980. A outra marchinha com Cármen Miranda nesta edição é a maliciosa “Eu dei…” (“O que foi que você deu, meu bem?”), do carnaval de 1938. Gravação Odeon de 21 de setembro de 1937, lançada ainda em dezembro com o número 11540-B, matriz 5670. No fim, descobre-se que a personagem havia dado um beijo, e quem canta os versos finais (“guarde para mim unzinho, que mais tarde pagarei com um jurinho”) é o próprio Ary Barroso! Aurora Miranda, irmã de Cármen, aqui comparece com outras duas marchinhas, ambas do carnaval de 1940, e em gravações Victor. A primeira é “Que horas são estas?”, de Antônio Almeida e Oswaldo Santiago, do carnaval de 1940. Foi gravada em 18 de outubro de 1939, e lançada ainda em dezembro sob n.o  34530-A, matriz 33191. Dias antes, a 3 de outubro de 39, Aurora já havia gravado “Não vejo jeito”, de Ismael Silva, lançada em novembro seguinte com o n.o 34519-B, matriz 33170. A carioca Dora Lopes (1922-1983), grande compositora e intérprete de sambas, comparece aqui com a divertida marchinha “Fila do gargarejo”, dela própria em parceria com José Batista e Nilo Viana. É do carnaval de 1958, lançada em fins do ano anterior pela Mocambo, gravadora do Recife que pertencia aos irmãos Rozenblit, sob n.o 15196-A, matriz R-910. As Irmãs Pagãs (Elvira e Rosina, esta falecida recentemente, anos depois de Elvira) apresentam-nos “Água mole em pedra dura”, marchinha do carnaval de 1940, de autoria de Sátiro de Melo e Manoel Moreira. Foi gravada na Columbia em 24 de outubro de 1939, e lançada ainda em dezembro com o número 55181-A, matriz 224. Dois inesquecíveis intérpretes se reúnem na faixa seguinte: Francisco Alves, o Rei da Voz, e Dalva de Oliveira, o Rouxinol do Brasil, interpretam a belíssima marcha-rancho “Andorinha”, de Herivelto Martins (então marido de Dalva) e Haroldo Barbosa, um dos sucessos do carnaval de 1946, conhecido como o “carnaval da vitória” por ter acontecido após o término da Segunda Guerra Mundial, com a vitória dos países aliados sobre os do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). A dupla a imortalizou na Odeon em 5 de dezembro de 1945, e o lançamento se deu um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 12660-A, matriz 7954. Para finalizar, trazemos a cantora Lolita França, sobre a qual pouquíssima coisa se sabe. Aqui ela revive a “marcha-canção” (como foi editada originalmente)“Taí” (cujo título original era “Pra você gostar de mim”), de Joubert de Carvalho,  com a qual Cármen Miranda despontou para o estrelato em 1930. A regravação de Lolita é de 7 de julho de 1939, lançada pela Victor em setembro do mesmo ano, disco  34486-B, matriz 33116. Lolita França gravou, entre 1939 e 1942, onze discos com vinte e duas músicas, e suas gravações obtiveram algum sucesso na Argentina. Enfim, esta é a segunda e última parte do retrospecto carnavalesco do Grand Record Brazil, por certo expressiva contribuição para a preservação da memória musical do Brasil. Divirtam-se!

* Texto de Samuel Machado Filho

Carnaval A – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 91 (2014)

Ó abre alas que o Grand Record Brazil quer passar! E apresenta para os amigos, cultos e associados do Toque Musical a primeira de duas partes de uma seleção dedicada ao carnaval. Vocês por certo irão se deliciar, e muito, com as músicas que o Augusto escolheu para esta seleção, muitas delas verdadeiros clássicos da folia de Momo, cantadas nos bailes até hoje, nas vozes de intérpretes renomados. Nesta primeira parte, oferecemos catorze gravações, todas elas marchas ou marchinhas. Abrindo esta seleção, temos Blecaute (Otávio Henrique de Oliveira, Espírito Santo do Pinhal, SP, 1919-Rio de Janeiro, 1983), cantor que recebeu esse apelido do Capitão Furtado, apresentador de programas sertanejos do rádio paulistano, por causa dos apagões que havia na época da Segunda Guerra Mundial, a fim de evitar ataques inimigos, nos quais a orla marítima do Brasil ficava às escuras. Com inúmeros hits carnavalescos no currículo, Blecaute,  de início, nos oferece a deliciosa “Maria Escandalosa”, de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, sucesso absoluto no carnaval de 1955, lançado pela Copacabana em janeiro desse ano sob n.o 5354-B, matriz M-999, e também abrindo o LP coletivo da gravadora com músicas para essa folia, em 10 polegadas. Em 1992, esta marchinha foi revivida na novela “Deus nos acuda”, da TV Globo, na voz de Ney Matogrosso, como tema de uma personagem também chamada Maria Escandalosa, interpretada por Cláudia Raia. Em seguida, o eterno “general da banda” recorda, dos mesmos autores, a “Marcha do gago”, lançada originalmente em 1950 por Oscarito, astro da lendária Atlântida Cinematográfica, que também a interpretou no filme “Carnaval no fogo”. O registro de Blecaute é do LP de 10 polegadas “Carnaval do Rio”, também da Copacabana, lançado em 1955. Bill Farr (Antônio Medeiros Francisco, Sapucaia, RJ, 1925-Rio de Janeiro, 2010), outro intérprete da época áurea do rádio, nos oferece “Maricota Cervejota”, de autoria de João de Barro, o Braguinha, verdadeiro campeão de carnavais. Feita para o carnaval de 1956, a marchinha foi gravada na Continental em 21 de setembro de 55,e lançada ainda em novembro-dezembro sob n.o 17208-A, matriz C-3701, e no LP coletivo de 10 polegadas “Carnaval de 56”. Encontraremos em seguida, na interpretação de Orlando Silva (Rio de Janeiro, 1915-idem, 1978), o eterno “cantor das multidões”, um inesquecível clássico carnavalesco: “A jardineira”, de Benedito Lacerda e Humberto Porto, calcada em motivo popular do final do século XIX, e que dominou a folia de 1939.  Teve quatro gravações por Orlando  (que também a interpretou no filme “Banana da terra”, da Cinédia) na Victor: as duas primeiras em 21 de outubro de 1938 (matrizes 80917-1 e 80917-2), a terceira dez dias depois (matriz 80925-R) e finalmente a quarta e definitiva, que ouvimos nesta seleção, em 6 de dezembro de 38, matriz 80917-3, sendo o disco lançado pouco depois com o número 34386-B (dos quatro registros, o primeiro não teria sido lançado). Ainda hoje está presente nos bailes, e é um sucesso permanente de nosso cancioneiro carnavalesco. Outro campeão de carnavais, Lamartine Babo (Rio de Janeiro, 1904-idem, 1963) aqui nos oferece uma de suas marchinhas clássicas, feita em parceria com Paulo Valença: “Aí, hein?”, um dos hits do carnaval de 1933, por ele interpretado em dueto com Mário Reis. Gravação Victor de 25 de novembro de 32, lançada um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 33603-A, matriz 65601. Lalá também está na faixa 13, “Grau dez”, de sua parceria com Ary Barroso, em dueto com Francisco Alves, sucesso do carnaval de 1935, gravado na Victor em 16 de outubro de 34, com lançamento um mês antes da folia, em janeiro, disco 33880-B, matriz 79737. Na faixa 6, Carlos Galhardo (1913-1985) nos oferece outro clássico inesquecível e muito cantado nos bailes até hoje: “Alá-lá-ô”, de autoria de outros dois colecionadores de hits carnavalescos, Haroldo Lobo e Nássara. Sucesso absoluto do carnaval de 1941, também interpretado por Galhardo no filme “Vamos cantar”, da Pan-América Filmes, foi por ele imortalizada na Victor em 21 de novembro de 40, com lançamento um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 34697-A, matriz 52055, e ganhou súbita atualidade neste verão de 2014, no qual têm se registrado altíssimas temperaturas, com os desconfortos de praxe. Destaque também  para a introdução instrumental, obra de gênio do mestre Pixinguinha. Outro clássico momesco vem em seguida: “Pierrô apaixonado”, de Noel Rosa e Heitor dos Prazeres, do carnaval  de 1936. Gravação Victor de Joel de Almeida (“o magrinho elétrico”) em dupla com Gaúcho, datada de 26 de dezembro de 35 e lançada um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 34012-A, matriz 80060. Logo depois, outra divertida e clássica marchinha do mestre Lamartine Babo, “História do Brasil”, do carnaval de 1934. Foi imortalizada na Victor por Almirante (“a maior patente do rádio”) em 15 de dezembro de 1933, com lançamento um mês antes do tríduo momesco de 34, em janeiro, sob n.o 33740-B, matriz 65917. Talento precoce revelado pela Rádio Record de São Paulo, Mário Ramos de Oliveira, o Vassourinha, teve morte prematura, em 1942, aos 19 anos, de doença óssea, deixando gravados seis discos com doze músicas, todos pela Columbia. De seu terceiro disco, n.o 55308-A, lançado em dezembro de 1941 com vistas ao carnaval de 42, matriz 474, é esta marchinha de Antônio Almeida, “Chic chic bum”, interessante crônica do tempo em que o bonde era o principal meio de transporte no Rio de Janeiro. De Herivelto Martins em parceria com o pistonista Bonfiglio de Oliveira é “Mais uma estrela”, do carnaval de 1935, gravada na Victor por Mário Reis em 5 de outubro de 34, com lançamento ainda em novembro sob n.o 33850-A, matriz 79712. O problema da falta de moradia, já crônico naqueles tempos, é glosado por Peterpan (José Fernandes de Almeida) e Afonso Teixeira na “Marcha do caracol”, sucesso do carnaval de 1951, gravado na RCA Victor pelos Quatro Ases e um Coringa em 4 de outubro de 50 e lançado ainda em dezembro, disco 80-0728-A, matriz S-092771. Traduzindo as dificuldades causadas pela Segunda Guerra Mundial, com escassez generalizada de combustíveis e alimentos, vem a marchinha “Eu brinco”, de Pedro Caetano e Claudionor Cruz, do carnaval de 1944, imortalizada pelo eterno Rei da Voz Francisco Alves na Odeon em primeiro de dezembro de 43 e lançada um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 12404-A, matriz 7431. A marchinha mostra a disposição de se brincar o carnaval ainda que em tempo de vacas magras, sem pandeiro ou dinheiro…  Para encerrar esta edição carnavalesca do GRB, Sílvio Caldas (1906?-1998), o eterno “caboclinho querido”, apresenta outro sucesso inesquecível  de João “Braguinha” de Barro, “Linda lourinha”. Foi uma das músicas mais cantadas no carnaval de 1934,  gravada por Sílvio na Victor em 15 de novembro de 33, com lançamento um mês antes do tríduo momesco, em janeiro, sob n.o 33735-A, matriz 65889. E, na próxima segunda-feira, tem mais carnaval pra vocês aqui no GRB. Aguardem

* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

A Música De João Da Baiana – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 90 (2014)

Esta semana, o Grand Record Brazil, “braço de cera” do Toque Musical, apresenta a segunda e última parte da retrospectiva dedicada a João da Baiana (1887-1974). Semana passada, vocês tiveram oportunidade de conferir músicas de João da Baiana na interpretação dele próprio. Nesta segunda parte, apresentamos dez faixas, como sempre de grande importância histórica, artística e cultural, com música desse notável sambista carioca, interpretadas por outros cantores de seu tempo. Abrindo nossa seleção desta semana, temos Patrício Teixeira, que, a exemplo de João da Baiana, nasceu (1893) e faleceu (1972) no Rio de Janeiro. Um dos pioneiros do rádio e da gravação sonora no Brasil, Patrício foi cantor, compositor, violonista e até professor de violão e canto. Algumas de suas alunas foram  Aurora Miranda, Linda Batista, as irmãs Danusa e Nara Leão, e a atriz Maria Lúcia Dahl. Neste volume do GRB, Patrício comparece com três sambas de João da Baiana em gravações Odeon, a saber:  “Dona Clara (Não te quero mais)”, parceria de João com Ernesto dos Santos, o Donga  (também co-autor  do pioneiro “Pelo telefone”), lançado em dezembro de 1927,bem nos primórdios da gravação elétrica, sob n.o 10084-B, matriz 1385; “Cabide de molambo”, de João sem parceiro, gravado em 23 de janeiro de 1932 (disco 10883-A, matriz 4402) e “Ai, Zezé”, o lado B desse disco, matriz 4403, tendo como parceiro de João da Baiana o próprio Patrício. Considerada pelo diplomata Pascoal Carlos Magno uma  das maiores cantores negras do mundo, a soprano carioca Zaíra de Oliveira (1891-1952) interpreta, da santíssima trindade Pixinguinha-Donga (marido da cantora)-João da Baiana, a batucada “Já andei”, gravação Victor de 24 de novembro de 1931, lançada em janeiro de 32 para o carnaval, disco 33509-A, matriz 65300, com acompanhamento do Grupo da Guarda Velha, formado justamente por Pixinguinha (Rio de Janeiro, 1897-idem, 1973). Também participa da gravação o cantor baiano Francisco Sena (c-1900-1935) primeiro integrante da Dupla Preto e Branco, ao lado de Herivelto Martins, e substituído, após sua morte prematura, por Nilo Chagas. No lado B, matriz 65299, ele e Zaíra interpretam o ponto de macumba “Qué queré”, do mesmo trio de autores. Em seguida, volta Patrício Teixeira, interpretando o interessante samba “Quem faz a Deus paga ao diabo”, de João da Baiana sem parceiro, do carnaval de 1933, lançado pela Columbia em janeiro desse ano sob n.o  22173-B, matriz 381383, e também com acompanhamento orquestral de “São” Pixinguinha. Patrício ainda canta, em dueto com a eterna “pequena notável”, Cármen Miranda,outro samba de João da Baiana e mais ninguém, o delicioso e divertido “Perdi minha mascote”, gravação Victor de 29 de junho de 1933, lançada em dezembro seguinte com o número 33733-B, matriz 65791, com acompanhamento do grupo do violonista Rogério Guimarães, o Canhoto (Campinas, SP, 1900-Niterói, RJ, 1980), também destacado dirigente da marca do cachorrinho Nipper, tendo sido seu primeiro diretor artístico. Cognominado “a maior patente do rádio”, Almirante (Henrique Foréis Domingues, Rio de Janeiro, 1908-idem, 1980), interpreta “Deixa amanhecer”, gravação Odeon de  30 de agosto de 1935, lançada em novembro seguinte com o número 11282-B, matriz 5132. Neste samba, João da Baiana conta com a parceria de outro importante sambista, Alcebíades Barcelos, o Bide (Niterói, RJ-1902-Rio de Janeiro, 1975), que fez com Armando Marçal inúmeros outros clássicos do samba. Carlos Galhardo (1913-1985), o eterno e sempre lembrado “cantor que dispensa adjetivos”, aqui interpreta uma marchinha da parceria João da Baiana-Wilson Batista, “Mariposa” (referência ás mulheres que, como o animal de mesmo nome, só saíam à noite, sendo o sinônimo bem fácil de adivinhar).  Destinada ao carnaval de 1941, foi gravada na Victor em 8 de outubro de 40, sendo lançada ainda em dezembro com o número 34682-B, matriz 52018. Para finalizar, apresentamos os Trigêmeos Vocalistas, grupo paulistano formado  pelos irmãos Carezzato (ou Carrazatto), Armando, Raul e Humberto, os dois últimos gêmeos. Raul é parceiro de João da Baiana no ponto de macumba (no selo, “afro-brasileiro”) “Ogum Nilé”, gravação Odeon de 31 de maio de 1950, lançada em agosto do mesmo ano sob n.o 13033-A, matriz 8633. Ressalte-se que não há nenhuma semelhança com o “Ogum Nilé” que o próprio João da Baiana gravou em 1957 e que apresentamos na edição anterior, apenas o título é semelhante. Enfim, mais uma edição do GRB que irá enriquecer os acervos dos amigos cultos, ocultos e associados do TM com preciosa e histórica parcela de nossa boa música popular do passado. Até a próxima e divirtam-se!
* Texto de Samuel Machado Filho

João Da Baiana – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 89 (2014)

Em sua edição de número 89, o Grand Record Brazil reverencia a memória de um dos pioneiros da música popular brasileira: João Machado Guedes, ou, como ficou para a posteridade, João da Baiana. Filho dos ex-escravos Félix José Guedes e Perciliana Maria Constança, que tinham uma quitanda de artigos afro-brasileiros, nosso focalizado nasceu no Rio de Janeiro, em  17 de maio de 1887, e era o mais novo e único carioca de uma família de doze irmãos. Sua mãe era conhecida como Baiana, daí seu pseudônimo. Um de seus irmãos, Mané, era palhaço no Circo Spinelli e tocava violão e cavaquinho, e uma de suas irmãs era violinista. João da Baiana cresceu na Rua Senador Pompeu, no bairro da Cidade Nova, sendo amigo de infância de Donga e Heitor dos Prazeres. Quando criança, frequentava as rodas de samba e macumba que aconteciam clandestinamente nos terreiros cariocas. Participou de blocos carnavalescos e é considerado o introdutor do pandeiro no samba, sendo também especialista no chamado prato-e-faca.  Ainda menino, trabalhou no circo como chefe da claque dos garotos que respondiam ao grito “Hoje tem marmelada? Tem, sim, senhor”.  Por essa época, passou a se dedicar à pintura, sua grande paixão.  Aos nove anos, ingressou como aprendiz no Arsenal da Marinha e deu baixa três anos mais tarde, indo então para o Segundo Batalhão de Artilharia, como ajudante de cocheiro, sob o comando do marechal Hermes da Fonseca, futuro presidente da República. Em 1910, passou a trabalhar no Cais do Porto, sendo promovido a fiscal da Marinha dez anos mais tarde. Por isso, recusou-se a viajar com os Oito Batutas, liderados por Pixinguinha,  a Paris, pois não queria perder o posto. A partir de 1923, passou a compor e a se apresentar em programas radiofônicos. Algumas de suas composições nessa época foram “Pelo amor da mulata”. “Mulher cruel”, “Pedindo vingança” e “O futuro é uma caveira”. Outros de seus sambas conhecidos são “Cabide de molambo” e “Batuque na cozinha”. Como ritmista, João da Baiana integrou  inúmeros grupos, entre eles o Conjunto dos Moles, o Grupo do Louro, o Grupo da Guarda Velha e a orquestra Diabos do Céu, os dois últimos formados e dirigidos por Pixinguinha. Participou, em 1940, da famosa série de gravações organizada por Heitor Villa-Lobos a bordo do navio ‘Uruguai”, onde viajavam o maestro Leopold Stokowski  e sua orquestra (“Native brazilian music”).  Aposentado da Marinha em 1949, João da Baiana apresentou-se, na década seguinte, nos espetáculos do grupo Velha Guarda, organizados por Almirante. Casou-se e teve dois filhos, que morreram ainda na infância. Em 1968, participou do histórico LP “Gente da antiga”, ao lado de Pixinguinha e Clementina de Jesus, produzido por Hermínio Bello de Carvalho. Em 1972, foi recolhido à Casa dos Artistas, em Jacarepaguá, onde faleceria no dia 12 de janeiro de 1974, aos 86 anos. Hoje, alguns dos pertences de João da Baiana integram o acervo do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, inclusive o prato-e-faca  que o consagraram, parte da coleção do cantor, compositor e radialista Almirante. Do legado de João da Baiana como intérprete, o GRB foi buscar dez gravações  históricas, todas pontos de macumba ou corimas dele mesmo, com ou sem parceria, e fundamentais para quem estuda e pesquisa a cultura afro-brasileira, por ele cantados ao lado de seu conjunto ou terreiro.  Abrindo esta seleção, “Sereia”, parceria de João da Baiana com Getúlio “Amor” Marinho, gravação Victor de 21 de março de 1938, lançada em maio do mesmo ano sob n.o  34313-A, matriz 80707. A faixa seguinte é o lado B, matriz 80708, “Folha por folha”, e é da mesma parceria. Depois encontraremos as músicas do disco Odeon 13330, gravado em 2 de julho de 1952 e lançado em setembro do mesmo ano, ambas de João da Baiana sem parceiro: “Lamento de Inhaçã”, lado A, matriz 9368, e “Lamento de Xangô”, lado B, matriz 9367. As faixas seguintes, também só de João,  saíram pela Sinter, disco 496, em maio de 1956. No lado A, matriz S-1079, “Vovó Joana do Aguiné”, e no verso, matriz S-1080, “Vai i-aô”. Temos depois mais dois corimas do próprio João da Baiana sem parceiro, do Odeon  13999, gravado em 5 de dezembro de 1955 e lançado em março de 56: no lado A, matriz 10877, “Qué-qué-ré-qué-qué”, e no verso, matriz 10878, “Saudação a Iemanjá”. Finalmente, do Sinter  548, lançado em maio de 1957, outros dois corimas de João sem parceiro: no lado A, “Ogum nilê”, matriz S-1191, e no verso, matriz S-1192, “Homenagem a Oxalá”.  Enfim, uma amostra interessante do legado do compositor para a cultura afro-brasileira. E vem mais João da Baiana por aí, aguardem
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO
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A Música De Monsueto – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 88 (2014)

Esta semana, o Grand Record Brazil reverencia a memória de outro grande compositor e sambista brasileiro, com inúmeros sucessos a seu crédito. Estamos falando de Monsueto. Batizado com o nome de Monsueto Campos de Menezes, nosso focalizado era carioca da gema, nascido na então Capital da República no dia 4 de novembro de 1924. Criou-se na favela do Morro do Pinto, entre partideiros, rodas de samba e batucadas, o que por certo contribuiu para sua formação musical. Foi baterista de inúmeros grupos musicais, inclusive da orquestra de Nicolino Cópia, o Copinha, no Copacabana Palace Hotel. Conseguiu seu primeiro sucesso em um carnaval bastante disputado, o de 1952, com o samba “Me deixa em paz”, gravado por Linda Batista e constante deste volume. Depois, teve várias de suas músicas incluídas no espetáculo “Fantasias e fantasia”, também do Copacabana Palace. No cinema, apareceu em filmes como “Treze cadeiras”, “Na corda bamba”, “O cantor e o milionário”, “Quem roubou meu samba?” e “A hora e a vez do samba”.  Monsueto atuou em vários shows ao lado de Herivelto Martins, antes de formar seu próprio grupo, com o qual excursionou pelo Brasil e outros países da América, Europa e África. Era também conhecido pelo apelido de Comandante, com o qual foi muito popular nos anos 1960, quando participava de um programa humorístico da extinta TV Rio, Canal 13, lançando expressões de gíria que se incorporaram à linguagem popular: “castiga”, “ziriguidum”, “vou botar pra jambrar”, “mora” etc. Só gravou como intérprete um único LP, na Odeon, “Mora na filosofia dos sambas de Monsueto”, em 1962, e alguns 78 rpm, além de participações em registros de outros cantores. A partir de 1965, Monsueto começou a se dedicar também  à pintura primitivista, e até recebeu prêmio do Museu Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro. Sem ter se filiado a nenhuma escola de samba carioca, era bem recebido e respeitado em todas elas, desfilando a cada ano em uma diferente. A última escola em que Monsueto desfilou, em 1972, foi a Unidos de Vila Isabel. Pouco depois, quando participava das filmagens de “O forte” (direção de Olney São Paulo), na Bahia, em que fazia o papel de um diretor de harmonia de escola de samba, Monsueto adoeceu e foi hospitalizado em seu Rio de Janeiro natal, onde morreu no dia 17 de março de 1973, vítima de câncer no fígado. Entre seus hits como autor destacam-se ainda: “Eu quero essa mulher assim mesmo”, “Na casa de Antônio Jó”, “O lamento da lavadeira” (“Para lavar a roupa da minha sinhá”…) e outros presentes nesta seleção do GRB, que perfaz  um total de 14 preciosas gravações, todas, claro, sambas. Vamos a elas, portanto. Linda Batista canta as três primeiras faixas, em gravações RCA Victor. A primeira é “Levou fermento” (parceria de Monsueto com Arnaldo Passos), registro de 30 de agosto de 1956, lançado ainda em novembro para o carnaval de 57, disco 80-1690-B, matriz BE6VB-1286, abrindo também o LP coletivo com músicas para essa folia, uma prática da época também adotada  por outras gravadoras, simbolizando uma época de transição de formatos. Na faixa 2, Linda canta exatamente o primeiro grande sucesso de Monsueto como compositor: “Me deixa em paz”, parceria com Ayrton Amorim, por ela imortalizado em 6 de agosto de 1951 e lançado ainda em outubro sob n.o 80-0825-A, matriz S-093017, tornando-se uma das campeãs do carnaval de 52. E essa folia ainda tinha “Sassaricando”, “Confete”, “Lata d’água” e outras mais. “Me deixa em paz” teve anos mais tarde, em 1971, uma ótima regravação com Alaíde Costa em dueto com Mílton Nascimento, lançada em compacto simples e depois no histórico álbum duplo “Clube da Esquina”. Linda Batista ainda interpreta “O gemido da saudade”, parceria de Monsueto com José Batista,  gravação de 2 de outubro de 1957, lançada em janeiro de 58 também para o carnaval, disco 80-1888-A, matriz 13-H2PB-0257, e igualmente aparecendo no primeiro dos dois LPs coletivos da marca do cachorrinho Nipper com músicas para essa folia. Outra expressiva intérprete de Monsueto, a paulistana Marlene, aqui comparece com  quatro faixas. A primeira é “Na casa de Corongondó”, da parceria Monsueto-Arnaldo Passos, lançada pela Sinter em novembro-dezembro de 1955 para o carnaval de 56, sob n.o 00-00.448-B, matriz S-1000. Dos mesmos autores, Marlene nos traz depois “Canta, menina, canta”, lançado pela mesma gravadora em maio-junho de 1955 sob n.o 00-00.395-A, matriz S-893, entrando mais tarde no LP de 10 polegadas “Vamos dançar com Marlene e seus sucessos”. Em seguida, tem “O couro do falecido”, da parceria Monsueto –Jorge de Castro, também lançado pela Sinter em novembro-dezembro de 1955 para o carnaval de 56, disco 00-00.440-B, matriz S-1001, e incluído no LP coletivo de 10 polegadas “Ritmos brasileiros, vol. 1 – Sambas e marchas”. Este samba seria incluído no já citado espetáculo “Fantasias e fantasia”, do Copacabana Palace, mas seu lançamento, em 1954, coincidiu com o suicídio do então presidente Getúlio Vargas, e a música foi retirada , em virtude das interpretações que poderiam surgir, só sendo lançada neste registro de Marlene, mais de um ano depois do trágico acontecimento. Pois no lugar do “Couro do falecido”, foi inserida justamente a faixa seguinte, um verdadeiro clássico: “Mora na filosofia”, da dupla Monsueto-Arnaldo Passos, imortalizada pela mesma Marlene na Continental em 29 de outubro de 1954, com lançamento em janeiro de 55 sob n.o 17047-B, matriz C-3517. Foi uma das campeãs desse carnaval, e teve regravações aos cachos, inclusive por Maria Bethânia e Caetano Veloso.  Dircinha Batista, irmã de Linda, aqui interpreta “Não se sabe a hora”, da parceria Monsueto-José Batista, gravação RCA Victor de 25 de setembro de 1957, lançada em janeiro de 58 para o carnaval, sob n.o 80-1899-B, matriz 13-H2PB-0242, e incluída obviamente em LP coletivo com músicas para essa folia.Na faixa seguinte, um delicioso samba de  Monsueto sem parceria, “Ziriguidum”, que ele interpreta ao lado de outra expressiva sambista, Elza Soares. Gravação Odeon de 27 de abril de 1961, um dos destaques do LP “O samba é Elza Soares”, que só chegou ao 78 rpm em fevereiro de 62 com o n.o  14792-A, matriz 14719. Monsueto e Elza também o interpretaram no filme “Briga, mulher e samba”, da Lupo Filmes, dirigido por Sanin Cherques. Depois, Raul Moreno interpreta dois sambas de Monsueto que gravou para a Todamérica em 8 de outubro de 1953, lançados em dezembro seguinte para o carnaval de 54 no disco TA-5387. No lado A, matriz TA-559, “Mulher de mau pensar”, parceria de Monsueto com Elói Marques. Mas no lado B, matriz TA-558, é que estava o maior sucesso: o clássico “A fonte secou”, no qual o próprio Raul Moreno é parceiro com Monsueto e Marcléo, assinando com seu nome verdadeiro, Tufic Lauar. Um dos campeões da folia de 1954, “A fonte secou” também tem várias regravações e é muito lembrado até hoje. Para o carnaval de 1956, Monsueto lançaria uma sequência, em parceria com Geraldo Queiroz e José Batista, “Eu sou a fonte”, que Walter Levita grava na Odeon em 26 de setembro de 1955, e é lançado bem em cima da folia, em fevereiro, sob n.o 13949-A, matriz 10766, aparecendo igualmente no LP coletivo de 10 polegadas “Carnaval, carnaval!”.  O Monsueto intérprete-solo aparece nas duas últimas faixas deste volume, ambas gravadas na Odeon. Primeiramente, “Chica da Silva”, de Noel Rosa de Oliveira e Anescar, samba-enredo com o qual a escola Acadêmicos do Salgueiro foi campeã do carnaval carioca, em 1963. Teve duas gravações: uma pela Albatroz, com um coral da gravadora, e esta de Monsueto pela “marca do templo”, feita logo após o carnaval, em 19 de março de 1963, e lançada em abril seguinte sob n.o 14848-A, matriz 15711. O lado B, matriz 15712, é um samba do próprio Monsueto em parceria com José Batista, “Mané João”, encerrando esta retrospectiva que o GRB dedica à sua obra. Divirtam-se e até a próxima vez!

* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Ismael Silva & Noel Rosa – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol.87 (2014)

Estamos de volta com o Grand Record Brazil, agora em sua edição de número 87, apresentando a terceira e última parte de nosso retrospecto sobre Ismael Silva (1905-1978), um dos grandes nomes do samba. Focalizamos aqui o Ismael intérprete, apresentando sete gravações , com seis músicas de outros autores ( em 78 rpm Odeon) e uma regravação de samba dele próprio (em LP Sinter). Nossa primeira faixa é “Louca”, samba de Bucy Moreira, neto da lendária Tia Ciata, gravado por Ismael na “marca do templo” em  3 de setembro de 1931, disco 10835-B, matriz 4297. Na faixa  3 está o lado A, “Samba raiado”, de Marcelino de Oliveira, matriz 4296. Em seguida temos outro samba, “Escola de malandro”, um dueto de Ismael Silva com Noel Rosa, feito pelo Poeta da Vila em parceria com Orlando Luiz Machado (só este foi creditado como autor no selo). Gravação de 15 de setembro de 1932, disco 10949-B, matriz 131447 (por esse número, a matriz é certamente é uma “sobra” da Parlophon, subsidiária da Odeon, desativada naquele ano).  O lado A, matriz 131292, gravado em 25 de novembro de 1931, é outro samba, que desta vez Ismael canta solo, “Carinho eu tenho”, de autoria do lendário Sylvio Fernandes, o Brancura, célebre malandro do Estácio. Em seguida, mais um dueto de Ismael Silva com Noel Rosa, a marchinha ‘Seu Jacinto”, composição só de Noel, gravada na “marca do templo” em 27 de outubro de 1932 e lançada em janeiro de 33 para o carnaval, disco 10953-A, matriz 4534. No lado B, Ismael e Noel também cantam juntos “Quem não dança”, samba só do Poeta da Vila, gravado dias mais tarde, em 17 de novembro de 1932, matriz 4552. Em ambas as faixas, com acompanhamento do Grupo Gente Boa, está bem destacada no coro a voz de Francisco Alves.
Em seguida, uma regravação de Ismael Silva para um hit seu de 1932, em parceria com Noel Rosa  e Francisco Alves, lançada  originalmente pela dupla Jonjoca-Castro Barbosa: o samba “Adeus”, faixa 2. Teria sido composto em homenagem póstuma a Nílton Bastos, falecido pouco antes, mas a dúvida fica por conta dos versos “Sem teu amor/ esta vida não tem mais valor”. Este registro foi lançado pela Sinter em novembro de 1955, no primeiro LP-solo do compositor, o 10 polegadas “O samba na voz do sambista”.  E, para completar este programa, já que Ismael canta três faixas em dueto com Noel Rosa (1910-1937), ele aqui aparece como nosso “convidado especial”, com cinco antológicas gravações Columbia, todas elas sambas, feitos por ele com a maestria e a genialidade de sempre.  Pra começar, “Felicidade”, parceria de Noel com Renê Bittencourt, lançado em fevereiro de 1932, disco 22083-B, matriz 381159. Na edição impressa, levou o subtítulo “Que bom, felicidade, que vai ser!”, verso final do estribilho. Em seguida, temos o magnífico e não menos genial “Coisas nossas”, em que Noel sintetiza e apreende a alma e os costumes do povo de seu Rio de Janeiro natal,  Teria sido apresentado  também no  filme “Coisas nossas”, um musical de sucesso de bilheteria, cujo título  teria sido tirado exatamente deste samba (informação esta passível de confirmação),  e do qual não restaram cópias. Saiu pela Columbia em março de 1932, sob n.o 22089-B, matriz 381168. O verso, matriz 381176, é ‘Mulher indigesta”, que, se fosse lançado hoje, provocaria a indignação de muitas feministas…  Noel é aqui acompanhado pelo misterioso grupo Os Sete Diabos, nome talvez aleatório.  “Mentiras de mulher” é o outro lado de “Felicidade”, matriz 381158, e é cantado por Noel, que o fez sem parceria, junto com Artur Costa, ator de revistas e também compositor, que no entanto só participa do estribilho, e Noel o interpreta praticamente sozinho. Finalizando a especialíssima participação de Noel nesta edição, ele canta sua obra-prima em parceria com Orestes Barbosa, “Positivismo”, que a Columbia pôs nas lojas em setembro de 1933 sob n.o 22240-B, matriz 381530. Não poderia encerramento com melhor chave de ouro do que este, para esta edição do GRB. Até o nosso próximo encontro, amigos cultos, ocultos e associados!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

A Música de Ismael Silva Na Voz De… – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 86 (2014)

Chegamos à edição de número 86 do Grand Record Brazil, apresentando a terceira parte de nossa retrospectiva da obra do compositor Ismael Silva (1905-1978). São mais dezessete composições deste notável mestre do samba, cantadas por intérpretes diversos, inclusive ele mesmo. Para começar, temos um dos mais expressivos intérpretes da obra de Ismael, Mário Reis.  Ele interpreta aqui, como solista, as quatro primeiras faixas deste volume do GRB,  todas elas sambas e em gravações Odeon, a saber: “Novo amor”, de Ismael sem parceiro, gravação de 27 de fevereiro de 1929, lançada em abril do mesmo ano com o n.o 10357-A, matriz 2400; “Sofrer é da vida”, parceria de Ismael com Francisco Alves e Nílton Bastos, gravado em 28 de novembro de 1931 com vistas ao carnaval, mas só lançado em julho de 32 (deveria, pela lógica, ter saído em janeiro) com o n.o 10872-A, matriz 4375; “Ao romper da aurora”, parceria de Ismael e Francisco Alves com outro mestre, Lamartine Babo,  também do carnaval de 1932, disco 10881-A, matriz 4398; e “Uma jura que fiz”, da parceria de Ismael Silva com Noel Rosa e Francisco Alves, que Mário gravou em 12 de julho de 1932, disco 10928-A, matriz 4482. Na faixa seguinte, volta a dupla Francisco Alves-Mário Reis, de quem apresentamos alguns registros  na edição anterior, agora interpretando uma obra-prima do samba, “Arrependido”, da santíssima trindade Ismael Silva-Chico Viola-Nílton Bastos, gravação Odeon de 28 de fevereiro de 1931, lançada em abril do mesmo ano sob n.o 10780-A, matriz 4163 (em nosso volume anterior apareceu o outro lado, “O que será de mim?”).  Sílvio Caldas, o eterno “caboclinho querido”, aqui comparece com duas faixas assinadas exclusivamente por Ismael Silva, que gravou na Odeon em  14 de dezembro de 1934 com lançamento em fevereiro de 35 (claro que para o carnaval) sob n.o 11194, o samba ‘Agradeças a mim” (lado B, matriz 4974) e a marchinha “Cara feia é fome” (lado A, matriz 4972). Jonjoca (João de Freitas Ferreira) vem em seguida com outro samba só de Ismael, ‘Não te dou perdão”, lançado pela Odeon em fevereiro de 1930 para o carnaval, disco 10579-A, matriz 3366. J. B. de Carvalho,  que se converteu à umbanda e gravou por toda a carreira a música de sua religião (teve até terreiro e programa de rádio do gênero), aqui comparece com outro samba de Ismael Silva sem parceiro, “Com a vida que pediste a Deus”, gravação Odeon de 26 de outubro de 1939, lançada em janeiro de 40 para o carnaval, “of course”, sob n.o 11803-B, matriz 6237. “Fã”, outro samba de Ismael sem parceria, foi gravado na mesmíssima Odeon por Gilberto Alves em  14 de julho de 1942, com lançamento em setembro do mesmo ano sob n.o 12189-B, matriz 7015. Compositor e humorista de rádio, Silvino Neto, pai do comediante Paulo Silvino, aqui interpreta uma marchinha de Ismael Silva sem parceiro, “Boa boca”, gravada na Victor em 18 de fevereiro de 1941 e lançada bem em cima do carnaval de 42, em fevereiro, disco  34873-B, matriz S-052447. Nélson Gonçalves, o eterno “metralha do gogó de ouro”, vem com o samba “Não tenho queixa”, parceria de Ismael Silva com David Raw, gravação também da Victor, datada de  15 de dezembro de 1942 com lançamento bem cima do carnaval de 43, em fevereiro, disco  80-0050-A, matriz S-052678. Orlando Silva, o sempre lembrado “cantor das multidões”, comparece com um samba que Ismael fez com Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr.,  “Se eu tiver que escolher”, gravação Odeon de 12 de dezembro de 1945, editada bem em cima do carnaval de 46, em fevereiro, sob n.o 12672-B, matriz 7958. A faixa seguinte é “Antonico”, samba com o qual Ismael Silva retornou às paradas de sucesso, depois de anos no ostracismo. Foi imortalizado na Odeon por Alcides Gerardi em 19 de janeiro de 1950, com lançamento em  abril do mesmo ano sob n.o 12993-B, matriz 8625. É um samba pungente que foge à linha tradicional do autor, pelo andamento um pouco mais lento (o personagem Nestor, de que fala a letra, é o próprio Ismael Silva, na época enfrentando problemas financeiros). Clássico inúmeras vezes regravado. Cyro “Formigão” Monteiro, “o cantor das mil e uma fãs”, comparece aqui com a marchinha “Eu sou um”, também de Ismael sem parceiro, do carnaval de 1940. Gravação Victor de 11 de outubro de 39, lançada ainda em dezembro sob n.o 34529-A, matriz 33184. O Ismael Silva intérprete dá as caras nesta seleção com seu samba “Me diga o teu nome”, lançado pela Odeon em dezembro de 31 (lógico, para o carnaval de 32) sob n.o 10858-A, matriz 4280. No selo original, Francisco Alves e Nílton Bastos aparecem como co-autores, mas, em regravações posteriores, só Ismael  aparece como autor deste samba. Conhecido como “a voz de dezoito quilates”, João Petra de Barros aqui interpreta outro samba só de Ismael, “Não é tanto assim”, gravação Odeon de 18 de dezembro de 1933, lançada em janeiro de 34 para o carnaval, disco 11089-B, matriz 4771, finalizando a terceira parte de nossa retrospectiva.   Enfim, mais uma contribuição do GRB à preservação de nossa memória musical. Até a semana que vem!

* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

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A Música De Ismael Silva Na Voz De… – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 85 (2014)

Olá, amigos cultos, ocultos e associados do TM!  Esta semana, o Grand Record Brazil apresenta a segunda parte da retrospectiva que está dedicando à obra musical de Ismael Silva (1905-1978), um grande expoente do samba e da música popular brasileira. Na semana passada, apresentamos composições de Ismael na voz de Francisco Alves (1898-1952), o eterno Rei da Voz. A seleção desta semana tem 14 faixas com intérpretes diversos, e nela Francisco Alves também está presente em duetos. Para começar, e muito bem, apresentamos duetos de Chico Alves com Mário Reis. Eles formaram uma dupla que gravou um total de 12 discos com 24 músicas, todos pela Odeon, legado esse imprescindível para quem estuda a história do samba e da MPB.  Desse legado, ouviremos seis peças simplesmente antológicas, autênticas joias do samba, com acompanhamento da Orquestra Copacabana, dirigida pelo palestino Simon Bountman:  na faixa 1,  “Não há”, da santíssima trindade Ismael Silva-Francisco Alves-Nílton Bastos, gravado em 5 de dezembro de 1930 e lançado em janeiro de 31 para o carnaval, disco 10747-A, matriz 4079. O lado B, na faixa seguinte, matriz 4080, é um autêntico clássico assinado pela mesma trinca de autores: o inesquecível “Se você jurar”, que atravessou os anos e até hoje é muito lembrado, e com justiça. Teve regravação inclusive pelo próprio Ismael Silva, em 1955. “O que será de mim?”, logo em seguida, e dos mesmos autores, é gravação de 28 de fevereiro de 1931, lançada em abril do mesmo ano pela “marca do templo” sob n.o 10780-B, matriz 4162, outra demonstração de bossa da dupla Chico Alves-Mário Reis (que, durante a gravação, chama o Rei da Voz para cantar com ele, no que, claro, é prontamente atendido).  “Ri pra não chorar” é da parceria Ismael Silva-Francisco Alves, que na edição homenageiam Nílton Bastos, que falecera. Gravação da notável dupla Chico Viola-Mário Reis, de 20 de agosto de 1931, lançada pela Odeon em dezembro do mesmo ano sob n.o 10850-B, matriz 4292. De Chico e Ismael é também “Liberdade”, gravação de 20 de novembro de 1931 lançada em janeiro de 32, evidentemente para o carnaval, disco 10871-B, matriz 4363, citando inclusive o “Hino da Proclamação da República, de Leopoldo Miguez-Medeiros e Albuquerque. O samba saiu na segunda tiragem desse disco, que trouxe no lado A, também cantada em dueto por Chico e Mário, a “Marchinha do amor”, de Lamartine Babo (na primeira, saiu um outro samba, “Oh! Dora”, de Orlando Vieira, com Chico Viola sozinho).  Terminando esse verdadeiro show de interpretação sambística da dupla Francisco Alves-Mário Reis, temos “A razão dá-se a quem tem”, já com Noel Rosa como parceiro de Ismael Silva e Chico Viola, gravação feita na “marca do templo” em 2 de julho de 1932 e lançada em dezembro seguinte com o n.o 10939-A, matriz 4472. A faixa 7 é um outro dueto de Francisco Alves, agora com Sílvio Caldas: “Tristezas não pagam dívidas”, gravado na Odeon em 23 de junho de 1932, e lançado com o n.o 10922-A, matriz 4463. Temos aqui duas curiosidades: no selo original, aparece como autor um certo Manoel Silva (havia na época um compositor com esse nome, cujo nome completo era Manoel dos Santos Silva). Mas, segundo depoimento de Sílvio Caldas ao pesquisador Abel Cardoso Júnior, o samba é mesmo de Ismael Silva. Sílvio não teve crédito no selo como intérprete por ser na época contratado da Victor, mas achou a omissão natural, “apenas uma colaboração”.  O samba também foi apresentado por Chico Alves no segundo espetáculo da série “Broadway Cocktail”, um espetáculo palco-tela apresentado no Cine Broadway. Aracy Cortes, grande estrela dos tempos áureos do teatro de revista, aqui comparece com o samba “Quero sossego”, da parceria Ismael Silva-Nílton Bastos (na edição Francisco Alves também aparece como co-autor), Lançado pela Brunswick por volta de março de 1931, sob n.o 10158-A, matriz 602, foi um dos derradeiros discos lançados no Brasil por essa gravadora, de origem norte-americana, que logo cerraria as portas da filial brazuca, levando para a sede, nos EUA, todas as matrizes de cera que gravou entre nós em pouco mais de um ano de atividades. Da parceria de Ismael Silva com Noel Rosa e Francisco Alves é a marchinha “Assim sim”, gravada na Victor por Cármen Miranda em 31 de maio de 1932 e lançada em dezembro desse ano sob n.o 33581-A, matriz 65502, claro que para o carnaval de 33. No acompanhamento, Harry Kosarin e seus Almirantes (o maestro, então vindo anos antes dos EUA, é considerado o introdutor do jazz no Brasil). Em 1930, a “pequena notável” vira e ouvira Noel com o Bando de Tangarás, no Cinema Eldorado, e, dois anos mais tarde, teria ocasião de trabalhar com o Poeta da Vila, Francisco Alves e Almirante no “Broadway Cocktail”. Cármen não teve oportunidade de solicitar um número especial para gravar. Porém, não ia passar muito tempo para isso acontecer, nascendo daí  este “Assim, sim”. Dando um ligeiro salto no tempo, apresentamos outra marchinha, “Ninguém faz fé”, de Ismael e Paulo Medeiros, com Linda Batista, então no auge da carreira, para o carnaval de 1953, em gravação RCA Victor de 19 de setembro de 52, lançada ainda em dezembro sob n.o 80-1039-A, matriz SB-093478. Aurora Miranda, irmã de Cármen, apresenta mais outras duas marchinhas, ambas de Ismael Silva sem parceiro: “Não vejo jeito”, gravação Victor de 3 de outubro de 1939, lançada em novembro do mesmo ano, por certo para o carnaval de 40, sob n.o 34519-B, matriz 33170, e “Não apoiado”, gravação Odeon  de 7 de janeiro de 1936 lançada bem em cima do carnaval desse ano, em fevereiro, disco 11327-B, matriz 5240. Ainda no campo da marchinha carnavalesca, e também só de Ismael, temos “Macaco me lamba”, da folia de 1951, lançada pela Sinter ainda em dezembro de 50 sob n.o  00-00.026-A, matriz S-50. A última faixa desta seleção, o samba “Fama sem proveito”, parceria de Ismael Silva com Heitor Catumbi, é um mistério. Quem o canta é a carioca Odaléa Sodré (1924-?), acompanhada por Netinho, Antônio Souza e regional, e que teve curtíssima carreira no disco. São conhecidos dois discos comerciaisda cantora, gravados na Columbia em 1936-37, e esta é uma gravação RCA Victor sem data, registrada no acervo do Instituto Moreira Salles com o número 196, o que leva a crer que se trate de disco particular, não comercializado (será que foi para as lojas?). Enfim, uma incógnita. Mas, de qualquer forma, aí vai mais uma contribuição do GRB para a preservação de nossa memória musical. Até a próxima!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

A Música De Ismael Silva Na Voz De Francisco Alves – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 84 (2014)

Olá, amigos cultos, ocultos e associados do Toque Musical! É com muita alegria que apresentamos nesta semana a primeira edição do Grand Record Brazil de 2014, a de número 84. Nela, apresentamos a primeira parte de uma série dedicada à obra musical de um dos maiores expoentes do samba, Ismael Silva.
Batizado como Mílton de Oliveira Ismael Silva, o compositor nasceu em Niterói, na praia de Jurujuba, em 14 de setembro de 1905, filho do cozinheiro Benjamin de Oliveira Chaves e da lavadeira  Emília Corrêa Chaves, e era o caçula de um grupo de cinco irmãos. Aos três anos de idade, em decorrência de complicações financeiras enfrentadas após a morte do pai, mudou-se com a mãe para o Rio de Janeiro, estabelecendo-se no bairro do Estácio de Sá. Ismael frequentou a escola primária e concluiu o ginásio aos 18 anos, após residir em outros bairros cariocas, tais como  o Rio Comprido e o Catumbi. Sua primeira composição, feita quando tinha 15 anos de idade, foi um samba chamado “Já desisti”, nunca levado ao disco. E foi em 1928 que teve seu primeiro samba gravado, “Me faz carinhos”, na voz de Francisco Alves (nesta seleção, juntamente com outras 14 faixas também gravadas por ele). Ambos formaram, ao lado de Nílton Bastos, um trio conhecido como Bambas do Estácio. Em 1928, constituiu-se em um dos fundadores do bloco precursor da primeira escola de samba de que se tem notícia: a Deixa Falar, que desfilou entre 1929 e 1931, e acabou por causa da mudança de Ismael para o centro do Rio, após as mortes de Nílton Bastos e Edgar Marcelino dos Passos, o Mano Edgar. Com a morte de Nílton, passou a compor com Noel Rosa, parceria esta que resultou em 18 músicas, fazendo de Ismael o mais constante parceiro do Poeta da Vila. Mais tarde, porém, acontece uma virada radical na vida de Ismael Silva. Envolvendo-se numa briga do bar, por razões controversas (ou por ciúme ou para defender sua irmã Orestina), atira em Edu Motorneiro, cidadão conhecido nas rodas boêmias cariocas, sem no entanto matá-lo.  Condenado a cinco anos de prisão, cumpriu apenas dois, por bom comportamento. Depois, tornou-se recluso, passando por dificuldades financeiras, só voltando à cena artística em 1950 com o samba “Antonico”, sucesso na voz de Alcides Gerardi. Como intérprete, Ismael Silva gravou três discos de 78 rpm com seis músicas, e mais quatro LPs reunindo  suas composições, um pela Sinter, outro pela Mocambo e outros dois pela RCA. Em 1960, por iniciativa do jornalista Sérgio Cabral, recebeu o título de Cidadão Samba e, da Câmara Municipal do Rio, o de Carioca Honorário, provas de reconhecimento  de sua arte como verdadeiro sambista. Participou dos shows “O samba nasce do coração”, na boate Casablanca (1954) e “O samba pede passagem” (1965), este ao lado de Aracy de Almeida, no Teatro Opinião, além de se apresentar no restaurante Zicartola. Em 1970, recebeu homenagem da boate Jogral, de São Paulo. Um de seus últimos shows foi “Se você jurar”, em 1973, ao lado de Cármen Costa, com produção de Ricardo Cravo Albim. Este também é o título de um de seus sambas mais conhecidos, lista que  inclui “Novo amor”, “Me diga o teu nome”, a já citada “Antonico”, “Ao romper da aurora” (este feito com o grande Lamartine Babo), “Tristezas não pagam dívidas”, “Uma jura que eu fiz”, “Sofrer é da vida”, “Nem é bom falar” (nesta seleção), “O que será de mim?”, “Contrastes” etc. Ismael Silva faleceu no Rio de Janeiro, em 14 de março de 1978, de um infarto causado por complicações surgidas após uma cirurgia para tratar de uma úlcera varicosa que tinha em uma das pernas.

A presente seleção nos traz quinze composições de Ismael Silva interpretadas pelo Rei da Voz Francisco Alves (1898-1952), várias delas em que o cantor figura como parceiro, e a maior parte sambas.  A primeira faixa, porém, é de Ismael sem parceiro: “Choro, sim”, gravação Victor de 21 de novembro de 1934, e, apesar de constar na edição ter sido feita para o carnaval de 35, só lançada em julho desse ano  sob n.o 33946-B, matriz 79784. “Ando cismado” é uma parceria de Ismael com Noel Rosa, gravação Odeon de 27 de outubro de 1932, lançada em dezembro seguinte com o n.o 10936-A, matriz 4532. Um pouco antes, a 29 de junho de 32, e também pela “marca do templo”, Chico gravara uma autêntica obra-prima dos mesmos parceiros, “Para me livrar do mal”, disco 10922-B, matriz 4467. Da parceria Ismael-Chico Viola é “Gandaia”, lado B do disco Odeon 10906, gravado em 23 de março de 1932 e lançado em maio seguinte, matriz 4420. Ambos também fizeram a marchinha ‘Você gosta de mim”, lançada pela Parlophon em dezembro de 1931, visando, claro, o carnaval de 32, sob n.o 13377-B, matriz 131307. Logo em seguida você encontrará o lado A, o samba “Sonhei”, de Chico, Ismael e Nílton Bastos (não creditado na edição), matriz 131306. Também da folia de 1932 são as faixas do Parlophon 13375, lançado junto com o anterior, em dezembro de 31, e que temos logo em seguida: o samba “Amar”, também da santíssima trindade Chico Alves-Ismael Silva-Nílton Bastos, no lado B, matriz  131308, e, no lado A, matriz 131302, a divertida marchinha “Gosto mas não é muito”, inspirada num fato real acontecido após a subida de Getúlio Vargas ao poder: muitos de seus adeptos, antigos e de última hora, almejavam cargos públicos, em tempo de crise braba, e para amenizar a coisa, passou-se a exigir, dos postulantes a tais cargos, requerimento estampilhado, com foto e selo (“Traz o retrato e a estampilha”). Obviamente, aqueles mais chegados ao círculo do poder, os “adeptos do Gegê”, passavam longe de tais exigências, sendo nomeados militares.  Aqui, Ismael e Chico são parceiros de Noel Rosa, que fez a segunda parte mas não foi creditado no selo do disco e na partitura impressa. Em seguida, outro produto da santíssima trindade Ismael Silva-Francisco Alves-Nílton Bastos, o samba “É bom evitar”, lançado pela Odeon por volta de outubro de 1931 sob n.o 10837-A, matriz 4271. Eles assinam ainda as faixas seguintes: “Ironia”, lançada pela “marca do templo” em março de 1931, disco 10767-B, matriz 4136, com provável participação ao bandolim de Luperce Miranda, “Meu batalhão”, em que Chico Alves é acompanhado de seu “Esquadrão”, lançada pela Odeon em janeiro de 1931, claro que para o carnaval, com o n.o 10748-B, matriz 4091, “Olê-leô”, para a mesma folia, gravação de 27 de novembro de 1930 também saída em janeiro de 31 pela “marca do templo” (10745-B, matriz 4068) e o lado A desse disco, o conhecidíssimo “Nem é bom falar”, matriz 4067. Comenta-se que Roquette Pinto, criador do radiodifusão brasileira, ao ouvir o verso “Eu quero uma mulher bem nua”, declarou:  “Todos nós queremos, mas não é preciso dizer”…  “Não é isso que eu procuro”, parceria de Chico Alves e Ismael Silva, gravado na mesma Odeon em 10 de agosto de 1928 e lançado em setembro do mesmo ano com o n.o 10251-B, matriz 1876, foi interpretado pelo Rei da Voz, em dupla com Célia Zenatti, na revista “Eu quero é nota”, encenada no Teatro Carlos Gomes do Rio, e depois incluída em outra revista ali encenada, também com o nome de “Não é isso que eu procuro”.  E, para encerrar, justamente o primeiro samba que Ismael Silva teve gravado: “Me faz carinhos”, que a Odeon de sempre lançou em janeiro de 1928 com o n.o 10100-B, matriz 1480 (diz-se que teria sido antes gravado instrumentalmente pelo pianista Cebola, mas esse disco nunca foi localizado). A autoria de “Me faz carinhos”, no selo e na edição, é atribuída apenas a Francisco Alves, que o comprou de Ismael mais por necessidade imediata de dinheiro por parte do compositor, sem esperar o resultado das vendas dos discos e das partituras. Entretanto, por mais que Chico Viola comprasse parcerias, contribuía, e muito, para o aprimoramento das composições de Ismael quando as gravava e, sem o Rei da Voz, é pouco provável que o sambista niteroiense surgisse na MPB de maneira tão decisiva. Chico Viola também cantou ”Me faz carinhos” numa revista muito adequadamente chamada “Você quer é carinho”, igualmente encenada no Teatro Carlos Gomes. Enfim, uma amostra da genialidade de Ismael Silva, a primeira que o GRB  oferece para deleite de tantos quanto apreciem o melhor do samba e da MPB. Semana que vem teremos mais Ismael Silva. Encontro marcado!

* Texto de Samuel Machado Filho

Especial De Natal Parte 2 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 83 (2013)

Nesta que é a semana do Natal, o Grand Record Brasil apresenta a segunda parte de sua seleção de músicas do gênero, gravadas na era das 78 rotações por minuto, feita a partir de uma compilação realizada em 2006 por nosso amigo e colega Thiago Mello, para seu blog Bossa Brasileira (http://bossa-brasileira.blogspot.com). São as últimas onze gravações de nosso retrospecto, perfazendo um total de vinte.
Orlando Silva (1915-1978), o sempre querido e lembrado “cantor das multidões”, abre esta segunda parte com o fox-canção “Noite de Natal”, de Maugéri Neto e Maugéri Sobrinho, lançado pela Copacabana em outubro-novembro de 1952 sob n.o 5010-B, matriz M-260. Nessa época, Orlando retornara ao convívio do grande público, após um período marcado por problemas de ordem pessoal, inclusive amorosa, e substituiu Francisco Alves, morto em acidente rodoviário naquele ano, em seu programa de domingo na Rádio Nacional do Rio de Janeiro.  Em seguida, as duas partes de “Cantigas de Natal”, pot-pourri de conhecidas músicas do gênero (“Noite feliz”, “Tannenbaum”, “Jingle bells”, “Amanhã vem o Papai Noel”, etc.), com arranjo de Radamés Gnattali e Paulo Tapajós, e interpretadas pelos trios Melodia (do qual Tapajós fazia parte, junto com Albertinho Fortuna e Nuno Roland) e Madrigal (Edda Cardoso, Magda Marialba e Lolita Koch Freire). Esta seleção saiu pela Continental em 1951 com o número 20106, matrizes 2720 e 2721. Já que falamos em Francisco Alves (1898-1952), o eterno Rei da Voz aqui comparece com duas faixas. A primeira é a marchinha “Meu Natal”, parceria sua com Ary Barroso, em gravação Victor de 19 de outubro de 1934, lançada em dezembro seguinte sob n.o  33857-A, matriz 79762. No acompanhamento a orquestra Diabos do Céu, do mestre Pixinguinha. A outra é a canção-marcha “Natal”, de Herivelto Martins e Rogério Nascimento, gravação Odeon de 23 de outubro de 1945, lançada em dezembro seguinte com o n.o 12650-B, matriz 7926. Junto com ele está o Trio de Ouro em sua primeira formação, com Herivelto, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas, todos acompanhados plea orquestra de Fon-Fon  (Otaviano Romero Monteiro).  Carlos Galhardo, “o cantor que dispensa adjetivos”, vem com outras duas faixas, em gravações RCA Victor. A primeira é a singela canção “Feliz Natal”, de Peterpan (cunhado da cantora Emilinha Borba, que regravaria a música um ano mais tarde) e Giuseppe Ghiaroni, gravada por Galhardo em 4 de agosto de 1950 e lançada em outubro do mesmo ano sob n.o  80-0697-A, matriz S-092728 (na verdade a música fora lançada um ano antes, na Star, pelo coral da Rádio Nacional do Rio). O registro de Galhardo, curiosamente, seria reeditado com o n.o 80-1061-A, em dezembro de 1952. A outra faixa dele aqui é exatamente a música que inaugurou entre nós o gênero natalino: a marcha “Boas festas”, de Assis Valente, aqui em seu registro original, de 17 de outubro de 1933, lançado em dezembro seguinte pela então Victor com o n.o 33723-A, matriz 65864. Foi, aliás, o primeiro grande hit nacional do cantor, que a gravaria mais duas vezes. Em seguida, vem o grande Blecaute (Otávio Henrique de Oliveira, Espírito Santo do Pinhal, SP, 1919-Rio de Janeiro, 1983), com a conhecidíssima “Natal das crianças”, de sua autoria, lançada pela Copacabana em dezembro de 1955 sob n.o 5502-A, matriz M-1273, Blecaute rotulou a música, modestamente, como “valsinha de roda”, sem ao certo imaginar que seria um dos maiores hits do cancioneiro natalino brasileiro em todos os tempos!  Temos depois outra “Noite de Natal”, desta vez uma valsa de Newton Teixeira em parceria com (Murilo) Alvarenga, que a gravou na Odeon com Ranchinho (Diésis dos Anjos Gaya) em 30 de outubro de 1941 com lançamento em dezembro seguinte, disco 12079-A, matriz 6826. Para encerrar, temos Dick Farney (Farnésio Dutra e Silva, Rio de Janeiro, 1921-São Paulo, 1987), interpretando “Feliz Natal”, singela canção da festejada dupla Armando Cavalcanti-Klécius Caldas, lançada pela Continental entre outubro e dezembro de 1949 sob n.o 16123-A, matriz 2173, com acompanhamento da orquestra do também compositor José Maria de Abreu. Curiosamente, este registro teve reedição em 1955, sob n.o 17230-B. A todos os amigos cultos, ocultos e associados do Toque Musical , os nossos mais sinceros votos de um Natal maravilhoso e um ano novo de 2014 repleto de alegria, paz, saúde e realizações positivas!

* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

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Especial De Natal Parte 1 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 82 (2013)

Vem chegando mais um final de ano, e mais um Natal! Tempo de reunir a família, preparar o presépio, a árvore e a ceia, trocar presentes (com direito até ao chamado “amigo oculto”)… sem, é claro, esquecer que é o aniversário de Jesus. Tempo também de cantar músicas alusivas à chamada festa máxima da cristandade. Evidentemente, o Grand Record Brazil  entra nesta semana em clima natalino, apresentando a primeira de duas partes de uma seleção de músicas gravadas na era do 78 rpm para comemorar a data. Ela foi extraída de uma compilação realizada em 2006, por nosso colega e amigo Thiago Mello, para o seu blog Bossa Brasileira (http://bossa-brasileira.blogspot.com). Serão ao todo vinte gravações (algumas já aparecidas em nosso volume 4, agora voltando com melhor qualidade sonora), e aqui apresentamos as primeiras dez.  Abrindo esta seleção, temos a introdução, apenas instrumental,  a cargo do grande Radamés Gnattali, de “Cantigas de Natal”, um pot-pourri  de canções do gênero interpretadas pelos Trios Melodia e Madrigal em disco Continental 20106, de 1951, do qual apresentaremos as duas partes em nosso próximo volume.  Em seguida, Neyde Fraga (São Paulo, 1924-Rio de Janeiro, 1987) apresenta, de seu terceiro disco, o Elite Special (selo então coligado da Odeon) N-1020-A, editado em 1950, a marchinha “Quando chega o Natal”, de autoria de Sereno (Inácio de Oliveira, São Paulo, 1909-idem, 1978), matriz FB-539, muito bem acompanhada pelos Demônios da Garoa (que, como ela, também eram do cast da Rádio Record de São Paulo, então “a maior”) e pela orquestra e coro do maestro Edmundo Peruzzi (Santos, SP, 1918-idem, 1975). Curiosamente, em outra tiragem desse disco, o número da matriz foi alterado para MIB-1097. Aurora Miranda (Rio de Janeiro, 1915-idem, 2005), irmã de Cármen, comparece com duas faixas que gravou na Odeon:  “Natal divino”, marchinha de Mílton Amaral, do disco 11288-A, gravado em 4 de dezembro de 1935 e lançado logo em seguida, matriz 5173, e o samba “Sinos de Natal”, de Djalma Esteves e Vicente Paiva, do disco 11174-B, gravado em 18 de outubro de 1934 para lançamento, é claro, em dezembro, matriz 4935. Leny Eversong (Hilda Campos Soares da Silva, Santos, SP, 1920-São Paulo, 1984), notável intérprete de hits nacionais e internacionais, nos brinda com a marchinha “Prece de Natal”, de José Saccomani, Lino Tedesco e Walter Mello, lançada em dezembro de 1953 pela Copacabana sob n.o 5172-B, matriz M-559. “Noite de Natal”, interpretada por Dalva de Oliveira com a orquestra de Roberto Inglez, é o famoso “Noite feliz  (Stille nacht, heilige nacht)”, com letra diferente da que costumamos cantar, assinada por Mário Rossi, em gravação feita em 1952, nos estúdios da EMI, em Londres, durante a longa e vitoriosa excursão da cantora pela Europa, e lançada no Brasil pela Odeon com o n.o X-3372-A (série azul internacional), matriz CE-14164. A música nasceu por um capricho de ratos que, em 1818, entraram no órgão de uma igreja da cidade austríaca de Arnsdorf e roeram seus foles. Preocupado com a possibilidade de um Natal sem música nesse ano, o padre Joseph Mohr foi logo procurar um instrumento para substituir o antigo.  Nessas peregrinações, imaginou como teria sido o nascimento de Jesus, em Belém. Fez anotações, levou-as até o músico Franz Gruber para musicar… e pronto! Assim nasceu “Noite feliz”.  Já que falamos em Aurora Miranda, sua irmã Cármen (1909-1955), ainda hoje uma referência em termos de Brasil no exterior, aqui interpreta a marchinha “Dia de Natal”, de Hervê Cordovil, gravação Odeon de 16 de outubro de 1935, lançada  em dezembro seguinte sob n.o  11289-A, matriz 5170. Ângela Maria e João Dias interpretam, em dueto, a singela toada ‘Papai Noel esqueceu”, da parceria Herivelto Martins-David Nasser, lançada pela Copacabana para o Natal de 1955, sob n.o 20022-B (série “de exportação”), matriz M-1412. Um ano depois, em dezembro de 1956, nessa mesma série (20033-A, matriz M-1706), a Copacabana lançou o registro de Elizeth Cardoso para a canção “Cantiga de Natal”, de autoria da compositora e pianista Lina Pesce (Magdalena Pesce Vitale, São Paulo, 1913-idem, 1995), gravada originalmente por Mário Martins, em 1954, no mesmo selo.  Encerrando esta primeira parte, uma marchinha da dupla Alvarenga e Ranchinho, “Presente de Natal”, interpretada por Zelinha do Amaral com doce voz de menina e delicioso sotaque de caipirinha. Foi sua única gravação, feita na Victor em 12 de novembro de 1936 e lançada em dezembro seguinte sob n.o 34116-B, matriz 80250. Semana que vem, apresentaremos a segunda parte desta seleção natalina do GRB. Até lá!
*Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

A Música De Geraldo Pereira – Parte 2 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 81 (2013)

Estamos de volta com o Grand Record Brazil, em sua edição de número 81. Desta vez, focalizamos mais uma substancial parcela da preciosa obra de Geraldo Pereira (1918-1955), interpretada por cantores contemporâneos do compositor.  O programa compõe-se de onze gravações de importância  histórica, artística e cultural indiscutíveis. Abrindo a seleção desta semana do GRB, temos Roberto Paiva (Helim Silveira Neves) interpretando dois sambas do mestre Geraldo, em gravações Victor.  O primeiro é “Lembras-te daquela zinha?” , parceria com Augusto Garcez, em registro de 9 de junho de 1941, lançada em agosto seguinte com o n.o 34784-A, matriz S-0522238. O segundo é “Já tenho outra”, em que Geraldo Pereira conta com a parceria de Augusto Garcez, gravado por Paiva em 11 de junho de 1943 e lançado em  11 de junho de 1943 e lançado em setembro do mesmo ano com o n.o 80-0113-B, matriz S-052791. Bem mais adiante, na faixa 8, Roberto Paiva interpreta “Brigaram pra valer”, parceria de Geraldo com José Batista. É um samba do carnaval de 1949, lançado pela Continental em janeiro desse ano sob n.o 15983-A, matriz 2003. Orlando Silva (1915-1978), o sempre lembrado “cantor das multidões”, comparece com outros dois sambas. “Jurei” é uma parceria de Geraldo Pereira com o “amigo velho” Cristóvão de Alencar,  destinada ao carnaval de 1946. Gravação Odeon ainda de 45, feita a 8 de novembro,  e lançada bem em cima da folia, em fevereiro, disco 12662-B, matriz 7934. Depois, Orlando interpreta um samba de Geraldo sem parceiro, só gravado seis anos após a morte do compositor. É “Vai”, registro RCA Victor (gravadora à qual Orlando havia retornado definitivamente) datado de 20 de abril de 1961, e lançado em maio seguinte sob número 80-2326-A, matriz M2CAB-1254, sendo também  incluído no compacto duplo de 45 rpm “Ontem à tarde”. Outro expressivo intérprete da obra de Geraldo Pereira, Déo (Ferjallah Rizkallah, 1914-1971), “o ditador de sucessos”, interpreta dois sambas só de Geraldo Pereira, que gravou na Continental em 2 de junho de 1946 com lançamento em agosto sob n.o 15660. Abrindo-o, matriz 1507, “Só quis meu nome”, e no verso, matriz 1506, “Ainda sou seu amigo”. No acompanhamento, o regional de Benedito Lacerda, com sua flauta inconfundível. Conhecido como “o príncipe do samba”, Roberto Silva (Rio de Janeiro, 1912-idem, 2012) interpreta aqui um samba de Geraldo Pereira sem parceria, lançado pela Star em 1949 sob número 147-B. É “Minha companheira”, inspirado em Isabel, a grande paixão da vida do compositor. Segundo depoimento dela própria, o samba foi composto por Geraldo bem antes deste registro, quando ambos ainda moravam juntos no bairro carioca da Cruz Vermelha. Um dos pioneiros da gravação em disco no Brasil, o  já veterano Patrício Teixeira (1893-1972) aqui comparece com “Adeus”,  samba da parceria Geraldo Pereira-Augusto Garcez, gravação Victor de 12 de março de 1942, lançada em maio do mesmo ano, disco 34926-A, matriz S-052497. Canto de discografia escassa mas bastante significativa (oito discos 78, um LP e um compacto duplo, Abílio Lessa (Rio de Janeiro, 1926-idem, 1975), morto prematuramente, aos 49 anos, de câncer no esôfago,  aqui comparece com “Liberta meu coração”, samba da parceria Geraldo Pereira-José Batista, destinado ao carnaval  de 1948. Foi gravado na RCA Victor ainda em 47, no dia 27 de outubro, com lançamento em dezembro seguinte sob n.o 80-0563-B, matriz S-078803. E para encerrar, o samba-canção “Promessa de um caboclo”, parceria de Geraldo Pereira com Arnaldo Passos. A referência, na letra, às festas de São João, pode ser lembrança dos tempos de menino de Geraldo, em sua cidade natal (Juiz de Fora, Minas Gerais). Quem canta é Francisco Carlos (Francisco Rodrigues Filho, 1928-2003), o eterno “El broto”, astro da Rádio Nacional e dos filmes da Atlântida, em gravação RCA Victor de 27 de março de 1952, lançada em junho seguinte sob n.o 80-0909-B, matriz S-093229. Enfim, é mais um trabalho do GRB que certamente será bastante apreciado por nossos amigos, cultos, ocultos e associados. Ouçam e desfrutem!
*Texto de Samuel Machado Filho

A Música De Geraldo Pereira – Parte 1 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 80 (2013)

E chegamos a edição de número 80 do nosso Grand Record Brasil. Em edição anterior, como os amigos cultos, ocultos e associados do TM bem se lembram, apresentamos algumas das melhores gravações de Geraldo Pereira (Juiz de Fora, MG, 1918-Rio de Janeiro, 1955) como intérprete, inclusive, claro, composições próprias. E, como prometemos nessa ocasião, estamos voltando a focalizar a obra deste nome importantíssimo de nossa música popular. Desta vez, apresentamos doze gravações (é até chover no molhado falar de suas qualidades e de sua importância histórica) em que cantoras e conjuntos  contemporâneos do compositor interpretam suas obras.  Abrindo nossa seleção desta semana, os Quatro Ases e um Coringa, originários do Ceará, apresentam uma seleção de sambas que  homenageiam a Bahia de todos os santos, que sempre fascinou inúmeros compositores, sejam eles nascidos ou não na chamada boa terra, gravada na RCA Victor em 18 de julho de 1953 e lançada em outubro do mesmo ano sob n.o 80-1204-B, matriz BE3VB-0210. De Geraldo Pereira, aparece um trecho de seu clássico “Falsa baiana”, e neste pot-pourri também foram incluídos sambas de Vicente Paiva e Chianca de Garcia (“Exaltação à Bahia”), Dorival Caymmi (“O que é que a baiana tem?”)  e Ary Barroso (“Faixa de cetim”, “Na Baixa do Sapateiro”).  Na faixa seguinte, os Quatro Ases, que durante toda a carreira deram de fato as cartas,  nos brindam com “Ai! Que saudade dela”, samba de Geraldo Pereira em parceria com Ari Monteiro, gravação Odeon de primeiro de setembro de 1942, lançada em novembro do mesmo ano sob n.o 12221-B, matriz 7044. Mesmo pouco divulgado, é um samba que merece atenção.  Outro importantíssimo conjunto vocal dessa época, os Anjos do Inferno, liderados por Léo Vilar, aqui comparece com três sambas absolutamente imperdíveis. O primeiro é “Sem compromisso”, de Geraldo Pereira em parceria com Nélson Trigueiro, gravação Continental de 29 de maio de 1944, lançada em junho do mesmo ano com o n.o 15184-A, matriz 823. Nessa época, os salões e dancings eram bastante frequentados por certa camada da população carioca, e Geraldo, atento observador do cotidiano, adorava esse ambiente. Portanto, não deixaria mesmo passar em branco a cena – real ou imaginária – relatada neste samba, por sinal muito bem regravado por Chico Buarque em 1974. Outro hit de Geraldo Pereira  imortalizado pelos Anjos do Inferno é “Bolinha de papel”, gravação Victor de primeiro de fevereiro de 1945, lançada em abril do mesmo ano sob n.o 80-0266-B, matriz S-078125. Samba que, como muitos sabem, seria regravado em 1961 por João Gilberto. Em seguida tem “Vai que depois eu vou”, também de Geraldo sem parceiro, em outra gravação Victor, esta de 28 de novembro de 1945, lançada bem em cima do carnaval de 46, em fevereiro, disco 80-0381-B, matriz S-078402, e uma das músicas mais cantadas nessa folia momesca.  A faixa seguinte é “Pode ser?”, samba em que Geraldo Pereira conta com a parceria de Marino Pinto. E tem uma particularidade: foi incluído no disco de estreia da paulistana Isaurinha Garcia, a eterna “personalíssima”, gravado na Columbia em 23 de junho de 1941 e lançado em agosto do mesmo ano sob n.o 55294-B, matriz 440 (no lado A estava “Chega de tanto amor”, de Mário Lago). Como se vê, Isaurinha já mostrava a que veio, e esse seria o pontapé inicial de uma carreira repleta de sucessos. Na época, ela já era contratada da Rádio Record de São Paulo (então “a maior”), sendo inclusive considerada por seu então proprietário, Paulo Machado de Carvalho (“o marechal da vitória”), autêntico patrimônio da casa, fazendo parte até mesmo de seus móveis e utensílios (!), e Isaurinha lá permaneceu por mais de 40 anos.  Outro inesquecível cartaz do rádio e do disco, Dircinha Batista apresenta o samba-choro “Sinhá Rosinha”, parceria de Geraldo com Célio Ferreira, por ela gravado na Odeon em 7 de abril de 1942 e lançado em julho do mesmo ano, disco 12167-B, matriz 6937. Aqui, a temática é a do malandro regenerado, presente em outras composições de Geraldo Pereira, bastando lembrar, por exemplo, o samba-canção “Pedro do Pedregulho”, por ele mesmo gravado e que já apresentamos anteriormente no GRB. Dircinha ainda interpreta o samba “Fugindo de mim”, parceria com Geraldo com Arnaldo Passos e Waldir Machado, destinado ao carnaval de 1952. Gravação também da  Odeon, de 8 de novembro de 51, lançada um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 13212-B, matriz 9186. “A minha, a sua, a nossa favorita” Emilinha Borba, fenômeno de popularidade como raramente se viu em nosso país, e outro grande nome da fase áurea do rádio brasileiro, comparece aqui com outros dois sambas de Geraldo Pereira, em gravações Continental. O primeiro deles é “Boca rica”, parceria de Geraldo com Arnaldo Passos, lançado em janeiro de 1950 para o carnaval desse ano, disco 16142-B, matriz 2211. Do carnaval seguinte, de 1951, é “Perdi meu lar”, também da parceria Geraldo Pereira-Arnaldo Passos, gravado pela eterna “Favorita” em 25 de outubro de 50 e lançado um mês antes dos festejos momescos, em janeiro, sob n.o 16340-B, matriz 2478. Logo depois, temos Marlene (Vitória de Martino Bonaiutti), a que foi rival de Emilinha sem nunca ter sido (naquele tempo, como se vê, já tinha marqueteiro), interpretando outro samba de Geraldo Pereira e Arnaldo Passos, “Aquele amor”, destinado ao carnaval de 1952 e lançado pela Continental em janeiro desse ano, tendo a gravação sido feita em 5 de novembro de 51, disco 16513-A, matriz C-2783. Finalizando, temos uma cantora hoje pouco lembrada, mas que teve sua época, Heleninha Costa, interpretando aqui outro samba de Geraldo Pereira em parceria com Arnaldo Passos: “Não consigo esquecer”. Destinado ao carnaval de 1953, foi gravado por Heleninha na RCA Victor em 20 de agosto de 52, sendo lançado ainda em novembro sob n.o 80-1007-A, matriz SB-093410 (no lado B apareceu o clássico “Barracão”, de Luiz Antônio e Oldemar Magalhães). Como se percebe, as músicas destinadas ao carnaval eram então lançadas com antecedência, a fim de serem divulgadas e aprendidas pelos foliões em tempo hábil. Assim, chegando fevereiro, o público poderia escolher suas favoritas e cantá-las nos salões e nas ruas. Na próxima semana, continuaremos a abordar a obra de Geraldo Pereira, apresentando gravações de cantores contemporâneos do autor. Aguardem!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO.

A Música De Wilson Batista – Parte 2 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 78 (2013)

O GRB apresenta esta semana a segunda parte da retrospectiva dedicada ao compositor Wilson Batista (1913-1968). Desta feita, apresentamos mais 15 gravações preciosas, com alguns dos seus maiores cartazes da época. Para começar, o delicioso samba “Teu riso tem”, parceria de Wilson Batista com Roberto Martins, do carnaval de 1938. Sílvio Caldas, o “caboclinho querido”, fez a gravação na Odeon, em  8 de junho de 37, com lançamento bem em cima da folia, em fevereiro, com o n.o 11574-B, matriz 5596. Sílvio também está presente neste volume em outras três gravações. “Olho nela” (faixa 5), samba da parceria Wilson Batista-Germano Augusto, agora para o carnaval de 1941, em gravação Victor de 26 de dezembro de 40, também lançada bem em cima da folia, em fevereiro, com o n.o 34716-A, matriz 52095. “Lenço no pescoço” (faixa 9) é o samba que iniciou a famosa “polêmica musical” com Noel Rosa, e Sílvio gravou-o na Victor em 18 de julho de 1933, com lançamento em outubro do mesmo ano sob n.o 33712-B, matriz 65805. No acompanhamento os Diabos do Céu, curiosamente dirigidos não por Pixinguinha, mas pelo bandolinista João Martins. Noel , como se sabe, contestaria Wilson com “Rapaz folgado” (“Deixa de arrastar o teu tamanco/ porque tamanco nunca foi sandália”…), só gravado um ano depois da morte do Poeta da Vila, em 1938, por Aracy de Almeida.  “Eu vivo sem destino” (faixa 10), é um samba de Wilson em parceria com Oswaldo Santiago e o próprio Sílvio Caldas, que o gravou também na Victor em 17 de janeiro de 1933, com lançamento em agosto do mesmo ano sob n.o 33690-A, matriz 65649. E desta vez Pixinguinha acompanha Silvio com seu Grupo da Guarda Velha. Conhecido como “o ditador de sucessos”, Déo (Ferjallah Rizkallah, 1914-1971) aqui comparece com sete faixas. “Será” (faixa 2) é um samba da parceria Ataulfo Alves-Wilson Batista, gravado na Odeon em 10 de maio de 1939 com lançamento em novembro do mesmo ano, disco 11786-B, matriz 6085. O lado A, que está na faixa 11, é outro samba, agora de Wilson Batista com Claudionor Cruz, “Ela é…”, matriz 6086. Em seguida, outras quatro faixas gravadas por Déo na Columbia, futura Continental, todas de Wilson Batista sem parceiro. Do disco 8327, lançado em novembro de 1937, estão os dois lados, ambos sambas : “Perdi meu carinho” (faixa 4, matriz 3586) e “Meu último cigarro” (faixa 8, matriz 3586). Na mesma ocasião, saiu o disco 8326, do qual os dois lados também aqui estão:  o samba “Canta” (faixa 13, matriz 3587) e o samba-canção “Cansei de chorar” (faixa 14, matriz 3588). E, da fase de Déo na Odeon, é a sétima faixa, “Não sei dar adeus” outro samba da parceria de Wilson Batista com Ataulfo Alves, gravado em 5 de maio de 1939 e lançado em julho do mesmo ano com o n.o 11736-A, matriz 6077. Presente em nosso volume anterior com “Vinte e cinco anos”, Newton Teixeira está de volta com dois sambas que gravou na Odeon. “N-A-O-til, não” (faixa 6) é da parceria Wilson Batista-Marino Pinto, gravado em 31 de maio de 1941 e lançado em julho do mesmo ano, disco 12013-A, matriz 6677. “A voz do sangue” (décima-quinta e última faixa deste volume) é uma parceria de Wilson Batista com Walfrido Silva, em gravação de 17 de outubro de 1941, lançada em dezembro seguinte com o n.o 12081-B, matriz 6810, por certo destinada ao carnaval de 42. O Bando da Lua, grupo liderado por Aloysio de Oliveira, que marcou época na MPB com suas vocalizações inovadoras, está aqui presente com o samba “Raiando” (faixa 3), parceria de Wilson Batista com Murilo Caldas, irmão de Sílvio, gravado na Victor em 29 de abril de 1935 e lançado em julho do mesmo ano, disco 33952-A, matriz 79894. Por fim temos outro  antológico grupo vocal, os Anjos do Inferno, interpretando na faixa 12 a deliciosa marchinha “Cowboy do amor”, do carnaval de 1941, outro bem-sucedido produto da parceria Wilson Batista-Roberto Martins. Gravação Columbia de 7 de novembro de 1940, lançada ainda em dezembro com o n.o 55249-B, matriz 333, sendo que os Anjos do Inferno também a interpretaram no filme “Céu azul”, da Sonofilms.  De certa forma, é precursora de um gênero que seria lançado mais tarde por Bob Nélson, o da chamada “música do velho Oeste”, nitidamente influenciado por  astros do cinema americano, como Roy Rogers e Gene Autry. Na próxima semana, encerraremos esta retrospectiva sobre Wilson Batista. Até lá!
Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

A Música De Wilson Batista (Parte 1) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 77 (2013)

Em sua edição de número 77, o Grand Record Brazil inicia uma retrospectiva dedicada a um dos maiores compositores que o Brasil já teve, cujo centenário de nascimento é comemorado neste 2013 que ora finda: Wilson Batista. Batizado como Wilson Batista de Oliveira, nosso focalizado nasceu na cidade de Campos, litoral fluminense, no dia 3 de julho de 1913. Filho de um humilde pintor de paredes, funcionário da guarda municipal da cidade, João Batista de Oliveira, e de Isaurinha Alves de Oliveira, ainda menino participou, tocando triângulo, da Lira de Apolo, banda organizada por seu tio, o maestro Ovídio Batista. Era mulato, tinha 1,65m de altura, cabelos ondulados e rosto fino. Ainda em seu berço natal, participou do Bloco Corbeille de Flores, para o qual fez várias composições. Ainda frequentou o Instituto de Artes e Ofícios de Campos, visando se habilitar no ofício de marceneiro, mas sem oportunidade de adquirir muita instrução.  Assinava seu nome com grande esforço, e a coisa ficava ainda mais difícil na hora de escrever um bilhete. No entanto, era capaz de escrever poemas com grande facilidade. Em 1929, mudou-se sozinho para o Rio de Janeiro, disposto a ganhar a vida como compositor, e indo morar por algum tempo com seu tio, que era funcionário da limpeza pública. Logo que chegou ao Rio, chegou a trabalhar como acendedor de lampiões da Light, mas por pouco tempo, pois tinha dificuldade de se adaptar a empregos. Nessa ocasião, passou a frequentar os cabarés da Lapa e o bar Esquina do Pecado, na Praça Tiradentes, pontos de encontro de marginais e compositores, tornando-se amigo dos irmãos Meira, malandros famosos da época, o que lhe rendeu várias prisões. A seguir, começa a trabalhar como eletricista e auxiliar de contra-regra no Teatro Recreio.  Fez seu primeiro samba aos 16 anos, “Na estrada da vida” (nesta seleção), que Aracy Cortes lançou no Recreio e Luiz Barbosa gravou em 1933. O samba “Lenço no pescoço”, lançado por Sílvio Caldas no mesmo ano, deu origem a uma famosa polêmica musical com Noel Rosa, que respondeu com “Rapaz folgado”, contestando  a identificação do sambista com o malandro, e por aí foi.  Apesar dessa longa “briga”, ambos depois se tornaram amigos…  Sua primeira música gravada foi o samba “Por favor, vai embora”, em 1932 (nesta seleção).  No mesmo ano, Wilson Batista passou a atuar como crooner e pandeirista da orquestra de Romeu Malagueta. Sempre vendendo sambas e fazendo parcerias ditas “comerciais”, Wilson conheceu, no lendário Café Nice (Avenida Rio Branco esquina com Rua Bittencourt da Silva), o cantor e compositor Erasmo Silva, com quem forma a Dupla Verde-Amarela (depois Verde e Amarelo). Ambos realizam apresentações no Brasil e em Buenos Aires, a capital da Argentina. A dupla seria desfeita em 1939, justamente com a ida de Erasmo Silva para a Argentina. Reencontraram-se em 1948, e quatro anos mais tarde acontece a dissolução definitiva da dupla. Nas composições de Wilson Batista, com ou sem parceiros,  predominam temas populares, como carnaval, futebol, jogo do bicho, e entre elas destacamos: “Acertei no milhar”, “Nêga Luzia”, “O bonde São Januário”, “Emília”, “Dolores Sierra”, “Louco (Ela é o seu mundo)”, “Samba rubro-negro”, “A mulher que eu gosto”, as marchinhas “Balzaquiana”, “Sereia de Copacabana” e “Pedreiro Waldemar”, “Boca de siri”, “Ganha-se pouco mas é divertido”, “Cabo Laurindo”, “História da Lapa”, “Rosalina”, “Esta noite eu tive um sonho”, “Mundo de zinco”, etc. Embora fanático torcedor do Flamengo, compôs para o carnaval de 1946 a marchinha “No boteco do José”, sobre a conquista do Campeonato Carioca de Futebol pelo Vasco da Gama, hit na voz de Linda Batista. Boêmio durante quase toda a vida, trabalhou nos últimos anos de existência como fiscal da UBC (União Brasileira de Compositores), entidade que ajudou a criar. Foi casado e pai de dois filhos, mas a vida boêmia carioca o fazia ficar longe de casa até três dias (!), para desespero da esposa. Apesar dos inúmeros hits como compositor, Wilson Batista morreu pobre, no dia 7 de julho de 1968, quatro dias depois completar 55 anos, de problemas cardíacos. E seu corpo foi sepultado na tumba da UBC, no cemitério  do Catumbi. Nesta primeira parte da retrospectiva que o GRB oferece por ocasião do centenário de nascimento de Wilson Batista, foram escolhidos onze de seus trabalhos, interpretados por grandes nomes da MPB de seu tempo. Nossa seleção começa com o samba ‘Vinte e cinco anos”, parceria de Wilson com o “amigo velho”, Cristóvão de Alencar, gravado por outro grande compositor, Newton Teixeira (aquele da “Deusa da minha rua”, por exemplo), em 12 de agosto de 1940, sendo lançado pela Odeon em dezembro do mesmo ano, sob n.o 11925-A, matriz 6450, evidentemente visando o carnaval de 41. Newton, por sinal, acabara de com-pletar 25 anos quando gravou a música, daí o título. Em seguida, Murilo Caldas, irmão de Sílvio, interpreta o samba “Refletindo bem”, parceria de Wilson Batista com J. Cascata, em gravação Victor de 21 de agosto de 1939, lançada em novembro do mesmo ano com o n.o 34511-B, matriz 33143. A faixa seguinte é justamente a estreia de Wilson Batista em disco, em parceria com Benedito Lacerda e Osvaldo Silva: o samba “Por favor, vá embora”, que Patrício Teixeira, então já veterano, imortalizou na mesma Victor em 14 de novembro de 1932, com lançamento em dezembro seguinte para o carnaval de 33, por certo, disco 33600-A, matriz 65594. O samba “O bonde São Januário”, de Wilson com outro mestre, Ataulfo Alves, sucesso no carnaval de 1941 na voz de Cyro Monteiro, vem aqui em uma curiosa gravação instrumental do pianista Heriberto Muraro, em ritmo de fox, feita também na Victor em 27 de maio do mesmo ano de 1941, com lançamento em julho seguinte, disco 34762-A, matriz 52163. Em seguida vem o primeiro samba feito por Wilson Batista, sem parceiro, “Na estrada da vida”, rotulado no selo como samba-canção, mas nem parece. A gravação coube a Luiz Barbosa (1910-1938), na Victor, em 28 de abril de 1933, com lançamento em dezembro seguinte, disco 33732-A, matriz 65722. A marchinha ‘Grito das selvas”, parceria de Wilson Batista com Augusto Garcez, é outra gravação Victor, de 14 de novembro de 1940, lançada em dezembro seguinte com o n.o 34694-B, matriz 52047, visando, é claro, o carnaval de 41. Quem canta é Silvino Neto, compositor (“Valsa dos namorados”, ‘Cinco letras que choram” etc.)e também humorista de prestígio no rádio, apresentando o programa ‘Pimpinela Escarlate”, onde fazia imitações de políticos famosos da época e contava piadas. Era pai do também humorista Paulo Silvino, figurinha carimbada dos humorísticos da TV Globo nos anos 1970/80. Outra obra-prima do samba é “Estás no meu caderno”, mais uma parceria de Wilson Batista com Benedito Lacerda e Osvaldo Silva, magistral criação de Mário Reis na Victor em 11 de maio de 1934, lançada em agosto do mesmo ano, disco 33810-A, matriz 79640. “Emília”, outro samba clássico, em que Wilson tem outro ilustre parceiro, Haroldo Lobo. É uma exaltação à então denominada mulher ideal, prendada e submissa, surgida um pouco antes da não menos clássica Amélia de Ataulfo Alves e Mário Lago. Foi imortalizado na Columbia por Vassourinha (Mauro Ramos de Oliveira) em 23 de junho de 1941, sendo lançado em outubro do mesmo ano com o n.o 55302-A, matriz 441. Talento promissor, revelado pela Rádio Record de São Paulo, Vassourinha, entretanto, morreria prematuramente, aos 19 anos, vítima de osteomielite, deixando apenas seis discos 78 com doze músicas (“Emília” é do segundo deles), que mereceriam mais tarde reedições em LP e CD. Depois vem um trio “brabo”: Francisco Alves, Murilo Caldas e Castro Barbosa, interpretando o samba “Desacato”, feito também a três mãos (Wilson Batista, Murilo Caldas e Paulo Vieira). Foi gravado na Odeon em 18 de julho de 1933 e lançado em agosto do mesmo ano com o n.o 11042-B, matriz 4699, atingindo sucesso “desacatador”, conforme diz com bom humor a partitura impressa. Em seguida, o samba-exaltação “Cidade de São Sebastião”, parceria de Wilson Batista com Nássara, gravado na mesma Odeon por Francisco Alves em 10 de julho de 1941, e lançado em agosto do mesmo ano, disco 12028-A, matriz 6710. Foi feito para a segunda edição da peça musical “Joujoux e Balangandãs”, levada a cena, a exemplo da primeira, de 1939, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Por iniciativa da então primeira dama do Brasil, Darcy Vargas, “socialites” da época apresentavam seus dotes artísticos no palco e mostrar generosidade na bilheteria, em prol de suas obras assistenciais. No palco, “Cidade de São Sebastião” foi  interpretado em dueto por Jenny Hime e Roberto Rocha, e a gravação de Chico Alves foi mais tarde relançada com o n.o 12950-B. Para finalizar, a divertida marchinha “As pupilas do senhor Bocage”, parceria de Wilson Batista com Arnaldo Paes, lançado para o carnaval de 1939 pela Columbia, em fevereiro desse ano, na interpretação do também comediante Barbosa Júnior (que marcou época no rádio brasileiro com o programa infantil “Picolino”), com o n.o 55016-B. O título cita o romance ‘As pupilas do senhor reitor”, do escritor lusitano Júlio Diniz (que no Brasil virou até telenovela) e demonstra claramente a errônea associação do poeta Bocage (1765-1805), também português, a piadas eróticas, maliciosas e picantes, isso pelo fato de ele ter escrito poemas eróticos e satíricos. E esta seleção é apenas o começo: vem mais Wilson Batista por aí. Aguardem!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Germano Mathias – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 76 (2013)

Esta semana, o Grand Record Brazil, já em sua edição de número 76, é dedicado a um dos maiores representantes do samba paulista. Estamos falando de Germano Mathias.  Nascido  no Pari, bairro da Zona Leste de São Paulo, no dia 2 de junho de 1934. Passou a infância e a adolescência estudando na zona central da capital bandeirante e, quando saía da escola, dava de cara com as rodas de batucada que os engraxates faziam nas praças Clóvis Bevilacqua e João Mendes. Eles batucavam em suas próprias latinhas de graxa, e Germano passou a acompanhá-los. Revelando espantosa habilidade, Germano  foi logo convidado para tocar frigideira na Escola de Samba Rosas Negras. Incentivado por um amigo batuqueiro, participou, em outubro de 1955, do concurso “À procura de um astro”, promovido pela PRG-2, Rádio Tupi (então “a mais poderosa emissora paulista”), conquistando o primeiro lugar. Foi logo contratado pela emissora Associada como “cantor e executante de instrumentos exóticos” (ou seja, a lata de graxa e a frigideira). Esse estilo de samba, com divisões bem marcadas e batida diferente, tornar-se-ia a marca registrada de Germano.  Em 1956, estreia em disco, através da Polydor, marca que então pertencia ao grupo alemão Siemens, interpretando os sambas “Minha pretinha” e “Minha nêga na janela” (ambos nesta seleção). Um ano depois lança seu primeiro LP, em 10 polegadas, “O sambista diferente”, pelo qual recebe  os troféus Roquette Pinto e Guarani. Em 1958, muda-se para a RGE de José Scatena e lança um de seus maiores hits, “Guarde a sandália dela” , dele próprio em parceria com Sereno, mais tarde regravado ao vivo por Elis Regina e Jair Rodrigues . Quando da primeira aparição de Germano Mathias na televisão, seu sucesso aumentou cada vez mais, pois muitos pensavam que ele fosse negro, e o que se viu na telinha foi um jovem de cor branca, muito bem vestido e bem humorado, que adorava fazer suas “presepadas” no palco.  Em 1959 participou de dois filmes: “O preço da vitória” e “Quem roubou meu samba?”. Foi Germano quem gravou pela primeira vez um samba de Geraldo Filme, “Baiano capoeira”, parceria com Jorge Costa, isso em 1962. Gravou também sambas dos consagrados Zé Kéti (“Malvadeza Durão”, “Nêga Dina”, “Mexi com ela”, entre outros), Nélson Cavaquinho (“História de um valente”), Herivelto Martins (“Vaidosa”), Gordurinha (“Carta a Maceió”) e principalmente dos amigos Elzo Augusto e Jorge Costa. Em 1.o de maio de 1967, ainda no auge da carreira, recebeu o diploma de Bacharel do Samba da Ordem da Palheta Dourada, conferido pela Escola de Samba X-9. Sabendo disso, o apresentador de rádio e TV Randal Juliano logo apelida Germano de “O catedrático do samba”.  Ainda em 67, Germano apresentou o programa “Nosso ritmo é sucesso”, na TV Globo, emissora então em ascensão. Entretanto, no decorrer dos anos 1970, Germano Mathias foi entrando em gradativa decadência, sobretudo por causa de seu gênio intempestivo.  Além disso, foi perdendo todo o dinheiro que ganhou no auge da carreira em farras e jogos.  Voltaria a ser ouvido em 1978, quando foi lançado o LP “Antologia do samba de breque”, no qual foram reaproveitadas antigos registros seus, alternados com regravações feitas por Gilberto Gil.  Depois, nos anos 1980/90, viveu um período de quase total ostracismo. Fez participações especiais em álbuns de outros (caso de “História do samba paulista – vol. 1,editado em 1999 pelo CPC da UMES) e emplacou a música “Jerônimo” na novela “Cambalacho’ (Globo, 1986).                                    Em 2002, 28 anos após lançar seu oitavo e último LP-solo, Germano Mathias lança seu primeiro CD, “Talento de bamba”, pela Atração Fonográfica, feito todo à base de composições de seu amigo Elzo Augusto. O disco recebe elogios da crítica e Germano volta a fazer shows com aqueles sambas rápidos e bem humorados que fizeram sua fama. Em 2005, realizando um velho sonho, lança o álbum “Tributo a Caco Velho”, no qual revive os principais hits desse cantor e compositor gaúcho, tais como “Que baixo” e “Uma crioula”.
 Para esta edição do GRB, foram escolhidas oito das melhores gravações de Germano Mathias, de seu início de carreira, todas na Polydor. Abrindo a seleção, temos exatamente “Minha nêga na janela”, seu primeiro grande sucesso, samba do próprio Germano em parceria com Doca, de seu primeiro disco, número 148, de 1956, matriz POL-1137, correspondente ao lado B. O lado A, matriz POL-1136, é “Minha pretinha”, de Jair Gonçalves e Edson Borges, que encontraremos na faixa 3. A faixa 2 é “Falso rebolado”, de Venâncio e Jorge Costa, gravação de 6 de maio de 1957, e lado B do disco 237, matriz POL-1436. O lado A, matriz POL-1435, está na faixa 4: é “Senhor delegado”, de Ernani Silva e Antoninho Lopes.  Do 78 de número 221, gravado dois dias mais tarde, 8 de maio de 1957, também estão ambas as músicas, a saber: “Eliete vedete”, também da dupla Venâncio e Jorge Costa (lado B, matriz POL-1440) e “Batatinha e cocada”, de Alceu Menezes e Xuxu (o lado A, matriz POL-1439. Para finalizar, as músicas do disco de número 203, gravado em 31 de outubro de 1956: “Rua”, de Jair Gonçalves sem parceiro (lado B, matriz POL-1273) e “A situação do Escurinho”, de Aldacir Louro e Padeirinho (lado A, matriz POL-1272). Este último samba, como indica o título, é uma sequência do clássico “Escurinho”, de Geraldo Pereira, lançado no mesmo ano de sua morte, 1955, por Cyro Monteiro. Uma sequência que o próprio Geraldo tencionava fazer, reabilitando o personagem, o que não se concretizou em virtude de sua morte prematura.  Esta é a homenagem que o GRB presta ao “Catedrático do Samba”, Germano Mathias, que soube dar a volta por cima e continua a receber os aplausos que bem merece, como um dos melhores intérpretes do samba paulista!
Texto de SAMUEL MACHADO FILHO.
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Carmen Costa & Henricão – Seleção 78 RPM do Toque Musical – Vol. 75 (2013)

Em sua edição de número 75, o Grand Record Brazil apresenta a segunda parte da retrospectiva dedicada à grande cantora Cármen Costa (1920-2007). Agora, apresentamos aqui sete gravações que ela fez com o cantor e compositor Henricão, pessoa importantíssima em sua carreira, e cuja história de vida conheceremos agora. Henrique Felipe da Costa nasceu em Itapira, interior de São Paulo, no dia 11 de janeiro de 1908, e, por conta da alta estatura (quase dois metros!), ganhou o apelido de Henricão. Em certa época, ganhava a vida como motorista de uma “socialite” que morava na Rua Augusta, e considerava sua a família da própria patroa, que muito o admirava. Cantou em circos, parques de diversões, rádios e festas populares do Nordeste, sozinho ou em dupla com algumas parceiras, a mais famosa, evidentemente, Cármen Costa, que obteve muito mais êxito de público e mídia do que ele, seu lançador. Além das adaptações de “Cielito lindo’ (“Está chegando a hora”) e “Caminito” (“Carmilito”), Henricão assina composições juntamente com Rubens Campos (o parceiro mais constante), Bucy Moreira, Caco Velho e Príncipe Pretinho, entre outros.  Entre suas várias parceiras de cantorias, antecessoras de Cármen Costa, destacam-se a paulistana Risoleta – que faria sucesso no teatro de revista, só e desacompanhada – e a carioca Sarita. Embora tenha composto inúmeras músicas de sucesso , tais como “Só vendo que beleza”, e sua sequência “Casinha da Marambaia” (até hoje muitos pensam que é esse o título da primeira música) e mesmo famoso, Henricão sempre enfrentou dificuldades financeiras, passando fome, mas era constantemente ajudado por amigos,  e levava a vida sempre com otimismo e esperança.  Trabalhou também como ator de cinema, em filmes como “Sinhá moça” (1953), “A estrada” (1956), “Uma certa Lucrécia” (1957), “Cidade ameaçada” (1960), “O puritano da Rua Augusta” (1965),  “Betão Ronca Ferro” (1970) e “Jeca e seu filho preto” (1978), os três últimos produzidos e estrelados pelo eterno jeca, Mazzaropi, com quem também contracenou em “O gato de madame” (1956). Na televisão, atuou na novela “Os imigrantes”  (1981), maior sucesso da Rede Bandeirantes no gênero, e na minissérie “O tronco do ipê” (1982), da TV Cultura de São Paulo, Já tinha feito também alguns episódios do “Vigilante rodoviário” (1961-62), primeiro seriado de TV produzido no Brasil. Seu último trabalho em disco foi o álbum “Recomeço”, lançado pela Eldorado em 1980, e no qual reencontrou a antiga parceira Cármen Costa. Em 1984, já no final de sua vida, foi eleito o primeiro Rei Momo negro da história do carnaval de São Paulo. Faleceu em 11 de junho do mesmo ano, também em São Paulo, de enfarte, aos 76 anos.
Neste volume do GRB,  apresentamos sete  gravações que Henricão fez em dueto com Cármen Costa. Abrindo a seleção, “Samba, meu nêgo”, de Bucy Moreira e Miguel Baúso, lançado pela Columbia em julho de 1941 com o n.o 55286-A, matriz 421. Depois tem “Onde está o dinheiro?”, samba de Henricão sem parceria, em gravação Odeon de 24 de maio de 1939, lançada em  agosto seguinte com o n.o 11749-A, matriz 6105. “Não quero conselho”, samba de Príncipe Pretinho e Constantino “Secundino” Silva, foi gravado na Columbia em 19 de julho de 1940 e lançado em agosto do mesmo ano com o n.o 55239-B, matriz 308. “Não posso viver sem você”, samba da parceria Henricão-Rubens Campos, é o lado B de “Samba, meu nêgo”, matriz 422. “Não dou motivo”, de Max Bulhões e Felisberto Martins, é outro  lado B, este  de “Onde está o dinheiro?”, matriz 6106. “Dance mais um bocado”, de Henricão e Príncipe Pretinho, é o  lado A de “Não quero conselho”, matriz 307. E, para encerrar, a marchinha “A festa é boa”, dos inseparáveis Henricão e Rubens Campos, gravação Victor de 19 de dezembro de 1942, lançada um mês antes do carnaval de 43, em janeiro, disco 80-0045-B, matriz S-052661. Esta é a homenagem do GRB a esses dois nomes importantíssimos na história de nossa música popular.  Até a próxima!
Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Carmem Costa – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 74 (2013)

Estamos de volta com o Grand Record Brazil, em sua edição de número 74. Desta vez, apresentamos a primeira de duas partes de uma retrospectiva dedicada a uma das maiores cantoras do Brasil, Cármen Costa. Carmelita Madriaga, seu nome na pia batismal, nasceu na pequena cidade de Trajano de Morais, Estado do Rio de Janeiro, no dia 5 de janeiro de 1920. Seus pais eram meeiros (agricultores que trabalham em terras que pertencem a outras pessoas) na Fazenda Agulha, onde a nossa Carmelita, ainda criança, começou a trabalhar como empregada doméstica, em casa de uma família de protestantes. Foi lá que aprendeu hinos religiosos, assim demonstrando seu talento de cantora. Em 1935, vem a inevitável mudança para o Rio de Janeiro, e, com apenas 15 anos, empregou-se como doméstica na residência de nada mais nada menos que Francisco Alves.  É ele quem incentivará Carmelita a seguir carreira artística, fazendo-a cantar numa festa para os convidados, entre eles outra Cármen famosa, a Miranda. Carmelita, em seguida, apresenta-se como caloura no programa do sempre rigoroso Ary Barroso, saindo-se vencedora, e em gravações começou participando de coros em gravações dos “medalhões” da MPB de então. Em 1937, Carmelita conhece o compositor Henricão (Henrique Filipe da Costa), que a batiza artisticamente como Cármen Costa e com quem inicia sua carreira profissional, apresentando-se em feiras de amostras como a do Arraial do Rancho Fundo (Juiz de Fora, MG). Em 1939 Cármen e Henricão se apresentam juntos numa feira de amostras da Praça Quinze, no Rio de Janeiro, ao lado dos maiores cartazes da época (Irmãs Pagas, Alvarenga e Ranchinho, Cármen e Aurora Miranda, etc.). Gravam discos em dupla, cujas músicas iremos apresentar em nosso próximo volume. No carnaval de 1942, consegue seu primeiro grande sucesso com “Está chegando a hora”, presente nesta seleção. Alguns de seus hits: “Só vendo que beleza”, “Carmilito” (também aqui presentes), “Chamego”, “Busto calado”, “Quase”, “Marcha do Cordão da Bola Preta (Segura a chupeta)”, “Tem nêgo bebo aí”, “Cachaça”,  “Jarro da saudade”, “Eu sou a outra”, “Obsessão”, etc. Em 1945, casa-se com o americano Hans Van Koehler, e vai viver com ele nos EUA, onde passa uma temporada em Los Angeles e até trabalha como prensadora de discos na RCA Victor! Ela também participou do histórico concerto de bossa nova no Carnegie Hall de Nova York, em 1962, marco da internacionalização do movimento.  Ao voltar para o Brasil, nos anos 1950, conhece o compositor Mirabeau Pinheiro, com quem viveu por cinco anos e teve sua única filha, Silésia, também conhecida como Lu. Entre 1959 e 1963, excursiona por diversos países e passa temporadas no Brasil, voltando aos EUA em 1964, e atua em vários shows ao laod do acordeonista Sivuca.  Cármen retorna definitivamente à nossa terra no início dos anos 1970, cantando em boates do Rio e de São Paulo. Também gravou muitos LPs, inclusive um de ladainhas e benditos.  Apareceu cantando em filmes, tais como “Pra lá de boa” (1949), “Carnaval em Marte” (1955), “Depois eu conto” (1956) e “Vou te contá” (1958). Em 2003, por iniciativa do Museu da República, é “tombada” como patrimônio cultural do Brasil, através de projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal do Rio. Sua última gravação foi com o cantor Elymar Santos, de quem era convidada especial em alguns shows. Cármen Costa faleceu em 25 de abril de 2007, no Rio de Janeiro, de insuficiência renal e  parada cardíaca. Mas será sempre lembrada como uma de nossas maiores intérpretes femininas. Nesta primeira parte do retrospecto que a ela dedicamos, apresentamos  onze de suas melhores gravações como solista, todas pela Victor.  E começamos muito bem, com o samba “Só vendo que beleza”, de Henricão e Rubens Campos, gravação de 19 de fevereiro de 1942, lançada em abril seguinte com o n,o 34892-B, matriz S-052483 (regravado inclusive por Elis Regina). É claro que iremos também ouvir, na faixa 5, o lado A, justamente o clássico “Está chegando a hora”, adaptação em ritmo de samba que, feita pelos mesmos Henricão e Rubens Campos, da canção rancheira mexicana “Cielito Lindo”, composta em 1882 por Quirino Mendoza e Cortés (c.1859-1957) e abriu as portas do estrelato para Cármen Costa. Como não conseguissem gravar a música, Henricão e Cármen  pagaram uma tiragem particular na Victor, distribuída somente às emissoras de rádio (gravação de 30 de dezembro de 1941, matriz R-236). Mesmo divulgada precariamente, “Está chegando a hora” obteve sucesso no carnaval de 1942, o que convenceu a Victor a contratar Cármen Costa e a relançar essa mesma matriz, agora em tiragem comercial. Até hoje a música é sucesso no carnaval e em qualquer ocasião em que se precise de uma canção de despedida. Henricão e Rubens assinam também “Siga seu destino”, samba gravado por Cármen em 15 de março de 1946 e lançado em  maio seguinte com o n.o 80-0403-A, matriz S-078443. “Não me abandone”, outro samba dessa dupla inseparável, aqui em companhia de José Alcides, foi gravado por Cármen em 24 de novembro de 1943, com lançamento um mês antes do carnaval de 44, janeiro, sob n.o 80-0153-B, matriz S-052889. Dos mesmos Henricão e Rubens é o samba “Já é de madrugada”, gravação de 10 de fevereiro de 1943 lançada em abril do mesmo ano, disco 80-0071-B, matriz S-052717. De Bucy Moreira (ilustre neto da lendária Tia Ciata), Carlos de Souza e Antônio Morais é o samba “Festa na roça”, gravação de 5 de agosto de 1942 lançada em outubro seguinte com o n.o 80-0004-B, matriz S-052591. “Chorei de dor” é outra adaptação de Henricão e Rubens Campos, em ritmo de samba,  de canção internacional, esta americana, de autoria de Kennedy e Carr, gravada por Cármen em 24 de novembro de 1943 e lançada em janeiro de 44 (para o carnaval, claro) com o n.o 80-0153-A, matriz S-052888. O samba “Casinha da Marambaia” vem a ser a continuação de “Só vendo que beleza”, dos mesmos Henricão e Rubens, e Cármen irá imortalizar esta sequência  no selo do cachorrinho Nipper em  15 de fevereiro de 1944, com lançamento em abril, sob n.o 80-0172-B, matriz S-052927. Em seguida, temos a adaptação sambística, feita por Henricão, para o tango argentino “Caminito”, de Juan de Diós Filiberto. Rebatizada “Carmilito”, é o lado A de “Festa na roça”, matriz S-052590. Depois, Henricão assina com Príncipe Pretinho o samba “Caramba”, destinado ao carnaval de 1943, gravação de 19 de novembro de 42 lançada um mês antes da folia, em janeiro, com o n.o 80-0045-A, matriz S-052660. Completando o programa, o samba-exaltação “Bahia, terra santa”, dos inseparáveis Henricão e Rubens Campos, gravação de 15 de março de 1946, lançada em julho seguinte sob n.o 80-0412-A, matriz S-078445. E na próxima semana, apresentaremos as gravações feitas por Cármen Costa em dueto com Henricão. Encontro marcado! Até lá…
* Texto de Samuel Machado Filho

Odete Amaral (Parte 2) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 73 (2013)

Estamos de volta com o Grand Record Brazil, apresentando a segunda parte da retrospectiva que estamos dedicando à “voz tropical do Brasil”, Odete Amaral  (1917-1984). Desta feita, apresentamos  onze gravações desta intérprete notável, dona de bela voz.  E começamos muito bem, apresentando um samba do grande Geraldo Pereira, em parceria com Ari Monteiro, “Carta fatal”, gravação Odeon de 5 de abril de 1944, lançada em junho do mesmo ano, disco 12450-B, matriz 7537. A faixa seguinte, “Na chave do portão”, é de autoria de Djalma Mafra e Alberto Maia. Este samba foi gravado na Victor em 29 de novembro de 1945, e lançado bem em cima do carnaval de 46, em fevereiro, com o número 80-0382-B, matriz S-078404. O samba “Sorris de mim” é de Babaú da Mangueira (Waldemiro José da Rocha, 1914-1993) e João da Baiana, gravação Victor de 9 de julho de 1940, lançada em setembro seguinte com o número 34657-B, matriz 33463. Voltando à Odeon, apresentamos a marchinha “Salve o inventor da mulher”, gravação de 13 de outubro de 1944, lançada um mês antes do carnaval de 45, em janeiro, com o número 12535-B, matriz 7681. João da Baiana, agora sem parceiro, assina o samba “É melhor confessar do que mentir”, gravado na Victor em 14 de dezembro de 1937 e lançado bem em cima do carnaval de 38, em fevereiro, disco 34283-A, matriz 80626. Geraldo Pereira se faz de novo presente, agora em parceria com Arnô Provenzano, com o samba “Resignação” , lado A do Odeon 12330, gravado em 2 de junho de 1943 e lançado em julho do mesmo ano, matriz 7305. O mestre Ary Barroso também bate ponto aqui com um dos maiores hits da carreira de Odete, o samba “A batucada começou”, por ela gravado na “marca do templo” em 24 de abril de 1941 e lançado em junho seguinte com o número 11999-A, matriz 6627. “Só você” é um samba-canção de Hanibal Cruz (tio de Vinícius de Moraes e parceiro de Vicente Paiva no clássico “Diz que tem”,  hit de Cármen Miranda em 1940), gravado por Odete na Victor em 25 de maio de 1937 e lançado em julho do mesmo ano, disco 34183-B, matriz 80418. De José Alvarenga, o Alvarenguinha, e Marcílio Vieira, é o samba “Lágrimas sentidas”, gravado por Odete na marca do cachorrinho Nipper em 21 de julho de 1937 e lançado em dezembro seguinte, visando o carnaval de 38, sob número 34241-A, matriz 80550. Temos em seguida um retumbante sucesso da cantora nesse mesmo carnaval, a bem-humorada marchinha “Não pago o bonde”, dos mestres J. Cascata e Leonel Azevedo, que Odete imortalizou no dia seguinte, 22 de julho de 1937, e a Victor lançou também em dezembro, com o número 34256-A, matriz 80551. É uma crônica do tempo em que o bonde era o principal meio de transporte no Rio de Janeiro. Se habitualmente os passageiros já procuravam fugir ao pagamento da passagem, em tempo de carnaval era quase inútil atender ao apelo (“por favor”), do cobrador, geralmente português. Alguns se atreviam a desafiar o coitado, pedindo “mande a Light me cobrar”. Na época, a empresa, conhecida como “polvo canadense”, era concessionária do serviço de bondes na então Capital Federal.  Para encerrar, em clima de conto de fada, temos o samba “A bela adormecida”, samba de outra festejada dupla de autores, Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr., gravação Victor de 26 de abril de 1938, lançado em junho do mesmo ano sob número 34324-B, matriz 80766, e evidentemente baseado na famosa história do escritor francês Charles Perrault. Em algumas gravações da Victor aqui incluídas, vale ressaltar, quem acompanha Odete Amaral é a orquestra Diabos do Céu, formada e dirigida pelo mestre Pixinguinha. E é com muita alegria que o GRB apresenta a segunda parte desta retrospectiva dedicada àquela que será para sempre “a voz tropical do Brasil”!
*Texto de SAMUEL MACHADO FILHO
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Odete Amaral (Parte 1) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 72 (2013)

Esta semana o Grand Record Brazil apresenta a primeira de duas partes de uma retrospectiva dedicada à cantora que ganhou o slogan de “a voz tropical do Brasil”: Odete Amaral.  Nossa biografada veio ao mundo na cidade de Niterói, litoral fluminense, no dia 28 abril de 1937, e era a filha caçula do casal de lavradores Alfredo Amaral e Albertina Ferreira do Amaral. Quando ela tinha um ano de vida, a família mudou-se para o Rio, então a Capital da República, onde seu pai se empregou como caminhoneiro.  Aos seis anos, ingressou no Colégio Uruguai, onde fez o curso primário completo. Em 1929, empregou-se como bordadeira na Américas Fabril, continuando seus estudos no período noturno. Dona de bela e primorosa voz, era sempre convidada a cantar no teatro da escola, e em festas de aniversário. Foi aí que sua irmã, que sempre a admirava, e muito, levou-a para a Rádio Guanabara, em 1935, para fazer um teste.  Acompanhada pelo pianista Felisberto Martins, interpretou o samba “Minha embaixada chegou”, de Assis Valente, hit de então na voz de Cármen Miranda. Aprovada pelo diretor da emissora, Alberto Manes, Odete é de pronto escalada para o ”Programa suburbano”,  onde também batiam ponto nomes como Sílvio Caldas, Maríla Batista, Noel Rosa, Linda e Dircinha Batista, e Almirante. Por iniciativa deste último, passa a se apresentar também na Rádio Clube do Brasil. Ainda em 1935, participa da inauguração do Cassino Atlântico e apresenta-se em rádios como Ipanema, Sociedade, Philips e Cruzeiro do Sul, além de atuar em uma revista no Teatro João Caetano interpretando a marchinha “Ganhou mas não leva”, de Mílton Amaral. É ele quem assina as músicas do primeiro disco de Odete, gravado na Odeon em 1936, apresentando os sambas “Palhaço” (parceria com Roberto Cunha) e “Dengoso”.  No mesmo ano, assina seu primeiro contrato profissional, com a Rádio Mayrink Veiga, e participa do filme “Bonequinha de seda”, produção da Cinédia, onde, um ano depois, fará outra produção cinematográfica, “O samba da vida”. Ainda em 1936, participa da inauguração da PRE-8, Rádio Nacional, e é levada por Ary Barroso para a Victor, onde ela estreia com duas músicas do mestre de Ubá  para o carnaval de 1937, a marchinha “Colibri” e a batucada “Foi de madrugada”.  Em 1938, casou-se com o cantor Cyro Monteiro, da união, que durou onze anos, resultando um filho, Cyro Monteiro Júnior. Odete e Cyro fariam inúmeras apresentações juntos por todo o país. A cantora teve também uma curta passagem pela Columbia, voltando à Odeon em 1941. Gravou ainda nos selos Star, Todamérica, Polydor, Copacabana, RMS e Carper, entre outros. Entre seus hits destacam-se “Não pago o bonde”, “Murmurando” , “A batucada começou” e “Chicletes com banana”.  Em 1939, Odete Amaral muda-se para São Paulo, contratada pela Rádio Cultura, onde permanece um ano e meio, e em 1941 volta ao Rio de Janeiro natal e à Rádio Mayrink Veiga, onde permanece seis anos, indo depois para a Mundial e, em 1951, para a Tupi (“o cacique do ar”).  Gravou também LPs, e um dos mais interessantes foi “Do outro lado da vida – Os que perderam a liberdade contam sua história”, ao lado do filho Cyro Monteiro Júnior, em que ambos interpretam músicas compostas por presidiários do Rio e de São Paulo. Em 1968, gravou o álbum “Fala, Mangueira!”, a lado de Cartola, Carlos Cachaça, Nélson Cavaquinho e Clementina de Jesus. Em 1975, participou de uma série de 30 programas da Rádio MEC, “MPB 100 ao vivo”, na qual, ao lado de Paulo Marquês, interpretava hits dos anos 1930. Da série resultaram oito álbuns produzidos por Ricardo Cravo Albim. Em 1977, Odete e Paulo, mais o flautista Altamiro Carrilho, participam do show “Café Nice”, igualmente produzido por Cravo Albim. Falecida no dia 11 de outubro de 1984, aos 67 anos, Odete Amaral, embora não tenha atingido o estrelato de outras cantoras de sua época  (Cármen Miranda, Aracy de Almeida, irmãs Batista), é ainda hoje considerada uma das melhores intérpretes brasileiras dos anos 1930 e de todos os tempos. E isso começaremos a constatar nesta primeira parte da retrospectiva que o GRB lhe dedica, apresentando 12 gravações suas na Odeon e na Victor. Para começar, a divertida marchinha “Vitaminas”, de Amaro Silva, Djalma Mafra e Domício Augusto, gravação Odeon de 11 de novembro de 1942, lançada em janeiro de 43, para o carnaval, logicamente, com o número 12244-A, matriz 7137 (a vitamina T, de trabalho, ainda incomoda muita gente…). Temos também aqui, na faixa 5, o verso desse disco, matriz 7131: o samba “Você quis”, de Nicola Bruni e Alvaiade, gravado seis dias antes, ou seja, a 5 de novembro. A faixa 2 nos traz o sambatucada  “É mato”, também de Alvaiade, agora com Wilson Batista, gravação Odeon de 13 de outubro de 1941, lançada em dezembro seguinte para a folia de 42, disco 12071-B, matriz 6806. Geraldo Pereira e Djalma Mafra assinam o samba da faixa 3, “Jamais acontecerá”, gravado por Odete na “marca do templo” em 9 de novembro de 1943 e lançado em janeiro de 44, também para o carnaval, sob n.o 12398-B, matriz 7421. A faixa 4 é o samba “Vem, amor”, de Jorge de Castro, Isaías Ferreira e Enézio Silva, gravado igualmente na Odeon em 4 de novembro de 1953 e lançado para a folia momesca de 54, em janeiro, disco 13580-B, matriz 9963. Na faixa 6, temos uma marchinha de meio-de-ano, “Eta Rio”, de Nicola Bruni, Alvaiade A. F. Silva, gravada em 20 de agosto de 1943 e lançada pela Odeon em outubro seguinte com o n.o 12359-A, matriz 7365. O samba “Por causa de alguém” leva a respeitável assinatura de Ismael Silva, em gravação de 6 de abril de 1942, lançada pela “marca do templo” em junho seguinte com o n.o 12157-B, matriz 6932. Da fase de Odete Amaral na Victor é “Chinelo velho”, samba de Wilson Batista e Marino Pinto, gravação de 14 de outubro de 1940, lançada ainda em dezembro para o carnaval de 41, disco 34683-B, matriz 52023. O lírico samba-canção “História de criança”, também de Wilson Batista, agora em parceria com Germano Augusto, teve sua gravação em  10 de maio de 1940, com lançamento pela marca do cachorrinho Nipper em julho seguinte sob n.o 34683-B, matriz 33426. Em seguida temos o lado A, matriz 33425, outra composição do mestre Wilson Batista com Marino Pinto, o samba “Depois da discussão”.  Wilson Batista também assina, agora com outro mestre, Ataulfo Alves, o samba “Quando dei adeus”, gravação Victor de 18 de novembro de 1939, lançada em janeiro de 40 para o carnaval sob n.o 34558-B, matriz 33281. Para finalizar, e também em clima carnavalesco, a marchinha “O gato e o rato”, outra música de Wilson Batista, agora acompanhado por Arnô Canegal e Augusto Garcez, também para a folia de 1940, gravada igualmente na Victor em 24 de outubro de 39 e lançada um mês antes do carnaval, em janeiro, sob n.o 34542-A, matriz 33241. E semana que vem a gente se encontra com mais Odete Amaral. Até lá!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Moreira Da Silva – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 71 (2013)

Continuando sua vitoriosa trajetória, o Grand Record Brazil chega a sua edição número 71, desta vez homenageando o eterno e festejado rei do samba de breque: Moreira da Silva!
Batizado como Antônio Moreira da Silva, nosso biografado nasceu, e isso não é nenhuma mentira, no dia primeiro de abril de 1902, no bairro carioca da Tijuca, tendo sido criado no morro do Salgueiro. Era o filho mais velho de Bernardino de Sousa Paranhos, trombonista da Polícia Militar, e Pauladina de Assis Moreira (sim, o nome dela era Pauladina mesmo!). Moreira tinha 11 anos quando teve a infelicidade de perder seu pai, o que o obrigou a abandonar precocemente a escola para ingressar no mercado de trabalho. Foi empregado de fábricas de cigarros e tecelagens, e também motorista de praça (comprou um táxi aos 19 anos) e de ambulância, tendo-se casado em 1928. Ao mesmo tempo, freqüentava rodas de malandros e boêmios.
Em 1932, Moreira lança seu primeiro disco, na Odeon, interpretando dois pontos der macumba de Getúlio “Amor” Marinho: “Ererê” e “Rei de umbanda”. Mais tarde, obtém seu primeiro grande sucesso, na Columbia, com o samba “Arrasta a sandália”, uma das músicas mais cantadas no carnaval de 1933. Outros sucessos, além dos presentes nesta edição do GRB: “Implorar”, “Jogo proibido”, “Na subida do morro”, “Amigo urso”, “Doutor em futebol”, “É batucada”, “O rei do gatilho” (com o qual ganhou o apelido de Kid Morenguera), “O último dos moicanos”, “Os intocáveis” (inspirado no seriado americano de TV de mesmo nome), “Morenguera contra 007”, “O sequestro de Ringo”, “Supermorenguera” (que gravou em dupla com Cyro Aguiar), etc. Seu último trabalho em disco, lançado em 1995, foi o CD “Os três malandros in concert”, gravado juntamente com Bezerra da Silva e Dicró, uma brincadeira com os “três tenores”, Luciano Pavarotti, José Carreras e Plácido Domingo.
Segundo os que conheceram o grande Morenguera, sua imagem de malandro e boêmio não passava de um tipo, um personagem. Era um cidadão exemplar, de vida regrada, não bebia, não fumava, e sempre cumpriu à risca seus deveres, em uma trajetória de vida longa e repleta de acontecimentos surpreendentes. Primeiramente como seresteiro, depois como um autêntico mestre do samba de breque, tornou-se um verdadeiro mito, uma autêntica unanimidade na história da música popular brasileira. Moreira da Silva faleceu no dia 6 de junho de 2000, em seu Riode Janeiro natal, vítima de falência múltipla de órgãos.
Para esta edição do GRB, foram pinçadas treze faixas de excelente qualidade, uma seleção que agradará a todos aqueles que conhecem o trabalho do grande Morenguera e vai permitir os que não conhecem de desfrutar um pouco de seu trabalho. Para começar, temos “Esta noite eu tive um sonho”, que o próprio Moreira assina com Wilson Batista, gravação Victor lançada em junho de 1941, disco 34754-A. Mostra como um alemão é enganado no jogo de chapinha, no qual se usavam três tampinhas de cerveja, com um miolo de pão dentro de uma delas. “Antes porém” leva a assinatura de Djalma Mafra e Cyro Monteiro, e saiu pela Odeon em junho de 1943, com o número 12315-A. “Acertei no milhar” é um clássico indiscutível, assinado por Geraldo Pereira e Wilson Batista, tendo sido editado pela mesma Odeon em agosto de 1940 sob número 11883-B. Teve regravações pelo próprio Moreira e por Jorge Veiga, entre outros. “Olha a cara dela” é uma marchinha do Morenguera em parceria com Geraldo Pereira, e saiu pela Victor bem em cima do carnaval de 1941, em fevereiro, sob n.o 34717-A. Ismael Silva e José de Almeida assinam “Maestro, toque aquela”, editado pela Odeon em dezembro de 1943, visando evidentemente o carnaval de 44, sob n.o 12390-B. Desse disco também foi escalado o lado A, “Samba pro concurso” (faixa 10 de nossa seleção), outra parceria do Morenguera com Geraldo Pereira. “Com açúcar”, a faixa 6, é também do Moreira, em parceria com Darcy de Oliveira, e saiu pela Victor em dezembro de 1940 para o carnaval de 41, com o número 34686-B. “O que tem Iaiá”, de Getúlio “Amor” Marinho e Antonico do Samba, é de 1937, lançado pela Columbia sob n.o 8249-B. “Amor” também assina sozinho “Na Favela”, lançado pela Odeon em 1932 com o número 10896-A. Em seguida temos o lado B, “Eu sou é bamba”, do mesmíssimo autor. “Nicolau” é de João da Baiana e Ari Monteiro, e saiu pela Odeon bem em cima do carnaval de 1942, em fevereiro, com o n.o 12107-A. Para finalizar, dois sambas de Geraldo Pereira em parceria com o próprio Morenguera, gravados na Odeon: “Lembranças da Bahia”, parceria com o próprio Morenguera, editado em agosto de 1942 com o n.o 12186-A, e “Voz do morro”, lançado para o carnaval de 1943, em janeiro, sob n.o 12252-B. Uma homenagem à altura que o GRB presta ao eterno Moreira da Silva, que foi, é e sempre será “o tal”!
Texto de SAMEUL MACHADO FILHO

Geraldo Pereira – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 70 (2013)

Chegamos à edição de número 70 do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil. Desta vez focalizamos outro grande sambista que marcou época na história de nossa música popular: Geraldo Pereira.  Geraldo Teodoro Pereira (seu nome completo na pia batismal) nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, no dia 23 de abril de 1918. Ainda criança, com 10 ou 12 anos, foi para o Rio de Janeiro, levado por seu irmão mais velho, Mané Araújo, filho do primeiro casamento de sua mãe. Mané era ferroviário e sanfoneiro, residente no lendário morro de Mangueira, onde Geraldo foi criado. Além disso, o Mané era dono de uma birosca e uma espécie de xerife de sua localidade. Ali, seu irmão Geraldo cresceu ouvindo samba e depois participando das rodas no meio dos bambas e valentes. Fez o curso primário (que não se sabe se chegou a concluir) em uma escola da Rua Oito de Dezembro, na Vila Isabel, de onde saía para entregar marmitas. Mais tarde, aos 14 anos, trabalha nas proximidades do morro, até que, por volta de 1936, consegue um emprego de motorista de caminhão da limpeza urbana. Nessa época, já arranhava seu violão – que aprendera a tocar com Aluízio Dias e com o mestre Cartola, moradores da Mangueira -, fazia acompanhamentos e começava a compor seus sambas, segundo depoimentos de contemporâneos.  Em 1939, o cantor Roberto Paiva é procurado por Nélson “Gravatinha” Teixeira, que queria apresentá-lo a um compositor novo, insistindo para que ouvisse a música que tinha composto com ele. Era o samba “Se você sair chorando”, que acabou sendo a primeira composição gravada de Geraldo Pereira, e foi hit no carnaval de 1940. Nesse meio tempo, conhece a grande paixão de sua vida: Isabel, inspiradora de alguns de seus antológicos sambas. De espírito boêmio e mulherengo, Geraldo foi um inovador do samba, e compôs sucessos inesquecíveis, com ou sem parceiros: “Acertei no milhar”, “Falsa baiana”, “Escurinho”, “Chegou a bonitona”, “Pisei num despacho”, “Quando ela samba”, “Escurinha”, “Sem compromisso”, “Você está sumindo”, etc. Geraldo Pereira faleceu em 8 de maio de 1955, em consequência de uma hemorragia, provocada por uma briga mal explicada com Madame Satã, lendário personagem da Lapa, quando teria batido com a cabeça no meio-fio, na porta do restaurante Capela.  Como intérprete, segundo José Ramos Tinhorão, Geraldo Pereira “tinha perfeita noção de ritmo, coerência da forma escolhida para traduzir o sentido dos versos, valorização da melodia e, acima de tudo, caráter e estilo próprio na forma de interpretar”. É o que iremos comprovar nesta edição do GRB, que focaliza o Geraldo cantor, apresentando 12 preciosas gravações de músicas, não apenas dele próprio, como também de outros autores, e todas sambas. Para começar, tem “Olha o pau peroba”, de Bucy Moreira e Albertina da Rocha, lançado pela Columbia em janeiro de 1954 para o carnaval desse ano, disco CB-10010-A, matriz CBO-147. Depois, temos “Domingo infeliz”, de Arnaldo Passos e Abelardo Barbosa (sim, o lendário Chacrinha!), lançado pela Sinter em agosto de 1951, disco 00-00.071-A, matriz S-136. No verso, matriz S-150, Geraldo Pereira mostra sua faceta de cronista do dia-a-dia, como parceiro do mesmo Arnaldo em “Ministério da Economia”, alusão à criação da pasta pelo então presidente Getúlio Vargas, na qual acreditava que com esse ministério tudo ficaria mais barato…  “Ela” é de Arnaldo Passos e Osvaldo Lobo, lançado pela mesma Sinter em dezembro de 1950, disco 00-00.021-B, matriz S-48. Foi em seguida escalado o lado A, matriz S-47, o samba-canção “Pedro do Pedregulho”, do próprio Geraldo sem parceiro. Embora seja considerado uma tentativa de adaptação ao gosto comercial vigente nessa época, é uma das melhores criações de Geraldo Pereira, inspirado em uma figura real, um valente da Mangueira chamado Pedro Veneno, conforme depoimento de Carlos Cachaça. Apresenta também um tema presente em outras obras de Geraldo, o do malandro regenerado. Esteve presente também no segundo LP lançado pela Sinter, o 10 polegadas “Parada de sucessos”, já oferecido aos amigos cultos, ocultos e associados do Toque Musical.  A faixa seguinte, “Fiz tudo”, é de Raimundo Olavo e Geraldo Queiroz, em gravação RCA Victor de 13 de agosto de 1952, lançada em outubro do mesmo ano, disco 80-1003-A, matriz SB-093398. Aqui também está presente o lado B, “Tombo no chapéu”, de Alberto Rego e Arnaldo Passos, matriz SB-093399. “Falso patriota” é de David Raw e Victor Simon (o autor dos clássicos “Vagabundo” e “Bom dia, café”), e foi gravado por Geraldo na RCA Victor em 26 de junho de 1953, indo para as lojas em setembro seguinte com o n.o 80-1192-A, matriz BE3VB-0185. O tema do falso nacionalista, consumidor exclusivamente de produtos importados, presente aqui, seria retomado em 1962 por Billy Blanco no samba “João da Silva”. Desse disco RCA Victor também foi escalado o verso, matriz BE3VB-0186: o divertido “Cabritada mal sucedida”, do próprio Geraldo com Wilton Wanderley. “Maior desacerto”, samba do próprio Geraldo mais Ary Garcia e A. J. C. Silva Jr., é o lado B de “Olha o pau peroba”, disco Columbia CB-10010, editado em janeiro de 1954 para o carnaval, matriz CBO-148. Para finalizar, as duas faixas do Columbia CB-10070, lançado em agosto de 1954: o samba-choro “Professor de natação”, de Avarese (Abimael Nascimento Álvares, pernambucano do Recife) e Maurílio Santos, matriz CBO-269, e  o samba “Juraci”, do próprio Geraldo sem parceiro, matriz CBO-270. É a homenagem do GRB e do TM ao grande sambista que foi Geraldo Pereira. E logo, logo a gente volta a focalizá-lo aqui, tá?
*Texto de  SAMUEL MACHADO FILHO.

A Música De Nelson Cavaquino – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 69 (2013)

Depois de Cartola, na semana passada, o Grand Record Brazil, em sua sexagésima-nona edição, homenageia mais um nome que faz parte da história da Mangueira, e, por tabela, do samba e da MPB: Nélson Cavaquinho.
Nélson Antônio da Silva, seu nome verdadeiro, nasceu no dia 29 de outubro de 1911, na Rua Mariz e Barros, no bairro carioca da Tijuca. Seu pai, o Sr. Brás Antônio da Silva,  era músico da Banda da Polícia Militar, tocava tuba, e seu tio Elvino era exímio violinista, e também organizava rodas de samba em sua casa. A mãe de Nélson,  a sra. Maria Paula da Silva, foi lavadeira do Convento de Santa Tereza. Por volta de 1919, a família, fugindo do aluguel, muda-se para a Lapa, ocasião em que Nélson  frequenta a escola primária Evaristo da Veiga, abandonando o curso para trabalhar como eletricista. Nesse bairro boêmio carioca, fez amizade com os “valentes” de então, Brancura, Edgar e Camisa Preta.  Na adolescência, transferiu-se para  o subúrbio de Ricardo de Albuquerque, para finalmente se estabelecer em uma vila operária na Gávea.  Ali, frequenta os bailes dos clubes Gravatá, Carioca Musical e Chuveiro de Ouro, conhecendo músicos decisivos em sua formação, alguns deles  empregados de uma fábrica de tecidos local, tais como Edgar Flauta da Gávea, Heitor dos Prazeres, Mazinho do Bandolim e o violonista Juquinha, de quem receberia lições de cavaquinho, .daí nascendo o pseudônimo com que ficaria para a posteridade: Nélson Cavaquinho. Já na maturidade, optaria pelo violão, desenvolvendo um estilo inimitável de tocá-lo, usando apenas dois dedos da mão direita.
Em 1931, com apenas 20 anos de idade, Nélson conhece  Alice Ferreira Neves, com quem se casa meses depois, da união resultando quatro filhos. Em seguida, graças a seu pai, consegue um emprego na Polícia Militar, fazendo rondas noturnas a cavalo. E é durante essas rondas, montado no seu querido “Vovô”, que conhece  e passa a frequentar o morro da Mangueira, travando contato com sambistas como Cartola e Carlos Cachaça. Isso lhe rendeu várias detenções, pois passava dias sem ir ao quartel, em decorrência da boemia. O ambiente da prisão era tranquilo, e ele ficava lá compondo… Em 1938, antes de ser expulso da polícia, consegue dar baixa  e, separado da mulher e afastado dos filhos, ingressa definitivamente na boemia e na música, mudando-se para o morro da Mangueira em 1952. Teve diversos outros relacionamentos até finalmente, no início dos anos 1960,  encontrar Durvalina, 30 anos mais nova que ele, com quem viveria pelo resto de sua existência.  Entre suas mais de 400 composições, várias  em parceria com Guilherme de Brito, destacam-se: “Rugas”, “Degraus da vida”,  “Luz negra”, “A flor e o espinho”, “Pranto de poeta”, “Quando eu me chamar saudade”, “Juízo final”, “Cuidado com a outra” e “Eu e as flores”.  Eram canções feitas com extrema simplicidade, e letras quase sempre remetendo a questões como o violão, botequins, mulheres e, principalmente, a morte. Que, inevitavelmente, aconteceria na madrugada de 18 de fevereiro de 1986, aos 74 anos, de enfisema pulmonar.  Como intérprete, estreou em disco no ano de 1966, gravando algumas faixas em um álbum que a cantora Thelma  Costa dedicou à sua obra. Depois, em 1970, viria seu primeiro LP-solo, “Depoimento do poeta”, pela Castelinho (que não passou desse disco!). O segundo viria dois anos mais tarde, pela RCA, primeiro volume da Série Documento, e o terceiro pela Odeon, em 1973.  Também participou, em 1977, do álbum da RCA ”Quatro grandes do samba”, ao lado de seu mais constante parceiro, Guilherme de Brito, mais Candeia e Elton Medeiros.
Nesta edição do GRB, apresentamos dez gravações originais em 78 rpm, com sambas de Nélson Cavaquinho interpretados por vários cantores e feitos com parceiros diversos. Abrindo a seleção, “Palavras malditas”, feita com seu mais constante parceiro, Guilherme de Brito, gravação de Ary Cordovil na Todamérica em 6 de setembro de 1957, disco TA-5724-B, matriz TA-100091, que seria regravada em 2011 por Beth Carvalho.  Ary também canta “Cheiro de vela”, de Nélson com  José Ribeiro (faixa 3), lançada no extinto selo Vila em 1958 (ou 61, não há certeza), disco 10003-B, matriz V-7801-B. Ruth Amaral, também compositora, interpreta outras duas faixas nesta seleção, ambas em gravações Columbia: “Cinzas”, de Nélson e Guilherme mais Renato Gaetani, lançada em novembro de 1955 sob n.o CB-10210-A, matriz CBO-584, e “Garça”, só de Nélson e Guilherme, lançada pouco antes, em maio desse ano, com o n.o CB-10192-A, matriz CBO-192 (faixa 5). A faixa  4 traz também a regravação de Nerino Silva para “Cinzas’, lançada pela Chantecler em janeiro de 1963, disco 78-0677-B, matriz C8P-1354. “Negaste um cigarro”, parceria de Nélson Cavaquinho com José Batista, foi gravada em fins de 1962 por Orlando Gil em outro selo extinto, o Albatroz, disco A-121-B. A “Divina” Elizeth Cardoso aqui comparece com um samba do carnaval de 1954, de Nélson, Roldão Lima e Gilberto Teixeira, gravação Todamérica de 12 de novembro de 53, lançada ainda em dezembro sob n.o TA-5380-B, matriz TA-591.  Francisco Ferraz Neto, o Risadinha, apresenta  “Minha fama”, de Nélson Cavaquinho com Magno de Oliveira, gravação Odeon de 4 de setembro de 1952, só lançada em junho de 53, disco 13455-B, matriz 9413. O grande Jorge Veiga interpreta “O fruto da maldade”, de Nélson com César Brasil, lançado pela Continental entre julho e setembro de 1951 com o n.o 16434-B, matriz 2632. Por fim, Vítor Bacelar interpreta outro samba de Nélson Cavaquinho em parceria com César Brasil: “Não brigo mais”, gravado na Todamérica em 23 de agosto de 1954 e lançado em setembro seguinte sob n.o TA-5471-B, matriz TA-723. Esta é a homenagem do GRB a mais este poeta da Mangueira e do samba carioca que foi Nélson Cavaquinho!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

A Música De Cartola – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 68 (2013)

Em sua sexagésima-oitava edição, o Grand Record Brazil nos brinda com as primeiras composições gravadas de um grande nome do samba e da MPB. Estamos falando de Cartola. Angenor de Oliveira – que só por ocasião de seu casamento com Zica (Euzébia Silva do Nascimento) descobriria que seu pré-nome era Angenor e não Agenor, como vinha assinando – nasceu em 11 de outubro de 1908, na Rua Ferreira Viana n.o 9, no bairro do Catete, Rio de Janeiro. Era o primeiro dos oito filhos do primeiro casamento de Sebastião, com Aída. Aos oito anos, foi morar na Rua das Laranjeiras e teve despertado seu interesse pela música no contato com ranchos e clubes de operários e, ora, pois, pois, portugueses. Quando ele tinha 11 anos, a situação da família piorou, fazendo com que se mudasse para o morro da Mangueira, então ainda com características rurais e pouquíssimo habitado. Aí conhece Carlos Cachaça (1902-1999), marcando o início de uma estreita e duradoura amizade, inclusive na música, sendo parceiros de grandes sambas. O primeiro emprego de Cartola, primeiro de muitos trabalhos humildes, foi numa modesta tipografia. Na profissão de pedreiro, ele passou a usar um chapéu-coco a fim de proteger o cabelo do reboco, daí nascendo o pseudônimo com que ficou para a posteridade. Com apenas 18 anos, amasia-se com Deolinda (que era casada, tinha uma filha e era sete anos mais velha que ele!). Integrado na roda dos batuqueiros, integra a formação, anos depois, do Bloco dos Arengueiros, cujo maior prazer entre seus componentes era promover arruaças, fazendo jus ao nome. Um dia, porém, seus componentes concluem ser chegada a hora de acalmar os nervos, sem perder a finalidade musical. Assim nasceu, em 1928, a lendária Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, cujas cores, verde e rosa, foram adotadas por sugestão do próprio Cartola (eram as mesmas cores do Rancho dos Arrepiados, por ele frequentado no tempo em que morara na cidade).  Entre 1929 e 1933 teve suas primeiras oito composições gravadas, cinco por Francisco Alves , o maior cantor da época, uma por Cármen Miranda, uma por Sílvio Caldas e uma pelo iniciante Arnaldo Amaral. Essa primeira fase de músicas gravadas seria interrompida, pois os rendimentos eram parcos, e Cartola dedicou-se apenas a compor para sua querida Mangueira, da qual se tornou figura lendária, lançando esporadicamente em disco um ou outro samba, inclusive gravando para o maestro Leopold Stokowski, em 1940, o samba “Quem me vê sorrir” (ou “Quem me vê sorrindo”), parceria com Carlos Cachaça, registro que na época só saiu nos EUA.  Nos anos  40, teve inúmeras dificuldades, tanto financeiras quanto pessoais, abalado pelo falecimento de sua Deolinda e gravemente doente. Nessa ocasião, Cartola se afasta da Mangueira e chega até a ser dado como morto. Em meados da década de 1950, o jornalista e escritor Sérgio Porto o redescobre na penúria, como lavador de carros numa garagem de Ipanema. Sérgio anuncia a boa nova de que Cartola ainda vivia, e lhe arranja um emprego menos árduo. Aos poucos, o mestre mangueirense começa sua reintegração ao meio musical. É quando se casa com sua querida Dona Zica, bela cabrochinha de olhos brilhantes, e também exímia e celebrada cozinheira. Ambos instalam, num antigo casarão da Rua da Carioca, o lendário restaurante Zicartola, que funcionou de 1963 a 1965, tornando-se ponto de encontro de sambistas de morro com nomes ditos elitizados , dando também oportunidade para o surgimentos de novos valores, Cartola comandando o samba e Dona Zica o “rango”. Entre suas composições mais conhecidas destacam-se “O sol nascerá”, “As rosas não falam”, “Acontece”, “O mundo é um moinho”, “Sim” e “Alvorada”. Entre 1974 e 1978, Cartola grava quatro LPs, dois pela Marcus Pereira e outros dois pela RCA, bastante elogiados pela crítica e bem acolhidos pelo público. Cercado do respeito e reconhecimento gerais, faleceu em 30 de novembro de 1980, aos 72 anos, sendo seu corpo velado na sede da Mangueira com todas as homenagens, e sepultado no cemitério do Caju.

Para esta edição do Grand Record Brazil, foram selecionadas nove faixas, gravadas em 78 rpm.  Abrindo esta seleção, temos a primeira composição gravada de Cartola, “Que infeliz sorte!”, lançada pela Odeon em dezembro de 1929, na voz de Francisco Alves, disco 10519-A, matriz 3095. Mário Reis chegou a adquirir os direitos de gravação deste samba por 300 mil-réis, mas preferiu repassá-lo ao Rei da Voz. Em seguida, Cármen Miranda, já então “o maior nome feminino da fonografia nacional”, interpreta “Tenho um novo amor” gravação Victor de 11 de maio de 1932, lançada em julho seguinte sob n.o 33575-B, matriz 65486, com acompanhamento do mestre Pixinguinha, à frente do Grupo da Guarda Velha.  É uma parceria de Cartola com Noel Rosa, não creditado no selo e na edição. Vem também a ser o caso das faixas seguintes, interpretadas por Francisco Alves e por ele gravadas na Odeon: “Não faz, amor”, gravação de 7 de julho de 1932, disco 10927-A, matriz 4481, e “Qual foi o mal que eu te fiz?”, imortalizado pelo Rei da Voz em 30 de dezembro de 32 mas só lançado em maio de 1933 sob n.o 10995-B, matriz 4574. Noel e Cartola, sem dinheiro, procuraram Chico Alves no Largo do Maracanã e lhe pediram algum. Chico concordou, desde que cada um fizesse um samba naquele momento. Foi aí que compuseram “Qual foi o mal que eu te fiz?”, com toda a segunda parte de Noel, que nessa ocasião fez sozinho “Estamos esperando”, gravado por Chico em dupla com Mário Reis. No dia 3 de janeiro de 1933, Francisco Alves retorna aos estúdios da Odeon para gravar outro samba de Cartola, agora sem parceiro: “Divina dama”, que será lançado logo em seguida com o número 10977-B, matriz 4575, constituindo-se no maior sucesso da primeira fase de composições gravadas do poeta mangueirense.  A faixa seguinte, “Na floresta”, foi gravação de Sílvio Caldas, parceiro de Cartola neste samba, em  13 de julho de 1932, matriz 65546, mas a Victor só o lançou em outubro de 33 com o n.o 33712-A. Isso em virtude de atritos entre Sílvio e Francisco Alves. Bucy Moreira compôs um samba chamado ‘Foi um sonho”, do qual Chico Alves gostava da letra, mas não da melodia. Então o Rei da Voz encaixou a de “Na floresta”, deixando a letra de lado. Os versos seriam musicados e gravados por Sílvio Caldas, e Francisco Alves, evidentemente, surtou e quis impedir o lançamento do disco. Mas Sílvio Caldas convenceu o Rei da Voz de que ele tinha comprado apenas a melodia: “Você deixou a letra de lado e o Cartola precisa ganhar dinheiro!” E Chico deixou os atritos também de lado…  A faixa seguinte é “Não posso viver sem ela”, parceria de Cartola com Alcebíades “Bide” Barcelos, gravada na Odeon por Ataulfo Alves, à frente de sua Academia de Samba, em 27 de novembro de 1941, com lançamento bem em cima do carnaval de 42, fevereiro, sob n.o 12106-B, matriz 6870. Entretanto, o hit maior desse disco foi o clássico “Ai, que saudades da Amélia”, de Ataulfo e Mário Lago, que ofuscou esta aqui. O samba-canção “Grande Deus” foi composto por Cartola em 1946, quando contraiu meningite e demorou mais de um ano para se recuperar. Porém, só em agosto de 1958 é que a música foi lançada em disco, na voz do grande Jamelão, pela Continental, sob n.o 17573-A, matriz C-4099. E, para encerrar mais este pequeno-grande programa do GRB, o samba “Festa da Penha”, parceria de Cartola com Asobert (pseudônimo e anagrama de Adalberto Alves de Souza). Foi gravado em 1958 por Ary Cordovil para o extinto selo Vila, em disco de número 10003-A, matriz V-7801-A. A festa em questão acontecia todo ano no mês de outubro, com romaria de fiéis  percorrendo o longo caminho até a igreja (com escadaria e tudo), que até hoje fica bem em cima do morro da Penha, numa demonstração de fé e oportunidade para apresentação de novas músicas, sempre com um olho profano em direção ao carnaval. Esta é a homenagem do GRB ao mestre Cartola, nome que tem seu lugar garantido entre os imortais de nossa música popular.

* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Cyro Monteiro – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – parte 2 – Vol. 67 (2013)

 “Uma criatura de qualidades tão raras que eu acho improvável qualquer de seus amigos não se haver dito, num dia de humildade, que gostaria de ser Cyro Monteiro. Pois Cyro, pra lá do cantor e do homem excepcional, é um grande abraço em toda a humanidade”. Foi assim que o eterno Poetinha Vinícius de Moraes (1913-1980) se referiu ao “Formigão”, ou ainda “o cantor das mil e uma fãs”, na contracapa do LP “Senhor samba”, lançado em 1961 pela Columbia, hoje Sony Music.  Coincidentemente, estamos comemorando neste 2013 o centenário de ambos, Vinícius e Cyro.
E é com muita alegria e prazer que o GRB traz a segunda parte da retrospectiva que iniciamos semana passada, em comemoração ao centenário do nascimento de Cyro Monteiro.  Desta feita, apresentamos mais 16 preciosos e históricos fonogramas, todos da RCA Victor,  incluindo clássicos de seu repertório, e por tabela, da própria MPB.
Pois, mais uma vez, Cyro está aqui muitíssimo bem servido, apresentando composições de alguns dos monstros sagrados do samba nessa época. Caso, por exemplo, de Wilson Batista (outro cujo centenário estamos comemorando neste 2013).  Ele assina com mestre Ataulfo Alves de Miraí a faixa de abertura de nossa seleção da semana, “Você é o meu xodó”, gravação de 5 de junho de 1941 lançada em agosto do mesmo ano, disco 34781-B, matriz S-052235. Temos em seguida “Você está sumindo”, de Geraldo Pereira  (de quem Cyro foi assíduo freguês) e Jorge de Castro, gravado em 2 de abril de 1943 e lançado em junho do mesmo ano sob n.o 80-0085-A, matriz S-052742. De Alcides Rosa e Djalma Mafra  é “Abriu-se o pano”, gravação de 22 de janeiro de 1946, lançada em abril seguinte com o n.o 80-0389-A, matriz S-078417. “A mulher que eu gosto”, de Wilson Batista e Cyro de Souza, é um clássico do repertório do “Formigão”, que o imortalizou em 28 de março de 1941, com lançamento em junho desse ano sob n.o 34745-A, matriz 52164. Wilson assina depois, mais uma vez com mestre Ataulfo, “Mania da falecida”,  registro de 30 de maio de 1939, lançado em agosto com o n.o 34470-A, matriz 33077. Em seguida vem um clássico dos clássicos do samba brasileiro: “Falsa baiana”, obra-prima de Geraldo Pereira, em gravação de 3 de abril de 1944, lançada em junho seguinte sob n.o 80-0181-A, matriz S-052940. Obrigatório na lista dos maiores sambas de todos os tempos, foi inspirado na fantasia de baiana que a esposa do compositor Roberto Martins usava no carnaval do ano anterior, 1943. Ela não sabia sambar, e estava longe de ser uma baiana cem por cento. Foi o que levou Geraldo Pereira a fazer este clássico, inicialmente oferecido a Roberto Paiva, que não quis gravá-lo, estranhando seu ritmo “quebrado”. Azar dele, porque com Cyro Monteiro estourou! Tem várias regravações, inclusive de João Gilberto e Gal Costa. Geraldo assina, em parceria com Príncipe Pretinho (autor de outro samba clássico, “Só pra chatear”), a faixa seguinte, “Voltei  mas era tarde”, gravação do “Formigão” em 13 de setembro de 1944 lançada em novembro seguinte com o n.o 80-0228-B, matriz S-078053. Outro grande nome do samba, Ismael Silva (1905-1978), responsável por clássicos como “Se você jurar”, “Novo amor”, “Arrependido” e “Antonico”, assina aqui “Não vá atrás de ninguém”, gravação de 3 de setembro de 1941, lançada em novembro desse ano com o n.o 34822-B, matriz S-052346. Ernâni Alvarenga, conhecido como “o samba falado da Portela”, assina com Jardel Noronha “Linda Iaiá”, que o “Formigão” irá imortalizar no dia 14 de agosto de 1940, e será lançado em outubro do mesmo ano com o n.o 34666-A, matriz 33486. Cyro volta a interpretar Ismael Silva na próxima faixa, “Eu sou um”, que, como exceção ao repertório essencialmente sambístico desta edição, é uma marchinha, visando o carnaval de 1940, gravação de 11 de outubro de 39 lançada ainda em dezembro, disco 34529-A, matriz 33184. Ainda no setor carnavalesco, e voltando ao samba, temos “Golpe errado”, do trio Geraldo Pereira-Cristóvão de Alencar (o “amigo velho”)-David Nasser, da folia momesca de 1946, gravado em 4 de novembro de 45 e editado bem em cima dos festejos, em fevereiro, sob n.o 80-0383-A, matriz S-078405. Em seguida outro inesquecível clássico da parceria Ataulfo Alves-Wilson Batista: “O bonde São Januário”, hit absoluto no carnaval de 1941, gravado em 18 de outubro de 40 e lançado ainda em dezembro sob n.o  34691-A, matriz 52022. Foi inclusive o samba vencedor do concurso oficial de músicas carnavalescas promovido pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), da ditadura getulista, superando até mesmo “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, inscrito por motivos políticos. Até uma paródia foi feita ironizando os torcedores do Vasco; “O bonde São Januário/ leva um português otário/ pra ver o Vasco apanhar”…, Logo depois, Geraldo Pereira e Ari Monteiro assinam “Ai, mãezinha”, gravação de 28 de maio de 1946, lançada em setembro do mesmo ano com o n.o  80-0437-A, matriz S-078529. De Geraldo é também, parceria com J. Portela, “Até hoje não voltou”, gravado por Cyro na mesma sessão, matriz S-078530, sendo o lado B de “Ai, mãezinha”. Numa prova de que estava mesmo com a corda toda nessa época, Geraldo Pereira assina com Elpídio Viana outro clássico do samba, “Pisei num despacho”, que o “Formigão” imortaliza em 17 de abril de 1947 com lançamento em junho seguinte sob n.o 80-0518-A, matriz S-078745. É outra peça que tem regravações aos cachos, com destaque para as de Roberto Silva e Jackson do Pandeiro. E, para encerrar este autêntico show de criações do grande Cyro Monteiro, Wilson Batista e Germano Augusto assinam “Tá maluca”, gravação de 10 de maio de 1940, lançada em julho com o n.o 34627-B, matriz 33428. Esta é a justíssima homenagem do GRB ao grande Cyro Monteiro, para sempre um monstro sagrado do samba e da música popular brasileira!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Cyro Monteiro (parte 1) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 66 (2013)

Esta semana, em sua sexagésima-sexta edição, o Grand Record Brasil apresenta a primeira de duas partes de uma retrospectiva dedicada a um dos maiores cantores que o Brasil já teve, e cujo centenário de nascimento comemoramos neste 2013: Cyro Monteiro, o “Formigão” (apelido que lhe foi dado pelo compositor Eratóstenes Frazão), também conhecido como “o cantor das mil e uma fãs”.
Sobrinho do pianista Nonô (Romualdo Peixoto), o “Paderevsky do samba” e, por  tabela, primo de Cauby Peixoto, Cyro Monteiro era carioca da gema, nascido no subúrbio do Rocha em  28 de maio de 1913, em uma família de nove irmãos, todos com nomes começados com a letra C! O pai de Cyro era dentista, capitão do Exército e funcionário público. O futuro astro passou a infância e a juventude em Niterói, litoral fluminense, para onde se mudou com a família quando tinha só dois anos de idade. Fez seus estudos no Grupo Escolar Alberto Brandão, na Escola Profissional Washington Luiz e no Instituto de Humanidades. Costumava cantar informalmente para os amigos, no conforto de seu sacrossanto lar, doce lar, e em festas, acompanhado do irmão Careno, até que um dia, em 1933, Sílvio Caldas, que frequentava sua casa, chamou-o para substituir Luiz Barbosa, com quem cantava em dupla, em um programa da Rádio Educadora. Um ano depois, Cyro foi contratado pela Rádio Mayrink Veiga, escalado de início para um programa diurno mas logo subindo para os noturnos, marcando o ritmo com sua indefectível caixa de fósforos, assim como Luiz Barbosa fazia com o chapéu de palha.
 Grava seu primeiro disco na Odeon, para o carnaval de 1936, com dois sambas que na tiveram muito sucesso, até porque o ano  foi concorridíssimo: “Vê se desguia” e “Perdoa”. Um ano depois, grava dois discos particulares na RCA Victor, por encomenda, a fim de promover a tradicional Festa da Uva de Jundiaí, SP.  E finalmente, em 1938, vem o primeiro grande sucesso, com um clássico do samba: “Se acaso você chegasse”, de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, seu primeiro disco comercial na marca do cachorrinho Nipper. E esse foi o pontapé inicial para inúmeros outros hits inesquecíveis:” Os quindins de Iaiá”, “Falsa baiana”, “Deus me perdoe”, “Oh! Seu Oscar”, “Botões de laranjeira”, “Beija-me”, “A mulher que eu gosto”, “O bonde São Januário”, “Boogie-woogie na favela”, “O que se leva dessa vida”, “Escurinho”, “Quatro loucos num samba”, “Tem que rebolar” (dueto com Mariúza), e muitos, muitos mais.
Cyro foi casado com a cantora Odete Amaral (“a voz tropical do Brasil”), com quem teve um filho, dela separando-se em 1949. Além da voz, do ritmo e da  capacidade de modular e improvisar, ele também sabia fazer amigos, com seu calor humano e bondade infinitos. Em 1956, participou, como ator, da peça “Orfeu da Conceição”, de Vinícius de Moraes com música de Tom Jobim, interpretando o personagem Apolo. Na fase áurea da TV Record de São Paulo, era cadeira cativa no programa “Bossaudade”, apresentado por Elizeth Cardoso.  Gravou também vários LPs, o último deles ao lado de Jorge Veiga,  em 1971, “De leve”. Torcedor convicto do Flamengo, de quem torcedores de outros clubes também gostavam, certa vez mandou de presente para a recém-nascida filha de Chico Buarque e Marieta Severo, Sílvia (hoje atriz), então residentes na Itália, uma camisa do Flamengo. Chico, que sempre torceu para o Fluminense, respondeu de forma bem-humorada com a música “Ilmo. Sr. Cyro Monteiro ou Receita para virar casaca de neném”.
Cyro Monteiro faleceu no dia 13 de julho de 1973, em seu Rio de Janeiro natal, aos 60 anos de idade. Seu corpo foi sepultado no Cemitério São João Batista, ao som do hino do Flamengo, cantado pela torcida jovem do clube, com o caixão coberto com a bandeira do mesmo e também com a de sua escola de samba de coração,  a Mangueira.
Começamos, então, a relembrar o grande “Formigão”, apresentando  treze joias de seu repertório, todas em gravações RCA Victor.  A presente seleção inclui os primeiros sambas gravados do mestre Nélson Cavaquinho (1911-1986), lançados justamente por Cyro, a saber:  “Apresenta-me aquela mulher” (faixa 12), parceria com Augusto Garcez e G. de Oliveira, gravação de 25 de maio de 1943, lançada em setembro seguinte com o n.o 80-0107-B, matriz S-052779, “Não te dói a consciência” (faixa 11), parceria de Nélson e Augusto Garcez com Ari Monteiro, também de 1943, gravada a 6 de julho com lançamento em outubro sob n.o 80-0119-B, matriz S-052799, “Aquele bilhetinho’ (faixa 6), também de Nélson e Garcez mais Arnô Canegal, gravado em 13 de abril de 1945 e lançado em maio seguinte com o n.o  80-0282-A, matriz S-078154, e, por fim, o clássico “Rugas” (faixa 3), outra parceria do poeta Nélson com Augusto Garcez e Ari Monteiro, gravação de 21 de março de 1946 lançada em maio seguinte com o n.o 80-0406-A, matriz S-078450. De Alvaiade (Oswaldo dos Santos, 1913-1981) Cyro nos apresenta quatro sambas: “A saudade me devora” (faixa de abertura desta seleção), parceria com Djalma Mafra, gravado em 25 de janeiro de 1945 e lançado em abril do mesmo ano com o n.o 80-0264-B, matriz S-078121, “Meu trabalho” (faixa 7), parceria com Alberto Maia, gravado em 17 de abril de 1947 e lançado em agosto seguinte com o n.o 80-0529-B, matriz S-078746, “Pensando no futuro” (faixa 8), outra parceria de Alvaiade com Djalma Mafra, gravação de 10 de maio de 1944 lançada em julho do mesmo ano com o n.o 80-0193-B, matriz S-052961, e “Aliança de casada” (faixa 10), outra parceria de Alvaiade com Alberto Maia, gravação de 17 de julho de 1946 lançada em outubro seguinte, disco 80-0456-A, matriz S-078563. Geraldo Pereira (1918-1955), que deu a Cyro Monteiro o clássico “Falsa baiana”,  aqui comparece com outros dois sambas, ambos em parceria com Augusto Garcez:  “Acabou a sopa” (faixa 2), gravação de 11 de setembro de 1940 lançada em novembro do mesmo ano, disco 34671-B, matriz 33499, e “Ela não teve paciência” (faixa 4), gravado em 24 de junho de 1941 e lançado em setembro do mesmo ano sob n.o 34800-A, matriz S-052251. Djalma Mafra (c.1900-1974) também assina outras três composições nesta seleção:  o samba “Domine a sua paixão”  (faixa 5), parceria com João Bastos Filho, que o “Formigão” grava na marca do cachorrinho Nipper em 10 de maio de 1943 com lançamento em  julho seguinte sob n.o 80-0098-A, matriz S-052770, a batucada “Tire a mão do meu bolso” (com Nicola Bruni, faixa 9), gravação de Cyro a 13 de dezembro de 1943 lançada bem em cima do carnaval de 44, em fevereiro, disco 80-0163-A, matriz S-052906, e a faixa de encerramento desta primeira parte, a marchinha “Op op op”, do carnaval de 1947, parceria com Ari Monteiro, gravação de 26 de outubro de 46 que a Victor lançará ainda em dezembro, sob n.o 80-0480-B, matriz S-078612. É o que o GRB oferece com muito prazer e alegria para comemorar o centenário de nascimento do eterno “Formigão”, com o compromisso de retornar com mais Cyro Monteiro na próxima semana. Encontro marcado!
. * Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Vários – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 65 (2013)

E aqui vamos “nóis” para mais uma edição caipira do Grand Record Brazil, a de número 65, oferecendo, como já aconteceu anteriormente, uma parcela do rico acervo da música regional brasileira, a chamada música caipira, que, como os ouvintes irão perceber, é bem diferente do sertanejo dito “universitário” , tão divulgado pelos meios de comunicação nos dias atuais. São, como sempre, 13 gravações preciosas, representativas de um gênero e daqueles tempinhos “bãos” em que se ouvia músicas como essas no radinho, tomando o café da manhã…  E começamos justamente com os eternos “reis do riso”, Alvarenga e Ranchinho.  São duas gravações Odeon com a formação original da dupla, Murilo Alvarenga (Itaúna, MG, 1991-São Paulo, 1978) e o primeiro dos três Ranchinhos, Diésis dos Anjos Gaia  (Jacareí, SP, 1911-São Paulo, 1991). Eles aqui nos apresentam a moda de viola “Você já viu o cruzeiro?”, do Capitão Furtado, seu descobridor, mais outra dupla, Palmeira e Piraci, gravada a 15 de setembro de 1943 e lançada em novembro do mesmo ano com o n.o 12376-B, matriz 7384. É uma alusão à então nova unidade monetária brasileira, instituída um ano antes e que, após passar por mudanças e ser substituída até mesmo pelo cruzado, deixaria de existir em 1994, com o início do Plano Real. Também tem a primeira gravação com letra do clássico choro “Tico-tico no fubá”, de Zequinha de Abreu (1880-1935), feita por Alvarenga, tendo  como subtítulo “Vamos dançar, comadre”, datada de 27 de julho de 1942 e lançada em  outubro do mesmo ano com o n.o 12202-A, matriz 7021. A 10 de agosto desse mesmo ano, em seu primeiro disco, Ademilde Fonseca incluiu este choro clássico em seu primeiro disco, com os versos assinados pelo dentista Eurico Barreiros, e sua gravação foi talvez a de maior sucesso. Focalizamos em seguida a acordeonista Carmela Bonano, mais conhecida como Zezinha, nascida  em São Paulo no dia 16 de janeiro de 1928 e que formou com Luizinho e Limeira (os irmãos, também paulistanos,  Luiz  e  Ivo Raimundo) um trio ainda hoje lembrado com muitas saudades por seus contemporâneos. Zezinha gravou seu primeiro disco como solista de acordeon em 1951, na Todamérica, com duas composições suas em parceria com Luizinho: a valsa  “Brejeira” e a mazurca “Alegria”. Para este volume do GRB foram escalados o arrasta-pé “Oito baixos”, dela mesma e de Messias Garcia, gravação Odeon de 11 de março de 1960 lançada em outubro seguinte com o n.o 14681-A, matriz 50478 (relançado com a marca Orion sob n.o R-079),  e o baião “Saudade que machuca”, de Vicente Lia e do radialista Nino Silva, lançado pela Todamérica em agosto de 1955 com o n.o TA-5563-B, matriz TA-1315, ambas com vocais de Luizinho e Limeira, sem crédito nos selos. Na faixa 6, ela, agora com Luizinho e Limeira devidamente creditados, acompanha-os no arrasta-pé “Casamento é uma gaiola”, do Compadre Generoso, gravado na Odeon em 2 de abril de 1959 e lançado em junho seguinte sob n.o 14463-B, matriz 50158, depois relançado com a marca Orion sob n.o R-058. Música que seria regravada com sucesso  por Sérgio Reis, anos mais tarde. Com o falecimento de Luizinho, em 1982, Zezinha abandonou de vez a carreira, por isso muitas biografias dizem ter ela falecido nesse ano, a  11 de maio, em Perdizes, São Paulo (outras dizem que a morte da acordeonista aconteceu em 2002, nesse mesmo dia). A maranhense (de Viana) Dilu Mello (Maria de Lourdes Argolo Oliver, 1913-2000) também deixou sua contribuição para a história de nossa música popular. Tocava diversos instrumentos: sanfona, piano, violão, harpa, violino e até serrote, causando o maior escândalo ao executar nele uma peça de Schumann! É co-autora e intérprete da clássica toada “Fiz a cama na varanda”, que já apresentamos em edição anterior do GRB, e apenas uma de suas mais de cem composições.  Para esta edição, foi escalado o xote “Qual o valor da sanfona?”, composição sua em parceria com J. Portela (o jota seria de Jeová), gravação Continental de 31 de julho de 1948, porém só lançada em março-abril de 49 sob n.o 16024-B, matriz 10916. A faixa 7 nos apresenta a gravação original de uma balada humorística que muitos conhecem na interpretação dos irmãos Sandy e Júnior: é nada mais nada menos que “Maria Chiquinha”, de autoria de Geysa Bôscoli e Guilherme Figueiredo. Ela saiu pela RGE em agosto de 1961, sob n.o 10336-B, matriz RGO-2218, num divertido dueto entre Evaldo Gouveia (compositor, cearense de Orós, autor de vários hits, sobretudo em parceria com Jair Amorim, e que integrou como cantor o Trio Nagô) e a comediante Sônia Mamede (1936-1990), “a garota do biquíni vermelho”. Bonita e de corpo escultural, Sônia foi estrela das chanchadas da Atlântida (“Garotas e samba”, “De vento em popa”), tendo feito outros 14 filmes nesse e em outros estúdios,  e ficou famosa na televisão como a Ofélia do programa humorístico “Balança mas não cai”, da Globo (seu bordão era “eu só abro a boca quando tenho certeza!”), ao lado de Lúcio Mauro, o Fernandinho. “Maria Chiquinha” foi um sucesso absoluto em 1961, e nesse ano também seria gravada por Marinês, em dueto com Luiz Cláudio, na RCA Victor. Os trios Melodia (Albertinho Fortuna, Paulo Tapajós e Nuno Roland) e Madrigal (Edda Cardoso, Magda Marialba e Lolita Koch Freire) interpretam aqui, em ritmo de baião, “Maricota, sai da chuva”,  motivo folclórico adaptado por Marcelo Tupinambá, em gravação Continental de 19 de março de 1952, lançada em julho desse ano com o n.o 16600-A, matriz C-2813. A primeira gravação, ainda na fase mecânica, foi do Grupo O Passos no Choro, em 1919, apenas instrumental.  Recordaremos em seguida outra dupla sertaneja famosa: Silveira (Nivaldo Pedro da Silveira, 1934-1999) e Barrinha (Abílio Barra, 1929-1984) ambos mineiros, Silveira, de Uberaba, e  Barrinha, de Conquista.  Aqui eles interpretam a moda campeira “Coração da pátria”, de Silveira, Lourival dos Santos e do também radialista Sebastião Victor, em gravação RCA Camden  de 25 de maio de 1962, disco CAM-1133-A, matriz N3CAB-1712, uma exaltação ao estado de Goiás, que já abrigava, desde 1960, nossa atual capital, Brasília (lembrando que o Distrito Federal é um município nêutro). Teve regravações por Nalva Aguiar e até mesmo por Beth Guzzo, filha do humorista Valentino Guzzo (a Vovó Mafalda do programa do Bozo, lembram-se?). Apresentamos logo depois as duas músicas do primeiro dos três únicos 78 rpm da dupla Biá e Biazinho no selo Sertanejo da Chantecler, o PTJ-10087, gravado junto com o acordeonista Alberto Calçada, e lançado em maio de 1960, apresentando duas canções rancheiras ao estilo mexicano:  “Nunca mais” de Fernando Dias, matriz S9-173, e “Só Deus castiga”, de Nízio e Teddy Vieira, matriz S9-174. E reservamos para o final a joia da coroa desta edição: o único disco gravado por Tonico e Tinoco (“a dupla coração do Brasil”) junto com Aracy de Almeida (“ o samba em pessoa”, “a dama da Central”, “a dama do Encantado”), todos três já relembrados pelo GRB. Uma autêntica preciosidade que chega a nossos amigos cultos, ocultos e associados por generosa cortesia do amigo  Indalêncio, grande e notório restaurador de rádios antigos.  É o Continental  17251, gravado em 28 de julho de 1955, mas só lançado em fevereiro-março de 56, com dois cateretês. Abrindo-o, matriz 11764, “Ingratidão”, de autoria de Mário Vieira, parceiro de Hervê Cordovil no clássico “Sabiá na gaiola” e mais tarde fundador e proprietário da gravadora e editora musical Califórnia, que existe até hoje, no bairro paulistano do Tatuapé, dirigida pela terceira geração da família. Mário assina também o lado B, matriz 11765, “Tô chegando agora”, desta vez em parceria com Juracy Rago, primo do violonista Antônio Rago. Uma preciosidade que o Indalêncio mui gentilmente nos cedeu e que encerra com chave de ouro esta edição regional do GRB., para alegria e deleite dos “cumpades” e cumades” de todas as idades e deste Brasilzão!

*Texto de Samuel Machado Filho

Aracy De Almeida – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 64 (2013)

Muita gente se lembra de Aracy de Almeida apenas como a jurada ranzinza, implacável e exigente dos programas de calouros da televisão  (Chacrinha, Sílvio Santos, etc.), sempre imperdoável. Mas era um tipo que forçava mais para estimular a plateia a dar sonoras vaias, e o público, no fundo, a amava. Além disso, como cantora, a “Araca” escreveu um importantíssimo capítulo da história de nossa música popular. O próprio Noel Rosa (1910-1937) a considerava a melhor intérprete de suas composições, e foi quem primeiro a incentivou na carreira.
É justamente a Aracy-cantora que focalizamos nesta sexagésima-quarta edição do Grand Record Brazil. Aracy Teles de Almeida (ou d’Almeida, como aparecia sem seus primeiros discos)nasceu no Rio de Janeiro, em 19 de agosto de 1914, no subúrbio do Encantado, no seio de uma família evangélica (era de confissão Batista).  Tanto que começou sua carreira cantando no coro de sua igreja, e para ser também fiel ao samba, também se apresentava em festinhas, escola de samba e até terreiro de candomblé!
Em 1932, levada por um amigo lá mesmo do Encantado, Aracy apresentou-se pela primeira vez numa estação radiofônica, a Rádio Educadora do Brasil, interpretando a marchinha “Bom dia, meu amor”, de Joubert de Carvalho, do repertório de Cármen Miranda. Sua estreia em disco dá-se na Columbia, que, em janeiro de 1934, lança para o carnaval duas marchinhas por ela interpretadas: “Em plena folia”, de Julieta de Oliveira, e “Golpe errado”, de Jaci, uma em cada disco. No terceiro e último disco de Aracy nessa marca, já aparece um samba de seu amigo Noel, “Riso de criança”.  Em 1935, vai para a RCA Victor, passando a lançar sucessos sobre sucessos, tanto de Noel (“Palpite infeliz”, “Triste cuíca”, “Cansei de pedir”, “Último desejo”, “Século do progresso”) quanto de outros autores (Wilson Batista, Cyro de Souza, Ary Barroso etc). Grava também na Odeon, na Continental, na Polydor, na Sinter (e sua sucessora, a Philips), na Elenco, enfim, em vários selos, lançando também LPs e compactos. Outros de seus hits são “Não me diga adeus” (Paquito, Luiz Soberano e João Corrêa da Silva), “Fez bobagem’ (Assis Valente), “Louco, ela é seu mundo’ (Wilson Batista e Henrique de Almeida), e mais os presentes nesta edição do GRB, que comentaremos a seguir. Embora fosse mestra da gíria e gostasse de frequentar a noite, Aracy não comentava sua vida sentimental. Teve um romance com o goleiro Rey, do Vasco da Gama, seu time de coração, e foi casada com um médico, do qual se separou amistosamente, sem filhos. Chamada de “O samba em pessoa” , receberia do estilista de moda Dener Pamplona de Abreu, seu grande amigo, um outro apelido, “Dama da Central”, pois ela só viajava de trem, por medo de acidente de avião.  “Araca” lia os melhores autores e gostava de um bate-papo inteligente.
Nos anos 1950, Aracy praticamente fez sua base em São Paulo, mas sem abandonar seu querido Encantado (tanto que era também “A dama do Encantado”, título de um álbum que Olívia Byington dedicou a ela).  Sempre muito querida e reverenciada, apresentava-se nas melhores casas noturnas paulistanas e cariocas, e tornou-se uma espécie de musa de círculos artísticos e sociais. Em 1954, por exemplo, foi-lhe oferecido um jantar comemorativo de seus 23 anos de carreira, do qual compareceu até mesmo o então governador paulista Lucas Nogueira Garcez.
Com o passar do tempo, a Aracy-cantora daria lugar à Aracy-jurada. Sempre foi muito grata a Sílvio Santos: “Bom patrão, é gente que sabe tratar. Esse é em cima. Tudo que a gente quer, ele dá”. Em 1988, Aracy tem um edema pulmonar e se interna em São Paulo, sendo transferida para o hospital do SEMEG, no bairro da Tijuca, em seu Rio de Janeiro natal. Após dois meses em coma, recuperou a lucidez, mas, após dois dias, a 20 de junho, tem um súbito aumento de pressão e vem a falecer,  deixando infelizmente para as novas gerações apenas a imagem da jurada de TV.
Pois nesta edição do GRB, apresentamos dezesseis dos melhores momentos  da Aracy cantora, que não pode nem deve ser esquecida,  sendo ontem, hoje e sempre, “o samba em pessoa”.  Começando a seleção com o pé direito, “Tenha penha de mim”, de Cyro de Souza e Babaú, gravação Victor de 17 de agosto de 1937 lançada em novembro desse ano com o número 34229-A, matriz 80596, e um dos maiores hits do carnaval de 38. Também da Victor e de um ano antes, é a faixa seguinte, “Contentamento”, de Bucy Moreira e Raul Marques, que ela gravou em  9 de setembro de 1936 com lançamento em novembro seguinte, disco 34106-A, matriz 80215. A faixa seguinte, o samba-rumba ou sambatuque “Nasci para bailar, nasci para sambar”, ostenta uma curiosidade: foi composta e gravada por Joel de Almeida na época em que ele morava na Argentina, período esse que ele próprio considerava o melhor de sua vida. Com letra em espanhol do próprio Joel e de Tasiro, recebeu versão por Fernando Lobo, que Aracy grava na Odeon em 19 de julho de 1948, com lançamento em setembro desse ano sob número  12876-A, matriz 8390. Um ano depois, Fernando Lobo escreveu novos versos para a música, e essa outra letra seria gravada por Marlene com o título reduzido para “Nasci para bailar”, e sem o nome de Tasiro no selo.  Retornando à Victor, temos uma dupla “braba”, Ataulfo Alves e Wilson Batista, assinando “Eu não sou daqui”, gravação de 3 de abril de 1941, lançada em julho do mesmo ano com o n.o 34757-A, matriz 52170. Wilson assina a faixa seguinte com Cyro de Souza, “Ganha-se pouco mas é divertido”, gravação de 2 de junho de 1941 lançada em agosto seguinte com o n.o 34780-A, matriz S-052232. Wilson Batista também fez com Rubens Soares “Gênio mau”, que Aracy imortaliza na marca do cachorrinho Nipper na mesma sessão de “Ganha-se pouco…” e é lançado em  setembro do mesmo ano no disco 34787-A, matriz S-052230. Não para por aí: também em 2 de junho de 1941 a “Araca” imortaliza “Falta de sorte”, de Geraldo Pereira e Marino Pinto, matriz S-052233, e será o lado B de “Ganha-se pouco mas é divertido”. Em janeiro de 1953, Aracy lança na Continental, para o carnaval desse ano, outro samba, “Por que é que você chora?”, de Bucy Moreira  e do cantor Ary Cordovil, com o número 16695-B, matriz C-3017. Retornando à Victor, temos “Oh! Dona Inês”, da dupla Wilson Batista-Marino Pinto, gravação de 27 de março de 1940 que vai para as lojas em junho com o n.o 34609-A, matriz 33364, disco do qual também foi escalado o verso, da mesma dupla, matriz 33365, “Brigamos outra vez”.  “Mal agradecida”, também de Wilson Batista, aqui com Bucy Moreira, por sinal neto da lendária Tia Ciata, é gravado na Odeon pela “Araca” em 9 de junho de 1948, com lançamento em julho sob n.o  12867-B, matriz 8378. Outro nome lendário do samba, João da Baiana, assina com o ex-pugilista Kid Pepe “Pra que tanto orgulho?”, batucada que Aracy grava na Victor em 2 de outubro de 1939 e lança em novembro sob n.o 34518-B, matriz 33169, visando o carnaval de 40. A faixa seguinte é um autêntico clássico do mestre Ary Barroso: “Camisa amarela”, imortalizado pela “Araca” na mesma Victor em 31 de março de 1939 com lançamento em junho seguinte sob n.o  34445-A, matriz 33047, e que o próprio Ary considerava a melhor gravação deste seu samba. Temos depois a sensível e comovente interpretação de Aracy para a “canção regional” “Mamãe baiana”, de Xerém e do teatrólogo Joracy Camargo, autor da famosa peça “Deus lhe pague”, imortalizada em 14 de fevereiro de 1940 com lançamento em abril do mesmo ano com o n.o 34586-A, matriz 33322. Foi também escalada outra canção, constante do verso desse disco e gravada na mesma sessão, matriz 33325: “Minha saudade”, concebida pelo violonista Laurindo de Almeida (1920-1995), que mais tarde passaria a residir nos EUA, onde desenvolveu uma carreira repleta de prestígio e prêmios. Encerrando esta seleção, um samba de Haroldo Barbosa, também jornalista, roteirista e produtor de programas de rádio e televisão, inclusive de cunho humorístico: “Quando esse nêgo chega”, gravação Odeon de 19 de julho de 1948, lançada em setembro desse ano com o n.o  12876-B, matriz 8389, o outro lado de ‘Nasci para bailar, nasci para sambar”. Uma seleção assinada, como se vê, por grandes autores, e que comprova a observação feita pelo pesquisador Abel Cardoso Júnior: “Se Aracy de Almeida não perdoava falsos valores, é porque ela mesma  jamais deu ao público nada menos que o melhor”. Ouçam e comprovem!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO
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Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Oscarito – Pimentinha E Arrelia (2013)

E  aqui estamos com mais uma edição do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil. É a de número 63, desta feita apresentando músicas cuja característica é o bom humor, interpretados por comediantes que marcaram época em nossa mídia. São treze gravações como sempre preciosas, que por certo vão deixar lembranças muitíssimo agradáveis em quem vivenciou a época deles, e surpresa igualmente agradável para quem não conhece, e tem à disposição, portanto, uma oportunidade rara de conhecer.
Muitos se lembram com saudade, inclusive eu próprio, do palhaço Arrelia, aliás, Waldemar Seyssel  (Jaguariaíva, PR, 1905-São Paulo, 2005). Ele começou a atuar no circo aos seis meses de idade, e não parou mais. Veio de uma família circense tradicional, cujo avô, Júlio Seyssel, era  nascido e residente na França, tendo sido até mesmo professor da famosa Universidade de Sorbonne.  Nessa ocasião, Júlio conheceu uma jovem espanhola, artista de circo, claro, que fazia acrobacias em cima de um cavalo. Os dois se casaram, e Júlio trocou a universidade pelo picadeiro.  O casal veio ao Brasil durante uma temporada do Grande Circo Inglês, dos irmãos Charles, e resolveu ficar por aqui mesmo. Já Arrelia (apelido que lhe foi dado por seu tio,  Henrique)começou no circo saltando, passando depois pelo trapézio, cama elástica e outras acrobacias.  Quando seu pai, cansado, deixou o picadeiro, passou a dedicar-se à arte de divertir o público. Seu primeiro parceiro foi o ator Feliz Batista, que fazia o palhaço de cara branca, vindo depois o irmão, Henrique Sobrinho.  Após anos de trabalho no picadeiro, Arrelia troca o circo pela televisão, por questões financeiras. Seu “Circo do Arrelia”, iniciado em 1953, passou pela TV Paulista (hoje Globo) e pela Record, e é aí que surge seu parceiro mais famoso:  seu sobrinho Walter Seyssel, o Pimentinha (Juiz de Fora, MG, 1926-Itu, SP, 1992). É com ele que Arrelia interpreta as faixas escaladas para esta edição do GRB. Para começar, a marchinha “Muito bem (Como vai?)”, utilizando um bordão famoso do grande Arrelia: “Como vai, como vai, vai, vai? Muito bem, muito bem, bem, bem!” O próprio Arrelia, mais Manoel Ferreira e Antônio Mojica, transformam esse bordão clássico em marchinha de sucesso no carnaval de 1957, lançada pela Copacabana em seu selo Carnaval, com o número 051-A, matriz M-1831. Um ano mais tarde, em janeiro de 1958, a Copacabana lança para a folia desse ano outra marchinha por eles interpretada: “Hom’essa!”, do próprio Arrelia e José Saccomani, matriz M-2075, curiosamente em dois 78 rpm diferentes: 5855 e 5861, ambos no lado A!  Temos ainda outros registros do Pimentinha em dueto: com Déo Maia (cantora e atriz que foi professora primária antes de se dedicar ao teatro de revista), ele canta o samba ‘Dengo”, de autoria do mestre Ary Barroso, gravação Odeon de 3 de junho de 1953, lançada em agosto seguinte com o n.o 13483-B, matriz 9747. Ainda com o tiozão Arrelia, ele interpreta outra marchinha, “Cacho de banana”, do próprio Arrelia mais José Saccomani e Ercílio Consoni, para o carnaval de 1958, e que a Copacabana lança em janeiro desse ano também em dois 78 rpm diferentes:  5855-B, e 5862-A, com a mesmíssima matriz, M-2094! Como solista, Pimentinha interpreta outra marchinha, por ele próprio assinada em parceria com José & Emílio Saccomani: “Na bodega”, para o carnaval de 1960, editada pela mesma Copacabana ainda em dezembro de 59 com o n.o  6067-B, matriz M-2548. Déo Maia ainda canta com ele o choro “Vou a Paris”, de Vicente Paiva e Luiz Peixoto, lado A do 78 de “Dengo”, o Odeon 13483, matriz 9745, e obviamente registrado na mesma sessão.  Encerrando sua participação neste volume, Pimentinha canta a “Marcha do Cacareco”,de Elzo Augusto, Edaor e Romaris,  lançada pela Copacabana no lado A de “Na bodega”, matriz M-2547, para o carnaval de 1960. O Cacareco em questão é um rinoceronte que foi trazido do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro para o de São Paulo, e houve uma polêmica generalizada na época sobre se ele deveria permanecer em Sampa ou voltar pro Rio. Enquanto isso, nas eleições de 1959, os paulistanos, decepcionados com os políticos candidatos  a vereadores (como até hoje), acabaram votando, em sinal de protesto, no Cacareco, que recebeu mais de 100 mil votos (todos nulos, claro), mais até que o vereador mais votado, que teve 95.000 votos! Isso aconteceria em 1978 com o jogador de futebol Biro-Biro, então no Corinthians, que mais tarde candidatou-se a vereador por São Paulo e se elegeu de verdade.  Dois casos impossíveis de se repetir nestes tempos de urna eletrônica…
Em seguida relembraremos Oscar Lorenzo Jacinto de la Imaculada Concepción Tereza Díaz (Málaga, Espanha, 1906-Rio de Janeiro, 1970), que ganhou a imortalidade com o pseudônimo de Oscarito.  Filho de pai alemão e mãe portuguesa, veio para o Brasil com um ano de idade, mas só se naturalizou brazuca em 1949. Começou nos picadeiros de circo, aos cinco anos (afinal ele, como Arrelia e Pimentinha, era membro de família circense), como palhaço, trapezista, acrobata e ator, além de aprender a tocar violino! Foi marcante figura no teatro de revista, onde começou em 1932 na peça “Calma, Gegê” (sátira a Getúlio Vargas) e no cinema, onde debutou três anos mais tarde, atuando em “Noites cariocas”. Seu nome está ligado à história da Atlântida, estúdio que se caracterizava por suas chanchadas, onde atuou em inúmeros filmes,  alguns em parceria com Grande Otelo, como “A dupla do barulho’ (1953) e “Matar ou correr” (1954). Outros títulos de destaque em sua filmografia são “Carnaval no fogo” (1949), “Aviso aos navegantes” (1950), “Barnabé, tu és meu” (1952), “Nem Sansão nem Dalila’ (1954), “De vento em popa” (1957), “Esse milhão é meu” (1958) e “Os dois ladrões” (1960). Seu último trabalho no cinema foi em “Jovens pra frente”,  de 1968. Foi casado com a também atriz Margot Louro, com quem teve dois filhos. Oscarito teve seu nome como paralelo aos maiores cômicos do cinema internacional, como o  americano Charles Chaplin e o mexicano Cantinflas. Evidentemente, Oscarito também gravou algumas músicas, predominantemente carnavalescas, que também interpretava em seus filmes. E eis aqui nesta edição do GRB seis delas. Pra começar, a famosa “Marcha do gago” (“Tá, tá, tá tá na hora/ Va-va-vale tudo agora”), de Armando Cavalcanti e Klécius Caldas , indiscutivelmente seu maior sucesso musical, lançado em dezembro de 1949 pela Star com o número 177-A, e um dos maiores sucessos da folia de 1950, fazendo inclusive referência a Carlo Pintacuda, um famoso automobilista da época. Da mesma dupla, agora com o reforço de David Nasser, é o lado B, a marchinha “Greve no harém”, que apresentamos na faixa 10. O disco também saiu com o selo Carnaval, com o número 049, e ambas as músicas fizeram parte do filme ‘Carnaval no fogo”. Completando este programa, quatro gravações Sinter:  a marchinha “Toureiro de Cascadura” (faixa 12), de Armando Cavalcanti e David Nasser, matriz S-39, e o samba “Garota boa”, (faixa 9), de Saint Clair-Senna, matriz S-40, do disco 00-00.018, editado em dezembro de 1950 para a folia de 51, para a qual também saiu o disco 00-00.019, em seguida mesmo, com duas composições dos mesmos Armando Cavalcanti e Klécus Caldas: a famosa “Marcha do neném” (“Ié, ié, ié, faz o neném”, faixa 13), matriz S-41, e a também marcha “Pouca roupa” (faixa 11), todas quatro do filme “Aviso aos navegantes”, outro estouro de bilheteria na época.  Enfim, música e bom humor mais uma vez encontram-se nesta edição do GRB, para alguns lembrarem, outões conhecerem, e para todos se divertirem muito!
Texto de SAMUEL MACHADO FILHO